segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Aula 10 - A PERDA DOS BENS TERRENOS


Texto Básico:Jó 1:13-21
 
Nu sai do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor”(Jó 1:21).
 

INTRODUÇÃO

Imagine um dia que começa como qualquer outro. Você se levanta para ir ao serviço e, chegando na firma, encontra as portas lacradas. A firma fechou, sem aviso. Você, inesperadamente, ficou desempregado. Tendo obrigações para cumprir, você decide ir ao banco para sacar dinheiro e pagar algumas contas que estão vencendo. Mas, chegando ao banco, eles dizem que sua conta foi fechada, sem explicação, e que você não tem nenhum centavo. Você resolve voltar para casa, ainda tentando entender o que está acontecendo. Chegando perto de sua rua, você percebe vários bombeiros e ambulâncias correndo por todos os lados. Seus vizinhos estão na rua, chorando inconsolavelmente. Antes de você chegar até sua casa, um dos vizinhos chama você e fala palavras que jamais esquecerá: "Aconteceu tão rápido", ele diz, "que não foi possível salvar ninguém. A casa, de repente, explodiu. Todos que estavam dentro morreram. Eu sinto muito. Todos os seus filhos estão mortos."
Alguns dias passam. Você acorda num lugar estranho. Olhando para seu redor, percebe que está num hospital. Você está sentindo dores terríveis, e uma coceira constante. Depois de algumas horas de sofrimento, a enfermeira avisa que está na hora de visita. No seu caso, várias pessoas serão permitidas entrar para visitá-lo. A primeira pessoa que entra no quarto é sua esposa. Precisando muito de uma palavra de consolo e de explicação, você olha para ela com tanta esperança, nunca imaginando o que ela vai falar. Ela chega perto da sua cama e começa a gritar: "Eu não entendo a sua atitude", ela diz. "Sua fé não vale nada. Você confia num Deus que fez tudo isso? Amaldiçoe o nome de Deus e morra!" Com essas palavras, ela sai do quarto.
Enquanto você procura entender tudo isso, chegam alguns amigos seus. São velhos amigos, sempre prontos para ajudar. Agora será consolado! Mas, eles entram no quarto, vêem seu estado crítico e seu corpo desfigurado pela doença, e não falam nada. Ficam com a boca aberta, olhando, mas não acreditam. Depois de um longo período de silêncio, um deles fala: "Você mereceu isso. Você deve ter feito alguma maldade muito grande, e Deus está te castigando. Ele tirou todos os seu bens e matou seus filhos. Ele causou esta sua doença. Ele fez tudo isso porque você é mau!" Você começa discutir quando um dos outros concorda com o primeiro, e depois outro também concorda com eles. Não adianta discutir. Para eles, você é um detestável pecador que deve sofrer mais ainda.
De repente, algumas crianças passam no corredor. Você se anima, porque crianças sempre trazem alegria e amor. Mas, estas crianças param na porta, vêem a feiúra do seu rosto e corpo, e saem correndo. "Nunca vi nada tão feio", uma delas comenta.
Esta paráfrase, usada por Dennis Allan, explica que isto pode acontecer com qualquer pessoa. A Bíblia Sagrada mostra que um homem, cuja fidelidade e retidão foi testemunhada pelo próprio Deus, passou por isso, seu nome era Jó. Este homem, fiel e abençoado por Deus, perdeu, num dia só, todas as suas posses e todos os seus filhos. Logo depois, foi atacado por uma terrível enfermidade. A própria esposa foi contra este homem de Deus, e disse: "Amaldiçoa a Deus e morre" (Jó 2:9). Os amigos o condenaram e discutiram com ele para provar a sua culpa (a maior parte do livro relata essas discussões – Jó 2:11- 37:24). Todos os conhecidos dele, até as crianças, o desprezaram (Jó 19:13-19). Você sabe qual foi a sua reação? Diz a Bíblia que “Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou, e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome  do Senhor”(Jó 1:20,21).
Qual seria a nossa reação diante das perdas materiais, filhos, empregados, amigos dignidade, reputação...?  Como devemos nos comportar diante de tais acontecimentos? Nesta Aula, à luz da vida de Jó, estudaremos os princípios bíblicos para o crente lidar com as perdas no decurso da vida.

I. JÓ E A EXPERIENCIA DAS PERDAS HUMANAS

Jó era um homem especial, um exemplo impressionante em sua época e em nosso era. Logo no início do livro, ele é apresentado como homem extremamente correto, inculpável, íntegro, irrepreensível, justo, precavido (“evitava fazer o mal”), reto (“andava na linha”) e temente a Deus (cf Jó 1:1). Duas vezes o próprio Deus afirma que Jó era sem igual: “No mundo inteiro não há ninguém tão bom e honesto como ele” (Jó 1:8; 2.3).
Mas, Jó não era ímpar somente em seu caráter. Também, no que diz respeito à prosperidade, ele era aprovado e bem-sucedido em tudo. Jó tinha saúde, família, riquezas e muita gente a seu serviço. Era “o homem mais rico do oriente”: possuía 11.500 cabeças de gado. Mas, em um mesmo dia, no dia do aniversário do seu filho mais velho, Jó recebeu quatro más notícias seguidas, uma imediatamente após a outra. De uma hora para outra, perdeu tudo. As perdas foram provocadas por: calamidades sociais, calamidades sobrenaturais, calamidades meteorológicas e  calamidades físicas. Foi uma experiência altamente bombástica.
a) Perdas decorrentes de calamidades sociais. Diz o texto sagrado que era o dia de festa na casa do filho mais velho, ou seja, estava-se no início do turno de dias dos costumeiros banquetes do patriarca. Ao fim desse turno é que Jó incumbia-se de fazer um sacrifício a Deus em favor de seus filhos. Portanto, podemos entender que o dia escolhido pelo adversário era o do começo do turno dos dias, ou seja, o momento mais distante do de maior devoção do patriarca. É sempre assim, o inimigo procura atuar no momento em que estamos mais apegados às coisas materiais, mais distantes da adoração a Deus. É por isso que devemos ser sempre vigilantes e jamais deixarmos de estar em oração e comunhão com Deus (cf. 2Ts 5:17).
No momento mais distante da adoração, o adversário, que, na sua mente, entendia que o patriarca servia a Deus unicamente pelos benefícios dEle recebidos (como muitos crentes que servem a Deus, atualmente, por causa da prosperidade material), tratou de, imediatamente, atacar Jó no seu patrimônio, mediante o furto de seus bois e jumentos(Jó 1:14,15). Os sabeus, povo descendente de Cão(Gn 10:7), eram cruéis e sanguinários, tanto que, além de furtarem, mataram todas as vítimas, não deixando nada a desejar em relação aos latrocidas dos nossos dias. Logo percebemos que estas pessoas criminosas são grandes instrumentos do adversário e lhe servem a seus propósitos. Temos, neste episódio, a certeza de que é fundamental a proteção de Deus sobre o patrimônio do ser humano.
Mas não foi esta a única calamidade social vivida por Jó. As Escrituras também registram que a terceira má notícia recebida pelo patriarca, naquele dia, foi o roubo de seus camelos por parte dos caldeus(Jó 1:17), que, organizados em três bandos, também mataram a todos os servos, menos o que veio dar a triste notícia para Jó, levando seus camelos, que eram seus animais de transporte.
Apesar de toda essa perda, Jó não se revoltou, não se indignou, não ficou clamando por vingança ou postulando a pena de morte para os delinquentes, mas chegou à constatação de que tudo que estava sob o seu domínio era de Deus e que Ele poderia, legitimamente, permitir a sua retirada.
Não devemos prender nossos corações nas coisas que possuímos, ainda que angariadas com o suor do nosso rosto, pois "a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui"(Lc 12:15b), não sendo nosso propósito ajuntar tesouros na terra, "onde a traça e a ferrugem tudo consomem e onde os ladrões minam e roubam"(Mt 6:19).
A reação de Jó foi agradável a Deus, pois diz o texto que Jó não pecou ao assim reagir(Jó 1:22). Será que temos nos mantido sem pecado quando somos, igualmente, vítima dos ladrões? Que, diante das calamidades sociais, possamos, como Jó, não pecar e adorar ao Senhor.
b)  Perdas decorrentes de calamidades sobrenaturais. Mal o patriarca recebera a notícia de que havia perdido parte significativa do seu gado por obra dos sabeus, os criminosos de seu tempo, chega outro servo remanescente com a notícia de que o restante do gado havia sido consumido de forma sobrenatural, pois "fogo de Deus caiu do céu e queimou as ovelhas e os moços, e os consumiu"(Jó 1:16). Estamos aqui diante de uma calamidade sobrenatural, ou seja, de uma calamidade que não tem explicações entre os fenômenos da natureza; que a física e, por extensão, a ciência e o conhecimento humano não podem explicar. Quando lemos o livro de Jó, sabemos que foi uma operação satânica permitida por Deus, mas o patriarca nada sabia, assim como, muitas vezes, não sabemos os desígnios divinos em nossas provações. No desespero, o único sobrevivente, um servo de Jó, identifica este fogo como sendo "fogo de Deus", mas jamais um "fogo de Deus" iria ter uma finalidade destrutiva, iria matar e destruir os bens de um servo fiel ou seus empregados, inocentes que eram diante de seu patrão. O fogo destruidor foi, sem dúvida, uma demonstração inequívoca de poder sobrenatural, de poder acima do poder humano, mas não era de Deus, pois, Deus não veio para matar, roubar e destruir.
É preciso termos cuidado com fenômenos sobrenaturais que aconteçam à nossa volta, pois o adversário é especialista em imitar o que Deus faz, como, aliás, dá-nos conta a Bíblia Sagrada(2Co 11:14).
c) Perdas decorrentes de calamidades meteorológicas. Mal havia o servo remanescente contado a Jó a perda sobrenatural de suas ovelhas e dos empregados que dela cuidavam, chega a mais dolorida de todas: "um grande vento sobreveio além do deserto e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu sobre os mancebos, e morreram "(Jó 1:19). Agora, era um fenômeno meteorológico que ceifava a vida dos filhos de Jó.
Apesar de ter perdido seus filhos por causa deste "grande vento", Jó não fez como muitos que, mesmo desabrigados e necessitados, após estas catástrofes, maldizem e blasfemam do nome do Senhor, literalmente culpando a Deus pelas catástrofes que aconteceram em suas vidas (esquecendo-se, muitas vezes, que elas são resultado de sua própria imprudência e vida desregrada). Em tudo isto, Jó não pecou, não atribuindo a Deus falta alguma.
Será que temos agido assim, ou temos feito coro com os desabrigados e necessitados rebeldes, muitas vezes maldizendo a tudo e a todos pelas cenas que presenciamos ou pelo que tenhamos sofrido na própria pele? Mais importante do que um patrimônio, do que os próprios entes queridos que venhamos a perder, está a nossa salvação eterna.
Que catástrofes naturais não nos façam perder a salvação e criarmos para nós mesmos uma catástrofe muito maior e, o que é pior, eterna!
d) Perdas decorrentes de calamidades físicas. Satanás, mais uma vez, mostra seu engano e Deus, sabedor do que segurava Jó, permite que seja também provado na sua integridade física, na sua saúde. Assim que foi permitido por Deus - Deus não permitiu ao adversário que tocasse na vida de Jó (prova de que só Deus tem o poder sobre a vida de um ser humano) -, o adversário impõe a Jó uma chaga maligna, que o atingiu dos pés à cabeça, uma doença horrível que trouxe grande sofrimento ao patriarca. O texto sagrado afirma-nos que ele mal foi reconhecido pelos seus amigos, o que indica que a doença era deformativa; que a doença atingia a sua pele e que perturbava o seu sono, pois devia haver uma intensa dor. Era algo pior do que um câncer, era como uma espécie de elefantíase, segundo os estudiosos das Escrituras.
Se vier sobre nós a prova da doença, a prova da enfermidade, devemos pedir a Deus a cura, mas sempre sabendo que, muitas vezes, não é propósito de Deus nos curar mas, através de nossa doença (e até morte), glorificar o Seu nome através de nós. A doença não é, como muitos andam dizendo por aí, firmados na falsa doutrina da confissão positiva, um sinal de pecado, tanto assim que Jó não tinha pecado e ficou doente, como também não tinha pecado o profeta Eliseu, que morreu de uma doença que teve e da qual não foi curado(2Rs 13:14), como também o próprio cego de nascença, cuja doença foi curada para glória do nome de Deus(Jo 9:1-3). A doença pode ser de causas físicas e naturais, como também, por operação maligna, como no caso de Jó. O fato é que, em havendo a enfermidade, devemos nos manter na disposição do mestre, descansando nEle e não perdendo a fé.

II. A PERDA DOS BENS

Apesar de ser um homem justo e temente a Deus, Deus permitiu que Satanás destruísse o rebanho, as posses, os filhos e  a saúde de Jó. Em um mesmo dia, Jó perdeu:
·   Todo o gado (7.000 ovelhas, 3.000 camelos, 1.000 bois e 500 jumentos).
·   Todos os empregados (administradores, agricultores, boiadeiros, cortadores de lã, guardas das torres de vigia, plantadores de capim, roçadores de pastos, tiradores de leite, tratadores de animais, vendedores de gado, etc). Só escaparam aqueles que vieram trazer essas notícias.
·   Todos os dez filhos (três mulheres e sete homens). Estavam todos comendo e bebendo na casa do irmão mais velho, quando o furacão atingiu a casa e a derrubou sobre eles. No dia seguinte, havia dez caixões de defuntos para Jó enterrar.
Jó perdeu todas as suas posses e seus filhos. Apesar de tudo isso, ele recusa-se a negar a Deus, embora não compreenda o porquê de todos estes males.
Satanás imaginava que ninguém permaneceria firme na sua devoção e adoração a Deus diante da perda dos bens materiais e, principalmente, dos filhos. Ele estava enganado. Jó passou por toda expressão normal de dor e luto. Ele “rasgou o seu manto”(Jó 1:20), roupa usada especialmente pela nobreza ou por homens em posições elevadas; esta ação talvez simbolizava seu coração quebrantado (veja Jl 2:13). Ele “rapou a sua cabeça”(Jó 1:20) – parte de uma prática comum em rituais de luto, como mostram outros textos (veja Is 15:2; Jr 7:29; Ez 7:18; Am 8:10). Ele “se lançou em terra, e adorou”(Jó 1:20), isto é, ele prostrou-se em uma atitude de humildade e submissão a Deus e continuou a adorá-lo em meio à severa adversidade. Ele disse: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1:21). Este versículo mostra a completa submissão à vontade de Deus que caracterizava Jó e que é uma marca da integridade fundamental que ele mantinha. Embora essa declaração dos seus lábios possa ser uma “fórmula de submissão”, ela revela Jó engrandecendo a Deus em vez de amaldiçoá-lo ou se rebelar contra Ele.
“Em tudo isto” (Jó 1:22) – tanto naquilo que aconteceu a Jó como no que ele disse e fez – não houve qualquer expressão de transgressão: “Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma”. Ele não viu em Deus nenhuma ação inapropriada, responsável ou culpável. Jó sobreviveu a todas as intempéries e fazia sua pública profissão de fé: “Eu sei que o meu Redentor vive, e que no fim se levantará sobre a terra” (Jó 19:25). Jó é um dos mais notáveis exemplos de resistência frente às vicissitudes pelas quais o ser humano pode passar.
Qual deve ser a nossa atitude quando perdermos um bem que consideramos precioso? A mesma de Jó: completa submissão à vontade de Deus. Deus deve ser honrado tanto nos momentos de desgraça como nos momentos bons. Devemos nos conscientizar que "... nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele" (1Tm 6:7,8). Portanto, não devemos colocar nosso coração em coisas que terão baixa durabilidade comparada ao tempo que nos está destinado na eternidade.
Também é preciso entender o real lugar que os bens ocupam em nosso coração. Se eles ocuparem o lugar destinado apenas a Deus, Deus se encarregará de nos ensinar a finitude dos bens materiais, seja por perda repentina, seja por degradação com o passar do tempo. E Deus fará isso por amor a nós, para que nos lembremos que Ele é o nosso maior bem. O Deus que dá pode também tirar, de acordo com sua sabedoria e vontade.

III. MESMO NA PERDA PODEMOS DESFRUTAR O AMOR DE DEUS

1. Sua Graça. Jesus disse ao  apóstolo Paulo: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”(2Co 12:9). Esse é o grande paradoxo do cristianismo. A força ao dizer que é forte, na verdade, é fraqueza; a fraqueza ao dizer que é fraca, na verdade, é força. O poder de Deus revela-se nos fracos. Paulo pediu para Deus substituição, mas Deus lhe deu transformação. Deus não removeu sua aflição, mas lhe deu capacitação para enfrentá-la vitoriosamente. Deus não deu explicações para Paulo, fez-lhe promessas:”A minha graça de basta”. Não vivemos de explicações, vivemos de promessas. Nossos sentimentos mudam, mas as promessas de Deus são sempre as mesmas. O apóstolo se contenta com a resposta do Senhor e declara: “De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo”. Em vez de murmurar e se queixar do espinho na carne, ele se gloriaria nas fraquezas. Dobraria os joelhos e agradeceria ao Senhor por elas. Suportaria de bom grado, desde que o poder de Cristo repousasse sobre ele.
O sofrimento do tempo presente não é para se comparar com as glórias por vir a serem reveladas em nós(Rm 8:18). A nossa leve e momentânea tribulação produz, para nós, eterno peso de glória(2Co 4:17). Aqueles que tem a visão do Céu são os que triunfam diante do sofrimento. Aqueles que ouvem as palavras inefáveis do paraíso são aqueles que não se intimidam com o rugido do leão. O sofrimento é por breve tempo, o consolo é eterno. A dor vai passar, o Céu jamais! A caminhada pode ser difícil, o caminho pode ser estreito, mas a graça de Cristo nos basta.
2. Seu amor. Ainda que percamos os mais preciosos bens, podemos desfrutar do amor de Deus. Deus é amor (1João 4:8b) e, portanto, tudo o que faz em relação ao homem e a todos os demais seres do Universo é fruto deste Seu caráter amoroso. O amor de Deus não tem limites e não podemos, portanto, medi-lo de forma racional, mas somente através de uma experiência direta com o Senhor(Ef 3:17-19), ainda que, muitas vezes, queiramos limitar o amor de Deus segundo os nossos conceitos e as nossas experiências com Ele.
É no momento da luta, da dificuldade, do problema insolúvel, que vemos quão grande é o amor de Deus que está em Cristo nosso Senhor! Quando o Senhor nos coloca no meio do fogo, no meio das águas e nós, apesar de todo o calor, de todas as ondas, sentimos que não podemos, em absoluto, caminhar, mas, então, vemos que o Senhor, embora tenha permitido que ali estivéssemos, vem com Sua forte mão nos socorrer, nos amparar e nos levar até o porto seguro. É nesse momento que presenciamos que o Senhor está no absoluto controle de todas as coisas e que todas as coisas que estão acontecendo, embora pareça serem danosas para nós, embora sejam, efetivamente, doloridas e amargas nesse momento, estão dentro de um propósito de Quem nos ama, de Alguém que não quer nos destruir, mas nos aprimorar, de Alguém que quer aprofundar Seu relacionamento conosco.
A provação é uma demonstração do amor de Deus, é uma prova de que o nosso Deus é um Deus presente, um Deus que tem prazer em fazer que o homem cresça espiritualmente, vá de glória em glória e siga sempre para a infinita caminhada em busca da perfeição espiritual. Ao contrário dos deístas, vemos que o nosso Deus não nos abandonou após a criação nem nos deixa à própria sorte, submetidos a leis por Ele estabelecidas para a ordem cósmica, mas é um Deus que, embora tenha criado leis para este Universo, é humilde e amoroso o suficiente para vir até o nosso encontro, inclinar-se para nos ouvir e estar ao nosso lado no difícil, mas importante, processo de crescimento e desenvolvimento espiritual. Ele faz isto porque nos ama, porque quer o nosso bem(Rm 8:28).
3. Deus intervém na história. A Bíblia Sagrada está repleto de fatos que mostram que Deus é o ser soberano que intervém na história da humanidade. “Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade”(Is 46:9,10).
A intervenção de Deus na história da humanidade é bastante notória. Infelizmente há muitos que não enxergam essa realidade. Os chamados “deístas”, ou seja, aquelas pessoas que aceitam a existência de Deus(ou de um “deus”), não acreditam que haja intervenção divina no processo histórico da humanidade. Eles afirmam que Deus é simplesmente como um relojoeiro que, depois de criar seu mecanismo, deu “cordas e o abandonou à mercê do destino”. Todavia as evidências mostram que eles estão equivocados, pois Deus se preocupa, sim, com o processo histórico da humanidade. Em todas as dispensações Deus interveio na história da humanidade; a Bíblia está repleto de fatos. Ele intervém tanto há história geral(João 3:16,17), envolvendo toda a humanidade, como também na individual(Sl 8:3,4; João 9:1-41) de cada pessoa, trazendo consolo, esperança e paz(Tt 2:11-14).
Deus interveio na vida de Jó. Depois de grandes e significantes perdas, angústias, dores e sofrimentos indescritíveis, o patriarca foi miraculosamente restaurado, enquanto orava por seus amigos; e o Senhor acrescentou, em dobro, a tudo quanto Jó antes possuía (Jó 42:10). Ele morreu velho e farto de dias (Jó 42:17).
A restauração das riquezas de Jó revela o propósito de Deus para todos os crentes fiéis. Deus nunca permite que o crente sofra sem um propósito espiritual, embora talvez ele não compreenda por que. Nesses casos o crente deve confiar em Deus, sabendo que Ele, na sua perfeita justiça, fará o que é sempre melhor para nós e para seu reino.
Por maiores que forem as aflições ou dores que os fiéis tenham que passar, Deus, no momento certo, estenderá a mão para ajudar os que perseverarem, concedendo-lhes cura e restauração totais. “Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso”(Tg 5:11).

CONCLUSÃO

A sucessão impiedosa dos acontecimentos que levaram Jó à ruína são a demonstração de que tudo o que somos e tudo o que temos depende da indispensável proteção divina. Foi Deus permitir que o adversário atingisse Jó, que tudo, num só dia, foi destruído. Que tenhamos sempre em mente que nada do que somos ou do que temos depende de nós, mas é uma concessão da vontade de Deus. Daí porque ter Jeremias se expressado em suas lamentações: " as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos"(Lm 3:22a).

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento).

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

Revista Ensinador Cristão – nº 51 – CPAD.

As Calamidades de Jó – Caramuru Afonso Francisco

domingo, 26 de agosto de 2012

EDUCAÇÃO CRISTÃ CONTINUADA – Aula 10


DESCOBRINDO O NOVO TESTAMENTO

 
1 e 2 TIMOTEO, TITO E FILEMOM
 
Texto Básico:Tito 1:4-8
 
“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”(2Tm 4:7).
 

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo panorâmico do Novo Testamento, estudaremos nesta Aula as denominadas cartas pastorais e Filemom.
As cartas pastorais(1e2Timoteo e Tito) são orientações práticas do veterano apóstolo aos seus filhos na fé, Timóteo e Tito, ensinando-lhes a maneira certa de agirem à frente da igreja de Deus, como representantes do apóstolo e pastores do rebanho. As cartas pastorais trazem princípios práticos que orientam a igreja acerca do modo correto de proceder diante dos perigos externos e dos conflitos interiores. Muitas igrejas são assediadas por falsos mestres e assaltadas por falsas doutrinas. Outras têm suas energias drenadas em intérminos conflitos internos, que tiram o foco da igreja de sua verdadeira missão, que é adorar a Deus e fazer a sua obra. A igreja evangélica brasileira cresce espantosamente. Esse fenômeno tem sido estudado pelos grandes especialistas de crescimento de igreja. Porém, a igreja tem extensão, mas não profundidade. Tem número, mas não credibilidade. Tem desempenho, mas não piedade. Cresce vertiginosamente o número de igrejas que abandonaram a sã doutrina e abraçaram o pragmatismo com o propósito de crescer numericamente. Muitas igrejas parecem mais um supermercado que disponibilizam seus produtos ao gosto da freguesia. Pregam o que o povo quer ouvir, e não o que precisa ouvir. Falam para entreter, e não para levar ao arrependimento. Pregam palavras de homens, e não a Palavra de Deus. Sem dúvida, essas Epístolas são absolutamente oportunas e contemporâneas. Elas são totalmente necessárias ainda hoje.
A Carta a Filemom é a mais breve entre as cartas que formam a coletânea paulina. É pequena no tamanho e imenso no conteúdo. Ela aborda temas profundos, que nem toda uma enciclopédia poderia esgotar. Ela é endereçada a um homem leigo, Filemom. Está completamente ocupada com um incidente da vida doméstica. Talvez tenha sido uma das inumeráveis cartas pessoais do apóstolo escritas a seus amigos e irmãos para resolver questões pessoais. Contudo, para nós, essa Carta foi preservada, dentre ampla variedade de outras cartas do apóstolo, como um tesouro precioso. Em nenhum lugar a influência social do Evangelho é vista com tanta eloquência. Em nenhum lugar a nobreza do caráter do apóstolo transparece com tanto vigor quanto nesse incidente do veterano apóstolo rogando a favor de um escravo fugitivo, Onésimo.

I. 1 TIMÓTEO, INSTRUÇÕES A UM HOMEM DE DEUS

1. Data. Quase todos os conservadores concordam que 1Timóteo é a primeira Carta pastoral escrita, seguida de Tito e de 2Timóteo pouco antes da morte de Paulo, indica-se uma data entre 64 e 66 d.C., com base na informação de que Paulo foi liberado da prisão domiciliar no ano 61 d.C, o que possibilitou suas viagens. A Epístola foi provavelmente escrita na Grécia.
1. Contexto e Tema. O Tema de 1Timóteo é claramente apresentado em 1Tm 3:14-15: “Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te em breve; para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade”. Paulo simplesmente declara que há um padrão de comportamento para a igreja de Deus e escreve a Timóteo para informá-lo disso.
Não é suficiente dizer "comporte-se!" a uma criança mal comportada se ela não sabe o que se espera de um bom comportamento. Primeiro deve-se contar a ela o que é bom comportamento. A primeira carta a Timóteo faz isso para com a "criança" de Deus no que se refere à Igreja de Deus.
A igreja de Deus precisa ser zelosa da doutrina e também da vida. Paulo escreveu a Timóteo, dizendo: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina..." (1Tm 4:16). A igreja de Éfeso era zelosa da doutrina e descuidada no amor (Ap 2:2-4). Precisamos subscrever a ortodoxia sem deixar de lado a ortopraxia. Precisamos de teologia boa e de vida santa.
2. Conteúdo. Nesta Epístola, Paulo transmite cuidados específicos que Timóteo deve proceder na Igreja de Éfeso. Um dos cuidados principais é que Timóteo lute com denodo pela fé e refute os falsos ensinos que estavam comprometendo o poder salvífico do Evangelho (1Tm 1:3-7; 4:1-8; 6:3-5,20,21). Paulo também instrui Timóteo a respeito das qualificações espirituais e pessoais dos dirigentes da igreja, e oferece um quadro geral das qualidades de um obreiro candidato a futuro pastor de igreja.
Entre outras coisas, Paulo ensina a Timóteo sobre o relacionamento pastoral com os vários grupos dentro da igreja, como as mulheres em geral (1Tm 2:15; 5:2), as viúvas (1Tm 5:3-16), os homens mais idosos e os mais jovens (1Tm 5:1), os presbíteros (1Tm 5:17-25), os escravos (1Tm 6:1,2), os falsos mestres (1Tm 6:3-6) e os ricos (1Tm 6:7-10,17-19). Paulo confia a Timóteo cinco tarefas distintas para ele cumprir (1Tm 1:18-20; 3:14-16; 4:11-16; 5:21-25; 6:20-21). Neta Epístola, Paulo exprime sua afeição a Timóteo como seu convertido e filho na fé, e estabelece um elevado padrão de piedade para a vida dele e da igreja.

II. 2 TIMOTEO, A DESPEDIDA DE PAULO

1. Data. Esta epístola foi escrita na prisão (o famoso Cárcere Mamertino em Roma, exibido até hoje aos turistas). Como cidadão romano, Paulo não poderia ser lançado aos leões nem crucificado, mas "honrosamente" decapitado com uma espada. Uma vez que ele foi morto quando Nero era imperador, falecido em 8 de junho do ano 68 d.C, é provável que a redação de 2Tímóteo tenha ocorrido entre o outono de 67 e a primavera de 68.
2. Contexto e Tema. O Tema de 2Timóteo é expresso com exatidão em 2:15: ”Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”.
Em contraste com 1Timóteo, na qual se enfatiza a conduta coletiva e da congregação, nesta epístola é proeminente a responsabilidade e o comportamento individual. Pode-se definir esse tema como "responsabilidade individual na hora do fracasso coletivo".
Nesta Epístola, há muita falha coletiva na chamada Igreja de Deus. Era grande o abandono da fé e da verdade. Como isso afeta o cristão individualmente? Ele está dispensado de tentar manter a verdade e de viver uma vida santa? A resposta de 2Timóteo é um decidido Não! "Procura apresentar-te diante de Deus aprovado...". A situação do jovem Daniel na corte da Babilônia (Dn 1) ilustra isso. Em razão da prolongada perversidade dos israelitas, ele e muitos outros foram levados cativos a Babilônia por Nabucodonosor e privados de todas as manifestações exteriores da religião judaica: sacrifícios, ministério sacerdotal, adoração no templo etc. De fato, tudo isso foi logo suspenso quando, poucos anos depois, Jerusalém foi destruída e a nação inteira levada cativa. Teria Daniel, então, dito a si mesmo: "Também eu devo esquecer a lei e os profetas e me acomodar às práticas, aos padrões e à moral da Babilônia?". A história registra sua brilhante e entusiasmada resposta na notável vida de fé em circunstâncias aparentemente tão adversas.
Assim, a mensagem de 2Timóteo também é dirigida a cada filho de Deus que encontra hoje o testemunho da igreja coletiva muito diferente da simplicidade e da santidade do Novo Testamento, no qual teve sua origem. O filho de Deus ainda tem a responsabilidade de "viver piedosamente em Cristo Jesus" (2Tm 3:12).
3. Conteúdo. No capítulo 1, Paulo assegura a Timóteo o seu incessante amor e orações, e exorta-o a nunca transigir na fidelidade ao Evangelho, a guardar com diligencia a verdade e a seguir o seu exemplo.
No capitulo 2, Paulo incumbe seu filho espiritual a preservar a fé, transmitindo suas verdades a homens fiéis que, por sua vez, ensinarão a outros (2Tm 2:2). Admoesta o jovem pastor a sofrer as aflições como bom soldado (2Tm 2:3), a servir a Deus com diligência e a manejar corretamente a Palavra da verdade (2Tm 2:15), a separar-se daqueles que se desviam da verdade apostólica (2Tm 2:18-21), a manter-se puro (2Tm 2:22) e a trabalhar com paciência como mestre (2Tm 2:23-26).
Na capítulo 3, Paulo declara a Timóteo que o mal e a apostasia aumentarão (2Tm 3:1-9), porém, ele precisa permanecer sempre, e em tudo, leal às Escrituras (2Tm 3:10-17).
No capítulo 4, Paulo incumbe Timóteo de pregar a Palavra e de cumprir todos os deveres do seu ministério (2Tm 4:1-5). Termina, informando a Timóteo quanto aos seus assuntos pessoais, quando ele já encarava a morte, e instando com o pastor a vir logo ao seu encontro (2Tm 4:6-21).

III. TITO, A PRÁTICA DA FÉ

A Epístola a Tito enfatiza tanto a sã doutrina (Tt 2:1) quanto a prática da piedade (Tt 1:1) e das boas obras (Tt 2:14;3:14). John Stott alerta para o fato de estarmos vivendo sob a avassaladora influência da pós-modernidade, com seu subjetivismo e pluralismo, em que as pessoas têm aversão pela verdade e rejeitam peremptoriamente a concepção e até mesmo a possibilidade de existir verdade absoluta. Nesse contexto de relativismo doutrinário e moral, é maravilhoso entender que Paulo ordena a Timóteo e a Tito nada menos que dez vezes para ensinar às igrejas a sã doutrina, ou seja, a verdade absoluta (cf 1Tm 3:4; 4:6,11,15; 5:7,21; 6:2,17; Tt 2:15; 3:8).
1. Data. Devido à semelhança dos temas e da linguagem, os conservadores crêem que Tito foi escrito por volta do mesmo período ou um pouco depois de 1 Timóteo. De qualquer modo, o livro foi escrito entre 1 e 2Timóteo, e não depois de 2Tímóteo. Embora seja impossível fixar uma data exata, é provável que tenha sido entre 64 e 66 d.C. O lugar possível de origem é a Macedônia.
O livro de Atos termina dizendo que Paulo havia sido autorizado a alugar uma casa onde cumpria prisão domiciliar, junto à guarda pretoriana, em Roma. Essa prisão durou dois anos (At 28:30). Colocado em liberdade, Paulo visitou a igreja de Éfeso, onde deixou Timóteo incumbido de supervisionar as igrejas da Ásia Menor, seguindo em direção à Macedônia. Após alcançar o norte da Grécia, possivelmente escreveu sua primeira carta a Timóteo (1Tm 1:3). Quando chegou à ilha de Creta, lá deixou Tito para encorajar e orientar a liderança dos cristãos cretenses (Tt 1:5), partindo em seguida para Acaia, região sul da Grécia (Tt 3:12).
Na Macedônia, pouco antes de chegar a Nicópolis, Paulo possivelmente decidiu escrever essa carta de encorajamento a Tito. Quando, finalmente, alcançou Trôade (2Tm 4:13), é provável que tenha sido inesperadamente preso e novamente levado a Roma, jogado num frio e isolado calabouço e, pouco tempo mais tarde, logo após ter escrito sua segunda carta a Timóteo, terminou decapitado sob as ordens de Nero.
2. As principais ênfases da Carta. A carta de Paulo a Tito trata de vários temas fundamentais para a igreja. Dentre elas destacamos:
a)  A organização das igrejas (Tt 1:5). Muitas coisas estavam fora de lugar nas igrejas de Creta. Tito foi deixado lá para colocá-las em ordem. Essas coisas incluíam o ensino da sã doutrina, a aplicação da disciplina, o combate aos falsos mestres e a instrução da sã doutrina aos crentes.
b) A liderança das igrejas (Tt 1:5-9). Paulo tinha uma solene preocupação com o governo da igreja. Uma igreja bíblica precisa ter líderes sãos na fé e na conduta. Paulo deixa claro que o objetivo supremo do governo da igreja é a preservação da verdade revelada.
c) O combate aos falsos mestres e às falsas doutrinas (Tt 1:10-16). A liderança da igreja precisa vigiar para que os lobos que estão do lado de fora não entrem; nem os lobos vestidos de peles de ovelha, disfarçados dentro da igreja, arrastem após si os discípulos (At 20:29-31). Esses falsos mestres podiam ser identificados por intelectualismo especulativo (Tt 3:9), espírito de exclusividade (Tt 2:11), ascetismo (Tt 1:15), licenciosidade (Tt 1:16), ganância (Tt 1:11), mitos e fábulas (Tt 1:14) e legalismo judeu, que exigia a circuncisão e promovia fábulas judias e mandamentos de homens (Tt 1:14) .
d) O ensino da sã doutrina (Tt 2:1). A igreja não deveria ficar apenas na defensiva, combatendo os falsos mestres, mas deveria sobretudo engajar-se no ensino da sã doutrina. Esta palavra "sã" é um termo médico e indica a doutrina que está livre de corrupção e enfermidade. É evidente que a falsa doutrina e o falso ensino ameaçavam a igreja cretense.
e) A  promoção da ética cristã (Tt  2:2-10). Paulo dá orientações claras para os líderes e para os liderados. As prescrições apostólicas contemplam os idosos, os recém casados, os jovens e os servos. Não é suficiente ter doutrina sã, é preciso também ter vida santa. A doutrina sempre deve converter-se em vida. Quanto mais conhecemos a verdade, tanto mais deveríamos viver em santidade.
f) A  prática das boas obras (Tt 2:11-14; 3:8,14). Não somos salvos pelas boas obras, mas demonstramos nossa salvação por meio delas. A salvação é pela fé somente, mas a fé salvadora nunca vem só; ela é acompanhada das boas obras. A fé é a causa; as boas obras são o resultado da salvação. As nossas boas obras não nos levam para o céu, mas nos acompanham para o céu (Ap 14:13).
g) A submissão às autoridades (Tt 3:1-11). A igreja de Deus é um lugar de ordem, e não de anarquia; de obediência, e não de insubmissão. Insurgir-se contra as autoridades instituídas por Deus é desafiar o próprio Deus que as instituiu. Assim, a fonte da autoridade não está nela mesma, mas em Deus.

IV. FELEMOM, A PRÁTICA DO PERDÃO CRISTÃO

Esta Carta é um manual de relacionamento. Trata de amor, perdão, restituição e reconciliação. Embora essa tenha sido escrita há quase vinte séculos, seus ensinos continuam vivos, atuais e absolutamente oportunos.
Essa breve carta está repleta de sabedoria. A abordagem de Paulo é cheia de ternura e sensibilidade. Ele não ordena, roga. Ele não critica, elogia. Ele não prevalece pela força da autoridade, mas pela eloquência da brandura.
1. Data. A carta foi enviada juntamente com a Epístola aos Colossenses (por volta de 60 d.C), ou seja, cerca de trinta anos após a ascensão de nosso Senhor.
2. O propósito da Carta. Paulo escreve essa carta para enviar Onésimo, o escravo fugitivo, agora convertido a Cristo, de volta ao seu senhor, Filemom. O Evangelho o havia libertado espiritualmente, mas não o dispensava de seus deveres sociais. O Evangelho não alforriou os escravos de seus deveres, mas  quebrou suas algemas espirituais e os libertou para uma nova vida em Cristo. Não bastava a Onésimo estar arrependido de seu delito. A restituição era o passo seguinte a ser dado. E ambos, Paulo e Onésimo, decidiram por isso.
Possivelmente, Onésimo, além de fugir da casa de seu senhor, também havia subtraído alguns pertences de Filemom. Era duplamente culpado. Segundo a lei romana, ele podia ser preso, torturado e morto. Contudo, Onésimo fugindo da escravidão, encontra sua verdadeira liberdade em Cristo. Torna-se um novo homem. Agora, mesmo sob o jugo da escravidão, está verdadeiramente livre. Mesmo sendo útil a Paulo em Roma, o velho apóstolo resolve devolvê-lo ao seu dono. Antes, porém, roga em nome do amor, para que Filemom receba o escravo como a um irmão. Se antes Onésimo lhe parecia inútil, agora seria útil. Se antes ele era alvo de severa disciplina, agora deveria ser recebido como se fosse o próprio apóstolo Paulo em pessoa.
A tônica dessa carta é o perdão. Filemom deveria perdoar aquele a quem Deus já havia perdoado. Filemom não deveria punir aquele por quem Cristo já havia sido castigado na cruz. Filemom deveria receber como a um filho o escravo que o havia desonrado.
3. As principais ênfases de Filemom. A carta de Paulo a Filemom é uma jóia de raro valor. Há tesouros inestimáveis que devem ser explorados nessa pequena Epístola. Vamos destacar algumas de suas ênfases.
a) O poder do Evangelho. O Evangelho de Cristo é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê. Ele transforma o rico e o pobre; o escravo e o livre; o patrão e o empregado; o rei e o vassalo. O Evangelho rompe todas as barreiras, quebra todos os preconceitos, alcança todas as estratificações sociais e transforma o homem do palácio e também o da choupana, o da casa grande e também o da senzala.
O mundo ergue muralhas entre as pessoas, mas Jesus  destrói esses muros. O mundo hoje divide e separa as pessoas pela cor de sua pele, pelo seu status social, econômico, cultural e religioso. Jesus veio ao mundo para derrubar a parede de separação. Ele abraçou aqueles que todos escorraçavam. Ele acolheu aqueles que todos expulsavam. Ele amou aqueles que todos repudiavam. Jesus tocou os leprosos, conversou com as mulheres, abençoou as crianças, recebeu os publícanos e pecadores e abriu a porta do reino até mesmo para as prostitutas. Jesus estendeu sua graça aos odiados samaritanos e trouxe esperança para os gentios.
O apóstolo Paulo mostra nessa Epístola, seguindo os passos do Mestre, que um rico senhor de escravos e um escravo fugitivo, convertidos a Cristo, são rigorosamente iguais perante os olhos de Deus. São membros da mesma família. Devem ser vistos como irmãos e amar-se como tal.
b) A igualdade do Evangelho. O Evangelho de Cristo alcança senhores de escravos e também os escravos. Transforma homens de fina estirpe e também os que procedem das classes sociais mais humildes. Na família de Deus, o senhor de escravos não é melhor do que os escravos. No reino de Deus todos são iguais. Eles são membros da mesma família, são irmãos. Filemom deveria receber Onésimo não mais como um escravo, mas como um irmão amado.
O Evangelho de Cristo não apenas torna as pessoas iguais, mas também as aproxima. Num tribunal secular, Filemom seria colocado de um lado e Onésimo do outro. De um lado estaria o patrão espoliado e do outro, o empregado ladrão. Porém, o Evangelho transforma os corações, as circunstâncias e aproxima aqueles que as leis humanas só poderiam separar. Por meio da fé comum em Cristo Jesus,  Filemom e Onésimo são unidos. Deus ainda reconcilia pessoas apesar de suas diferenças e ofensas.
c) A providência do Evangelho. Onésimo fugia de seu patrão, mas não conseguiu fugir de Deus. Nessa fuga, ele é capturado por Deus e encontra o real sentido da vida. Nessa corrida rumo à liberdade, ele encontra o Evangelho de Cristo, que o liberta do pecado, sua escravidão mais opressiva.
d) A graça  do Evangelho. O Evangelho de Cristo é maravilhoso. Não há casos irrecuperáveis para Deus. Não há poço tão fundo que o Evangelho não seja mais profundo. A graça é maior do que o nosso pecado. Onésimo roubou, fugiu, escondeu-se, foi capturado e encarcerado, mas quando pensou que havia chegado ao fim da linha Deus lhe abriu a porta da esperança. Não há casos perdidos para Deus. Não há casos irrecuperáveis para o Deus de toda a graça. Deus ainda continua transformando escravos em livres. Deus ainda continua encontrando os fugitivos para lhes trazer de volta ao lar; não como cativos, mas, como livres, filhos e herdeiros.
e) O Perdão do Evangelho. A carta de Paulo a Filemom é um grande compêndio acerca do perdão. Aqueles que foram perdoados devem perdoar. Aqueles que foram libertados por Cristo devem despedaçar todo jugo. Aqueles que foram alvos da graça precisam ser canais dela. Aqueles que experimentaram o amor de Deus devem distribuir com generosidade esse amor. Filemom era amigo
de Paulo, mas também o senhor de Onésimo. Ele poderia punir Onésimo como um ladrão fugitivo. Porém, Paulo roga a Filemom que o receba não com punição, mas com perdão, como a um verdadeiro irmão na família da fé (v. 17).
f) A vitória do Evangelho. A carta a Filemom mostra de forma eloquente a vitória do Evangelho. O pecado afasta, o Evangelho aproxima. O pecado destrói relacionamentos, o Evangelho reconcilia. O pecado traz prejuízo, o Evangelho faz restituição. O pecado produz tristeza e decepção, o Evangelho promove alegria e contentamento. O pecado torna as pessoas prisioneiras, o Evangelho as faz livres.

CONCLUSÃO

O apóstolo Paulo foi um homem iluminado pelo Espírito Santo, e seus escritos devem ser considerados oráculos de Deus. A única função que os líderes da Igreja tem, hoje, é ensinar o que foi fornecido e selado nas Escrituras Sagradas.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.

Panorama do Novo Testamento – ICI, São Paulo, 2008).

William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Novo Testamento).

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

Tito e Filemom(doutrina e vida, um binômio inseparável) – Rev.Hernandes Dias Lopes.

Comentário do Novo Testamento (1 e 2 Timóteo e Tito) – William Hendriksen.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Aula 09 – A ANGÚSTIA DAS DÍVIDAS


Texto Básico: 1Timóteo 6:7-12


“Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos! Pois comerás do trabalho das tuas mãos, feliz serás, e te irá bem”(Sl 128:1,2)


INTRODUÇÃO

A prática desenfreada de aquisição de bens tem sido uma das marcas de nossa era materialista. Isso tem trazido diversos problemas, inclusive para os servos de Deus, que não conseguem resistir a determinadas “promoções imperdíveis” oferecidas pelo comércio e adentram por endividamentos e financiamentos, sem mesmo avaliar se sua situação financeira comportará tais compromissos. Quando esquecemos de planejar nossas finanças e cedemos às pressões “urgentes”, para adquirir coisas supérfluas, corremos o risco de manchar o nome do Senhor e o nosso diante dos homens. O consumismo nos faz comprar coisa que não precisamos, com um dinheiro que não temos, para impressionar pessoas de que não gostamos. Isso é perigoso.

I. QUEM É O DONO DO NOSSO DINHEIRO

Segundo as Escrituras Sagradas, Deus não apenas é o Criador de todas as coisas, mas é o dono do nosso dinheiro: “Minha é a prata, e meu é o oro, disse o Senhor dos Exércitos”(Ag 2:8). Portanto, não somos dono do dinheiro. Nada trouxemos ao mundo nem nada dele levaremos(1Tm 6:7). Somos apenas mordomos. Devemos ser fiéis nessa administração.
Está escrito no Salmo 24:1 que do Senhor é a Terra e tudo o que nela existe. É muito comum julgarmos que somos proprietários de alguns recursos que na verdade não são nossos. Tudo pertence a Deus. Como disse Jó, Ele deu e Ele tira (Jó 1:21). E Jesus disse que o Pai dá o sol e a chuva para os bons e os maus, sobre os justos e sobre os injustos (Mt 5:45).
1. Dê a Deus o que lhe pertence. O verdadeiro cristão reconhece que é apenas um mordomo dos bens divinos que lhe foram confiados e, deste modo, tem noção e consciência de que Deus é o dono de tudo que temos e de tudo que somos. Este reconhecimento se dá, na prática, mediante a nossa contribuição financeira em prol do trabalho de Deus.
As Escrituras Sagradas contém ensinamentos sobre a alegria em poder devolver parte dos recursos que recebemos de Deus (2Co 9:7). Essa é uma forma de expressar nossa gratidão a Ele. Era esse sentimento que embelezava a pobre viúva que ofertou a Deus tudo o que tinha.
2. Disciplina e orçamento financeiro. Aquele que cristão diz ser precisa ser disciplinado na administração das suas finanças a fim de honrar os seus compromissos. O ato de comprar parece simples e prazeroso, mas não é. Exige planejamento e reflexão. Jamais podemos comprar por impulso, sem pensar no quanto estamos gastando. Quem compra por impulso e não segue um planejamento, cedo ou tarde acabará tendo problemas financeiros. Devemos lembrar que honrar os nossos compromissos contratuais é um dever cristão e isto é bastante agradável a Deus, pois trará bom testemunho no meio em que vivemos. Você deseja ser bem sucedido financeiramente? Então:
a) Evite o desperdício e o supérfluo. É nossa tendência pensar que só entre os que têm muitos bens materiais há desperdiço de recursos. A verdade, porém, é que entre a classe pobre há tantos ou mais pessoas que desperdiçam seus recursos de forma dissoluta. Na parábola de Jesus, aquele que menos tinha, foi quem não soube administrar sua porção. Na experiência diária vemos que crentes sem recursos, que vivem do seu ordenado somente, são muitas vezes aqueles que não sabem distribuir o seu dinheiro. Os pobres podem, nesse caso, ser tão esbanjadores como os ricos, levando-se em conta as devidas proporções. 
Em João 6:12 Jesus ordenou que seus discípulos recolhessem os alimentos que sobrara para que nada se perdesse. Algumas vezes o orçamento acaba porque gastamos com insensatez, onde não se deve ou não se pode (Is 55:2; Lc 15:13,14).
b) Economize, poupe e fuja das dívidas. Se os membros das nossas igrejas fossem mais econômicos, seu dinheiro iria mais longe. O mal de muitos é não saber distribuir, é não ter método no gastar. Se tem muito, gastam tudo; quando não tem bastante, tomam emprestado. Por isso a vida financeira de muitos evangélicos é uma pedra de tropeço diante dos incrédulos. Sejamos cuidadosos na maneira de gastar o nosso dinheiro, busquemos a direção do Senhor de nossas vidas, para que Ele nos ensine a usar o pouco que nos foi entregue.  Economize comprando no estabelecimento que é mais em conta. Racionalize os gastos com água, luz, telefone, etc. (ler Gn 41:35,36; Pv 21:20). Abra uma conta-poupança e guarde um pouco de dinheiro, por menor que seja a quantia. Fuja das dívidas!  
c) Seja equilibrado, planeje seus recursos. Assim como o rei que, ao sair à guerra, precisa se assentar e pensar se com cinco mil homens poderá enfrentar um exército de dez mil homens(Lc 14:31), também devemos planejar com respeito aos nossos recursos. É bom que seja um hábito sentar com a família para planejar a vida econômica-financeira, a curto, médio e longo prazo.
Um bom hábito na vida financeira é ter um orçamento para as despesas mensais. Uma primeira media é saber quais são os gastos mensais. Liste todos os itens da economia doméstica com seus respectivos valores. Busque ser próximo da realidade. Isso pode ser inicialmente uma tarefa muito trabalhosa, mas você verá que ela pode ajudar muito.
Ao tomar conhecimento dos rendimentos e dos gastos mensais, é possível que se constate a necessidade de tomar decisões e medidas importantes, como por exemplo: gastar menos tempo no chuveiro para reduzir a conta de água e de luz; em vez de ter uma assinatura de TV a cabo e banda larga abrir uma conta de poupança para trocar o carro ou fazer um curso; ensinar o filho a levar um lanche para escola em vez de gastar na cantina; e assim por diante. Esses sacrifícios nos farão trocar um possível conforto ilusório pelo suprimento de necessidades básicas.
As pessoas e famílias que se disciplinam no planejamento doméstico acabam vendo os ótimos resultados que ele oferece a médio e longo prazo. Você já deve ter visto pessoas que tem um bom salário e não tem nada; às vezes, pelo contrário, tem dívidas. Há outras que ganham pouco e conquistaram, no decorrer dos anos, alguns recursos. Via de regra, essa diferença se deve ao fato de ter havido planejamento.
d) Estabeleça critérios para gastar.  Quem estabelece critérios bem definidos sobre o que fazer com cada centavo que possui tem melhores condições de viver sem muito estresse. Vejamos algumas medias necessárias:
a)      Aprenda a viver com o que tem;
b)      Guarde pelo menos 5% do que ganha em uma poupança;
c)       Saiba dizer não ao consumismo;
d)      Defina o que é essencial e necessário;
e)      Evite fazer dívidas, principalmente com os cheques pré-datados e cartões de crédito.
Talvez você diga que não consegue se enquadrar nesses critérios, porém é possível que alguém seja mais pobre que você e consiga. Então, por que não tentar? A Bíblia ensina que quem ama a disciplina ama o conhecimento (Pv 12:1); que nenhuma disciplina parece motivo de alegria, mas de tristeza (Hb 12:11). Os frutos virão no futuro. Vale a pena começar.
3. Cuidado com a cobiça. A excessiva preocupação do homem com as coisas desta vida é uma característica da prática materialista ao longo da história da humanidade. É evidente que o homem, para sobreviver, tenha de suprir suas necessidades essenciais (alimentação, vestuário, educação, habitação), necessidade que é reconhecida por Deus (Mt 6:32), mas também é ponto pacífico que o homem não pode pôr estas coisas como prioritárias na sua vida. No exato instante em que as coisas materiais passam a dominar o centro das atenções da pessoa, ela se torna presa do materialismo e, neste preciso momento, dá as costas para Deus.
Quando amamos as coisas desta vida em primeiro lugar, passamos a servir às riquezas, ou seja, a Mamom (o deus das riquezas) e, por causa disto, deixamos Deus de lado. Jesus disse que não se pode servir a Deus e a Mamom (Mt 6:24) e, infelizmente, muitos são os que, na atualidade, mesmo se dizendo crentes, não servem a Deus, mas única e exclusivamente a Mamom.
Veja o mal que Acã causou ao povo de Israel e a si mesmo, quando ele deixou de obedecer a Deus e se apegou aos bens materiais(Js 7:13-26). Ao cobiçar o anátema e se atrever a desobedecer às ordens divinas em troca da posse de bens materiais, Acã e sua família fizeram muito mal e introduziram, na comunidade do povo de Deus, a possibilidade do materialismo, o que deveria ser imediatamente erradicado para que aquela geração não tivesse o mesmo triste fim de seus pais, que pereceram no deserto por causa da incredulidade (Hb 3:19). É importante notar que Acã foi incapaz de glorificar a Deus, apesar do pedido de Josué neste sentido, exatamente porque, ao amar as coisas materiais, havia desprezado e menosprezado o Senhor.

II. O CONSUMISMO E AS DÍVIDAS

O consumismo se tornou uma prática comum na sociedade moderna. Muitos cristãos têm se deixado levar por essa tendência. Os efeitos do consumismo são danosos não só ao bolso, mas também, à fé cristã.
O consumismo não afeta apenas os não-cristãos, na verdade, em virtude da famigerada Teologia da Prosperidade - que preferimos denominar de Teologia da Ganância – muitos cristãos estão sendo presos às teias do consumo compulsivo. Essa teologia antibíblica acaba por valorizar mais as coisas materiais do que as espirituais (Pv 30:15; Mt 6:19-21). Ela incita a insatisfação dos cristãos.
O consumo desordenado é anticristão, pois em Fp 4:11-13 e 1Tm 6:10, somos instruídos a viver em contentamento. E esse, sem dúvida, é o verdadeiro antídoto contra a prática do consumismo (ler Pv 15:27; Ec  5:10; Jr 17:11).
1. Os males do consumismo inconsciente. A prática materialista tem se disseminado em todo o mundo. Com a queda dos regimes comunistas houve uma grande intensificação da prática materialista. A preponderância dos países capitalistas na chamada “guerra fria”, nome como ficou conhecido o confronto entre os países capitalistas e os países comunistas entre 1945 e 1989, fez com que se criasse a ideia de que o sistema capitalista é o melhor sistema econômico que existe e que deve ser, por isso, adotado pelo mundo inteiro. Nesta ideia que se disseminou mundo afora, temos a exaltação da posse de bens materiais e um consumismo desenfreado e inconsciente, que é a razão de ser de milhões e milhões de pessoas, inclusive daqueles que não tem recursos materiais suficientes sequer para a sua sobrevivência. Com efeito, mesmo as camadas miseráveis das diversas sociedades deste mundo têm voltadas as suas esperanças à posse de riquezas. O sonho de toda pessoa é se tornar rica, milionária e famosa, pouco importando o que tenha de fazer para atingir esta posição. Há um consenso de que o homem foi feito para a riqueza material e que a vida se resume na posse de fortunas. No entanto, não é este o ensino de Jesus. O Senhor é bem claro ao afirmar que “a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui”(Lc 12:15).
2. Adquirir o que se pode pagar. Hoje em dia, não se adquire produtos pela utilidade que darão ao comprador, mas única e exclusivamente pelo prazer de comprar, ainda que se sabia que o produto pouco ou nada acrescentará à pessoa ou, o que é mais grave, somente trará prejuízos para o adquirente. Mas nesta ânsia pelo ter, pelo adquirir, o que vale é apenas a sensação de bem-estar e de importância que a aquisição gera.
Há pessoas que compram objetos(roupas, jóias) ou contratam serviços acima de suas posses(celulares, Notebook, iPad, TV a cabo, Banda Larga, etc) e, como consequência, não honram seus compromissos financeiros. Isso nos mostra que elas não avaliaram corretamente suas reais condições financeiras. O serviço de proteção tem apresentado um elevado numero de pessoas que não têm honrado seus compromissos. Lamentavelmente nesse grupo encontram-se pessoas evangélicas. Isso compromete nosso testemunho como servos de Cristo. Aprendemos na Bíblia que a boa reputação vale mais que grandes riquezas (Pv 22:1).
A Palavra de Deus nos adverte taxativamente sobre o gasto abusivo e desnecessário: “Tesouro desejável e azeite há na casa do sábio, mas o homem insensato os esgota”(Pv 21:20); “Porque gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? “(Is 55.2).
3. Aja com integridade, fuja da corrupção. Ser íntegro é ter padrões bem definidos de certo e errado à luz da Palavra de Deus. Deus deseja que sejamos íntegros em todos os aspectos. Nas finanças, no casamento, no trabalho e nos estudos nossa integridade não apenas agrada a Deus, mas demonstra, para os ímpios, a diferença que Cristo faz em nossas vidas. O objetivo do cristão deve ser, sempre, a glória de Deus, daí porque Jesus ter nos alertado de que as nossas obras farão os homens glorificarem a Deus (Mt 5:16). Aliás, foi este o propósito de todo o ministério terreno de Cristo (João 17:4). Tudo o que fizermos deve redundar na glorificação do Senhor (1Co 10:31) e isto no relacionamento com todos os homens, indistintamente, pertençam eles a qualquer um dos três povos da terra - judeus, gentios e igreja - (1Co 10:32).
A sociedade atual convive com a falsidade, a mentira, a corrupção, as informações distorcidas, e com a imoralidade. Portanto, há um clamor desesperado por autenticidade, integridade e verdade. Nós, como Igreja, portadora e defensora desses valores e princípios cristãos, devemos exibir o caráter de Deus em nossas relações internas e externas.

III. É POSSÍVEL LIVRAR-SE DAS DÍVIDAS

1. Cuidado com seu cartão de crédito e com o cheque especial. Cartões de crédito e cheques especiais têm sido a ruína de muitas famílias. A pessoa que é compulsiva, indisciplinada, jamais pode ter um cartão de crédito e deve ser exaustivamente orientada a não cair na armadilha do cheque especial. Se isto acontecer poderá levar a família à ruína.
Diz as Escrituras que os ímpios se caracterizam por serem infiéis nos contratos(Rm 1:31). Por isso, deve o cristão ser muito cauteloso ao contrair obrigações, fugindo do consumismo que tem dominado as consciências dos homens sem Deus.
Graças a uma eficaz publicidade e a pregação da busca de bens materiais a qualquer custo, as pessoas ingressam numa corrida pelo consumo sem medir as consequências. O resultado é o endividamento sem medida, a inserção das pessoas nos diversos órgãos de restrição ao crédito (SPC, SERASA etc.), o que faz com que as pessoas sejam aviltadas em sua dignidade e, não poucas vezes, levadas a situações angustiantes.
Lamentavelmente, muitos cristãos têm se deixado levar por esta "febre consumista" e já não são poucos os crentes que têm seus "nomes sujos" na praça e que são tratados como "caloteiros", envergonhando o Evangelho e dando motivo para que o nome do Senhor seja blasfemado. Tudo como consequência de uma má administração dos bens.
Devemos ter todo o cuidado na montagem do orçamento doméstico, para assumir apenas obrigações que possamos cumprir. Devemos fugir das compras a prazo, salvo nos casos de extrema necessidade como habitação, porquanto os juros do cartão de crédito e do cheque especial (notadamente no Brasil, que é o paraíso dos juros altos) evoluem de forma muito maior que os salários e o endividamento se tornará, certamente, impagável.
Não podemos mandar para Deus pagar as despesas feitas de forma impensada e irresponsável. Não podemos confundir fé com imprudência; assumir despesas sem previsão de receita pode ser imprudência, mas, não fé.
2. Vivendo de modo simples, porém tranquilo e santo. Devemos, sempre, buscar servir a Deus e lhe agradar. Esta deve ser a intenção do cristão. Se Deus nos conceder riqueza, que nós a usemos para agradar a Deus. Se nos der a pobreza, que nós a usemos para agradar a Deus. O importante é que não façamos do dinheiro o objetivo e a intenção de nossas vidas. Quem passa a viver em função do dinheiro, quem passa a pôr o seu coração nos tesouros desta vida, passa a ser um avarento, um ganancioso e, como tal, será um idólatra (Cl 3:5) e, assim, está fora do reino dos céus(Ap 22:15).
O dinheiro não é um mal em si(1Tm 6:10). Diz o rev. Hernandes Dias Lopes que “Ele é necessário. É um meio e não um fim. É um instrumento por intermédio do qual podemos fazer o bem. O dinheiro é um bom servo, mas um péssimo patrão. O problema não é ter dinheiro, mas o dinheiro nos ter. O problema não é carregar dinheiro no bolso, mas entesourá-lo no coração. O dinheiro deve ser granjeado com honestidade, investido com sabedoria e distribuído com generosidade”.

CONCLUSÃO

Sejamos cuidadosos na maneira de gastar o nosso dinheiro, busquemos a direção do Senhor de nossas vidas, para que Ele nos ensine a usar o pouco que nos foi entregue. Economize comprando no estabelecimento que é mais em conta. Racionalize os gastos com água, luz, telefone, etc. (ler Gn 41:35,36; Pv 21:20). Fuja das dívidas! Evite o desperdício e o supérfluo. Gaste somente o necessário, dentro da sua capacidade financeira! Liberte-se do consumo irresponsável! Viva dentro do orçamento cabível e, se for possível, reserve um pouco para imprevistos, que sempre aparecem. 

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Novo Testamento).

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

Revista Ensinador Cristão – nº 51 – CPAD.

Dinheiro – a prosperidade que vem de Deus –  Rev.Hernandes Dias Lopes.

Os males do consumismo – Ev. Caramuru Afonso Francisco.