segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Aula 05 – NÃO TOMARÁS O NOME DO SENHOR EM VÃO


1º Trimestre/2015

 
Texto Base: Êxodo 20:7; Mateus 5:33-37; 23:16-19

 
“Nem jurareis falso pelo meu nome, pois profanaríeis o nome do vosso Deus. Eu sou o SENHOR” (Lv 19:12).

 

INTRODUÇÃO

Na sequencia do estudo dos Dez Mandamentos, iremos tratar nesta Aula sobre o Terceiro Mandamento, a saber: "Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão...” (Êx 20:7). Este mandamento inclui qualquer uso do nome de Deus de maneira leviana, blasfema ou insincera. Deve-se reverenciar o nome divino porque revela o caráter de Deus, a sua santidade. “Santo e tremendo é o Seu nome” (Sl 111:9).

Os dias em que vivemos são de maiúsculas irreverências a tudo que é moral, estimuladas pela imprensa, em suas diversas matizes. Nada é sagrado neste século: religião, sexo, fé, família, Deus, etc. Tudo pode ser zombado, satirizado e distorcido. Milhões se dirigem ao Todo-poderoso e santo Deus, que habita na luz inacessível, como se dirigissem a uma pessoa qualquer, ou a um ser imaginário sem valor nenhum. Tais zombadores devem saber que de Deus ninguém zomba (Gl 6:7). Aquilo que fazemos aqui determinará nosso destino amanhã. “... o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êx 20:7). Deus é amor, mas também é justiça e, por isso, no tempo certo, no tempo que lhe aprouver, providenciará o julgamento de todos os homens, a fim de que cada um responda pelos atos cometidos, atos estes decorrentes da liberdade com que aquinhoou cada ser humano.

I. O NOME DIVINO

1. O Nome. O nome de Deus revela o que Ele é. O nome de Deus não é apenas uma identificação pessoal, mas é inerente à Sua natureza e revela Suas obras e Seus atributos. Não é meramente uma distinção dos deuses das nações pagãs. Quando a Bíblia faz menção do "nome de Deus", está revelando o poder, a grandeza e a glória do Deus Todo-Poderoso.

Cada nome divino revela-nos como Deus deseja ser conhecido por nós. Falam-nos sobre quem Deus é e como ele age em relação ao homem. É por este motivo que Deus aparece com vários nomes nas páginas sagradas. Cada um desses nomes revela uma característica específica de Deus. Portanto, não podemos tratar os nomes de Deus como “varas de condão” que fazem as coisas acontecer. Esse tipo de raciocínio equivocado tem levado muitas pessoas a acreditar que o simples “pronunciar” de um nome divino “libera” alguma energia espiritual poderosa. Isso, porém, está fora da realidade. O nome divino tem real valor por causa do próprio Deus. O uso “mágico” do nome de Deus não funciona, como não funcionou no caso dos filhos de Ceva (At 19:14-16).

As Escrituras mostram que é Deus quem age, e não o homem que o controla por meio de fórmulas mágicas. Talvez a maior confusão na prática esteja no mau uso da frase “se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei” (Jo 14:14). Só proferir o nome de Jesus não significa que tudo acontecerá automaticamente. Pedir alguma coisa “em nome de Jesus” significa pedir alguma coisa segundo a vontade de Deus (1Jo 5:14). Pedir em nome de Jesus é pedir o que Jesus pediria. Pedir em Seu nome é como “agir por procuração”: não é a minha vontade que será feita por meio de Jesus, mas sim a vontade dEle que se realizará por meio da minha oração.

2. Nomes específicos. Deus é descrito de maneira específica por diversos nomes hebraicos no Antigo Testamento. Entre eles merecem especial destaque os termos Elohim, Javé e Adonay.

- Elohim é o nome hebraico genérico para Deus. Seu significado etimológico é “força, poder”, e refere-se a Deus como Criador, como o ser transcendente e como o Deus que está acima de todos os outros. Uma curiosidade interessante sobre o nome Elohim é que se trata de um substantivo em forma plural no hebraico. O nome “Deus” em nossas Bíblias é tradução do hebraico El (Nm 23:8) ou Eloah (Dt 32:15), ou seu plural, Elohim (Gn 1:1). Já o nome El é usado para compor outros nomes divinos, como El-Shadday (Deus Todo-poderoso – Gn 17:1; Êx 6:3), e também para formar nomes hebraicos comuns como Daniel e Samuel.

- Adonay (Senhor) refere-se ao senhorio de Deus. O significado literal é Senhor, mas nunca é usado para se referir ao homem. Adonay destaca também a plena soberania de Deus.

- Javé. Este é o nome que mais define o próprio Deus. O termo hebraico seria YHWH. O significado de Javé é “Eu Sou” ou “Sempre estarei sendo”, ou como gostam os judeus “o Eterno”. A forma é uma abreviação do “EU SOU O QUE SOU”, dito por Deus a Moisés em Êxodo 3:13,14.

Os judeus deixaram de pronunciar o nome divino para evitar a vulgarização do nome e assim não violar o Terceiro Mandamento. A pronúncia perfeita se perdeu. As consoantes do tetragrama YHWH receberam as vogais de Adonay, o que veio a gerar o nome Yahweh, Javé ou Yehowah. Todavia, os estudiosos hoje concordam, principalmente com base nas antigas transliterações gregas, que o nome divino seria Yahweh, ou seja, Javé em português. A versão Almeida Corrigida, nas edições de 1995 e 2009, emprega “SENHOR”, com todas as letras maiúsculas, onde consta o tetragrama (YHWH) no Antigo Testamento hebraico para distinguir de Adonay (Jz 6:22).

II. TOMAR O NOME DE DEUS EM VÃO

1. O Terceiro Mandamento (Ex 20:7). “Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”.

O nome de Deus é especial porque traz a sua identidade pessoal. Nas Escrituras Sagradas, o nome está intimamente ligado à pessoa, indicando o seu próprio caráter, ou ainda denotando a posição e função de quem traz o nome (Êx 23:21). O Terceiro Mandamento nos diz que quando nos lembramos do nome de Deus, devemos preparar-nos para render-lhe culto porque as verdades que sabemos sobre alguém são despertadas quando pronunciamos o seu nome.

A proibição de usar o nome de Deus “em vão” ocorre em função de o mesmo estar intimamente ligado ao caráter divino (Êx 3:15; Lv 22:32). Assim, por causa da natureza santa do nome do Senhor, o mesmo deve ser reverenciado, invocado, louvado e bendito (Mt 6:9). Tomar o nome do Senhor “em vão” inclui o fazer uma falsa promessa usando esse nome – “nem jurareis falso pelo meu nome, pois profanaríeis o nome do vosso Deus. Eu sou o SENHOR” (Lv 19:12).

Era comum o uso de palavras mágicas em encantamentos no mundo antigo. Um exemplo bíblico ocorre em Atos 19:13-16, onde lemos sobre a tentativa pecaminosa de invocar o nome do Senhor Jesus, por mágicos que usavam o nome do Salvador como uma forma de encantamento.

O nome de Deus deve ser honrado e respeitado por ser profundamente sagrado, e deve ser usado somente de maneira santa - “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome” (Mt 6:9). Deus já é santo, então significa que somos santificados quando deixamos o Nome de Deus infundir em nossa natureza aquilo que Ele traz (santidade, cura, autoridade, provisão, etc).

2. Objetivo do Terceiro Mandamento. “A finalidade é por um freio na mentira, restringir os juramentos e assim evitar a profanação do nome divino (Lv 19:12). Ninguém deve usar o nome de Deus nas conversas triviais do dia a dia, pois isso é misturar o sagrado com o comum (Lv 10:10). O Senhor Jesus condenou duramente essas perversões farisaicas, práticas que precisavam ser corrigidas ou mesmo substituídas. Este mandamento foi restaurado sob a graça e adaptado a ela na nova dispensação, manifesto na linguagem do cristão: “sim, sim; não, não” (Mt 5:37) (LBM. p.38.CPAD).

3. O Valor do Terceiro Mandamento (1). No Antigo Testamento, o castigo para o mau uso do nome de Deus era o apedrejamento (Lv 24:16). Percebemos que essa proibição estava ligada ao juramento falso, que era usar o nome de Deus para atestar uma declaração mentirosa (Lv 19:12).

Esse mandamento não exclui a recorrência ao nome do Senhor em juramentos verdadeiros e solenes (2Sm 2:27; Nm 30:3; Jr 4:2; Js 7:19; 2Co 1:23). Podemos invocar o nome de Deus nas angústias. Também podemos invocar Seu nome clamando por socorro e salvação (Sl 50:15).

Hans Ulrich Reifler, em seu livro “A Ética dos Dez Mandamentos” (editora Vida Nova), diz a respeito do Terceiro Mandamento: “Muitas pessoas abusam do nome do Senhor inconscientemente. Na cultura brasileira, as expressões ‘meu Deus’, ‘Deus me livre’, ‘se Deus quiser’, ‘Deus é testemunha’, ‘juro por Deus’, tornam-se tão frequentes, e até populares, que todos acabaram se acostumando. O problema não está no uso dessas palavras, mas na atitude do coração. Quando bem pensadas, tais expressões constituem uma oração, manifestam nossa confiança no Senhor e testificam a sinceridade da nossa fé. Por outro lado, não resta dúvida de que o uso impensado dessas frases não ajuda em nada; pelo contrário, revela leviandade para com as coisas sagradas, e é isto o que está em pauta no Terceiro Mandamento”.

4. Formas “sutis” de tomar o Nome do Senhor em vão (2). Na Bíblia, a palavra “vão” significa “vazio”, “sem conteúdo”, “sem valor”, “não produtivo”. Pronunciar o nome de Deus em vão demonstra um desprezo para com o Deus Todo-Poderoso.

a) Com irreverência (Ef 5:3,4 - ARA) - “…palavras vãs ou chocarrices…”. São todas aquelas formas de falar, aquelas frases irreverentes que usamos que incluem o nome santo de Deus. Como é comum e inconsequente soltarmos um “meu Deus do céu”, “pelo amor de Deus”. Se queremos realmente dizer aquilo, então não tem problema. Mas se for apenas uma “força de expressão” ou comentário descuidado, aí é outra coisa.

b) Com hipocrisia (Is 48:1). São pessoas que se chamam pelo nome de Deus, mas não vivem sinceramente na presença de Deus. Professam e cantam publicamente, mas em casa não vivem a verdade que confessa. A pessoa que procura disfarçar uma vida pecaminosa, ao mesmo tempo em que professa o nome de Cristo, quebra o Terceiro Mandamento. Tais indivíduos são culpados diante de Deus (Êx 20:7) e só receberão misericórdia depois de se arrependerem.

c) Como uma falsa imagem. Usamos em “vão” o nome de Deus quando usamos Deus como espantalho na educação dos filhos, quando, por exemplo, ameaçamos dizendo: “Deus está te vendo! Deus vai te castigar!”.  Com esses abusos do nome de Deus, muitas pessoas foram feridas na sua infância.  A imagem curadora de Deus se transforma numa imagem ameaçadora, vingativa e muito exigente.

d) Como forma de manipular. Quando se usa o nome de Deus para manipular as massas.  Na igreja, o famoso “Deus me falou!”.

Jamais devemos usar o nome de Deus de maneira frívola ou mecanicamente. Os justos veneram o nome de Deus por ser santo e sagrado.

5. O lado positivo do Terceiro Mandamento. Para cada proposição negativa, existe um conceito positivo por trás. Quando um pai diz: “não fique na frente dos carros”, ele está dizendo: “não quero que se machuque. Quero você vivo e feliz!”.

A Bíblia não nos proíbe pronunciar o (s) nome (s) de Deus. Ela nos encoraja a invocá-lo de coração e com temor. Todavia, o nome de Jesus não deve ser pronunciado como uma palavra mágica, e nem somente como uma forma de terminar uma oração com estilo. Com esse nome, fazemos ao Pai uma petição e assinamos com o Nome daquele que tem autoridade nos céus e na Terra, sabendo que o Pai não negará nada ao Seu Filho amado.

- João 14:13: “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho”.

- Colossenses 3:17: “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”. Aqui somos colocados frente à responsabilidade que esse nome traz àqueles que o carregam. Quando você diz: “sou um cristão”, você está dizendo que é como Cristo.

- 2Timóteo 2:19: “Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor”.

- Salmos 68:4: “Cantai a Deus, salmodiai o seu nome; exaltai o que cavalga sobre as nuvens. SENHOR é o seu nome, exultai diante dele”.

6. Modalidades de juramentos. O cerne do Terceiro Mandamento é proibir o costume de juramento falso, pois o verdadeiro juramento se fazia mediante a invocação do nome de Deus (Lv 19:12). Era uma necessidade imperiosa que todos falassem a verdade, como o dever de cada um honrar o compromisso assumido com os homens e diante de Deus. É dever de todos cumprir os votos feitos a Deus; a lei é clara sobre essa responsabilidade (Nm 30:2; Dt 23:21). Mas as autoridades religiosas de Israel classificaram os juramentos em duas categorias: os que podiam ser descumpridos e os que não podiam. Há uma lista deles em Mateus 5:33-37; 23:16-22. O Senhor Jesus reprovou com veemência essa violação dos escribas e fariseus. A interpretação rabínica da época permitia violar o terceiro mandamento e fazer de conta que ele não havia sido violado (Esequias Soares).

III. O SENHOR JESUS PROIBIU O JURAMENTO?

Conforme Levítico 19:12, uma das aplicações do Terceiro Mandamento é o juramento: "... nem jurareis falso pelo meu nome, pois profanaríeis o nome do vosso Deus: Eu sou o Senhor". O versículo não proíbe o juramento em si, mas a falsidade nesse ato, caracterizada pelo uso irreverente do nome do Senhor para dar maior credibilidade a uma afirmação.

O juramento era uma exigência legítima do Antigo Testamento (Nm 30:3: Js 7:19). De fato, encontramos até exemplos condignos na Bíblia. O Senhor jurou que abençoaria Abraão (Gn 22:15-17; Hb 6:13) e estabeleceria o trono de Davi (2Sm 3:9). Veja outros exemplos em Lucas 1:73 e em Hebreus 3:11,18; 7:21. Em João 9:24, o homem cego de nascença é forçado a jurar, e ninguém o reprova. Além desses exemplos, encontramos formas como "tão certo como vive o Senhor" (1Sm 14.39, 44), "assim me faca Deus" (2Rs 6:31) ou "tomo a Deus por testemunha" (2Co 1:23).

Há também exemplos de juramentos falsos e levianos. A leviandade de Herodes custou a cabeça de João Batista (Mc 6:23). Em Mateus 23:16, Jesus adverte os fariseus: "Ai de vós, guias cegos! que dizeis: Quem jurar pelo santuário, isso é nada; mas se alguém jurar pelo ouro do santuário, fica obrigado pelo que jurou". Em Mateus 26:74, Pedro nega a Cristo, fazendo um juramento indigno.

Jesus não Se pronunciou contra o juramento em si, mas contra o ato imprudente, o voto leviano e supérfluo (Mt 5:33-37). Seu meio-irmão, Tiago, seguiu essa tradição ao escrever: "Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro voto; antes seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não, para não cairdes em juízo" (Tg 5:12) (3). Essa exigência divina se faz necessária por causa da inclinação humana à mentira. Era grande a falsidade no relacionamento entre familiares e amigos. Ninguém podia confiar em ninguém, já que a falta de sinceridade era a marca do povo. Não era uma questão de desvio ocasional, mas de estilo de vida (Jr 9:2-5). Uma sociedade não pode viver numa decadência dessa; a vida se torna insuportável!

CONCLUSÃO

Usar o nome de Deus de maneira fútil é tão comum hoje, em todos os países do mundo, que podemos falhar em perceber como isso é sério. O modo como usamos o nome de Deus transmite como realmente nos sentimos a respeito dEle. Devemos respeitá-lo e usá-lo apropriadamente, mencionando-o em louvor e adoração. O abuso ou a desonra do nome de Deus tem que ser visto com seriedade. Não se deve pensar em Deus sem a devida sobriedade e reverência.

Deus nos guarde!

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Luciano de Paula Lourenço - Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 61. CPAD.

Eugene H. Merrill – História de Israel no Antigo Testamento. CPAD.

Paul Hoff – O Pentateuco. Ed. Vida.

Leo G. Cox - O Livro de Êxodo - Comentário Bíblico Beacon. CPAD.

Victor P. Hamilton - Manual do Pentateuco. CPAD.

Esequias Saores. Os Dez Mandamentos – Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. CPAD.

(1) MARCOS ARRAIS (https://marcosarrais.wordpress.com/os-dez-mandamentos-na-atualidade/santificando-o-nome-de-deus).

(2) Ibidem.

(3) Hans Ulrich Reifler. A ética dos dez Mandamentos. Vida Nova.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Aula 04 – NÃO FARÁS IMAGENS DE ESCULTURA


1ºTrimestre/2015

 
Texto Básico: Êxodo 20:4-6; Dt 4:15-19

 
“Portanto, meus amados, fugi da idolatria” (1Co 10:14).

INTRODUÇÃO

"Não farás para ti imagem de escultura" (Ex 20:4; Dt 5:8). O Primeiro Mandamento de Deus no Sinai foi “não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20:3). E o Segundo Mandamento foi não fazer imagens de escultura e nem se encurvar a elas (Êx 20:4-6). A idolatria é um pecado grosseiro e afrontoso ao único e verdadeiro Deus. A idolatria consiste em transformar uma imagem em objeto de adoração e atribuir a ela poderes do deus que representa. Se considerarmos que gravuras ou imagens de pessoas possuam poderes divinos e que sejam adorados, então elas se tornam ídolos. Há formas de criaturas nos céus (anjos), na terra (animais, seres humanos) e nas águas (peixes e baleias), e nenhuma dessas formas poderia jamais representar Deus. Tentar reduzir Deus a uma figura conhecida era o mesmo que reduzir sua glória. Deus apresentou os motivos para esta proibição: “Ele é Deus zeloso”, no sentido de que não permite que o respeito e a reverência devidos a Ele sejam dados a outrem. Está escrito: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de esculturas” (Is 42:8).

I. PROIBIÇÃO À IDOLATRIA

1. Ídolo e imagem. O ídolo é um objeto de culto visto pelos idólatras como tendo poderes sobrenaturais e a imagem é o representante do ídolo. Diversas passagens bíblicas relacionam o ídolo aos demônios, e o culto idólatra ao culto diabólico (Lv 17:7; 1Co 10:20).

Satanás, como “o deus deste século” (2Co 4:4), exerce vasto poder nesta presente era iníqua (ver 1João 5:19). Ele tem poder para produzir falsos milagres e de proporcionar às pessoas benefícios físico e materiais. Sem dúvida, esse poder contribui, às vezes, para a prosperidade dos ímpios (cf. Sl 10:2,6; 73:1-17).

Essa correlação entre a idolatria e os demônios vê-se mais claramente quando percebemos a estreita vinculação entre as práticas religiosas pagãs e o espiritismo, a magia negra, a leitura da sorte, a feitiçaria, a bruxaria, a necromancia, e coisas semelhantes (cf 2Rs 21:3-6; Is 8:19). Segundo as Escrituras Sagradas todas essas práticas ocultistas envolvem submissão e culto aos demônios.

Os ídolos sempre foram laços para o povo de Israel, a quem Deus elegeu como seu povo peculiar aqui na Terra. Em 1 e 2 Reis temos a revelação da infidelidade do povo de Deus. Encontram-se ali três categorias de reis que tiveram diferentes relações com as imagens:

a) reis maus, que não andaram no caminho do Senhor e apoiaram toda sorte de idolatria: Jeroboão (1Rs 12:31,32; 13:33); Roboão (1Rs 14:23); Zinri (1Rs 16:19); Onri (1Rs 16:25,26); Acabe (1Rs 16:30-33); Acazias (1Rs 22:52,53); Jorão (2Rs 3:1-3); Acazias (2Rs 8:27); Jeú (2Rs 10:18-31); Jeocaz (2Rs 13:1,2); Jeoás (2Rs 13:10,11); Jeroboão (2Rs 14:23,24); Peca (2Rs 15:27,28); Acaz (2Rs 16:1-3); Oséias (2Rs 17:1,2); Manasses (2Rs 21:1-3); Amom (2Rs 21:17-21).

b) reis bons, que andaram no caminho do Senhor, mas que, ao mesmo tempo, toleraram os lugares altos: Asa (1Rs 15:12-15); Josafá (1Rs 22:43,44); Joás (2Rs 12:3); Amazías (2Rs 14:1-4); Azarias (2Rs 15:1-4); Jotão (2Rs 15:32-35).

c) reis excelentes, que andaram no caminho do Senhor e derrubaram os lugares altos: Ezequias (2Rs 18:1-4) e Josias (2Rs 22:1,2; 2Cr 34:4).

Em todo esse período, o povo de Deus experimentou apenas dois reavivamentos: o primeiro ocorreu durante o reinado de Ezequias e o segundo, nos dias de Josias. Foram homens de muita coragem e de alto padrão espiritual; tanto Ezequias quanto Josias tiveram a visão de voltar ao Senhor e deixar para trás toda espécie de ídolos, inclusive os postes-ídolos e lugares altos que dominaram a vida diária por tantas gerações.

O salmo 96:5 afirma que todos os deuses dos povos não passam de ídolos e faz uma clara distinção entre os ídolos e Deus: o verdadeiro Deus fez os céus; os ídolos foram criados, mas nunca criaram nada. O verdadeiro Deus tem poder criativo, os ídolos não. Os ídolos foram criados e não criam, enquanto o verdadeiro Deus cria e nunca foi criado.

Uma nova dimensão na questão da idolatria abre-se nas palavras proféticas de Ezequiel, quando ele se refere aos ídolos dentro do coração (Ez 14:1-11). Estes já não são visíveis e estão ligados às atitudes do coração, mas desviam do Senhor e contaminam o pensamento humano tanto quanto os ídolos visíveis e tangíveis.

Hoje, no Brasil, é notória a prática de espiritualismo em diversos púlpitos. Prometem "carro", "casa", "emprego", "saúde", "dinheiro" e tantas outras falsas promessas em troca de dinheiro. Na ânsia de "tomar posse da bênção", as pessoas passam a cultuar uma série de objetos que nada têm a ver com o Evangelho. É o "galho de arruda", o "sal grosso", a "rosa ungida", as "sementes", o "carnê", enfim, a razão da fé deixa de ser Jesus para ser as tais imagens. Quando você se prostra diante de um ídolo, uma imagem de escultura, não importa quem, ou o que ela está representando, seja aonde for - em um templo, ao ar livre, em um centro de magia -, por traz desse ídolo, ou imagem, está um demônio.

É válido ressaltar que não há condenação para confecção de imagens, contanto que não se tornem objetos de veneração. No Tabernáculo (Êx 25:31-34) e no primeiro Templo (1Rs 6:18,29) haviam obras esculpidas. A tradição cristã nunca condenou o emprego de imagens para fins didáticos. Pela história eclesiástica, sabemos como as pinturas nas catacumbas serviram para a catequese e a meditação dos fiéis analfabetos. O problema surge quando essas imagens são desvinculadas da simplicidade da fé apostólica, tornando-se um instrumento de veneração ou até adoração. Já o pé de coelho, o anel mágico, a pirâmide esotérica, o cacto em frente da casa para dissipar os maus espíritos, o arco-íris, as pedras no balde em cima da cabeça e outros objetos ou práticas que recebem o apoio da crença popular são manifestações de desrespeito à santidade de Deus e ao Segundo Mandamento (Dt 18:10-12).

2. Idolatria. A palavra idolatria é formada por dois vocábulos gregos: eidolon = ídolo + latria = adoração, idolatria. Portanto, idolatria é adorar, venerar, ajoelhar–se diante de ídolos, fazer-lhes orações, prostrar-se diante deles e prestar-lhes culto.

Teologicamente, idolatria é tudo aquilo que, em nosso coração, tira a primazia de Deus. É idolatria, por exemplo, o excessivo apego que se tem a uma pessoa ou objeto (Cl 3:5).

A idolatria é obra da carne. Ao relacionar as obras da carne, Paulo coloca a idolatria no mesmo nível destas (Gl 5:20).

A idolatria é um pecado grosseiro e afrontoso ao único e verdadeiro Deus, porque: (a) lhe rouba a glória e consagra-a às obras que nada são; (b) ignora-lhe a eterna e inquestionável soberania; (c) zomba das reivindicações que Ele apresenta em Sua Palavra. O idólatra demonstra que não dá nenhuma importância à soberania divina (Sl 14:1).

O povo de Deus cometeu o pecado da idolatria repetidas vezes, ao longo de sua história no Antigo Testamento. Em Deuteronômio 27:15 vemos a função condenatória do Segundo Mandamento em sua forma mais radical. Quem quebrar este mandamento será maldito e abominável perante o Senhor, e o povo dirá amém. O mesmo povo que concordava com esta exigência do Senhor mais tarde caiu em grande idolatria. Outra passagem que se destaca é Deuteronômio 16:21,22, onde Javé adverte contra postes-ídolos e árvores ao lado do altar ou colunas que lhe são odiáveis (veja também Juízes 3:7,8). A adoração a esses fetiches nos lugares altos tornou-se a principal forma de idolatria em Israel.

Todos os profetas exortaram os israelitas a que se abstivessem da idolatria. Foi em consequência da idolatria que Israel e Judá foram expulsos de suas possessões e experimentaram o amargo cativeiro (2Rs 17:1-23; 2Cr 36:11-21).

Por que a idolatria era tão fascinante aos israelitas?

a) Porque as nações ao redor de Israel criam que a adoração a vários deuses era superior à adoração a um único Deus, ou seja, quanto mais deuses melhor. O povo de Deus sofria influência dessas nações e constantemente as imitava, ao invés de obedecer ao mandamento de Deus no sentido de se manter santo e separado delas.

b) Porque os deuses das nações vizinhas a Israel não exigiam nenhum tipo de obediência a padrões morais, como o Deus de Israel. Por exemplo, muitas das religiões pagãs incluíam imoralidade sexual religiosa no seu culto, tendo para isso prostitutas cultuais. Essa prática sem dúvida atraia muitos israelitas. Deus, por sua vez, exigia padrões morais para o seu povo, vida de consagração, adoração com reverência.

c) Porque acreditavam que os deuses da fertilidade prometiam o nascimento de filhos; os deuses do tempo (sol, lua, chuva etc.) prometiam as condições apropriadas para colheitas abundantes e os deuses da guerra prometiam proteção dos inimigos e a vitória nas batalhas. A promessa de tais benefícios fascinava os israelitas; daí, muitos se dispunham a servir aos ídolos, ou seja, aos demônios (cf Dt 32:17).

Se a idolatria era combatida com rigor no Antigo Testamento, não será diferente no Novo. No Concílio de Jerusalém, os apóstolos e anciãos, inspirados pelo Espírito Santo, recomendaram aos fiéis: “Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação; destas coisas fareis bem se vos guardardes” (Atos 15:29). Em suas diversas epístolas, os apóstolos condenaram duramente o envolvimento dos cristãos com a idolatria (1Co 10:14; 1Pe 4:3).

O apóstolo Paulo advertiu a igreja de Corinto e adverte a igreja de hoje para não se envolver com a idolatria, como o povo de Israel no deserto. Ele diz: “Não vos torneis, pois, idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-se para dançar (1Co 10:7).

II. AMEÇAS E PROMESSAS

1. O Deus zeloso.Porque eu, o SENHOR, teu Deus, sou Deus zeloso...” (Êx 20:5). Estas palavras devem ser interpretadas à luz do caráter de Deus. Deus é zeloso no sentido de ser exclusivista, não tolerando que seu povo preste culto a outros deuses. Como um marido, que ama a sua esposa, não permite que ela reparta seu amor com outros homens, Deus não tolera nenhum rival. Esse direito de exclusividade era algo inusitado na época e único na história das religiões, pois os cultos pagãos antigos eram tolerantes em relação a outros deuses.

2. As ameaças. “... que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem” (Êx 20:5). As ameaças sobre as gerações daqueles que aborrecem Javé são para os descendentes que continuam envolvidos no pecado dos pais, as sucessivas gerações que aprenderam os pecados dos seus ancestrais e vivem ainda neles. Este princípio aparece outras vezes no Antigo Testamento além das duas passagens do Decálogo (Êx 34:7; Nm 14:18; Jr 32:18). Deus não castiga os filhos pelos pecados de seus pais, a não ser nos casos em que os filhos continuem nos pecados dos pais. Castiga os que o "aborrecem" e não os arrependidos. "A alma que pecar, essa morrerá"; "o filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho" (Ez 18:20). Em vez disso, a maldade passa de geração a geração pela influência dos pais e quando chega a seu ponto culminante, Deus traz castigo sobre os pecadores (Gn 15:16; 2Reis 17:6-23; Mt 23:32-36).

"visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem" - Os expositores da falaciosa doutrina da “maldição hereditária” costumam usar este texto para fundamentar a sua teoria. “Afirmam que, se alguém tem problemas com adultério, pornografia, divórcio, alcoolismo ou tendências suicidas é porque alguém de sua família, no passado - não importa se avós, bisavós ou tataravós -, teve esse problema. Nesse caso, a pessoa afetada pela maldição hereditária deve, em primeiro lugar, descobrir em que geração seus ancestrais deram lugar ao diabo. Uma vez descoberta tal geração, pede-se perdão por ela, e, dessa forma, a maldição de família é desfeita. Uma espécie de perdão por procuração, muito parecido com o batismo pelos mortos, praticado pelos mórmons”. “Tal pensamento não se sustenta biblicamente; é um erro crasso. A maldição está sobre quem continuar no pecado dos pais, sobre ‘aqueles que me aborrecem’, pontua com clareza o mandamento. Não é o que acontece com o cristão que ama a Deus. Se fomos alvejados pela graça de Deus ainda no tempo da nossa ignorância, quanto mais agora que somos reconciliados com ele? (Rm 5:8-10). Quando alguém se converte a Cristo, torna-se nova criatura: "as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo" (2Co 5;17)“ (Esequias Soares).

III. O CULTO VERDADEIRO

Em todo o culto verdadeiro, Deus é ao mesmo tempo o objeto do culto, o assunto do culto, e o poder do culto.

1. Adoração. De acordo com a Bíblia, a adoração está associada com a ideia de culto, reverência, veneração, por aquilo que Deus é: Santo, Justo, Amoroso, Soberano, Misericordioso, etc. Os dois principais verbos gregos para “adorar”, no Novo Testamento, são proskyneo, que significa “adorar” no sentido de prostrar-se; e latreuo, que significa “servir” a Deus.

Muitos têm se iludido achando que Deus se agrada se cumprirmos tão somente os deveres litúrgicos, ou seja, se rendermos a Deus um culto formal em alguma igreja. A essência do culto está na adoração ao Senhor, e nunca é demais enfatizarmos essa verdade, pois adoração vazia significa culto frio e sem propósito.

A adoração a Deus é o gesto concreto de nosso reconhecimento de que Deus é o Senhor de todas as coisas, inclusive de nosso ser. É através da adoração que Deus é reconhecido como Senhor e o homem, como seu servo. Quando adoramos ao Senhor, em espírito e em verdade (João 4:23,24), trazemos o Senhor até ao local de adoração de uma forma especial.

O Senhor Jesus disse que Deus procura a estes adoradores e disse que estaria onde estivessem dois ou três reunidos em seu nome (Mt 18:20). Assim sendo, quando nos reunimos em nome do Senhor, quando realmente O adoramos, Ele se faz presente de uma forma toda especial, ou seja, como companheiro, como intercessor, como Salvador.

2. Deus é espírito. De conformidade com a revelação de Cristo à mulher Samaritana, Deus é Espírito (João 4:24), sendo, portanto, invisível e imperceptível para os sentidos físicos (Jo 1:18). Cultuá-lo com a mediação de imagens é colocá-lo no mesmo nível das falsas divindades, uma afronta ao verdadeiro Deus.

Deus é Espírito infinito, sem fronteiras ou limites tanto quanto ao seu Ser como quanto aos seus atributos, e cada aspecto e elemento de sua natureza é infinito. Essa natureza infinita, em relação ao tempo, é chamada eternidade, e em relação ao espaço é chamada onipresença; em relação ao universo, ela implica tanto em transcendência como em imanência.

3. Deus é imanente e transcendente. Por transcendência de Deus se entende que Ele está separado de toda a sua criação como um Ser independente e auto-existente. Ele não está limitado pela natureza, mas existe infinitamente exaltado sobre ela. Até mesmo aquelas passagens das Escrituras que salientam suas manifestações temporais e locais dão ênfase à sua exaltação e onipotência como Ser externo ao mundo, como seu soberano Criador e Juiz (cf Is 40:12-17). Em Is 57:15 temos uma expressão da transcendência de Deus: “o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo”, bem como sua imanência como Aquele que habita “também com o contrito e abatido de espírito”.

Por imanência de Deus se entende sua presença difundida e seu poder dentro de sua criação, ou seja, Deus não abandonou a criação e que dela participa ativamente, sendo companheiro do homem a cada instante de sua existência. Desta percepção da imanência de Deus, o homem pode compreender que Deus o ama e que tudo fez para resgatá-lo do pecado e do mal, chegando ao ponto de se humanizar e de morrer em nosso lugar na cruz do calvário, na pessoa de seu Filho. Por isso, a Bíblia mostra que o primeiro e maior mandamento de Deus para o homem é o de amarmos a Deus sobre todas as coisas, algo que decorrerá do fato de reconhecermos nosso estado de pecador e de nos arrependermos e nos chegarmos ao Senhor, através da pessoa de Jesus Cristo.

IV. AS IMAGENS E O CATOLICISMO ROMANO

1. Uma interpretação forçada. Para escapar da acusação de prática de idolatria por parte dos seus fiéis, a Igreja Católica Romana desenvolveu três argumentos básicos:

- Em primeiro lugar, diz que o texto de Êxodo 20:4-5 não era uma proibição absoluta, mas condicionada por circunstâncias em que vivia o povo de Israel, haja vista que o próprio Deus mandou que se confeccionassem imagens sagradas (Ex 25:17-22; 1Rs 6:23-29).

- Em segundo lugar, desenvolveu a teoria da pedagogia divina. D. Estevão Bettencourt resume assim a teoria: ...os cristãos foram percebendo que a proibição de fazer imagens no Antigo Testamento tinha o mesmo papel de pedagogo (condutor de crianças destinado a cumprir as suas funções e retirar-se) que a Lei de Moisés em geral tinha junto ao povo de Israel. Por isto o uso das imagens foi-se implantando. As gerações cristãs compreenderam que, segundo o método da pedagogia divina, atualizada na Encarnação, deveriam procurar subir ao Invisível passando pelo visível que Cristo apresentou aos homens; a meditação das fases da vida de Jesus e a representação artística das mesmas se tornaram recursos com que o povo fiel procurou aproximar-se do Filho de Deus. Assim criaram a ideia de que: Nas igrejas as imagens tornaram-se a Bíblia dos iletrados, dos simples e das crianças, exercendo função pedagógica de grande alcance. É o que notam alguns escritores cristãos antigos: 'O desenho mudo sabe falar sobre as paredes das igrejas e ajuda grandemente'(S. Gregório de Nissa, Panegírico de S. Teodoro. p. 46,737d). O que a Bíblia é para os que sabem ler, a imagem o é para os iletrados (São João Damasceno. De imaginibus 17 p. 94,1248c). (Diálogo Ecumênico. D. Estevão Bittencourt osb. Edições "Lúmen Christi”.1989. p.227-234).

- Em terceiro lugar, criou a teoria da distinção de devoção ou culto: dulia, devoção aos santos e anjos; hiperdulia, devoção a Maria e; latría, culto prestado a Deus.

2. Refutação Apologética. Deus proibiu seu povo de confeccionar e cultuar imagens, estátuas, etc, visto que os povos pagãos atribuíam a esses artefatos de barro, madeira, ou outro material corruptível, um caráter religioso. Acreditavam, além do mais, que a divindade se fazia presente por meio dessa prática. O Deus Todo-poderoso instruiu seu povo a não cultuar imagens. Sua palavra era tão poderosa no coração dos israelitas, que embora muitos homens santos, profetas e sacerdotes, servos exemplares, com todas as virtudes para "canonização" (os heróis da Bíblia), não foram pretextos para serem adorados ou cultuados, nem fizeram suas imagens e nem lhes prestaram culto. Deus proibiu seu povo de fabricar imagens de escultura, de fundir imagens para cultuá-las (Êx 20:23 e 34:17).

Algumas imagens que Deus mandou confeccionar não tinham por objetivo elevar a piedade de Israel e nem serviam de modelo para reflexão ou conduta. Eram apenas símbolos decorativos e representativos. Deus mandou fazer a Arca da Aliança; mandou confeccionar figuras de querubins no Tabernáculo e no Templo, entre outros utensílios (Ex 25:17-22; 1Rs 6:23-29), além de outros ornamentos (1Rs 7:23-28). Essas figuras, porém, jamais foram adoradas ou veneradas, ou vistas como objeto de devoção ou adoração. Se os filhos de Israel tivessem adorado, cultuado ou venerado esses objetos, sem dúvida, Deus mandaria destruí-las. Foi isso o que aconteceu com a serpente de bronze, levantada por Moisés no deserto, quando se tornou objeto de culto (2Rs 18:4).

Quando analisamos esta questão na história da nação de Israel, o povo que recebeu os mandamentos de Deus e a preocupação dos judeus religiosos em manter-se fiéis até hoje, podemos entender que, apesar do Antigo Testamento proibir a confecção de imagens relativamente, no entanto a adoração ou culto a imagens era absolutamente proibido: “Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto” (Êx 20:4b).

Em algumas sinagogas do século III, e até hoje, encontramos pinturas de heróis da fé em seus vitrais, entretanto, jamais veremos judeus orando, cultuando ou invocando Moisés, Abraão ou Ezequiel.

No Novo Testamento, não encontramos argumentos, nem evidências que justifique o culto, veneração ou a fabricação de imagens.

Considerando o segundo argumento apresentado pelo catolicismo romano de que um dos objetivos da Igreja é ensinar o povo a Bíblia através das imagens, especialmente aos menos alfabetizados, surge-nos algumas perguntas: Por que se faz culto a elas, se o objetivo é ensinar a Bíblia? Por que após passar dezenas de anos, com milhares de católicos alfabetizados, ainda insistem cultuar imagem? Se realmente a imagem fosse o livro daqueles que não sabem ler, por que os católicos alfabetizados são tão devotos e apegados às imagens? Será que podemos desobedecer a Bíblia para superar uma deficiência de entendimento? Onde está a base bíblica para esta teoria da pedagogia divina? Será que a encarnação do verbo poderia servir de base para se fazer imagens dos santos e cultuá-los? Cristianismo é a fé exclusiva na obra do Senhor Jesus (João 3:16; Rm 5:8: Ef 2:8-9; 1Tm 2:5; Tt 2:11), é adoração exclusiva a Deus: “...ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás” (Mt 4:11; Lc 4:8).

O principal de todos os mandamentos é: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor! Amarás o Senhor leu Deus de todo o teu coração, de toda a sua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças” (Mc 12:29-30; Mt 22:37). “Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai cm espirito e em verdade, pois o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus e Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em Espírito e em verdade” (João 4:23,24).

Finalmente, acerca da teoria de três tipos de devoção: a dulia, a hiperdulia e a latria, perguntamos: qual a diferença que pode haver entre a dulia, a hiperdulia? Qual a diferença das duas com a latria? A verdade é que os três termos se confundem. Os dois termos (dulia e hiperdulia) podem estar envolvidos com a latria e tudo se torna uma distinção que não define coisa alguma. As pessoas que se prostram diante de uma imagem da Conceição Aparecida, ou de São João, ou de São Sebastião, ou de Jesus, sabem que estão cultuando em níveis diferentes? Para elas não seria tudo a mesma coisa? Imagine um católico romano bem instruído que vai para o culto. Primeiramente ele pretende cultuar São João; dobra então seus joelhos diante da imagem de São João e pratica a dulia; depois, irá prestar culto a Maria, deixando, nesse momento, do praticar a dulia e passando a praticar a hiperdulia; finalmente, com intenção de cultuar a Deus, ele começa a praticar a latria.

Não acreditamos que o povo católico romano saiba diferenciar a dulia, a hiperdulia e a latria, e mesmo que soubesse diferenciá-las, dificilmente conseguiria respeitar os limites de cada uma. Se o culto aos santos e a Maria fosse correto, João, que escreveu o último evangelho, aproximadamente no ano 100 d.C., certamente falaria sobre o assunto e incentivaria tal pratica. No entanto nos adverte: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos (1João 5:21).

3. Maria é digna de admiração e honra? Claro que sim, tanto quanto outros santos da Bíblia por haverem cumprido com fé, obediência e humildade os encargos que Deus lhes confiou. Honrar a Maria significa reconhecer que a sua missão aqui na Terra foi uma das mais nobres e importantes, qual seja, a missão de carregar em seu ventre, alimentar com seu sangue, amamentar e criar o nosso Redentor. Todavia, não se deve dispensar a Maria honrarias superiores às que ela merece. Nada podemos fazer para aumentar a sua posição diante de Deus. Como justo juiz, Deus não dará a Maria nada mais nada menos do que ela merece, do que ela conquistou com sua fé, humildade e obediência. E o que ela mais desejou foi a sua salvação, ou seja, viver com Cristo na eternidade.

Foi exemplo de fé, obediência e humildade. Ao ser escolhida para nobre missão de ser a mãe de Jesus, de ser o veículo para que o Verbo se fizesse carne e habitasse entre nós, ela disse: “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim segundo a tua vontade” (Lc 1:38). Não se envaideceu diante das declarações de sua prima Isabel, que lhe disse: "Bendita és tu entre as mulheres, e é bendito o fruto do seu ventre". Tão logo ouviu estas palavras, dirigiu-se ao Senhor em oração: "A Minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque atentou na humildade de sua serva, pois eis que, desde agora, todas as gerações me chamarão bem-aventurada" (Lc 1:39-55).

Foi exemplo também de coragem. Ela não ficou a meditar se o seu casamento com José seria desfeito ou se José gostaria ou não; se iria compreender ou não a sua gravidez. Ela confiou no Senhor e na Sua Palavra.

Seguindo seu exemplo, sejamos submissos à Palavra de Deus e à Sua vontade, ainda que isso nos cause algumas dificuldades no meio em que vivemos. Que bom seria se todos dissessem: "Cumpra-se em mim, Senhor, segundo a tua palavra".

CONCLUSÃO

Tenhamos cuidado para não reproduzirmos falsas imagens que ousam representar Deus. Não há mente humana que possa reproduzi-lo. Que o nosso cuidado não seja apenas com os ídolos de escultura, mas igualmente em relação àqueles vivos, que cantam, pregam e formam público em nome de Deus. Vigiai!

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Luciano de Paula Lourenço - Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 61. CPAD.

Eugene H. Merrill – História de Israel no Antigo Testamento. CPAD.

Hans Ulrich Reifler. A ética dos dez Mandamentos. Vida Nova.

Paul Hoff – O Pentateuco. Ed. Vida.

Leo G. Cox - O Livro de Êxodo - Comentário Bíblico Beacon. CPAD.

Victor P. Hamilton - Manual do Pentateuco. CPAD.

Esequias Saores. Os Dez Mandamentos – Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. CPAD.