2º Trimestre/2016
Texto Base: Romanos 1:1-17
“Porque
não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação
de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1:16).
INTRODUÇÃO
Com esta Aula, damos início ao estudo do 2º
Trimestre letivo de 2016. São treze temas propostos, tendo como texto base a
Epistola do apóstolo Paulo aos Romanos. Alguém disse que a Epístola aos Romanos
é “a Catedral da Fé”. Em termos teológicos, Romanos é
a Epístola mais importante do Novo Testamento, pois constitui o texto bíblico
mais próximo de uma apresentação sistemática da fé cristã. Segundo John Stott, “ela
é a mais completa, a mais pura e a mais grandiosa declaração do Evangelho encontrada
no Novo Testamento. Sua mensagem é a de que os seres humanos nascem em pecado e
escravidão, mas que Jesus Cristo veio para libertá-los. Nela se anuncia a boa
nova da libertação: libertação da ira de Deus contra toda impiedade; libertação
da alienação para uma vida de reconciliação; libertação da condenação da lei de
Deus; libertação do medo da morte; e libertação para dedicar-nos em amor a uma
vida de serviço a Deus e aos outros. Lutero disse que todo cristão deveria não
apenas conhecer de coração a Epístola aos Romanos, palavra por palavra, mas
também ocupar-se com ela a cada dia, como pão cotidiano para a sua alma”. Ao
lermos a Epístola aos Romanos, vemos qual a condição do homem diante de Deus
por causa do pecado e como o Senhor, na Sua infinita graça e misericórdia,
proporciona a salvação em Cristo e como esta salvação transforma a criatura
humana, tornando-a um filho de Deus, um ser separado e livre do pecado, pronto
a servir ao Senhor e a ser inundado pelo amor divino que foi o motor de todo
este glorioso processo.
Na atualidade, muitos não compreendem o que
é a salvação e como ela se opera na vida do homem. Ao estudarmos a Epístola aos
Romanos, com foco na doutrina da salvação (chamada pelos teólogos de
“soterologia”), teremos condição de compreender aquilo que já sentimos e
usufruímos e, assim, poder louvar a Deus com a profundidade das riquezas da
sabedoria e da ciência de Deus, assim como fez o próprio apóstolo, enquanto
escrevia esta carta: “Ó profundidade das
riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os
seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Porque quem compreendeu o
intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele,
para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele são todas as
coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” (Rm 11:33-36).
I. AUTOR, LOCAL, DATA E DESTINATÁRIOS
1. O autor (Rm 1:1).
“Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado
para apóstolo, separado para o evangelho de Deus”. Aqui, Paulo se apresenta
como o remetente da carta. Ele o faz com senso de humildade, chamando a si
mesmo de servo de Cristo e, também, com senso de autoridade, afirmando seu
apostolado (Rm 1:1). Paulo, contudo, não a escreveu de próprio punho, mas
ditou-a a um amanuense chamado Tércio,
conforme se encontra em Romanos 16:22 – “Eu,
Tércio, que esta carta escrevi, vos saúdo no Senhor”. Amanuenses eram
profissionais que escreviam textos à mão. Era o que se pode chamar de
escrevente, ou copista. Entre os Romanos, os senhores, geralmente, tinham um
escravo amanuense que fazia o trabalho de secretário, cuidando da escrita dos
negócios de seu amo. Como Tércio envia à Igreja de Roma sua saudação pessoal,
fica claro que ele também era cristão e que, muito provavelmente, estava
prestando um serviço gratuito a Paulo.
Quanto a sua importância, a Epístola aos
Romanos é o maior compêndio de teologia do Novo Testamento. É a epístola das
epístolas, a mais importante e proeminente que Paulo escreveu. É uma exposição
e uma defesa do evangelho da graça. John Stott considera Romanos uma espécie de
manifesto cristão. Nenhum livro da Bíblia exerceu tanta influência sobre a
teologia protestante e nenhuma carta de Paulo revela de forma tão clara o
pensamento teológico do apóstolo aos gentios.
2.
Local e data. Há um consenso geral de que Paulo escreveu
a Epístola aos Romanos durante sua estada de três meses na Grécia (At 20:2,3),
na província da Acaia, numa região próxima de Corinto. Isso é confirmado pela
recomendação de Paulo a Febe, a portadora da Carta à igreja de Roma. Febe era
da Igreja de Cencréia (Rm 16:1), uma pequena cidade a 12 quilômetros de
Corinto, onde se situava um importante porto da capital da Acaia. Paulo estava
encerrando sua terceira viagem missionária e se preparava para viajar a
Jerusalém a fim de levar as ofertas levantadas entre as igrejas gentias que
socorreriam os pobres da Judéia (Rm 15:30,31). É bastante provável que esta
Carta tenha sido escrita por volta do ano 57 ou 58 d.C. É, portanto, a última
Carta escrita por Paulo antes de seu prolongado período de detenção, primeiro
em Cesaréia (At 23:31-26:32) e depois em Roma (At 28:16-31). Nesse tempo, o
apóstolo Paulo já havia concluído suas três viagens missionárias.
3. Destinatários
(Rm 1:7). “A
todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de
Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo”. A Epístola foi destinada,
originalmente, à Igreja de Roma, que era composta por judeus e gentios.
Dirigindo-se a seus irmãos judeus, Paulo demonstra sua preocupação com eles e
explica como podem ajustar-se ao plano divino (cf. Rm 9:1-11:2). Visto que o
caminho para que judeus e gentios pudessem estar unidos no corpo de Cristo foi
aberto pelo próprio Deus, os dois grupos poderão louvá-lo por sua sabedoria e
amor (cf. Rm 11:13-36).
Mas,
quem fundou a igreja de Roma? Com toda convicção podemos
afirmar que Paulo não foi o fundador da Igreja, uma vez que ele escreve falando
acerca de seu desejo de visitar aqueles irmãos (Rm 1:10-13). Tampouco a Igreja de
Roma foi fundada por algum dos outros apóstolos. O catolicismo romano ensina
que o apóstolo Pedro foi o fundador da Igreja, e seu episcopado na Igreja durou
25 anos, ou seja, de 42-67 d.C. Essa tese, porém, carece de fundamentação.
Primeiro, porque Pedro era o apóstolo da circuncisão (Gl 2:9), e não o apóstolo
destinado aos gentios, ou seja, o seu ministério era destinado prioritariamente
aos judeus. Segundo, porque Paulo não menciona Pedro em sua carta aos Romanos,
o que seria uma gritante falta de cortesia. Terceiro, porque Paulo diz que
gostaria de ir a Roma para compartilhar o evangelho e distribuir algum dom
espiritual (Rm 1:11), o que não faria sentido se Pedro já estivesse entre eles.
Além disso, Paulo tinha o princípio de pregar o evangelho não onde Cristo já
fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio (Rm 15:20). Há três possibilidades para a origem da Igreja
de Roma:
- A
primeira possibilidade é que essa Igreja foi estabelecida pelos judeus ou
prosélitos de Roma, convertidos na Festa do Pentecostes em Jerusalém no ano 30
d.C., os quais retornaram à capital do império para plantar a Igreja (At 2:10).
Em Roma estava o maior centro judaico do mundo antigo. Havia mais de treze
comunidades sinagogais na cidade. Mantinham um contato intenso com Jerusalém.
As pessoas viajavam para lá e para cá como comerciantes, artesãos e também como
peregrinos devotos. Confessando sua fé, deram origem a um movimento cristão
muito vivo. Desse modo, o cristianismo em Roma originou-se da atuação de
crentes que nós chamamos de anônimos. As famosas estradas romanas facilitaram
sobremodo a mobilização das pessoas e a rápida expansão do evangelho.
- A
segunda possibilidade é que essa Igreja tenha sido estabelecida
por cristãos desconhecidos, convertidos pelo ministério de Paulo, emissários de
algum dos centros gentílicos que haviam compreendido plenamente o caráter
universal do evangelho. Vale ressaltar que as três grandes cidades onde Paulo
estivera por mais tempo - Antioquia, Corinto e Éfeso - eram justamente as três
com as quais (assim como Alexandria) o intercâmbio com Roma se mostrava mais
intenso.
- A
terceira possibilidade é que a Igreja de Roma teria sido
fundada por Áquila e Priscila. A Bíblia nos informa que este abençoado casal
tinha morado na Itália, mais precisamente em Roma, de onde tiveram que sair por
ordem do Imperador Cláudio que, no ano 49 d.C., expulsou de Roma todos os
judeus – conheceram Paulo em Corinto – “E
depois disto partiu Paulo de Atenas e chegou a Corinto. E, achando um certo
judeu por nome Áquila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália,
e Priscila sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem
de Roma), se ajuntou com eles. E, como era do mesmo oficio, ficou com eles, e
trabalhava; pois tinham por oficio fazer tendas” (Atos 18:2-3). Ao que tudo
indica voltaram para Roma, pois, Paulo ao escrever a Epistola aos Romanos
enviou saudações ao casal, como também para a Igreja que se reunia em sua casa
- “Saudai a Priscila e a Áquila, meus cooperadores
em Cristo Jesus...Saudai também a igreja que está em sua casa...” (Rm
16:3-5). É, pois, possível que eles tenham fundado a Igreja de Roma, antes, é claro,
muito antes de terem sido expulsos, pelo Imperador Cláudio. Porém, não há
qualquer comprovação bíblica, ou histórica. São hipóteses, apenas!
A verdade é que havia, em Roma, uma grande e
poderosa Igreja formada tanto por gentios, como também por judeus. Se ela foi
fundada pelos judeus, ou prosélitos que estavam em Jerusalém no Dia do
Pentecoste, se ela foi fundada por Áquila e Priscila, ou se foi fundada por
outro, em nada altera a História da Igreja!
II. FORMA LITERÁRIA, CONTEÚDO E
PROPÓSITO
1. Forma literária. Segundo
estudiosos do assunto, Paulo utilizou o estilo de diatribe na Epístola aos Romanos. Nesse modelo literário, que era
um recurso muito usado pelos filósofos estóicos e críticos, o autor valia-se de
uma exposição critica a respeito de alguma obra. Um exemplo claro de diatribe (crítica severa) no livro de
Romanos está no capítulo 2 versos 1-16, onde Paulo responde a objeções de um
interlocutor não identificado. Nos versículos 5-11, Paulo usa uma linguagem
duríssima contra os soberbos e orgulhosos, porque sabe que são atitudes de
difícil trato. Na verdade, a soberba não tem perdão porque jamais o pede.
Talvez por isso Jesus tenha iniciado seu sermão do monte dizendo que o Reino
dos Céus pertence aos humildes de espírito. Talvez por isso Jesus tenha
condenado o fariseu de Lucas 18:9-14.
2.
Conteúdo. O conteúdo da Epístola aos Romanos possui
alguns dos maiores temas das Escrituras. São esses temas que tornam essa Epístola
a mais teológica do Novo Testamento. É considerada a mais importante obra do
apóstolo, não só pela sua extensão (é a mais longa das epístolas paulinas), mas
também por ser uma exposição dos fundamentos da doutrina cristã, a mais
sistemática de todas as Escrituras. É, pois, a Epístola paulina em que mais se
percebe a estrutura costumeira das epístolas de Paulo, quais sejam, a de
construção em quatro partes, a saber: a apresentação, a parte dogmática, a
parte prática e a conclusão.
a) A
apresentação de Paulo e dos seus destinatários.
Nesta primeira parte da Epístola, o apóstolo se apresenta e apresenta os
crentes de Roma. Abrange o capítulo 1, dos versículos 1 a 17, terminando com a
apresentação do próprio tema da carta, qual seja: a justificação pela fé (Rm 1:17).
Em nenhum outro lugar a doutrina da justificação aparece com tanta clareza
quanto aqui.
b)
Parte dogmática ou doutrinária. Aqui, o apóstolo traz o
ensino a respeito do que considera ser a justificação pela fé em Jesus Cristo,
o que o apóstolo considera como sendo o Evangelho de Cristo, esta boa notícia
de que o homem pode ser justificado diante de Deus se crer em Jesus. Esta
parte, que é a mais substanciosa da epístola e que a caracteriza como o
principal tratado teológico da Bíblia, vai do capítulo 1, versículo 18, até o
capítulo 11. A começar dos efeitos do pecado na humanidade, o apóstolo fala a
respeito da justiça divina, do papel condenatório da lei, da submissão do homem
ao pecado, do papel justificador da fé em Cristo Jesus, da graça divina e do
efeito dela no homem e, por fim, da análise da questão da eleição divina e do
livre-arbítrio, tomando-se como caso concreto a ser analisado o povo de Israel.
c)
Parte prática. Esta parte do Conteúdo da Epístola abrange
os capítulos 12 ao capítulo 15 versículo 13, quando o apóstolo disserta a
respeito das ações esperadas de quem é justificado pela fé, o que mostra como
não tem qualquer sentido as afirmações de que a Epístola aos Romanos é um livro
teórico ou um livro que se contraponha a epístola de Tiago, como acreditou
Martinho Lutero. Muito pelo contrário, ao terminar a sua exposição a respeito
da justificação, o apóstolo começa a falar da necessidade de o crente viver em
santidade, separado do pecado e que como suas ações, neste sentido, são
indispensáveis, imprescindíveis para a demonstração de uma verdadeira vida
cristã. Por isso, fala da consagração do crente, da ética cristã baseada no
amor ao próximo, na submissão do crente às autoridades terrenas, na tolerância
do cristão com os fracos na fé e na supremacia do amor como sentimento supremo
no comportamento de cada salvo sobre a face da Terra.
d)
Conclusão. Abrange desde o capítulo 15 versículo 14 até o final do
capítulo 16. É um relato do apóstolo sobre as suas intenções e motivos que o
levaram a esta exposição da fé para que os crentes de Roma o conhecessem. Nela,
o apóstolo mostra a sua disposição de partir para Roma depois de entregar as
ofertas que levava a Jerusalém e de ter a ajuda e o apoio da igreja em Roma para
o início de sua missão na Espanha, fazendo questão de saudar vários amigos, que
se encontravam na capital de César e que serviriam de referência e recomendação
a ele para aqueles irmãos.
A Epístola aos romanos, portanto, deve ser
lida como uma verdadeira defesa da graça e do amor de Deus em favor do homem.
Não é por outro motivo, aliás, que Martinho Lutero, um dos maiores entusiastas
desta Epístola, dizia que ela e o evangelho segundo João eram suficientes para
que alguém tivesse pleno conhecimento da obra e do ensino de Jesus Cristo. É
por isso que, ao longo da história da Igreja, comentários e estudos sobre
Romanos tenham sido tomados como verdadeiras “sumas teológicas”, ou seja, como
grandes sínteses e resumos da doutrina cristã como um todo.
3.
Propósito. O propósito principal para esta Epistola de
Paulo ser escrita naquele momento era preparar o caminho para sua visita a Roma,
informar os crentes em Roma de seus planos de visita, e conseguir o apoio deles
para o seu futuro ministério na Espanha. Paulo ansiava por visitar Roma e se
Deus quisesse, logo ele estaria lá (Rm 1:10-13). O apóstolo sabia que Roma era
a cidade mais importante do império, como uma influência que se espalhava por
toda parte – ministrar ali seria estratégico. Ele estava para ir a Jerusalém
(Rm 15:25), no entanto, seus olhos permaneciam na Espanha (Rm 15:24). O
apóstolo já considerava cumprida a sua missão no Oriente: Macedônia, Acaia,
Galácia e todas as regiões onde havia plantado igrejas. Seu interesse agora era
o Ocidente. Roma seria o lugar onde o apóstolo receberia o apoio para avançar
com a obra missionária, depois de ter ido a Jerusalém. Assim, Paulo cumpriria
estrategicamente duas missões importantes: visitar Jerusalém levando a oferta
angariada nas igrejas da Macedônia e Acaia, bem como, visitaria Roma,
estabelecendo ali, um ponto de apoio para a sua missão no Ocidente.
Também, Paulo queria contra-atacar qualquer
mal entendido a respeito de seus objetivos e de sua mensagem – havia uma
difamação muito difundida dirigida a ele por alguns que se diziam cristãos e
muitos judeus (veja, por exemplo, 1Corintios capítulo 3 e 2Corintios capítulos
10 e 11). Para muitos cristãos romanos, Paulo era apenas um nome; eles nunca o
haviam encontrado e apenas tinham ouvido falar dele. Assim, Paulo consumiu
algum tempo para construir sua credibilidade e autoridade demonstrando
cuidadosamente sua teologia. É como se ele estivesse dizendo: “Aqui está quem
eu sou e aquilo em que acredito”.
Outro propósito para Paulo escrever esta
Epístola era edificar os romanos em sua fé, pois eles não tinham líderes ou
mestres apostólicos. Ele conhecia os conflitos inevitáveis que se apresentariam
aos cidadãos do Reino de Cristo na maior cidade do Império Romano. Esta era uma
igreja que não possuía uma Bíblia completa – eles tinham as Escrituras
hebraicas (o Antigo Testamento), mas os Evangelhos ainda não haviam sido
escritos e as outras Epístolas haviam sido enviadas para outras igrejas. A
Epístola aos Romanos, portanto, era a primeira peça de literatura estritamente
cristã que esses crentes veriam. Assim, sob a inspiração do Espírito Santo,
Paulo, de forma clara e cuidadosa redigiu esta obra prima teológica que traz a
forte mensagem do supremo poder de Deus, da salvação pela graça -
independentemente das obras, tanto para os gentios como para os judeus -, e da
justificação pela fé.
III. VALOR ESPIRITUAL
1. Fundamentação doutrinária.
Nas palavras do Rev. Hernandes Dias Lopes, a Epístola de Paulo aos Romanos é
muito mais que simplesmente uma carta, é um tratado teológico. É o maior
compêndio de teologia do Novo Testamento. É a epístola das epístolas, a mais
importante e proeminente carta de Paulo. Os eruditos comparam a Epístola aos Romanos
à cordilheira do Himalaia. Nela Paulo subiu às alturas excelsas e atingiu o
ponto culminante da teologia cristã. Por inspiração divina, o velho apóstolo
expôs de forma lógica as grandes doutrinas da graça. A Epístola aos Romanos
trata de alguns dos temas mais profundos do cristianismo: as doutrinas da
chamada eleição, da predestinação, da justificação, da glorificação e da
herança eterna. É uma verdadeira enciclopédia teológica.
Todos os reformadores viam esta Epístola
como sendo a chave divina para o entendimento de todas as Escrituras, já que
nela Paulo une todos os grandes temas da Bíblia: pecado, lei, julgamento,
destino humano, fé, obras, graça, justificação, eleição, o plano da salvação, a
obra de Cristo e do Espírito Santo, a esperança cristã, a natureza e vida da
igreja, o lugar do judeu e do não-judeu nos propósitos de Deus, a filosofia da
igreja e a história do mundo, o significado e a mensagem do Antigo Testamento,
os deveres da cidadania cristã e os princípios da retidão e moralidade pessoal.
Romanos nos abre uma perspectiva através da qual a paisagem completa da Bíblia
pode ser vista e a revelação de como as partes se encaixam no todo se torna
clara.
Nesta Epístola, Paulo mostra que a justiça
de Deus manifesta-se no Evangelho. Na cruz de Cristo Deus revelou sua ira sobre
o pecado e seu amor ao pecador. A cruz de Cristo foi a justificação de Deus,
uma vez que nela Deus satisfez plenamente sua justiça violada. Se a ira de Deus
se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens, no Evangelho a
justiça de Deus se revela para a salvação de todo o que crê. Paulo anuncia ainda
que a justificação não é alcançada pelas obras da lei, mas pela fé na obra de
Cristo. Não é a obra que fazemos para Deus que nos salva, mas a obra que Deus
fez por nós em Cristo que nos traz a vida eterna. Não é nossa justiça que nos
recomenda a Deus, mas a justiça de Cristo a nós imputada. O Justo Jesus
justifica o injusto ser humano. O injusto que não tem justiça própria é
justificado ao confiar na justiça de Jesus Cristo, o Justo. Romanos 4 é um
brilhante ensaio no qual Paulo prova que o próprio Abraão, o pai fundador de
Israel, foi justificado não por suas obras (Rm 4:4-8), nem por sua circuncisão
(Rm 4:9-12), nem pela lei (Rm 4:13-15), mas pela fé. Em consequência, Abraão é
agora "o pai de todos os que creem", sejam eles judeus ou gentios (Rm
4:11,16-25). A imparcialidade divina é evidente.
2.
Renovação espiritual. Indubitavelmente, os destinatários originais
da Epístola aos Romanos experimentaram um grandioso avivamento espiritual
mediante a sua leitura. Todavia, a influência espiritual e moral do texto
sagrado desta Epístola se estenderam por todo o período da Igreja, proporcionando
avivamentos extraordinários na vida de muitas pessoas. Muitos líderes influentes
da igreja, em diferentes séculos, dão testemunho do impacto produzido pela
Epístola aos Romanos em suas vidas, tendo sido ela, em diversos casos, o
instrumento para sua conversão. Esta Epístola, provavelmente mais que qualquer
outro livro da Bíblia, tem influenciado a história do mundo de forma dramática.
Vejamos três fatos contados por alguns expoentes historiadores do cristianismo:
- Aurélio Agostinho
(354-430 d.C), conhecido no mundo todo como Agostinho de Hipona e que viria a
tornar-se o maior dos Pais Latinos da igreja primitiva, por intermédio da
leitura da Epístola aos Romanos, foi convertido a Cristo em 386 d.C. Agostinho
viveu de forma devassa, entregue às paixões carnais, prisioneiro do sexo
ilícito e ao mesmo tempo objeto das orações de Mônica, sua mãe, até que se
assentou a chorar no jardim de seu amigo Alípio, quase persuadido a começar
vida nova, mas sem chegar à resolução final de romper com a vida que levava.
Ali sentado, ouviu uma criança cantar numa casa vizinha: Tolle, legel Tolle,
legel (Pega e lê! Pega e lê). Ao tomar o manuscrito do amigo que estava ao
lado, seus olhos caíram nestas palavras: "Andemos dignamente, como em
pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em
contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais
para a carne no tocante às suas concupiscências" (Rm 13:13,14). Seus
olhos foram imediatamente abertos, seu coração foi transformado e as sombras de
suas dúvidas, dissipadas. O próprio Agostinho confessa: "Não li mais nada
e não precisava de coisa alguma. Instantaneamente, ao terminar a sentença, uma
clara luz inundou meu coração e todas as trevas da dúvida se
desvaneceram". Agostinho tornou-se o maior teólogo da igreja ocidental.
- Martinho Lutero (1483-1546) O monge agostiniano Martinho Lutero
rompeu os grilhões da escravidão espiritual diante de Romanos 1:17 e descobriu
que o justo vive pela fé. Até então, Lutero vivia atormentado pela culpa. A
justiça de Deus o esmagava e o levava ao desespero. O monge afligia sua alma
com intermináveis confissões ao vigário, no confessionário, flagelando seu
corpo com castigos e penitências. Lutero recorreu a todos os recursos do
catolicismo de sua época na tentativa de amenizar a angústia de um espírito
alienado de Deus, diz Stott (STOTT, John. Romanos, p. 15).
-
João Wesley (1703 -1791). Grande avivalista e despertador das
igrejas reformadas no século XVIII, e do movimento metodista. Este grande
bandeirante do cristianismo recebeu a certeza da salvação ao ouvir numa igreja morávia
a leitura do prefácio do comentário de Romanos escrito por Lutero. João Wesley
tornou-se um líder espiritual de grande expressão na Inglaterra. Criou depois a
Igreja Metodista, uma igreja que buscava a santidade sem deixar de engajar-se
firmemente na obra missionária. O reavivamento inglês salvou a Inglaterra dos
horrores da Revolução Francesa. Esse movimento espiritual espalhou-se para a
Nova Inglaterra e atingiu horizontes ainda mais largos.
Frase de João Wesley: “Uma pessoa pode ir à
igreja duas vezes por dia, participar da ceia do Senhor, orar em particular o
máximo que puder, assistir a todos os cultos e ouvir muitos sermões, ler todos
os livros que existem sobre Cristo. Mas ainda assim tem que nascer de novo”.
CONCLUSÃO
A Epístola aos Romanos é a maior, a mais
rica e a mais abrangente declaração da parte de Paulo sobre o Evangelho. Suas declarações
condensadas sobre verdades imensas são como molas retraídas – quando são
liberadas, elas voam pela mente e pelo coração até encherem o horizonte do
indivíduo e moldarem a sua vida. O estudo desta Epístola é vitalmente
necessário para a saúde e entendimento espiritual do cristão. Portanto, leiam
esta Epístola, pois lhes dará a consciência da dimensão do grande amor de Deus
por todos os homens. Ela nos conduzirá a amarmos mais Deus e honrarmos o Senhor
Jesus Cristo em nossa maneira de viver.
_______
Luciano de Paula Lourenço
Disponível
no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia
de Estudo Pentecostal.
Bíblia
de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário
Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário
do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Guia
do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards
Revista
Ensinador Cristão – nº 66. CPAD.
Romanos – O Evangelho segundo Paulo. Rev. Hernandes Dias Lopes.
Hagnos.
A Mensagem de Romanos. John Stott. ABU.
Maravilhosa
Graça. José Gonçalves. CPAD.