quinta-feira, 29 de abril de 2010

Aula 06 - A SOBERANIA E A AUTORIDADE DE DEUS

Leitura Bíblica: Jeremias 18.1-10
A ser ministrada em: 09 de maio de 2010

"Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? diz o Senhor; eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel.?"(Jr 18:6)

INTRODUÇÃO
Deus ensina a Jeremias uma importante lição sobre sua autoridade e soberania, utilizando o trabalho do oleiro na formação do vaso. Deus mostra ao profeta que Ele pode, como o oleiro, agir de acordo com a sua vontade, e através do seu poder restaurar a sorte do seu povo. O Senhor ordena que o profeta dirija-se à Casa do Oleiro para ouvir o que o Senhor irá dizer, e antes que o Senhor lhe dirija a palavra, Jeremias assiste um pouco do trabalho do oleiro. Ele obedece ao Senhor e, naquele local, aprende uma importante lição a respeito da soberania divina.
I. A VISITA À CASA DO OLEIRO
1. A visita. Deus ordena que o profeta Jeremias se dirija à Casa do Oleiro para ouvir o que o Senhor irá dizer (18:2). Enquanto observava o trabalho, ficou claro para ele qual era a função do oleiro (18:4), das rodas (18:3), e do barro (18:4). Enquanto o observava a hábil mão do oleiro amassando o barro, percebeu que uma mensagem de Deus estava começando a se formar na sua mente. Diante dos olhos do profeta um vaso requintado começava a tomar forma. Então, subitamente, para a surpresa de Jeremias, o vaso se quebrou na mão do oleiro. Será que uma onda de profunda tristeza tomou conta do oleiro? Se sim, isso não o refreou de usar suas hábeis mãos. Ele quebrou o vaso desfigurado em uma massa disforme e começou novamente a amassar o barro. Depois de trabalhar e refinar o vaso, ele voltou a fazer outro vaso.
2. O simbolismo do incidente. Deus é o oleiro, Israel é o barro, e, evidentemente, as rodas representam as circunstancias da vida. O tempo todo Deus tinha um propósito para Israel. Nas rodas da vida, Deus tem realizado seu propósito para a nação. Mas, algo aconteceu para estragar o plano de Deus. Algo em Israel – “uma pedra de tropeço” ou “uma rocha de ofensa” – desfigurou a obra do Artesão. Deus está triste com a impureza da vida da nação. As coisas não podem continuar como estão. Nessa situação, somente o perdão não será suficiente. O juízo é inevitável. Não há outro jeito senão quebrar e refinar a forma de vida nacional existente, e então tornar a fazer um outro vaso.
3. A verdade espiritual desta lição prática. A verdade desta lição é que Deus pode falar a uma nação para que se arrependa (como foi o caso de Nínive, e era o caso de Israel no livro de Jeremias) e voltar atrás do julgamento que iria aplicar se tal nação voltar atrás em seus pecados. Da mesma forma, se o povo não se arrependesse, traria sobre si o mal estipulado pelo Senhor. A sentença após o exemplo do oleiro foi: “Ora, pois, fala agora aos homens de Judá e aos moradores de Jerusalém, dizendo: Assim diz o Senhor: Eis que estou forjando mal contra vós e projeto um plano contra vós; conver-tei-vos, pois, agora, cada um do seu mau caminho, e melhorai os vossos caminhos e as vossas ações”(18:11). Este texto fala sim de transformação iniciada por Deus, mas fala igualmente de um sério julgamento para aqueles que não se arrependem de seus erros.
4. O objetivo da lição. A lição objetiva ensinar acerca da soberania de Deus: “Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro?” (18:6). Mas ela também ensina sobre a liberdade do homem – a reação do barro tinha frustrado o propósito do oleiro. Os homens estão livres para reagir aos procedimentos de Deus. Se eles reagirem positivamente ao toque do Oleiro, seu propósito é alcançado na formação de um vaso tal como foi planejado. Se os homens reagem negativamente, a obra de Deus é quebrada. Se na roda da vida, homens e nações resistem à vontade de Deus, ocorre o processo de quebra. Esse nunca é um momento agradável tanto para o oleiro quanto para o barro. Embora haja um elemento de esperança no fato de que um outro vaso será formado, isso não alivia os rigores de um juízo imediato!
Depois do refinamento ocorre o momento de formação do vaso novo, conforme o que pareceu bem aos seus olhos (do oleiro) fazer (18:4). O tempo que levou esse processo de quebra e remodelagem está escondido no propósito de Deus, mas fica claro com base nos versículos subseqüentes de Jeremias, e dos evangelhos, que os homens chegam até um limite, onde não há mais esperança. Quando não há mais esperança, começa o processo de quebra.
Apesar da oferta de Deus em poupar a nação com base na obediência (arrependimento) moral, o povo desdenhosamente responde à ameaça do juízo divino: “Não há esperança, porque após as nossas imaginações (desejos, planos) andaremos”(18:12). A única alternativa que Deus tem é o castigo.
II. A SOBERANIA DE DEUS
A soberania de Deus é uma das mais difíceis doutrinas das Sagradas Escrituras. E só viremos a entendê-la corretamente, se nos mantivermos centrados nas Sagradas Escrituras, sem preconceito e de forma equilibrada.
1. Definição. Sendo um dos seus atributos (aquilo que lhe é próprio, qualidade), a soberania de Deus é a autoridade inquestionável que o Senhor detém sobre o Universo, pelo fato óbvio de que Ele é o Criador de todas as coisas(Is 44:6;45:6; Ap 11:17). Sua soberania está baseada em sua onipotência, onipresença e onisciência.
a) Quanto à onipotência, Deus tem todo o poder, ou seja, não existe ser mais poderoso do que Ele. Daí porque ter o Senhor afirmado, pela boca do profeta Isaías: “operando eu, quem impedirá?” (Is.43:13) ou ter o apóstolo Paulo, ao verificar esta verdade bíblica, ter indagado: “Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm.8:31), bem como o apóstolo João ter ressaltado que “Filhinhos, sois de Deus e já os tendes vencido, porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo” (I Jo.4:4).
b) Quanto à Onisciência, Deus conhece e sabe todas as coisas (Sl.139:1-6; I Jo.3:20), nada se lhe pode ocultar(Sl.38:9; 139:15,23,24; Mt.6:6). Esta onisciência faz-nos ver, uma vez mais, a soberania de Deus, pois Deus está no absoluto controle de todas as coisas, pois tudo sabe, tudo conhece. Deus sabe todas as coisas e, por isso, jamais é surpreendido por qualquer fato ou ocorrência em todo o Universo.
A onisciência de Deus, aliada à sua eternidade, faz-nos conceber a presciência de Deus, ou seja, Deus já sabe, de antemão, o que irá acontecer, porque, para Deus, não há tempo, sempre é presente, um eterno presente. Assim, Deus conhece o futuro, pois, para Ele, passado, presente e futuro são uma só coisa.
c) Quanto à Onipresença, Deus está presente em todos os lugares, ao mesmo tempo. Diz a Bíblia Sagrada: “Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? Diz o Senhor. Porventura não encho Eu os céus e a terra? Diz o Senhor” (Jr.23:24). Deus está presente em todos os lugares, ao mesmo tempo. Esta presença de Deus é total, pois, como diz Jr 23:24 Ele enche os céus e a terra. Na verdade, como afirmou Salomão na oração que fez para a dedicação do templo, nem mesmo os céus e a terra O podem conter (1Rs 8:27).
Também, a onipresença de Deus nos faz enxergar a sua soberania. Como Ele está presente em todos os lugares, ao mesmo tempo, Deus pode impor a sua vontade no exato instante em que os fatos ocorrem, pois tudo vê, a tudo assiste. Disto temos inúmeras demonstrações nas Escrituras, notadamente na história de Israel, em que a presença do Senhor com o seu povo era nítida e a responsável por vitórias militares (Jz.4:15 e 5:21; 7:22; II Cr.20:22,23; 32:21). A onipresença divina informa-nos de que Deus, por estar presente em todos os lugares ao mesmo tempo, impõe-se como, quando e onde quer, demonstrando, pois, sua total soberania.
Entretanto, a soberania divina não interfere na liberdade do homem, porque a soberania diz respeito a Deus, que está além de toda a criação, é algo imputável somente a Ele, faz parte da sua própria natureza e, por isso, não podemos querer transferir a soberania divina para algo que diz respeito apenas ao homem.
2. Soberania não é arbitrariedade. Quando afirmamos que Deus é soberano, estamos dizendo que Ele controla o universo e pode fazer o que lhe aprouver. Contudo, isso não significa que pelo fato de ser Deus ele fará algo errado, injusto ou perverso. Assim, afirmar a soberania de Deus é apenas reconhecer que Ele é Deus. Não podemos ter medo de declarar essa verdade ou nos desculpar por ela, pois é uma doutrina gloriosa e motivo de adoração.
Apesar de Deus escolher algumas pessoas para a salvação, Ele não escolhe ninguém para a perdição. Em outras palavras, apesar de a Bíblia ensinar a eleição, ela não ensina a reprovação. Alguém pode objetar: “Se Deus elege alguns para bênção, então necessariamente elege outros para a destruição”. Isso não é verdade! A humanidade como um todo foi condenada à destruição por seu pecado, e não por um decreto arbitrário de Deus. Se Deus deixasse todos irem para o inferno, como poderia muito bem ter feito, todos receberiam exatamente o que mereciam. A pergunta é: “O Senhor soberano tem o direito de se mostrar magnânimo e escolher um punhado de indivíduos condenados e, com eles, construir uma noiva para o seu Filho?” A resposta, evidentemente, é afirmativa. Em resumo, se as pessoas se perdem, é devido ao próprio pecado e a própria rebelião; se são salvas, é devido à graça soberana e eletiva de Deus.
3. Eleição e predestinação. Eleição divina é o ato pelo qual Deus, por sua graça e amor, escolhe um povo para si mesmo, para a salvação - Mas devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade “(2 Ts 2:13). Portanto, todos aqueles que aceitam a Jesus como seu Salvador são “eleitos de Deus”.
Predestinação, na visão bíblica, é o ato divino pelo qual Deus determina o futuro do seu povo; o que o ocorrerá a esse povo. A predestinação dos salvos é precedida da sua eleição - “como também nos elegeu nEle antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dEle em amor, e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef 1:4,5).
Em sua soberania, Deus elegeu ou escolheu certos indivíduos para si. Mas, ao mesmo tempo que trata da eleição soberana por Deus, a Bíblia também ensina a responsabilidade humana. Apesar de ser verdade que Deus escolhe pessoas para a salvação, também é fato que elas devem aceitar a salvação por meio de um ato decisivo de vontade própria. É um tremendo erro crer na eleição soberana de Deus e negar a responsabilidade humana no tocante à salvação. A salvação, ao contrário do que muitos pensam, não é um ato único, um instante isolado, mas envolve todo um processo, ou seja, uma seqüência de atos, com origem em Deus, mas também com participação humana, para que se tenha a sua consumação. Tanto a salvação é um processo, que o próprio Jesus nos ensina que é preciso “perseverar até o fim” para que seja salvo” (Mt.24:13), isto é, é preciso uma continuidade, uma constância até o instante final da nossa permanência nesta dimensão terrena, onde fomos postos pelo Senhor, por sua misericórdia, para termos a chance e oportunidade de sermos salvos
O aspecto divino da salvação é expresso nas palavras: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim”. O lado humano aparece na seqüência: “e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”(João 6:37). Como cristãos, regozijamo-nos porque Deus nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo (Ef 1:4). Temos igual convicção, no entanto, de que quem desejar pode receber de graça a água da vida (Ap 22:17).
D.L Moody propôs uma ilustração para essas duas verdades. De acordo com ele, quando chegamos à porta da salvação, encontramos um convite: “Aberta para quem quiser entrar”. Quando passamos pela porta, vemos escrito do outro lado: “Eleitos segundo a presciência de Deus”. Assim, ao chegarem à porta da salvação, as pessoas são confrontadas com a responsabilidade humana. A eleição soberana é uma verdade reservada aos que já entraram.
A predestinação, assim como a Eleição, refere-se ao corpo coletivo de Cristo (isto é, a verdadeira igreja), e abrange indivíduos somente quando inclusos neste corpo mediante a fé viva em Jesus Cristo.
No tocante à Eleição e à Predestinação, podemos aplicar a analogia de um grande Navio viajando para o Céu. Deus escolhe o Navio (a Igreja) para ser sua própria nau. Cristo é o Capitão e Piloto desse Navio. Todos os que desejam estar nesse Navio eleito, podem fazê-lo mediante a fé viva em Cristo. Enquanto permanecerem no Navio, acompanhando o seu Capitão, estarão entre os eleitos. Caso alguém abandone o navio e o seu Capitão, deixará de ser um dos eleitos. A predestinação concerne ao destino do Navio e ao que Deus preparou para quem nele permanece. Deus convida a todos a entrar a bordo do Navio eleito mediante Jesus Cristo”(Bíblia de Estudo Pentecostal).
A predestinação fatalista. Fatalismo é o sistema dos que atribuem tudo à fatalidade ou ao destino, negando o livre arbítrio. Na verdade, essa doutrina não possui bases bíblicas convincentes. Esta doutrina afirma que Deus, na sua soberania, escolheu pessoas, individualmente, para a salvação e perdição, negando o direito do homem decidir sobre a sua vida.
Não encontramos na Bíblia uma predestinação fatalista, em que uns são destinados à vida eterna e outros, à perdição. Isto contradiz dois atributos divinos: a justiça e o amor. Primeiro, porque torce a justiça divina, pois nesse caso, Deus destinaria as pessoas antes mesmo de sue nascimento à perdição eterna. E segundo, porque põe em dúvida o ilimitado amor de Deus, por ensinar que o Senhor destinou os pecadores ao inferno sem lhes dar o direito a oportunidade de arrepender-se.
O Senhor quer que todos se arrependam (At.17:30) e a todos dá tempo para o arrependimento. Se todos já estivessem predestinados ao céu ou ao inferno, por quê Deus haveria de dar oportunidades? Veja o caso da personagem descrito em Ap 2:20-21: “Mas tenho contra ti que toleras a mulher Jezabel, que se diz profetisa; ela ensina e seduz os meus servos a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas a ídolos; e dei-lhe tempo para que se arrependesse; e ela não quer arrepender-se da sua prostituição”. Se essa misteriosa Jezabel estivesse predestinada ao inferno, Deus não lhe daria tempo para se arrepender. Se ela estivesse predestinada ao céu, teria se arrependido no tempo que Deus lhe deu. Se sua condição de morte espiritual significasse incapacidade absoluta, Deus não lhe daria tempo para se arrepender, pois isto seria inútil. O Texto sagrado é claro: “Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens”(Tt 2:11). “O qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade”(1 Tm 2:4). “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Para sermos fiéis às Escrituras, devemos crer na eleição soberana por Deus e crer, com a mesma intensidade, na responsabilidade humana. Somente assim podemos manter o devido equilíbrio bíblico entre as duas doutrinas.
4. O profeta Jeremias e a soberania de Deus. A parábola exarada no capítulo 18 de Jeremias, provavelmente escrita durante os primeiros anos do reinado de Jeoaquim, ilustra a soberania de Deus para lidar com a nação de Israel. Ele mostrou a Jeremias, como o oleiro, que é soberano e exerce plena autoridade sobre o barro (Judá), e continuaria a manipulá-lo para fazer dele um vaso útil e de honra. Mas Judá deveria arrepender-se rapidamente, caso contrário o barro endureceria antes de ganhar a forma dada pelo oleiro; se isto ocorresse, o barro não serviria, seria amassado novamente.
Jeremias viu que o vaso que era feito quebrou-se no processo de confecção, e que o oleiro utilizou o mesmo material para fazer um outro vaso. O mesmo material, mas um vaso diferente, de acordo com o que parecia bem aos olhos de quem o fazia. Assim Deus mostra ao profeta que Ele pode, como o oleiro, agir de acordo com a sua vontade.
Quando um vaso de barro era moldado na roda do oleiro, frequentemente surgiam defeitos. O oleiro tinha poder de decidir se o barro continuaria com suas imperfeições ou seria remodelado. Semelhantemente, Deus tem o poder para moldar seu povo, para fazer com que esteja em conformidade com os seus propósitos. Nossa estratégia não deve ser a de ficar descuidados e passivos, como o inanimado barro; devemos mostrar disposição e receptividade ao impacto de Deus em nossa vida. Quando nos rendemos ao Senhor, Ele começa a moldar-nos e a transformar-nos em vasos valiosos.
III. O CRENTE E A VONTADE DE DEUS
Como vimos na parábola, o oleiro não jogou fora o vaso que se lhe estragou na mão. Ele fez dele um outro vaso, um vaso novo conforme sua vontade. Deus amassa e pressiona, estica e comprime o barro. O trabalho do oleiro é reiniciado com habilidade e paciência. Deus não joga fora o vaso que foi danificado - “Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel?” (Jr 18.6). Deus não desiste de nós. Ele nos dá uma segunda chance e nos oferece a oportunidade de recomeçar uma nova caminhada. Esse processo não é indolor, mas seu resultado é glorioso. Deus quebra o vaso e faz dele um vaso novo. Deus amolece o barro, amassa-o, molda-o e depois o leva ao fogo. Então, depois desse processo, renasce um vaso belo, útil e precioso, um vaso de honra!
Como povo de Deus, à semelhança de Israel, devemos cumprir todos os mandamentos estabelecidos, a fim de nos moldarmos à sua vontade. Deus estabeleceu, através de Jesus Cristo, uma aliança com a Igreja (Hb 12:23,24), e como Senhor de nossas vidas requer que cumpramos os ditames desta aliança. Caso contrário, seremos rejeitados como foi o povo de Israel na época de Jeremias. Não basta ser filho de Abraão; é necessário fazer as obras de Abraão (Mt 3.9; Jo 8.39).
CONCLUSÃO
Deus mostra ao profeta Jeremias que Ele pode e faz, sempre, o que é melhor. Deus desejava moldar seu povo. Eles precisavam aprender que o Criador tem poder sobre o barro (Judá) para fazer dele um vaso útil. Deus também deseja nos moldar e fazer de nós vasos de honra. Permitamos que o Oleiro Celeste, de conformidade com o seu querer, opere abundantemente em nossa vida.
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
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Fonte de Pesquisa: Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal. Bíblia de Estudo Pentecostal. O novo dicionário da Bíblia. Revista o Ensinador Cristão. Guia do leitor da Bíblia – Jeremias. A Teologia do Antigo Testamento – Roy B.Zuck. Comentário Bíblico Beacon – CPAD - volume 4.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Aula 05 - O PODER DA INTERCESSÃO

Leitura Bíblica: Jeremias 14:1-3,7,8,10; 17-22; 15:1.
A ser ministrada em: 02 de maio de 2010

“Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens”(1Tm 2:1)

INTRODUÇÃO
Nesta aula estudaremos a respeito da intercessão do profeta Jeremias em favor de Judá(14:19-22). Em sua intercessão, ele perguntou a Deus se o arrependimento de Judá impediria o castigo. Jeremias sabia que somente a intercessão poderia remover a dureza dos corações, fazendo com que deixassem o pecado. Por isso, dia e noite, ele suplicava por seu povo e não se mostrava indiferente à sorte da sua nação.
Quando intercedemos, oramos a Deus pelas pessoas que nos cercam ou por aquelas que necessitam de oração sem que estejam dentro do nosso círculo de amizades ou convívio. Orar de forma intercessória indica que entramos na presença de Deus para suplicar por outras pessoas, e que naquele momento não somos o alvo de nossas próprias orações. Jesus, antes de ser levado para cruz, orou intercedendo por seus discípulos e por todos os que ainda ouviriam sua mensagem, dando-nos o exemplo sobre este tipo de oração e a sua continuidade em nossos dias. Todo crente é chamado a interceder. É um imperativo; quem não o faz, não exerce seu sacerdócio. Paulo é enfático ao dizer: "Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações e intercessões, ações de graça, em favor de todos os homens " (1 Tm. 2:1).
A intercessão não é um ministério específico; não é um privilégio limitado apenas a uma elite cristã exclusiva; a Bíblia deixa bem claro que todos os cristãos são chamados para serem intercessores (1Tim 2:1). Todos os cristãos têm o Espírito Santo em seus corações (1Co 12:13) e, da mesma forma como Ele intercede por nós de acordo com a vontade de Deus (Rm 8:26-27), devemos interceder uns pelos outros. Na verdade, não oferecer oração intercessória a favor de outras pessoas é pecado. O profeta Samuel reconhecia isso: “Quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o SENHOR, deixando de orar por vós...” (1Sm 12:23).
I. O QUE É A INTERCESSÃO
Um dos mais desafiadores ensinos no Novo Testamento é o sacerdócio universal de todos os cristãos. Como sacerdotes, designados e ungidos por Deus, temos a honra de comparecer perante o Altíssimo em favor de outrem. E isto não é opcional; é uma sagrada obrigação – e um precioso privilégio – de todos os que tomam o jugo de Cristo. Por isso, um dos melhores conselhos bíblicos é expresso em apenas três palavras: “Orai sem cessar” (1Tess. 5:17).
1. Definição. Há muitas definições que nós poderíamos dar sobre intercessão. A mais simples está na Bíblia: "Orai uns pelos outros" (Tg. 5:16).
Pode-se definir intercessão como a oração contrita e reverente cheia de fé e perseverante com que alguém suplica a Deus em nome de outra pessoa ou outras que extremamente tem necessidade da intervenção de Deus.
É conhecida também como oração sacerdotal, pois, neste ato, estamos representando, diante de Deus, as petições em prol de uma terceira pessoa. A Bíblia está cheia de exemplos: Abraão suplicou por Ló e este foi liberto da destruição de Sodoma e Gomorra; Moisés intercedeu por Israel apóstata e foi ouvido; Samuel orou constantemente pela nação(1Sm 12:23); Daniel orou pela libertação do seu povo do cativeiro(Dm 9:3); Davi suplicou pelo povo; intercedeu pelo seu filho(ler 2Sm 12:14-23); Cristo rogou por Seus discípulos e fez especial intercessão por Pedro; A Igreja orou por Pedro preso; Paulo é exemplo de constante intercessão(Cl 1:9-11).
Jesus é o nosso intercessor modelo. Enquanto estava aqui na Terra Ele orou por aqueles que estavam enfermos e possuídos por demônios. Ele orou por seus discípulos. Ele até mesmo orou por você quando intercedeu por todos aqueles que creriam nEle. Jesus continuou seu ministério de intercessão depois de sua morte e ressurreição quando Ele retornou ao Céu. Ele serve agora como nosso intercessor no Céu: 1Tm 2:5; Rm 8:34; Hb 7:25.
A base Bíblica da Intercessão
A base bíblica para a oração intercessória no Novo Testamento é nosso chamado como sacerdotes de Deus. A Palavra de Deus declara que nós somos um sacerdócio santo(1Pe 2:5), um sacerdócio real(1Pe 2:9), um reino de sacerdotes(Ap 1:5).
O pano de fundo para entender esse chamado à intercessão sacerdotal se encontra em o exemplo do sacerdócio levitico do Antigo Testamento. A responsabilidade do sacerdote era estar de pé “perante” e “entre”. “Ele estava de pé” perante Deus para ministrar a Ele com sacrifícios e ofertas. “Ele estava de pé” entre o Deus justo e o homem pecador reunindo-os no lugar do sacrifício de sangue.
Como crentes do Novo Testamento nós não sacrificamos os animais como no Antigo Testamento. Nós estamos de pé perante o Senhor para oferecer os sacrifícios espirituais de louvor(Hb 13:15; Sl 50:23), e o sacrifício de nossas próprias vidas(Rm 12:1). É sobre a base desta relação intima com Deus que nós podemos permanecer “entre” Ele e os outros, servindo como um intercessor em seu nome.
2. A eficácia da oração intercessória. Não há oração tão eficaz quanto a intercessória. Muitas coisas não serão realizadas no reino de Deus se não houver oração intercessória dos crentes. Por exemplo: Deus quer enviar obreiros para evangelizar; Cristo ensina que tal obra não será levada a efeito dentro da plenitude do propósito de Deus sem as orações do seu povo - “Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande ceifeiros para a sua seara” (Mt 9:38). Noutras palavras, o poder de Deus para cumprir muitos dos seus propósitos é liberado somente através das orações contritas do seu povo em favor do seu reino. Se não orarmos, poderemos até mesmo atrapalhar a execução do propósito divino da redenção, tanto para nós mesmos, como indivíduos, quanto para a igreja coletivamente.
A intercessão da Igreja é poderosa (Tg.5:16), e Deus se agrada da ação intercessória da Igreja (1Tm.2:3), de modo que, quando a Igreja intercede, põe Deus em ação, em movimento (Esdras 8:23; At 4:31).
Através da intercessão eficaz, nós podemos entrar no mundo espiritual em qualquer parte. Nossas orações não têm nenhuma limitação de distância, pois elas podem penetrar as nações não alcançadas e podem cruzar as barreiras geográficas, culturais e políticas. Nós podemos afetar o destino de indivíduos e nações inteiras. Nós realmente podemos salvar as vidas e almas de homens e mulheres, rapazes e moças, e estender o Evangelho do reino de Deus ao redor do mundo enquanto nós intercedemos em oração.
É válido salientar que a oração só poderá ser eficaz se feita segundo a perfeita vontade de Deus - “E esta é a confiança que temos nele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1Jo 5.14;). Uma das petições da oração modelo de Jesus, o Pai Nosso, confirma esse fato: “Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu” (Mt 6.10; Lc 11.2; note a oração do próprio Jesus no Getsêmani - Mt 26.42).
Não somente devemos orar segundo a vontade de Deus, mas também devemos estar dentro da vontade de Deus, para que Ele nos ouça e atenda. Deus nos dará as coisas que pedimos somente se buscarmos em primeiro lugar o seu reino e sua justiça (ver Mt 6:33). O apóstolo João declara que “qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é agradável à sua vista” (1Jo 3:22). Obedecer aos mandamentos de Deus, amá-lo e agradá-lo são condições prévias indispensáveis para termos resposta às orações. Deus tornou claro que as orações de Moisés pelos israelitas eram eficazes por causa do seu relacionamento obediente com o Senhor e da sua lealdade a Ele (ver Êx 33:17).
II. JEREMIAS INTERCEDE POR JUDÁ
Jeremias não se limitou a oráculos condenatórios contra o seu povo, atraindo antipatias e ódios de morte. O profeta amava o seu povo, e sofria por primeiro, quando se via obrigado a anunciar acontecimentos desagradáveis. E intercedia pelo seu povo, como nos revela o texto de Jr 14:17-22.
Depois de descrever a situação deplorável do país, ferido de morte(14:17ss.), Jeremias faz uma oração intercessória pelo povo diante de Deus. Apela para a Aliança, em virtude da qual Deus não pode se esquecer de Israel. Recorda a promessa de salvação e de paz, que não existem (14:19), e interpela o Senhor a não faltar à sua Aliança, a não abandonar o seu povo. Jeremias suplica, confiando na fidelidade de Deus e no seu modo de atuar, que não pode ser contrário à sua essência, que é amor, misericórdia, compaixão (cf. Jer 14: 21). O profeta confia em Deus e confia-Lhe o seu povo, cuja sorte lamenta extremamente.
1. A intercessão (Jr 14:17-22). Mesmo sabendo que os filhos de Judá achavam-se afastados de Deus e mergulhados numa apostasia crônica, Jeremias intercede por eles. Ele nos dá exemplo de oração intercessória em tempo de calamidade. Trata-se uma oração angustiada, não motivada por qualquer sofrimento pessoal, mas pela compaixão, pelo sofrimento do seu povo: “Os meus olhos derramem lágrimas de noite e de dia e não cessem porque a virgem, filha do meu povo, está ferida de grande ferida, de chaga mui dolorosa”(v. 17). A “filha do meu povo” é Jerusalém, mergulhada em grande sofrimento por causa de uma seca prolongada, que provoca uma onda de crimes, de banditismo: “Se eu saio ao campo, eis aqui os mortos à espada; e, se entro na cidade, estão ali os debilitados pela fome; e até os profetas e os sacerdotes correram em redor da terra e não sabem nada”(v. 18).
Jeremias sente que, no meio da desgraça, pode fazer alguma coisa: compadecer-se, sofrer com os outros, interceder por eles. E sofre e ora com o seu povo, pelo seu povo. Começa por interrogar a Deus, de modo insistente e atrevido: “De todo rejeitaste tu a Judá? Ou aborrece a tua alma a Sião? Por que nos feriste, e não há cura para nós? Aguardamos a paz, e não aparece o bem; e o tempo da cura, e eis aqui turbação” (v. 19).
Depois, sabendo que as calamidades têm sempre origem na infidelidade aos Mandamentos de Deus, na injustiça, e no desprezo das outras pessoas, confessa os pecados do seu povo, e responsabiliza-se por eles: “Ah! Senhor! Conhecemos a nossa impiedade e a maldade de nossos pais; porque pecamos contra ti” (v. 20).
Finalmente, apela para a generosidade de Deus: “Não nos rejeites por amor do teu nome; não abatas o trono da tua glória; lembra-te e não anules o teu concerto conosco” (v. 21).
Em qualquer circunstância, mesmo no pior pecado, em vez de nos abandonarmos ao desespero, há que renovar a confiança no coração misericordioso de Deus, e suplicar Àquele que pode trazer remédio às piores situações. É isso que faz o profeta: “Portanto, em ti esperaremos, pois tu fazes todas estas coisas” (v. 22).
Pergunta o pr. Claudionor de Andrade: Tem você intercedido pelos maus? Ou limita-se a orar somente pelos bons? Tem implorado por seus desafetos? Nossa obrigação é interceder por todos, porque Jesus incessantemente intercede por nós.
2. Deus rejeita a intercessão de Jeremias. Apesar da forte confissão de fé que Jeremias faz, Deus rejeita sua intercessão com uma determinação que não permite qualquer repetição. Deus deu uma ordem inusitada a Jeremias: “Tu, pois, não ores por este povo, nem levantes por ele clamor ou oração, nem me importunes, porque eu não te ouvirei”(Jr 7:16). A impressão que temos é a de que Deus queria julgar seu povo, e que não desejaria salva-lo. Em outra ocasião, Deus torna a repetir essa ordem a Jeremias: “Tu, pois, não ores por este povo, nem levantes por eles clamor nem oração; porque não os ouvirei no tempo em que eles clamarem a mim, por causa do seu mal”(Jr 11:14). Nesta passagem, fica mais claro o motivo pelo qual Deus rejeitaria a oração intercessória de Jeremias: o mal do povo de Israel. Uma terceira vez Deus diz a Jeremias: “Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, não seria a minha alma com este povo; lança-os de diante da minha face, e saiam”(Jr 15:1).
Nota-se que o povo é rejeitado de uma vez por todas. O povo não havia se arrependido como ocorreu com Israel nos dias de Moisés e Samuel; consequentemente, não havia esperança. Agora, só uma correção dura e exemplar ao povo de Israel era cabível. Quando disserem: “Para onde iremos?”(Jr 15:2), o profeta é instruído a responder: “Os que são para a morte, para morte; e os que são para a espada, para a espada; e os que são para a fome, para a fome; e os que são para o cativeiro, para o cativeiro”. Nota-se que eles sofreram quatro tipos de castigos.
Também foram usados quatro instrumentos na sua destruição: “a espada, para matar [...] cães, para os arrastarem [...] aves [...] e os animais para os devorarem e destruírem”(Jr 15:3). Além disso, Judá será entregue ao desterro (Jr 15:4).
O motivo de tudo isso é que a nação nunca se recuperou do reinado perverso de Manasses (2Rs 21:1-26; 24:3-4). A idolatria que ele introduziu continuava sendo praticada pelo povo nos dias de Jeremias(cf Jr 44:1-30).
3. A persistência da intercessão de Jeremias. Diante da recusa divina em atender a oração de Jeremias, seu ministério intercessório parece ter sido um fracasso. Mas quando lemos os derradeiros capítulos de sua profecia, constatamos que, apesar daquele quadro tão desolador, achava-se o Senhor inclinado a socorrer o seu povo e a restaurar-lhe a sorte em tempo oportuno.
É bom ressaltar que o caso ocorrido com Israel na época de Jeremias é um caso específico, ”e de forma alguma Deus deseja que deixemos de orar uns pelos outros. Deus ainda procura pessoas como Jeremias, dispostas a falar sua Palavra e orar por aqueles que necessitam. Nos capítulos 14 a 16 de João, encontramos 5 vezes Jesus nos desafiando a orar e receber respostas de nossas orações (João 14:13-14; 15:7; 16:23-24). Será que Jesus seria tão enfático em suas palavras se Deus não tivesse realmente interesse em nos responder? É a vontade de Deus que oremos sempre, em qualquer situação, e que tenhamos respostas para nossas orações”(Ensinador Cristão).
III. POR QUE DEVEMOS INTERCEDER
A intercessão é evidentemente importante devido à ênfase que Jesus colocou sobre ela em seu próprio ministério terreno. Sua importância também se revela no registro bíblico que está cheio de histórias de homens e mulheres que experimentaram resultados poderosos através da intercessão eficaz.
1. É uma recomendação bíblica. Explícita ou implicitamente, somos instados, do primeiro ao último livro das Sagradas Escrituras, a interceder. No Antigo Testamento, uma das principais incumbências dos sacerdotes era o uso do incenso (Ex.30:1-10; Lv.16:12,13), símbolo das orações dos santos (Ap.5:8; 8:3,4). A Igreja é convocada para orar por nós mesmos (Mt.24:20; 26:41; Mc.13:18,33; Lc.22:40), uns pelos outros (Tg.5:16; Cl 1:3), pela paz em Jerusalém (Sl.122:6), pelos inimigos da Igreja (Mt.5:44; Lc.6:28), pelos ministros do Evangelho e pela obra do Senhor (Ef.6:19; 1Ts.5:25; Hb.13:18), como também pelas autoridades constituídas (1Tm.2:2), como por todos os homens (1Tm.2:1).
Hb 7:11-19 explica a diferença entre o ministério dos sacerdotes do antigo Testamento e do Novo. No Antigo Testamento, o sacerdócio levítico era passado adiante de geração a geração através dos descendentes da tribo de Levi. O “sacerdócio de Melquisedeque” falado nesta passagem é a “nova ordem” de sacerdotes espirituais de quem o Senhor Jesus é o Sumo Sacerdote. É passado até nós através de seu sangue e nosso nascimento espiritual como novas criaturas em Cristo.
2. É uma demonstração do amor cristão. A oração intercessória é puramente uma demonstração de amor, porque é desinteressada; ela se concentra nos outros. É através da oração intercessória que demonstramos amor e altruísmo; provamos que o bem-estar do semelhante está acima do nosso. Moisés, por exemplo, chegou a abdicar de sua bem-aventurança eterna ao interceder pelos filhos de Israel: "Agora, pois, perdoa o seu pecado; se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito" (Êx 32:32). Esta sua intercessão foi tão forte, que levou Deus a poupar os rebelados israelitas. O patriarca Jó livrou-se de seu cativeiro quando intercedia por seus amigos (Jó 42:7-12).
Nos dias pelos quais passamos, em que muitos se têm deixado contaminar pelo amor de si mesmo (2Tm.3:1,2), poucos são os que se dedicam à tarefa intercessória nas igrejas locais. Há, na verdade, uma verdadeira banalização a respeito dos “pedidos de oração” que, em muitos lugares, nem sequer são lidos e que, uma vez apresentados à igreja, são imediatamente “jogados fora”, em cestos de lixo providencialmente colocados nos púlpitos. Não há acompanhamento dos pedidos de oração, não há envolvimento da igreja local no clamor ao Senhor.
Diz a Bíblia, também, que é sinal dos que crêem a imposição de mãos sobre os enfermos para que haja cura divina (Mc.16:18), atitude que está cada vez mais em desuso e que era tão comum nas igrejas pentecostais em suas origens. É preciso haver um “atendimento personalizado” para cada necessidade, é preciso que haja uma intercessão pessoal, firmada pelo companheirismo e até pelo contato físico, pois assim determinam as Escrituras. Em vez disto, porém, o que se tem visto são inovações sem qualquer respaldo bíblico como a “unção de objetos” e até mesmo dos “pedidos de oração”, quando não “sessões de descarrego”, “banhos de sabonete com extrato de arruda” e outras atitudes que nada mais são que pura feitiçaria inserida indevidamente nos cultos das igrejas locais.
3. É um exercício de piedade. O intercessor não é aquele que somente faz a Deus uma oração de pedidos. Não. Ele conhece o coração de Deus. E porque o ama e sabe que é amado por Ele, nesse amor, ele atinge o coração de Deus, através da intercessão que se torna um humilde diálogo de amor. O intercessor conhece o Senhor pela oração e pela Escritura e é aí que está o segredo dessa intimidade entre ele e Deus; intimidade esta que faz com que todos os pedidos dos intercessores atinjam o coração de Deus, pois são feitos por meio de Cristo Jesus para glória de Deus Pai.
No exercício da oração intercessória, como cristãos piedosos da fé em Cristo, devemos esquecer de nós e de nossos problemas, e nos dispor a interceder pela Igreja, pelos que ainda não são Igreja e pelos que a Igreja hão de alcançar. Ajamos assim, e teremos mais resposta dos céus e menos orações frustradas.
CONCLUSÃO
Fazer intercessões e súplicas por todos, deve ser uma prática em nossa vida. Deus nada faz na terra, a não ser por meio da intercessão. Um dia que passamos sem interceder, é um dia em que perdemos a oportunidade de criar alguma coisa no mundo espiritual, com conseqüências no mundo natural, sendo que esta oportunidade não mais voltará.
Muitas crises surgem em nossas vidas por falta de oração. Muitas vezes o Espírito nos traz uma direção, uma luz ou impressão, mas não queremos nos devotar à intercessão e, então, sofremos, desastres acontecem na vida de outros, almas vão para o inferno e angústias, que poderiam ter sido evitadas pela oração, dilaceram muitas almas.
Somos chamados a interceder! Não responder a esse chamado do Trono é estar em pecado. O profeta Samuel, diante do pedido do povo para que clamasse a seu favor, para que não morressem por causa dos seus próprios pecados, fez uma tremenda declaração que deveria ser um desafio para nós também: "E quanto a mim, longe de mim esteja o pecar contra o Senhor, deixando de orar por vós" (1 Sm 12:23).
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
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Fonte de Pesquisa: Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal. Bíblia de Estudo Pentecostal. O novo dicionário da Bíblia. Revista o Ensinador Cristão. Guia do leitor da Bíblia – Jeremias. A Teologia do Antigo Testamento – Roy B.Zuck. Comentário Bíblico Beacon – CPAD - volume 4.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Aula 04 - CHORANDO AOS PÉS DO SENHOR

Leitura Bíblica: Jeremias 9:1-9
A ser ministrada em: 25/04/2010
"Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza" (Tg 4.9).
INTRODUÇÃO
Nesta aula, estudaremos o grande lamento de Jeremias e de outros grandes homens de Deus em favor dos israelitas. Jeremias expressa a sua angústia por causa do povo rebelde de Deus e da sua recusa em arrepender-se e assim escapar da destruição que se aproxima. Queria chorar, mas sua dor era profunda demais para ele verter lágrimas (9:1). Jeremias chora de dia e de noite por um povo de coração extremamente endurecido para perceber a ruína que se avizinhava. O povo era rebelde e contumaz, no entanto, isso não impediu que Jeremias intercedesse, pois ele tinha compaixão por aquelas almas. Atualmente necessitamos de homens de Deus que estejam dispostos a verterem suas lágrimas em favor da nossa nação. Muitos choram por questões materiais, dinheiro, fama e poder, todavia, com que frequência derramamos nossas lágrimas e quebrantamos nossos corações por aqueles que em nossa nação estão perdidos e caminham para o inferno?
I. O LAMENTO DE JEREMIAS
Humanamente falando há muitos motivos de lamentação: viúvas lamentam a sua sorte ao perderem seus maridos, crianças lamentam-se ao perderem seus pais; outras pessoas lamentam a sua situação, o custo de vida, os impostos, etc. Lamentamos decisões erradas e escolhas equivocadas nossas e de pessoas que amamos. Esse foi o caso de Jeremias. Além de profeta, foi um homem que soube sentir a dor das escolhas erradas de seu povo. Ele diz que “choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo”(9:1).
A dor de Jeremias é expressa por duas coisas. A primeira coisa: as maldades do povo de Deus; são demonstradas pelo Senhor: “Uma flecha mortífera é a língua deles; fala engano; com a sua boca fala cada um de paz com o seu companheiro, mas no seu interior arma-lhe ciladas. Porventura, por estas coisas não os visitaria? diz o SENHOR; ou não se vingaria a minha alma de gente tal como esta?”. A segunda coisa: o julgamento de Deus; foi motivo de lamento para Jeremias porque o profeta presenciou o que havia profetizado: a destruição de Jerusalém e o exílio de seus habitantes.
1. O profeta das lágrimas. As lágrimas são normalmente associadas à tristeza e à aflição. Aquilo que faz uma pessoa chorar diz muito a seu respeito; pode indicar se ela é egoísta, egocêntrica, ou se tem o coração voltado para Deus. Como um dos servos escolhidos de Deus, o profeta Jeremias permaneceu só, imerso na profundidade de suas emoções, abatido por seu cuidado pelo povo, seu amor pela nação e sua devoção a Deus.
A aflição de Jeremias foi profunda. Seu coração de Pastor se quebra sob o peso do sofrimento, e o grito compassivo irrompe dos seus lábios: “Prouvera a Deus a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos, em uma fonte de lágrimas! Então, choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo”(9:1). É esse tipo de lamentação que rendeu a Jeremias o título de “o profeta chorão”, e suas lágrimas brotaram de um coração partido. Como porta-voz de Deus, ele sabia o que aguardava Judá, seu país, e Jerusalém, a capital e “cidade de Deus”. O julgamento do Senhor e a destruição sobreviriam.
Suas lágrimas não foram derramadas por motivos egoístas; ele não se lamentou por causa de uma perda ou sofrimento pessoal. Chorou porque o povo tinha rejeitado o seu Senhor, o Deus que os tinha criado, amado e que repetidamente tentava abençoar Judá. O coração de Jeremias estava partido, porque ele sabia que o egoísmo e o pecado do povo acarretariam muito sofrimento e um exílio prolongado. As lágrimas de Jeremias foram de empatia e simpatia por seu povo. Seu coração estava ferido pelas mesmas atitudes que ferem o coração de Deus.
Qual a causa de nossas lágrimas? Choramos porque nosso orgulho egoísta tem sido ferido ou por que as pessoas à nossa volta levam uma vida pecaminosa e rejeitam o Deus que as ama ternamente? Choramos por ter perdido algo valioso ou porque todas as pessoas à nossa volta sofrerão devido a pecaminosidade em que vivem? Nosso mundo está cheio de injustiça, pobreza, guerra e rebelião contra Deus; todas estas coisas deveriam fazer-nos chorar, mas também agir no sentido de pregar a salvação.
2. O profeta da solidão. O coração quebrantado do profeta afogou-se em uma tristeza profunda e irreconciliável em relação ao destino do seu povo. Ele também está angustiado com o seu isolamento crescente. Ninguém o entende; ele é evitado por alguns e insultados por outros (11:21ss). Ele está tão dominado pela dor que deseja retirar-se para longe, para uma estalagem de caminhantes no deserto(9:2). Nesse retiro, não mais haveria de contemplar o deplorável estado moral e espiritual de seus contemporâneos. Ele expressou o sentimento de muitos profetas cansados de dias posteriores. O Senhor, porém, queria que o profeta Jeremias estivesse em meio à sua gente, a fim de que todos soubessem que Ele jamais se ausentara da vida de seu povo.
Às vezes nos sentimos assim! Desejamos isolar-nos do mundo! Mas esta não é a vontade do Senhor. É tanto que o Senhor Jesus rogou ao Pai: "Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal" (Jo 17.15).
Visto ser impossível ir embora, Jeremias expressa seu pesar em uma série de lamentos. Esses lamentos, às vezes, parecem vingativos, mas isso é apenas aparente, porque no fundo eles expressam a tristeza de um coração amoroso.
a) O lamento por causa da infidelidade do povo (9:2-8). O que Jeremias vê o enche de grande tristeza. Toda nação tem caminhado na mesma direção: “todos eles são adúlteros, são um bando de aleivosos”(9:2).
b) O lamento por causa da assolação vindoura (9:9-11). Um outro motivo para a aflição de Jeremias se origina na assolação que ele sabe que está vindo sobre o país, especialmente sobre Jerusalém. Tudo está devastado: “Pelos montes levantarei choro e pranto e pelas pastagens do deserto, lamentação; porque já estão queimadas, e ninguém passa por elas; nem já se ouve mugido de gado; desde as aves dos céus até aos animais, andaram vagueando e fugiram”(9:10). ”E farei de Jerusalém montões de pedras, morada de dragões, e das cidades de Judá farei uma assolação, de sorte que fiquem desabitadas”(9:11). Esta profecia cumpriu-se em 586 a.C, quando a cidade foi transformada em um monturo.
c) O lamento por causa da falta de entendimento (9:12-16). O profeta lamenta a loucura espiritual do povo. A referência “espalharei entre nações”(9:16) é uma predição do exílio. Judá deveria ter aprendido com a queda de Israel (as 10 tribos), mas claramente não aprendeu nada. Jeremias chora porque ninguém discerne o destino da nação. Ele insiste em que, se tivessem conhecido o caráter de Deus, teriam percebido “os sinais dos tempos”.
d) O lamento por causa da impiedosa colheita da morte (9:17-22). Deus fala novamente com o profeta, e suas palavras são motivo para uma nova erupção de aflição. A mensagem é tão importante que Jeremias sente-se impelido a chamar as pranteadoras profissionais (as carpideiras). Elas são chamadas para que levantem os seus lamentos a fim de encorajar o povo de Jerusalém a chorar pela cidade: que as nossas pálpebras destilem águas (9:17-18).
Mas existe um motivo ainda maior para estar aflito do que a perda de posses: a morte – “Porque a morte subiu pelas nossas janelas e entrou em nossos palácios, para exterminar das ruas as crianças e os jovens das praças” (9:21). A morte apareceu de uma maneira súbita e inesperada, e não há nenhuma segurança contra ela. Aqui está um motivo para realmente chorar. Os corpos dos homens jazerão no campo como gavela(feixes) atrás do segador(ceifeiro); não há quem a recolha, isto é, eles não terão um enterro próprio, mas seus cadáveres serão tratados como esterco(9:22). A morte é personificada aqui como alguém que corta os moradores da terra da forma como um ceifeiro corta o trigo.
3. O profeta solitário. Foi muito duro para Jeremias ser excluído de tudo por causa da tarefa severa que ele possuía de anunciar a palavra do castigo. Ninguém queria se associar com ele. Jeremias chegou ao ponto de sentir-se muito solitário por causa da rejeição quase universal que passou. "Todos me amaldiçoam"(15:10), Jeremias reclamou, e afirmou que não tinha feito nada para merecer tal horror (15:10-11) - “Nunca me assentei no congresso dos zombadores, nem me regozijei; por causa da tua mão, me assentei solitário, pois me encheste de indignação" (15:17).
O isolamento e a solidão que Jeremias sofreu foi o preço que teve de pagar pela lealdade a Deus e à sua justiça. Por isso, Jeremias voltou-se contra o Senhor e disse: “Por que dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói, não admite cura? Serias tu para mim como ilusório ribeiro e como águas inconstantes?" (15:18). Antes, Jeremias havia pregado que Deus era "fonte de água viva" (2:13), mas agora o chamou de riacho seco. Ele queixa-se de que Deus não lhe era tão fiel como ele esperava. Houve, portanto, um deslize na vida espiritual de Jeremias. Isso prova que até mesmo grandes homens de Deus caem.
O Senhor não aceitou a queixa de Jeremias e lhe disse que se arrependesse de sua auto-compaixão rebelde, e lhe fez uma promessa, renovando sua chamada (cf 15:19-21). Só assim ele seria o porta-voz do Senhor.
Jeremias estava muito triste por causa do seu isolamento e para piorar a situação de solidão, no capítulo 16 versículo 2, Deus ordenou que ele não se casasse e que não fosse nem para velórios nem para festas. Estes mandamentos certamente teriam aumentado este sentimento de solidão que Jeremias passava, mas Deus decretou-os mesmo assim.
Embora fosse solitário e rejeitado durante toda a sua vida, Jeremias não deixou de ser um dos mais ousados e corajosos profetas. Apesar da grande oposição, cumpriu fielmente sua chamada profética para advertir seus concidadãos de que o juízo divino estava às portas.
Aplicando a experiência de Jeremias à nossa carreira cristã, dizemos que somente pessoas com coragem e determinação resoluta terão a força necessária para prosseguir neste caminho. Cristo cria bons soldados não os mimando, mas deixando-os passar por grandes dificuldades. A preparação militar, ou até mesmo o treino esportivo, é duro. Nenhum general orienta suas tropas dando-lhes o máximo de conforto e descanso. Nenhum técnico fortalece seus atletas sem dor e suor. Do mesmo jeito podemos nos preparar para passar por momentos duros na vida cristã, porque o Senhor quer que fiquemos fortes e firmes.
Não importa a dureza dos momentos aqui! Eles são leves e momentâneos em comparação com a "glória eterna que pesa mais do que todos eles" (2Co 4:17). Que aprendamos com Jeremias a suportar sofrimentos sem queixa e sem auto-compaixão!
II.GRANDES HOMENS DE DEUS EXPRESSARAM SUA DOR ATRAVÉS DO LAMENTO
Uma das coisas com as quais Deus nos adotou foi a capacidade de lamentar. A Bíblia registra o lamento de homens de Deus que souberam sentir a dor das escolhas erradas de seu povo. O contexto e motivos pelos quais estes servos de Deus prantearam foram diferentes, porém o importante é que buscaram a Deus em oração, derramando suas almas perante o Altíssimo em favor do próximo. Dentre eles citamos:
1. O lamento de Moisés (Dt 31:27-29). “Porque conheço a tua rebelião e a tua dura cerviz; eis que, vivendo eu ainda hoje convosco, rebeldes fostes contra o Senhor; e quanto mais depois da minha morte. Ajuntai perante mim todos os anciãos das vossas tribos e vossos oficiais, e aos vossos ouvidos falarei estas palavras e contra eles por testemunhas tomarei os céus e a terra. Porque eu sei que, depois da minha morte, certamente vos corrompereis e vos desviareis do caminho que vos ordenei; então, este mal vos alcançará nos últimos dias, quando fizerdes mal aos olhos do Senhor, para o provocar à ira com a obra das vossas mãos”.
Moisés sabia que os israelitas, a despeito de todos os milagres que testificaram, tinham um coração rebelde. Eles mereciam o castigo de Deus, embora costumassem receber sua misericórdia. Nós também somos teimosos e rebeldes por natureza. Passamos toda a nossa vida lutando com o pecado. O arrependimento semanal ou mensal não é suficiente. Precisamos apresentar os nossos pecados a Deus e pedir perdão constantemente, permitindo que Ele, por sua misericórdia, nos salve. Atentemos para a exortação do apóstolo João – 1João 2:1.
2. O lamento do profeta Samuel (1Sm 8:1-8). O profeta Samuel lamentou ao saber que seu povo, como os gentios, estava exigindo um soberano - “Porém essa palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor”(1Sm 8:6). Foi um momento difícil para o profeta Samuel. Ele tinha ensinado ao povo de Israel que Deus era o seu Rei e Senhor. Mas, o povo foi claro e ousado em sua reivindicação: e disseram-lhe: “Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações(1Sm 8:5).
Samuel ainda quis ponderar a substituição do Senhor como rei de Israel pelo um rei humano(1Sm 8:9-18 ). Porém o povo estava resoluto, prova de seu desprezo pelo Senhor Deus dos Exércitos: ”Porém o povo não quis ouvir a voz de Samuel; e disseram: Não, mas haverá sobre nós um rei”(1Sm 8:19). Como poderia Israel cometer tão grande ingratidão?
Se grande foi o lamento de Samuel, maior foi o de Deus: "Ouve a voz do povo em tudo quanto te disser, pois não te tem rejeitado a ti; antes, a mim me tem rejeitado, para eu não reinar sobre ele" (1Sm 8.7).
Não estará Deus lamentando também por nós? Como estamos diante do Senhor Jesus? Ele ainda é o nosso Rei? Ou já o trocamos por coisas de nenhum valor? Ainda lhe aceitamos a soberania? Ou já coroamos o mundo como nosso amo e senhor?
3. O lamento de Davi. Davi era um homem que sabia celebrar como ninguém. Saía para as guerras quando precisava; mas sabia chorar e lamentar em situações que exigiam tal atitude. Uma destas ocasiões foi quando Davi, exilado no território dos filisteus, e saindo junto com o povo para guerra, o exército o mandou de volta para casa (em Ziclague – 1Samule 30). Em lá chegando, ele percebeu que haviam sido atacados pelos amalequitas, e que as mulheres e filhos e riquezas dele e de seu “bando” tinham sido roubados. O texto diz em 1Sm 30:4 que Davi e o povo “… choraram, até não terem mais forças para chorar”. Este era Davi, chorava com os que choravam, e se alegrava com os que se alegravam. A partir do versículo 7 Davi se levanta e, depois de consultar a Deus, resgata tudo que lhe tinha sido roubado. Davi ainda recuperava-se deste “incidente”, quando, ao terceiro dia, recebe a noticia da morte de Saul e Jônatas. A Bíblia diz que Davi pranteou a morte de seus “amigos” e levantou sobre eles um lamento (2Sm 1: 17-27). Davi poderia neste momento alegrar-se com a morte de Saul, já que este o perseguia, e era o motivo de seu exílio. Davi poderia dizer: “graças a Deus morreu este ai…”. Mas Davi agiu de maneira diferente, e neste lamento exclamou: “como caíram os valentes!” (2Sm 1:19,27).
Existe o tempo de chorar e o tempo de rir, como disse Salomão(Ec 3:1). Não adianta querermos “pular” estes momentos, ou mascará-los. Nós precisamos aprender com Davi a não murmurar, a nos alegrarmos com os que se alegram(Rm 12:15). Mas precisamos também chorar com os que choram (Rm 12:15).
4. O lamento de Oséias (Os 4:6,7). “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos. Como eles se multiplicaram, assim contra mim pecaram; eu mudarei a sua honra em vergonha”.
À semelhança do profeta Jeremias, Oséias sofreu muito por causa das apostasias das dez tribos. Foi através dele que o Senhor lançou um dos mais inexprimíveis lamentos das Sagradas Escrituras: "O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento". A falta do conhecimento de Deus levou Israel ao fracasso e tem sido a principal causa das mazelas e injustiças no mundo. Quantos homens, mulheres e jovens não estão a apostatar da fé justamente por faltar-lhes o ensino da Palavra de Deus?
Aquele povo que foi escolhido, chamado, preparado e que ouvira testemunhos maravilhosos de Deus, através de seus anciãos, agora seria humilhado por seus inimigos e expulso das terras que com tanto sofrimento e luta seus pais haviam adquirido com a ajuda e proteção do Deus todo poderoso. Qual era o motivo? Deixaram a palavra de Deus e se enredaram pela prostituição e adoração a falsos deuses, os mesmos deuses que no passado foram derrotados por Deus. Seus sacerdotes ao invés de ensinarem ao povo os retos caminhos do Senhor, também se entregaram à idolatria e modo promíscuo de viver dos Cananeus e povos vizinhos, talvez seduzidos pelas riquezas, pelo sexo fácil e a falta de compromisso. O verdadeiro Deus exige santidade, verdade, vida exemplar e compromisso com a Palavra de Deus.
Se não houver conhecimento de Deus, pereceremos como o Israel do Antigo Testamento. Se queremos, de fato, um avivamento autêntico conscientizemo-nos de que este somente virá através da Palavra de Deus.
5. O lamento do apóstolo Paulo (Gl 3:1). "Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi já representado como crucificado?". Dos lamentos enunciados por Paulo, este é um dos mais eloqüentes.
As ações dos gálatas indicam falta de compreensão e raciocínio. Deixar a graça e voltar à lei é estar fascinado, seduzido como por encantamento mágico, aceitando de forma irrefletida a mentira pela verdade. Quando Paulo pergunta “Quem vos fascinou?”, o “quem” é singular, e não plural, sugerindo talvez que Satanás fosse o autor desse ensinamento falso. O próprio Paulo pregou Jesus Cristo aos gálatas como crucificado, enfatizando que a cruz devia separa-los da maldição e escravidão da lei para sempre. Como poderiam voltar à lei menosprezando a cruz? Será que a verdade não se apoderou deles na prática?
Infelizmente, essa situação vem se reprisando. Igrejas são induzidas ao erro por modismos e doutrinas de demônios, como se tais asneiras fossem a última revelação de Deus. O lamento de Paulo é ouvido nas orações dos pastores e obreiros que lutam por manter a sã doutrina e os bons costumes. Não haveremos de nos conformar com as novidades que, em essência, é a repetição da velha mentira do Éden. Atentemos a esta advertência de Paulo: "Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em Cristo" (2 Co 11:3).
6. O lamento de Jesus Cristo(Lc 13:34,35). “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste? Eis que a vossa casa se vos deixará deserta. E em verdade vos digo que não me vereis até que venha o tempo em que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor!”.
O lamento de Cristo sobre Jerusalém, é um choro muito comovente de preocupação misericordiosa, que vem dum coração cheio de amor sincero do Salvador. Dificilmente há algum animal que se interessa tanto pelos seus pequeninos. Ela troca sua voz natural e assume um chamado triste e lamentoso. Ela procura e cisca na terra, e sempre que acha algo, não o come, mas o deixa para os seus filhotes. Luta e alerta com toda a seriedade contra o gavião, e com muita boa vontade estende suas asas, e permite que seus pintinhos se escondam sob ela ou mesmo subam sobre ela. É um quadro belo e agradável.
O abrigo ilustra o mais alto grau da eterna condescendência de Deus para com os homens. Uma árvore pode abrigar o viajante do calor do sol; um escudo pode abrigar o soldado no dia da batalha; mas, só Cristo pode se interpor entre nós e os perigos que nos cercam. Na figura descrita, Jesus se coloca entre a cidade ameaçada e os seus inimigos. Isso indica que as “asas” da Onipotência Divina estão constantemente estendidas em nossa defesa a fim de nos livrar dos perigos que nos cercam (cf Sl 91:1-7). Cristo é o nosso refúgio, a nossa segurança.
CONCLUSÃO
É hora de clamar e chorar diante de Senhor Jesus. Aos seus pés devemos sempre nos render e confessarmos os nossos pecados. A confissão deve ser acompanhada de tristeza profunda pelo pecado - "Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza" (Tg 4.9). O momento em que Deus nos convence do pecado é o momento de nos prostrarmos diante de Deus e lamentarmos nossa pecaminosidade, impotência, frieza e aridez de vida. É o momento de nos humilhar-mos e chorarmos por nosso materialismo, secularismo e formalismo e de manifestarmos interior e exteriormente o fruto do genuíno arrependimento. Precisamos nos humilhar na presença do Senhor. Se nos colocarmos sinceramente a seus pés, em nosso devido lugar, no devido tempo, ele nos exaltará – “Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará”(Tg 4:10).
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
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Fonte de Pesquisa: Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal. Bíblia de Estudo Pentecostal. O novo dicionário da Bíblia. Revista o Ensinador Cristão. Guia do leitor da Bíblia – Jeremias. A Teologia do Antigo Testamento – Roy B.Zuck. Comentário Bíblico Beacon – CPAD - volume 4.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Aula 03 - ANUNCIANDO OUSADAMENTE A PALAVRA DE DEUS

Leitura Bíblica: Jr 7:1-11
18/04/2010
Assim diz o SENHOR: Põe-te no átrio da Casa do SENHOR e dize a todas as cidades de Judá que vêm adorar à Casa do SENHOR todas as palavras que te mandei que lhes dissesses; não esqueças nem uma palavra”(Jr 26:2).
INTRODUÇÃO
Anunciar a Palavra de Deus com ousadia é característica intrínseca ao mensageiro da Palavra de Deus. Seu compromisso é com a verdade, por isso ousa transmiti-la em seu stricto sensu, mesmo que seja antagônico aos anseios dos receptores (João 17:17). Ele não prega o que o povo quer ouvir, mas o que o povo precisa ouvir. A responsabilidade de Jeremias era levantar-se e falar, a do povo era ouvir. Se o povo desse ouvido à sua palavra, Deus se compadeceria; caso contrário, Ele faria da cidade de Jerusalém uma maldição e deitaria por terra o mais caro de seus símbolos: o Templo. O tempo estava se esgotando para Judá. Logo Nabucodonozor entraria pelas portas da cidade e assumiria o domínio da nação. Jeremias pregou ousadamente a mensagem que o Senhor lhe deu(cap 7 e 26). Ele expôs a infidelidade e a insensatez do povo de Judá por ter abandonado a única fonte do bem e por ter corrido atrás dos ídolos vazios.
I. JEREMIAS É CHAMADO A PREGAR À PORTA DO TEMPLO
Deus comissionou Jeremias a proferir uma mensagem para o povo de Judá à porta do Templo. Deus disse para Jeremias: ”Põe-te à porta da Casa do Senhor, e proclama ali esta palavra, e dize: Ouvi a palavra do Senhor, todos de Judá, vós os que entrais por estas portas, para adorardes ao Senhor”(7:2). Por que a porta do Templo e não a praça central de Jerusalém? O texto sugere que a ocasião era uma festa religiosa nacional, uma em que todo o reino participava. Desta feita, o momento era bastante oportuno e abrangente.
1. O ambiente da pregação. O juízo de Deus era inevitável e iminente, caso o povo não alterasse sua vã maneira de viver. Assim sendo, Deus escolhera o local que possibilitasse ao profeta discorrer sua mensagem com maior abrangência. Há diversos lugares onde uma pregação pode e deve ser feita, e uma das sérias pregações relatadas na Bíblia é a que Jeremias fezna porta do Templo, por ordem do próprio Deus.
O Templo se transformara num fetiche supersticioso para Judá. Os falsos profetas garantiam ao povo que a cidade era segura, pois Deus escolhera o Templo para sua residência na terra (cf Sl 132:13-16). Os falsos profetas induziam o povo a acreditar que, por terem o Templo do Senhor em seu território, jamais sofreriam reprimendas resultantes de seus pecados e de seus caminhos tortos. Eles acreditavam que a frequência ao culto era suficiente para esconder seus pecados e más atitudes. Mas, para as pessoas sem compromisso verdadeiro com sua vida espiritual, Deus disse: ‘Melhorai os vossos caminhos e as vossas obras...’(Jr 7:3). O ataque de Jeremias a essa crença popular aconteceu em seu primeiro sermão público. O que fez suscitar imediata reação popular.
O caso em Israel era tão sério que Deus desafiou Jeremias a que procurasse uma pessoa justa em Judá: “Dai voltas às ruas de Jerusalém, e vede agora, e informai-vos, e buscai pelas praças, a ver se achais alguém, ou se há um homem que pratique a justiça ou busque a verdade, e eu lhe perdoarei”(Jr 5:1). Deus diz que os filhos catavam madeira, os pais acendiam o fogo e as mães faziam bolos para a Rainha dos Céus (7:18). “Rainha dos Céus” é Ishtar, a deusa babilônica da fertilidade, ou Astorete, a deusa fenícia. O Templo perdera o significado para Deus, pois se tornara, como o próprio Senhor chamou, um covil de ladrões, um lugar onde os bandidos se reúnem após praticar seus crimes (7:11).
2. Nossa responsabilidade. Tal como aconteceu com Jeremias, a pessoa que Deus escolhe para uma missão especial não pode se esquivar de sua responsabilidade. O Senhor tem um propósito para cada cristão, mas algumas pessoas são designadas por Ele para trabalhos específicos. Se Deus lhe der uma tarefa específica, aceite-a alegremente e cumpra-a com zelo. Se Ele não o fez, procure cumprir a missão comum a todos os crentes: amar, obedecer e servir a Deus, até que a direção divina se torne mais clara.
Frequentemente, as pessoas relutam com novos desafios porque sentem que não têm a habilidade, o treinamento ou a experiência adequados. Jeremias se considerava "uma criança", alguém sem experiência para ser um profeta de Deus diante das nações. Mas o Senhor prometeu estar com ele. Não devemos permitir que sentimentos de incapacidade nos impeçam de obedecer a Deus. Ele sempre estará conosco. Se Ele lhe der um trabalho a fazer, proverá tudo o que você precisa para fazê-lo.
II. A MENSAGEM DE JEREMIAS
O profeta Jeremias primeiro roga ao povo para melhorar os seus caminhos (7:3), isto é, para ser genuíno e sincero no seu arrependimento. Ele então esboça o que isso significava na prática: “Não vos fieis em palavras falsas”i(7:4), sejam justos uns com os outros, “não oprimam o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, nem derramem sangue inocente, nem andem após outros deuses”i(7:6). Seu tom é conciliatório e encorajador. O resultado: eles permaneceriam na terra e habitariam em paz(7:7). Jeremias assegura ao povo que os pensamentos de Deus em relação a eles são bons.
1. O alcance da mensagem de Jeremias. Deus ordena que Jeremias se coloque à porta do Templo (7:2) e fale todas as palavras que o Senhor lhe ordenou para falar. Parece que o povo estava celebrando uma festa nacional na qual apareciam pessoas de todas as cidades de Judá (26:2). Esse era o momento propício para se proclamar uma mensagem importante que afetaria todo o país.
Ele não devia omitir nenhuma palavra – “... não esqueças nem uma palavra”(26:2). O profeta sabia que sua profecia ofendia o povo e lhe causava hostilidade e oposição. Talvez ele houvesse sido tentado a omitir algumas palavras, sobretudo severas, da mensagem divina, porém o Senhor lhe disse para não omitir uma única palavra.
Deve-se pregar a mensagem integral de Deus. Obreiros fiéis não devem suprimir nas suas mensagens as palavras dos mandamentos e advertências de Deus, embora saibam que certas pessoas as rejeitarão. Aquele ministro que deixa de lado certas partes da Palavra de Deus, para disfarçar pecados da congregação, é considerado um ministro indigno.
A pregação da palavra de Deus raramente conduz à popularidade. As pessoas que ficam ressentidas com a mensagem perturbadora geralmente recorrem a medidas ou para calar o mensageiro ou para acabar com ele. A pregação corajosa da palavra do Senhor por Jeremias irritou muita gente que não queria que seus pecados fossem expostos e condenados. Muitos queriam matá-lo, inclusive os seus familiares e visinhos e amigos. O próprio Senhor revelou para Jeremias que os homens estavam tramando para matá-lo. Estes homens incluíram o pessoal da própria cidade dele, Anatote (veja 11:18-23).
O projeto do Senhor não é que paremos de sofrer nesta terra, mas que as angústias fortaleçam nossa fé ao ponto que fica "muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo" e que resulta "em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado" (1Pedro 1:7). Não importa a dureza dos momentos aqui; são leves e momentâneos em comparação com a "glória eterna que pesa mais do que todos eles" (2Co 4:17).
2. O chamado ao primeiro amor. O desejo de Deus para Israel na época era: “7:3 - Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Melhorai os vossos caminhos e as vossas obras, e vos farei habitar neste lugar. 7:4 - Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este. 7:5 - Mas, se deveras melhorardes os vossos caminhos e as vossas obras, se deveras fizerdes juízo entre um homem e entre o seu companheiro. 7:6 - se não oprimirdes o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, nem derramardes sangue inocente neste lugar, nem andardes após outros deuses para vosso próprio mal. 7:7 - eu vos farei habitar neste lugar, na terra que dei a vossos pais, de século em século”. Em uma linguagem popular, Deus exigia do povo de Israel inteireza de coração, uma fé pura, um obedecer à palavra de Deus, executar justiça e andar em caminhos retos. Era o chamado de Deus ao primeiro amor.
Nestes “últimos dias” dos “tempos trabalhosos” da Igreja, neste período do pós-moderno, Satanás está envidando esforços no sentido de concretizar a integração entre a Igreja e o mundo, entre o reino da luz e o reino das trevas. Para que isto aconteça ele precisa destruir a identidade da Igreja, como sendo o povo de Deus aqui na Terra, e a identidade de cada crente, como sendo “filho de Deus”. Neste sentido Satanás trabalha com o objetivo de introduzir o mundo, com todas suas bagagens diabólicas, no seio da Igreja, bem como de atrair a Igreja para as coisas do mundo. Para a consecução dos seus objetivos é preciso diminuir, mais e mais, as distâncias que separam a Igreja do mundo, apagar a linha divisória para que ela possa ser cruzada, despercebidamente, por muitos. Lamentavelmente, satanás está obtendo grandes resultados nesta sua maneira de agir.
A arma que o cristão deve usar nestes últimos dias, para atacar os terríveis tempos que vivemos é a “espada do Espírito”, ou seja, a Palavra de Deus. Assim como Jesus lutou contra o adversário fazendo uso desta arma, a única arma de ataque da armadura do cristão (Ef.6:17b), também não podemos, nos dias difíceis, abrir mão de usar esta arma. Não é por outro motivo que se tenta tanto desacreditar as Escrituras ou impedir que elas estejam nas mãos, mentes e corações do povo de Deus.
III. JEREMIAS COMBATE A TEOLOGIA DO TEMPLO
Todo sofrimento que viria com a ordem do Senhor expressa pelo profeta se devia ao fato do povo se fiar e confiar na própria religião como diz o texto sagrado: “Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este “(7:4). Isso quer dizer que os israelitas fiavam no Templo do Senhor como base de sua fé, negando as boas obras, e logicamente pregando uma coisa e vivendo outra bem diferente. Fiavam-se em sua própria religião, a saber, o judaísmo, como base de proteção, mesmo sendo infiéis, idólatras, adúlteros e assassinos.
1. A teologia do Templo. Sob muitos aspectos, para os israelitas, o Templo e a cidade de Jerusalém tinha o mesmo significado. Vejamos alguns aspectos:
a) Simbolizava a presença e a proteção do Senhor Deus entre o seu povo (cf. Êx 25:8; 29:43-46). Quando ele foi dedicado, Deus desceu do céu e o encheu da sua glória (2Cr 7:1,2; cf. Êx 40:34-38), e prometeu que poria o seu Nome ali (2Cr 6:20,33). Por isso, quando o povo de Deus queria orar ao Senhor, podia fazê-lo, voltado em direção ao templo (2Cr 6:24, 26, 29, 32), e Deus o ouviria “desde o seu templo” (Sl 18:6).
b) O Templo também representava a redenção de Deus para com o seu povo. Dois atos importantes tinham lugar ali: os sacrifícios diários pelo pecado, no altar de bronze, (cf. Nm 28:1-8; 2Cr 4:1) e o Dia da Expiação quando, então, o sumo sacerdote entrava no lugar santíssimo a fim de aspergir sangue no propiciatório sobre a arca para expiar os pecados do povo (cf. Lv 16; 1Rs 6:19-28; 8:6-9; 1Cr 28:11). Essas cerimônias do Templo relembravam aos israelitas o alto preço da sua redenção e reconciliação com Deus.
c) O Templo simbolizava a presença de Deus somente enquanto o povo rejeitasse todos os demais deuses e obedecesse à lei de Deus. Miquéias, por exemplo, verberava contra os lideres do povo de Deus, por sua violência e materialismo, os quais ao mesmo tempo, sentiam-se seguros de que nenhum mal lhes sobreviria enquanto possuíssem o símbolo da presença de Deus entre eles: o Templo (Mq 3:9-12); profetizou que Deus os castigaria com a destruição de Jerusalém e do seu Templo. Posteriormente, Jeremias repreendeu os idólatras de Judá, porque se consolavam mediante a constante repetição das palavras: “Templo do Senhor, Templo do Senhor, Templo do Senhor é este” (Jr 7:2-4, 8-12). Por causa de sua conduta ímpia, Deus destruiria o símbolo da sua presença: o Templo (Jr 7:14,15). Deus até mesmo disse a Jeremias que não adiantava ele orar por Judá, porque Ele não o atenderia (Jr 7:16). A única esperança deles era endireitar os seus caminhos (Jr 7:5-7).
O próprio Jesus, assim como os profetas do Antigo Testamento, censurou o uso indevido do Templo. Seu primeiro grande ato público (João 2:13-17) e o seu último (Mt 21:12,13) foram expulsar do Templo aqueles que estavam pervertendo o seu verdadeiro propósito espiritual (ver Lc 19:45). Ele passou a predizer o dia em que o Templo seria completamente destruído (Mt 24:1,2; Mc 13:1,2; Lc 21:5,6).
Na época de Jeremias, o povo cometia todo tipo de pecado (7:5-9); depois, no sábado, vinha ao Templo, apresentava-se a Deus, e deste modo enganava-se, crendo que estava seguro mediante o amor que Deus lhe tinha. Acreditavam que o Senhor jamais permitiria que o Templo e a cidade de Jerusalém fossem destruídos.
Existe na atualidade essa falsa teologia. Os crentes vivem em desobediência a Deus e à sua Palavra, e julgam-se seguros, porque crêem no “Sangue de Cristo”. Na linguagem de Jeremias, estão confiando “em palavras falsas” (enganosas), que para nada são proveitosas (Jr 7:8).
Existem alguns paralelos entre a maneira como os judeus viam o Templo em Jerusalém e como muitos hoje vêem suas igrejas:
(1) Os judeus não cultuavam a presença de Deus em sua vida cotidiana como faziam no Templo. Hoje, é possível frequentar belas e bem equipadas igrejas, mas não levar a presença de Deus conosco durante a semana.
(2) O edifício do Templo se tornou mais importante para os judeus do que a essência da fé. Ir à igreja e pertencer a um grupo pode tornar-se mais importante do que ter uma vida transformada para Deus.
(3) Os judeus viam apenas o Templo como santuário. Muitos cristãos não se vêem como Templo do Espírito Santo e usam a filiação religiosa como um esconderijo, pensando que esta os protegerá dos males e dos problemas.
Portanto, o compromisso de Deus não é com símbolos, monumentos ou com ícones, mas com todos os que guardam a sua Palavra e observam seus mandamentos.
2. A desmistificação da teologia do Templo. A inviolabilidade do Templo e da cidade de Jerusalém era o dogma religioso mais popular da época. Os profetas profissionais e os sacerdotes tinham se agarrado a esse dogma para proclamar ao povo que estavam seguros, visto que Deus jamais deixaria que seu lugar de habitação fosse destruído. Com um único golpe, Jeremias destruiu o dogma mais estimado deles.
Vejamos o que o profeta fala a respeito das próprias ações dos israelitas de confiar em seu dogma: “7: 8 - Eis que vós confiais em palavras falsas, que para nada são proveitosas. 7:9 - Furtareis vós, e matareis, e cometereis adultério, e jurareis falsamente, e queimareis incenso a Baal, e andareis após outros deuses que não conhecestes. 7:10 - e então vireis, e vos poreis diante de mim nesta casa, que se chama pelo meu nome, e direis: Somos livres, podemos fazer todas estas abominações? 7:11- É, pois, esta casa, que se chama pelo meu nome, uma caverna de salteadores aos vossos olhos? Eis que eu, eu mesmo, vi isso, diz o Senhor”.
Ao pé da letra isso quer dizer: “Vocês fazem tudo que me desagrada como Deus, tudo que eu odeio e abomino, e vem em minha casa e dizem: somos livres do pecado porque somos judeus e filhos de Deus. A resposta de Deus é: A minha casa e meu Templo virou covil de ladrões e ordinários?”.
O sermão de Jeremias trouxe uma reação imediata dos líderes religiosos da nação. Eles ficaram indignados. Alegando que Jeremias era culpado de profetizar falsamente em nome do Senhor, condenaram-no na mesma hora: “certamente morrerás (26:8). O povo que estava na cidade para a festa foi levado de roldão pelos seus líderes religiosos, e Jeremias estava em perigo de ser apedrejado e morto. Sua ” culpa “ residia no fato de o seu sermão discordar daquilo que os falsos profetas estavam anunciando ao povo. Os líderes religiosos não perderam tempo em acusar Jeremias diante dos príncipes e do povo, afirmando: “este homem é réu de morte”(26:11).
Jeremias defendeu sua posição de uma maneira admirável. Ele foi direto e resoluto, e falou com poder – “E falou Jeremias a todos os príncipes e a todo o povo, dizendo: O Senhor me enviou a profetizar contra esta casa e contra esta cidade todas as palavras que ouvistes. Agora, pois, melhorai os vossos caminhos e as vossas ações e ouvi a voz do Senhor, vosso Deus, e arrepender-se-á o Senhor do mal que falou contra vós. Quanto a mim, eis que estou nas vossas mãos; fazei de mim conforme o que for bom e reto aos vossos olhos”(26:12-14). O profeta estava preparado para qualquer consequência. Mas, Deus guardou o seu servo da morte, em cumprimento à promessa que lhe fizera (Jr 1:17-19).
Trazendo ao contexto dos dias atuais esta palavra: Não adianta pregar um perfil de bom cristão, de ir ao culto todo domingo, dar o dízimo, ofertar, apertar a mão do irmão na igreja, dar a paz do Senhor, e se fiar nestas coisas, ações e palavras, se elas negarem sua essência de cristão. É muito fácil falar sou “cristão”, “crente”, evangélico; ou dizer que vai ao templo do Senhor, estar sempre lá, ser dizimista, e não se fiar em verdadeiras obras de fé e na essência de transformação e vida com Deus.
A verdadeira religião é amar a Deus sobre todas as coisas, ao próximo como a nós mesmos e “e guardar-se da corrupção do mundo” (Tg 1:27). O povo de Israel plantou uma falsa fé, falsas palavras diante do Senhor, falsas ações, querendo convencer a Deus e eles mesmos que sendo judeus religiosos seriam livres das consequências de seus próprios atos pecaminosos; e colheu a destruição.
Atualmente, muitos dentro das igrejas continuam fiando em palavras falsas e obras falsas. Mas, a Deus ninguém engana. Devemos ter a humildade de reconhecer os nossos erros. Deus jamais passará despercebido dos nossos atos praticados de forma dissoluta e obstinada. Portanto, devemos ter um reflexo claro de nossos atos incontinentes quando o praticarmos, para que haja salvação, cura e quebrantamento, mediante um arrependimento sincero diante de Deus, e quem sabe haverá uma esperança ou uma benção.
IV. A LIÇÃO DE SILÓ
“Farei também a esta casa, que se chama pelo meu nome, na qual confiais, e a este lugar, que vos dei a vós e a vossos pais, como fiz a Siló”(7:14). Mensagem semelhante em Jeremias 26:4-6.
Siló, cerca de 28 km ao norte de Jerusalém, era o local onde o Tabernáculo havia sido instalado após a conquista de Canaã(Js 18:1). A cidade foi destruída em 1050 a.C pelos filisteus. Naquela ocasião os pecadores filhos de Israel convocaram a arca da aliança para o campo de batalha, pensando que ela asseguraria sua vitória. Foi um dia triste, Israel foi vencido, a arca de Deus foi capturada e Siló foi destruída. Tal como as pessoas nos dias de Eli, os ouvintes de Jeremias eram culpados de ouvir as palavras falsas “Templo do Senhor, Templo do Senhor...” (7:4), acreditando que uma cidade contendo o Templo de Deus certamente seria poupada de uma invasão por uma nação estrangeira. Contudo, Deus se compadeceria se eles se convertessem dos seus maus caminhos.
Jeremias declara que Siló foi destruída por causa dos pecados do povo(7:12,14;26:6); o mesmo destino teria Jerusalém e o seu Templo se os israelitas não largassem seus caminhos pecaminosos. Apesar da ameaça de morte(Jr 26:8,11), Jeremias não se retratou da sua mensagem de julgamento divino sobre Israel. Pelo contrário, afirmou que sua autoridade vinha de Deus, e a seguir conclamou o povo a arrepender-se dos seus pecados (Jr 26:12-15). Permaneceu fiel a Deus e à sua Palavra, apesar das graves conseqüências de sua oposição.
Jeremias não foi morto, porque Deus lhe tinha prometido proteção até o fim(Jr 1:17-19). Porém, seu companheiro de ofício, Urias, filho de Semaías, foi morto pelo sanguinário rei Jeoaquim(26:20-23).
Os sacerdotes e os profetas eram reverenciados pelo povo, tinham poder. E o Templo era muito importante para eles. Profetizar que o Templo seria destruído era o mesmo que afirmar que seriam destruídos da autoridade que tinham. Jesus também enfureceu os líderes religiosos de seu tempo ao profetizar a destruição de Jerusalém e do Templo(Mt 24:2).
Muitas vezes, são os líderes religiosos que combatem sistematicamente aqueles que conclamam o povo a um retorno à fé bíblica e à verdadeira santidade. Isso aconteceu nos dias de Jesus e também acontecerá nos últimos dias antes da sua volta. Tenho a impressão que isso já está acontecendo!
CONCLUSÃO
As reações à verdade variam amplamente hoje. Alguns ouvem aqueles que se levantam e falam a verdade e deitam fora seus maus caminhos; outros, endurecidos pela ação enganosa do pecado, teimam e clamam pela saída do mensageiro. Nossa responsabilidade é clara. Se estivermos falando a verdade, temos que ser ousados e destemidos na proclamação e no ensino da Palavra de Deus. Se estivermos ouvindo a verdade, temos que examinar-nos e converter-nos de nossos maus caminhos. Dias de trevas se aproximam! Jesus está voltando! Portanto, preparemo-nos para a volta de nosso Senhor! “Amém! Ora, vem, Senhor Jesus!”(Ap 22:20).
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
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Fonte de Pesquisa: Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal. Bíblia de Estudo Pentecostal. O novo dicionário da Bíblia. Revista o Ensinador Cristão. Guia do leitor da Bíblia – Jeremias. A Teologia do Antigo Testamento – Roy B.Zuck. Comentário Bíblico Beacon – CPAD - volume 4.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Aula 02 - OS PERIGOS DO DESVIO ESPIRITUAL

Leitura Bíblica: Jeremias 2:1-13
A ser ministrada em 11/04/2010
Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas”(Jr 2:13).
INTRODUÇÃO
Como compreender a ingratidão de um povo que tão grandiosamente Deus dispensou-lhes bênçãos sem medida? Israel, antes era escravo, sem país, e ganhara de Deus a liberdade, bem como um lugar fértil para viver com seus filhos. Antes, andou no deserto, desprezado por outras nações, e foi amparado por Deus. Seus inimigos eram considerados inimigos de Deus. Dantes, sem pátria, sem terra; agora, tinha um país, uma lei, liberdade e, acima de tudo, o Deus Todo poderoso que lhe dava toda proteção e provisão.
Como compreender que este povo tenha se afastado, se apostatado, do Senhor dos Exércitos! (Jr 2:5). Analisando a história de Israel e de Judá, nota-se que a liderança fora a maior culpada pela apostasia do povo. Uma liderança corrompida, certamente, corromperá os seus liderados. Os sacerdotes não conseguiam enxergar o Senhor; os que ensinavam a lei nem mesmo o conheciam; os pastores prevaricaram contra o Senhor (prevaricar significa deixar de fazer o que é certo ou obrigatório, sabendo o que deve ser feito. Não é um erro advindo do desconhecimento. O conhecimento existe, mas a intenção é desobedecer); os profetas profetizavam por Baal, um deus falso que já fora desmascarado em Israel. Deus lamenta a atitude insana do seu povo (Jr 2:11-12).
Essa apostasia foi denunciada por Jeremias, que não poupou nem mesmo os líderes da nação. Isto é necessário, pois se a liderança não estiver de acordo com a vontade de Deus nem conhecer ao Senhor, com certeza conduzirá o povo por caminhos que Deus detesta.
I. O QUE É APOSTASIA
1. Definição. Apostasia deriva-se da expressa grega “apostásis”, que significa afastamento. Com relação à fé cristã, apostasia significa abandonar a fé cristã de forma consciente e premeditada. Então, para que haja apostasia é necessário que a pessoa tenha experimentado o novo nascimento, ou seja, que tenha certeza de sua salvação e aí, de forma consciente e deliberada, abandona a fé e passa a negar toda verdade por ela experimentada. O crente salvo pode cometer apostasia; crente não salvo, não pode, pois ele não pode abandonar o que nunca teve.
2. A apostasia de Israel. Com relação ao povo de Israel, no Antigo Testamento, a apostasia era considerada adultério espiritual. Israel era chamado de “esposa de Jeová”(Jr 31:32; Is 54:5). Sempre que Israel seguia a outros deuses, ou se curvava diante de ídolos, era acusado de apostasia. Esta foi, inclusive, a causa principal do cativeiro babilônico, que tanto o profeta Jeremias alertou.
Israel conhecia Deus e tinha experiência com Ele. Esta é uma condição básica para que alguém possa conhecer o pecado da apostasia. O apóstata tem que tomar sua decisão de forma consciente e premeditada. Apesar de tudo que Israel viu Deus fazer no Egito, no deserto durante quarenta anos, e em Canaã, mesmo assim Israel persistiu sendo rebelde, desobediente, duro de coração, incrédulo.
Israel era tão inclinado à prática do pecado que dois anos após a saída do Egito, diante da glória clarividente de Deus, o povo afluiu à apostasia. Em Cades Barnéia, no deserto de Parã, o cálice da ira de Deus se encheu, diante de mais uma provocação do povo de Israel – “E disse Deus a Moisés: até quando me provocará este povo? E até quando me não crerão por todos os sinais que fiz no meu deles? Com pestilência o ferirei, e o rejeitarei...”.
A apostasia dos nossos dias assume uma proporção nunca antes encontrada na história da humanidade. É um dos sinais dos últimos dias. A Bíblia afirma isso com contundência: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos dias apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios”(1Tm 4:1).
De um modo totalmente rebeldes, muitos crentes deixarão de servir a Jesus, recusando o amor e a salvação que um dia receberam, para escândalo do Evangelho e para surpresa e decepção dos crentes que se mantiverem fiéis. Aliás, temos que, em virtude deste espanto e impacto tremendos que a apostasia traria aos crentes que se mantiverem leais ao seu Senhor, Ele mandou deixar registrado na sua Palavra que haveria esta apostasia, pois, caso contrário, certamente até os escolhidos seriam enganados e confundidos, mas o nosso Deus não é Deus de confusão(1Co 14:33a).
Conquanto seja inevitável que haja a apostasia, que é um sinal da proximidade do fim do tempo da graça, devemos tomar cuidado para que não sejamos levados por esta onda de apostasia que sobrevirá sobre a Igreja, retendo firme a graça, pela qual servimos a Deus agradavelmente com reverência e piedade (Hb 12:28).
Assim, baseado no que aconteceu com Israel, que, pela prática do pecado continuado, sem arrependimento real e sincero, acabou praticando a apostasia, também estamos sujeitos a cometer aquele mesmo erro.
Muitos mestres torcem as Escrituras e vendem a alma ao Diabo, tentam introduzir o mundo na Igreja, sob a alegação de que esta não pode viver alheia à modernização – é a doutrina de Balaão. Tenhamos cuidado! A doutrina de Balaão continua a fazer estragos! Ela quer comprometer a Igreja, impregnando-a com a cultura e com os costumes do mundo(Rm 12:1).
II. UM BRADO CONTRA A APOSTASIA
No começo da história de Israel, o povo de Deus confiava nEle com profunda devoção. A comunhão com Deus era tão profunda que a nação era considerada a esposa do Senhor(ver Jr 31:32; Is 54:5). Agora, porém, toda a nação de Israel tinha abandonado a Deus para seguir outros deuses – “Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas”(2:13). O texto diz que o povo de Deus abandonou o Senhor e buscou vida e prazer nas coisas do mundo. Ao agir assim, abdicou do seu propósito e destino como povo redimido.
Apesar de Israel virar as costas para Deus(2:5), Ele, porém, permaneceu fiel ao seu povo. Por isso, no afã de trazê-lo de volta ao primeiro amor, Deus convoca o profeta Jeremias a fim de que bradasse contra a rebeldia da casa de Judá – “Ouvi a palavra do SENHOR, ó casa de Jacó e todas as famílias da casa de Israel”(2:4). A exortação era para toda a casa de Israel: o rei à obediência; os sacerdotes à santificação; os falsos profetas a falarem somente a verdade, pois as suas mentiras estavam levando o povo à degradação moral e espiritual, e, por conseguinte, afastando-o do Senhor Jeová.
Portanto, Jeremias estava incumbido de uma grande missão. Fazer voltar um povo, que se apostatou, às origens da fé, era uma missão árdua e dolorosa. Pois o apóstata dificilmente retorna à sua posição original. Mas a ordem de Deus foi: “Vai e clama aos ouvidos de Jerusalém...”(2:2). O profeta Jeremias haveria de:
1. Falar em nome do Senhor.
Jeremias teria que ser ousado e destemido. E ele assim o foi. É o que denota o seguinte texto: “Assim diz o Senhor: Que injustiça acharam vossos pais em mim, para se afastarem de mim, indo após a vaidade e tornando-se levianos?”(2:5). Toda Casa de Judá deveria reconhecer que Jeremias era um autêntico profeta de Deus e não um mero crítico social.
No Antigo Testamento, o “profeta” era alguém escolhido por Deus, um ser humano, mas que era separado pelo Senhor para trazer mensagens ao seu povo. Tanto assim é que somente era reconhecido como “homem de Deus”, como profeta, aquele que dissesse algo que se cumprisse, visto que esta era a prova indelével de que tinha sido ele porta-voz de Deus, que é a verdade (Jr.10:10). Eram estas, aliás, as instruções dadas pelo próprio Moisés ao povo – “E, se disseres no teu coração: Como conheceremos qual seja a palavra que o Senhor falou? Quando o profeta falar em nome do Senhor e tal palavra não se cumprir, nem suceder assim, esta é a palavra que o Senhor não falou; com presunção a falou o profeta; não o temerás”(Dt.18:21,22). Este conceito israelita era conhecido até mesmo pelos povos vizinhos, como se verifica no caso da viúva de Sarepta – “ E Elias tomou o menino, trouxe-o do quarto à casa, e o entregou a sua mãe; e disse Elias: Vês aí, teu filho vive. Então a mulher disse a Elias: Agora sei que tu és profeta de Deus, e que a palavra do Senhor na tua boca é verdade” (1Rs.17:23,24).
Profetizar era algo tão sério que a pena para o profeta que se usava em nome de Deus era clara: a morte -“Mas o profeta que tiver a presunção de falar em meu nome alguma palavra que eu não tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá”(Dt 18:20). Infelizmente, mesmo com a possibilidade de uma pena tão dura, falsos profetas se levantavam entre o povo de Deus e profetizavam coisas que não vinham de Deus, como é o caso dos profetas que enganavam o rei Acabe(2 Cr 18), e o falso profeta Hananias, que enganava o rei Zedequias(Jr 28).
2. Ser autêntico e não politicamente correto. Conquanto Jeremias fosse um jovem moderado, Deus colocou “ferro” espiritual na sua personalidade (1:18), e assim fê-lo o mais forte, destemido e corajoso de todos os profetas. A sua missão era falar a Palavra de Deus, por isso não tinha compromisso com o politicamente correto. Se expressa bem o pr. Claudionor de Andrade, ao dizer que muitos, hoje, sacrificam a pureza do evangelho no altar de interesses efêmeros e abomináveis.
Jeremias, porém, tinha uma experiência pessoal com Deus, tinha uma viva convicção de Sua chamada, estava cônscio da responsabilidade do Ministério Profético que recebera. O Senhor havia dito: “... porque aonde quer que te enviar, irás; e tudo quanto te mandar dirás”(1: 7). Jeremias tinha um compromisso com Deus e com Sua Palavra. O povo, a Casa Real, os Sacerdotes e demais líderes religiosos, todos estavam vivendo numa situação de miserabilidade espiritual, atolados na lama do pecado, da imoralidade, da idolatria... e o tempo do juízo se aproximava! Nesta condição, a mensagem de Jeremias não podia ser uma mensagem bonita, falando de prosperidade e de bênçãos em abundância. Jeremias pregava a necessidade de arrependimento, de conversão, de santificação. Era uma mensagem dura, “feia”, politicamente incorreta, mas verdadeira. Não era o que o povo queria ouvir. Era o que o povo precisava ouvir.
Como Igreja do Senhor, temos a obrigação de viver e ensinar os mais elevados princípios éticos e morais do Reino de Deus (Lv 20.7; 1 Pe 1.16). A verdadeira mensagem do evangelho não se conforma aos discursos politicamente corretos, mas aos elevados padrões da santidade divina (Mt 5.20, 48; 1 Tm 3.15; 6.11).
3. Anunciar ao povo a tragédia que os rondava. Jeremias tinha uma firme convicção de que o Cativeiro seria rápido e inevitável, se não houvesse arrependimento. Daí, sua preocupação era falar o que Deus queria que ele falasse, e não o que o povo queira ouvir.
A visão da vara de amendoeira(1:11) revelou o início do juízo de Deus, porque a amendoeira é uma das primeiras árvores a florescer na primavera. Significa que Deus viu os pecados de Judá e das nações, e executaria um juízo rápido e certo. A “panela a ferver”(1:13) voltada para o Norte, derramando-se sobre Judá, representava a Babilônia trazendo o forte juízo de Deus contra o povo de Jeremias(1:14).
No tempo de Jeremias havia falsos profetas, que pregavam mensagens “bonitas”, que vendiam ilusões, que enganavam o povo - “Assim diz o Senhor dos Exércitos: não deis ouvidos às palavras dos falsos profetas, que entre vós profetizam; ensinam-vos vaidades; falam da visão do seu coração, não da boca do Senhor”. “Não mandei os profetas, e, todavia eles foram correndo; não lhes falei a eles, e, todavia profetizaram” (Jr 23: 16, 21). Esses falsos profetas, esses profissionais da religião, enganavam o povo, para tirar proveito pessoal. Não foram chamados, não tinham compromisso com Deus, não conheciam Sua Palavra. Falavam aquilo que o povo queria ouvir, e eram aplaudidos. Pregavam abundância de bênçãos, de prosperidade, de libertação material para um povo afundado no pecado e na idolatria (5:12;8:11;14:13,15).
Pelo visto, a base para esta falsa mensagem de esperança era que a nação possuía a lei mosaica (8:8) e o Templo do Senhor estava entre eles (7:4). Todavia, o Senhor ressaltou que não achou os sacrifícios aceitáveis (6:20). Desde o dia de Moisés, a obediência sincera era mais fundamental do que o ritual sacrificatório(7:11-23). Deus também deixou claro que a presença do Templo não era garantia de segurança. Para apoiar o argumento, destacou Siló, que outrora fora o local do Tabernáculo, o qual foi mais tarde abandonado por Deus. Se o povo não se arrependesse, o Monte do Templo seria destruído como fora Siló(7:12-14); 26:6,9). Isso foi cumprido literalmente.
A religiosidade para Deus é inútil. Em At 26:5, o apóstolo Paulo, embora se dizendo antigo integrante da seita dos fariseus, faz questão de dizer que havia, entre os judeus, uma “religião”, ou seja, um sistema dominante que prescrevia como o povo de Israel deveria se relacionar com o seu Deus, um sistema doutrinário completo e predominante que, aliás, até hoje existe entre nós, a saber, o judaísmo.
O mesmo se dá na carta do apóstolo Tiago, que mostra que as pessoas procuram, via de regra, ser religiosas, ainda que esta religiosidade, no mais das vezes, não implique num correto relacionamento com Deus (Tg 1:26,27).
A religião, portanto, apresenta-se como uma organização da vida humana em sociedade, com o intuito de definir um relacionamento com a divindade, mas que pode ser falsa, se esta ordenação se der fora dos princípios e regras revelados pelo próprio Deus ao homem.
III. EM QUE CONSISTIA A APOSTASIA DE ISRAEL
1. O afastamento de Jeová.Assim diz o Senhor: Que injustiça acharam vossos pais em mim, para se afastarem de mim, indo após a vaidade e tornando-se levianos?”(Jr 2:5).
Quando Israel se instalou definitivamente na terra prometida, o líder Josué conclamou o povo a tomar uma decisão: ou servir ao Senhor ou servir aos falsos deuses da região, pois era impossível servir ao Senhor e ao mesmo tempo aos falsos deuses. O povo respondeu que, em vista do que o Senhor havia feito por eles, eles O serviriam também –“Então respondeu o povo, e disse: Longe esteja de nós o abandonarmos ao Senhor para servirmos a outros deuses”(Josué 24:16). Mas Josué ponderou que, se não tomassem essa decisão, corriam o risco de serem consumidos pelo Senhor se mais tarde eles O deixassem para servir a deuses estranhos. Ele é um Deus santo e zeloso que não perdoaria a sua transgressão nem os seus pecados. Mas o povo confirmou a sua decisão, e Josué mandou que jogassem fora os deuses estranhos que havia entre eles e se dedicassem ao Senhor Deus de Israel(cf Josué 24:20). E o povo novamente disse: “... ao Senhor serviremos”(Josué 24:21). E para confirmar o compromisso que o povo estava fazendo naquele momento solene, Josué lhes falou: “Sois testemunhas contra vós mesmos de que vós escolhestes o Senhor, para o servir. E disseram: Somos testemunhas”(Josué 24:22). E disseram mais ainda: “Serviremos ao Senhor, nosso Deus, e obedeceremos à sua voz”(Josué 24:24).
Por pouco tempo, o povo de Deus confiou nEle com profunda devoção. No início, a comunhão com Deus era tão profunda que a nação era considerada a esposa do Senhor(Jr 31:3; Is 54:5). Conquanto o povo tenha declarado por três vezes o compromisso de servir ao Senhor, não cumpriu o que prometeu; Israel se afastou de Jeová. Logo Deus o acusaria de quebrar seu pacto com Ele (Juizes 2:2,3).
O povo da geração de Jeremias seguiu nos passos dos antepassados rebeldes (Jr 11:9,10). Afastaram-se da lei de Deus (Jr 9:13) e ostensivamente desobedeceram aos padrões mais básicos, maltratando-se uns aos outros e adorando a deuses falsos(Jr 4:5,25). Diante de tão grande apostasia Deus faz uma indagação pesarosa ao povo: “Assim diz o Senhor: Que injustiça acharam vossos pais em mim, para se afastarem de mim, indo após a vaidade e tornando-se levianos?”(Jr 2:5).
Todo crente enfrenta a mesma tentação de se esquecer da bondade de Deus e sua salvação, quando anda segundo a sua vontade, e nos prazeres pecaminosos do mundo. É fácil dizer: seguiremos ao Senhor Deus, mas é muito mais importante viver isto.
2. O esquecimento de Jeová. “Os sacerdotes não disseram: Onde está o Senhor? E os que tratavam da lei não me conheceram, e os pastores prevaricaram contra mim, e os profetas profetizaram por Baal e andaram após o que é de nenhum proveito”(Jr 2:8).
Nota-se através deste versículo o esquecimento de Jeová que o povo da geração de Jeremias demonstrava. Os sacerdotes estavam tão indiferentes à presença e ao poder de Deus que não notaram que Ele os deixara. Não procuravam saber porque a presença e a bênção do Senhor se haviam afastado de Israel. Os profetas deviam falar somente a Palavra de Deus, entretanto muitos deles por estarem totalmente desviados profetizavam pelo poder demoníaco, em nome dos ídolos (Baal).
Se os pastores e os líderes de hoje pregam idéias humanistas, como as que se encontram em grande parte na psicologia, na filosofia e na teologia liberal contemporânea, em vez de pregarem a Palavra de Deus, tornam-se tão culpados quanto os falsos profetas dos tempos de Jeremias. Portanto, os líderes espirituais de hoje devem se preocupar e muito, quando a presença de Deus, e as manifestações do Espírito Santo não se constatarem nas suas congregações. O fiel servo de Deus pergunta: “Onde está o Senhor?”.
3. O desprezo pelas coisas divinas. “Houve alguma nação que trocasse os seus deuses, posto não serem deuses? Todavia, o meu povo trocou a sua glória pelo que é de nenhum proveito”(2:11).
Os ídolos sempre foram laços para o povo de Israel, a quem Deus elegeu como seu povo peculiar aqui na Terra. Apesar da bondade de Deus com Israel, o povo se voltou aos ídolos de madeira e metal inúteis, inanimados e feitos pelos homens (1:16; 2:5,8-12; 10:3-5,8,14,15). Por que a idolatria era tão fascinante aos israelitas?
a) Porque as nações ao redor de Israel criam que a adoração a vários deuses era superior à adoração a um único Deus, ou seja, quanto mais deuses melhor. O povo de Deus sofria influência dessas nações e constantemente as imitava, ao invés de obedecer ao mandamento de Deus no sentido de se manter santo e separado delas.
b) Porque os deuses das nações vizinhas a Israel não exigiam nenhum tipo de obediência a padrões morais, como o Deus de Israel. Por exemplo, muitas das religiões pagãs incluíam imoralidade sexual religiosa no seu culto, tendo para isso prostitutas cultuais. Essa prática sem dúvida atraia muitos israelitas. Deus, por sua vez, exigia padrões morais para o seu povo, vida de consagração, adoração com reverência.
c) Porque acreditavam que os deuses da fertilidade prometiam o nascimento de filhos; os deuses do tempo (sol, lua, chuva etc.) prometiam as condições apropriadas para colheitas abundantes e os deuses da guerra prometiam proteção dos inimigos e a vitória nas batalhas. A promessa de tais benefícios fascinava os israelitas; daí, muitos se dispunham a servir aos ídolos, ou seja, aos demônios (cf Dt 32:17).
Para realçar a infidelidade do povo de Isael, Jeremias lhes deu uma lição prática envolvendo a família dos recabitas(35:1-19). Os recabitas eram descendentes de Jonadabe, filho de Recabe, mencionado em 2Reis 10:15-23 como seguidores zelosos do Senhor e oponentes da adoração a Baal. Jonadabe mandou que os seus descendentes seguissem um estilo de vida nômade e rigidamente ascético, que incluía a abstinência de vinho. Mais de 200 anos depois, os descendentes ainda estavam obedecendo aos regulamentos estabelecidos pelo antepassado. Sob as ordens do Senhor, Jeremias convidou os recabitas ao Templo e lhes ofereceu vinho. Claro que recusaram beber, dizendo que tinham de permanecer fiéis ao antigo padrão de abstinência. O Senhor instruiu Jeremias a informar ao povo que os recabitas eram uma lição prática para eles. A dedicação inabalável dos recabitas às ordens dos ancestrais estava em nítido contraste com a rejeição persistente do povo à lei de Deus e às convocações ao arrependimento dadas pelos profetas. Como podemos explicar a persistente tendência da antiga nação de Israel de abandonar o Deus verdadeiro? Só há uma resposta: o pecado mantém cativo o impenitente.
Bem disse o pr. Claudionor de Andrade, se os filhos de Israel trocaram a glória de Deus pelos ídolos vãos, quantos de nós não estamos a trocar a simplicidade do Evangelho por teologias e modismos abomináveis que só trazem confusão e miséria espiritual. “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Amém”(1João 5:21).
CONCLUSÃO
Da mesma forma que o povo de Israel, todos nós, que conhecemos ao Senhor, somos tentados a esquecer as beneficências com que fomos tratados e andar atrás daquilo que o desagrada. Para que isso jamais aconteça, é necessário que tenhamos a comunhão com Ele. A intimidade com o Senhor e o apego à sua Palavra pode nos livrar da apostasia.
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. E-Mail: luloure@yahoo.com.br. Disponível no site: www.adbelavista.com.br, e no Blog: http://luloure.blogspot.com/
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Fonte de Pesquisa: Bíblia de Estudo-Aplicação Pessoal. Bíblia de Estudo Pentecostal. O novo dicionário da Bíblia. Revista o Ensinador Cristão. Guia do leitor da Bíblia – Jeremias. A Teologia do Antigo Testamento – Roy B.Zuck