domingo, 29 de abril de 2018

Aula 06 – ÉTICA CRISTÃ E SUICÍDIO


2º Trimestre/2018

Texto Base: 1Samuel 31:1-6

 
"O ladrão não vem senão a roubar, a matar e o destruir; eu vim paro que tenham vida e a tenham com abundância" (João 10:10).

INTRODUÇÃO

Após termos abordado a questão da Pena de Morte e a Eutanásia, analisaremos desta vez outra questão ética que diz respeito ao dom divino da vida: o Suicídio. O termo suicídio origina-se do latim sui (a si mesmo) e caedere (cortar, matar). Assim, o suicídio é o desejo e o ato de assassinar a si mesmo. Em situação de conflito interior, pessoas se desesperam e tiram a própria vida no mundo todo. O suicídio é o ato voluntário e intencional de matar a si mesmo, é auto-homicídio, é o último e irreversível estágio da autodestruição, é a violência fatal contra si para por fim a uma dor maior do que a vontade de viver; outras vezes, é um golpe final em si mesmo para punir a outrem. O suicídio é o naufrágio da esperança, a falência dos sonhos, o fim da linha, o fundo do poço, o desespero de não enxergar a luz da esperança no fim do túnel. O suicídio é um grave pecado, e o adversário de nossas almas é o maior interessado nesta prática, pois o seu maior desejo é levar com ele o maior número de pessoas à perdição eterna.
A vida é um presente de Deus, e nossa vida não nos pertence (1Co.6:19,20). Mesmo que a morte possa parecer muito atraente, ela não deve ser buscada. Mesmo que ela nos pareça a única porta de saída para as avassaladoras tormentas da alma, não devemos nos submeter de forma fatal a ela. Não somos donos da vida, somos mordomos dela. A vida nos é cedida para que cuidemos dela e a usemos para servir aos outros, e não a nós mesmos. Só Deus é o autor da vida e apenas Ele tem o direito de tirá-la (1Sm.2:6).

I. O SUICÍDIO NAS ESCRITURAS E NO MUNDO

As Escrituras Sagradas registram seis casos de suicídio e dois casos não consumados: cinco no Antigo Testamento e um no Novo Testamento. A causa principal dos suicídios relatados foi o fracasso espiritual.
A vida não consiste apenas do breve percurso entre o berço e a sepultura. Há uma dimensão transcendental na vida. O suicídio, portanto, é uma prática equivocada acerca da natureza da vida, da morte, do tempo e da eternidade. Nossa vida não se limita apenas a este mundo. O sepulcro frio não é o nosso destino final. Nossa existência não se finda com a morte. O maior bandeirante do cristianismo, o apóstolo Paulo, disse que se a nossa esperança se limitar apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens (1Co.15:19).
A crença de que somos apenas matéria, e de que tudo em nossa vida não passa de reações químicas, leva-nos ao desespero. A compreensão de que não existe vida depois da morte, e de que a morte tem o poder de por fim à existência carimbada pelo sofrimento, tem levado muitos indivíduos a saltar no abismo do suicídio em busca de um alivio ilusório. Na verdade, a morte não põe um ponto final na existência (cf. Lc.16:22,23). Do outro lado da sepultura, há uma eternidade de gozo ou sofrimento, de bem-aventurança ou tormento. Saltar no poço sombrio do sofrimento pode ser uma viagem sem retorno rumo ao tormento infinitamente maior que aquele que o gerou, não em direção ao alívio nem mesmo ao desconhecido. Depois da morte, vem o juízo (cf. Hb.9:27). Depois da morte, há dois destinos eternos: céu ou inferno. Podemos descrer ou negar isso, mas não invalidar essa verdade.

1. No Antigo Testamento. No Antigo Testamento, cinco homens cometeram suicídio. Vejamos quem são eles.

a) Sansão, juiz de Israel. Esse jovem foi um herói nacional. Nasceu por um milagre de Deus para uma missão especial: ser libertador de seu povo. Ele tinha uma força descomunal. Ninguém conseguia vencê-lo num confronto pessoal. Certa feita, num combate, ele matou mil filisteus apenas com uma queixada de jumento. Todavia, Sansão tinha uma fraqueza: ele não dominava os próprios impulsos. O sexo era sua área vulnerável. Ele tinha a capacidade de envolver-se em relacionamentos perigosos. E foi num desses relacionamentos que ele caiu. Sansão quebrou todos os seus votos de consagração a Deus. Vencido pela insistência de Dalila, ele abriu seu coração para ela, e os filisteus cortaram seu cabelo, onde residia a sua força. Esse gigante tornou-se fraco e sem forças. Seus olhos foram vazados, sua honra foi aviltada, e ele, para vingar-se dos filisteus, derrubou o templo de Dagon, perecendo com seus inimigos (cf. Jz.16:4-29). Apesar do suicídio, ele aparece no rol dos heróis da fé de Hebreus, capítulo 11. Alguns interpretam que sua ação foi um sacrifício de guerra, não um suicídio deliberado e egoísta; por isso, ele aparece como um herói da fé (Hb.11:32-34).

b) Saul, primeiro rei de Israel, e o seu escudeiro. Esse rei começou bem, mas foi, paulatinamente, afastando-se de Deus enveredando-se por atalhos perigosos. Ele desobedeceu às ordens de Deus sem jamais demonstrar arrependimento. Exortado várias vezes pelo profeta Samuel, endureceu ainda mais sua cerviz. Saul chegou a ponto de tornar-se possesso por espirito maligno. A sede de poder corrompeu sua alma, e ele tornou-se um déspota sanguinário. No auge de seu desespero, em vez de arrepender-se e voltar-se para Deus, buscou uma feiticeira, a médium de En-dor (1Sm.28.1-19; 31:1-4). Saul sabia que, ao consultar uma feiticeira, estava agindo contra a vontade de Deus; ele sabia que esta­va consultando demônios. No seu or­gulho deve ter falado assim: "Se Deus não me ouve nem me responde, então procuro o Diabo". De fato, ainda há pessoas assim em nossos dias. Existem pessoas que odeiam a Deus e amam o Diabo, que desobedecem a Deus conscientemente e obedecem ao Diabo. Existem até "igrejas" que adoram o Diabo.

Saul, longe de encontrar ajuda, recebeu sua própria sentença de morte. Encurralado pelo exercito filisteu, sem capacidade de resistência, jogou-se contra sua própria espada, e seu escudeiro também fez o mesmo (1Sm.31:4-6). Saul ceifou sua vida porque deixou de buscar a Deus. Ele fugiu de Deus para a morte, em vez de fugir da morte para Deus.

c) Aitofel, conselheiro de Absalão e inimigo de Davi (cf.2Sm.16:20,21; 17:1). Aitofel traiu Davi, numa péssima opção política. Seguiu a conspiração de Absalão e viu sua causa fracassada. Seu caráter traidor o levou ao desespero. Enforcou-se ao ver que seu conselho fora rejeitado (2Sm.17:14,23).

Então disse Absalão e todos os homens de Israel: Melhor é o conselho de Husai, o arquita, do que o conselho de Aitofel (porém assim o SENHOR o ordenara, para aniquilar o bom conselho de Aitofel, para que o SENHOR trouxesse o mal sobre Absalão); vendo, pois, Aitofel que se não tinha seguido o seu conselho, albardou o jumento e levantou-se, e foi para sua casa e para a sua cidade, e pôs em ordem a sua casa, e se enforcou: e morreu”.

d) Zinri, rei de Israel. Após o golpe de Estado que o levou ao poder, foi abandonado pelo povo que preferiu apoiar Onri. Sitiado, desprestigiado, incendiou o palácio e suicidou-se.

"Vendo Zinri que a cidade era tomada, foi-se ao castelo da casa do rei e o queimou sobre si, e morreu, por causa dos seus pecados que cometera" (1Rs.16:18,19).

Esta triste história do rei de Israel comprova que existe uma nítida relação entre suicídio e pecado. Pecados não confessados podem levar o homem ao desespero emocional.

Todos esses homens mencionados, motivados pelo orgulho, escolheram a morte em lugar de confiarem em Deus, exceto Sansão cuja morte é considerada um caso de heroísmo e não de covardia; pode-se dizer que Sansão morreu em combate.

2. No Novo Testamento. O Novo Testamento registra um caso de suicídio consumado e dois não consumados.

a) Judas Iscariotes. A despeito de ser apóstolo de Jesus, era ladrão (João 12:6). Traiu Jesus por trinta moedas de prata. Vendeu seu Mestre. Em vez de arrepender-se e vomitar o veneno, engoliu o veneno e enforcou-se.

Então, Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo. E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar” (Mt.27:3-5).

Lucas intensifica ainda mais a tragédia: "precipitando-se, rebentou pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram" (At.1:18).

Este triste episódio mostra a relação entre fracasso espiritual, pecado não perdoado e suicídio por desespero. Isto nos faz refletir que o suicídio é sempre opção que vem diretamente das entranhas de Satanás para a mente do suicida; o suicídio de Judas Iscariotes é icástico, pois representa adequadamente uma ideia, uma ideia maligna; a Bíblia diz que o Diabo entrou nele (Lc.22:3). Ora, se o Diabo entrou em Judas, então ele tinha que fazer o seu principal trabalho: matar. A Bíblia diz que o Diabo é homicida desde o princípio (João 8:44).

b) Fatos não consumados. Primeiro, quando Satanás convidou Jesus para um salto suicida (Mateus cap.4). Segundo, o carcereiro de Filipos; prestes a se suicidar, Paulo disse ao carcereiro: “Não te faças nenhum mal” (Atos 16:28). Foi salvo por um triz.

O cristão autêntico, que teme a Deus, não comete suicídio, mesmo nos momentos mais cruentos de sua vida. Jó, Moisés, Elias e Jonas pediram a Deus para morrer, mas nunca intentaram contra sua vida. O apóstolo Paulo, mesmo preso numa masmorra romana, sombria e insalubre, na antessala do martírio, não perdeu a alegria nem capitulou diante do desespero. A vida é um dom de Deus. Jesus veio para dar vida e vida em abundância, enquanto o diabo veio para roubar, matar e destruir (João 10:10). Só Deus dá a vida e apenas Ele tem autoridade para tirar a vida. O suicídio é uma usurpação dessa prerrogativa divina.

3. O suicídio no mundo. São múltiplas as formas e os motivos que levam homens e mulheres, e até crianças a praticar o suicídio. No mundo em que vivemos, esse modo de autodestruição adquiriu dimensões trágicas. As Estatísticas mostram que o índice de pessoas que se suicidam vem crescendo assustadoramente, inclusive no orbe evangélico. É um grande engano pensar que aqueles que creem em Deus não tenham seus momentos de desespero, a ponto de flertar com a própria morte. Homens de grande fé como Moisés, Jó, Elias e Jonas pediram para morrer; o apóstolo Paulo, homem poderoso na fé, resiliente, em algum momento de sua jornada quis desistir da vida; ele mesmo afirmou, em 2Corintios 1:8: “Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos”. Entretanto, esses homens não deram cabo de sua vida de forma deliberada e irresponsável; eles confiaram piamente em Deus, por isso, foram grandemente honrados.

Infelizmente, muitos que professam a fé cristã têm tirado a sua própria vida. Não é de hoje que o suicídio tem sido um fato que perpassa a realidade de muitas igrejas locais. São membros que, infelizmente, dão cabo da própria vida; são pastores experimentados no ministério que, não suportando o sofrimento, põe fim a própria existência, como aconteceu no Brasil e nos Estados Unidos da América no ano de 2017. Muitas são as causas que levam uma pessoa ao suicídio, e atingem a todos, indiscriminadamente.

Na maioria dos casos de suicídio, os que buscam a morte voluntária encontram-se na faixa de 15 a 44 anos, pertencem à classe média, são universitários e profissionais. Segundo o Rev. Hernandes Dias Lopes, em seu livro “Suicídio”, a cada ano, aproximadamente, um milhão de pessoas morre no mundo pelo suicídio. A cada quarenta segundos, pelo menos, uma pessoa tira a sua própria vida. Esse número supera a soma daqueles que morrem a cada ano vitimados pela guerra e pelo homicídio. No Japão, o índice de suicídio entre os jovens é o mais alto do mundo. A razão disso é a alta exigência da família e a cobrança da sociedade a respeito do desempenho nos estudos e na vida profissional. A impessoalidade crescente das relações, a coisificação do outro e de si próprio, a competição e o consumismo, acrescido ainda da perda do sentido da própria vida, conduzem o individuo à solidão causada por um desenvolvimento atrofiado, cuja expressão máxima seria o suicídio. Desse modo, quando o individuo pratica o suicídio, na verdade, ele conclui um processo que já se desencadeara havia muito tempo.

O suicídio é um dos maiores problemas de saúde pública do mundo, liderando a causa de morte entre adolescentes e jovens adultos. Embora, tradicionalmente, o índice de suicídio tenha sido maior entre homens da terceira idade, o índice entre jovens tem aumentado explosivamente, a ponto de eles serem agora o grupo de maior risco em um terço dos países do mundo.

Na maioria dos países desenvolvidos, o suicídio é a primeira causa de morte não natural. Desde 2015, as autoridades iniciaram o movimento "setembro amarelo", que é estimulado pela Associação Internacional pela Prevenção do Suicídio (IASP). O movimento consiste em sinalizar locais públicos com faixas ou símbolos amarelos.

O suicida, com frequência, tem uma visão curta, inadequada e equivocada da vida. A vida é mais do que viver; a morte é mais do que morrer. A morte não é o fim. A morte não é o ponto final da existência. Há uma eternidade. Há um juízo (Hb.9:27). Há uma prestação de contas (Lc.16:1).

O segredo para que a pessoa não desanime é confiar em Deus e esperar nEle. Não devemos, jamais, olhar para as circunstâncias, para as dificuldades que nos cercam, mas olhar para Jesus, que é a solução para tudo (Hb.12:1-3). Assim fazendo, jamais nos desanimaremos e desejaremos a morte para nós, mas confiaremos no Senhor e seguiremos vivendo com alegria, sabendo que, para nós, o morrer é ganho e o viver é Cristo (Fp.1:21); aliás, a epístola de Paulo aos Filipenses é um exemplo de uma vida em Cristo, pois, Paulo, apesar de preso, na antessala do martírio, é o primeiro a despertar o ânimo e o gozo aos crentes que estavam em Filipos.

A Bíblia manda lançar todas as ansiedades sobre o Senhor e não na morte (1João 1:7; 1Pd.5:7). A Palavra de Deus nos incentiva a exercitar a fé, colocando sobre Deus os nossos cuidados, ansiedades e sofrimentos. Cabe à Igreja ser o arauto do evangelho da vida, defendendo este dom precioso dado por Deus, que é a vida, vida esta que só Deus dar e que só Ele pode tirar.

II. TIPOS DE SUICÍDIOS

Hoje, observa-se com facilidade as mudanças repentinas e radicais que nosso mundo está sofrendo, desestabilizando as pessoas e levando-as à paranoia e ao suicídio. Vivemos hoje a impessoalidade das grandes cidades. Igrejas eletrônicas e novelas de televisão fornecem cada vez mais às pessoas comunidades ilusórias que não as podem acolher. Um aparelho de televisão não pode nunca lhe dar um abraço. A moderna tecnologia, a desumanização, a construção de muros, em vez de pontes, tem criado um campo fértil para o suicídio. Sociólogos concluíram que o suicídio acontece pela falta de integração na sociedade religiosa, na sociedade doméstica e familiar e na sociedade política.

1. Tipos de Suicídio. O Rev. Hernandes Dias Lopes, cita, em seu livro “Suicídio”, três tipos de suicídio: o egoísta; o altruísta e; o anômico, ou seja, o sem lei.

a) O Suicídio egoísta. O suicídio egoísta é resultado da desintegração dos laços sociais. A desintegração de qualquer sociedade lança os indivíduos cada vez mais sobre si mesmos, tornando-os mais inclinados a orientar a sua conduta por meio de critérios particulares. Essa perda de vínculos empurra as pessoas para uma solidão existencial, em que elas perdem o significado da própria vida.

b) O Suicídio altruísta. É o suicídio nos interesses da sociedade, às vezes, sob a coerção da sociedade. Nas tribos primitivas, os idosos que não são mais úteis e, às vezes, também as viúvas, jejuam até morrer ou se matam. Os discípulos de um grande líder podem tirar a própria vida quando o líder morre.

c) O Suicídio anômico. Este tipo há uma estreita relação com as crises econômicas. O suicídio ocorre por causa de uma desorientação, ou choque, que uma pessoa sofre por uma abrupta mudança em sua vida que lhe exige uma nova forma de conduta; por exemplo, uma falência financeira ou uma doença que o prostra na cama.

No Japão, as autoridades japonesas estão alarmadas com o aumento vertiginoso de determinados tipos de suicídios, como os chamados "pactos de morte" pela internet, em que várias pessoas planejam uma morte conjunta. A Organização Mundial de Saúde (OMS) indicou que o Japão é o país com o maior número anual de suicídios, com 24,1 casos para cada 100 mil pessoas. As razões são as mais variadas: competição nas escolas e nas universidades, dificuldades para achar trabalho e pressão de uma sociedade rigorosa. Vivemos num mundo competitivo e draconiano. Os fracos são engolidos pelos mais fortes. A cobrança é esmagadora, mas nem todos têm a mesma estrutura para suportar as pressões da vida contemporânea. Hoje vivemos a pressão dos estudos, do vestibular, do trabalho, do casamento, do sucesso.

2. Principais causas de Suicídio. Existem inúmeras causas; enumeramos somente algumas.

a) Depressão. É a doença mais cruel do século 21. A depressão é uma doença, não uma escolha de vida. A depressão pode até ser consequência de um pecado específico, mas não pode ser limitada a isso. A depressão é, certamente, a doença que provoca o mais agudo sofrimento. A depressão é resultado de um acúmulo no corpo ou na alma; é como se o lixo se acumulasse aos poucos e você, assim, começa a sentir o peso dos detritos que carrega. Em ambos os casos ela precisa de tratamento. Mas, nem todas as pessoas têm o mesmo sucesso no tratamento da depressão que o profeta Elias teve. Há muitos que naufragam e são arrastados pelas torrentes impetuosas dessa doença do século.

b) Distúrbios psicológicos. Uma pessoa pode chegar a um estado tal de descontrole e de distúrbio psicológico que chega a perder a capacidade de refletir com lucidez. A mente fica embotada, e as emoções confusas. Então, a perspectiva da vida torna-se um cenário cinzento. Esses distúrbios podem ter causas genéticas ou circunstanciais. De qualquer forma, no pico da crise, a pessoa que sofre essa espécie de distúrbio enxerga a vida com desesperança, e não vê nenhuma saída para o seu sofrimento senão pela porta do suicídio.

c) Desilusão nos relacionamentos. Muitos suicídios são passionais. Eles acontecem como um resultado direto de relacionamentos rompidos. Os sentimentos de perda, de desvalorização, de desprezo, de rejeição e de abandono levam as vítimas desse infortúnio a se desgostarem com a própria vida, perdendo, assim, o desejo de recomeçar a vida ou de investir em outra relação. Normalmente, essa relação rompida é marcada por ciúmes, descontrole emocional e muita insegurança. A pessoa é prisioneira de um sentimento doentio, pois deixa de focar o sentido da vida em Deus e no amor-próprio, e a outra pessoa passa a ser o centro. Porém, quando esse chão escorregadio foge dos pés, desespera-se com a vida a ponto de não enxergar outra solução a não ser a morte.

d) Perdas financeiras. Muitas pessoas desesperam-se ao cair no opróbrio da perda súbita dos bens. Acostumadas ao conforto, à fartura, não se sentem encorajadas para recomeçar a vida, pisando o duro solo da pobreza. Todavia, o suicídio acontece mais entre os ricos do que entre os pobres; acontece mais entre aqueles que perdem os bens que entre aqueles que nunca os tiveram. A dor da perda é maior que a dor de nunca ter tido. Poucas pessoas dão cabo da própria vida por causa da pobreza em que sempre viveram, mas muitos sucumbem diante da alteração brusca do status social. A mulher de Jó, acostumada à riqueza, ao ver o marido amargando um avassalador infortúnio, aconselhou-o a amaldiçoar a Deus e morrer; para ela, o suicídio era um destino mais digno e mais desejável que o sofrimento.

e) Drogas e alcoolismo. Muitas pessoas tentam escapar das garras da depressão, da falta de significado, do medo e da insegurança, no álcool. Bebem para esquecer, para lembrar, para afogar as mágoas. Bebem para fugir da realidade ou para enfrentá-la. Bebem por gosto ou por desgosto. Bebem para ter coragem de enfrentar a vida como ela é ou fugir da sua carranca.

Quanto as drogas, milhões de jovens que um dia sonharam com a vida e foram o alvo do sonho de seus pais tiveram a vida ceifada precocemente pelas drogas. As drogas matam mais que as guerras; elas são as maiores assassinas de nossa juventude. Prometendo viagens psicodélicas e êxtases arrebatadores, as drogas acabam acorrentando suas vítimas com grossas correntes de opressão. Jovens morrem, matam e suicidam-se todos os dias e tombam vencidos nesse campo inglório.

f) Pressão da vida moderna. Os grandes centros urbanos crescem explosivamente. Grandes levas de pessoas, sem moradia, sem emprego e sem sustento, chegam às grandes cidades todos os dias. Os bolsões de miséria se multiplicam nas periferias dos grandes centros urbanos. Além disso, há problemas como poluição, dificuldades de transporte, estresse, solidão, violência e condições desumanizadoras de vida. Essa pressão desemboca em desespero, e este empurra muitos para o suicídio. Entretanto, o suicídio não é apenas um produto da miséria, mas, muitas vezes, e acima de tudo, do luxo. Os ricos se matam proporcionalmente mais que os pobres. As pessoas cultas se matam proporcionalmente mais que as iletradas. Nos países ricos, o índice de suicídio é maior que nos países pobres. O conhecimento e o dinheiro não são fortes o suficiente para livrar o homem do desespero.

g) Homossexualismo. Um dos maiores índices de suicídio está entre os homossexuais. Acontecem três vezes mais suicídios entre os homossexuais do que entre os heterossexuais. Um estudo que durou 21 anos, realizado na Nova Zelândia, mostrou que as pessoas que se identificavam como gays, lésbicas ou bissexuais tinham um maior risco de sofrer depressão severa, ansiedade, disfunção de conduta, dependência de nicotina e tentativas de suicídio. O homossexual é um ser em conflito consigo mesmo, com sua mente, seu corpo e sua alma.

h) Opressão e Possessão demoníaca. O diabo e seus demônios existem; eles não são figuras lendárias; eles são espíritos que atuam nos filhos da desobediência; eles não dormem, não descansam, nem tiram férias; eles agem diuturnamente, sem trégua e sem pausa, colocando armadilhas em nosso caminho e traçando estratagemas para nos apanhar.

A opressão é um ataque de fora para dentro, de tal forma que a pessoa se sente encurralada pelos espíritos malignos e se torna um escravo deles. As vítimas da opressão vivem com medo dos demônios e à mercê deles.

A possessão é um estágio mais avançado nessa ação maligna. É quando um espírito mau, ou mesmo uma legião de demônios, entra na vida de uma pessoa e assume o controle da sua personalidade. Então, essa pessoa perde o controle de sua fala, de seus gestos e de seus atos. Como esses espíritos malignos são destruidores, eles induzem essas pessoas a tirar a própria vida.

i) Altruísmo patriótico. Algumas pessoas ceifam a própria vida por amor à nação. Para poupar outros, entregam a própria vida. Esse tipo de suicídio pode ser chamado também de martírio ou auto-sacrifício.

No dia 11 de setembro de 2001, os passageiros do avião da United Airlines, que caiu na Pensilvânia, entraram em combate com os terroristas que haviam tomado e dominado o avião e se dispuseram a morrer para que aquele aparelho não fosse jogado contra a Casa Branca. Por amor aos outros, eles entraram em luta corporal contra os terroristas, impedindo, assim, que aquele voo da morte atingisse o seu nefando intento.

Um dos capítulos mais emocionantes da diáspora judia do ano 70 d.C. foi a fuga dos judeus para a fortaleza de Massada, às margens do mar Morto. Mais de três mil judeus escaparam e fugiram para essa fortaleza construída pelo rei Herodes. Do alto daquele monte, esses bravos judeus resistiram aos romanos a pedradas. Depois de vários meses de cerco, ao perceber que os romanos invadiriam a fortaleza por meio de uma rampa, tomaram a decisão de se matar coletivamente, considerando esse ato mais digno que o de entregarem suas famílias para que fossem abusadas, torturadas e mortas pelo inimigo.

Outro exemplo vívido do suicídio patriótico é o caso dos pilotos japoneses chamados camicases. Esses pilotos, por amor ao Japão, faziam voos para a morte com aviões cheios de bombas, cujos alvos eram os inimigos de sua pátria.

j) Radicalismo religioso. A religião pode ser um entorpecente mortífero. Ela pode envenenar as pessoas de ódio ou confundi-las com mentiras perigosas.

O líder religioso Jim Jones levou 912 pessoas ao suicídio coletivo em Jamestown, na Guiana, em 1978, induzindo-as a ingerir uma substância venenosa. Centenas de pessoas, enganadas por promessas mentirosas, tomaram veneno como se estivessem entrando numa nave espacial rumo à felicidade eterna.

O radicalismo religioso dos muçulmanos levou pilotos a sequestrarem aviões no dia 11 de setembro de 2001 para transformá-los em mísseis mortais arremetidos contra as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, e o Pentágono, em Washington. Ainda hoje, o mundo fica estarrecido com as facções radicais do islamismo, quando homens-bomba se explodem em mercados, praças, mesquitas e restaurantes, espalhando a morte e o terror. Esses loucos da cegueira espiritual suicidam e matam pensando receber uma recompensa na eternidade, um harém com muitas virgens, fruto da ideologia islâmica.

O suicídio não é a solução que o homem angustiado busca na hora da dor. Via de regra, ele é um ato de incredulidade, é fechar com as próprias mãos a porta da providência. Não há poço tão profundo que a graça de Deus não possa alcançar. Aonde o pecado estaciona, a graça de Deus avança. Quando o homem chega ao fim da linha, Deus pode lhe abrir um caminho espaçoso de livramento. Quando pensamos que não tem mais jeito para nós, com Deus ainda tem jeito. Quando as coisas estão perdidas, com Deus elas ainda não estão perdidas. O mesmo Deus que chama à existência as coisas que não existem, que faz brotar água da rocha, que abre fontes no deserto, que abre os olhos aos cecos, solta a língua dos mudos, abre o ouvido dos surdos, levanta os prostrados e faz a mulher estéril ser alegre mãe de filhos é também Aquele que restaura a alma do aflito, dá sabor à vida daquele que só consegue sentir o gosto da morte.

III. O POSICIONAMENTO CRISTÃO PARA O SUICÍDIO

Para o cristão, com fulcro na Bíblia Sagrada, o Suicídio é improcedente. É uma prática que tem sido estimulada e incentivada na atualidade, mas que se constitui em grave transgressão aos preceitos da Palavra de Deus. Os argumentos teológicos e os argumentos éticos do cristão são desfavoráveis à prática do suicídio por afrontar a soberania divina.

1. O posicionamento teológico. O suicídio está em desacordo com a vontade de Deus por três motivos (Adaptado do livro “O Suicido”, de Hernandes Dias Lopes):

a) O suicídio é um gesto de incredulidade. O suicida deixa de crer que Deus pode nos socorrer em toda e qualquer situação. A mulher de Jó, ao vê-lo nas cinzas, revoltada contra Deus, aconselhou seu marido que se matasse: “Então, sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2:9). Mas ele respondeu: “Como fala qualquer doida, assim falas tu...” (Jó 2:10). Não há poço tão profundo que a graça de Deus não possa alcançar. Não há túnel tão sombrio que a luz não o ilumine. Com Deus, quando tudo parece perdido, ainda há uma saída. Não há impossível para Deus. Ele pode todas as coisas. O salmista descreve isto de forma poético: “que faz justiça aos oprimidos; que dá pão aos famintos. O SENHOR solta os encarcerados; o SENHOR abre os olhos aos cegos; o SENHOR levanta os abatidos; o SENHOR ama os justos; o SENHOR guarda os estrangeiros; ampara o órfão e a viúva, mas transtorna o caminho dos ímpios. O SENHOR reinará eternamente. Louvai ao SENHOR!” (Salmos 146:7-9).

b) O suicídio é um gesto que atenta contra o propósito de Deus. A razão suprema da existência do homem é glorificar a Deus, estar em comunhão com Ele e fazer a sua vontade. O suicídio é a negação disso. O suicídio é um gesto de ingratidão para com o Criador. Jogar fora a dádiva que Deus nos deu é a mesma coisa que dizer a Ele que a vida que recebemos é indesejável e imprestável. Mesmo quando passamos por situações adversas, Deus nunca deixa de cumprir os Seus propósitos em nossa vida. , já restaurado de sua desventura, afirmou: “Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido” (Jó 42:2). Os irmãos de Jose do Egito, por inveja, venderam-no como escravo para o Egito. Vinte dois anos se passaram, e eles, num tempo de fome, tiveram de ir ao Egito comprar alimento. Nesse tempo, Deus já havia transformado a desventura de José em triunfo, tirando-o da prisão para o palácio. O jovem escravo tronou-se governador do maior império do mundo à época. José se deu a conhecer aos seus irmãos, dizendo-lhes: “Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida a um povo grande” (Gn.50:20). O apostolo Paulo resume esse grandioso e sábio propósito de Deus nestes termos: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm.8:28).

c) O suicídio é um gesto enganador. O suicídio é um embuste, é um engano; porque leva a pessoa a só enxergar o agora. O suicídio é uma visão equivocada acerca da vida, da morte e da eternidade. A pessoa perde a perspectiva de indestrutibilidade da vida e da perenidade da existência. A morte não é o ponto final do drama da vida. O suicídio não põe fim à dor que o provoca nem faz cessar a angústia que o seduz. A morte não pode acabar com os conflitos da alma. Ao contrário, ela pode levar a pessoa a um poço sem fundo, a um naufrágio sem resgate, a uma condenação sem livramento (Lc.12:19,20; 16:19-31).

Depois da morte, numa dimensão eterna, o homem continua existindo conscientemente, seja no Céu seja no Inferno. Somos mais do que matéria. Não somos um corpo que tem uma alma, mas uma alma que tem um corpo. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Temos em nós as digitais do Criador. Temos um valor infinito. Somos a menina dos olhos de Deus. O Criador é quem determina o início e o término da vida, não a criatura (Ec.3:2). É Deus quem estabelece quando e como a vida deve cessar, seja por doença, velhice ou acidente. Por conseguinte, o fim da vida está sob a presciência e soberania divina. Pense nisso!

2. O posicionamento ético. O suicídio conspira contra os interesses primários da Ética Cristã que visa a exaltar o Criador e o amor ao próximo. Quão paradoxal é que alguém conclua que a melhor coisa que pode fazer por si mesmo é destruir a própria vida. Como a melhor coisa para si mesmo pode ser o ato final contra a própria vida? Ninguém pode agir em seu próprio interesse quando seu plano é destruir a si mesmo. Suicídio é ódio por si mesmo, e isso é antinatural, é irracional, é imoral. Conforme disse Agostinho, o suicídio é um fracasso da coragem, é o escapismo existencial, é a fuga sem retorno, é a covardia mais acentuada, é o ato mais covarde.

O suicido é imoral, porque é assassinato: é assassinato de si mesmo; é assassinato de um ser humano criado à imagem e semelhança de Deus; é a falta de amor; é desumanidade; é egoísmo consumado.

O suicídio é a quebra dos dois principais mandamentos da lei moral que Deus deu ao homem: o quinto e o sexto mandamento. A síntese da lei moral é amar a Deus e ao próximo como a si mesmo (Mt.22:24-40). O suicídio é a violação dessa lei áurea. Não podemos demonstrar amor a Deus violando sua própria lei. Não podemos honrar o Criador, destruindo sua própria criação. Não podemos afirmar a bondade de Deus, descrendo de Sua providência. O suicídio é um ato de consumada incredulidade. É afirmar que nem mesmo Deus pode abrir-nos um caminho na escuridão de nossa noite existencial. O suicídio é afirmar que os impossíveis dos homens são também impossíveis para Deus.

O Quinto Mandamento da lei de Deus diz: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá” (Êx.20:12). Um suicida não honra pai e mãe quando, egoisticamente, tenta aliviar sua dor, abrindo uma ferida quase incurável na alma dos pais. A forma de honrar pai e mãe é buscando neles conselho, ajuda e orientação, e não impondo sobre eles um peso de culpa, de dor, da vergonha que terão de levar por toda a vida. Quem pensa na dor que provocará aos pais, aos familiares e aos amigos jamais pode ser estimulado a buscar a alternativa do suicídio.

O Sexto Mandamento diz: “Não matarás” (Êx.20:13). Ceifar a própria vida é um assassinato de si mesmo. O suicídio é uma usurpação de um direito soberano, inalienável e intransferível de Deus. Só Deus pode dar e tirar a vida – “O SENHOR é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela” (1Sm.2:6).

CONCLUSÃO

A vida é um precioso dom de Deus; devemos recebê-la com profundo senso de gratidão e cuidar dela com responsável mordomia. Por mais difíceis que sejam as circunstâncias, devemos lutar pela vida em todo o tempo e com todo heroísmo. Por essa razão, desistir de viver ou atentar contra a própria vida é uma atitude que conspira contra a vontade de Deus e atenta contra os interesses daqueles que nos cercam e nos amam.

Enfim, o suicídio é uma solução enganosa, é uma miragem, uma ilusão, um porto onde não devemos atracar nosso barco. A morte, embora inevitável e inescapável, não deve ser buscada. Ela virá a seu tempo, segundo os desígnios daquele que fez e faz todas as coisas conforme o conselho de Sua vontade. Se não podemos impedir que a morte nos ceife, não devemos apressá-la nem mesmo aplicá-la a nós mesmos. Esse é um direito absoluto e inalienável de Deus, daquele que é o Autor da vida. Mesmo que nos seja reservado o cálice amargo da dor, e que nos sintamos frágeis demais para cruzar o vale da sombra da morte, devemos rogar ao Pai que seja feita a Sua vontade, e não a nossa, como Jesus o fez (Mc.14:36). Amém?

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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 74. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. O Cristão, a Eutanásia e o Homicídio. PortalEBD_2002.
Luciano de Paula Lourenço. Suicídio é Homicídio.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Suicídio.
Hans Ulrich Reifler. A ética dos Dez Mandamentos. Vida Nova.

domingo, 22 de abril de 2018

Aula 05 – ÉTICA CRISTÃ, PENA DE MORTE E EUTANÁSIA


2º Trimestre/2018

 
Texto Base: Romanos 13:3-5; 1Samuel 2:6,7; João 8:3-5,7,10,11; Rm.13:3-5

 
"O SENHOR é o que tira a vido e a dá; faz descer à sepultura e faz tomar a subir dela" (1Sm.2:6).

 

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo sobre Ética Cristã e as questões morais de nosso tempo, trataremos nesta Aula sobre “Pena de Morte e Eutanásia”. Este é um dos mais polêmicos temas dentre os da Ética Cristã. Os dois possuem um só objetivo: a supressão ou interrupção de uma vida, ou seja, tirá-la deste mundo, sem que, pelo processo normal, se tenha chegado o tempo de Deus nos termos descritos por Salomão: ”Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer e tempo de morrer...”(Ec.3:1,2). Contudo, o Pós-Modernismo ignora o que diz a Palavra de Deus e defende, em todo o mundo, a legalização da intervenção do homem, determinando quem deve morrer. A vida é um dom de Deus; só a Ele cabe concedê-la ou suprimi-la, direta ou indiretamente (1Sm.2:6) -  “O SENHOR é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela”.

I. A PENA DE MORTE NAS ESCRITURAS SAGRADAS

A questão da pena de morte, chamada também de pena capital, está sendo mais amplamente discutida em nossos dias devido ao surgimento do terrorismo internacional organizado e da crescente criminalidade em todo o mundo. Quase não se passa uma semana sem que os meios de comunicação internacional nos informem sobre sequestros e assassinatos de pessoas inocentes com a finalidade de apresentar ideias ou reivindicações terroristas. Alguns argumentam que a pena capital é divinamente instituída e socialmente necessária, outros a consideram bárbara e anticristã. Tanto os que defendem quanto os que condenam a pena de morte apresentam argumentos e contra-argumentos teológicos e filosóficos para justificar sua posição.

O que diz as Escrituras Sagradas – Antigo e Novo Testamento - a respeito da pena de morte? Respondemos esta questão a seguir, com base no argumento do Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco, que analisa com muita clareza e de forma assaz convincente este assunto.  

1. No Antigo Testamento. A morte surge na Bíblia Sagrada como consequência do pecado. Deus já havia dito ao homem que, se ele pecasse, certamente morreria (Gn.2:17). Sabemos que a morte aí referida era a morte espiritual, ou seja, a separação de Deus. No entanto, o pecado também trouxe ao homem, como consequência, a morte física (Gn.3:19). Podemos, pois, observar, desde o início, que a morte física é consequência do pecado e quem a determinou foi o próprio Deus, que é o único dono da vida (1Sm.2:6).

- Civilização antediluviana. Deus aplicou a pena de morte a todos os homens da civilização antediluviana, salvo Noé e sua família (Gn.6:5-8). Mais uma vez verificamos que a deliberação para a morte do ser humano pela sua maldade e pecados proveio diretamente de Deus que, aliás, não havia sentenciado à morte o primeiro homicida (Gn.4:10-15), mas, antes, aplicou-lhe pena severa, porém, com oportunidade para que ele viesse a se arrepender e alcançar a salvação de sua alma.

- Civilização Pós Diluviana. Após o Dilúvio, Deus faz um pacto com Noé, prometendo não mais destruir o mundo com as águas do dilúvio, ocasião em que estabeleceu que o sangue do ser humano seria requerido de quem o derramasse (Gn.9:5,6).

“E certamente requererei o vosso sangue, o sangue da vossa vida; da mão de todo animal o requererei, como também da mão do homem e da mão do irmão de cada um requererei a vida do homem. Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem”.

Muitos interpretam este texto como uma autorização de Deus para o homem aplicar a pena capital. Mas, não é isto que o texto diz. Deus não afirma, em momento algum, que o homem está autorizado a matar seu semelhante por ser ele um criminoso. Muito pelo contrário, o texto nos diz que o próprio Deus requererá do assassino o sangue injustamente derramado. Em Gênesis 9:5 está escrito: “E certamente requererei o vosso sangue, o sangue de vossas vidas…como também da mão do homem e da mão do irmão de cada um requererei a vida do homem”; ou seja, é Deus quem se encarrega de punir com a morte aquele que matar a seu semelhante. Isto tem se cumprido literalmente durante os séculos. Qualquer censo penitenciário mostra que a idade dos criminosos encarcerados é sempre baixa e, raramente, um criminoso desde a juventude chega aos 40 anos de idade nesta vida criminosa. Por quê? Porque Deus, o único dono da vida, requer dele as maldades cometidas. Está escrito: “O homem carregado do sangue de qualquer pessoa fugirá até à cova; ninguém o detenha” (cf.Pv.28:17).

- Lei Mosaica. Na lei de Moisés vemos que a pena de morte foi instituída para a punição de delitos mais graves, como o homicídio, o adultério, a idolatria, o sequestro, o homossexualismo e as aberrações sexuais, a profanação do dia do descanso e a desobediência contumaz aos pais. Durante a marcha no deserto e na conquista da Terra Prometida, houve episódios em que se aplicaram estas normas, como nos casos do homem apanhado profanando o sábado (Nm.15:32-36), dos cabeças do povo que serviram a Baal-Peor(Nm.25:4,5) e de Acã (Js.7:19-26). Não devemos nos esquecer de que a lei de Moisés se encontrava debaixo da regra de talião, ou seja, olho por olho, dente por dente, bem como que muitas de suas disposições refletiam a dureza dos corações dos homens. Não nos esqueçamos, também, que a geração do deserto era uma geração de dura cerviz e incrédula, que acabou ela própria sendo condenada por Deus à morte no deserto por causa de sua incredulidade (Hb.3:17-19). 

Apesar destas disposições da lei de Moisés, encontramos, durante toda a história dos hebreus, constantes abrandamentos destas leis, a ponto de, nos tempos de Jesus, terem os próprios membros do Sinédrio, o maior tribunal judaico, mesmo em relação a Jesus, a quem acusavam impiedosamente, terem dito que não lhes era lícito matar homem algum (João 18:31).

- O rei Davi não foi apenado com a morte (2Sm.12:13). O homicídio e o adultério eram apenados com a morte, mas a Bíblia nos mostra que Deus, ao revelar o duplo pecado de Davi, não lhe aplicou a pena de morte prevista na lei, mas, expressamente, através do profeta, afirma que a morte não lhe seria aplicada (2Sm.12:13). Por que isto aconteceu? A resposta está em Êxodo 33:19 – “...terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem me compadecer”. É Deus quem decide. É Deus quem determina quem e quando uma pessoa deve morrer. Neste caso, Deus tratou pessoalmente do pecado de Davi (2Sm.12:10-12).

- Outros episódios registrados no Antigo Testamento, que não foi aplicado a pena capital, apesar das disposições da lei de Moisés. Apesar de a idolatria ser apenada com a morte, o povo, impunemente, sacrificava a deuses estranhos, mesmo durante reinados de homens fiéis a Deus, sem que a morte fosse aplicada (1Rs.15:13; 1Rs.22:42,43), nem fosse determinada por Deus, o que também se dava diante da prática do homossexualismo, que eram desterrados, mas não mortos(1Rs.15:12; 22:47). De igual modo, os que profanaram o sábado foram punidos, mas não mortos (Ne.13:15-21).

Verificamos, portanto, que, apesar das disposições da lei de Moisés, servos fiéis e sinceros de Deus, ao longo da história de Israel, jamais aplicaram tais disposições, numa clara demonstração que elas eram fruto da permissão divina e não da Sua vontade operativa. Algumas penas de morte ocorridas no Antigo Testamento, que estão ali registradas, foram por expressa determinação divina; isto prova que o próprio Deus, e não o homem, é quem pode condenar à morte. É o que verificamos no caso do homem que profanou o sábado, no caso de Acã, no caso de Agague, rei dos amalequitas (1Sm.15:1-3,32,33) e no caso dos parentes de Saul (2Sm.21:1-9).

O Antigo Testamento prescreve a pena de morte, todavia os ensinamentos de Cristo são no sentido de que todo homem tem o direito à salvação.

2. No Novo Testamento. Como já dissemos, nos tempos de Jesus, apesar das disposições da lei de Moisés, era ponto pacífico entre os príncipes dos judeus que não se devia aplicar a pena de morte, tanto que o Sinédrio não ousou aplicá-la nem mesmo a Jesus (João 18:31), preferindo entregá-lo aos romanos para que a sentença partisse deles, tanto que Jesus foi crucificado, pena aplicada pelos romanos aos rebeldes que não fossem cidadãos romanos (os cidadãos romanos eram decapitados, como foi Paulo).

Jesus, ao discorrer sobre sua doutrina no sermão do monte, em momento algum Ele abonou a pena de morte, tendo demonstrado que, aos olhos de Deus, era tão culpado o homicida (que poderia ser apenado com a morte segundo a lei de Moisés), quanto o que tivesse raiva do seu irmão (Mt.5:21,22), reafirmando que a pena imposta por Deus ao pecador é a morte espiritual, a separação eterna de Deus, a verdadeira morte; daí porque ter dito que os pecadores são “réus do fogo do inferno”. Aliás, Jesus foi bem claro em afirmar que não devemos temer quem tenha o poder de matar o nosso corpo, mas, sim, aquele que pode nos lançar no fogo do inferno (Mt.10:28).

Em momento algum vemos Jesus defendendo a pena de morte ou dela fazendo apologia no Seu ministério. Ao contrário, Jesus afirmou que Ele é a vida (João 14:6), que Ele veio ao mundo para que tenhamos vida com abundância (João 10:10), pois nele estava a vida (João 1:4), e é através dEle que passamos da morte para a vida(João 5:24).

- A morte de Jesus. Muitos afirmam que Jesus não era contrário à pena de morte, tanto que Se submeteu à esta condenação ao aceitar ir ao Calvário. Entretanto, devemos observar que a morte de Jesus era necessária e tinha um propósito divino para a redenção da humanidade. A aceitação da morte por parte de Jesus não insinuou a aceitação da pena de morte nem mesmo da soberania romana para condená-lo à morte, mas significou tão somente a aceitação da vontade de Deus. No Getsêmane, ficou bem claro que Jesus, como homem sem pecado, não poderia aceitar a morte física como algo natural e instintivo, mas sacrificou a Sua vontade por causa da vontade de Deus e não por qualquer outro motivo. Entregou-se à morte para agradar a Deus (Mt.26:38,39; Mc.14:34-36; Lc.22:41-44; Is.53:10). Se Jesus não tivesse subido ao calvário para morrer por nós, certamente, desceríamos ao inferno.

- Ananias e Safira (Atos 5:1-11). Aqueles que defendem a pena de morte costumam citar o episódio ocorrido com Ananias e Safira como uma realidade no Novo Testamento. O caso da morte desse casal não é uma aprovação da pena de morte no Novo Testamento. Em primeiro lugar, a penalidade aplicada a esse casal não veio da parte de Pedro, mas foi algo advindo diretamente do Espírito Santo, que tudo revelou a Pedro, o qual foi mero instrumento do anúncio da penalidade. Com efeito, se bem observarmos a passagem, veremos que Pedro se dirigiu a Ananias e lhe anuncia que seu coração estava cheio de mentira, havia sido enganado por Satanás. Ora, um homem comum não tem acesso a esta circunstância, que foi fruto da própria revelação do Espírito Santo a Pedro. Pedro foi apenas o porta-voz da sentença exarada pelo Espírito Santo, contra quem Ananias se dirigiu, de modo que aqui, uma vez mais, está demonstrado que só Deus (e o Espírito Santo é Deus) pode tirar a vida de alguém. Desta forma, este texto, antes de indicar a possibilidade da pena de morte, mesmo como exceção, reafirma que o único que pode aplicar esta pena é Deus, ninguém mais.

- Saulo de Tarso. A Bíblia afirma que Saulo tinha tanto ódio para com os cristãos que chegava a respirar ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor (At.9:1), tendo, antes, consentido na morte de Estevão (At.8:1). Todavia, como bem sabemos, este comportamento foi reprovado por Jesus quando se apresentou a Saulo no caminho de Damasco (At.9:5), sendo certo que o já transformado Paulo sempre se refere com tristeza e arrependimento dos tempos em que era um fiel executor da pena de morte (Gl.1:13-15; 1Co.15:9) – “Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus” (1Co.15:9).

- O poder dado às autoridades constituídas (Rm.13:1-4). Também, há quem busque defender a pena de morte, ou nela encontrar algum respaldo bíblico, invocando os textos pelos quais devemos nos submeter às autoridades. O referido texto de Romanos não está concedendo poder às autoridades para aplicar a pena de morte, mas para castigar os maus. O trecho afirma que as autoridades que existem foram constituídas por Deus, ou seja, ali estão por vontade operativa ou permissiva de Deus, podendo, pois, exercer legitimamente o poder que lhes foi atribuído, inclusive o poder de castigar os maus. Isto, em absoluto, confere às autoridades o poder de matar o semelhante, pois este poder, que é somente de Deus (Dt.32:39; 1Sm.2:6), não lhe foi, em momento algum, concedido. 

O fato de que existem autoridades que condenem à morte não significa que isto tenha sido concedido por Deus e seja do Seu agrado. Se assim fosse, teríamos de concordar que o rei Nabucodonosor estava legitimamente constituído para impor a adoração da sua estátua (Dn.3:1-6) ou que o rei Dario também poderia ter proibido a adoração a Deus como fez no seu decreto(Dn.6:7-9), ou, ainda, que o Sinédrio poderia proibir a pregação do evangelho pelos apóstolos (At.4:16-18). Tais atitudes, conquanto tenham decorrido da circunstância política e sejam válidas perante a lei dos homens, são usurpações indevidas do poder divino e, por isso, são atitudes pecaminosas. O mesmo se dá com relação à pena de morte, existente em muitos ordenamentos jurídicos, mas, nem por isso, podemos afirmar que as autoridades que a aplicam estejam agindo debaixo da vontade de Deus. O trabalho de matar, roubar e destruir não vem da parte de Deus, mas é obra típica do adversário de nossas almas (João 8:44, 10:10).

Sabemos que o tema é polêmico, mas temos a convicção de que a Bíblia Sagrada, em momento algum, dá a qualquer autoridade o poder de tirar a vida do semelhante, ainda que este seja mau e transgressor da lei. O fato de a pena de morte ter sido, inclusive, incluída na lei de Moisés (embora nunca tenha sido rigorosamente aplicada), não invalida este nosso entendimento, pois é bíblico que muito do que se constou na lei mosaica decorreu da dureza dos corações dos homens e não da vontade operativa de Deus (ou seja, que Deus tivesse querido isto, tendo apenas permitido). 

A defesa da pena de morte é a própria anulação da mensagem do evangelho, que é baseada na crença de que o homem pode se arrepender e, em se arrependendo, obter o perdão de todos os seus pecados. A Bíblia toda ensina que cabe a Deus, o único dono da vida, a aplicação de eventual pena de morte, pena esta que é definitiva, pois não atinge apenas a morte física, mas também a morte espiritual. 

(Adaptado do argumento do Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco, quando comentou sobre “O Cristão e a Pena de Morte”, no PortalEBD_2002).

II - EUTANÁSIA: CONCEITOS E IMPLICAÇÕES

Após termos abordado a questão da pena de morte, analisaremos desta vez outra questão ética que diz respeito ao dom divino da vida: a Eutanásia, também chamada de “homicídio piedoso”, uma prática que tem sido estimulada e incentivada na atualidade, mas que se constitui em grave transgressão aos preceitos da Palavra de Deus.

1. O conceito de Eutanásia. Etimologicamente, a palavra “eutanásia” é um composto de duas palavras gregas: “eu”, que quer dizer bom e “tanatos”, que quer dizer morte. “Eutanásia” é, portanto, “boa morte”, também conhecida como "morte misericordiosa. No sentido técnico, a “eutanásia” significa a interrupção da vida por motivos piedosos, ou seja, a determinação da morte de alguém por estar ela sofrendo, sem que haja condições naturais de cura, de restabelecimento da saúde do doente.

Como se percebe, na Eutanásia há um julgamento feito por alguém no sentido de que “a morte é irreversível para aquela pessoa que não tem mais condições de viver, passando a sua vida a ser apenas um sofrimento e um padecimento sem razão, visto que a morte é inevitável e, deste modo, melhor será pôr fim a esta vida, visto que não há mais solução para o caso, não sendo razoável que a pessoa fique sofrendo ou vegetando por um prazo indeterminado”. Este é um raciocínio perfeitamente lógico, e que demonstra uma aparente solidariedade e caridade para com o próximo; já que a pessoa vai morrer mesmo, por que deixá-la sofrendo, por que não lhe dar uma morte mais digna e menos dolorosa? Todavia, temos, dentro deste raciocínio, um sofisma, um grande engodo do adversário de nossas almas; temos uma comprovação do que diz a Escritura de que “há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte”(Pv.14:12). Todo o belo e tocante raciocínio da Eutanásia parte de uma premissa falsa, qual seja, a de que o homem é senhor de sua vida, o que não é verdade.

Existem três tipos de Eutanásia: Ativa, Passiva e Eugênica. Os três são condenadas pela Bíblia Sagrada.

·         Eutanásia Ativa. É aquela em que o médico, a pedido do paciente, providencia a sua morte.

·         Eutanásia Passiva. É a que se dá mediante o desligamento de aparelhos que farão com que a vida se extinga. Tanto a Ativa quanto a Passiva são condenadas pela Bíblia Sagrada. Há uma tendência de considerar que a questão da eutanásia seja reduzida a uma questão técnica médica, como se o médico não fosse um ser humano como qualquer outro, que não pode se constituir em senhor da sua própria vida, que dirá da vida de seu paciente.

·         Eutanásia Eugênica. Eugênia é a ciência que se preocupa com as condições de melhoria da raça humana. Assim, pela eutanásia eugênica procura-se evitar o nascimento de deficientes físicos e mentais, ou eliminar os já nascidos. Aconteceu na Alemanha de Hitler. Em nome da Eugênia genética, Hitler mandou sacrificar nas câmaras de gás, cerca de seis milhões de Judeus; ordenou, ainda, a morte de todos os velhos, deficientes físicos e mentais internados nos hospitais e manicômios, afim de que esses locais fossem utilizados como alojamentos para os soldados feridos.

Deus condena tudo isto. Diz a Bíblia que a vida de cada homem pertence a Deus (1Sm.2:6), até porque foi Ele quem criou o homem (Gn.1:26,27), sendo, pois, o Senhor da vida de todos os homens (Sl.24:1; João 10:17,18). O homem é um simples mordomo dos dons divinos, entre os quais, o dom da vida, devendo administrá-la e, depois, prestar contas do que recebeu do Senhor (Hb.9:27). Assim, se o homem não é senhor da sua vida, não pode determinar quando e como deve ela findar. Vemos, pois, que, diante desta verdade bíblica, o raciocínio da Eutanásia não faz sentido algum, pois não temos direito algum de pôr fim a nossa vida ou de qualquer semelhante, por motivos de “piedade”, “misericórdia” ou qualquer outra razão aparentemente benemérita.

2. As implicações da Eutanásia. Dentro da “cultura de morte” que se estabeleceu no mundo de hoje, cada vez mais vozes se levantam a favor da Eutanásia, que já está legalizada, com certas restrições, em alguns países como a Holanda, a Austrália, dentre outros. A prática da eutanásia tem implicações de ordem legal, moral e ética.

  • Nos aspectos legais, a Constituição Brasileira assegura a "inviolabilidade do direito à vida" (Art.5°). Assim, a "eutanásia" é tipificada como crime no Código Penal Brasileiro (Art.122). No entanto, tramita no Senado Federal o Projeto de Lei n° 236/12 (Novo Código Penal) onde o juiz poderá deixar de aplicar punição para quem cometer a eutanásia seja ela passiva ou ativa.
  • Nas questões de ordem moral nos deparamos com a violação do Sexto Mandamento: "Não matarás" (Êx.20:13). E quando a Eutanásia é consentida pelo paciente, surge o problema do suicídio, que é auto-homicídio, que é pecado.

Percebe-se que por detrás da ideia de que se pode abreviar a morte de alguém por “motivos piedosos”, está a velha artimanha satânica de indução do homem a ser deus. É a mesma história contada a Eva no jardim, segundo a qual o homem poderia ser igual a Deus, conhecendo o bem e o mal (Gn.3:5). A defesa da Eutanásia esconde um desejo do homem de ser senhor de sua vida, como se isto fosse possível dentro da ordem estabelecida pelo verdadeiro Senhor dos senhores, o único e Soberano Deus.

Portanto, todo e qualquer cristão verdadeiro, cumpridor da Palavra de Deus, abominará a Eutanásia, reconhecendo nela mais uma manifestação de rebeldia contra Deus.

III. A VIDA HUMANA PERTENCE A DEUS

Conforme a Bíblia Sagrada, a vida é um bem inalienável, pertence exclusivamente a Deus. Está escrito: “O Senhor é o que tira a vida e a dá...”(1Sm.2:6); diz mais: “...eu mato e eu faço viver; eu firo e eu saro; e ninguém há que escape da minha mão”(Dt.32:39). A vida pertence a Deus por direito de criação – “E criou Deus o homem à sua imagem...e soprou em suas narinas o fôlego de vida...”(Gn.1:27; 2:7).

1. A Fonte originária da vida. A Bíblia nos informa que a fonte originária da vida é o próprio Deus, o Criador de todas as coisas. Deus não criou somente a matéria, mas criou também toda a espécie de seres vivos, bem como o ser humano (Gn.1:21-27; João 1:3; Cl.1:16). Diz o Gênesis: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gn.2:7). Depois que o homem estava formado, pelo processo especial da combinação das substâncias que há na terra, o Criador lhe soprou o fôlego da vida, dando início, assim, a vida humana.

O homem foi criado a partir do pó da terra para demonstrar que é parte da natureza. Ele é a síntese da criação terrena. Recebeu o fôlego de vida diretamente de Deus. O homem interior (alma e espírito), considerada a parte imaterial do homem é sinal da sua relação especial e peculiar para com o seu Criador. A alma é considerada a sede dos sentimentos, do entendimento e vontade – é a marca da individualidade de cada ser humano; já o espírito é a sede da consciência da existência de uma relação de dependência do homem em relação a Deus, é a ligação do homem com o seu Criador.

Deus criou o homem com o propósito de torná-lo a criatura mais feliz da Terra. A felicidade do homem depende da sua comunhão com Deus. Ele deseja que o homem seja feliz e, por isso, elaborou o plano da salvação.

O ser humano é a coroa da criação. Esta condição do homem, de ser a “coroa da criação terrena”, é a principal razão de ser dotado de uma dignidade ímpar, que deve ser reconhecida por todos os seres humanos e cujo ataque é o principal objetivo do inimigo de nossas almas. Portanto, o Deus vivo é a fonte originária da vida e só Ele tem autoridade exclusiva para concedê-la ou tirá-la (1Sm.2:6).

2. O Caráter sagrado da vida. A vida humana é sagrada e inviolável em cada momento da sua existência porque a sua origem é divina. Desde o seio materno, o homem pertence a Deus que tudo perscruta e conhece, que o vê quando ainda é um pequeno embrião informe, e que nele entrevê o adulto de amanhã.

O que a Bíblia ensina sobre a vida?

·     Que o homem foi criado por Deus. Embora a ciência e a filosofia procurem a origem da vida em fontes obscuras e complexas, a verdade bíblica é uma só: Deus criou o homem – “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida e o homem foi feito alma vivente”(Gn.2:7). Esta é a única verdade, quer a ciência e a filosofia queira ou não.

·     Que a vida humana é sagrada. O sopro que conferiu vida ao homem saiu de dentro de Deus. Tudo o que sai de Deus, sai santificado, porque Deus é Santo. Assim, apenas a vida humana foi santificada.

·     Que a vida do homem é um bem inalienável. A vida pertence a Deus – “Do Senhor é a terra e a sua plenitude; o mundo e aqueles que nele habitam”(Sl.24:1); “...pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas”(Atos 17:25). Desta feita, ninguém pode dizer que a “vida é minha, eu faço dela o que quero”.  Biblicamente, a vida pertence a Deus. Deus criou, santificou e abençoou a vida humana. Ele é, pois, o Criador, o Doador e o Senhor da vida. Só Ele pode tirá-la (1Sm.2:6). Ao homem Ele ordenou: “Não Matarás”.

O Pós-Modernismo ignora o que diz a Palavra de Deus, defendendo, em todo o mundo, a legalização da intervenção do homem, quer para selecionar quem pode nascer, quer para determinar quem deve morrer. Entretanto, exterminar a vida, em qualquer circunstância, é uma afronta ao Príncipe da Vida (At.3:15).

A vida é sagrada desde a concepção até o seu derradeiro dia. No caso de alguma enfermidade, o ser humano tem o direito de receber tratamento adequado tanto na busca da cura como no alívio de suas dores. Buscar a morte como alívio para o sofrimento é decisão condenada nas Escrituras. Jó, por exemplo, embora sofrendo dores terríveis, reconheceu o caráter sagrado da vida e não aceitou a sugestão de sua esposa em amaldiçoar a Deus e morrer (Jó 2:9). Ninguém pode dizer: “a vida é minha; eu faço dela o que eu quiser”. Não! Não pode! A vida pertence a Deus por direito de criação – “E criou Deus o homem à sua imagem... e soprou em seus narizes o fôlego de vida...” (Gn.1:27; 2:7).

Desta forma, a vida que pensamos ser nossa, na verdade ela é apenas uma concessão; a propriedade é de Deus. Portanto, mesmo que uma pessoa seja portadora de uma doença incurável e esteja em estado terminal, enquanto nela houver vida, ela está sob o domínio de Deus, pois, segundo a Bíblia, Deus é quem controla o tempo, conforme está escrito: “Tudo tem o seu tempo determinado [...] há tempo de nascer e tempo de morrer...” (Ec.3:1,2). É, pois, Deus quem determina o tempo de morrer - “O Senhor é o que tira a vida...” (1Sm.2:6).  Esta é a verdade bíblica, e ninguém pode desativá-la.

CONCLUSÃO

A vida humana tem sua origem em Deus, logo é sagrada durante toda a sua existência. A Pena de Morte existe como um castigo divino aos maus, mas cabe à Igreja divulgar a vida e defendê-la a todo custo. Que as nossas palavras sejam iguais às de Cristo, a quem devemos imitar: palavras de vida eterna (João 6:68). A Eutanásia é conhecida como homicídio piedoso, porém a Bíblia não faz diferença entre homicídio piedoso e homicídio maldoso. O que ela diz é: “Não matarás” (Êx.20:13). Quanto ao homicida, a Bíblia diz: “...quanto aos tímidos...e aos homicidas...a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte” (Ap.21:8). Portanto, o homem, constituído ou não de autoridade, não pode tirar a vida de ninguém. O poder absoluto sobre a vida e a morte pertence a Deus.

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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 74. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. O Cristão e a Pena de Morte. PortalEBD_2002.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. O Cristão, a Eutanásia e o Homicídio. PortalEBD_2002.
Pr. Elinaldo Renovato de Lima. Refletindo sobre o cristão e a pena de morte. 2002.