domingo, 13 de julho de 2025

UMA IGREJA FIEL À PREGAÇÃO DO EVANGELHO

          3º Trimestre de 2025

         

SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 03

Texto Base: Atos 3:11-19

“E, quando Pedro viu isto, disse ao povo: Varões israelitas, por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?” (Atos 3:12).

Atos 3:

3.Ele, vendo a Pedro e a João, que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma esmola.

4.E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós.

5.E olhou para eles, esperando receber alguma coisa.

6.E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda.

7.E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e tornozelos se firmaram.

8.E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com eles no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus.

9.E todo o povo o viu andar e louvar a Deus;

10.e conheciam-no, pois era ele o que se assentava a pedir esmola à Porta Formosa do templo; e ficaram cheios de pasmo e assombro pelo que lhe acontecera.

11.E, apegando-se ele a Pedro e João, todo o povo correu atônito para junto deles no alpendre chamado de Salomão.

12.E, quando Pedro viu isto, disse ao povo: Varões israelitas, por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?

13.O Deus de Abraão, e de Isaque, e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Filho Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, tendo ele determinado que fosse solto.

14.Mas vós negastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homem homicida.

15.E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dos mortos, do que nós somos testemunhas.

16.E, pela fé no seu nome, fez o seu nome fortalecer a este que vedes e conheceis; e a fé que é por ele deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde.

17.E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes.

18.Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado: que o Cristo havia de padecer.

19.Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor.

INTRODUÇÃO

A pregação fiel do Evangelho é uma das marcas mais evidentes de uma igreja verdadeiramente comprometida com Cristo e com as Escrituras Sagradas. Desde os primeiros dias da Igreja de Jerusalém, vemos os apóstolos proclamando, com ousadia e autoridade espiritual, a mensagem central do cristianismo: Jesus Cristo é o Messias prometido, morto e ressuscitado, e por meio dEle há perdão e salvação para todo o que crê.

Em Atos 3, a segunda pregação de Pedro não apenas confirma a fidelidade doutrinária da igreja primitiva, mas também destaca os elementos essenciais da verdadeira evangelização: exaltação de Cristo, chamado ao arrependimento e esperança em tempos de refrigério espiritual. Essa passagem mostra que a eficácia da igreja não está em estratégias humanas, mas na ação do Espírito Santo por meio de homens e mulheres comprometidos com a Palavra.

Assim, esta lição nos convida a refletir sobre o lugar da pregação bíblica em nossas igrejas e sobre o tipo de mensageiros que temos sido diante de um mundo que precisa urgentemente ouvir a verdade genuína do Evangelho.

I-A IGREJA QUE PREGA AS ESCRITURAS

1. As Escrituras revelam Deus

A cura do coxo junto a Porta Formosa (Atos 3:1-10) não foi apenas um milagre de natureza física, mas também uma poderosa abertura para a proclamação do Evangelho. O impacto público desse milagre foi inegável, pois o homem curado era conhecido de todos — um coxo de nascença, com mais de 40 anos, visto diariamente à entrada do templo. Sua restauração instantânea e completa não podia ser explicada senão pelo poder sobrenatural de Deus. Esse sinal serviu como confirmação visível da autoridade do nome de Jesus e como introdução providencial à pregação apostólica.

O apóstolo Pedro, sensível à direção do Espírito Santo, aproveitou a comoção causada pelo milagre para proclamar a mensagem de Cristo. Como no dia de Pentecostes, ele não se deixou levar pela emoção do momento, nem buscou glória pessoal. Ao contrário, desviou o foco do milagre em si e apontou o povo para Jesus Cristo — o Filho de Deus, rejeitado pelos homens, mas exaltado pelo Pai. Sua pregação, mais uma vez, foi profundamente cristocêntrica e fundamentada nas Escrituras.

Pedro demonstra que o evangelho não é uma novidade dissociada da revelação anterior, mas o cumprimento das promessas veterotestamentárias. Ele cita diretamente Deuteronômio 18:15-19 e Gênesis 22:18, e alude a textos como Salmos 22 e Daniel 9:26 para mostrar que Jesus é o Messias prometido, o Servo Sofredor que havia de vir. Com isso, Pedro ensina que as Escrituras revelam o agir de Deus na história e têm sua culminação em Cristo.

O crescimento da Igreja primitiva estava, portanto, diretamente atrelado à pregação bíblica, que expunha com clareza a revelação de Deus, centrada em Cristo. Esse padrão bíblico permanece válido até hoje: uma igreja saudável cresce espiritualmente e numericamente quando sua pregação é fundamentada na Palavra de Deus e conduz as pessoas à revelação de quem Deus é, do que Ele fez em Cristo e do que exige de nós em resposta.

2. As Escrituras testemunham de Jesus

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” (João 5:39).

A centralidade de Jesus nas Escrituras é uma verdade essencial para a fé cristã e para a pregação bíblica. O próprio Cristo declarou, em João 5:39, que as Escrituras testificam dEle. Isso significa que desde o Gênesis até o Apocalipse, a Bíblia aponta para a pessoa e a obra redentora de Jesus. A revelação progressiva de Deus nas Escrituras culmina na encarnação do Verbo. Como afirmou F. F. Bruce, as Escrituras têm o poder de conduzir o ser humano à salvação, mas essa salvação só se realiza plenamente pela fé em Cristo — a figura central da história da redenção.

Pedro, em sua pregação após a cura do coxo (Atos 3:12-26), dá continuidade ao padrão hermenêutico iniciado por Jesus com os discípulos no caminho de Emaús (Lc.24:27). Ele mostra que a morte de Jesus, ainda que tenha sido fruto da ignorância humana, cumpriu perfeitamente o plano divino revelado pelos profetas. A rejeição, os sofrimentos e a glorificação do Messias foram previstos nas Escrituras. Pedro cita diretamente textos como Deuteronômio 18:15-19, onde Moisés fala do Profeta que Deus levantaria, e Gênesis 22:18, que aponta para a bênção de todas as nações por meio da descendência de Abraão.

John Stott observa com precisão que conhecer o Cristo verdadeiro requer um retorno às Escrituras — elas são como o retrato inspirado que o Pai nos deixou de seu Filho, colorido pela ação iluminadora do Espírito Santo. Desse modo, ignorar as Escrituras é, inevitavelmente, ignorar a Cristo.

A pregação apostólica era, portanto, profundamente bíblica e cristocêntrica. Não se tratava de discursos motivacionais ou de opiniões humanas, mas da exposição fiel das Escrituras que apontavam, explicavam e exaltavam Jesus como o cumprimento das promessas divinas. Esse é o modelo que a igreja deve seguir hoje: pregar Cristo a partir das Escrituras, revelando que toda a Bíblia converge para Ele, o Salvador e Senhor.

3. As Escrituras confrontam o pecado

“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (Atos 3:19).

A verdadeira pregação bíblica não apenas consola, mas também confronta. Ela ilumina a condição pecaminosa do ser humano e aponta o caminho da redenção. No sermão de Pedro registrado em Atos 3:19, ele convoca um povo profundamente religioso — conhecedor da Lei e assíduo nos rituais sagrados — ao arrependimento e à conversão. Isso nos ensina que religiosidade, por si só, não salva. É necessário nascer de novo (João 3:3,5).

Pedro afirma: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados”. A palavra “arrependei-vos” implica uma mudança de mente e coração, enquanto “convertei-vos” sugere uma mudança de direção — abandonar o velho modo de vida e voltar-se totalmente para Deus. Essa dupla resposta à mensagem do Evangelho resulta no perdão dos pecados e na experiência dos “tempos de refrigério pela presença do Senhor”.

A pregação cristocêntrica dos apóstolos não omitia a doutrina do pecado, nem suavizava sua gravidade. Antes, proclamava que todos — inclusive os mais religiosos — estavam perdidos sem arrependimento. Pedro mostra que a cruz de Cristo é o ponto onde se encontram a soberania de Deus e a responsabilidade humana (Atos 2:23; 3:17,18).

Nos dias atuais, muitas mensagens omitem a necessidade de arrependimento, buscando apenas entreter ou agradar os ouvintes. No entanto, a pregação que não confronta o pecado é incompleta e ineficaz espiritualmente. O modelo apostólico é claro: sem arrependimento e conversão, não há perdão nem salvação. A igreja fiel às Escrituras deve resgatar essa verdade essencial.

O QUE APRENDEMOS NESTE TÓPICO I

1. A Igreja que prega as Escrituras revela Deus:

  • O milagre da cura do coxo (Atos 3:1-10) não foi apenas um ato de compaixão, mas uma oportunidade para proclamar o Evangelho.
  • Pedro usou o milagre para apontar para Jesus, não para si mesmo.
  • A pregação foi fundamentada nas Escrituras do Antigo Testamento, mostrando que Jesus é o cumprimento das promessas de Deus.
  • A igreja cresce espiritualmente e numericamente quando sua pregação é centrada em Cristo e baseada na Bíblia.

👉 Lição: A Palavra de Deus revela quem Ele é, o que fez em Cristo e o que espera de nós.

2. As Escrituras testemunham de Jesus:

  • Jesus afirmou que toda a Bíblia testifica dEle (João 5:39).
  • Desde Gênesis até Apocalipse, a Bíblia aponta para a pessoa e obra de Cristo.
  • Pedro, como Jesus no caminho de Emaús, interpretou as Escrituras mostrando que a morte e ressurreição de Cristo estavam previstas.
  • Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo, pois elas são o retrato fiel do Salvador.

👉 Lição: Toda pregação fiel deve ser cristocêntrica — Jesus é o centro da Bíblia.

3. As Escrituras confrontam o pecado:

  • A pregação bíblica não apenas consola, mas confronta o pecado e chama ao arrependimento (Atos 3:19).
  • Pedro pregou a necessidade de arrependimento e conversão até mesmo aos religiosos.
  • Arrependimento = mudança de mente e coração.
    Conversão = mudança de direção.
  • Sem arrependimento, não há perdão nem salvação.

👉 Lição: Uma igreja fiel à Bíblia não suaviza o pecado, mas proclama a necessidade de arrependimento e transformação.

II-A IGREJA QUE PREGA NO PODER DO ESPÍRITO SANTO

1. O Espírito capacita o mensageiro

A pregação apostólica registrada em Atos 3 revela que o poder do Espírito Santo não apenas operava sinais e maravilhas por meio dos apóstolos, mas também capacitava e ungia os mensageiros com ousadia, discernimento e autoridade espiritual. Quando o texto diz que Pedro “fitou os olhos” no homem coxo (Atos 3:4), utiliza o verbo grego “atenízō”, que é frequentemente usado em contextos onde há uma percepção espiritual intensificada — momentos em que o mensageiro divinamente inspirado reconhece algo que vai além do aparente.

Esse mesmo termo é empregado em outros episódios de Atos, como em Listra (Atos 14:9), quando Paulo discerne a fé para a cura no coração do paralítico, e em Atos 13:9, quando o apóstolo confronta Elimas, o mágico, com autoridade espiritual. Essas ocorrências revelam que o olhar fixo é mais do que uma simples observação: é uma ação guiada pela direção do Espírito Santo.

No caso de Pedro, vemos que o Espírito não apenas o capacitou para realizar o milagre, mas também o ungiu para proclamar a verdade com clareza e ousadia. Ele discerniu a ocasião, viu a oportunidade e, no poder do Espírito, anunciou Cristo como o único Salvador. Isso nos ensina que uma pregação eficaz não é fruto apenas de eloquência ou preparação intelectual, mas da capacitação sobrenatural que vem do Espírito de Deus. Pregar, portanto, não é um ato meramente humano, mas uma ação espiritual em que o mensageiro deve estar cheio do Espírito Santo para comunicar, com poder e autoridade, as verdades eternas da Palavra de Deus.

2. “Olha para nós” (Atos 3:4)

Eram três horas da tarde, prestes a começar uma reunião de oração no templo. Pedro e João estavam passando, quando o paralítico lhes pediu uma esmola. Juntamente com João, Pedro fitou o paralitico e lhe disse: “olha para nós”. O pedido de Pedro ao paralítico — “Olha para nós” — desafia diretamente uma ideia comum na espiritualidade contemporânea: a de que os cristãos não devem atrair atenção para si, mas apenas para Jesus. No entanto, o gesto de Pedro não é arrogante, nem egocêntrico; pelo contrário, é expressão de autoridade espiritual e coerência de vida. Pedro e João sabiam que representavam Cristo — não apenas em palavras, mas em testemunho e poder. Por isso, podiam dizer com segurança: “Olhe para nós”.

A igreja precisa resgatar essa coragem moral e espiritual. A geração atual está saturada de discursos religiosos desconectados da prática. Jesus já havia denunciado a incoerência dos fariseus, que ensinavam corretamente, mas viviam em contradição com o que pregavam (Mt.23:3). O mesmo alerta permanece atual. O mundo espera ver Cristo nos cristãos. Como afirmou o apóstolo Paulo: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co.11:1).

Somos chamados a ser “cartas vivas de Cristo” (2Co.3:2), cuja vida traduz fielmente a mensagem do Evangelho. A declaração de Mahatma Gandhi ainda ecoa com tristeza: “No vosso Cristo eu creio, só não creio no vosso cristianismo”. Isso revela a tragédia de um cristianismo que fala de amor, mas age com indiferença; que proclama a verdade, mas vive na incoerência.

“Olha para nós” é um desafio para a igreja de hoje: pais, filhos, líderes, empregados, patrões — todos nós devemos viver de forma que possamos ser dignos de ser observados. Mais do que um chamado à visibilidade, é um clamor por autenticidade. A verdadeira pregação é encarnada na vida de quem a anuncia. Assim, o mundo poderá ver em nós a presença viva de Cristo.

3. O Espírito glorificará a Jesus

Jesus foi claro ao afirmar que o Espírito Santo não falaria de Si mesmo, mas glorificaria a Ele (João 16:14). Essa é uma das marcas inequívocas da atuação genuína do Espírito: exaltar a Cristo. O verdadeiro mover espiritual não busca autopromoção nem faz do homem o centro, mas revela a majestade de Jesus. É exatamente isso que vemos em Atos 3, após a cura do paralítico na Porta Formosa. O apóstolo Pedro, cheio do Espírito, rejeita veementemente qualquer glória pessoal: “Por que olhais para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?” (Atos 3:12).

Pedro sabia que o milagre não era produto de seu carisma ou espiritualidade, mas da autoridade do nome de Jesus Cristo. Ele se recusou a ser exaltado pela multidão e imediatamente redirecionou a atenção de todos ao verdadeiro autor do milagre: Cristo glorificado. Essa postura revela a integridade espiritual de quem anda no Espírito — alguém que entende que é apenas um canal, e não a fonte do poder.

Em contraste, Atos 8 apresenta Simão, o mágico de Samaria, que gostava de ser chamado de “o grande poder de Deus” e buscava notoriedade por meio de sinais. Sua atitude serve de alerta para os que hoje tentam apropriar-se da glória que pertence somente ao Senhor. Em muitos ambientes, milagres são exibidos como espetáculos, usados para autopromoção ou para construir reputações, em desacordo total com o padrão bíblico.

O Espírito Santo não está à serviço da vaidade humana. Ele glorifica a Jesus, exalta Sua cruz, e honra Seu nome. A igreja fiel deve rejeitar qualquer forma de culto à personalidade e manter-se centrada em Cristo. Onde há verdadeiro mover do Espírito, há humildade, reverência e glória unicamente para Jesus. Essa é a marca da pregação autêntica e da igreja que vive no poder do Espírito.

O QUE APRENDEMOS NESTE TÓPICO II

1. O Espírito Santo capacita o mensageiro:

  • A pregação eficaz não depende apenas de preparo intelectual, mas da unção e direção do Espírito Santo.
  • O verbo “atenízō” (Atos 3:4) indica uma percepção espiritual profunda — Pedro viu além do físico, discernindo o agir de Deus.
  • O Espírito Santo capacita com ousadia, discernimento e autoridade espiritual para proclamar a verdade com clareza.
  • Pregar é um ato espiritual: o mensageiro precisa estar cheio do Espírito para comunicar com poder.

👉 Lição: O pregador não fala por si, mas como instrumento do Espírito — com discernimento e autoridade que vêm do alto.

2. “Olha para nós” — um chamado à autenticidade:

  • Pedro e João não pediram atenção por vaidade, mas porque viviam de forma coerente com o Evangelho.
  • A frase “olha para nós” revela autoridade espiritual e integridade de vida.
  • O mundo precisa ver Cristo refletido nos cristãos — não apenas ouvir sobre Ele.
  • A incoerência entre discurso e prática afasta as pessoas da fé. A vida do cristão deve ser uma “carta viva” de Cristo (2Co.3:2).

👉 Lição: A pregação mais poderosa é aquela que é vivida. O mundo precisa ver Jesus em nós — com autenticidade e coerência.

3. O Espírito glorifica a Jesus:

  • O Espírito Santo não busca exaltar o pregador, mas glorificar a Cristo (João 16:14).
  • Pedro rejeitou qualquer glória pessoal e apontou para Jesus como o autor do milagre (Atos 3:12).
  • O verdadeiro mover do Espírito é marcado por humildade, reverência e centralidade de Cristo.
  • Em contraste, Simão, o mágico (Atos 8), buscava fama e poder — um exemplo do que a igreja deve evitar.

👉 Lição: Onde o Espírito Santo está agindo de verdade, Jesus é exaltado — não o homem. A glória pertence somente a Ele.

III-A IGREJA QUE PREGA A ESPERANÇA VINDOURA

1. Alerta a uma sociedade indiferente e insensível

Na sua segunda pregação, registrada em Atos 3, o apóstolo Pedro continua a denunciar o estado espiritual da sua geração. Se em Atos 2 ele a classificou como “perversa” (Atos 2:40), agora ele a chama de “ignorante” (Atos 3:17), revelando que além da corrupção moral, havia também cegueira espiritual. Essa combinação — perversidade e ignorância — é típica de uma sociedade que perdeu a sensibilidade para com Deus. Trata-se de um povo religioso, mas espiritualmente alheio, que rejeitou o próprio Autor da vida. Tal quadro se assemelha à realidade contemporânea: vivemos em uma cultura saturada de informações, mas carente de revelação; envolta em religiosidade, mas distante de Deus.

Pedro não suaviza a verdade. Ele expõe o erro com amor e ousadia, chamando ao arrependimento uma geração sem rumo e sem esperança (cf. 1Ts.4:13). A frieza espiritual e a indiferença à verdade são marcas de um povo que vive como se Deus não existisse (1Ts.4:5). Por isso, a igreja fiel tem a responsabilidade de confrontar esse estado com a mensagem do Evangelho. Onde há insensibilidade, é necessário proclamar a cruz; onde há ignorância, é necessário ensinar a verdade; e onde reina a desesperança, é urgente anunciar que há esperança viva em Cristo Jesus.

2. Uma exigência clara (Atos 3:19a)

“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados...”.

A mensagem de Pedro em Atos 3:19a é direta e inegociável: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos”. Ele não está falando a um grupo de pagãos ignorantes das Escrituras, mas a uma audiência profundamente religiosa — pessoas familiarizadas com a Lei, com os rituais do templo e com os profetas. No entanto, essa religiosidade formal não foi suficiente para livrá-los da condenação. Pedro os confronta com uma verdade contundente: sem arrependimento e conversão, não há salvação.

O verbo “arrepender-se” (gr. metanoeō) implica mudança de mente e atitude. Já “converter-se” (gr. epistrephō) comunica a ideia de um retorno deliberado, um redirecionamento de vida — abandonar o pecado e voltar-se a Deus com fé e obediência. Pedro une esses dois termos para deixar claro que o Evangelho exige uma transformação integral: mente, coração e conduta. O arrependimento não é apenas um sentimento de culpa, mas uma resposta ativa à graça de Deus, resultando no cancelamento dos pecados (cf. Atos 3:19).

Esse chamado urgente de Pedro ecoa o próprio ensino de Jesus (Mc.1:15) e revela que a salvação não se alcança por herança religiosa, moralidade ou boas intenções, mas por uma experiência pessoal e transformadora com Deus. Em nossos dias, essa mensagem permanece essencial — especialmente diante de púlpitos que muitas vezes suavizam a pregação, substituindo o arrependimento por motivação emocional ou promessas de sucesso.

Pedro também reafirma a tensão teológica entre a soberania divina e a responsabilidade humana (Atos 3:17,18), mostrando que, embora a morte de Cristo fosse parte do plano de Deus, os ouvintes tinham culpa e deveriam responder com arrependimento. O Evangelho bíblico não é uma sugestão: é um chamado ao quebrantamento, à renúncia do pecado e à rendição a Cristo.

3. A promessa da Segunda Vinda de Jesus Cristo (Atos 3:19b)

“...e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor”.

Após chamar ao arrependimento e anunciar o cancelamento dos pecados, o apóstolo Pedro proclama uma gloriosa promessa: “e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (Atos 3:19b). Essa expressão aponta para a futura restauração plena que será consumada na segunda vinda de Cristo. A palavra grega traduzida como "refrigério" (anápsychis), que ocorre unicamente neste texto no Novo Testamento, evoca uma imagem de alívio, descanso e renovação — uma antecipação da paz messiânica prometida pelos profetas.

Ralph Earle observa que este termo remete à época messiânica de alegria e repouso — não apenas a um alívio momentâneo, mas à restauração final de todas as coisas, mencionada explicitamente em Atos 3:21. É a grande época de alegria e repouso, que será trazida pela vinda do Messias na sua glória. Essa esperança não é genérica nem utópica: ela está centrada na pessoa e na obra de Jesus Cristo, o profeta prometido por Moisés (Dt.18:15) e anunciado por todos os profetas desde Samuel. Ele é o descendente de Abraão por meio de quem todas as nações seriam abençoadas (Gn.12:3; cf. Gl.3:16).

Pedro conclui sua mensagem com uma aplicação poderosa e contextual: seus ouvintes eram herdeiros das promessas e da aliança com Abraão. Mas a bênção só poderia ser experimentada por meio da fé e do rompimento com o pecado. A recusa em ouvir e obedecer ao Cristo enviado traz, não refrigério, mas juízo (cf. Hb.2:2-4; 10:28,29).

Assim, Pedro conecta o presente chamado ao arrependimento com a esperança escatológica: não há refrigério, restauração nem salvação, sem arrependimento verdadeiro. A Segunda Vinda de Cristo é a consumação dessa promessa — uma realidade futura que exige hoje uma resposta imediata.

O QUE APRENDEMOS NESTE TÓPICO III

1. A Igreja alerta uma sociedade indiferente e insensível:

  • Pedro denuncia a geração de sua época como “perversa” e “ignorante” — moralmente corrompida e espiritualmente cega.
  • Essa realidade se repete hoje: muita religiosidade, mas pouca sensibilidade espiritual.
  • A igreja tem a missão de confrontar essa indiferença com a verdade do Evangelho.
  • Onde há frieza, proclama-se a cruz; onde há ignorância, ensina-se a verdade; onde há desespero, anuncia-se a esperança em Cristo.

👉 Lição: A igreja fiel não se cala diante da insensibilidade espiritual — ela proclama com ousadia a esperança que há em Jesus.

2. A mensagem do evangelho exige arrependimento (Atos 3:19a):

  • Pedro prega a um povo religioso, mas perdido — mostrando que sem arrependimento e conversão, não há salvação.
  • Arrependimento (metanoeō) = mudança de mente e atitude.
    Conversão (epistrephō) = mudança de direção, retorno a Deus.
  • A salvação é uma transformação completa: mente, coração e conduta.
  • A mensagem de Pedro ecoa o ensino de Jesus: o Evangelho exige resposta, não apenas escuta.

👉 Lição: A esperança futura só é acessível por meio de arrependimento e conversão genuínos — não por religiosidade ou boas intenções.

3. A Promessa da Segunda Vinda de Cristo (Atos 3:19b–21):

  • “Tempos de refrigério” apontam para a restauração final na volta gloriosa de Jesus.
  • A palavra “refrigério” (anápsychis) transmite alívio, descanso e renovação — a paz messiânica prometida.
  • Essa esperança não é vaga: está centrada em Cristo, o Messias prometido desde Moisés e os profetas.
  • A bênção da promessa só se realiza por meio da fé e da obediência. Rejeitar a Cristo é rejeitar o refrigério e atrair juízo.

👉 Lição: A esperança cristã é escatológica — olhamos para a volta de Cristo com fé, mas respondemos hoje com arrependimento e fidelidade.

CONCLUSÃO

A Igreja verdadeira não pode se desviar de sua missão central: anunciar com fidelidade o Evangelho de Cristo. A pregação apostólica em Atos 3 nos ensina que a mensagem deve ser fundamentada nas Escrituras, proclamada no poder do Espírito Santo e carregada da viva esperança na segunda vinda de Jesus. Essa pregação confronta o pecado, exalta a Cristo e convoca os ouvintes ao arrependimento e à conversão. Em um tempo de tantas distorções e distrações, a Igreja precisa manter-se firme na proclamação pura, corajosa e ungida do Evangelho, que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Que sejamos, como Pedro e João, instrumentos fiéis da Palavra que transforma vidas e conduz os perdidos à esperança eterna.

 

Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.

Dicionário VINE.CPAD.

O Novo Dicionário da Bíblia. VIDA NOVA.

Rev. Hernandes Dias Lopes. Atos. A ação do Espírito Santo na vida da Igreja. Hagnos.

Ralph Earle. Livro dos Atos do Apóstolos.

John Stott. A Mensagem de Atos – Até os Confins da Terra. ABU.

domingo, 6 de julho de 2025

A IGREJA DE JERUSALÉM: UM MODELO A SER SEGUIDO

         3º Trimestre/2025

SUBSÍDIO PAA A LIÇÃO 02

Texto Base: ATOS 2:1-14

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (Atos 2:42).

Atos 2:

1.Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;

2.e, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados.

3.E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles.

4.E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.

5.E em Jerusalém estavam habitando judeus, varões religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu.

6.E, correndo aquela voz, ajuntou-se uma multidão e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua.

7.E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! Não são galileus todos esses homens que estão falando?

8.Como pois os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?

9.Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, e Judeia, e Capadócia, e Ponto, e Ásia,

10.e Frígia, e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos (tanto judeus como prosélitos),

11.e cretenses, e árabes, todos os temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus.

12.E todos se maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto dizer?

13.E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto.

14.Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a voz e disse-lhes: Varões judeus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras. 

INTRODUÇÃO

A Igreja de Jerusalém, nascida no poder do Espírito Santo no dia de Pentecostes, constitui o primeiro retrato visível da comunidade cristã no Novo Testamento. Mais do que um marco histórico, ela tornou-se o modelo paradigmático da verdadeira Igreja de Cristo: fundamentada na doutrina dos apóstolos, perseverante na comunhão fraterna, comprometida com a oração e fiel nos atos litúrgicos, como o batismo e a Ceia do Senhor (Atos 2:42).

Essa igreja não apenas crescia numericamente, mas desenvolvia-se espiritualmente, refletindo uma fé viva e operante. Sua piedade era prática, expressa em atos de generosidade, serviço mútuo e no temor do Senhor. Era uma igreja que vivia a fé com simplicidade de coração, marcada por uma espiritualidade profunda e contagiante, capaz de impactar a sociedade ao redor.

Estudar a Igreja de Jerusalém é olhar para as raízes do cristianismo apostólico e perceber que sua estrutura e valores continuam sendo o referencial para a Igreja de todos os tempos. Ao analisarmos seus princípios e práticas, somos desafiados a recuperar a essência da vida cristã comunitária, pautada na Palavra, no poder do Espírito e na comunhão genuína dos servos de Deus.

I-UMA IGREJA COM SÓLIDOS ALICERCES

1. Uma Igreja com fundamento doutrinário

A Igreja de Jerusalém distinguia-se por sua firmeza doutrinária. Logo após o Pentecostes, Lucas afirma que os crentes “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (Atos 2:42), evidenciando que a comunidade cristã nascente estava ancorada na instrução apostólica, que por sua vez provinha diretamente dos ensinos de Jesus (cf. Mt.28:20; João 14:26). Essa doutrina não era resultado de especulação humana, mas de revelação divina transmitida por homens que haviam sido testemunhas oculares da vida, morte, ressurreição e ascensão de Cristo (Atos 1:21,22).

Essa perseverança na doutrina não era apenas intelectual, mas prática e vivencial. A verdadeira doutrina apostólica não se restringe à ortodoxia (doutrina correta), mas conduz à ortopraxia (vida correta), refletindo-se em transformação de caráter, santidade e fidelidade a Cristo. Por isso, a doutrina não era vista como mero conteúdo teológico, mas como fundamento da vida cristã (Ef.2:20).

Assim, a Igreja de Jerusalém mostra que não há vida cristã sólida sem instrução bíblica sólida. Uma igreja genuinamente cristã é aquela que permanece fiel ao ensino apostólico, interpreta as Escrituras com responsabilidade e forma discípulos que vivem de maneira digna do evangelho (Fp.1:27). O crescimento espiritual e moral da igreja está diretamente ligado à profundidade do seu ensino.

2. Perseveravam na doutrina dos apóstolos (Atos 2:42)

A ênfase de Lucas em Atos 2:42, ao afirmar que os primeiros cristãos “perseveravam na doutrina dos apóstolos”, revela a centralidade do ensino contínuo e fiel como marca distintiva da Igreja primitiva. A palavra “doutrina” traduz o termo grego “didachḗ”, que significa “ensino”, “instrução” ou “conteúdo transmitido com autoridade”. Este termo aponta não apenas para uma transmissão de informações, mas para um processo formativo, um discipulado intencional.

Essa perseverança na doutrina implicava mais do que ouvir sermões — envolvia praticar e guardar os ensinamentos apostólicos, que por sua vez eram eco fiel dos ensinamentos de Cristo (João 17:8; Mt.28:20). Discipulado, nesse contexto, não era opcional nem superficial. Era um estilo de vida, no qual cada crente aprendia, vivia e ensinava a fé recebida. Os apóstolos, como mestres formados diretamente por Jesus, eram o elo entre o Mestre e a nova comunidade da fé.

Portanto, perseverar na doutrina era também perseverar no discipulado. Uma igreja bem doutrinada é uma igreja que se edifica sobre fundamentos sólidos (cf. Ef.2:20), permanece unida na verdade (João 17:17-21) e reproduz discípulos maduros (2Tm.2:2). Quando esse processo se rompe — quando a igreja não é discipulada nem discipula — há uma perda de identidade e missão. Por isso, uma das tragédias espirituais da igreja contemporânea é a negligência do ensino bíblico sólido e do discipulado relacional.

A Igreja de Jerusalém é, portanto, modelo de uma comunidade que compreendia que não há crescimento espiritual sem comprometimento com o ensino. Ensinar, aprender e viver a Palavra de Deus era parte da cultura daquela igreja — uma herança que a Igreja de Cristo deve preservar em todas as gerações.

3. Uma igreja relacional e piedosa

A Igreja de Jerusalém é descrita em Atos 2:42 como uma comunidade que “perseverava na comunhão” (koinonía), termo grego que denota compartilhamento profundo, participação mútua e vínculos fraternos autênticos. Essa comunhão não era superficial nem meramente social; tratava-se de uma vida em comum moldada pelo Espírito Santo, onde os crentes estavam verdadeiramente comprometidos uns com os outros (Atos 2:44-46). Perseverar na comunhão significava cultivar intencionalmente relacionamentos marcados pelo amor, pela mutualidade e pelo serviço cristão (Rm.12:10, Gl.6:2).

Sem essa dimensão relacional, a vida da igreja se torna estéril e mecânica. A comunhão cristã é um antídoto contra o individualismo e o ativismo vazio. Na Igreja de Jerusalém, havia o calor humano da família da fé, onde ninguém era um espectador, mas todos viviam como membros do mesmo Corpo (1Co.12:25-27).

Além disso, essa mesma igreja era profundamente piedosa, ou seja, comprometida com a vida de oração. A oração não era um apêndice de sua espiritualidade, mas seu pulmão espiritual. Atos nos mostra uma comunidade que orava em conjunto (Atos 1:14; 2:42), que se reunia no templo para orar (Atos 3:1), que buscava direção por meio da oração (Atos 4:31; 13:2,3) e que intercedia com fervor em tempos de crise (Atos 12:5,12).

A espiritualidade da Igreja de Jerusalém estava alicerçada em dois pilares inseparáveis: relacionamentos saudáveis e vida de oração constante. Uma igreja que persevera na comunhão sem oração tende à superficialidade; uma igreja que ora sem comunhão tende ao isolamento e ao misticismo desvinculado da prática cristã. A Igreja de Jerusalém vivia o equilíbrio: era relacional e piedosa, fraternal e devocional, comunitária e fervorosa. Esse modelo desafia a igreja atual a buscar uma espiritualidade encarnada, na qual a fé se expressa tanto no amor ao próximo quanto na busca sincera pela presença de Deus.

Sinopse I: UMA IGREJA COM SÓLIDOS ALICERCES

Este tópico apresenta a Igreja de Jerusalém como um modelo de comunidade cristã sólida, fundamentada em três pilares essenciais:

1. Uma igreja com fundamento doutrinário. A Igreja primitiva era firmemente alicerçada na doutrina dos apóstolos, que derivava diretamente dos ensinamentos de Jesus. Essa doutrina não era fruto de especulação, mas de revelação divina, transmitida por testemunhas oculares da vida e obra de Cristo. Mais do que conhecimento teológico, tratava-se de uma verdade vivida, que moldava o caráter e a conduta dos crentes. A fidelidade ao ensino apostólico era vista como indispensável para o crescimento espiritual e moral da igreja.

2. Perseveravam na doutrina dos apóstolos. A perseverança na doutrina (Atos 2:42) revela o compromisso contínuo com o discipulado. O termo grego didachḗ indica um ensino com autoridade, que forma e transforma. Na Igreja de Jerusalém, o discipulado era intencional e prático: os crentes aprendiam, viviam e transmitiam a fé. A ausência desse processo compromete a identidade e missão da igreja. Assim, uma igreja bem doutrinada é aquela que permanece firme na verdade, edifica discípulos maduros e mantém sua missão viva.

3. Uma igreja relacional e piedosa. Além do ensino, a Igreja de Jerusalém era marcada por relacionamentos profundos (koinonía) e uma vida de oração fervorosa. A comunhão cristã ia além do convívio social — era um compromisso mútuo de amor e serviço. A oração, por sua vez, era o centro da espiritualidade da igreja, sustentando sua unidade e direção. Essa combinação entre comunhão e piedade gerava uma espiritualidade equilibrada, onde fé e prática caminhavam juntas.

II-UMA IGREJA OBSERVADORA DOS SIMBOLOS CRISTÃOS

1. O Batismo

Na Igreja de Jerusalém, o batismo ocupava um lugar central como expressão visível e pública da fé em Cristo. Em resposta à pregação de Pedro no dia de Pentecostes, o batismo foi apresentado como parte essencial do processo de conversão: arrependimento, fé e obediência (Atos 2:38). O batismo cristão, instituído por Jesus (Mt.28:19; Mc.16:16), não era visto apenas como um ritual simbólico, mas como um ato de identificação com Cristo crucificado e ressuscitado, e uma declaração de que o batizado havia morrido para o pecado e renascido para uma nova vida (Rm.6:3,4).

Na igreja primitiva, o batismo era ministrado somente àqueles que haviam ouvido a Palavra, crido e se arrependido genuinamente. Ou seja, era reservado aos convertidos conscientes, que compreendiam o significado da fé em Cristo. Dessa forma, o batismo era, ao mesmo tempo, um selo da obra redentora de Deus e um testemunho diante da comunidade e do mundo. A prática constante e criteriosa do batismo mostra o compromisso da Igreja de Jerusalém com a obediência ao ensino de Jesus e com a preservação da integridade da fé cristã.

2. A Ceia do Senhor

A Ceia do Senhor, também conhecida como “partir do pão”, foi uma prática observada com reverência e frequência pela Igreja de Jerusalém (Atos 2:42). Essa expressão, embora também pudesse se referir a refeições comuns entre os crentes, no contexto do Novo Testamento e da tradição da Igreja, está diretamente ligada à ordenança instituída por Jesus na noite em que foi traído (Lc.22:19,20; 1Co.11:23-26).

Ao celebrar a Ceia, a igreja primitiva não apenas recordava a morte vicária de Cristo, mas também reafirmava sua fé no sacrifício redentor do Senhor e sua esperança na volta de Jesus (1Co.11:26). Era um momento de profunda comunhão com Cristo e com o corpo de crentes, em que os elementos — o pão e o cálice — simbolizavam o corpo partido e o sangue derramado do Salvador.

A igreja de Jerusalém, ao perseverar nessa prática, demonstrava sua fidelidade aos ensinamentos de Jesus e seu apego à centralidade da cruz. A Ceia não era um mero rito cerimonial, mas uma vivência espiritual constante que renovava a consciência da graça, unia os crentes e os chamava à santidade. Donald Gee, um dos principais mestres do pentecostalismo britânico, acerta ao destacar que a Ceia reconduz a igreja ao centro da fé cristã — o amor sacrificial de Deus revelado em Cristo. Ao celebrar a Ceia com simplicidade, frequência e piedade, a igreja primitiva revelava maturidade espiritual e devoção autêntica.

Sinopse II: UMA IGREJA OBSERVADORA DOS SÍMBOLOS CRISTÃOS

Este tópico destaca a importância dos “símbolos cristãos” na vida da Igreja de Jerusalém, evidenciando seu compromisso com a obediência a Cristo e a preservação da fé por meio de práticas visíveis e espiritualmente significativas.

1. O Batismo. Na Igreja primitiva, o batismo era mais que um rito simbólico — era uma expressão pública de fé, arrependimento e obediência a Cristo. Instituído por Jesus, o batismo representava a identificação do crente com a morte e ressurreição de Cristo, simbolizando o abandono do pecado e o início de uma nova vida. Era ministrado apenas àqueles que haviam crido e se arrependido genuinamente, funcionando como um selo da salvação e um testemunho diante da comunidade. A prática criteriosa do batismo refletia o zelo da igreja pela integridade doutrinária e pela fidelidade ao evangelho.

2. A Ceia do Senhor. A Ceia, ou “partir do pão”, era celebrada com reverência e frequência, como memorial da morte de Cristo e reafirmação da fé na sua obra redentora e na sua volta. Mais do que um ritual, era um momento de comunhão com Cristo e com os irmãos, onde os elementos — pão e cálice — simbolizavam o corpo e o sangue do Salvador. A prática da Ceia demonstrava a maturidade espiritual da igreja, sua devoção sincera e sua centralidade na cruz. Era uma vivência que renovava a consciência da graça e chamava os crentes à santidade e à unidade.

III-UMA IGREJA MODELO

1. Uma igreja reverente e cheia de dons

A igreja de Jerusalém era marcada por uma profunda reverência diante de Deus. Está escrito: “em cada alma havia temor” (Atos 2:43). O termo grego “phobos”, aqui traduzido como “temor”, não indica pavor ou medo irracional, mas uma atitude de profunda reverência e respeito diante do sagrado. Essa reverência fluía do reconhecimento consciente da presença ativa de Deus entre eles, o que gerava um ambiente de santidade e adoração autêntica.

Além disso, essa igreja era marcada pela manifestação dos dons espirituais. O texto de Atos afirma que “muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos” (Atos 2:43), indicando que o Espírito Santo confirmava o testemunho apostólico por meio de operações sobrenaturais. Esses “sinais” (sēmeia) e “maravilhas” (terata) não eram fins em si mesmos, mas testemunhos visíveis do poder de Deus atuando na nova comunidade, cumprindo o que o próprio Senhor Jesus prometera (Mc.16:17,18; João 14:12).

Paulo usa linguagem semelhante ao descrever seu ministério: “por virtude de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito de Deus” (Rm.15:19). Isso mostra que os dons espirituais não eram apenas uma marca dos apóstolos, mas uma operação contínua do Espírito Santo na vida da Igreja.

Portanto, a igreja de Jerusalém é modelo de equilíbrio entre reverência e poder, entre santidade e manifestação ativa do Espírito Santo na vida dos fiéis cristãos. Sua experiência nos ensina que uma igreja verdadeiramente cheia do Espírito Santo será ao mesmo tempo profundamente reverente e poderosamente capacitada pelos dons espirituais para o serviço e edificação mútua.

2. Uma Igreja acolhedora

A igreja de Jerusalém nos oferece um retrato vívido de uma comunidade genuinamente acolhedora e fraterna. O relato de Atos 2:44 — “todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum” — revela não apenas um senso de coletividade, mas um compromisso intencional com a inclusão, o cuidado mútuo e o amor prático. Essa convivência não era superficial, mas resultante da ação transformadora do Espírito Santo, que unia corações e quebrava barreiras sociais, culturais e econômicas.

O acolhimento, nesse contexto, não era apenas um gesto de simpatia ocasional, mas um estilo de vida moldado pela graça. Os novos convertidos, vindos de diversas regiões e contextos (cf. Atos 2:5-11), foram integrados a uma comunidade viva e receptiva. Aqueles que criam não apenas “estavam juntos” fisicamente, mas viviam em comunhão real, partilhando seus bens, tempo e afeto, como expressão concreta de amor cristão.

Esse espírito de hospitalidade e partilha desafiava os padrões da cultura individualista e exclusivista da época — e continua desafiando os de hoje. Ser uma igreja acolhedora implica abrir espaço para o outro, respeitar as diferenças, oferecer suporte emocional e espiritual, e refletir o caráter de Cristo, que acolhia a todos sem acepção de pessoas (Rm.15:7).

Portanto, a igreja de Jerusalém é modelo de uma comunidade que entende que a fé cristã é vivida não apenas verticalmente (com Deus), mas também horizontalmente (com o próximo). Acolher, nesse sentido, é mais do que recepcionar: é integrar, valorizar e amar ativamente cada irmão como parte do Corpo de Cristo.

3. Uma igreja adoradora

A igreja de Jerusalém era caracterizada por uma adoração vibrante, sincera e contínua: “louvando a Deus” (Atos 2:47). O verbo grego “aineō”, traduzido como “louvar”, não se refere apenas a palavras ou cânticos, mas a uma atitude de glorificação pública, espontânea e comunitária que brota de corações rendidos ao Senhor. Trata-se de uma expressão profunda de gratidão, reconhecimento e exaltação, usada em outros contextos bíblicos para descrever o louvor dos anjos no nascimento de Cristo (Lc.2:13) e a reação do paralítico curado em Atos 3:8,9.

Esse louvor não era circunstancial, mas resultado direto da ação transformadora do Espírito Santo na vida dos crentes. A adoração era uma resposta natural à nova vida em Cristo e à experiência do poder divino no meio da comunidade. Mais do que um rito ou momento litúrgico, o louvor tornava-se uma marca da espiritualidade da igreja primitiva, evidenciando um povo que reconhecia a soberania de Deus, celebrava sua salvação e vivia em contínua reverência à Sua presença.

É importante destacar que o verdadeiro louvor ultrapassa a musicalidade ou os atos externos. Ele nasce de uma vida rendida, de corações gratos e de uma consciência viva da graça e do amor de Deus. Louvar é, portanto, viver para a glória de Deus — com palavras, com atitudes e com o testemunho diário. A igreja de Jerusalém nos ensina que a adoração genuína é o centro da vida cristã: ela une os crentes, atrai os que estão de fora (Atos 2:47) e glorifica a Deus com poder e autenticidade.

Sinopse III: UMA IGREJA MODELO

Este tópico apresenta a Igreja de Jerusalém como um exemplo inspirador de comunidade cristã equilibrada, madura e cheia do Espírito Santo, destacando três marcas essenciais:

1. Uma Igreja reverente e cheia de dons. A reverência era uma característica marcante da igreja primitiva, expressa pelo “temor” (phobos) diante da presença de Deus. Esse respeito profundo gerava um ambiente de santidade e adoração sincera. Ao mesmo tempo, a igreja era rica em manifestações do Espírito Santo, com sinais e maravilhas realizados pelos apóstolos. Esses dons não eram fins em si mesmos, mas confirmações do poder de Deus e instrumentos para edificação da comunidade. A Igreja de Jerusalém revela o equilíbrio entre reverência e poder espiritual, entre santidade e ação sobrenatural.

2. Uma Igreja acolhedora. A comunhão entre os crentes era vivida de forma prática e intencional. Eles compartilhavam tudo, cuidavam uns dos outros e acolhiam os novos convertidos com amor e inclusão. Essa hospitalidade não era apenas uma formalidade, mas um estilo de vida moldado pela graça e pelo Espírito. A igreja superava barreiras sociais e culturais, refletindo o caráter de Cristo em sua vivência comunitária. Ser acolhedor, nesse contexto, significava integrar, valorizar e amar cada pessoa como parte do Corpo de Cristo.

3. Uma Igreja adoradora. A adoração era uma expressão constante e vibrante da espiritualidade da igreja. O louvor não se limitava a cânticos, mas era uma atitude de vida — uma resposta espontânea à graça de Deus. A igreja louvava com sinceridade, gratidão e reverência, reconhecendo a soberania divina e celebrando a salvação em Cristo. Essa adoração autêntica unia os crentes, atraía os de fora e glorificava a Deus com poder e verdade.

CONCLUSÃO

A Igreja de Jerusalém permanece como um referencial inspirador para a igreja contemporânea. Seu compromisso com a sã doutrina, a comunhão fraterna, a oração e a piedade revelam alicerces espirituais sólidos. Além disso, sua fidelidade aos símbolos cristãos — o batismo e a Ceia do Senhor — e seu modo de vida marcado pela reverência, acolhimento e adoração genuína mostram uma comunidade viva, cheia do Espírito Santo e comprometida com a missão do Reino. Ao seguirmos esse modelo, somos desafiados a cultivar uma fé autêntica, que se traduz em testemunho poderoso, vida em comunidade e constante busca pela presença de Deus.

 

Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.

Dicionário VINE.CPAD.

O Novo Dicionário da Bíblia. VIDA NOVA.

Rev. Hernandes Dias Lopes. Atos. A ação do Espírito Santo na vida da Igreja. Hagnos.

Ralph Earle. Livro dos Atos do Apóstolos.