segunda-feira, 30 de maio de 2011

Aula 10 – ASSEMBLÉIA DE DEUS – 100 ANOS DE PENTECOSTES(Versão Simplificada)

Texto Base: 1Corintios 3:6-11
“De sorte que as igrejas eram confirmadas na fé e cada dia cresciam em número”(At 16:5).

INTRODUÇÃO
A Assembléia de Deus não nasceu por acaso, foi o Senhor quem plantou a sua “semente” no coração de seus pioneiros e o fez germinar, crescer e dar muitos frutos. Homens e mulheres, cheios do Espírito Santo ajudaram a construir a sua história. Não há dúvida que ela constitui no maior Movimento Pentecostal do mundo, idealizado e concretizado pelo Espírito Santo. É claro o trabalho do Espírito Santo na fundação e desenvolvimento desse Movimento Pentecostal. Jamais homem algum, junta missionária ou ricas empresas poderiam desenvolver um projeto tão grandioso e auspicioso. Provado está diante de nossos olhos que há um Senhor no Céu. Um Deus todo-poderoso, que recruta soldados humildes para edificar seus palácios na Terra. Em nossas mãos, está a gratidão, a honra e o respeito ao maravilhoso projeto divino executado em nosso país. Está o amor, a fé e a certeza de que fizemos e havemos de fazer o melhor para agradar Àquele que nos elegeu. Somos a geração do centenário!
I. O CHAMADO MISSIONÁRIO DOS PIONEIROS
1. O avivamento americano.
Na virada do século XX, ondas de avivamento estavam acontecendo em várias partes do mundo, com destaque para os Estados Unidos, onde Charles Fox Parham começou a pregar sobre os dons do Espírito.
Em 1 ° de janeiro de 1901, Agnes N. Ozman, uma jovem de 18 anos, aluna da escola bíblica fundada por Parham, recebeu o batismo com o Espírito Santo. Nos dias seguintes, outros alunos e o próprio Parham receberiam a promessa, com a evidência do falar em outras línguas. Porém, foi através do ministério de William J. Seymour, um dos alunos de Charles Parham, que o Movimento Pentecostal moderno ganhou força. Em 1906, Seymour alugou um prédio mal conservado na Rua Azusa, nº 312, em Los Angeles. E ali, fundou a Missão da Fé Apostólica.
Em Azusa, William H. Durham (1863-1912) foi batizado com o Espírito Santo, e sua igreja, em Chicago, tornou-se um centro irradiador do pentecostes para o mundo. Vários pioneiros do avivamento mundial foram influenciados pelo derramar do Espírito Santo em igrejas de Chicago. Entre eles, Gunnar Vingren e Daniel Berg. Historicamente, a fundação da Assembleia de Deus brasileira está ligada ao avivamento americano como um todo e, posteriormente, à cooperação da igreja sueca.
2. A experiência Pentecostal e a chamada missionária de Daniel Berg e Gunnar Vingren.
a) DANIEL GUSTAV HÖGBERG
(Daniel Berg). Aos 18 anos, Daniel Berg embarca para os Estados Unidos no navio M.S. Romeu, chegando a Boston em 25 de março de 1902. Fugindo da depressão financeira que assolava o país escandinavo, sonhava com um futuro promissor na América. Nos EUA, Daniel Berg esteve durante sete anos, onde aprendeu a profissão de fundidor. Mas, o Todo-Poderoso reservara-lhe outros planos.
A chamada de Daniel Berg foi claramente revelada através de uma profecia em South Bend, EUA, quando o Espírito de Deus falou com os missionários sobre uma terra distante chamada "Pará". Porém, bem antes desse fato, Daniel Berg ouviu a voz de Deus. Isso aconteceu certa manhã enquanto caminhava para o trabalho em Chicago. Ele ouviu uma voz chamar-lhe com insistência para ir ao campo missionário e procurar antes Gunnar Vingren em South Bend, no estado vizinho de Indiana.
Daniel Berg pediu demissão do emprego no mesmo dia em que ouviu a voz de Deus. Seu patrão entregou-lhe alguns dólares, uma bolacha e uma banana. Isso era uma antiga tradição americana, que simbolizava o desejo do ofertante de que nunca faltaria suprimento ao amigo. Esse gesto muito consolou o missionário e nunca foi esquecido.
Daniel Berg viajou 100 quilômetros para encontrar seu amigo Gunnar Vingren. Chegando, disse: "Irmão Vingren, Jesus ordenou-me que eu viesse me encontrar com o irmão para juntos louvarmos seu nome”. "Está bem!", respondeu Vingren. Doravante, estiveram juntos vários dias lendo as Escrituras e orando sobre o propósito missionário. Foi nesse período que o Espírito Santo lhes revelou o Pará.
b) ADOLF GUNNAR VINGREN. Gunnar Vingren sentiu a chamada de Deus pela primeira vez aos nove anos de idade. Porém, esteve longe da igreja entre os 12 e 17 anos, reconciliando-se durante um culto de vigília.
Em 1897, aos 18 anos, foi batizado nas águas na Igreja Batista em Smaland, Suécia, vindo a assumir a liderança da Escola Dominical. Mas, foi lendo um artigo sobre missões numa revista nesse mesmo ano que foi impactado pela chamada de Deus. Era o dia 14 de julho.
No ano de 1903, Gunnar Vingren seguiu o destino de muitos jovens pelo mundo: mudou-se para os Estados Unidos da América. Viajou para Liverpool (Inglaterra), cruzou o Atlântico e, depois de muitos trajetos em território americano, finalmente chegou à Kansas City. Apesar de não dominar o idioma inglês naquele tempo, Deus o guiou até a casa de seu tio Carl Vingren. De certo modo, o Senhor já preparava Gunnar Vingren para sua grande viagem missionária.
Em setembro de 1904, Gunnar Vingren mudou-se para Chicago, onde durante quatro anos estudou teologia, cooperando com muitas igrejas naquela cidade. Foi diplomado em maio de 1909. Durante toda a sua permanência nos EUA esteve ligado à Igreja Batista Sueca naquele país.
Em junho de 1909, Gunnar Vingren assume a direção da Primeira Igreja Batista de Menominee, Michiõan. Em novembro desse mesmo ano, visita a Primeira Igreja Batista Sueca de Chicago, onde é batizado com o Espírito Santo e encontra Daniel Berg.
No ano de 1910, vai para a Igreja Batista em South Bend, Indiana, onde havia um grande avivamento. Nessa cidade recebe a confirmação da chamada de Deus para o Brasil. De lá, inicia sua grande viagem rumo a Belém do Pará.
3. A VISÃO DO PARÁ. No ano de 1910, na casa de um irmão chamado Olof Uldin, em South Bend (Indiana, EUA), o Senhor falou maravilhosamente com os jovens sobre o Brasil. Gunnar Vingren afirma que durante as orações naqueles dias o poder de Deus vinha tão forte sobre os irmãos que eles não conseguiam sentar à mesa para comer. Eram levados ao chão pelo impacto da presença do Espírito Santo.
Vejamos o que o próprio Vingren nos diz sobre a revelação: “Em um determinado dia, Deus colocou no meu coração que deveríamos nos reunir num sábado à noite para orar na casa de um irmão da igreja que tinha sido batizado com o Espírito Santo. Enquanto orávamos, o Espírito do Senhor veio de maneira poderosa sobre nós. Um irmão, Olof Uldin, recebeu do Espírito Santo palavras maravilhosas e vários mistérios sobre o meu futuro lhe foram revelados. Entre muitas coisas, o Espírito Santo falou por meio desse irmão que eu deveria ir para o ‘Pará’. Foi-nos revelado também que o povo para quem eu testificaria de Jesus era de um nível social muito simples. Eu deveria ensinar-lhes os primeiros rudimentos da doutrina do Senhor. Naquela ocasião, tivemos o imenso privilégio de ouvir através do Espírito Santo a linguagem daquele povo, o idioma português. Ele também nos disse que comeríamos uma comida muito simples, mas Deus nos daria tudo o que fosse necessário. O que faltava era saber onde estava situado o ‘Pará’. Nenhum de nós o conhecia. No dia seguinte, eu disse ao irmão Olof: "Vamos a uma biblioteca aqui na cidade para saber se existe algum lugar na Terra chamado Pará". Nossa pesquisa nos fez saber que no Norte do Brasil havia um lugar com esse nome.”
Nessa profecia, entre várias coisas, Jesus falou que Vingren casaria com uma jovem de 26 anos, chamada Strandberg. Esse é um dos assuntos que o missionário classifica como "mistérios sobre o meu futuro". O casal não se conhecia. Além dessa ocasião, o Espírito Santo falou diversas vezes com os missionários. Desse modo, seguros da direção divina, puderam atender ao chamado de vir para o Brasil.
Ressalte-se que, nessa época, a Amazônia - devido aos mistérios e perigos da floresta - era considerada o "Inferno Verde" dos colonizadores, conforme romance publicado com esse título em 1908 por Alberto Rangel. Por isso, poucas igrejas do mundo ousavam investir em missões no Norte. Isso era sinônimo de fracasso e até de morte, sobretudo devido a doenças, como hanseníase, malária e febre amarela.
II. A FUNDAÇÃO DA ASSEMBLÉIA DE DEUS NO BRASIL
A Assembleia de Deus é fruto do mover do Espírito Santo, caracterizado pelo exercício de dons espirituais, conforme 1Co 12. Desprezar isso é negar a história da própria igreja.
1. A VIAGEM A BORDO DO NAVIO CLEMENT.
a) A viagem até Nova York
. O modo como Deus vai conduzir esses dois jovens (Daniel Berg e Gunnar Vingren) a Belém do Pará é um dos capítulos mais belos e comoventes na história da Assembleia de Deus. Por si só, é um legado da providência divina a todos nós, que integramos as fileiras desta amada igreja na geração do centenário.
De Chicago, centro irradiador do avivamento mundial naqueles dias, Gunnar Vingren e Daniel Berg partiram para o lugar que Deus lhes tinha enviado. Em suas mãos, uma Bíblia, um mapa e poucos recursos. A igreja local levantara uma pequena oferta, suficiente apenas para que chegassem à Nova York, lugar de onde embarcariam para o Brasil.
Antes da viagem, Deus ordenou que Gunnar Vingren doasse 90 dólares ao jornal The Pentecostal Testimony (O Testemunho Pentecostal), editado pelo pastor William Durham em Chicago. Isso lhe pareceu estranho, mas obedeceu. Assim, de mãos vazias, os jovens partiram para a grandiosa Nova York. Mas, não estavam preocupados. Confiavam n'Aquele que os enviara.
A viagem começou com oração. Na estação do trem que os levaria à grande metrópole, ante os olhares curiosos de desconhecidos, Daniel Berg e Gunnar Vingren ajoelharam-se. Ali, agradeceram a Deus e pediram-lhe uma viagem segura até o Brasil.
b) O milagre. Ainda nos Estados Unidos, numa cidade onde deveriam trocar de trem, Deus veio ao encontro dos missionários de forma magnífica. Agora, depois de Gunnar Vingren entregar tudo à obra missionária, os jovens precisavam de dinheiro para custear a viagem até Belém.
Enquanto assim caminhavam, pensativos pelas ruas, entre milhares de pessoas, Gunnar Vingren avistou um conhecido negociante de Chicago. Todos surpresos com o inesperado encontro, aquele irmão contou-lhes que na noite anterior tivera um sonho, em que a insistente voz de Deus lhe mandava enviar certa importância a Vingren e que, tendo posto o dinheiro num envelope, acabara de sair para os correios.
Dito isto, alegando ter economizado os selos, o homem entregou a encomenda a Gunnar Vingren. Ao abrirem o invólucro, os missionários presenciaram um portentoso milagre: o envelope continha exatamente 90 dólares!
Com recursos em mãos, Gunnar Vingren e Daniel Berg saíram à procura do transporte, apenas marítimo naquela época. Encontraram um navio que acabara de passar por uma reforma. Preço de duas passagens para Belém: 90 dólares! Assim, no início do inverno americano, subiram a bordo do Clement. Era o dia 5 de novembro de 1910, sábado.
c) Condição a bordo. Sem muitos recursos, Daniel Berg e Gunnar Vingren viajaram de terceira classe. O porão, sem nenhuma ventilação. Todo o salão estava dividido através de cortinas, de modo que estavam improvisados 25 "camarotes". Cada um destes tinha quatro beliches. Não havia cadeiras. A comida era péssima. Uma concha de sopa e uma fila interminável. Depois, pratos, caneca e colher eram lavados e guardados debaixo do travesseiro. Uma única lamparina alumiava cada compartimento. O chão fora recoberto de serragem pela companhia, querendo poupar serviço de limpeza com passageiros que enjoassem a bordo. Assim viajaram os fundadores da Assembleia de Deus.
2. A CHEGADA A BELÉM.
a) O desembarque.
O navio Clement chegou a Belém na tarde de 19 de novembro de 1910, dia da bandeira, um sábado. O porto moderno, inaugurado no ano anterior, estava repleto de embarcações de várias nacionalidades. Belém vivia o auge do ciclo da borracha. Não houve lugar para atracar. Por isso os passageiros foram remanejados para pequenos botes e conduzidos a remo.
b) Primeiras impressões. Ao desembarcar, Daniel Berg e Gunnar Vingren contemplaram pela primeira vez o povo a que foram enviados. Gente simples, sorridente, oferecendo-se para carregar as pequenas malas que traziam. Como não havia ninguém os aguardando, e sem terem um destino certo, Gunnar Vingren e Daniel Berg subiram a rua 15 de agosto, hoje presidente Vargas. Famintos e cansados entraram num dos muitos restaurantes simples abertos para a rua naquele trajeto. Como não falavam a língua local, apontaram para um prato na mesa vizinha. E receberam uma apetitosa feijoada.
Alimentados, carregando as malas pela Presidente Vargas, chegaram à praça da República. Ali, ficaram surpresos com a beleza do parque. Visitaram o Teatro da Paz, e mais fascinados ficaram com sua suntuosidade. Depois, sob uma frondosa mangueira, sentaram num banco e oraram. Pediram direção para os próximos passos.
c) A hospedagem. Após a oração, um casal que haviam conhecido no navio se aproximou dos missionários. Como não tinham onde ficar, sugeriram que pernoitassem num hotel modesto na rua João Alfredo, onde estavam hospedados. Os missionários aceitaram, mesmo sabendo que os últimos dólares no bolso só dariam para custear uma diária e algumas passagens de bonde.
Na manhã seguinte, Daniel Berg e Gunnar Vingren, refeitos pela noite de descanso, reencontraram a mesma família durante o café no hotel. Ali, sobre uma mesa deserta, avistaram um jornal editado por um pastor metodista. O pastor era Justus Nelson, pessoa que Gunnar Vingren conhecera nos Estados Unidos. Compreendendo que Deus estava na direção, os missionários saíram à procura do conhecido.
Justus Nelson, importante pastor americano radicado no Brasil, recebeu os missionários calorosamente. Sabendo que eram batistas, conduziu-os até a rua João Balby, 406. Aqui, estava localizada a Primeira Igreja Batista do Pará.
d) Na Primeira Igreja Batista. Chegando à Igreja Batista, Daniel Berg e Gunnar Vingren foram recebidos por um irmão chamado Raimundo Nobre, que estava dirigindo a igreja temporariamente. Falando inglês, pôde conversar bem com os missionários. Estes relataram o grande despertamento que estava ocorrendo nos Estados Unidos.
Raimundo Nobre mostrou-se tocado pela situação dos missionários e os convidou a morar no porão da igreja. Cada um pagaria um dólar diário, incluindo a alimentação. Isso era uma bênção, pois na hospedagem o valor era dobrado, incluso apenas o café da manhã.
Durante os cultos, Daniel Berg tocava violão e fazia dueto com Gunnar Vingren. A presença de Deus alegrava os irmãos. Logo vieram convites de outras igrejas, que os missionários atendiam com muito amor.
3. A FUNDAÇÃO DA ASSEMBLÉIA DE DEUS
a) O propósito dos missionários.
Convém ressaltar que Gunnar Vingren e Daniel Berg não vieram ao Brasil para dividir ou fundar igrejas. À semelhança do fenômeno do cristianismo em relação ao judaísmo no primeiro século e do protestantismo em relação à igreja católica, na Idade Média, tais fatos foram uma consequência natural.
Com seus corações ardendo pela chama pentecostal que varria os EUA e outras nações, os missionários foram enviados por Deus para compartilhar essa mensagem aos brasileiros. Sendo membros da Igreja Batista desde tenra idade e, no caso de Vingren, pastor em atividade, agiram como idôneos e honrados servos de Deus. Procuraram a sua igreja. Não se infiltraram.
Os missionários acreditavam que o mesmo avivamento que estava ocorrendo nos Estados Unidos aconteceria no Brasil. Por isso, desde o encontro com o pastor metodista Justus Nelson, falaram abertamente com líderes brasileiros sobre suas convicções.
b) O primeiro batismo com o Espírito Santo. O velho porão do templo batista, onde os dois pioneiros moravam, tinha se transformado num avivado púlpito. Pessoas desejosas de receber o batismo com o Espírito Santo iam ali para orar. Sentados no chão, ficavam horas tratando das coisas de Deus e lendo a Palavra. Prostrados, oravam demoradamente. O mover sobrenatural da mão de Deus não cessava de curar e alegrar seu povo.
Dentre os crentes mais desejosos da promessa de Atos 2 estava Celina Martins Albuquerque, 34 anos, professora da Escola Dominical.
Celina estava acamada quando os missionários a visitaram em sua casa, na rua Siqueira Mendes. Sofria provavelmente de câncer nos lábios. Por esse motivo, os irmãos reuniram-se ali em noites seguidas de oração. Em resposta ao clamor dos servos de Deus, Celina foi plenamente curada. Esse fato levou-a a pedir com insistência o glorioso batismo. E, depois de orar e jejuar vários dias, foi batizada em sua casa. Era uma hora da madrugada de uma quinta-feira, dia 8 de junho de 1911, quando Celina Albuquerque falou novas línguas. Foi, como sabemos, a primeira pessoa brasileira a receber a promessa.
Dia seguinte, a irmã Maria de Jesus Nazareth de Araújo, que presenciara o batismo de Celina Albuquerque, também foi batizada. Ambas foram grandes instrumentos de evangelização. No ano de 1912, em Belém, o paraibano Manoel Francisco Dubu foi o primeiro homem batizado com o Espírito Santo em terras brasileiras.
c) A saída da igreja batista. O movimento de oração, cura e batismo com o Espírito Santo, dividiu opiniões na Igreja Batista. Segundo escreveu Daniel Berg, numa certa noite de reunião no porão do templo batista, chegou repentinamente o obreiro Raimundo Nobre. O clima ficou tenso. Nobre perguntou o que estava acontecendo. Erguendo-se da oração, os missionários o saudaram, convidando-o a participar daquela singela reunião. Em resposta, o líder disse que era chegada a hora de tomar uma decisão. Culpou-os de separatistas, pois estariam semeando dúvidas e inquietações entre o povo. Gunnar Vingren explicou que não era esse o objetivo dos missionários. Pelo contrário, o batismo com o Espírito Santo seria um elemento de maior coesão no rebanho.
Raimundo Nobre rebateu. Alegou que os textos bíblicos sobre cura e aquele batismo eram coisas apenas para a igreja apostólica. Disse que "seria absurdo que pessoas educadas em nossos dias pensassem que tais coisas ainda possam acontecer. Hoje, temos de ser realistas, e não ocupar o tempo com sonhos e falsas profecias”. A isto, Vingren respondeu que não convinha elevar a nível de discussão pessoal um assunto tão importante.
Nessa hora, Raimundo Nobre pediu que os partidários do ensino pentecostal levantassem a mão para que a igreja os excluísse por incompatibilidade doutrinária. Segundo a ata da Igreja Batista, ficaram de pé 13 irmãos e os dois missionários. Mas sabemos que havia também cinco menores que acompanhavam os pais.
Após a decisão administrativa, o grupo excluído orou de mãos erguidas. E todos saíram na mesma hora do templo batista, dando glórias a Deus. Era o dia 13 de junho de 1911, uma terça-feira.
d) Nasce a Assembléia de Deus. Sendo obrigados a desocupar as dependências da Igreja Batista, os missionários ficaram sem ter moradia e lugar para reunirem-se. Nessa hora, Henrique Albuquerque, esposo de Celina Albuquerque, ofereceu a sala de sua casa, na rua Siqueira Mendes, 67. E, pela perfeita vontade de Deus, foi ali que nasceu a Assembleia de Deus. Nasceu dentro de um lar. Um lar onde havia oração, cura e batismo com o Espírito Santo.
e) Data oficial de fundação da Assembléia de Deus: 18 de junho de 1911, um domingo. Nesse dia, a igreja organizou-se sob o nome "Missão da Fé Apostólica", mesmo nome que o Movimento Pentecostal utilizou desde o começo nos EUA.
Em 8 de novembro de 1914, os irmãos mudaram para o seu primeiro templo livre. A Igreja situava-se na travessa 9 de Janeiro, antigo n° 75. Em carta enviada a Suécia em 05 de junho de 1917, Frida Vingren noticia, com muita alegria, que o nome “Assembléia de Deus” está na fachada do templo.
III. DO NORTE PARA TODO O BRASIL
Daniel Berg e Gunnar Vingren, juntamente com os primeiros membros da igreja, começaram a realizar cultos em outros locais do Pará, e a evangelizar em lugares distantes deste estado. O preço foi muito alto, mas o dono da obra era o Senhor Jesus.
Lições práticas: (1) Obreiros autênticos na Assembléia de Deus são aqueles que imitam a Gunnar Vingren e Daniel Berg. São irmãos e líderes cheios de amor por Jesus e pelas pessoas. Desapegados de bens materiais, avareza ministerial e títulos de mérito próprio; (2) Tudo na Igreja tem preço de sangue. Primeiro de nosso amado Jesus; depois, de milhares de irmãos que, com suas próprias vidas, pagaram a liberdade que hoje temos. Mercantilizar a Palavra da cruz é pior do que crucificar o Salvador novamente. Ele nos ordena agora: "de graça recebestes, de graça dai" (Mt 10:8).
CONCLUSÃO
Deus fez tudo certo em relação à fundação da Assembleia de Deus. Inverteu modelos missionários para provar que a perfeita sabedoria está com Ele. A escolha de Belém, no extremo norte do Brasil, foi estratégica. Evangelização local, aproveitamento de obreiros qualificados e expansão acelerada do avivamento para toda a Nação são hoje um fato. Perseguições, necessidades e líderes exemplares, os rastros da verdadeira Igreja.
Agora, quando celebramos o Centenário, voltemo-nos mais para Jesus. Sejamos também luminárias de Deus no meio desta geração. Renunciemos nossas vaidades e caprichos. No Céu, entrarão somente os que puderem sempre dizer "Porque Deus..." (Jo 3:16) e não "Porque eu..." nas suas próprias justificativas.
O Brasil procura em nós a mesma ardente mensagem, o mesmo amor, o mesmo brilho que irradiava da face dos pioneiros. O mundo continua cansado do mundo. O mundo tem fome de Deus!
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com/
Referências Bibliográficas:
William Macdonald – Comentário Bíblico popular(Novo Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Revista Ensinador Cristão – nº 46.
ASSEMBLEIA DE DEUS EM BELÉM. História da Igreja-Mãe das Assembléias de Deus no Brasil. 7a edição. Belém do Pará: 2007.
ASSEMBLEIA DE DEUS EM BELÉM. Livros de atas (período de 1930-1952).
ASSEMBLEIA DE DEUS EM BELÉM. Revista Jubileu de Ouro. Belém do Pará: 1961.
ALMEIDA, Antônio Batista de. 80 Anos Construindo para a Glória de Deus (história da Primeira Igreja Batista no Pará). Belém do Pará: 1977.
BERG, Daniel. Enviado por Deus. Memórias de Daniel Berg. São Paulo: 1961, edição autografada pelo autor.
BÍBLIA SAGRADA, Versão Revista e Corrigida de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.
CONDE, Emílio. História das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 1960.
DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

Aula 10 - ASSEMBLÉIA DE DEUS – 100 ANOS DE PENTECOSTES(Versão Completa)

Texto Base: 1Corintios 3:6-11
“De sorte que as igrejas eram confirmadas na fé e cada dia cresciam em número”(At 16:5).

INTRODUÇÃO
A Assembléia de Deus não nasceu por acaso, foi o Senhor quem plantou a sua “semente” no coração de seus pioneiros e o fez germinar, crescer e dar muitos frutos. Homens e mulheres, cheios do Espírito Santo ajudaram a construir a sua história. Não há dúvida que ela constitui no maior Movimento Pentecostal do mundo, idealizado e concretizado pelo Espírito Santo. É claro o trabalho do Espírito Santo na fundação e desenvolvimento desse Movimento Pentecostal. Jamais homem algum, junta missionária ou ricas empresas poderiam desenvolver um projeto tão grandioso e auspicioso. Provado está diante de nossos olhos que há um Senhor no Céu. Um Deus todo-poderoso, que recruta soldados humildes para edificar seus palácios na Terra. Em nossas mãos, está a gratidão, a honra e o respeito ao maravilhoso projeto divino executado em nosso país. Está o amor, a fé e a certeza de que fizemos e havemos de fazer o melhor para agradar Àquele que nos elegeu. Somos a geração do centenário!
I. O CHAMADO MISSIONÁRIO DOS PIONEIROS
1. O avivamento americano.
Na virada do século XX, ondas de avivamento estavam acontecendo em várias partes do mundo, com destaque para os Estados Unidos, onde Charles Fox Parham começou a pregar sobre os dons do Espírito.
Em 1 ° de janeiro de 1901, Agnes N. Ozman, uma jovem de 18 anos, aluna da escola bíblica fundada por Parham, recebeu o batismo com o Espírito Santo. Nos dias seguintes, outros alunos e o próprio Parham receberiam a promessa, com a evidência do falar em outras línguas. Porém, foi através do ministério de William J. Seymour, um dos alunos de Charles Parham, que o Movimento Pentecostal moderno ganhou força. Em 1906, Seymour alugou um prédio mal conservado na Rua Azusa, nº 312, em Los Angeles, onde há tempos existira uma igreja, mas agora servia como estábulo e depósito de feno. Ali, fundou a Missão da Fé Apostólica.
Em Azusa, William H. Durham (1863-1912) foi batizado com o Espírito Santo, e sua igreja, em Chicago, tornou-se um centro irradiador do pentecostes para o mundo. Vários pioneiros do avivamento mundial foram influenciados pelo derramar do Espírito Santo em igrejas de Chicago. Entre eles, Gunnar Vingren e Daniel Berg. Historicamente, a fundação da Assembleia de Deus brasileira está ligada ao avivamento americano como um todo e, posteriormente, à cooperação da igreja sueca.
2. A experiência Pentecostal e a chamada missionária de Daniel Berg e Gunnar Vingren.
a) DANIEL GUSTAV HÖGBERG (Daniel Berg).
Nasceu em 19 de abril de 1884 na pequena cidade de Vargon, Suécia, lugarejo onde cresceu. Seus pais, Gustav Verner Hõgberg e Fredrika Hõgberg, eram membros da Igreja Batista. Em 12 de fevereiro de 1899, aos 15 anos, foi batizado nas águas ao lado de seu amigo de infância Lewi Pethrus.
Aos 18 anos, Daniel Berg embarca para os Estados Unidos no navio M.S. Romeu, chegando a Boston em 25 de março de 1902. Fugindo da depressão financeira que assolava o país escandinavo, sonhava com um futuro promissor na América. Nos EUA, Daniel Berg esteve durante sete anos, onde aprendeu a profissão de fundidor. Mas, o Todo-Poderoso reservara-lhe outros planos.
Em 1909, Daniel Berg voltou à Suécia para rever seus pais. Ali, ao reencontrar seu amigo Lewi Pethrus, que agora era pastor de uma avivada igreja na cidade vizinha de Lidkõping, passou a desejar também a promessa. Nesse mesmo ano, Daniel Berg retorna aos Estados Unidos, sendo batizado com o Espírito Santo durante a viagem.
Em Chicago, participa de uma conferência bíblica e encontra-se com Gunnar Vingren, com quem compartilha a chamada divina e estreita laços ministeriais que nunca mais serão desfeitos.
A chamada de Daniel Berg foi claramente revelada através de uma profecia em South Bend, EUA, quando o Espírito de Deus falou com os missionários sobre uma terra distante chamada "Pará". Porém, bem antes desse fato, Daniel Berg ouviu a voz de Deus. Isso aconteceu certa manhã enquanto caminhava para o trabalho em Chicago. Ele ouviu uma voz chamar-lhe com insistência para ir ao campo missionário e procurar antes Gunnar Vingren em South Bend, no estado vizinho de Indiana.
Daniel Berg pediu demissão do emprego no mesmo dia em que ouviu a voz de Deus. Seu patrão entregou-lhe alguns dólares, uma bolacha e uma banana. Isso era uma antiga tradição americana, que simbolizava o desejo do ofertante de que nunca faltaria suprimento ao amigo. Esse gesto muito consolou o missionário e nunca foi esquecido.
Daniel Berg viajou 100 quilômetros para encontrar seu amigo Gunnar Vingren. Chegando, disse: "Irmão Vingren, Jesus ordenou-me que eu viesse me encontrar com o irmão para juntos louvarmos seu nome”. "Está bem!", respondeu Vingren. Doravante, estiveram juntos vários dias lendo as Escrituras e orando sobre o propósito missionário. Foi nesse período que o Espírito Santo lhes revelou o Pará.
b) ADOLF GUNNAR VINGREN. Nasceu num lar evangélico, em 8 de agosto de 1879, em Ostra Husby, Õstergotland, Suécia. Seu pai era jardineiro, profissão que Vingren exercera até os 19 anos.
Gunnar Vingren sentiu a chamada de Deus pela primeira vez aos nove anos de idade. Porém, esteve longe da igreja entre os 12 e 17 anos, reconciliando-se durante um culto de vigília.
Em 1897, aos 18 anos, foi batizado nas águas na Igreja Batista em Smaland, Suécia, vindo a assumir a liderança da Escola Dominical. Mas, foi lendo um artigo sobre missões numa revista nesse mesmo ano que foi impactado pela chamada de Deus. Era o dia 14 de julho.
Ano seguinte, Gunnar Vingren participou de uma Escola Bíblica de um mês em Gõtabro, Nãrke, onde foi muito tocado pelos estudos. Dos 55 participantes, homens e mulheres, cerca de 20 alunos foram enviados como evangelistas.
No ano de 1903, Gunnar Vingren seguiu o destino de muitos jovens pelo mundo: mudou-se para os Estados Unidos da América. Viajou para Liverpool (Inglaterra), cruzou o Atlântico e, depois de muitos trajetos em território americano, finalmente chegou à Kansas City. Apesar de não dominar o idioma inglês naquele tempo, Deus o guiou até a casa de seu tio Carl Vingren. De certo modo, o Senhor já preparava Gunnar Vingren para sua grande viagem missionária.
Em setembro de 1904, Gunnar Vingren mudou-se para Chicago, onde durante quatro anos estudou teologia, cooperando com muitas igrejas naquela cidade. Foi diplomado em maio de 1909. Durante toda a sua permanência nos EUA esteve ligado à Igreja Batista Sueca naquele país.
Em junho de 1909, Gunnar Vingren assume a direção da Primeira Igreja Batista de Menominee, Michiõan. Em novembro desse mesmo ano, visita a Primeira Igreja Batista Sueca de Chicago, onde é batizado com o Espírito Santo e encontra Daniel Berg.
No ano de 1910, vai para a Igreja Batista em South Bend, Indiana, onde havia um grande avivamento. Nessa cidade recebe a confirmação da chamada de Deus para o Brasil. De lá, inicia sua grande viagem rumo a Belém do Pará.
3. A VISÃO DO PARÁ. No ano de 1910, na casa de um irmão chamado Olof Uldin, em South Bend (Indiana, EUA), o Senhor falou maravilhosamente com os jovens sobre o Brasil. Gunnar Vingren afirma que durante as orações naqueles dias o poder de Deus vinha tão forte sobre os irmãos que eles não conseguiam sentar à mesa para comer. Eram levados ao chão pelo impacto da presença do Espírito Santo. Vejamos o que o próprio Vingren nos diz sobre a revelação: “Em um determinado dia, Deus colocou no meu coração que deveríamos nos reunir num sábado à noite para orar na casa de um irmão da igreja que tinha sido batizado com o Espírito Santo. Enquanto orávamos, o Espírito do Senhor veio de maneira poderosa sobre nós. Um irmão, Olof Uldin, recebeu do Espírito Santo palavras maravilhosas e vários mistérios sobre o meu futuro lhe foram revelados. Entre muitas coisas, o Espírito Santo falou por meio desse irmão que eu deveria ir para o ‘Pará’. Foi-nos revelado também que o povo para quem eu testificaria de Jesus era de um nível social muito simples. Eu deveria ensinar-lhes os primeiros rudimentos da doutrina do Senhor. Naquela ocasião, tivemos o imenso privilégio de ouvir através do Espírito Santo a linguagem daquele povo, o idioma português. Ele também nos disse que comeríamos uma comida muito simples, mas Deus nos daria tudo o que fosse necessário. O que faltava era saber onde estava situado o ‘Pará’. Nenhum de nós o conhecia. No dia seguinte, eu disse ao irmão Olof: "Vamos a uma biblioteca aqui na cidade para saber se existe algum lugar na Terra chamado Pará". Nossa pesquisa nos fez saber que no Norte do Brasil havia um lugar com esse nome.”
Nessa profecia, entre várias coisas, Jesus falou que Vingren casaria com uma jovem de 26 anos, chamada Strandberg. Esse é um dos assuntos que o missionário classifica como "mistérios sobre o meu futuro". O casal não se conhecia. Além dessa ocasião, o Espírito Santo falou diversas vezes com os missionários. Desse modo, seguros da direção divina, puderam atender ao chamado de vir para o Brasil.
Ressalte-se que, nessa época, a Amazônia - devido aos mistérios e perigos da floresta - era considerada o "Inferno Verde" dos colonizadores, conforme romance publicado com esse título em 1908 por Alberto Rangel. Por isso, poucas igrejas do mundo ousavam investir em missões no Norte. Isso era sinônimo de fracasso e até de morte, sobretudo devido a doenças, como hanseníase, malária e febre amarela.
II. A FUNDAÇÃO DA ASSEMBLÉIA DE DEUS NO BRASIL
A Assembleia de Deus é fruto do mover do Espírito Santo, caracterizado pelo exercício de dons espirituais, conforme 1Co 12. Desprezar isso é negar a história da própria igreja.
1. A VIAGEM A BORDO DO NAVIO CLEMENT.
a) A viagem até Nova York.
O modo como Deus vai conduzir esses dois jovens (Daniel Berg e Gunnar Vingren) a Belém do Pará é um dos capítulos mais belos e comoventes na história da Assembleia de Deus. Por si só, é um legado da providência divina a todos nós, que integramos as fileiras desta amada igreja na geração do centenário.
De Chicago, centro irradiador do avivamento mundial naqueles dias, Gunnar Vingren e Daniel Berg partiram para o lugar que Deus lhes tinha enviado. Em suas mãos, uma Bíblia, um mapa e poucos recursos. A igreja local levantara uma pequena oferta, suficiente apenas para que chegassem à Nova York, lugar de onde embarcariam para o Brasil.
Antes da viagem, Deus ordenou que Gunnar Vingren doasse 90 dólares ao jornal The Pentecostal Testimony (O Testemunho Pentecostal), editado pelo pastor William Durham em Chicago. Isso lhe pareceu estranho, mas obedeceu. Assim, de mãos vazias, os jovens partiram para a grandiosa Nova York. Mas, não estavam preocupados. Confiavam n'Aquele que os enviara.
A viagem começou com oração. Na estação do trem que os levaria à grande metrópole, ante os olhares curiosos de desconhecidos, Daniel Berg e Gunnar Vingren ajoelharam-se. Ali, agradeceram a Deus e pediram-lhe uma viagem segura até o Brasil.
Gunnar Vingren e Daniel Berg não foram enviados por nenhuma junta missionária. Logo, não tinham a segurança de qualquer sustento. Confiaram exclusivamente no cuidado divino. Somente anos mais tarde passariam a receber auxílio financeiro da Igreja Filadélfia na Suécia.
b) O milagre. Ainda nos Estados Unidos, numa cidade onde deveriam trocar de trem, Deus veio ao encontro dos missionários de forma magnífica. Agora, depois de Gunnar Vingren entregar tudo à obra missionária, os jovens precisavam de dinheiro para custear a viagem até Belém.
Enquanto assim caminhavam, pensativos pelas ruas, entre milhares de pessoas, Gunnar Vingren avistou um conhecido negociante de Chicago. Todos surpresos com o inesperado encontro, aquele irmão contou-lhes que na noite anterior tivera um sonho, em que a insistente voz de Deus lhe mandava enviar certa importância a Vingren e que, tendo posto o dinheiro num envelope, acabara de sair para os correios.
Dito isto, alegando ter economizado os selos, o homem entregou a encomenda a Gunnar Vingren. Ao abrirem o invólucro, os missionários presenciaram um portentoso milagre: o envelope continha exatamente 90 dólares!
Com recursos em mãos, Gunnar Vingren e Daniel Berg saíram à procura do transporte, apenas marítimo naquela época. Encontraram um navio que acabara de passar por uma reforma. Preço de duas passagens para Belém: 90 dólares! Assim, no início do inverno americano, subiram a bordo do Clement. Era o dia 5 de novembro de 1910, sábado.
c) Condição a bordo. Sem muitos recursos, Daniel Berg e Gunnar Vingren viajaram de terceira classe. O porão, sem nenhuma ventilação. Todo o salão estava dividido através de cortinas, de modo que estavam improvisados 25 "camarotes". Cada um destes tinha quatro beliches. Não havia cadeiras. A comida era péssima. Uma concha de sopa e uma fila interminável. Depois, pratos, caneca e colher eram lavados e guardados debaixo do travesseiro. Uma única lamparina alumiava cada compartimento. O chão fora recoberto de serragem pela companhia, querendo poupar serviço de limpeza com passageiros que enjoassem a bordo. Assim viajaram os fundadores da Assembleia de Deus.
2. A CHEGADA A BELÉM.
a) O desembarque. O navio Clement chegou a Belém na tarde de 19 de novembro de 1910, dia da bandeira, um sábado. O porto moderno, inaugurado no ano anterior, estava repleto de embarcações de várias nacionalidades. Belém vivia o auge do ciclo da borracha. Não houve lugar para atracar. Por isso os passageiros foram remanejados para pequenos botes e conduzidos a remo.
Belém do Pará, fundada em 1616, está situada às margens da baía de Guajará, a 120 km do oceano Atlântico. Devido à presença da floresta amazônica e sua proximidade com a linha do Equador, tem um clima quente e úmido.
b) Primeiras impressões. Ao desembarcar, Daniel Berg e Gunnar Vingren contemplaram pela primeira vez o povo a que foram enviados. Gente simples, sorridente, oferecendo-se para carregar as pequenas malas que traziam. Como não havia ninguém os aguardando, e sem terem um destino certo, Gunnar Vingren e Daniel Berg subiram a rua 15 de agosto, hoje presidente Vargas. É uma avenida larga que nasce justamente naquele desembarque. Famintos e cansados entraram num dos muitos restaurantes simples abertos para a rua naquele trajeto. Como não falavam a língua local, apontaram para um prato na mesa vizinha. E receberam uma apetitosa feijoada.
Alimentados, carregando as malas pela Presidente Vargas, chegaram à praça da República. Ali, ficaram surpresos com a beleza do parque. Visitaram o Teatro da Paz, e mais fascinados ficaram com sua suntuosidade. Depois, sob uma frondosa mangueira, sentaram num banco e oraram. Pediram direção para os próximos passos.
c) A hospedagem. Após a oração, um casal que haviam conhecido no navio se aproximou dos missionários. Como não tinham onde ficar, sugeriram que pernoitassem num hotel modesto na rua João Alfredo, onde estavam hospedados. Os missionários aceitaram, mesmo sabendo que os últimos dólares no bolso só dariam para custear uma diária e algumas passagens de bonde.
Na manhã seguinte, Daniel Berg e Gunnar Vingren, refeitos pela noite de descanso, reencontraram a mesma família durante o café no hotel. Ali, sobre uma mesa deserta, avistaram um jornal editado por um pastor metodista. O pastor era Justus Nelson, pessoa que Gunnar Vingren conhecera nos Estados Unidos. Compreendendo que Deus estava na direção, os missionários saíram à procura do conhecido.
Justus Nelson, importante pastor americano radicado no Brasil, recebeu os missionários calorosamente. Sabendo que eram batistas, conduziu-os até a rua João Balby, 406. Aqui, estava localizada a Primeira Igreja Batista do Pará.
d) Na Primeira Igreja Batista. Chegando à Igreja Batista, Daniel Berg e Gunnar Vingren foram recebidos por um irmão chamado Raimundo Nobre, que estava dirigindo a igreja temporariamente. Falando inglês, pôde conversar bem com os missionários. Estes relataram o grande despertamento que estava ocorrendo nos Estados Unidos.
Raimundo Nobre mostrou-se tocado pela situação dos missionários e os convidou a morar no porão da igreja. Cada um pagaria um dólar diário, incluindo a alimentação. Isso era uma bênção, pois na hospedagem o valor era dobrado, incluso apenas o café da manhã.
Durante os cultos, Daniel Berg tocava violão e fazia dueto com Gunnar Vingren. A presença de Deus alegrava os irmãos. Logo vieram convites de outras igrejas, que os missionários atendiam com muito amor.
3. A FUNDAÇÃO DA ASSEMBLÉIA DE DEUS
a) O propósito dos missionários.
Convém ressaltar que Gunnar Vingren e Daniel Berg não vieram ao Brasil para dividir ou fundar igrejas. À semelhança do fenômeno do cristianismo em relação ao judaísmo no primeiro século e do protestantismo em relação à igreja católica, na Idade Média, tais fatos foram uma consequência natural.
Com seus corações ardendo pela chama pentecostal que varria os EUA e outras nações, os missionários foram enviados por Deus para compartilhar essa mensagem aos brasileiros. Sendo membros da Igreja Batista desde tenra idade e, no caso de Vingren, pastor em atividade, agiram como idôneos e honrados servos de Deus. Procuraram a sua igreja. Não se infiltraram.
Naquele tempo, praticamente todas as denominações evangélicas estavam sendo renovadas nos Estados Unidos, aceitando a doutrina pentecostal. Grandes conferências reuniam importantes igrejas em torno do tema. Os missionários acreditavam que o mesmo aconteceria no Brasil. Por isso, desde o encontro com o pastor metodista Justus Nelson, falaram abertamente com líderes brasileiros sobre suas convicções.
b) O primeiro batismo com o Espírito Santo. O velho porão do templo batista, onde os dois pioneiros moravam, tinha se transformado num avivado púlpito. Pessoas desejosas de receber o batismo com o Espírito Santo iam ali para orar. Sentados no chão, ficavam horas tratando das coisas de Deus e lendo a Palavra. Prostrados, oravam demoradamente. O mover sobrenatural da mão de Deus não cessava de curar e alegrar seu povo.
Dentre os crentes mais desejosos da promessa de Atos 2 estava Celina Martins Albuquerque, 34 anos, professora da Escola Dominical.
Celina estava acamada quando os missionários a visitaram em sua casa, na rua Siqueira Mendes. Sofria provavelmente de câncer nos lábios. Por esse motivo, os irmãos reuniram-se ali em noites seguidas de oração. Em resposta ao clamor dos servos de Deus, Celina foi plenamente curada. Esse fato levou-a a pedir com insistência o glorioso batismo. E, depois de orar e jejuar vários dias, foi batizada em sua casa. Era uma hora da madrugada de uma quinta-feira, dia 8 de junho de 1911, quando Celina Albuquerque falou novas línguas. Foi, como sabemos, a primeira pessoa brasileira a receber a promessa.
Dia seguinte, a irmã Maria de Jesus Nazareth de Araújo, que presenciara o batismo de Celina Albuquerque, também foi batizada. Ambas foram grandes instrumentos de evangelização. No ano de 1912, em Belém, o paraibano Manoel Francisco Dubu foi o primeiro homem batizado com o Espírito Santo em terras brasileiras.
c) A saída da igreja batista. O movimento de oração, cura e batismo com o Espírito Santo, dividiu opiniões na Igreja Batista. Muitos apoiavam. Aqueles que eram contrários acusavam os pentecostais de "seguidores do espiritismo", conforme a Ata n° 222 daquela igreja, de 13 de junho de 1911. A liderança local começou a sentir-se muito incomodada com a presença dos missionários. A cada dia a situação ficava mais insustentável. Enquanto isso, as visitas ao "quarto-corredor" no porão, como classificou Daniel Berg, estavam cada vez mais frequentes.
Segundo escreveu Daniel Berg, numa certa noite de reunião no porão do templo batista, chegou repentinamente o obreiro Raimundo Nobre. O clima ficou tenso. Nobre perguntou o que estava acontecendo. Erguendo-se da oração, os missionários o saudaram, convidando-o a participar daquela singela reunião. Em resposta, o líder disse que era chegada a hora de tomar uma decisão. Culpou-os de separatistas, pois estariam semeando dúvidas e inquietações entre o povo. Gunnar Vingren explicou que não era esse o objetivo dos missionários. Pelo contrário, o batismo com o Espírito Santo seria um elemento de maior coesão no rebanho.
Raimundo Nobre rebateu. Alegou que os textos bíblicos sobre cura e aquele batismo eram coisas apenas para a igreja apostólica. Disse que "seria absurdo que pessoas educadas em nossos dias pensassem que tais coisas ainda possam acontecer. Hoje, temos de ser realistas, e não ocupar o tempo com sonhos e falsas profecias”. A isto, Vingren respondeu que não convinha elevar a nível de discussão pessoal um assunto tão importante.
Nessa hora, Raimundo Nobre pediu que os partidários do ensino pentecostal levantassem a mão para que a igreja os excluísse por incompatibilidade doutrinária. Segundo a ata da Igreja Batista, ficaram de pé 13 irmãos e os dois missionários. Mas sabemos que havia também cinco menores que acompanhavam os pais.
Após a decisão administrativa, o grupo excluído orou de mãos erguidas. E todos saíram na mesma hora do templo batista, dando glórias a Deus. Era o dia 13 de junho de 1911, uma terça-feira.
Esse grupo, somado a alguns irmãos que não estavam no culto, foram os pioneiros na fundação da Assembleia de Deus. A maioria dos que foram desligados eram pessoas cultas e ocupantes de cargos importantes na Primeira Igreja Batista.
d) Nasce a Assembléia de Deus. Sendo obrigados a desocupar as dependências da Igreja Batista, os missionários ficaram sem ter moradia e lugar para reunir. Nessa hora, Henrique Albuquerque, esposo de Celina Albuquerque, ofereceu a sala de sua casa, na rua Siqueira Mendes, 67. E, pela perfeita vontade de Deus, foi ali que nasceu a Assembleia de Deus. Nasceu dentro de um lar. Um lar onde havia oração, cura e batismo com o Espírito Santo.
e) Data oficial de fundação da Assembléia de Deus: 18 de junho de 1911, um domingo. Nesse dia, a igreja organizou-se sob o nome "Missão da Fé Apostólica", mesmo nome que o Movimento Pentecostal utilizou desde o começo nos EUA.
Na Rua Siqueira Mendes, os irmãos congregaram-se cerca de três meses. Depois, para facilitar o acesso, mudaram a congregação para a residência do irmão José Batista de Carvalho, na Rua São Jerônimo, atual avenida Governador José Malcher, antigo n° 224.
Em 8 de novembro de 1914, os irmãos mudaram para o seu primeiro templo livre. A Igreja situava-se na travessa 9 de Janeiro, antigo n° 75. O imóvel foi comprado em 17 de setembro de 1917.
Em carta enviada a Suécia em 05 de junho de 1917, Frida Vingren noticia, com muita alegria, que o nome “Assembléia de Deus” está na fachada do templo.
A Assembleia de Deus funcionou na travessa 9 de Janeiro até 30 de outubro de 1926, quando o pastor Samuel Nystrõm transferiu a sede da igreja para a travessa 14 de Março, antigo n° 759. Nesse mesmo local, o pastor Firmino Gouveia inaugurou o atual Templo Central da Assembleia de Deus em Belém no dia 23 de abril de 1988.
f) Lições práticas: (1)Obreiros autênticos na Assembléia de Deus são aqueles que imitam a Gunnar Vingren e Daniel Berg. São irmãos e líderes cheios de amor por Jesus e pelas pessoas. Desapegados de bens materiais, avareza ministerial e títulos de mérito próprio; (2) Tudo na Igreja tem preço de sangue. Primeiro de nosso amado Jesus; depois, de milhares de irmãos que, com suas próprias vidas, pagaram a liberdade que hoje temos. Mercantilizar a Palavra da cruz é pior do que crucificar o Salvador novamente. Ele nos ordena agora: "de graça recebestes, de graça dai" (Mt 10:8).
III. DO NORTE PARA TODO O BRASIL
Daniel Berg e Gunnar Vingren, juntamente com os primeiros membros da igreja, começaram a realizar cultos em outros locais do Pará, e a evangelizar em lugares distantes desse estado, principalmente nas ilhas circunvizinhas. O preço foi muito alto, mas o dono da obra era o Senhor Jesus.
1. A Assembléia de Deus nasceu debaixo de severa perseguição. O ataque vinha de todos os lados. A saída do grupo da Igreja Batista provocou a ira de muitos. Uma verdadeira campanha de difamação foi montada contra os irmãos, atacando principalmente os missionários. Outras denominações, temerosas em perder terreno para a mensagem pentecostal, uniram-se contra a nascente igreja.
A imprensa foi utilizada contra os pentecostais nos primeiros anos. Jornais difundiam a ideia que os novos crentes constituíam uma seita perigosa. Difamavam os missionários, espalhando artigos contra eles por igrejas em todo o País.
O jornal paraense “A Folha do Norte”, recebendo um artigo desse teor, e querendo conferir a denúncia, enviou um repórter disfarçado para um dos cultos. Por puro sensacionalismo, o jornal escreveu uma matéria que desmoralizou a igreja. Como resultado, muitas pessoas curiosas foram atraídas para os cultos. E Jesus aumentou ainda mais o seu rebanho! O próprio repórter, repensando seu gesto, voltou a escrever sobre os cultos da Assembléia de Deus: "Nunca vi uma reunião tão cheia de fé, fervor, sinceridade e alegria entre os crentes". Foi o que disse.
Até hinos e louvores viravam motivo de escárnio. "Aleluia!" - o brado de adoração pentecostal – virou chacota. Crianças, jovens e velhos eram desrespeitados nas vias públicas.
Houve inúmeras agressões físicas. Saindo apenas do campo moral, a perseguição veio em forma de agressão física. Cultos eram apedrejados e cancelados por motivo de segurança. Casas destelhadas. Bíblias eram queimadas. Crentes e obreiros sangravam pelo amor de Jesus. Agressões físicas persistirão por muitos anos. Em Soure, aonde Daniel Berg chegou ainda em 1911, não foi diferente. Crentes e pregadores foram apedrejados e ameaçados, mas nenhum mal lhes sobreveio.
Certa ocasião, um dos perseguidores, gritou no meio da multidão para que todos ouvissem: "Oxalá uma onça devore esses pregadores de novidades!". E a resposta veio certeira: uma onça invadiu o quintal daquele praguejador e o devorou em poucas horas. Esse episódio causou temor em toda a população, que considerou o fato um castigo divino.
2. Como no Dia de Pentecostes. Assim como Chicago (EUA), pela sua importância geopolítica, foi o centro irradiador mundial do avivamento do século XX, Belém foi escolhida para ser a porta do avivamento para o Brasil. E Deus sabia o porquê.
A partir de 1913, a exportação da borracha entrou em declínio na Amazônia, não suportando a concorrência com a Ásia. Logo milhares de pessoas começariam a regressar a suas terras, a suas famílias, aos lugarejos mais distantes.
Porém, quando isso começou acontecer, Belém e todo o estado do Pará estavam sendo sacudidos pelo poder do Espírito Santo. Então, ao modo da igreja em Jerusalém, que, perseguida, evangelizou o mundo de sua época, a partir de Belém, o povo espalhou-se pelos quatro cantos desta nação. De Belém, homens e mulheres saíram pregando que Jesus salva, cura e batiza com o Espírito Santo.
3. A OBRA AVANÇA PARA O NORTE
a) Amapá.
Coube a Clímaco Bueno Aza o pioneirismo pentecostal em terras amapaenses. Em 26 de junho de 1916, Clímaco, colombiano que se converteu no interior do Pará em 1913, chegou a Macapá, uma pequena cidade de mil habitantes à época. Chegou com sua mala cheia de Bíblias, folhetos e evangelhos.
Descoberta sua missão, o padre local insuflou arruaceiros para apedrejar o evangelista. Suas Bíblias foram arrancadas de suas mãos e queimadas em praça pública. Mas Clímaco não temeu. Passado algum tempo, retornou, tendo mais liberdade para evangelizar.
Foi o evangelista José de Matos Caravela quem estabeleceu a igreja no Amapá, em 1917. A perseguição recomeçou, mas não prevaleceu.
Dia 27 de junho, as primeiras pessoas se converteram. Dia 30, um amapaense foi batizado com o Espírito Santo.
O Amapá, ligado politicamente ao Pará àquela época, esteve décadas sob liderança da igreja em Belém.
Daniel Berg, Samuel Nystrõm, Nels Nelson, Crispiniano Melo, José Moraes, Vicente Rêgo Barros e Otoniel Alves de Alencar são alguns ministros pioneiros no Amapá.
• O testemunho de Leão Zagury. No dia de Natal, foi realizado o primeiro batismo, nas águas do rio Amazonas. Judeus, comerciantes do lugar, foram apreciar o ato público. Ao sair das águas, a irmã Raimunda Paula de Araújo foi batizada com o Espírito Santo e falou em novas línguas com muito poder. Falou hebraico.
Leão Zagury, judeu, que tinha seu comércio junto ao rio, interpretou tudo o que aquela simples mulher falava. Maravilhado, exclamou diante de seus compatriotas: "Eis que vejo a glória do Deus de Israel, pois esta mulher está falando minha língua!".
b) AMAZONAS. O estado do Amazonas recebeu a mensagem pentecostal através do irmão Severino Moreno de Araújo. Em 1917, com seu coração ardendo pelo avivamento que movia Belém, Severino enfrentou longos dias de viagem a barco para chegar a Manaus.
Depois de trabalhar vários meses, a semeadura tinha gerado vários frutos. Por isso, Severino regressou à capital paraense para solicitar um obreiro. O casal Samuel e Lina Nystrõm seguiu para o Amazonas. 1º de janeiro de 1918 é a data oficial de fundação da Assembléia de Deus no Amazonas.
c) RONDÔNIA. Em 1921, chegara a Belém o missionário norte-americano independente Paul John Aenis. Depois de conviver alguns meses com Gunnar Vingren e Daniel Berg, estes o aconselharam a fundar um trabalho. A visão de Aenis, até esse momento, era de apenas auxiliar a obra já iniciada no Pará.
Compreendendo que o Espírito Santo o enviava, Paul Aenis chegou a Porto Velho no início de 1922. Ali, contando com precioso auxílio e encorajamento de José Marcelino, organizou a primeira congregação.
Em 28 de fevereiro do mesmo ano, Aenis realizou o primeiro batismo de quatro novos convertidos. A semente do evangelho estava lançada em boa terra!
d) ACRE. A pregação pentecostal no estado do Acre começou em Cruzeiro do Sul, sua antiga capital. Há escassos registros. Sabe-se, porém, que o dedicado pioneiro Manoel Pirabas esteve naquela cidade no ano de 1932.
e) RORAIMA. Conhecida mundialmente pela presença dos índios yanomamis em seu território, Roraima foi o último estado do Norte a ter uma Assembleia de Deus.
Emílio Conde registrou em sua obra preparada para o Jubileu de Ouro (1961) que a pregação em Roraima foi iniciada pelo crente Vicente Pedro da Silva. Todavia, hoje sabemos que o pioneiro em Roraima foi Cordulino Teixeira Bastos, cuja família chegou a essa terra em 1915.
Em 1946, Nels Nelson, líder da igreja em Belém, enviou o pastor Quirino Pereira Peres. A data oficial de fundação da Assembleia de Deus em Roraima é 9 de setembro de 1946.
4. O NORDESTE RECEBE A CHAMA PENTECOSTAL.
Nordeste, por sua definição, significa o leste do norte. Exatamente por isso, essa região foi também uma das primeiras áreas alcançadas pela mensagem pentecostal. Com aspectos geopolíticos diferentes do resto do País, a evangelização do Nordeste representa um dos capítulos mais magníficos da obra pentecostal. Região com forte cultura católica foi um solo fértil em perseguições no alvorecer da Assembleia de Deus. Prisões, injúrias e sangue são o alicerce do pentecostalismo em terras de verdes mares.
Se o Norte foi a prova de fogo da semeadura pentecostal, o Nordeste foi o lugar onde os ventos foram-lhe mais contrários. Ventos que, ameaçando ruir a pequenina igreja, tornaram sua chama ainda mais forte.
a) CEARÁ. O evangelho pentecostal chegou ao Ceará em 1914 através da irmã Maria de Jesus Nazareth de Araújo, a segunda pessoa brasileira batizada com o Espírito Santo. Ardendo pela presença de Deus, irmã Nazareth viajou para a Serra de Uruburetama, antiga São Francisco e atual município de Itapagé, a fim de testificar a seus parentes. Como os parentes não lhe deram atenção, Maria de Nazareth visitou uma Igreja Presbiteriana Independente na mesma serra. A igreja tornou-se pentecostal e seu líder, Vicente Sales Bastos, seu obreiro. Assim nasceu a Assembleia de Deus no estado do Ceará.
Em 1922, Belém enviou o pastor Antônio do Rêgo Barros para substituir Adriano. Rêgo Barros começou a obra em Fortaleza. Depois, a Igreja-mãe enviou Bruno Skolimowski.
No livro de Atas das reuniões oficiais da Assembleia de Deus em Belém, datado de 13 de outubro de 1931, sob a liderança de Nels Nelson, está escrito: “Expôs o nosso pastor irmão Nels J. Nelson que havia necessidade da igreja continuar auxiliando o trabalho em Fortaleza - Ceará, depois da saída de nosso Irmão Antônio Barros, ao irmão que ficava ali naquele campo, Julião Silva”.
Em 7 de março de 1936, o pastor Pedro Trajano prestou contas à Igreja-mãe de uma viagem à serra de Uruburetama. Relatou fracasso: "onde o trabalho estava inteiramente fechado, os crentes espalhados". O irmão Gonzaga, líder local, foi autorizado por Trajano a reorganizar a obra.
b) ALAGOAS. Gunnar Vingren visitou Maceió em 1914. Em 21 de agosto de 1915, o missionário Otto Nelson e esposa, Adina, enviados pela igreja em Belém, chegam a Maceió a bordo de um navio da companhia Lloyd Brasileiro. Havia seis pessoas crentes. Reuniram-se no primeiro culto dia 25, quando Jesus batizou três irmãos com o Espírito Santo.
As lutas foram muitas. Otto Nelson foi impedido de sepultar um filho no cemitério da cidade. O sacerdote local levantou a população contra o homem de Deus. O enterro só pôde acontecer de noite, sob proteção policial. O primeiro templo foi inaugurado dia 22 de outubro de 1922. Representou um marco na obra pentecostal no Nordeste.
c) PERNAMBUCO. Por ordem de instalação, Pernambuco foi o quarto estado a receber o evangelho pentecostal, antecedidos pelo Pará, Ceará e Alagoas.
Adriano Nobre foi enviado pela igreja de Belém para Recife em 1916. Encontrou ali alguns crentes de outras denominações interessados no avivamento. Entre eles, estava João Ribeiro da Silva, em cuja casa foi iniciado o trabalho nessa cidade. A casa ficava na rua Ponte Velha, n° 27, bairro dos Coelhos.
Às margens do rio Capibaribe, Adriano Nobre batizou os dois primeiros assembleianos, no ano de 1917. Eram Francisco Ramos e uma irmã de prenome Luíza. Irmã "Lulu", como era chamada, foi também a primeira pessoa batizada com o Espírito Santo em Pernambuco.
d) RIO GRANDE DO NORTE. A história da Assembleia de Deus no Rio Grande do Norte teve início com algumas famílias que retornaram de Belém em 1916. Entre outros, estavam Antônio Felipe Bezerra e sua esposa Luíza Bezerra, irmã "Luizinha". Também a família do ex-presbiteriano Francisco César, este batizado com o Espírito Santo. Todos almejavam testificar a seus parentes.
Em 1918, com algumas conversões, os pioneiros já constituíam um pequeno grupo. Nesse mesmo ano, escreveram a Belém solicitando um obreiro. Em resposta, o missionário Gunnar Vingren enviou a Natal o pastor Adriano Nobre.
Segundo consta da história potiguar, em 15 de abril de 1918, Adriano Nobre batizou os primeiros crentes no rio Potengi, junto à ponte de Igapó.
e) PARAÍBA. Não se tem a data exata da chegada do avivamento ao estado da Paraíba. Há relatos que o paraibano Manoel Francisco Dubu (irmão Dubu), primeiro brasileiro a receber o batismo com o Espírito Santo, voltou do Pará a sua terra natal em 17 de dezembro de 1914, levando a pregação pentecostal.
f) MARANHÃO. A mensagem pentecostal chegou ao Maranhão por intermédio do pastor Climaco Bueno Aza. Segundo o que Gunnar Vingren anotou em seu livro “Caixa”, Belém levantou uma oferta de 106 mil réis no dia 10 de março de 1921 para essa viagem missionária. Experiente em viajar, Climaco enviou cem mil através de depósito bancário. Climaco ficou à frente do trabalho até 1922.
A igreja no estado do Maranhão passou por muitas lutas. Em culto dirigido pelo pastor Otoniel Alves de Alencar, um frade italiano convocou uma turba contra os servos de Deus. Os arruaceiros quebraram o púlpito, o lampião e ainda surraram dois irmãos idosos, que faleceram dias depois em conseqüência da agressão. Irmã Augusta Alencar, esposa do pastor Otoniel, por livramento de Deus não sofreu um aborto, em conseqüência das pedradas e pauladas que sofreu.
g) BAHIA. A obra pentecostal na Bahia começou em 1926 pelo sul do estado e está ligada ao nome de Joaquina de Souza Carvalho.
Chegando a essa cidade, Joaquina pôs-se a testificar sobre o avivamento e logo reuniu pessoas. Segundo registrou o pastor Alcebíades Vasconcelos, Joaquina escreveu a Belém do Pará. Em resposta, a igreja-mãe enviou o pastor João Pedro da Silva. Este levou às águas batismais o primeiro grupo de crentes, sendo vinte deles já batizados com o Espírito Santo.
h) SERGIPE. A obra em Sergipe começou em sua capital em 1927. Ormínio, que servia ao Exército mudou-se de Belém para Sergipe. Em seu coração, levava a tocha acesa no norte do país. Logo diversas pessoas aceitaram a Cristo.
Não sendo obreiro credenciado pelo ministério, o evangelista comunicou-se com o pastor João Pedro da Silva, que nesse tempo cooperava com o missionário Otto Nelson em Alagoas. Em 1928, Pedro da Silva batizou os primeiros crentes.
Em 18 de fevereiro de 1932, o missionário Otto Nelson oficializou a Assembléia de Deus em Sergipe.
i) PIAUÍ. O Movimento Pentecostal no Piauí data de 1927. Atribui-se a semeadura a visita do amazonense Raimundo Prudente de Almeida. Em 1930, já havia um grupo pentecostal na cidade de flores, atual Timon.
5. A REGIÃO SUDESTE RECEBE A MENSAGEM PENTECOSTAL
Por direção do Espírito Santo, depois do Norte, foi essa região que mais conviveu com os missionários fundadores da Assembléia de Deus. Rio de Janeiro, antigo Estado da Guanabara e ex-capital nacional, recebeu Gunnar Vingren e família. Vitória e São Paulo, o nosso amado irmão Baniel Berg.
a) ESPÍRITO SANTO. Segundo escreveu Emílio Conde em 1960, Galdino Sobrinho e esposa, crentes pentecostais, chegaram à capital do Espírito Santo no ano de 1922. Em 1924, o missionário Daniel Berg viajou para Vitória a fim de implantar uma igreja. Ali, durante alguns meses, dirigiu cultos na rua Santo Antônio e evangelizou.
b) RIO DE JANEIRO. O pentecostes chegou ao Rio de Janeiro em 1923. Chegou de modo informal, como em 1911. Crentes de Belém do Pará mudaram para o estado da Guanabara, à época Distrito Federal, por diversos motivos. Alguns em razão de trabalho.
Os pioneiros Eduardo e Florinda de Souza Brito moravam na rua Senador Alencar, 17, bairro de São Cristóvão. Aqui houve os primeiros cultos. Entre os irmãos do Norte, estavam os pastores Adriano Nobre e Heráclito de Menezes. Este organizou cultos e a Escola Dominical vespertina. Nessa casa, Jesus batizou com o Espírito Santo a irmã Antonieta de Faria Miranda.
Na manhã de 29 de junho de 1924, praia do Caju, Gunnar Vingren batizou os primeiros crentes. Entre os candidatos, estavam Maria Rosa Rodrigues, Florinda Brito e Paulo Leivas Macalão.
c) SÃO PAULO. A obra pentecostal no estado de São Paulo começou pelo litoral, em Santos. A data é 5 de maio de 1924. A igreja surgiu espontaneamente pela presença de crentes provenientes de Recife. Entre eles, estava o casal Vicente e Hermínia Limeira.
Seguindo o repetido gesto do Movimento Pentecostal, crentes pediram que o Dono da seara enviasse um pastor. Em resposta, o Espírito Santo enviou seu servo Daniel Berg. Ele esteve à frente da igreja até meados de 1925, quando foi substituído pelo missionário John Sorhein. Seguiram-lhes: Simon Lundgren, Clímaco Bueno Aza, Francisco Gonzaga da Silva etc.
Na capital, coube também a Daniel Berg o pioneirismo. Acompanhado de Sara Berg, o missionário chegou a São Paulo no dia 15 de novembro de 1927. Sem nenhum conhecido na cidade e sem recursos, o casal alugou uma humilde casa no bairro despovoado de Vila Carrão. Na pequena sala, começaram a dirigir cultos com duas ou três pessoas. Jesus estava presente. Daniel Berg batizou os dois primeiros convertidos no dia 4 de março de 1928.
d) MINAS GERAIS. Coube a Clímaco Bueno Aza, colombiano de valor, a implantação da Assembléia de Deus no estado de Minas Gerais. Bueno Aza chegou a Belo Horizonte em fevereiro de 1927. Não havia notícia da existência de crentes. Mas, para Clímaco isso não fazia diferença. Ele andava pelo Espírito de Deus e sabia que o mundo tem sede de salvação.
Clímaco foi morar com sua família na rua Peçanha, esquina da rua Paraíso. Começou a pregar. A igreja surgiu. Logo Jesus começou a batizar com o Espírito Santo. Entre os primeiros crentes, estavam Antônio Gomes, Antônio Lopes de Oliveira, Valdomiro Peres e José Alves Pimentel.
6. A REGIÃO SUL RECEBE A MENSAGEM PENTECOSTAL
Os estados da Região Sul foram muito abençoados em sua fundação. Ao ponto mais meridional do País, Jesus enviou um grupo de valorosos obreiros. Gustav Nordlund, Neis Nelson, Bruno Skolimowski, Clímaco Bueno Aza e Nils Taranger foram apóstolos na edificação da igreja no Sul.
A evangelização desta região traduz perfeitamente como Deus é o comandante de sua obra (Fp 2.13). Um forte exemplo é o ministério de Bruno Skolimowski, Clímaco Bueno Aza, Gustav Nordlund e John Peter Kolenda, estrangeiros usados por Ele na obra sulista.
Em André Bernardino, temos a materialização da mensagem pentecostal: Jesus salva, cura e batiza com o Espírito Santo. Isso nos remete para a importância dos sinais prometidos por Jesus aos que crêem (Mc 16:17).
a) PARANÁ. Saindo de Petrópolis, RJ, o pastor Bruno Skolimowski chegou à Curitiba no dia 19 de outubro de 1928. A viagem ocorreu por impulso do Espírito Santo. Bruno, poliglota, que costumava
orar "em outras línguas", deixando os irmãos curiosos, foi o talento usado por Deus na evangelização de colônias de estrangeiros no sul do país, sobretudo de poloneses, alemães e ucranianos.
Por um ano inteiro, Bruno pregou quase exclusivamente a seus compatriotas. Eram imigrantes que ainda não dominavam a língua portuguesa. Após esse período, voltou-se mais para os nacionais, sem deixar de dirigir cultos com aqueles primeiros crentes. Junto a Bruno, estrangeiros e paranaenses formaram um exército de evangelistas. A obra de Deus expandia-se em bom solo.
As pregações vinham acompanhadas dos sinais prometidos por Jesus. Bruno impôs as mãos sobre um senhor idoso que sofria de epilepsia. Jesus o curou instantaneamente. Como resultado, toda aquela família converteu-se a Cristo.
b) SANTA CATARINA. Coube à cidade de Itajaí a primazia de receber o avivamento pentecostal em terras catarinenses. Por sua vez, a história dessa igreja está ligada diretamente ao milagre experimentado por um jovem que desejava ser padre.
André Bernardino da Silva estava doente de tuberculose quando foi visitado por Daniel Berg, Gunnar Vingren e Paulo Leivas Macalão. Era o ano de 1930. Em estado grave, Bernardino estava vivendo num navio atracado no Rio de Janeiro para reparos.
Durante a oração dos pioneiros, o jovem de apenas 26 anos foi visitado pelo poder de Deus. Levantou-se e seguiu seus visitadores. Ficou hospedado no templo da igreja em São Cristóvão durante alguns meses. Ali recebeu a base de sua vida e ministério. Músico versado em vários instrumentos, sua presença tornou ainda mais alegres as reuniões da igreja.
Sentindo-se disposto, regressou a Itajaí, sua terra natal, no dia 15 de março de 1931. Ali, testificou a seus parentes e pregou sobre o capítulo 16 do evangelho segundo Marcos. Como resultado, duas preciosas vidas aceitaram a Cristo: Herculano e Cornélio. A partir desse dia, o Movimento Pentecostal chegou de verdade ao estado de Santa Catarina.
c) FLORIANÓPOLIS. Conforme escreveu Emílio Conde, a semente pentecostal em Florianópolis também floresceu espontaneamente. Em 1938, crentes que tinham ido ali tratar de negócios semearam a Palavra. Pregadores anônimos levaram muitos aos pés de Cristo. Logo a congregação escreveu uma carta ao pastor André Bernardino solicitando uma visita.
André Bernardino teria dirigido o primeiro culto no bairro do Estreito. O pastor João Ungur assumiu a tarefa de cuidar do pequeno rebanho. A escolha teve a aprovação de Deus, pois, segundo Conde, só no primeiro culto que Ungur dirigiu 25 pessoas converteram-se.
Albert Widmer, missionário suíço independente, também aparece nesse começo. Em sua motocicleta, foi um desbravador de Deus nas terras catarinenses. No site oficial da igreja catarinense, Widmer é considerado o fundador da obra em Florianópolis.
d) RIO GRANDE DO SUL. Como aconteceu em vários lugares no Brasil, é provável que a mensagem pentecostal tenha chegado ao Rio Grande do Sul antes da organização da Assembleia de Deus local. Em 1922, data anterior à implantação do trabalho no estado, a redação do jornal "Boa Semente", em Belém do Pará, recebeu uma carta de Porto Lucena. Na correspondência, uma crente chamada Cashilda E. Skytberg fala de experiências pentecostais: “Tenho lido o jornalzinho”Boa Semente", e sempre encontro muitas coisas belas e tocantes a respeito do progresso espiritual (batismo com Espírito Santo), que muito tem atraído minha atenção. É verdade que quando tento levantar a minha bandeira diante do público para dar um testemunho do amor de Cristo, sinto uma grande falta de força do Espírito Santo, e logo me é revelada a minha fraqueza. Sinto-me chamada para trabalhar na seara do meu querido Mestre. Esse é o meu desejo, e quando se me oferecer a oportunidade, estarei pronta para me utilizar das palavras que o Espírito Santo me inspirar”.
Mas, atribui-se ao missionário Gustav Nordlund e sua esposa, Elisabeth Nordlund, a responsabilidade pela organização da Assembléia de Deus no Rio Grande do Sul, em 1924. Este casal desembarcou em Belém do Pará no dia 2 de fevereiro de 1923. Vieram acompanhados do missionário Gunnar Vingren, que regressava de uma visita à Suécia.
Depois de longos meses de convivência com a Igreja-mãe, o casal chegou a Porto Alegre no dia 3 de fevereiro de 1924. No primeiro dia em terras gaúchas, apenas uma vida entregou-se a Cristo: João Correia da Rosa, um ancião de 70 anos. Era apenas uma semente madura que o Espírito de Deus multiplicaria em milhares de milhares de novos crentes.
7. REGIÃO CENTRO-OESTE COMPLETA O PANORAMA PENTECOSTAL
A implantação da obra pentecostal na Região Centro-Oeste é um contínuo da ação divina iniciada em 1911 em Belém do Pará. O zelo apostólico de desbravadores no estado de Mato Grosso assemelha-se a experiência de Paulo em Malta (At 28). Homens como Antônio Moreira, Juvenal Roque de Andrade, Paul John Aenis e Elói Bispo de Sena são dignos de constar da galeria de heróis
da fé (Hb 11).
a) MATO GROSSO. As gerações mais jovens não sabem, mas, as terras de Mato Grosso receberam a mensagem pentecostal ainda na década de 1920. Isso porque uma parte de suas terras foi desmembrada em 1943 para criar o Território Federal do Guaporé, atual estado de Rondônia. Pioneiros pentecostais, cruzando rios e seringais do Amazonas, alcançaram a grande fronteira com o Mato Grosso. O avivamento começou pelo norte.
Ainda em 1923, Elói Bispo de Sena, crente batizado nas águas pelo missionário Paul Aenis, à época em Rondônia, chegou à localidade de Generoso Ponce. Atravessando rios intermináveis, pregou ali durante sete dias para um grupo de irmãos.
O jornal "Boa Semente", de Belém do Pará, Informa que Elói Bispo realizou nova viagem a Generoso Ponce em 1924. Encontrou ali 60 crentes, sendo 25 batizados com o Espírito Santo. Logo, concluímos que o avivamento estava presente no norte de Mato Grosso desde 1923.
A chama pentecostal chegou a Cuiabá através dos irmãos Rodrigues Alves Ferreira e esposa. Presbiterianos, visitaram a Assembleia de Deus em Goiânia e creram na promessa. Depois, mesmo residindo em Cuiabá, o casal se tornou membro da igreja em Ribeirão Preto, São Paulo.
b) MATO GROSSO DO SUL. Como sabemos, o estado de Mato Grosso do Sul foi criado a partir do desmembramento ocorrido em 1979. Portanto, em tese, tudo o que se pode afirmar para Mato Grosso até essa data, vale também para o jovem estado.
Todavia, sabemos que Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, está a 694 km de Cuiabá e muito distante da fronteira com o Amazonas. À primeira vista, essa localização geográfica poderia constituir um entrave para a "descida" da mensagem pentecostal a partir da antiga capital do uno estado do Mato Grosso.
Apesar da enorme distância geográfica entre Cuiabá e Campo Grande, há um aspecto geopolítico que cooperou para a evangelização de Mato Grosso do Sul. Isso porque, desde a época da implantação da Assembléia de Deus em Cuiabá, Campo Grande era a capital comercial de Mato Grosso. Portanto, o fluxo de pessoas era muito grande no sentido norte-sul.
Meses após a fundação da igreja em Cuiabá, organizou-se o trabalho do Senhor em Campo Grande. A data é 22 de outubro de 1944. Constam como fundadores: pastor Juvenal Roque de Andrade; Paulo Fernando Brenta, secretário; Aristides Alves de Souza, tesoureiro. E alguns membros nessa ocasião: Ambrosina Maria de Souza, Antônio Rondom de Melo, Elvira Gomes e Justina Rocha da Silva.
Entre outros pastores da Assembléia de Deus em Mato Grosso do Sul, temos: Juvenal Roque de Andrade, Oscar Castelo, Alfredo Rudzit, Pedro Gonçalves e Vicente Guedes Duarte.
c) GOIÁS. A construção de Goiânia, capital do estado de Goiás, inaugurada em 1933, atraiu muitos trabalhadores. Entre operários, comerciantes, funcionários públicos e outros grupos, chegaram também pessoas que tinham recebido a mensagem pentecostal.
Um grupo de membros da Assembléia de Deus do bairro carioca de Madureira estava em Goiás em
1936. Por esse motivo, o pastor Paulo Leivas Macalâo, líder em Madureira, designou o diácono Antônio do Carmo Moreira para assistir o pequeno rebanho.
As primeiras reuniões em Goiânia aconteceram na casa do irmão Benedito Timóteo, no bairro de Botafogo. Aniceto Novais, Eva Pereira da Silva e Teodoro dos Reis aparecem como alguns dos pioneiros nesse ano de 1936.
O primeiro batismo em águas ocorreu em janeiro de 1937. Nesse tempo, a obra do Senhor espalhou-se para as cidades de Anápolis, Pires do Rio e Catalão.
d) DISTRITO FEDERAL. As notícias mais antigas sobre o avivamento no Distrito Federal apontam o ano de 1956. Em 19 de novembro desse ano, um grupo de obreiros ligados ao Ministério de Madureira em Goiás esteve em Brasília para estabelecer trabalho. A Capital Federal ainda estava sendo construída. A equipe era constituída dos pastores Antônio Inácio de Freitas, Divino Gonçalves dos Santos, Lázaro Maléu de Oliveira, Jaime Antônio de Souza, Jamil de Oliveira e Antônio Carneiro, entre outros.
O primeiro culto foi realizado no dia 27 de janeiro de 1957 na Cidade Livre (atual Núcleo Bandeirante). O dirigente foi o pastor Antônio Alves Carneiro.
e) TOCANTINS. O estado do Tocantins foi criado pela atual Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988. É um desmembramento do estado de Goiás. Portanto, não obstante as particularidades de sua história regional, sua origem está ligada ao avivamento ocorrido no Estado de Goiás. Palmas, planejada para ser sua capital, foi inaugurada em 20 de maio de 1989.
Porém, olhando de forma isolada a nova unidade da Federação, temos importantes igrejas estabelecidas há muito na região. Cite-se a Assembleia de Deus em Gurupi, ligada ao Ministério de Madureira, a qual em 2006 comemorou 50 anos de existência.
Embora Tocantins pertença à Região Norte, ficou incluído na Região Centro-Oeste por uma questão
de cronologia, uma vez que o Norte foi evangelizado nas duas primeiras décadas do Movimento Pentecostal.
CONCLUSÃO
Deus fez tudo certo em relação à fundação da Assembleia de Deus. Inverteu modelos missionários para provar que a perfeita sabedoria está com Ele. A escolha de Belém, no extremo norte do Brasil, foi estratégica. Evangelização local, aproveitamento de obreiros qualificados e expansão acelerada do avivamento para toda a Nação são hoje um fato. Perseguições, necessidades e líderes exemplares, os rastros da verdadeira Igreja.
Agora, quando celebramos o Centenário, voltemo-nos mais para Jesus. Sejamos também luminárias de Deus no meio desta geração. Renunciemos nossas vaidades e caprichos. No Céu, entrarão somente os que puderem sempre dizer "Porque Deus..." (Jo 3:16) e não "Porque eu..." nas suas próprias justificativas.
O Brasil procura em nós a mesma ardente mensagem, o mesmo amor, o mesmo brilho que irradiava da face dos pioneiros. O mundo continua cansado do mundo. O mundo tem fome de Deus!
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com/
Referências Bibliográficas:
William Macdonald – Comentário Bíblico popular(Novo Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Revista Ensinador Cristão – nº 46.
ASSEMBLEIA DE DEUS EM BELÉM. História da Igreja-Mãe das Assembléias de Deus no Brasil. 7a edição. Belém do Pará: 2007.
ASSEMBLEIA DE DEUS EM BELÉM. Livros de atas (período de 1930-1952).
ASSEMBLEIA DE DEUS EM BELÉM. Revista Jubileu de Ouro. Belém do Pará: 1961.
ALMEIDA, Antônio Batista de. 80 Anos Construindo para a Glória de Deus (história da Primeira Igreja Batista no Pará). Belém do Pará: 1977.
BERG, Daniel. Enviado por Deus. Memórias de Daniel Berg. São Paulo: 1961, edição autografada pelo autor.
BÍBLIA SAGRADA, Versão Revista e Corrigida de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.
CONDE, Emílio. História das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 1960.
DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Aula 09 - A PUREZA DO MOVIMENTO PENTECOSTAL

Texto Base: Atos 2:1-4,14-17


“Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias, acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne...”(Atos 2:16,17)

INTRODUÇÃO
O verdadeiro Movimento Pentecostal está fundamentado sobre duas colunas vitais: A Palavra (a Bíblia Sagrada) e o Poder de Deus, pela ação do Espírito Santo. Assim era a Igreja primitiva. A história do Movimento Pentecostal é, até os dias de hoje, a história da busca do revestimento de poder e dos dons espirituais por parte daqueles que, crendo na Palavra de Deus, dão atenção aos ensinos e relatos bíblicos relativos à igreja primitiva. O Espírito Santo tem sido derramado sobre aqueles que, em vez de se iniciarem em controvérsias teológico-filosóficas a respeito da operação do Espírito de Deus, têm prestado atenção ao texto bíblico e têm seguido os mesmos passos dos discípulos da igreja primitiva, orando e buscando o dom do Espírito Santo. Onde tem havido busca do revestimento do poder e dos dons espirituais, o Senhor tem cumprido a Sua Palavra e batizado crentes com o Espírito Santo e concedido dons espirituais. Quem presta atenção e leva em conta o que dizem as Escrituras, sabe que o Senhor disse que “… se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” (Lc 11:13).
I. A ORIGEM DO PENTECOSTES CRISTÃO
A origem do Pentecostes cristão está no coração de Deus. Ele proclamou isso através do profeta Joel: “Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne”(Atos 2:16,17). Esta declaração profética cumpriu-se no dia da festa de Pentecostes, justamente cinquenta dias após a Ressurreição de Cristo. Nesse dia de festa, Deus encheu os primeiros discípulos do Espírito Santo, a fim de que testificassem do poder de Jesus.
1. O ponto de partida. O poderoso derramamento do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, inaugura o movimento pentecostal (At 2:1-47). Como nos explica a própria Bíblia, a lei, com todas as suas cerimônias, ritos e prescrições, tinha uma finalidade educativa - pedagógica, pois servia de “sombra” das coisas que estavam para vir (Cl 2:16,17; Hb 10:1), tudo tendo sido escrito para nosso ensino (Rm 15:4). Assim, a festa judaica de Pentecostes é uma figura, um símbolo, um tipo do derramamento do Espírito Santo e, por isso mesmo, este derramamento se iniciou num dia de Pentecostes, para que, através do que está escrito sobre esta festa judaica, entendêssemos o significado desta operação espiritual, que é fundamental para a nossa vida cristã.
Não é coincidência que o derramamento do Espírito Santo tenha se iniciado no dia de Pentecostes. Em primeiro lugar é importante salientar que estamos diante do "ano aceitável do Senhor" (Lc 4:19), ou seja, o tempo em que haveria a pregação do evangelho. Este ano se iniciou com a morte de Jesus Cristo no Calvário, que nos abriu um novo e vivo caminho para o Pai (Hb 10:20), episódio que, por inaugurar este ano do Senhor, nada mais é que a Páscoa (1Co 5:7). Tanto assim é que, no dia seguinte ao sábado da páscoa, era oferecido um molho das primícias da colheita ao sacerdote (Lv 3:10), que seria movido perante o Senhor, primícia esta que outra não é senão o primogênito dentre os mortos, aquele que ressuscitou no primeiro dia da semana, Cristo Jesus (1Co 15:20,23; Cl 1:18). Em seguida, cinquenta dias depois, vinha o Pentecostes, a festa que indica o início da colheita no ano, ou seja, a ocasião que demonstra o início da salvação da humanidade através da Igreja, o início do movimento do Espírito Santo, baseado no sacrifício de Cristo, com poder e eficácia, em prol da colheita das almas para o reino celestial, algo que perdurará até a festa da colheita final, até o final deste ano, que se dará com a terceira festa, a festa das trombetas ou festa dos tabernáculos, que representa a volta de Cristo, o arrebatamento da Igreja.
Assim, a descida do Espírito Santo somente poderia ocorrer, mesmo, na festa das primícias, na festa das semanas, que indica o início da colheita, o início da manifestação plena do Espírito Santo no meio da humanidade com vistas à salvação das almas. Era o começo do movimento e o Espírito Santo sempre esteve relacionado com o mover, como vemos desde a Sua primeira aparição no texto sagrado (Gn 1:2).
2. Como surgiu o termo pentecostalismo. O termo "pentecostalismo" vem da palavra "Pentecostes"(nome atribuído no Antigo Testamento a uma das três principais festas do povo Judeu: Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos), haja vista ter sido na Festa de Pentecostes que os discípulos de Jesus receberam a virtude do Espírito (cf. Atos 2). Os Pentecostais crêem no batismo bíblico com o Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo, com a evidência inicial de falar em outras línguas, conforme a Sua vontade, e na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a Sua soberana vontade. Isto é pentecostalismo. Todavia, este termo é do início do século XX, quando houve o derramamento do Espírito Santo nos Estados Unidos da América, semelhante à manifestação de Atos dos Apóstolos capítulo 2.
O Pentecostalismo iniciado na Rua Azusa, em Los Angeles, em 1906, está completando 105 anos em 2011. E, como resultado de sua consistência e seriedade, tem-se mantido por todo esse tempo e com certeza continuará até a volta do Senhor. Os desvios e abusos que eventualmente têm surgido não podem descaracterizar aquilo que nasceu no coração de Deus, que é reavivar o seu povo para uma obra do fim. Que Deus nos ajude a ser renovados a cada dia!
II. A TRAJETÓRIA DO PENTECOSTALISMO
Um dos pontos essenciais do pentecostalismo é a crença de que o avivamento da Igreja é contínuo, ou seja, que Deus não cessa de intervir no meio de Seu povo para impedir que a vida espiritual deixe de ser abundante. O livro de Atos registra a dimensão desse avivamento. Avivamento em Jerusalém, em Samaria, em Antioquia da Síria e em Éfeso. E de lá para cá, são muitos os relatos da obra vivificadora do Espírito Santo na história da igreja.
1. A promessa da efusão do Espírito. A efusão do Espírito Santo significou o início do cumprimento de Deus registrado nas profecias de Joel, capítulo 2, verso 28, de derramar seu Espírito sobre todo o seu povo nos tempos do fim. Esse derramamento resultou num fluir sobrenatural do Espírito Santo entre o povo de Deus.
A maior parte dos chamados evangélicos tradicionais (ou reformados), ou seja, as denominações evangélicas surgidas durante a Reforma Protestante, movimento de renovação espiritual surgido a partir do século XV na Europa e que teve, entre outros, grandes expressões nas figuras de Martinho Lutero e João Calvino, argumentam que o derramamento do Espírito Santo foi um acontecimento restrito ao dia de Pentecostes ou, quando muito, aos tempos apostólicos.
Entretanto, este entendimento não pode ser aceito. E quem é que o diz? Os teólogos pentecostais? Os líderes das denominações chamadas pentecostais? Claro que não! Quem o diz é a própria Palavra de Deus! No dia de Pentecostes, Pedro já dá a amplitude desta operação do Espírito Santo, ao invocar a profecia de Joel a respeito do derramamento do Espírito. O texto sagrado deixa-nos bem claro que a promessa estava reservada para os últimos dias, até o grande e glorioso dia do Senhor (At 2:16-20), reforçando, ao término da pregação, que a promessa dizia respeito tanto a judeus quanto a gentios, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar (At 2:39). Pelo que podemos, portanto, concluir, pelas Escrituras, o derramamento do Espírito Santo, qual ocorreu no Pentecostes, é uma manifestação que tem sua duração prevista até o "grande e glorioso dia do Senhor".
2. O Movimento Pentecostal tem o testemunho dos séculos. A história da Igreja tem comprovado que os elementos característicos do Movimento Pentecostal não são uma realidade circunscrita aos tempos apostólicos. Durante todos os avivamentos ocorridos nestes dois milênios, tem havido registros da manifestação do batismo com o Espírito Santo e dos espirituais. Grandes homens de Deus, mesmo entre os chamados "reformados", mostra-nos a história, receberam esta bênção.
Conforme relato que li de alguns estudiosos, a partir da Reforma Protestante, quando a Igreja consegue se livrar dos dogmas romanistas de forma ostensiva e organizada, a história começa a registrar episódios do fenômeno da glossolália, ou seja, do falar em línguas estranhas, com cada vez maior intensidade. T. L. Souer, em sua obra História da Igreja Cristã, no volume 3, na página 406, informa que Martinho Lutero falava em línguas estranhas, sendo que, no século XVII, entre os quacres (grupo religioso protestantes formado na Grã-Bretanha), é dito que, com freqüência, os crentes recebiam o derramamento do Espírito e falavam em línguas, fenômeno que era, também, comum entre os pietistas, grupo protestante da Alemanha.
Seria, porém, no século XIX, que os casos de glossolália aumentariam. O pastor presbiteriano inglês Edward Irving (1792-1834) recebeu o batismo no Espírito Santo, o que o levou a ser excluído de sua denominação. Seu grupo acabou por fundar a Igreja Apostólica de Londres que, entretanto, se diluiu depois da morte de seu líder.
Nos Estados Unidos, também foram verificadas ocorrências de glossolália e tal fenômeno passou a ser freqüente em vários grupos de crentes, a ponto de os evangelistas da época passarem a pregar a existência de uma “segunda bênção”, subseqüente à salvação e que consistia em um “revestimento de poder do Alto”, “segunda bênção” esta que os evangelistas Dwight Lyman Moody e R.A. Torrey chamaram de “batismo no Espírito Santo”, não tendo, porém, pregado que a evidência deste batismo seria o falar em línguas estranhas. Charles Finney seria outro grande pregador que passaria a defender a “segunda bênção”(vide Biografia).
Charles Fox Parham, na escola que fundou na cidade de Topeka, no estado norte-americano de Kansas, chegou, com seus alunos, em 1900, à constatação de que o “batismo no Espírito Santo”, na Bíblia Sagrada, era sempre evidenciado pelo falar em línguas estranhas e, naquela mesma escola, no dia 1º de janeiro de 1901, foi batizada com o Espírito Santo a aluna Agnes Ozmam, a primeira pessoa a ser batizada com o Espírito Santo com a consciência de que o sinal para tanto era o falar em línguas estranhas depois do período apostólico.
Após este batismo e como alguns achassem que Agnes tivesse falado em chinês e em boêmio, entre outras línguas, Parnham passou a entender que as línguas faladas eram idiomas estrangeiros e que o falar em línguas estava vinculado à obra missionária. Por causa disso, se, de um lado, não eram verdadeiros os pensamentos de que as línguas estranhas eram idiomas estrangeiros (o que causa até hoje confusão no meio doutrinário), de outro, houve o início de uma concepção de que se estava diante de um instante de derramamento do Espírito Santo com perspectiva missionária, o que fez com que o movimento pentecostal fosse concebido com uma tarefa de evangelização de todo o mundo.
Parnham começou a viajar pelos Estados Unidos para divulgar a descoberta que fizera e a ganhar alunos nestas suas andanças, entre os quais, um pastor negro leigo (isto é, que não havia estudado em seminário para se ordenar pastor), William Joseph Seymour, que pastoreava uma igreja em Houston, Texas, quando, em 1905, foi convidado por Neely Terry, que freqüentava uma pequena igreja da Santidade em Los Angeles e que havia ficado impressionada com o pastor (que não cessava de defender a tese da “segunda bênção” mediante a evidência do falar em línguas), para que ele visitasse sua igreja.
William Joseph Seymour chegou a Los Angeles em 22 de fevereiro de 1906 e, dois dias depois, pregou na igreja, mas o líder da igreja rejeitou seu ensino e Seymour teve de pregar nas casas dos crentes que aceitaram a mensagem, grupo que logo cresceu e passou a se reunir na casa de Richard e Ruth Asbery na rua Bonni Brae, 214. Em 9 de abril de 2006, começou o avivamento, com o batismo no Espírito Santo de Edward Lee. Naquele mesmo dia, seis outras pessoas receberiam o batismo com o Espírito Santo e, em 12 de abril, o próprio Seymour seria batizado com o Espírito Santo.
No Brasil, o Movimento Pentecostal chegou em 1910 e 1911 com a vinda de missionários que tinham sido avivados na América do Norte. O primeiro deles foi o presbiteriano Louis Francescon, que dedicou seu trabalho entre as colônias italianas no Sul e Sudeste do Brasil e resultou no nascimento da Congregação Cristã no Brasil. Logo depois, chegaram os batistas Daniel Berg e Gunnar Vingren que vieram como missionários para Belém - PA, e, ali, iniciaram a Igreja Assembléia de Deus, em 1911.
Os resultados vividos pela Igreja a partir do despertamento espiritual experimentado a partir do final do século XIX, com a evangelização de praticamente todo o mundo, mostra-nos, claramente, que nos encontramos no período da "chuva serôdia", ou seja, a “chuva da primavera”, descrita pelo profeta Joel, que, em Israel, vinha um pouco antes da colheita, que, como sabemos, é a figura do arrebatamento da Igreja.
Nada mais adequado e oportuno, portanto, que analisemos a Bíblia Sagrada e verifiquemos em que se baseiam as chamadas “doutrinas bíblicas pentecostais”, que nada mais são que os ensinos das Escrituras a respeito da atualidade da operação do Espírito Santo na Igreja, crença esta que foi a principal motivadora para este movimento que, por crer que o Espírito Santo continuava a atuar da mesma maneira que na igreja primitiva, proporcionou a evangelização de praticamente o mundo inteiro em cem anos.
III. O VERDADEIRO PENTECOSTALISMO
O pentecostalismo, embora apresentado pelos evangélicos tradicionais como uma “inovação” foi, na verdade, a retomada da verdade bíblica da atualidade do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais, portanto, não representou qualquer novidade, mas, pelo contrário, o retorno ao que está na Bíblia, à volta ao texto sagrado, esquecido e desprezado pelos tradicionais quanto a este aspecto. Que bom seria, aliás, que todos nós fôssemos conservadores neste prisma, ou seja, que sempre nos mantivéssemos fiéis e agarrados ao texto bíblico.
1. Características das igrejas pentecostais. Se o movimento Pentecostal é atemporal (contínuo) e bíblico, devemos observar nas próprias Escrituras quais são as suas características, até para que não nos deixemos enganar pelos “falsos avivamentos”, manifestações espirituais espúrias e que nada mais são que falsificações e imitações do inimigo de nossas almas; verdadeiros “ventos de doutrinas” que também estão a aumentar em número, mormente agora quando se aproxima o dia da nossa glorificação.
São igrejas verdadeiramente pentecostais as que:
a) Tem a Bíblia como a sua regra de fé e prática. A Bíblia é o livro da igreja. Igrejas que não valorizam a Palavra de Deus não podem ser consideradas igrejas cristãs. Não são servas da Palavra e nem serva de Cristo. São servas de teologias, de filosofias, do pós-modernismo, do relativismo; são servas de seus fundadores, de seus dogmas, mas não tem Cristo como Senhor, nem sua Palavra como regra de fé e prática. A Bíblia é o Livro de Deus para a Igreja; é nela que encontramos as diretrizes para atingirmos à santidade (ver Ef 4:24-32).
Não se pode concordar com aqueles que identificam o “pentecostalismo” como uma doutrina puramente mística, que privilegia a subjetividade, ou seja, a emoção de cada pessoa, que defenda um “contacto direto e místico” com Deus. A doutrina pentecostal é, sobretudo, bíblica, ou seja, está fundada nas Escrituras e se baseia totalmente nelas. Portanto, o verdadeiro pentecostalismo não admite qualquer outra revelação além das Escrituras Sagradas, pois prima pela ortodoxia bíblica e pela sã doutrina(Gl 1:6-9).
b) Mantém a Comunhão, ou seja, a união entre os crentes e o Senhor, e entre os próprios crentes. Comunhão com Deus significa a separação do pecado e a separação para Deus, a santificação progressiva; enquanto que a comunhão com os irmãos representa a união fraternal, o exercício do verdadeiro amor, o amor divino entre os irmãos, sem o qual não se pode dizer que há amor a Deus (1João 2:9-11; 4:7,8). Preservar o verdadeiro Pentecostes é demonstrar o amor a Deus, evitando o pecado, como também amando o próximo.
c) Conserva o avivamento iniciado no dia de Pentecostes: a manifestação do Batismo no Espírito Santo e dos dons espirituais. É a mesma preocupação que havia no cerimonial do tabernáculo e, depois, do templo de Jerusalém, de não se permitir que o fogo do altar se apagasse (Lv 6:13).
d) Tem compromisso com a santidade. Para manter o Espírito Santo ativo em nós, faz-se necessário que nos mantenhamos separados do pecado, que não voltemos a pecar, bem como que prossigamos a obedecer ao Senhor Jesus. O segredo da conservação do verdadeiro Pentecostes está na santificação e na observância da Palavra de Deus.
O Senhor abomina quem quer se servir dEle, ou seja, quem almeja receber as bênçãos prometidas por Deus aos homens, quem quer, inclusive, ter o poder de Deus na sua vida, mas que não quer, de forma alguma, submeter-se ao senhorio de Cristo. Deus não se deixa escarnecer e, portanto, quem pensa que poderá servir a Deus pecando, terá uma grande decepção naquele Dia! (Mt 7:21-23).
e) Obedece de forma irrestrita a Palavra de Deus. Não basta orarmos, nem tampouco meditarmos na Palavra de Deus, mas precisamos pôr em prática aquilo que aprendemos ao estudarmos a Bíblia Sagrada, como também aquilo que recebemos da orientação direta do Espírito Santo. O conhecimento teórico das Escrituras de nada serve. Jesus mostrou que os fariseus tinham amplo e correto conhecimento da Lei, mas não viviam coisa alguma daquilo que ensinavam (Mt.23:1-3).
f) Mantém a mesma postura dos discípulos e da igreja primitiva, que não se cansava de anunciar a salvação na pessoa de Jesus Cristo, conforme as demandas da Grande Comissão(Mc 16:15-20).
2. Novos Movimentos. O pentecostalismo é um movimento bíblico, e suas doutrinas também são. Um culto legitimamente pentecostal não ignora 1Coríntios 14; antes, oferece um culto racional a Deus, com ordem e decência. Portanto, está com razão aqueles que não aceitam a palavra “neopentecostalismo”, que vem sendo utilizada por estudiosos da religiosidade nos últimos anos, para identificar os movimentos e denominações que têm surgido a partir da década de 1970 e que se constituem, hoje, no ramo que mais cresce entre os chamados “evangélicos”, pelo menos nos países sul-americanos. Não se pode ter um “novo Pentecostes”, ou seja, uma “nova doutrina pentecostal”, ou ainda, para se usar de expressão tão em moda naqueles segmentos referidos, de uma “nova unção”.
A doutrina pentecostal não é uma “inovação”, nem uma “novidade”, mas é algo que está presente na Igreja desde o seu primeiro dia de manifestação ao mundo, ou seja, o dia de Pentecostes, pois é algo que está na Palavra de Deus e, sabemos todos, que esta Palavra não muda, nem jamais mudará (Sl 33:11; Mt 24:35; Lc 21:33; 1Pe 1:23,25). Por isso, seria correto falarmos em “neoigrejas pentecostais”, mas não em “igrejas neopentecostais”.
Sal grosso, fita vermelha, oração por copo d'água, manto de prosperidade, "batismo no Espírito Santo" para glorificar ídolos, falsas línguas, falsos dons... Não há base bíblica para isso. Tudo isso é fruto dos manipuladores da Palavra da Verdade.
O pentecostalismo autêntico é bíblico, e seus frutos são excelentes! Contudo, sempre há aqueles que dizem o que a Bíblia não diz e mancham o nome de todo um povo. Afastemo-nos, pois, dos falsos ensinos e não larguemos a Palavra de Deus. Busquemos o batismo no Espírito Santo e os dons espirituais, para sermos testemunhas eficazes de Jesus até os confins da Terra!
CONCLUSÃO
Salvar ou assegurar a pureza do Movimento Pentecostal é conservá-lo intacto, mantê-lo genuíno, ou seja, fazer permanecer as suas características, as suas finalidades.
O derramamento do Espírito Santo tem como objetivo transmitir o poder de Deus ao Seu povo até o fim da dispensação da graça, a fim de criar condições para que haja a evangelização do mundo bem como o aperfeiçoamento dos santos até a volta de Cristo. É esta a finalidade do Pentecostes.
Devemos manter estes propósitos constantes das Escrituras: o poder de Deus é transmitido para a glória do Senhor, para a salvação das almas e para o aperfeiçoamento dos santos. Qualquer outro intento que se apresente deve ser repudiado.
Não se pode adotar o misticismo estéril (porque não gera frutos para o reino de Deus) que tanto tem invadido as igrejas locais, nem tampouco se dispensar o verdadeiro Pentecostes por conta de uma “ortodoxia” que, em verdade, representa um formalismo vazio, oco e que, não raro, revela um descrédito no Evangelho completo e poderoso, tal qual constante nas páginas sagradas.
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:
William Macdonald – Comentário Bíblico popular(Novo Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Revista Ensinador Cristão – nº 46.
O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.
Teologia Sistemática – Atual e Exaustiva – Wayne Grudem.
CHAMPLIN, Russell Normam – O Novo Testamento Interpretado – 2002.
BOYER, Orlando – Pequena Enciclopédia Bíblica – 1997.
Caramuru Afonso Francisco – Conservando o verdadeiro Pentecostes.