domingo, 31 de maio de 2020

Aula 10 - A INTERCESSÃO PELOS EFÉSIOS


2º Trimestre/2020
Texto Base: Efésios 3:14-21
07/06/2020
“Por causa disso, me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome” (Ef.3:14,15).
Efésios 3:
14.Por causa disso, me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
15.do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome,
16.para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior;
17.para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor,
18.poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade
19.e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus.
20.Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera,
21.a esse, glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém!

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo da Epístola aos Efésios, trataremos nesta Aula da segunda oração do apóstolo Paulo em favor da Igreja do Senhor Jesus em Éfeso (Ef.3:14-21). Paulo está preso, algemado, na antessala da morte, no corredor do martírio, com o pé na sepultura e com a cabeça próxima da guilhotina de Roma, mas não inativo; ele estava realizando um poderoso ministério na prisão: o ministério da intercessão. Os inimigos de Paulo o colocaram em grilhões, mas não puderam enjaular sua alma; eles algemaram suas mãos, mas não puderam algemar a Palavra de Deus e seus lábios; eles proibiram Paulo de viajar, visitar e pregar nas igrejas, mas não puderam impedir Paulo de orar pelas igrejas.
A primeira oração de Paulo, na Epístola em epígrafe, enfatiza a necessidade de iluminação; ela enfatiza a capacitação, o conhecimento. Nesta segunda oração, a ênfase não é no “conhecer”, mas no “ser”. Ele tem muitas necessidades físicas e materiais imediatas e urgentes, porém não faz nenhuma espécie de pedido a Deus com relação à essas necessidades.
Esta oração é geralmente considerada a mais sublime, a mais ousada, a de mais longo alcance e a mais nobre de todas as orações das epístolas paulinas. Ela é o ponto culminante da teologia de Paulo; nela, vemos a intensidade do amor e o cuidado de Paulo para com os irmãos de Éfeso. Ele nos mostra que a oração intercessória está baseada no amor que temos uns pelos outros; quando isto é uma realidade, a tristeza do irmão nos toca, as dificuldades deles tomam o nosso coração e, assim, nos colocamos diante de Deus para apresentar as suas causas Àquele que tudo pode.
Que no término desta Aula possamos nos conscientizar do real valor do exercício continuo do ministério da oração e da sua eficácia no fortalecimento, restauração e crescimento espiritual da Igreja de Cristo.

I. INTRODUÇÃO À INTERCESSÃO DO APÓSTOLO

1. A motivação de Paulo - “Por causa disso” (Ef.3:14).

O apóstolo agora retoma o pensamento que iniciou no versículo 1 do capítulo 3 e que foi interrompido para esclarecer o Mistério que estava oculto e que foi revelado a ele - a gloriosa reconciliação dos gentios com Deus e dos gentios com os judeus, formando uma única comunidade – a Igreja, o Corpo de Cristo. Por isso, a expressão “Por causa disso” faz referência ao capítulo 2 com a sua descrição de como eram os gentios por natureza, e o que são agora em sua união com Cristo. A surpreendente transformação de pobreza e morte espiritual em riquezas e glória levou Paulo a orar a fim de que aqueles crentes vivessem sempre desfrutando de sua exaltada posição.

2. A postura do corpo na oração (Ef.3:14).

A postura do corpo de Paulo na oração é indicada nas palavras “me ponho de joelhos”. Isso não quer dizer que para orar a pessoa tem de se ajoelhar. Porém, a alma deve sempre ter essa atitude de humilhação. Podemos orar enquanto andamos, sentamos ou deitamos. O importante é que o nosso espirito se curve perante Deus numa atitude de reverência e humildade. Obviamente, não podemos ser desleixados com nossa postura física quando nos apresentamos Àquele que está assentado num alto e sublime trono. Como bem diz o rev. Hernandes Dias Lopes, um santo de joelhos enxerga mais longe do que um filósofo na ponta dos pés. Quando a Igreja ora, a mão onipotente que dirige o universo se move para agir providencialmente na história. Concordamos com a expressão: “Quando o homem trabalha, o homem trabalha; mas quando o homem ora, Deus trabalha”.

3. A oração é dirigida a Deus Pai (Ef.3:14).

“...perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”. A oração é dirigida a Deus Pai. Em sentido geral Deus é o Pai de toda a humanidade porque é o Criador (Atos 17:28,29). Porém, no sentido mais restrito Ele é somente o Pai de todos os crentes, a quem gerou em sua família espiritual (Gl.4:6). De maneira ainda mais especial é o Pai do nosso Senhor Jesus, o que significa que Ele (Jesus) é igual a Deus Pai (João 5:18).
O papel especial do “Pai” que Paulo tem em vista aqui está embutido nas seguintes palavras: “do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome” (Ef.3:15). Essa família é a Igreja: a do Céu é a Igreja que já está na glória; a da Terra é a que ainda não subiu ao Céu.
Quando Jesus ensinou aos seus discípulos a oração do Pai Nosso (Mt.6:9-13), Ele inicia com a expressão “Pai nosso”. Ao reconhecermos Deus como nosso Pai, demonstramos que a relação que existe entre Deus e o homem não é uma relação de senhorio, de propriedade, de domínio ou de cruel submissão, como se vislumbra, por exemplo, entre os islâmicos, mas é, sobretudo, uma relação de amor, de filiação, de intimidade e comunhão.
Ao reconhecermos Deus como nosso Pai, estamos dizendo que confiamos em Deus e em seu amor e que nada de ruim para nós pode ocorrer, pois Ele nos ama. É por isso que Jesus insiste em que tenhamos a imagem de Deus, na oração, como a imagem do Pai, daquele que é infinitamente muito mais bondoso do que nosso pai terreno e que, portanto, nunca pode querer nos prejudicar ou nos causar dano.
Como está a nossa vida de oração? Cultivamo-la diariamente? Ou já nos conformamos com o presente século? Deus decidiu agir, em muitas ocasiões, através da oração dos crentes. Lembre-se do apóstolo Paulo e da grandeza do seu ministério. Lembre-se de Martinho Lutero e do impacto da sua vida em todo o mundo. Lembre-se de João Wesley e do avivamento que varreu a Europa e os Estados Unidos. E lembre-se de que, por trás de todas essas pessoas, existe uma vida de oração. A igreja pode transformar o mundo; você pode transformar o mundo. O caminho? Uma vida de oração. Quando oramos expressamos as seguintes verdades:
ü  Reconhecemos a soberania de Deus, pois estamos dizendo que Deus é o único que pode atender aos nossos pedidos, bem como é o único que merece nosso louvor e adoração.
ü  Reconhecemos a nossa insuficiência, pois demonstramos a consciência de que tudo está no controle de Deus e que, sem Ele, nada podemos fazer.
ü  Revelamos nossa fé, pois demonstramos que nossa confiança está em Deus e não em qualquer outro ser.
ü  Revelamos a nossa obediência, pois cumprimos a vontade de Deus expressa em sua palavra, que quer que oremos sem cessar (1Ts.5:17).
ü  Demonstramos o nosso amor para com o próximo, pois intercedemos por ele e, como somos justos, permitimos que tal oração tenha uma eficácia benévola em sua vida, o que é o complemento do grande mandamento (Mt.22:39,40).

II. CORROBORADOS COM O PODER DO ESPÍRITO

para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração...” (Ef.3:16,17).
Na primeira parte desta oração, o apóstolo olha para o ponto mais íntimo do cristão: seu homem interior e seu coração. E isso faz sentido porque esse é sempre o primeiro local para onde Deus olha (cf. 1Sm.16:7; Sl.15:1,2; 24:3,4; 51:6; Mt.22:16). Ele faz um duplo pedido: o poder do Espírito no homem interior e a presença de Cristo nos corações (Ef.3:16,17).

1. As riquezas da sua glória (Ef.3:16)

“Para que, segundo as riquezas da sua glória...”. Paulo manifesta o desejo de que Deus atenda às suas súplicas “segundo a riqueza da sua glória”. A glória de Deus é o fulgor pleno de todos os atributos de Deus. Em Efésios 1:17, o apóstolo já havia declarado que Deus é o “o Pai da glória” e despenseiro de ricas e ilimitadas bênçãos. O apóstolo tinha em mente os ilimitados recursos que estão disponíveis a Deus. Mas, Paulo não está pedindo que haja mudança nas circunstâncias em relação a si mesmo nem em relação aos outros. A preocupação de Paulo não é com as coisas materiais, mas com as coisas espirituais. Infelizmente, as orações de hoje, tão centradas no homem, na busca imediata de prosperidade e curas, estão longe do ideal desta oração paulina.

2. Fortalecidos com poder (Ef.3:16)

“...vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior”. A bênção que Paulo busca é poder espiritual. Não se trata do poder para fazer milagres espetaculares, mas do vigor necessário para que sejam cristãos maduros, estáveis e inteligentes. Quem dá esse poder é o Espírito Santo. Porém, Ele só pode fortalecer aqueles que se alimentam da Palavra de Deus e usufruem da atmosfera pura da oração. A presença do Espírito na vida é a evidência da salvação (Rm.8:9), mas o poder do Espírito é a evidência da capacitação para a vida (Atos 1:8). Jesus realizou seu ministério na terra sob o poder do Espírito Santo (Lc.4:1,14; Atos 10:38).
Esse poder se manifesta no “homem interior”, ou seja, na parte espiritual da nossa natureza. Lloyd-Jones diz que “o homem interior é o oposto do corpo e todas suas faculdades e funções. Inclui o coração, a mente e o espírito do homem regenerado, do homem que está em Cristo Jesus”. É o “homem interior” que se deleita na lei do Senhor (Rm.7:22); é o “homem interior” que é renovado dia após dia, enquanto o homem exterior se corrompe (2Co.4:16). Embora pertença a Deus, nosso “homem interior” carece de força, crescimento e desenvolvimento. Precisamos ser fortalecidos com poder porque somos fracos, porque o diabo é astucioso, porque nosso homem interior (mente, coração e vontade) depende do poder do alto para viver em santidade.

3. Habitados por Cristo (Ef.3:17a)

“para que Cristo habite no vosso coração, pela fé...”.
-“Para que Cristo habite”. Outro pedido de Paulo é “que Cristo habite, pela fé, no vosso coração”. Cada cristão é habitado pelo Espírito Santo e é templo do Espírito Santo. A habitação de Cristo, aqui, porém, é uma questão de intensidade. A verdade é que Cristo passa a habitar no crente no momento da sua conversão (João 14:23; Ap.3:20); porém, não é esse o assunto desta oração. Não se trata aqui de Cristo habitar no crente, mas sim de se sentir em casa. Ele reside permanentemente em todos os convertidos; porém, o pedido aqui é que Ele tenha livre acesso a todos os “quartos” e “cantos” do nosso ser; que não se entristeça com nossas palavras, pensamentos, intensões e atos pecaminosos; que desfrute de comunhão ininterrupta com o crente. Assim, o coração do cristão se transformará no lar de Cristo, um lar onde Ele se deleita – como o lar de Maria, Marta e Lázaro, em Betânia.
-“...no vosso coração”. Cristo encontra o seu lar no coração dos crentes. O termo “coração” neste texto indica o centro da vida espiritual que controla todos os aspectos do comportamento. Assim, o apóstolo pede que o senhorio de Cristo se estenda aos livros que lemos, ao trabalho que fazemos, à nossa casa, ao nosso dinheiro que gastamos, às palavras que falamos, enfim, a todos os detalhes da nossa vida, por menores que sejam. Quanto mais somos fortalecidos pelo Espírito Santo, mais nos tornamos semelhantes a Cristo; e quanto mais somos parecidos com Cristo, mais Ele vai se sentir completamente à vontade no nosso coração.
Nas palavras do rev. Hernandes Dias Lopes, “uma coisa é ser habitado pelo Espírito, outra coisa é ser cheio do Espírito. Uma coisa é ter o Espírito residente, outra coisa é ter o Espírito presidente. O coração do crente é o lugar da habitação de Cristo, no qual ele está presente não apenas para consolar e animar, mas para reinar. Cristo, em alguns, está apenas presente; em outros, ele é proeminente e, em outros, ainda ele é preeminente. Se Cristo está presente em nosso coração, algumas coisas não podem estar ocupando o nosso coração (2Co.6:17,18; Gl.5:24)”.
-“...pela fé”. Desfrutamos de Sua presença em nós “pela fé”. Isso requer dependência constante dEle, entrega constante a Ele, e a noção contínua da presença de Cristo em nós. É “pela fé” que podemos pôr em prática a presença de Cristo na nossa vida.
Até aqui a oração de Paulo envolve todas as Pessoas da Trindade. O pedido é feito ao Pai (Ef.3:14) para fortalecer os crentes por seu Espírito (Ef.3:16) e que, assim, Cristo se sinta completamente à vontade no seu coração (Ef.3:17). Um dos privilégios da oração é que nela podemos envolver a eterna Divindade no serviço a favor dos outros e de nós mesmos.

III. ARRAIGADOS E FUNDADOS EM AMOR

“... a fim de, estando arraigados e fundados em amor” (Ef.3:17).
Paulo ora para que os crentes sejam fortalecidos para amar. Nessa nova comunidade que Deus está formando - a Igreja -, o amor é a virtude mais importante. Precisamos do poder do Espírito Santo e da habitação de Cristo para amar uns aos outros, principalmente atravessando o profundo abismo étnico e cultural que, anteriormente, separava-nos.

1. Amor: a virtude cristã

O amor é a virtude principal do verdadeiro cristão (1João 2:7-11). Foi Jesus quem definiu isso - "Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros" (João 13:34,35).
Jesus disse que o primeiro e grande mandamento é amar a Deus de todo o coração, alma e entendimento; e o segundo, semelhante a este, é amar ao próximo como a si mesmo (Mt.22:37-39). Estes dois mandamentos são, portanto, a base da vida cristã.
Em 1João 4:7,8 está escrito: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”.
Em Romanos 13:10 diz que “o amor não faz mal ao próximo. De modo que o amor é o cumprimento da lei”. Portanto, quem ama deseja o melhor para o próximo.
Em 1Coríntios 13 vemos outras características do amor: “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece; o amor jamais acaba”.
Em 1Timóteo 1:5 está escrito que “o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida”.
Muito além do amor romântico, de um sentimento, o verdadeiro amor ultrapassa essas barreiras e é parte da personalidade do cristão. Como está escrito no Manual Bíblico de Halley, "o amor é a arma mais eficaz da Igreja. O amor é a essência da natureza de Deus. O amor é a perfeição do caráter humano. O amor é a força mais poderosa e determinante do universo inteiro. Sem o amor, nenhum dos vários dons do Espírito teria proveito".
O amor é o sobretudo do cristão, é a identidade do cristão. No rol das virtudes do fruto do Espírito, que representa o caráter de Cristo e do cristão, descrito em Gl.5:22, o amor é a primeira virtude a se apresentar.
O amor é o que nos distingue como filhos de Deus - não é o dom de profecia, o poder de falar em nome de Deus ou de realizar curas. Jesus deu poder aos seus discípulos, enviou o Consolador, mas deixou claro que seríamos conhecidos como seus discípulos se amássemos uns aos outros (João 13:35). Deus sabe que somos todos diferentes, física e psicologicamente falando; havia diferença também entre os discípulos, mas o Senhor ordenou que amassem uns aos outros. O novo mandamento – demonstrar o amor -  é a diferença cristã em um mundo egoísta e vingativo.
É claro que não é uma tarefa fácil praticar o amor; se fosse fácil, boa parte dos problemas do povo de Deus estariam resolvidos. Realmente amar a quem nos ama é fácil, difícil é amar a quem nos persegue, a quem nos oprime, a quem nos tem por inimigos, a quem pensa e age de forma diferente de nós. Porém, é possível sim amar essas pessoas, pois Deus nos capacita para isso através da Pessoa do Espírito Santo. Devemos então nos avaliar, ver o que há de errado em nós, pedir perdão e perdoar quando necessário e, principalmente, recorrer com humildade ao Espírito Santo para que Ele produza em nós esse fruto tão precioso - o amor.

2. Arraigados e fundados em amor (Ef.3:17b)

Paulo continua sua oração intercessória e suplica a Deus por aprofundamento no amor fraternal – “...a fim de, estando arraigados e fundados em amor”. Quando Cristo tem acesso irrestrito ao coração, os cristãos se tornam “arraigados e fundados em amor”.
Se na primeira parte Paulo estava preocupado com o coração, agora ele está interessado nas raízes. Para isso, ele usa duas metáforas para expressar a profundidade do amor: uma procedente da botânica (arraigados-enraizados) e outra, da arquitetura (alicerçados – alicerce é a base, o fundamento, o sustentáculo). Dessa forma, o apóstolo está comparando a vida do cristão a uma árvore bem enraizada e a uma casa bem edificada. Nos dois casos, a causa da estabilidade é a mesma: o amor. Ambas as metáforas enfatizam profundidade em contraste com superficialidade. Devemos estar tão firmes como uma árvore e tão sólidos como um edifício.
“O amor há de ser o solo em que a vida deles deverá ser plantada; o amor há de ser o fundamento em que a vida deles será edificada” (Stott).
Uma árvore precisa ter suas raízes profundas no solo se ela quiser encontrar provisão e estabilidade. Assim também é o crente. Precisamos estar enraizados no amor de Cristo.
A parte mais importante num edifício é sua fundação; se ele não cresce com solidez para baixo, ele não pode crescer com segurança para cima. As tempestades da vida provam se as nossas raízes e a fundação da nossa vida são profundas (Mt.7:24-27).
“O amor é a principal virtude cristã (1Co.13:1-3; Gl.5:22). O amor é a evidência do nosso discipulado (João 13:34,35). O amor é a condição para realizarmos a obra de Deus (João 21:15-17). O amor é o cumprimento da lei (1Co.10:4). O conhecimento incha, mas o amor edifica (1Co.8:2)” (Hernandes Dias Lopes).

3. A intensidade do amor de Cristo

“Poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Ef.3:18,19).
Esta é uma oração pela compreensão do amor de Cristo. Paulo orou para que o firme arraigamento do amor (Ef.3:17) proporcionasse a todos os crentes a possibilidade de compreenderem perfeitamente a intensidade do amor de Cristo. O amor de Cristo é total, completo, eterno e abrangente; ele alcança todos os aspectos da nossa vida.
Efésios 3:18 mostra que mesmo quando procuramos obter uma compreensão do amor de Cristo, nunca o entenderemos completamente, pois ele está além da nossa compreensão.
  • Ele é “largo” – cobrindo a extensão da nossa própria vida e alcançando o mundo todo.
  • Ele é “comprido” – indo alem da duração das nossas vidas e atingindo a eternidade.
  • Ele é “alto” – atingindo as alturas das nossas comemorações e alegrias.
  • Ele é “profundo” – alcançando a profundidade do desencorajamento, do desespero, e até da morte.
Nas palavras do Rev. Hernandes Dias Lopes, “o amor de Cristo é suficientemente largo para abranger a totalidade da humanidade (Ap.5:9,11; 7:9; Cl.3:11), suficientemente comprido para durar por toda a eternidade (Jr.31:3; Ap.13:8; João 13:1), suficientemente profundo para alcançar o pecador mais degradado (Is.53:6,7) e suficientemente alto para levá-lo ao céu (João 17:24)”.
O apóstolo continua: "...e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento". O amor de Cristo tem quatro dimensões, mas elas não podem ser medidas. O amor de Cristo é por demais largo, comprido, profundo e alto até mesmo para todos os santos entenderem. O amor de Cristo é tão inescrutável quanto suas riquezas são insondáveis (Ef.3:8). Nós somos tão ricos em Cristo que as nossas riquezas não podem ser calculadas nem mesmo pelo mais hábil contabilista. Sem dúvida, passaremos a eternidade explorando as riquezas inesgotáveis da graça e do amor de Cristo; passaremos a eternidade contemplando o amor de Cristo, maravilhando-nos e extasiando-nos com isso. Entretanto, o que nos cabe é começar nisso aqui e agora, nesta vida.
O clímax dessa magnifica oração é atingido quando Paulo pede que sejam cheios de toda a plenitude de Deus (Ef.3:19). Toda plenitude da divindade reside no Senhor Jesus (Cl.2:9). Quanto mais Ele habita no nosso coração pela fé, mais cheios ficamos de “toda plenitude de Deus”.
Na Epístola aos Efésios, Paulo fala-nos que devemos ser cheios da plenitude do Filho (Ef.1:23), do Pai (Ef.3:19) e do Espírito Santo (Ef.5:18). Devemos ser cheios da própria Trindade. Embora Deus seja transcendente e nem os céus dos céus possam contê-lo (2Cr.6:18), Ele habita em nós de forma plena. Deus está presente em cada célula, em cada membro do corpo, em cada área da vida; tudo é tragado pela presença e pelo domínio de Deus.
Não é possível ficarmos absolutamente cheios de toda a plenitude de Deus; porém, é esse o alvo que temos diante de nós. No Céu atingiremos a plenitude do amor, do qual Paulo acabara de falar em sua oração. Então, se cumprirá a oração do próprio Jesus: "Para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu também neles esteja" (João 17:26).

IV. A BÊNÇÃO DE DEUS EXCEDE O PENSAMENTO HUMANO

A oração intercessória de Paulo termina com uma doxologia que inspira a alma:
“Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, a ele seja glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef.3:20,21).

1. A dimensão das bênçãos divinas

“Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” (Ef.3:20). Os pedidos precedentes foram vastos, ousados e aparentemente impossíveis; porém, Deus é “poderoso para fazer” mais do que “pedimos ou pensamos”.
Em nossas orações, nossos pensamentos incluem mais do que ousamos pedir; nossos sonhos excedem aquilo que desejamos conscientemente. Deus responde às orações; Ele responde até mesmo as orações não pronunciadas. Deus pode agir além da nossa capacidade de pedir ou mesmo imaginar.
Paulo usa superlativos para se fazer entender: Deus é capaz de “fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos”. Deus está muito acima e além das nossas mentes finitas. Deus é capaz porque é Todo-Poderoso. À incomensurável profundidade do amor de Cristo é acrescentada a extraordinária abundância do seu poder. Os crentes podem reivindicar o grande amor de Cristo (Ef.3:19) e saber que o seu poder está operando dentro de nós através do Espírito Santo.
John Stott diz que a capacidade de Deus de responder às orações é declarada pelo apóstolo de modo dinâmico numa expressão composta de sete etapas:
Ø  Deus é poderoso para fazer, pois Ele não está ocioso, inativo nem morto.
Ø  Deus é poderoso para fazer o que pedimos, pois escuta a oração e a responde.
Ø  Deus é poderoso para fazer o que pedimos ou pensamos, pois lê nossos pensamentos.
Ø  Deus é poderoso para fazer tudo quanto pedimos ou pensamos, pois sabe de tudo e tudo pode realizar.
Ø  Deus é poderoso para fazer mais do que tudo que pedimos ou pensamos, pois suas expectativas são mais altas do que as nossas.
Ø  Deus é poderoso para fazer muito mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, pois sua graça não é dada por medidas racionadas.
Ø  Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos conforme o seu poder que opera em nós, pois é o Deus da superabundância.
Os meios que Deus utiliza para responder às nossas orações são mencionados na expressão “segundo o poder que em nós opera”. Trata-se de uma referência ao Espírito Santo, o qual trabalha constantemente na nossa vida procurando produzir um caráter semelhante ao de Cristo, repreendendo-nos por causa do nosso pecado, dirigindo-nos em oração, inspirando-nos em adoração e guiando-nos no serviço. Quanto mais nos rendemos a Ele, maior é a Sua eficácia em nos conformar com Cristo.

2. O convite para adoração

Paulo encerra o capítulo 3 de Efésios com uma doxologia ao Deus que responde às orações:
a ele seja glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém!”(Ef.3:21).
Nada poderia ser acrescentado a essa oração de Paulo senão a doxologia: "a ele seja a glória". Somente Deus merece a glória, pois somente Ele é glorioso. A palavra “glória” refere-se à presença do próprio Deus, que é maravilhoso, imponente, e que inspira temor (embora a sua presença seja indescritível).
Somente Deus é o alvo da adoração eterna. A Sua sabedoria e o Seu poder são manifestos nas hostes angelicais, no sol, na lua, nas estrelas, nos animais, nos passarinhos, nos peixes, no fogo, na saraiva, na neve, no nevoeiro, no vento, nas montanhas, nas colinas, nas árvores, nos reis, no povo, nos velhos, nos jovens, em Israel e nas nações. Todos devem louvar o nome do Senhor (Sl.148).
Porém, há outro grupo de pessoas que dará “glória” eterna a Deus: a Igreja. A Igreja é a esfera em que a glória de Deus se manifesta. A Igreja, eleita de Deus, existe para glorificá-lo. A Igreja é o campo onde o plano de Deus se exterioriza aqui na terra (Ef.3:10). A capacidade de dar glória a Deus ocorre somente “por Jesus Cristo”, pois Ele trouxe a Igreja à existência, através do seu sacrifício pelo pecado e sua ressurreição dos mortos. A Igreja deve dar glória a Deus nos cultos de louvor, na vida pura dos seus membros, na proclamação do evangelho a todo o mundo e no seu ministério de ajuda aos necessitados.
A duração do louvor e adoração a Deus é para “todas as gerações, para todo o sempre” (Ef.3:21), o que significa que deve ser praticada por todos os crentes. A Deus seja a glória por todas as gerações (na história) e para todo o sempre (na eternidade). Ouvindo Paulo rogar que haja louvor eterno a Deus na Igreja e em Jesus Cristo, a resposta do nosso coração é um vivo “Amém!”.
“Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém” (1Tm1:17).

CONCLUSÃO

Nunca devemos nos cansar de orar por algo ou alguém. Paulo diz que devemos “perseverar” na oração e “vigiar”. A nossa persistência é uma expressão da fé que temos de que Deus responde às nossas orações. A fé não deve morrer, mesmo que as respostas venham lentamente, porque a demora pode ser o modo de Deus realizar a sua vontade em nossa vida. Quando nos sentirmos cansados de orar, saibamos que Deus está presente, sempre ouvindo, sempre respondendo – talvez não do modo que esperamos, mas do modo que Ele julga ser o melhor para cada um de nós. Tem você cultivado a oração? É chegado o momento de buscarmos, ainda mais, a presença de Deus (Is.55:6).
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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Douglas Baptista. A Igreja Eleita. Redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Efésios. Igreja, a noiva gloriosa de Cristo.
SHEDD, Russel. Epístolas da Prisão: uma análise. São Paulo: Edições Vida Nova,
2005, p. 15.
STOTT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo: ABU Editora, 2007.
STOTT, John. Lendo Efésios.


domingo, 24 de maio de 2020

Aula 09 – O MISTÉRIO DA UNIDADE REVELADO


2º Trimestre/2020
Texto Base: Efésios 3:1-13
31/05/2020
“o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (Ef.3:5).
Efésios 3:
1.Por esta causa, eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios,
2.se é que tendes ouvido a dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi dada;
3.como me foi este mistério manifestado pela revelação como acima, em pouco, vos escrevi,
4.pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo,
5.o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas,
6.a saber, que os gentios são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho;
7.do qual fui feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do seu poder.
8.A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo
9.e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que, desde os séculos, esteve oculto em Deus, que tudo criou;
10.para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus,
11.segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus, nosso Senhor,
12.no qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele.
13.Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, que são a vossa glória.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos do “mistério da unidade revelado”, que esteve oculto às gerações antes de Cristo, inclusive ao povo de Deus da Antiga Aliança. Esse mistério dantes guardado no coração de Deus, fora revelado no Novo Testamento. A verdade sublime que compõe o tema da Epístola aos Efésios é o anúncio de que os crentes, tanto judeus como gentios, formam agora uma unidade em Cristo Jesus; são membros lado a lado do mesmo Corpo de Cristo, a Igreja. No presente momento estão assentados em Cristo nos lugares celestiais; no futuro, vão compartilhar da Sua glória como Cabeça de todas as coisas.

I. O MISTÉRIO OCULTO NO ANTIGO TESTAMENTO

Vimos no capítulo 2 de Efésios, a exposição de Paulo acerca do estado de perdição e condenação em que se encontrava o ser humano: escravos da carne, do mundo e do diabo. Ele revelou, ainda, a triste situação dos gentios: separados de Deus e separados de Israel. E, ainda mais, mostrou como ambos, judeus e gentios, foram reconciliados para formar um só povo.
Agora, no capítulo 3, Paulo vai falar sobre o maior mistério de Deus na história. E é por causa desse mistério que ele está preso. O rev. Hernandes Dias Lopes, citando Martyn Lloyd-Jones, diz que o que realmente pôs Paulo na prisão foi ele pregar por toda parte que o evangelho de Jesus Cristo era tanto para judeus como para gentios. Foi isso que, mais que qualquer outra coisa, enfureceu os judeus. Foi esse estilo de mensagem que culminou em sua prisão em Jerusalém e seu subsequente envio a Roma. Os crentes de Éfeso podiam perguntar: por que Paulo está preso em Roma? Por que Deus permitiu essas coisas a um homem de Deus? Paulo explica que está preso pela causa dos gentios; ele está preso por pregar que os gentios foram reconciliados com Deus e reconciliados com os judeus para formar um só corpo em Cristo; este era o grande mistério, que esteve não plenamente claro no Antigo Testamento.

1. O conceito bíblico de mistério

Paulo emprega três vezes a palavra “mistério” no capítulo 3 de Efésios (vv.3,4,9). Esta palavra, no grego (mysterion), tem um sentido diferente daquele entendido na língua portuguesa. As palavras em português e em grego não têm o mesmo sentido. Em português, ela quer dizer algo obscuro, oculto, secreto, enigmático, inexplicável, até mesmo incompreensível. No grego, quer dizer uma verdade que esteve oculta ao conhecimento ou entendimento dos homens, mas que, agora, foi desvendada pela revelação de Deus (Ef.3:3). Paulo chama esse mistério de "o mistério de Cristo" (Ef.3:4). Esta é uma verdade revelada que Paulo não descobriu por pesquisa nem informação do homem, mas por revelação divina (Ef.3:3). Este mistério, dantes não claramente compreendido (Ef.3:5), há mais de dois mil anos é conhecido como a mais impressionante verdade em benefício de toda a humanidade (1Tm2:3,4) – “Porque isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade”.

2. O desconhecimento do mistério

“o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (Ef.3:5).
É fato: o mistério - a nova comunidade universal, formada por judeus e gentios, detentora das mesmas promessas, herança e destino - “noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens”. Por isso é inútil procurá-lo no Antigo Testamento. Ali pode haver tipos e sombras dele (Gn.12:3; 22:18; Is.11:10; 49:6; 54:1-3; 60:1-3; Ml.1:11), mas a verdade em si não era conhecida naquele tempo. Isto não era porque Deus quisesse esconder alguma coisa de seu povo, mas porque sua intenção era revelá-lo somente no momento apropriado, de acordo com o decreto de Deus, para que Sua vontade fosse cumprida (Gl.4:4; 1Pd.1:20). Sabia-se, pelo Antigo Testamento, que os gentios receberiam a salvação (Is.49:6), mas nunca havia sido revelado no Antigo Testamento que todos os gentios e judeus se tornariam iguais no corpo de Cristo. Nos refolhos da eternidade (Ef.1:4), Deus planejou que judeus e gentios formariam um único Corpo, a Igreja; no entanto, essa igualdade foi alcançada quando Jesus destruiu a “parede da separação”, e de judeus e gentios criou um só Corpo com Deus (Ef.2:14,15), como estudamos na Aula 07.

3. O mistério e os profetas da Antiga Aliança

“pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (Ef.3:4,5).
O povo de Deus da Antiga Aliança, Israel, ocupava um lugar privilegiado perante Deus. Eles consideravam que todas as promessas de Deus eram dirigidas exclusivamente a eles. Afirmar que um gentio tinha direitos iguais aos judeus nas promessas de Deus faria um israelita rir, pois isso não tinha o mínimo de verdade na cosmovisão deles. Os profetas da Antiga Aliança falavam que os gentios receberiam a salvação (Is.49:6; 56:6,7), mas nunca pregaram que gentios e judeus se tornariam iguais numa nova comunidade universal - que o Novo Testamento denomina de Corpo de Cristo -, “coerdeiros e participantes da promessa em Cristo” (Ef.3:6); de forma alguma afirmaram que os gentios seriam membros de um Corpo no qual os judeus não teriam primazia. O apóstolo Paulo dá ênfase a esta verdade quando afirma claramente aos cristãos colossenses que o mistério “estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos” (Cl.1:26).
-Pela Bíblia Sagrada sabemos que a chamada de Israel foi principalmente (mas não exclusivamente) para receber bênçãos temporais (Dt.28; Am.9:13-15); a chamada da igreja - formada de judeus e gentios – é, principalmente, para receber bênçãos espirituais nos lugares celestiais (Ef.1:3).
-Israel foi chamado para ser o povo escolhido de Deus sobre a terra; a Igreja é chamada para ser a Noiva celestial de Cristo (Ap.21:2,9).
-No reino vindouro do nosso Senhor, Israel será a cabeça das nações (Is.60:12); os gentios serão abençoados, porém, só através de Israel (Is.60:3; 61:6; Zc.8:23).
-No Milênio, Israel será abençoado no reino de Cristo (Os.3:5; a Igreja reinará com Cristo sobre o universo inteiro, desfrutando da sua glória (Ef.1:22,23).
Por isso é evidente que a Igreja não é Israel ou o reino; trata-se de uma nova sociedade, um grupo especial e o mais privilegiado corpo de crentes que encontramos nas Escrituras Sagradas.
A Igreja se formou depois da ascensão de Cristo, quando o Espírito Santo foi dado (Atos 2), por ocasião do batismo no Espírito Santo (1Co.12:13); será completada quando Cristo voltar, quando todos os que pertencem a Ele serão levados para o lar celestial (1Ts.4:13-18; 1Co.15:23,51-58).
Esse é o grande mistério que os escritores do Antigo Testamento não imaginava que iria acontecer, e que nós, Igreja do Senhor Jesus Cristo, tem o privilégio de saber e contemplar isso bem de perto.

II. O MISTÉRIO REVELADO NO NOVO TESTAMENTO

O mistério estava oculto ao povo de Deus da Antiga Aliança, mas, agora, revelado, primeiramente aos apóstolos e profetas do Novo Testamento. Que mistério este que Paulo dá tanta ênfase em sua Epístola? “Que os gentios são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho” (Ef.3:6).

1. Revelado aos apóstolos e profetas

O “mistério” que esteve oculto no Antigo Testamento foi revelado por Deus aos apóstolos e profetas - “o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (Ef.3:5).
O mistério divino não poderia ser desvendado por meio do raciocínio intelectual; desta feita, o Espírito Santo foi o canal pelo qual estes santos do Novo Testamento receberam a revelação do mistério (Atos 11:4-17,27). Portanto, o mistério foi dado a conhecer por meio da “revelação divina” e não por sabedoria humana (1Co.2:4).
Enfatizo que os “apóstolos e profetas” aqui mencionados são os do Novo Testamento e não os do Antigo Testamento; caso contrário, Efésios 3:5 seria contraditório. A primeira parte diz que o mistério “noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens”. Por isso não era conhecido dos profetas do Antigo Testamento. Sendo assim, como poderia se tornar conhecido nos tempos de Paulo por homens que já tinham morridos há séculos?
O sentido óbvio é que essa grande verdade acerca de Cristo e sua Igreja – formada por gentios e judeus - foi dada a conhecer a homens como Paulo, da Nova Aliança, que foram designados pelo Senhor ressurreto a fim de servirem como porta-vozes. Paulo não disse que era o único a quem esse segredo foi revelado; ele era um dos muitos, embora fosse mais adiantado na transmissão dessa verdade aos gentios do seu tempo e, por meio das epístolas, às gerações que se seguiram.
Nas Palavras de William Macdonald, “há muitos cristãos que mantém um ponto de vista muito diferente do exposto acima; dizem que a Igreja já existia no Antigo Testamento, que nessa época a Igreja era Israel, mas que agora a sua verdade tem sido revelada mais amplamente. Dizem que noutros tempos 'o mistério não era conhecido como hoje; era conhecido, mas não tão bem como agora. Temos uma revelação mais ampla, mas ainda somos o Israel de Deus, ou seja, uma continuação do povo de Deus'. A fim de apoiar seu argumento, apontam para Atos 7:38 na versão BJ, onde a nação de Israel é chamada de “assembleia do deserto”, ao passo que nas versões RA, RC, NVI e CF Israel é chamado de “a congregação no deserto”. É verdade que o povo escolhido de Deus é chamado de congregação no deserto; porém, isso não quer dizer que existe alguma ligação entre ele e a Igreja cristã. Afinal de contas, a palavra grega “eklesia” é um termo geral que descreve qualquer assembleia; é utilizada para descrever o povo de Israel em Atos 7:38, mas também é usada em Atos 19:32,41 para se referir a uma multidão de gentios. É pelo contexto que podemos determinar o tipo de assembleia ou congregação de que trata a passagem”.
O que dizer, porém, diante do argumento que diz que Efésios 3:5 se refere à Igreja que existia no Antigo Testamento, mas não plenamente revelada como agora? A resposta se encontra em Colossenses 1:26, que diz claramente que o mistério “estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos”. Não se trata aqui do grau de revelação, mas sim de sua existência.

2. O mistério oculto revelado

Qual o mistério revelado ou o segredo particularmente aberto, que “não foi dada a conhecer aos homens doutras gerações”, mas “agora foi revelado pelo Espírito Santo aos santos apóstolos e profetas de Deus" (Ef.3:5)? A resposta está em Efésios 3:6: "que os gentios são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho”.
Na Igreja do Senhor Jesus Cristo os crentes gentios são coerdeiros, membros em comum e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho. Em outras palavras, os gentios convertidos já desfrutam do título e dos privilégios dos judeus convertidos.
Portanto, a Igreja era o grande mistério de Deus guardado no Seu coração amoroso, que foi revelado pelo Espírito Santo (Ef.3:2,3) no Novo Testamento; e o mistério era que Deus, por meio de Cristo, faria com que todos os povos do mundo inteiro fossem unidos num só Corpo, formando a Igreja do Senhor. Assim, judeus e gentios podem agora ser chamados de irmãos em Cristo (Ef.3:6), porquanto “não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl.3:28). 
Observe que o apóstolo Paulo usa três expressões compostas e paralelas que indica aquilo que os crentes gentios agora têm e são, em conjunto com os crentes judeus, a saber:
·         “Coerdeiros”. Quanto à herança, coparticipam igualmente com os judeus que são salvos. São herdeiros de Deus, coerdeiros com Cristo Jesus e coerdeiros com todos os redimidos.
·         Membros do “mesmo corpo". Antes, separados por uma parede, a parede da inimizade (Ef.2:14); agora, judeus e gentios são membros em comum, unidos como família de Deus e Corpo de Cristo (Ef.2:11-22; 3:6).
·         “Participantes da promessa”. São coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho. A promessa aqui pode ser o Espírito Santo (Atos 15:8; Gl.3:14), mas também pode abranger tudo o que é prometido no evangelho aos que estão em Cristo Jesus. Os gentios são participantes de tudo isso com os judeus.
Resumindo, podemos dizer que o mistério de Cristo é a união completa entre judeus e gentios por meio da união de ambos com Cristo. É essa dupla união, com Cristo e entre eles, a essência do mistério. Deus revelara esse mistério a Paulo (Ef.3:3), aos santos apóstolos e profetas (Ef.3:5) e aos seus santos (Cl.1:26). Agora, portanto, esse mistério é uma possessão comum da Igreja do Senhor Jesus Cristo.

3. A magnitude do mistério

No Antigo Testamento havia claramente a seguinte promessa: que todas as famílias da terra seriam abençoadas por meio da descendência de Abraão; que o Messias receberia as nações como sua herança; que Israel seria dado como uma luz para as nações e que, um dia, as nações fariam uma peregrinação para Jerusalém, e até mesmo correriam para lá como um poderoso rio (Gn.12:1-3; Sl.2:8; Is.2:2-4,42:6,49:6). Jesus também falou da inclusão dos gentios e comissionou seus seguidores para que fossem e fizessem deles seus discípulos.
Todavia, o que nem o Antigo Testamento nem Jesus revelaram declaradamente foi a natureza radical do plano de Deus, a saber, que judeus e gentios seriam incorporados a Cristo e à Igreja dEle, em iguais condições, sem distinções. Até mesmo alguns líderes do início da Igreja demoraram a entender esse mistério onde todos são aceitos em Cristo (cf. Atos 11:4-17). Na verdade, essa união completa de judeus, gentios e Cristo, que Deus revelou aos apóstolos, a Paulo e aos profetas, era radicalmente novo.
Esse mistério foi revelado aos apóstolos e profetas do Novo Testamento, mas o anúncio dessa verdade revelada recai sobre a responsabilidade da Igreja, para que “a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida” (Ef.3:10). A Igreja é a principal agência divina de divulgação desse “mistério” a fim de unir todos os homens em um só povo por meio de Cristo.

III. O MISTÉRIO PRÉ-ESTABELECIDO

Deus conhece todas as coisas; Ele é Onisciente. Ele sabia que o ser humano ia cair, mas a Queda do ser humano não decepcionaria o plano de estabelecer para Si um povo todo especial, a Igreja, formado por pessoas de qualquer lugar do planeta; isto estava na sua mente desde os tempos eternos (Ef.1:4). Portanto, o mistério agora revelado não surgiu após o pecado de Adão e Eva, não; desde a eternidade o Senhor pré-estabeleceu um plano para ser executado na “plenitude dos tempos” (Gl.4:4). Essa verdade nos ensina que por trás de todo o evento da história existe um propósito eterno em andamento. Deus é soberano e controla todas as eras, tempos e circunstâncias.
Esse mistério, isto é, a união completa entre judeus, gentios e Cristo, Deus a revelou a Paulo. Ele considerava-se privilegiado de entender isto e ser chamado para manifestar o evangelho a todos.

1. As riquezas insondáveis de Cristo

“A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Ef.3:8).
-“Riquezas insondáveis de Cristo”. Aqui, esta expressão é muito preciosa e profunda. Ela refere-se às maravilhas e a providência divina que estão além do entendimento humano (Ef.1:7); ela nos leva a pensar com meditação quão rico é o Cristo que experimentamos e conhecemos.
Que “riquezas” são essas que Paulo teve o privilégio de pregar? A ressurreição da morte do pecado; a libertação da escravidão da carne, do mundo e do diabo; a entronização vitoriosa com Cristo nas regiões celestiais; a reconciliação com Deus; a reconciliação uns com os outros - o fim da hostilidade, a derrubada do muro da inimizade; o ingresso na família de Deus; a herança gloriosa em Cristo no novo céu e na nova terra.
Era este o conteúdo do evangelho que Paulo pregava – “me foi dada esta graça de pregar”. Para ele, compartilhar com os povos essas boas novas, proclamar que essas dádivas foram projetadas desde a eternidade, sendo livremente concedidas aos homens por meio de Cristo (Ef.1:4; 2:16), era algo imensurável (Ef.3:18,19).
Conquanto tivesse o privilégio de ter recebido a revelação do mistério de Deus, agora revelado, ele se considerava “o menor de todos os santos”. Ele achava que a grandeza e alcance dos mistérios de Cristo eram maiores do que ele podia compreender. Paulo sabia quão insondáveis eram essas riquezas espirituais; era algo que superava qualquer conhecimento humano.
Tudo que se refere à gloria de Cristo, sua divindade, sua glória moral, e sua glória meritória na cruz do Calvário tem um valor incalculável. O privilégio de Paulo era pregar, aos gentios, o Cristo como Salvador e declará-los incluídos como participantes das bênçãos de Cristo (cf. Atos 9:15; 22:21; 26:17; Rm.11:13; 15:16-20; Gl.2:7-9).
Sem dúvida, as riquezas de Cristo são insondáveis! Por mais que O conheçamos, sempre haverá novos aspectos dEle a serem conhecidos e experimentados. Paulo conhecia o Senhor Jesus bem de perto e de forma especial. Podemos dizer que O conhecemos profundamente ou nosso conhecimento dEle é superficial e insuficiente? Portanto, devemos almejar atender ao rogo do profeta Oséias: "Conheçamos, e prossigamos em conhecer o Senhor"(Os.6:3).

2. O eterno propósito em Cristo

“para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Ef.3:11).
Em sua presciência, Deus Pai estabeleceu o tempo da revelação do mistério da salvação através de Jesus Cristo. Esse mistério esteve oculto em Deus desde os séculos (Ef.3:9), mas foi manifestado aos seus santos apóstolos e profetas, e a nós também, nestes últimos tempos (1Pd.1:20). O “mistério” em si, sua ocultação, sua eventual revelação e o modo como exibe a sabedoria de Deus são realidades que ocorreram “segundo o eterno propósito que [Ele] fez em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Ef.3:11).
Antes que fosse formado o mundo, Deus soube que Satanás haveria de cair e que o homem o seguiria no pecado. Assim, de antemão, Deus preparou uma estratégia para combatê-lo, um plano-mestre. Esse plano se concretizou na encarnação, morte, ressurreição, ascensão e glorificação de Cristo. O programa todo foi centrado em Cristo e se realizou por meio dEle. Agora Deus pode salvar os injustos, tanto judeus como gentios, e fazer deles membros do Corpo de Cristo, confirmando-os à imagem do seu Filho e dando-lhes honra especial durante toda a eternidade como a Noiva do Cordeiro.
Efésios 3:10 declara que “agora” a Igreja se constitui na proclamadora da revelação, o que indica que ela sempre fez parte do plano divino. Portanto, a Igreja não foi uma obra acidental de Deus, ela foi criada antes de todos os tempos, fundada na cruz, inaugurada no Pentecostes e manifestada através dos apóstolos e profetas. Outrossim, essa revelação não ficava restrita aos homens, pois diz o citado texto, que também os anjos (“principados e potestades”) teriam conhecimento dessa revelação através da Igreja.

3. O plano divinamente pré-estabelecido

Nos refolhos da eternidade Deus estabelecera o “mistério revelado”, ou seja, a formação de uma nova humanidade, a união completa de judeus com gentios, por meio de Cristo. Portanto, o pecado de Adão não pegou Deus de surpresa. Deus não ficou “roendo as unhas” com medo de o homem estragar tudo no Éden. Não. Deus planejou a nossa salvação antes mesmo de lançar os fundamentos da terra. Antes que houvesse céu e terra, Deus já havia decidido nos escolher em Cristo para a salvação. Ele nos escolheu antes dos tempos eternos (2Tm.1:9); Ele nos escolheu desde o princípio para a salvação (2Ts.2:13); Ele nos escolheu antes da fundação do mundo (Ef.1:4).
Como resultado da obra de Cristo e da nossa união com Ele, temos agora o indizível privilégio de poder entrar na presença de Deus a qualquer hora e com a confiança de que seremos ouvidos sem sermos censurados (Tg.1:5). Afirma o apóstolo Paulo: “no qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele” (Ef.3:12).
-A palavra “ousadia” sugere uma atitude respeitosa, mas sem medo, atitude igual a de uma criança que quer falar com seu pai.
-A palavra “acesso” aponta para o fato de que tanto judeus como gentios têm acesso ao Pai em um Espírito; temos a liberdade de falar com Deus em oração.
-Pela palavra “confiança” compreende-se a certeza que temos de ser sempre bem-vindos, de ser ouvidos e de receber uma sábia e amorosa resposta.
-Temos tudo isso “pela nossa fé nEle”, isto é, nossa fé no Senhor Jesus Cristo.

CONCLUSÃO

Este foi o eterno plano de Deus: criar a Igreja a partir de uma humanidade nova e reconciliada em união com Jesus Cristo (Ef.3:11). Isso estava oculto no passado e, então, se cumpriu na história, na cruz, com resultados para a eternidade. Por causa disso, não ousamos desconsiderar a Igreja na história da humanidade; ela ocupa lugar central na história, a história de Deus formando um povo para Si mesmo para reinar eternamente com Ele. Que assim seja!
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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Douglas Baptista. A Igreja Eleita. Redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Efésios. Igreja, a noiva gloriosa de Cristo.
SHEDD, Russel. Epístolas da Prisão: uma análise. São Paulo: Edições Vida Nova,
2005, p. 15.
STOTT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo: ABU Editora, 2007.
STOTT, John. Lendo Efésios.