domingo, 26 de fevereiro de 2017

Aula 10 - MANSIDÃO: TORNA O CRENTE APTO PARA EVITAR PELEJAS


1º Trimestre/2017

Texto Base: Efésios 4:1-7

“[…] que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade suportando-vos uns aos outros em amor” (Ef.4:1,2).

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos a respeito de mais uma virtude do Fruto do Espírito - a Mansidão, considerada por nós como uma das virtudes que está vinculada ao relacionamento com o nosso próprio eu, com aquilo que somos em nosso interior, pois isso representa o resultado da submissão do homem com Deus – e as Pelejas, obra da carne, que se opõe à brandura. A arrogância, assim como as pelejas, são obras da carne e quem as pratica não pode agradar a Deus, pois Ele abomina o altivo de coração (Pv.16:5). Na Palavra de Deus, os crentes são comparados a ovelhas, porque elas são animais dóceis, mansos e submissos ao pastor (João 10:14,15). Se você é ovelha de Jesus, então aprenda a ser manso e humilde. Ouça a voz do Bom Pastor.

 I. MANSIDÃO, O OPOSTO DA ARROGÂNCIA

Mansidão, mais que tudo, é uma das qualidades do Espírito Santo - "Mas o fruto do Espírito é: [...[ mansidão [...]" (Gl.5:22). O crente que é vestido do fruto de Mansidão é gentil no trato para com o próximo. Moisés revelava este traço de caráter em notável medida; e Jesus é o nosso paradigma superlativo; esta virtude foi uma das bases para Ele convidar homens e mulheres cansados e oprimidos e achar alívio e descanso nEle (Mt.11:28,29). Os mansos se humilham diante de Deus por reconhecerem sua total dependência dEle. Quando Deus tiver destruído todos os que em sua arrogância resistem à sua vontade, os mansos serão os únicos a herdar a Terra - "Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz" (Sl.37:11)

1. Mansidão não é covardia. A Mansidão caracteriza-se por uma atitude de brandura, de suavidade no que precisa ser feito, mas, de modo algum, significa o recuo, o medo que impede a tomada de atitudes. O crente deve ser alguém firme e pronto a testemunhar, com palavras e obras, a fé que tem em Cristo Jesus, sem que para isto precise ser ríspido, duro ou que venha maltratar o próximo. Enquanto é dito que os mansos herdarão a terra (Mt.5:5), também as Escrituras mostram que os tímidos, os covardes ficarão de fora da Nova Jerusalém (Ap.21:8). Ser manso não é ser covarde nem tímido. Muitos podem pensar que Paulo era um tanto rígido com os irmãos, mas ele era muito equilibrado. Quando era preciso usava de firmeza para com aqueles que, não querendo andar na verdade, desafiavam sua autoridade apostólica (1Co.4:21), mas, no trato com os crentes, era como uma paciente e amorosa ama (1Ts.2:7).

2. Ser manso é ser corajoso. Mansidão não é fraqueza, mas poder sob controle. Uma pessoa que não tem controle pessoal ou domínio próprio não é sábia. Mansidão é o uso correto do poder, assim como sabedoria é o uso correto do conhecimento. Ter um coração corajoso não significa que devemos ser duros e rudes. É possível ser delicado e forte ao mesmo tempo, e a chave é saber quando ser manso e quando ser forte. Precisamos ser mansos e dóceis para com as pessoas, mas corajosos, fortes e decididos com o diabo, porque é assim que ele é conosco. Moisés era manso, mas, ao mesmo tempo, demonstrou força e coragem (Nm.11:15; 12:3). Moisés, por quarenta anos liderou o povo através do deserto, com mãos firmes e fortes. Sem perder sua mansidão, fez uso, sempre que foi necessário, de sua autoridade e do poder que o Senhor Deus lhe outorgara. No entanto, dele está escrito: “E era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” (Nm.12:3).

Não poderíamos nos esquecer de José, que ocupando o segundo maior lugar, em poder, naquela época, teve em suas mãos aqueles que um dia o venderam como escravo. A vingança estava ao seu dispor. Poderia punir, com a morte, àqueles que lhe haviam feito grande mal. Porém, José, como homem de Deus, mostrou toda grandeza de sua mansidão, perdoando.

Jeremias era um forte proclamador das verdades divinas, mas disse que não passava de um manso cordeiro (Jr.11:19).

3. Mansidão não é acomodação. Os mansos não são passivos; são famintos e sedentos de justiça, e alimentam-se da indignação contra o mal. Por isso superam, resistem e vencem o mal (Rm.12:9-21); conseguem confrontar sem medo seus inimigos, mas podem também orar por eles. A ação dos mansos não depende da maneira como os outros agem. Para eles, preservar a integridade e a dignidade significa conservar seu próprio modo de agir, sem se deixar manipular pelo poder do mal.

4. A mansidão, fruto do Espírito. “Mas o fruto do Espírito é: ...mansidão...”. Assim, se “...o fruto do Espírito é...mansidão...”, segue-se ser ela parte integrante da natureza de Deus. Davi reconheceu esta verdade quando declarou: “Também me deste o escudo da tua salvação; a tua mão direita me susteve, e a tua mansidão me engrandeceu” (Salmo 18:35). Por isto, o Senhor Jesus podia dizer: “...aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração...” (Mt.11:29). Era um prazer enorme estar ao lado de Jesus. Estar ao lado de pessoas audazes, altivas, é muito difícil. Em geral, os altivos gostam de pelejas, pois acreditam que estão sempre com a razão e que são os donos da verdade.

Esta virtude do Fruto do Espírito ocorre no momento do Novo Nascimento, ou Regeneração; no momento do Novo Nascimento surge um novo homem, ou na expressão usada por Paulo, uma “nova criatura” (2Co.5:17). Esta “nova criatura” é feita em santidade, tornando-se a “morada” de Deus, na Pessoa do Espírito Santo – “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?...porque o templo de Deus, que sois vós, é santo” (1Co.3:16,17).

Assim, conforme temos aprendido, o Espírito Santo passa, não apenas a habitar, como também a trabalhar na vida do “novo homem”, formando nele o Seu Fruto. Na medida em que damos lugar ao Espírito Santo em nossa vida, Ele, através da formação do Seu Fruto, vai nos transmitindo as virtudes existentes em Deus, pois, que Ele é Deus. Desta forma o “novo homem” vai se tornando, mais e mais, parecido com Deus, visto que a Sua Imagem, apagada, ou desfigurada pela ação do pecado, vai, agora, sendo reconstruída, conforme a do original que foi criado à imagem e conforme a semelhança de Deus (Gn.1:26,27).

No seu sentido bíblico, mansidão é firmeza e retidão de caráter; é ter consciência de sua força, ou autoridade, permanecendo imperturbável quando se faz necessário fazer uso dela; é a capacidade de exigir o que é reto, o que é justo; é a coragem de fazer cumprir a força do direito, mesmo que seja necessário usar o direito da força.

Portanto, aqueles que conhecem Deus e Sua Palavra, sabem que não pode existir qualquer semelhança entre Mansidão e fraqueza, timidez, medo, subserviência, passividade, negligência, e outros sentimentos correlatos.

II. EVITANDO AS PELEJAS E CONTENDAS

“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: [...] pelejas, dissensões [...]” (Gl.5:20).

Todos são irmãos e, portanto, devem amar-se uns aos outros, não devem promover contendas, lutas e pelejas entre si, porque produzem o fruto do Espírito e não as obras da carne. A bênção do Senhor depende da existência de um ambiente de união entre os irmãos. O salmo 133 mostra com clareza esse fato: “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!  É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o SENHOR ordena a bênção e a vida para sempre”(Sl.133).

Este salmo revela que, somente num ambiente de união, o Espírito Santo atua plenamente; somente num ambiente de união, cada membro em particular do corpo de Cristo (figurado por Arão, o escolhido para o sacerdócio) se deixa envolver plenamente pelo Espírito Santo (figurado pelo azeite); somente num ambiente de união, o refrigério do Espírito Santo pode nos consolar e nos permitir, mesmo neste mundo de sequidão e necessidade, termos a paz, a alegria e o amor divinos (figurados pelo orvalho de Hermom); somente num ambiente de união, a Igreja prossegue vitoriosa para se encontrar com o seu Senhor nos ares, cheia de vida espiritual e abençoada nos lugares celestiais em Cristo (João 15:5,6; Ef.1:3), porque é no ambiente de união, e não de pelejas e contendas, que “…o Senhor ordena a vida e a bênção para sempre”.

Infelizmente, a união que deveria ser encontrada na Igreja nem sempre o é. As pessoas discordam e causam divisões, pelejas, por causa de assuntos sem importância. Alguns sentem prazer em causar tensão, depreciando e desacreditando outros. Mas a união é importante porque: (a) faz da igreja um exemplo para o mundo e ajuda a aproximar as pessoas do Senhor; (b) ajuda-nos a cooperar conforme a vontade de Deus, antecipando um pouco do gozo que teremos no Céu.

Viver em união não significa que concordaremos em tudo; haverá muitas opiniões, da mesma maneira que existem muitas notas em um acorde musical. Todavia, devemos concordar em nosso propósito na vida: trabalhar juntos para Deus. A união reflete a nossa concordância de propósitos.

III. BEM-AVENTURADOS OS MANSOS

1. O Sermão da Montanha. Encontramos nos capítulos 5 a 7 do Evangelho de Mateus os princípios estabelecidos por Jesus para todos os que querem fazer parte do Reino dos Céus. Um dos princípios do Mestre é a Mansidão (Mt.5:5) - “Bem-aventurado os mansos, porque eles herdarão a terra”. Jesus teve a ousadia de proferir esta Bem-Aventurança, numa época, e por que não dizer ainda hoje, em que ser manso era sinônimo de fraqueza, e a fraqueza não era uma virtude, mas, sim, um defeito. Nenhum homem gostaria de declarar ser manso. O mundo, de então, vivia sob a influência da cultura grega e sob o domínio dos romanos. Os gregos não teceram louros à força física, mas, também, não cultuaram a fraqueza. Exaltaram o poder da mente, da sabedoria, do sentido da beleza. Não erigiram nenhum altar à mansidão.

Os Romanos foram cultores do poder físico, da força bruta, do domínio dos fortes sobre os fracos. Formaram o exército mais poderoso do mundo e subjugaram todos os povos da terra. Os gladiadores eram os ídolos de Roma e os conquistadores seus verdadeiros deuses. Certamente que não poderia haver para eles algo mais abjeto do que a mansidão ou fraqueza. Pilatos governava a Judéia com vara de ferro, e, para Roma era um governador ideal.

Os Judeus, um povo rebelde, orgulhoso, não desprezava uma guerra; um povo que não se curvava. No entanto, sem qualquer possibilidade de reação estava subjugado pelo poderoso Império Romano. Os Judeus, contudo, alimentavam uma esperança, uma esperança na promessa bíblica da vinda do Messias. Todavia, a última coisa que eles poderiam desejar seria um Messias manso e exaltando o poder da mansidão. Esperavam, na verdade, um Messias guerreiro, conquistador, que os libertaria do jugo Romano, alguém semelhante ao grande rei Davi, que devolveria a glória à nação de Israel.

Portanto, mansidão era algo que os judeus não gostariam de ouvir; queriam poder tratar Roma e os romanos de acordo com os princípios da lei de Moisés: “olho por olho, dente por dente”. Assim, quando apareceu João Batista, pregando no deserto, um homem com aparência rude, que em nada se parecia com um homem manso, que tinha a coragem de apontar o dedo para o poderoso governador Herodes e denunciar seus erros, certamente que sua pregação avivou os ânimos do povo judeu. Ele anunciava a chegada do Reino predito pelos profetas, a restauração do trono de Davi. As multidões afluíam para ouvir aquele destemido e irreverente profeta, a “Voz do que clama no deserto” - “Então, ia ter com ele Jerusalém, e toda a Judéia, e toda a província adjacente ao Jordão” (Mt.3:5).

João Batista, contudo, deixava claro que ele não era o Messias – “E pregava, dizendo: após mim vem aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias” (Mc.1:7). O anúncio desse que seria mais forte do que João Batista, acendia em cada coração a esperança de glória e de liberdade. Eles sonhavam com um Messias guerreiro e com um reino político. Assim, quando apareceu Jesus, João o identificou como sendo aquele mais forte do que ele – “João testificou dele e clamou, dizendo: Este era aquele de quem eu dizia: o que vem depois de mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu” (João 1:15). É certo que a mensagem de João se espalhou rapidamente e, de todas as partes crescia o desejo de conhecer Jesus – “E seguia-o uma grande multidão da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia e dalém do Jordão” (Mt.4:25).

Jesus sabia qual era a grande aspiração do povo de Israel. Sabia que falar de mansidão era como jogar um balde de água fria no ânimo e na esperança de cada um. Alguém que desejasse ganhar o coração do povo, alguém que almejasse o poder, alguém que sonhasse com um trono e uma coroa, teria a devida cautela em não pronunciar as palavras manso e mansidão. Jamais os judeus iriam pensar na possibilidade de vencer e expulsar os Romanos usando a mansidão.

Na época, exaltava-se a força, a coragem. Mansidão era coisa dos fracos, era símbolo de fraqueza. Cultuava-se a bravura, enaltecia-se a violência. Falar de mansidão seria falar de brandura, de meiguice, de educação, de diplomacia. Era tudo que o judeu, naqueles dias vivendo sob o domínio Romano, não desejava ouvir.

Um homem de Deus tem que ter a coragem para decidir entre falar o que o povo quer ouvir, ou falar o que Deus quer que o povo ouça; entre defender seus ideais ou interesses imediatos, ou ficar na vocação em que foi chamado; entre assegurar o seu futuro, na terra, ou a sua eternidade, no céu.

Jesus deixou-nos o exemplo. É pena que muitos erram por não conhecerem a Palavra de Deus. É lamentável que outros erram, embora conhecendo, porém, não se dispondo a pagar o preço da obediência.

Jesus estava iniciando Seu Ministério. Certamente que, lá no deserto, Satanás tinha colocado diante dele o caminho plano e florido que leva o homem à glória terrena, e o caminho íngreme e espinhoso da Cruz que leva o homem a fazer a vontade de Deus.

Pela Bíblia sabemos que Jesus não se afastou jamais do cumprimento da missão para a qual ele fora enviado, conforme deixou bem claro em João 6:38: “Porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. Jesus começara Seu Ministério há tão pouco tempo, e já uma multidão O seguia – “Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos”(Mt.5:1).

Jesus sabia que a grande maioria não estava entendendo nada sobre Seu Reino e que seus pensamentos estavam postos nas coisas materiais e terrenas. Sabia que se falasse aquilo que o povo queria ouvir, o número cresceria cada vez mais, porém, ele estaria se afastando dos propósitos do Pai. Sabia que se falasse do Reino de Deus, do Reino Espiritual, sem promessas terrenas, teria que se contentar com um pequeno número de discípulos a segui-lo; pequeno, porém, consciente e fiel. Isto quer nos parecer que este drama, ou esta difícil escolha tem sido vivida pelas denominações e líderes evangélicos: encher os templos com grandes multidões, mesmo sabendo que estão ali por interesses materiais e terrenos, ou contentar-se com um número muito menor e com um crescimento lento e difícil, porém sabendo que aquelas pessoas estão ali, conscientes e lutando pelas coisas eternas e celestiais; bater muitas palmas e falar o mínimo possível da Palavra de Deus, ou fazer menos festas e pregar, e ensinar mais as doutrinas bíblicas. Entre estas opções, um homem de Deus, não perde tempo para pensar. Ele sabe como Jesus fez e é seu discípulo.

O Senhor Jesus estava determinado a ensinar ao povo as leis de Seu Reino – “E abrindo a boca, os ensinava, dizendo...” (Mt.5:2). Certamente que cada enunciado era como um jato de “água gelada” no ideal político e nos interesses materiais do povo. Ele contrariava tudo o que os romanos criam e usaram para erguer o maior império da época; ele frustrava os ideais de liberdade política de seu povo.

Corajoso, e decididamente não vacilou em declarar: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra”. É claro que muita gente se escandalizou com esta afirmação de Jesus. Imaginemos se algum soldado, ou algum oficial do exército romano tenha ouvido isto! Pensariam que Jesus não tinha qualquer noção de guerra e de conquistas. No entanto, o tempo e a história provaram que Jesus estava certo. O grande, poderoso, cruel e imbatível exército romano, estruturado sobre a força do homem, que abominava e desprezava os mansos, considerando-os fracos e indignos de viver, não pode sustentar por muito tempo o colossal império.

No ano 395 d.C., ele se dividiu em dois: em 476 d.C., caiu o Império Romano do Ocidente e em 1453, caiu o do Oriente. Do Império Romano que exaltava a força e o poder, só restaram ruínas. Porém, a Igreja, fundada por Jesus e que declarou “... ser manso e humilde de coração...”, e que no Sermão do Monte afirmou a bem-aventurança dos mansos; a Igreja que, através dos séculos cultivou a virtude da mansidão, esta Igreja viu a queda de todos os grandes e poderosos imperadores, a derrota do exército invencível, o esfacelamento do império. Esta Igreja, dirigida e composta por homens mansos, conquistou a Terra e fincou a bandeira ensanguentada de Cristo em todos os seus quadrantes. Esta Igreja prosseguirá invencível até o Dia do seu arrebatamento. Verdadeiramente são bem-aventurados os mansos.

2. Os mansos herdarão a Terra. Há uma recompensa para os mansos: “[…] eles herdarão a terra” (Mt.5:5). Jesus nunca pregou o mundo terreno e carnal, apesar dos benefícios adjacentes neste mundo; logo, aqui não poderia ser diferente. A Terra Prometida no Antigo Testamento estava associada à ideia de descanso, e no Novo Testamento a referência a terra diz de coisas melhores: do descanso de Deus e a Nova Jerusalém. O Manso não receberá como herança um hectare de terra, antes será herdeiro de novos céus e nova terra: "Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça" (2Pd.3:13 ); “E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo”  (Rm.8:17).

O Manso viverá eternamente com o Senhor na Nova Jerusalém (Ap.21:1-3), cujo lugar Ele foi preparar para nós (João 14:2,3). Esta Terra passará, mas não as palavras do Senhor (Mt.24:35), de modo que temos de concluir que a promessa dada aos mansos não diz respeito a esta Terra onde habitamos hoje, mas a uma herança eterna, incorruptível. Muitos poderão dizer que a terra prometida aos mansos seria a terra restaurada no reino milenial de Cristo, mas, em primeiro lugar, esta Terra, durante o milênio, não estará destinada à Igreja glorificada. Como se não bastasse, mesmo no milênio, teremos uma guerra, a última guerra de rebelião contra o Senhor, no final do milênio, de modo que também não é este o instante da “abundância de paz”, como afirma o salmista no Salmo 37:11. Portanto, Manso é alguém que procura a paz e faz o bem, e será coerdeiro em Cristo do Reino dos céus.

3. A Mansidão de Cristo. Jesus foi o exemplo maior de mansidão, dentre todos os homens. Vamos considerar aqui apenas dois dos exemplos deixados por Jesus.

a) O Senhor Jesus demonstrou sua mansidão condenando o uso da força física e das armas materiais. Mansidão e violência são duas coisas antagônicas. Pedro, que naquela última semana vira Jesus, no Templo, usar de toda sua autoridade e impor a ordem na Casa de Deus, pode ter pensado que ele fosse favorável ao uso da violência, ou da força física, contra seus inimigos. Foi assim que, no Jardim do Getsêmani, Pedro esqueceu-se da mansidão e “...estendendo a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha” (Mt.26:51). Pedro não havia, ainda, aprendido bem sobre o significado da mansidão. Ele não sabia que a mansidão não impede que um homem de Deus se transforme num gigante espiritual capaz de desprezar a própria vida quando movido pelo zelo de Deus, sentir a necessidade de fazer cumprir o que está escrito na Palavra de Deus. Foi o que aconteceu com Jesus, no Templo.

Porém, essa mesma mansidão é a virtude do Fruto do Espírito que faz com que um gigante espiritual se transforme num cordeiro, diante de seus “tosquiadores”. Assim, de acordo com o ensino de Jesus, o homem manso, por submissão completa ao seu Senhor, quando o “tosquiador” lhe tirar a “capa”, deve lhe entregar também a túnica, quando lhe “ferir numa face”, deve oferecer-lhe também a outra e quando o obrigar a “caminhar uma milha”, deve ir com ele duas (Lc.6:29; Mt.5:41).

O homem manso não lança mão de sua própria espada, mas, entrega seu caminho ao Senhor. Pois, como disse Jesus a Pedro: “...Mete no seu lugar a tua espada, porque todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão” (Mt.26:52). O homem manso aprende a confiar em Deus, assim, com a mansidão ele conquistará o céu, mas, a terra ele herdará, sem o uso da “espada” - “Bem-aventurado os mansos, porque eles herdarão a terra”(Mt.5:5).

Se a vida cristã é assim, e assim é, então o homem, por si só, não pode viver a vida cristã. Para viver a vida cristã o homem necessita ser revestido de mansidão. Então, baseado em Gálatas 5:22, o homem salvo pode viver a vida cristã, pois “...o fruto do Espírito é: ...mansidão...”. A mansidão não é uma virtude gerada pelo homem, mas oriunda do Espírito Santo.

b) O Senhor Jesus comprovou toda sua mansidão ao entregar-se nas mãos dos homens. Jesus era um Mestre que vivia o que ensinava e ensinava o que vivia. Ele ainda tinha uma lição para ministrar aos seus discípulos, sobre a mansidão. Esta seria uma lição prática, duraria cerca de quase vinte horas, do Jardim do Getsêmani até o “está consumado”, na Cruz do Calvário. Ele que, no Templo, foi um gigante, no Getsêmani se transformou num cordeiro que, sem qualquer resistência, entregou-se nas mãos dos que o foram prender. Deixou claro que poderia reagir e não ser preso – “Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra” (João 18:6). Foi dele a iniciativa de, mansamente, estender suas mãos para ser manietado. Durante toda aquela noite, na presença do Sumo Sacerdote, dos anciãos e do Sinédrio, de Herodes e de Pilatos, o Senhor Jesus comprovou ter dito a verdade quando afirmou ser “...manso e humilde de coração...”.

Demonstrou todo o poder da sua mansidão suportando sem qualquer revide e sem nenhum lamento toda dor moral causada pelas calúnias, injúrias e difamações, toda dor física causada pelas agressões sofridas, bem como pelas seis horas em que esteve na Cruz. Durante todo tempo ele teve consciência de que estava sofrendo porque, voluntariamente, havia se entregado nas mãos dos homens para que a Palavra de Deus pudesse ser cumprida. Ela havia dito: “Eu sou o bom Pastor, o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.... Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar e poder para a tornar a tomá-la...” (João 10:11,18).

CONCLUSÃO

Se o Espírito Santo habita em nós, podemos ser mansos, porque “...o fruto do Espírito é:...mansidão...”. A mansidão do crente precisa ser manifesta para com todos, sem qualquer exceção – “E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor” (2Tm.2:24). Sejamos mansos e humildes de coração, sempre seguindo o exemplo de nosso Salvador. Ele mesmo nos exorta: “[...] prendei de mim, que sou manso e humilde de coração [...] (Mt.11:29).

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Luciano de Paula Lourenço

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Revista Ensinador Cristão – nº 69. CPAD.

Rev. Hernandes Dias Lopes. Gálatas, a carta da liberdade cristã.

Antônio Gilberto. O Fruto do Espírito. CPAD.

Ev. Caramuru Afonso Francisco. Mansidão, o fruto da obediência.PortalEBD_2005.

Comentário Bíblico Pentecostal. Novo Testamento. CPAD.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Aula 09 - FIDELIDADE, FIRMES NA FÉ


1º Trimestre/2017

Texto Base: Hebreus 10:35-39

"Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo" (2Tm.2:13).

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo do trimestre a respeito das “obras da carne e o Fruto do Espírito”, trataremos nesta Aula da Fidelidade, contrapondo com a idolatria, que é tudo aquilo que ocupa o lugar de Deus em nosso coração. Muitos, infelizmente, têm deixando que os bens materiais, os talentos e o poder ocupem o lugar em seus corações, lugar que deve ser somente de Deus (Dt.6:5). A Fidelidade nos ajuda a banir de nossas vidas todo e qualquer ídolo.

A Fidelidade é uma qualidade do Espírito Santo voltada para a própria pessoa. Ela é um elemento fundamental na vida espiritual do crente. No início da conversão, muitos desenvolvem uma fé inabalável, revelando sua fidelidade ao Senhor, mas com o passar dos anos, diante das muitas adversidades, os crentes vão esmorecendo na fé e comprometendo a sua fidelidade para com o Senhor. Todavia, não podemos nos esquecer de que precisamos permanecer fiéis até o fim, condição sem a qual não receberemos a “coroa da vida” (Ap.2:10). Lembremos que o deserto é a trajetória de nossa caminhada rumo à Pátria Celestial. Logo, enfrentamos momentos difíceis, mas Deus está conosco nos dando a vitória diante das intempéries; Ele está no controle de tudo. O Deus que sustentou o povo de Israel no deserto durante 40 anos, que sustentou Abraão e seus descendentes é o Deus que vai nos sustentar e ajudar-nos a enfrentar as adversidades da vida. O que Ele quer de nós? Certamente, Fidelidade a Ele.

I. O SIGNIFICADO DE FIDELIDADE

1. Definição. Fidelidade é a característica de quem tem bom caráter, de quem é leal, é fiel e demonstra respeito por alguém e pelo compromisso assumido com outrem; é sinônimo de lealdade. Se Deus procura os fiéis da terra para que estejam com Ele, a Fidelidade, entre outras virtudes, é algo que atrai a atenção de Deus. A vida de Paulo é um exemplo de como podemos vencer as crises e permanecermos fiéis ao Senhor.

2. A Fidelidade como Fruto do Espírito. A Fidelidade como Fruto do Espírito é desenvolvida em nós pela ação do Espírito Santo (Gl.5:22). À medida que confiamos em Deus e passamos a ter uma maior comunhão com Ele, mediante a leitura e estudo da Palavra de Deus, e oração, desenvolvemos o Fruto do Espírito.

Segundo o Pr. Antônio Gilberto, “a Fidelidade como Fruto do Espírito tem muito a ver com a moral e ética cristã. Esse fruto abençoado coloca o padrão cristão no nível de responsabilidade em palavras e ação. Houve um tempo em que a palavra de um homem tinha grande valor, e um aperto de mão era tão bom quanto um contrato assinado. Isto não parece ser verdade em nossos dias. Mas o homem que anda com Deus é diferente, porque nele está a lealdade, honestidade e sinceridade. O Espírito Santo sempre concede poder para o cristão ser um homem de palavra. A Fidelidade como Fruto do Espírito nos torna leais a Deus, leais a nossos companheiros, amigos, colegas de trabalho, empregados e empregadores. O homem leal apoiará o que é certo mesmo quando for mais fácil permanecer calado. Ele é leal, quer esteja calado, quer esteja sendo observado, quer não. Este princípio é ilustrado em Mateus 25:14-30. Os servos que eram fiéis e fizeram como foram instruídos mesmo na ausência do senhor foram elogiados e recompensados. O servo infiel foi castigado" (GILBERTO, António. O Fruto do Espírito: A plenitude de Cristo na vida do crente. 2.ed. Rio de Janeiro: CPAD.2004 p. 112).

3. Fé e Fidelidade não é a mesma coisa. Embora muitos considerem que Fé e Fidelidade são a mesma coisa, ou tem significado idêntico, nós nos permitimos pensar de forma diferente. Acreditamos que são duas virtudes diferentes. Acreditamos que em Gálatas 5:22, quando Paulo diz que uma das virtudes do Fruto do Espírito é a fé (ARC), ele está se referindo à Fé Espiritual, e não a Fé Natural.

A fé natural é uma virtude própria da natureza do ser humano. Todo ser humano a possui. Esta pode até guardar alguma semelhança com a fidelidade. Tanto que, na língua grega, que não cuidava de coisas espirituais, a palavra “pistis” tanto significava fé, como também fidelidade.

João Ferreira de Almeida, que concluiu em 1670 a Tradução do Novo Testamento, do grego para a língua portuguesa, houve por bem, em Gálatas 5:22, traduzir o vocábulo “pistis” por fé.

Certamente que, na época, como também hoje, na língua portuguesa fé não tem o mesmo significado de fidelidade.

No sentido que nossa língua dá às duas palavras, um homem religioso pode ser fiel ao seu deus, ou ao ensino religioso que recebeu, mesmo não tendo a fé espiritual. O ateu, ainda que negue a existência de Deus, pode, e é fiel à sua doutrina. Assim, enquanto o homem natural, religioso, ou não, pode manter absoluta fidelidade ao seu deus, ou à doutrina na qual foi educado, ou formado, a ponto de morrer em sua defesa, é certo que esse homem não possui a Fé Espiritual. Aconteceu com Paulo, antes de ser cristão. Ele era um homem que consagrava absoluta fidelidade à doutrina do judaísmo na qual era formado e dedicava completa lealdade aos de sua nação, contudo, não possuía a Fé Espiritual.

A Fé Espiritual é um dom de Deus. Segundo a Bíblia, o Senhor Jesus é o seu autor e consumador – “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé...” (Hb.12:2), ou, como diz a Bíblia na Linguagem de Hoje: “Conservemos os nossos olhos fixos em Jesus, pois é por meio dele que a nossa fé começa, e é ele quem a aperfeiçoa...”. Biblicamente, só existe uma maneira de o homem adquirir esta fé, é pela Palavra de Deus – “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm.10:17). Nenhum homem, por mais fiel que seja a qualquer deus, a qualquer doutrina, mesmo aquelas fundadas em boas obras, será salvo sem esta fé – “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Ef.2:8). A Fé Espiritual é essencialmente divina. Homem algum, em tempo algum alcançou, ou poderá alcançar a Salvação sem antes adquirir esta fé. Ela nunca foi e não será jamais adquirida por qualquer tipo de esforço humano, por mais sincero que seja, ou pelo pagamento de qualquer quantia.

É, pois, absolutamente possível manter fidelidade e lealdade a alguém, ou a alguma coisa, mesmo sendo, apenas, um homem natural. Não se pode negar que existem muitos maridos, não crentes, que mantêm absoluta fidelidade às suas esposas. A recíproca é também verdadeira. Enquanto isso acontece, existem maridos e esposas crentes, salvos, que, às vezes vacilam, escorregam e caem.

Acreditamos, portanto, existir fidelidade sincera, real, absoluta no homem natural, no qual não existe a fé espiritual. Portanto, para nós, fidelidade, ou lealdade, não tem o mesmo significado da Fé Espiritual, são duas virtudes diferentes.  Enquanto a Fé Espiritual só pode ser recebida de Deus e através de Sua Palavra, a Fidelidade pode ser transmitida e gravada no caráter do homem através do ensino, da doutrinação, de tal forma que, em nome dessa fidelidade, ou lealdade, a pessoa chega a abrir mão da própria vida; ela pode existir no pecador mais renitente, no ímpio, no religioso, no ateu e materialista; homens que morrem, mas, não negam suas doutrinas e suas crenças; homens fiéis, homens leais, porém, sem Fé Espiritual.

4. A Fidelidade de Deus. Uma das principais características divinas é a sua imutabilidade. Ele é fiel em sua natureza (2Ts.3:3). Deus não muda e nEle não há sombra de variação (Tg.1:17). A Bíblia ressalta, ainda, que Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb.13:8). Ora, esta imutabilidade leva-nos à conclusão de que Deus, as três Pessoas, é fiel, pois, todo aquele que não muda, que mantém firme a sua posição é fiel. O Deus que é fiel, pela sua graça, nos salvou e nos deu uma nova vida a fim de que tenhamos comunhão com Ele e com o seu Filho (1Co.1:9). Como filhos de Deus e novas criaturas (2Co.5:17), precisamos ter para com Deus a mesma atitude de lealdade que Ele tem para conosco.

a) Deus é fiel no cumprimento de suas promessas. Deus cumpre os compromissos que assume, é leal. Todos os pactos constantes na Bíblia que foram firmados entre Deus e o homem sempre tiveram, da parte de Deus, seu pleno cumprimento.

- No Éden, Deus prometeu vida ao homem enquanto ele não comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal, o que foi rigorosamente cumprido.

- Antes do dilúvio, prometeu salvar Noé e sua família na arca, o que cumpriu e, posteriormente, prometeu nunca mais destruir a Terra com um novo dilúvio, o que tem se cumprido desde então, pois nunca mais houve um dilúvio universal.

- A Abraão, homem sem filhos e já idoso, prometeu uma descendência como a areia do mar e que dele sairiam povos e reis. Deus tem cumprido este compromisso, como podem testemunhar os milhões de judeus e árabes que hoje existem.

- A Israel, Deus prometeu que seria sua propriedade peculiar, seu reino sacerdotal e tem cumprido até aqui a sua parte no pacto, preservando a nação israelita, apesar da incredulidade dela, ao longo dos séculos, de forma evidentemente miraculosa, como foi a restauração do Estado de Israel no local geográfico escolhido por Deus, como prova de mais um compromisso que Deus tem cumprido, a de entregar a Terra de Canaã a Israel.

- A Davi, prometeu que sua descendência governaria eternamente sobre Israel e sabemos que a vinda de Cristo, que é descendente de Davi e vivo está, é a demonstração do cumprimento desta promessa, pois para sempre o Senhor reinará sobre Israel.

- À Igreja, prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela, e é o que tem acontecido; Satanás tem investido ferozmente todas as suas ferramentas destruidoras contra a Igreja, ao longo de seus dois mil anos de existência, mas essas ferramentas não foram capazes de mudar o foco da Igreja e nem de arrefecer o seu ânimo no cumprimento de seu dever: pregar o evangelho a toda a criatura. Milhões de crentes foram mortos, mas o sangue dos mártires tornou-se a sementeira do evangelho. Nosso Deus é Aquele que vela pela sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12).

b) Deus é grande em Fidelidade. As Sagradas Escrituras confirmam isto:

- Lam.3:23: “Grande é a Tua fidelidade”.

- Êxodo 34:6: “E, passando o Senhor por diante dele [Moisés] clamou: Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente, e longânimo, e grande em misericórdia e fidelidade”.

- Salmo 57:10: “A Tua benignidade, Senhor, chega até aos céus, até as nuvens a Tua fidelidade”.

- Salmo 108:4: “Porque acima dos céus se eleva a Tua misericórdia, e a Tua fidelidade para além das nuvens”.

- Salmo 89:8: “Ó Senhor Deus dos Exércitos, quem é poderoso como Tu és, Senhor, com a Tua fidelidade ao redor de Ti?”.

c) A Fidelidade de Deus é Eterna. Afirmam as Escrituras Sagradas:

- Salmo 117:1,2: “Louvai ao Senhor vós todos os gentios, louvai-O todos os povos. Porque mui grande é a Sua misericórdia para conosco, e a fidelidade do Senhor subsiste para sempre. Aleluia!”.

- Salmo 100:4b-5: ”rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome. Porque o Senhor é bom, a Sua misericórdia dura para sempre, e, de geração em geração, a Sua fidelidade”.

- Salmo 119:90: “A Tua fidelidade estende-se de geração em geração...”.

- Salmo 146:6: “que fez os Céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e mantém para sempre a Sua fidelidade”.

- 2Tm.2:13: “Se somos infiéis, Ele permanece fiel...”.

II. IDOLATRIA E HERESIA: UM PERIGO À FIDELIDADE

1. O que é idolatria? É colocar qualquer coisa, ou pessoa, em lugar de Deus. Significa que Deus deixou de ocupar o lugar central na vida do homem, para ficar em segundo plano. Logo, se colocarmos os bens materiais acima de Deus, estamos incorrendo no pecado da idolatria.

A idolatria aparece na relação de obras da carne apresentada por Paulo aos Gálatas (Gálatas 5:20), por isso é tão comum em tantas culturas, mas é abominável para Deus porque através da idolatria o homem rejeita o Deus Criador em troca da criatura.

O ser humano acredita mais facilmente em coisas visíveis do que em um Deus invisível (1Tm.1:17). Por isto, ele é tendente a fazer ídolos para reverenciá-lo. A palavra ídolo vem do grego “eidólon”, e significa imagem; é, pois, uma representação da divindade, de que se faz objeto de culto, usurpando essa imagem o lugar de Deus e recebendo a adoração e o culto que só a Ele é devido. “Os israelitas, embora tivessem visto de perto a glória e o livramento de Deus, por diversas vezes se deixaram levar pela idolatria. Ainda na travessia do deserto, quando Moisés estava no monte Sinai para encontrar-se com o Senhor, o povo fez um bezerro de ouro e o adorou (Êx.32:1-18). Já no período monárquico, depois da morte de Salomão e a divisão do reino, todos os reis do Reino do Norte fizeram o que era mal aos olhos do Senhor, levando o povo à adoração de ídolos (1Rs.16:25,30; 22:52-54; 2Rs.3:3). Jeroboão I, fundou um sistema religioso idólatra, mandando fazer dois bezerros de ouro, institucionalizando a idolatria em Israel (1Rs.12:26-33).

O ídolo é veementemente condenado na Bíblia – “Maldito o homem que fizer imagem de escultura ou de fundição, abominação ao SENHOR, obra da mão do artífice, e a puser em um lugar escondido! E todo o povo responderá e dirá: Amém!” (Dt.27:15). Os dois primeiros mandamentos proíbem a adoração de imagens, bem como a adoração a qualquer outro deus (cf. Êxodo 20). A idolatria era classificada como uma ofensa de estado e cheirava traição, devendo ser punida com a morte (Dt.17:2-7). Leia mais: Lv.26:1; 1Sm.12:21; Sl.115:2-8; At.15:20; 1João 5:21).

Todavia, idolatria não é somente adorar a imagens, no sentido físico, é também adorar tudo aquilo que toma o lugar de Deus em nossa vida, aquilo que amamos, nos dedicamos, entregamos toda a nossa atenção, intenção e tempo, em detrimento da presença de Deus em nossa vida, aquilo que rouba a nossa adoração e comunhão com Ele.

Muitas vezes, o trabalho, a faculdade, prazeres, propósitos de vida, filhos, enfim, tudo isto é bênção do Senhor, mas não podem ocupar o lugar do Senhor em minha vida, não podem roubar a nossa adoração e o nosso tempo com Deus; Ele precisa estar no centro, mas quando todos esses fatores de nossa vida estão cheios da nossa atenção, dedicação e tempo, de maneira que não há mais tempo para orar, não há mais tempo para adorar e relacionar-se com Deus, e ouvir a sua voz através da sua palavra, e o problema maior é que perdemos a sensibilidade espiritual e passamos a viver assim, então há ídolos na nossa vida.

Não podemos jamais esquecer que tudo aquilo que usurpa o lugar de Deus, em nosso coração, é idolatria. Qualquer pessoa ou objeto a que nos dedicamos com extremada atenção, e que não podemos viver sem os quais, podem se tornar um ídolo. A idolatria é a quebra da nossa fidelidade ao verdadeiro Deus.

2. Heresia. Heresia vem da expressão grega “háiresis”, que pode ser entendida como uma escolha que resulta numa separação. Segundo o Dicionário Teológico (CPAD) podemos definir heresia "como uma rejeição voluntária de um ou mais artigos da fé". Aquela pessoa que, embora conhecendo a verdade, desvia-se dela, abraçando uma doutrina falsa, ou uma doutrina contrária àquela revelada pela Bíblia Sagrada, chamamos de herege. O herege não é um cristão. A Bíblia fala de heresia em 2Pedro 2:1 e Judas 4, e afirma que é um fruto da carne (Gl.5:20).

Vamos entender melhor este assunto, tomando o seguinte exemplo: o Brasil tem um sistema federativo de governo. Embora formado por 27 Estados, tem um único presidente e é regido por uma só Constituição. Cada um dos 27 Estados tem sua própria constituição e pode fazer suas próprias leis. Há, porém, um limite para estas legislações - as constituições e as leis estaduais precisam estar de acordo com a Constituição Federal; esta representa a lei maior e não pode ser violada.

Assim, a Bíblia Sagrada é a Constituição, ou a Lei Maior que rege a Igreja do Senhor que está aqui na Terra. Cada igreja local, bem como cada denominação evangélica, à semelhança dos estados brasileiros, pode ter sua organização própria, seu governo, suas leis, desde que estas estejam de acordo com a Bíblia Sagrada.

Assim, só será considerada uma igreja evangélica aquela que estiver de acordo com as doutrinas bíblicas. Elas podem ter diversas diferenças, entre si, assim como cada estado tem seus próprios costumes; embora a língua oficial seja a mesma, há diferença de pronúncias, variam os sotaques em cada região, há diferenças alimentares, climáticas, etc. Tudo é permitido desde que a Constituição Federal seja obedecida. Caso um Estado passe a legislar de forma contrária à Constituição Federal, e persista em continuar no erro, será considerado um Estado rebelde e estará sujeito a sansões penais. Assim é a heresia; ela não é uma denominação, ou igreja evangélica; ela é rebelião contra as doutrinas bíblicas.

Uma Heresia tem suas próprias doutrinas e estas são sempre contrárias às verdades bíblicas. Os seguidores de uma determinada heresia formam o que chamamos de SEITA. Daí, biblicamente, não podemos confundir uma denominação, ou igreja evangélica com uma Seita. Uma Seita é sempre regida por uma doutrina antibíblica.

Precisamos ter cuidado, pois atualmente muitos estão se utilizando de argumentos falsos para enganar e macular a Igreja do Senhor. Estamos vivendo tempos difíceis, nos quais muitas igrejas já não conservam mais a sã doutrina, sendo os crentes enganados por filosofias humanas e ensinos de demônios contrários à Palavra de Deus. Devemos, portanto, acatar a exortação de Paulo: “Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido e peca, estando já em si mesmo condenado” (Tito 2:10,11). Perceba neste texto a gravidade que representa uma heresia. Contemplando e avaliando a galeria onde as heresias estão colocadas e a sentença de que o herege não herdará o Reino de Deus não se pode deixar de considerar o perigo que uma heresia representa para “uma Igreja”, e o porquê Paulo, falando sobre o herege, disse: “evita-o”.

III. SEJAMOS FIÉIS ATÉ O FIM

A Fidelidade é um princípio básico da vida cristã. Hoje os maridos e esposas estão quebrando os votos assumidos no casamento. Os crentes estão quebrando os votos feitos na profissão de fé. Como ser um crente fiel em tempos de adversidades? Tomemos como exemplo a fiel igreja de Esmirna; ela foi uma igreja sofredora, perseguida, pobre, caluniada, aprisionada, enfrentando a própria morte, porém, uma igreja fiel que só recebeu elogios de Cristo (Ap.2:8-11).

“E ao anjo da igreja que está em Esmirna escreve: Isto diz o Primeiro e o Último, que foi morto e reviveu: Eu sei as tuas obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus e não o são, mas são a sinagoga de Satanás. Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas: O que vencer não receberá o dano da segunda morte”.

É válido ressaltar que, dentre as sete igrejas que receberam cartas, somente duas receberam elogios: Esmirna e Filadélfia. Sabemos que não há igreja local isenta de imperfeições, mas na carta endereçada à igreja em Esmirna não foram apresentadas pelo Senhor as suas imperfeições. Isso deve nos servir de lição: uma igreja pobre e perseguida não recebeu repreensões do Senhor, mas elogios, não porque era pobre e perseguida, e sim porque era fiel a Jesus.

1. A igreja de Esmirna foi fiel a Cristo em meio à tribulação (Ap.2:9). Tribulação tem a ideia de aperto, sufoco, esmagamento. A igreja estava sendo espremida debaixo de um rolo compressor. A pressão dos acontecimentos pesava sobre a igreja e a força das circunstâncias procurava forçar a igreja a abandonar a sua fé. Os crentes em Esmirna estavam sendo atacados e mortos. Eles eram forçados a adorar o imperador como deus. Segundo alguns estudiosos, de uma única vez foram lançaram do alto do monte Pagos 1200 crentes; doutra feita, lançaram 800 crentes. Os crentes estavam morrendo por causa da sua fé.

Somos chamados a ser fiéis até às últimas consequências, mesmo em um contexto de hostilidade e perseguição. Hoje, Jesus espera de seu povo fidelidade na vida, no testemunho, na família, nos negócios, na fé. Não venda seu Senhor por dinheiro, como Judas; não troque seu Senhor, por um prato de lentilhas, como Esaú; não venda sua consciência por uma barra de ouro, como Acã. Seja fiel a Jesus, ainda que isso lhe custe seu namoro, seu emprego, seu sucesso, seu casamento, sua vida. Jesus diz que aqueles que são perseguidos por causa da justiça são bem-aventurados (Mt.5:10-12). O mundo perseguiu a Jesus e também nos perseguirá.

2. A igreja de Esmirna foi fiel a Cristo mesmo enfrentando prisões impiedosas (Ap.2:10). Alguns crentes de Esmirna estavam enfrentando prisões tenebrosas. Naquela ocasião, a prisão era a antessala do túmulo; os romanos não cuidavam de seus prisioneiros. Normalmente os prisioneiros morriam de fome, de pestilências, ou de lepra.

Somos chamados a sermos fiéis não apenas até o último instante da vida, mas, sobretudo, até às ultimas consequências, mesmo num contexto de hostilidade e perseguição. O pastor da igreja de Esmirna, Policarpo, discípulo de João, foi martirizado em 155 d.C. Fiel até à morte, esse dedicado líder foi queimado vivo em uma fogueira. Seus algozes pediram-lhe que dissesse: "César é Senhor", mas ele recusou a fazê-lo. Levado ao estádio, o procônsul instou com ele, dizendo: "Jura, maldiz a Cristo e te porei em liberdade”. Policarpo lhe respondeu: "Sirvo a Cristo há oitenta e seis anos, e ele nunca me fez mal, só o bem. Então como posso maldizer o meu Rei e Salvador?" [...]. Depois de ameaçá-lo com feras, o procônsul lhe disse: "Farei que sejas consumido pelo fogo". Mas Policarpo respondeu: "Tu me ameaças com fogo que queima por uma hora e depois de um pouco se apaga, mas tu és ignorante a respeito do fogo do juízo vindouro e do castigo eterno, reservado para os maus. Mas, por que te demoras? Faze logo o que queres [...J". Os inimigos furiosos, queimaram-no vivo em uma pira, enquanto ele orava e agradecia a Jesus o privilégio de morrer como mártir.

A promessa de Jesus é clara: "O vencedor de modo algum sofrerá a segunda morte" (Ap. 2:11). Podemos enfrentar a morte e até o martírio, mas escaparemos do inferno, que é a segunda morte, e entraremos no céu, que é a coroa da vida.

3. A igreja de Esmirna foi fiel a Cristo apesar da pobreza absoluta. A igreja de Esmirna era uma igreja pobre: pobre porque os crentes vinham das classes mais baixas; pobre porque muitos dos membros eram escravos; pobre porque seus bens eram tomados, saqueados; pobre porque os crentes eram perseguidos e até jogados nas prisões; pobre porque os crentes não se corrompiam. Esmirna era uma igreja espremida, sofrida, acuada; contudo, uma igreja fiel.

a) embora a igreja fosse pobre financeiramente, era rica dos recursos espirituais. Não tinha tesouros na terra, mas os tinha no céu. Era pobre diante dos homens, mas rica diante de Deus. A riqueza de uma igreja não está na pujança do seu templo, na beleza de seus móveis, na opulência do seu orçamento, na projeção social dos seus membros. A igreja de Laodicéia considerava-se rica, mas Jesus disse para ela que ela era pobre. A igreja de Filadélfia tinha pouca força, mas Jesus colocou diante dela uma porta aberta. A igreja de Esmirna era pobre, mas aos olhos de Cristo ela era rica.

b) Enquanto o mundo avalia os homens pelo ter, Jesus os avalia pelo ser. Importa ser rico para com Deus. Importa ajuntar tesouros no céu. Importa ser como Pedro: "Eu não tenho ouro e nem prata, mas o que eu tenho, isso te dou: em nome de Jesus, o Nazareno anda". A igreja de Esmirna era pobre, mas fiel; era pobre, mas rica diante de Deus; era pobre, mas possuía tudo e enriquecia a muitos. Nós podemos ser ricos para com Deus, ricos na fé, ricos em boas obras. Podemos desfrutar das insondáveis riquezas de Cristo. É melhor ser como a igreja de Esmirna, pobre materialmente e rica espiritualmente, do que como a igreja de Laodicéia, rica, mas pobre diante de Cristo.

Jesus nunca disse que se formos fiéis a Ele jamais teremos problemas, sofrimentos ou perseguições. Na verdade, devemos ser fiéis a Ele durante nossos sofrimentos. Somente assim nossa fé poderá se mostrar genuína. Permaneceremos fiéis se conservarmos nosso olhar em Cristo e naquilo que Ele nos promete para esse momento e para o futuro (ver Fp.3:13,14; 2Tm.4:8).

Que a igreja de Esmirna nos sirva de exemplo e referencial de fidelidade a Deus, coragem e determinação. [...] Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte (Ap. 2:10c-11).

CONCLUSÃO

À medida que buscamos ter maior comunhão com Deus, desenvolvemos a Fidelidade como Fruto do Espírito. A nossa confiança em Deus nos ajuda a permanecer fiéis em tudo até o Dia em que iremos nos encontrar com o Senhor (Ap.2:10). Que no final de nossa jornada, possamos dizer como o apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2Tm.4:7).

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Luciano de Paula Lourenço

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Revista Ensinador Cristão – nº 69. CPAD.

Rev. Hernandes Dias Lopes. Gálatas, a carta da liberdade cristã.

Antônio Gilberto. O Fruto do Espírito. CPAD.

Ev. Caramuru Afonso Francisco. Fidelidade, o fruto da confiança.PortalEBD_2005.

Comentário Bíblico Pentecostal. Novo Testamento. CPAD.

Rev. Hernandes Dias Lopes – Ouça o que o Espírito diz às Igrejas.