1º Trimestre/2015
Texto Base: Êxodo 20:7; Mateus 5:33-37;
23:16-19
“Nem jurareis falso pelo meu nome, pois
profanaríeis o nome do vosso Deus. Eu sou o SENHOR” (Lv 19:12).
INTRODUÇÃO
Na sequencia do
estudo dos Dez Mandamentos, iremos tratar nesta Aula sobre o Terceiro
Mandamento, a saber: "Não tomarás o
nome do SENHOR, teu Deus, em vão...” (Êx 20:7). Este mandamento inclui
qualquer uso do nome de Deus de maneira leviana, blasfema ou insincera. Deve-se
reverenciar o nome divino porque revela o caráter de Deus, a sua santidade. “Santo e tremendo é o Seu nome” (Sl 111:9).
Os dias em que
vivemos são de maiúsculas irreverências a tudo que é moral, estimuladas pela
imprensa, em suas diversas matizes. Nada é sagrado neste século: religião,
sexo, fé, família, Deus, etc. Tudo pode ser zombado, satirizado e distorcido.
Milhões se dirigem ao Todo-poderoso e santo Deus, que habita na luz inacessível,
como se dirigissem a uma pessoa qualquer, ou a um ser imaginário sem valor
nenhum. Tais zombadores devem saber que de Deus ninguém zomba (Gl 6:7). Aquilo
que fazemos aqui determinará nosso destino amanhã. “... o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êx
20:7). Deus é amor, mas também é justiça e, por isso, no tempo certo, no
tempo que lhe aprouver, providenciará o julgamento de todos os homens, a fim de
que cada um responda pelos atos cometidos, atos estes decorrentes da liberdade
com que aquinhoou cada ser humano.
I. O NOME DIVINO
1. O Nome. O nome de Deus revela o que Ele é. O nome de Deus não é apenas uma
identificação pessoal, mas é inerente à Sua natureza e revela Suas obras e Seus
atributos. Não é meramente uma distinção dos deuses das nações pagãs. Quando a
Bíblia faz menção do "nome de Deus", está revelando o poder, a
grandeza e a glória do Deus Todo-Poderoso.
Cada nome divino
revela-nos como Deus deseja ser conhecido por nós. Falam-nos sobre quem Deus é
e como ele age em relação ao homem. É por este motivo que Deus aparece com vários
nomes nas páginas sagradas. Cada um desses nomes revela uma característica
específica de Deus. Portanto, não podemos tratar os nomes de Deus como “varas
de condão” que fazem as coisas acontecer. Esse tipo de raciocínio equivocado tem
levado muitas pessoas a acreditar que o simples “pronunciar” de um nome divino
“libera” alguma energia espiritual poderosa. Isso, porém, está fora da
realidade. O nome divino tem real valor por causa do próprio Deus. O uso “mágico”
do nome de Deus não funciona, como não funcionou no caso dos filhos de Ceva (At
19:14-16).
As Escrituras mostram
que é Deus quem age, e não o homem que o controla por meio de fórmulas mágicas.
Talvez a maior confusão na prática esteja no mau uso da frase “se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o
farei” (Jo 14:14). Só proferir o nome de Jesus não significa que tudo
acontecerá automaticamente. Pedir alguma coisa “em nome de Jesus” significa
pedir alguma coisa segundo a vontade de Deus (1Jo 5:14). Pedir em nome de Jesus
é pedir o que Jesus pediria. Pedir em Seu nome é como “agir por procuração”: não
é a minha vontade que será feita por meio de Jesus, mas sim a vontade dEle que
se realizará por meio da minha oração.
2. Nomes específicos. Deus é descrito de
maneira específica por diversos nomes hebraicos no Antigo Testamento. Entre
eles merecem especial destaque os termos Elohim, Javé e Adonay.
- Elohim é o nome hebraico genérico para Deus. Seu
significado etimológico é “força, poder”,
e refere-se a Deus como Criador, como o ser transcendente e como o Deus que
está acima de todos os outros. Uma curiosidade interessante sobre o nome Elohim é que se trata de um substantivo
em forma plural no hebraico. O nome “Deus” em nossas Bíblias é tradução do
hebraico El (Nm 23:8) ou Eloah (Dt 32:15), ou seu plural, Elohim (Gn 1:1). Já o nome El é usado para compor outros nomes
divinos, como El-Shadday (Deus
Todo-poderoso – Gn 17:1; Êx 6:3), e também para formar nomes hebraicos
comuns como Daniel e Samuel.
- Adonay (Senhor) refere-se ao senhorio de
Deus. O significado literal é Senhor, mas nunca é usado para se referir ao
homem. Adonay destaca também a plena
soberania de Deus.
- Javé. Este é o nome que mais define o próprio Deus. O termo hebraico seria YHWH.
O significado de Javé é “Eu Sou” ou “Sempre estarei sendo”, ou como gostam os judeus “o Eterno”. A forma é uma abreviação do “EU SOU O QUE SOU”, dito por Deus a
Moisés em Êxodo 3:13,14.
Os judeus deixaram de
pronunciar o nome divino para evitar a vulgarização do nome e assim não violar
o Terceiro Mandamento. A pronúncia perfeita se perdeu. As consoantes do
tetragrama YHWH receberam as vogais
de Adonay, o que veio a gerar o nome Yahweh, Javé ou Yehowah. Todavia,
os estudiosos hoje concordam, principalmente com base nas antigas
transliterações gregas, que o nome divino seria Yahweh, ou seja, Javé em
português. A versão Almeida Corrigida, nas edições de 1995 e 2009, emprega
“SENHOR”, com todas as letras maiúsculas, onde consta o tetragrama (YHWH) no Antigo Testamento hebraico para
distinguir de Adonay (Jz 6:22).
II. TOMAR O NOME DE DEUS EM VÃO
1. O Terceiro Mandamento (Ex 20:7). “Não tomarás o nome do SENHOR,
teu Deus, em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome
em vão”.
O nome de Deus é
especial porque traz a sua identidade pessoal. Nas Escrituras Sagradas, o nome
está intimamente ligado à pessoa, indicando o seu próprio caráter, ou ainda
denotando a posição e função de quem traz o nome (Êx 23:21). O Terceiro Mandamento
nos diz que quando nos lembramos do nome de Deus, devemos preparar-nos para
render-lhe culto porque as verdades que sabemos sobre alguém são despertadas
quando pronunciamos o seu nome.
A proibição de usar o
nome de Deus “em vão” ocorre em
função de o mesmo estar intimamente ligado ao caráter divino (Êx 3:15; Lv
22:32). Assim, por causa da natureza santa do nome do Senhor, o mesmo deve ser
reverenciado, invocado, louvado e bendito (Mt 6:9). Tomar o nome do Senhor “em vão” inclui o fazer uma falsa
promessa usando esse nome – “nem jurareis
falso pelo meu nome, pois profanaríeis o nome do vosso Deus. Eu sou o SENHOR”
(Lv 19:12).
Era comum o uso de
palavras mágicas em encantamentos no mundo antigo. Um exemplo bíblico ocorre em
Atos 19:13-16, onde lemos sobre a tentativa pecaminosa de invocar o nome do
Senhor Jesus, por mágicos que usavam o nome do Salvador como uma forma de
encantamento.
O nome de Deus deve
ser honrado e respeitado por ser profundamente sagrado, e deve ser usado
somente de maneira santa - “Portanto, vós
orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome”
(Mt 6:9). Deus já é santo, então significa que somos santificados quando
deixamos o Nome de Deus infundir em nossa natureza aquilo que Ele traz
(santidade, cura, autoridade, provisão, etc).
2. Objetivo do Terceiro Mandamento. “A finalidade é por um freio na mentira, restringir os juramentos e
assim evitar a profanação do nome divino (Lv 19:12). Ninguém deve usar o nome
de Deus nas conversas triviais do dia a dia, pois isso é misturar o sagrado com
o comum (Lv 10:10). O Senhor Jesus condenou duramente essas perversões
farisaicas, práticas que precisavam ser corrigidas ou mesmo substituídas. Este
mandamento foi restaurado sob a graça e adaptado a ela na nova dispensação,
manifesto na linguagem do cristão: “sim, sim; não, não” (Mt 5:37) (LBM.
p.38.CPAD).
3. O Valor do Terceiro Mandamento (1). No
Antigo Testamento, o castigo para o mau uso do nome de Deus era o apedrejamento
(Lv 24:16). Percebemos que essa proibição estava ligada ao juramento falso, que
era usar o nome de Deus para atestar uma declaração mentirosa (Lv 19:12).
Esse mandamento não
exclui a recorrência ao nome do Senhor em juramentos verdadeiros e solenes (2Sm
2:27; Nm 30:3; Jr 4:2; Js 7:19; 2Co 1:23). Podemos invocar o nome de Deus nas
angústias. Também podemos invocar Seu nome clamando por socorro e salvação (Sl
50:15).
Hans Ulrich Reifler, em seu livro “A Ética dos Dez Mandamentos” (editora Vida Nova), diz a respeito do
Terceiro Mandamento: “Muitas pessoas abusam do nome do Senhor
inconscientemente. Na cultura brasileira, as expressões ‘meu Deus’, ‘Deus me livre’, ‘se Deus quiser’, ‘Deus é testemunha’,
‘juro por Deus’, tornam-se tão frequentes, e até populares, que todos
acabaram se acostumando. O problema não está no uso dessas palavras, mas na
atitude do coração. Quando bem pensadas, tais expressões constituem uma oração,
manifestam nossa confiança no Senhor e testificam a sinceridade da nossa fé.
Por outro lado, não resta dúvida de que o uso impensado dessas frases não ajuda
em nada; pelo contrário, revela leviandade para com as coisas sagradas, e é
isto o que está em pauta no Terceiro Mandamento”.
4. Formas “sutis” de tomar o Nome do Senhor em vão (2). Na Bíblia, a palavra “vão” significa “vazio”, “sem
conteúdo”, “sem valor”, “não produtivo”. Pronunciar o nome de Deus em vão demonstra um desprezo para com o
Deus Todo-Poderoso.
a) Com irreverência (Ef 5:3,4 - ARA) - “…palavras vãs
ou chocarrices…”. São todas aquelas formas de falar, aquelas frases
irreverentes que usamos que incluem o nome santo de Deus. Como é comum e inconsequente
soltarmos um “meu Deus do céu”, “pelo amor de Deus”. Se queremos
realmente dizer aquilo, então não tem problema. Mas se for apenas uma “força de
expressão” ou comentário descuidado, aí é outra coisa.
b) Com hipocrisia (Is 48:1). São pessoas que se chamam pelo nome de Deus, mas não vivem sinceramente
na presença de Deus. Professam e cantam publicamente, mas em casa não vivem a
verdade que confessa. A pessoa que procura disfarçar uma vida pecaminosa, ao
mesmo tempo em que professa o nome de Cristo, quebra o Terceiro Mandamento.
Tais indivíduos são culpados diante de Deus (Êx 20:7) e só receberão
misericórdia depois de se arrependerem.
c) Como uma falsa imagem. Usamos em “vão” o nome de
Deus quando usamos Deus como espantalho na educação dos filhos, quando, por
exemplo, ameaçamos dizendo: “Deus está te
vendo! Deus vai te castigar!”. Com esses abusos do nome de Deus,
muitas pessoas foram feridas na sua infância. A imagem curadora de Deus
se transforma numa imagem ameaçadora, vingativa e muito exigente.
d) Como forma de manipular. Quando se usa o nome
de Deus para manipular as massas. Na
igreja, o famoso “Deus me falou!”.
Jamais devemos usar o
nome de Deus de maneira frívola ou mecanicamente. Os justos veneram o nome de
Deus por ser santo e sagrado.
5. O lado positivo do Terceiro Mandamento. Para cada proposição negativa, existe um conceito positivo por trás.
Quando um pai diz: “não fique na frente
dos carros”, ele está dizendo: “não
quero que se machuque. Quero você vivo e feliz!”.
A Bíblia não nos
proíbe pronunciar o (s) nome (s) de Deus. Ela nos encoraja a invocá-lo de
coração e com temor. Todavia, o nome de Jesus não deve ser pronunciado como uma
palavra mágica, e nem somente como uma forma de terminar uma oração com estilo.
Com esse nome, fazemos ao Pai uma petição e assinamos com o Nome daquele que
tem autoridade nos céus e na Terra, sabendo que o Pai não negará nada ao Seu
Filho amado.
- João 14:13: “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso
farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho”.
- Colossenses 3:17: “E tudo o que fizerdes, seja
em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças
a Deus Pai”. Aqui somos colocados frente à responsabilidade que esse nome
traz àqueles que o carregam. Quando você diz: “sou um cristão”, você está
dizendo que é como Cristo.
- 2Timóteo 2:19: “Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este
selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça
todo aquele que professa o nome do Senhor”.
- Salmos 68:4: “Cantai a Deus, salmodiai o seu
nome; exaltai o que cavalga sobre as nuvens. SENHOR é o seu nome, exultai
diante dele”.
6. Modalidades de juramentos. O cerne do Terceiro
Mandamento é proibir o costume de juramento falso, pois o verdadeiro juramento
se fazia mediante a invocação do nome de Deus (Lv 19:12). Era uma necessidade
imperiosa que todos falassem a verdade, como o dever de cada um honrar o
compromisso assumido com os homens e diante de Deus. É dever de todos cumprir os
votos feitos a Deus; a lei é clara sobre essa responsabilidade (Nm 30:2; Dt 23:21).
Mas as autoridades religiosas de Israel classificaram os juramentos em duas
categorias: os que podiam ser descumpridos e os que não podiam. Há uma lista
deles em Mateus 5:33-37; 23:16-22. O Senhor Jesus reprovou com veemência essa
violação dos escribas e fariseus. A interpretação rabínica da época permitia
violar o terceiro mandamento e fazer de conta que ele não havia sido violado
(Esequias Soares).
III. O SENHOR JESUS PROIBIU O
JURAMENTO?
Conforme Levítico 19:12, uma das aplicações do
Terceiro Mandamento é o juramento: "... nem jurareis falso pelo meu nome, pois profanaríeis o nome do vosso
Deus: Eu sou o Senhor". O versículo não proíbe o juramento em si, mas
a falsidade nesse ato, caracterizada pelo uso irreverente do nome do Senhor
para dar maior credibilidade a uma afirmação.
O juramento era uma
exigência legítima do Antigo Testamento (Nm 30:3: Js 7:19). De fato,
encontramos até exemplos condignos na Bíblia. O Senhor jurou que abençoaria
Abraão (Gn 22:15-17; Hb 6:13) e estabeleceria o trono de Davi (2Sm 3:9). Veja
outros exemplos em Lucas 1:73 e em Hebreus 3:11,18; 7:21. Em João 9:24, o homem
cego de nascença é forçado a jurar, e ninguém o reprova. Além desses exemplos,
encontramos formas como "tão certo como vive o Senhor" (1Sm 14.39,
44), "assim me faca Deus" (2Rs 6:31) ou "tomo a Deus por
testemunha" (2Co 1:23).
Há também exemplos de juramentos falsos e levianos. A leviandade de Herodes
custou a cabeça de João Batista (Mc 6:23). Em Mateus 23:16, Jesus adverte os fariseus:
"Ai de vós, guias cegos! que dizeis: Quem jurar pelo santuário, isso é
nada; mas se alguém jurar pelo ouro do santuário, fica obrigado pelo que
jurou". Em Mateus 26:74, Pedro nega
a Cristo, fazendo um juramento indigno.
Jesus não
Se pronunciou contra o juramento em si, mas contra o ato imprudente, o voto
leviano e supérfluo (Mt 5:33-37). Seu meio-irmão, Tiago, seguiu essa tradição
ao escrever: "Acima de tudo, porém,
meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro
voto; antes seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não, para não cairdes em
juízo" (Tg 5:12) (3).
Essa exigência divina se faz necessária por causa da inclinação humana à
mentira. Era grande a falsidade no relacionamento entre familiares e amigos.
Ninguém podia confiar em ninguém, já que a falta de sinceridade era a marca do
povo. Não era uma questão de desvio ocasional, mas de estilo de vida (Jr
9:2-5). Uma sociedade não pode viver numa decadência dessa; a vida se torna
insuportável!
CONCLUSÃO
Usar o nome de Deus
de maneira fútil é tão comum hoje, em todos os países do mundo, que podemos
falhar em perceber como isso é sério. O modo como usamos o nome de Deus
transmite como realmente nos sentimos a respeito dEle. Devemos respeitá-lo e
usá-lo apropriadamente, mencionando-o em louvor e adoração. O abuso ou a
desonra do nome de Deus tem que ser visto com seriedade. Não se deve pensar em
Deus sem a devida sobriedade e reverência.
Deus nos guarde!
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Luciano
de Paula Lourenço - Disponível
no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia
de Estudo Pentecostal.
Bíblia
de estudo – Aplicação Pessoal.
Revista
Ensinador Cristão – nº 61. CPAD.
Eugene
H. Merrill – História de Israel no Antigo Testamento. CPAD.
Paul
Hoff – O Pentateuco. Ed. Vida.
Leo
G. Cox - O Livro de Êxodo - Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Victor
P. Hamilton - Manual do Pentateuco. CPAD.
Esequias
Saores. Os Dez Mandamentos – Valores Divinos para uma Sociedade em Constante
Mudança. CPAD.
(1) MARCOS ARRAIS
(https://marcosarrais.wordpress.com/os-dez-mandamentos-na-atualidade/santificando-o-nome-de-deus).
(2) Ibidem.
(3) Hans Ulrich
Reifler. A ética dos dez Mandamentos. Vida Nova.