terça-feira, 26 de junho de 2018

Aula 01 – LEVÍTICO, ADORAÇÃO E SERVIÇO AO SENHOR


3º Trimestre/2018
 
Texto Base: Levítico 27:28-34
 
"E porei o meu tabernáculo no meio de vós, e a minha alma de vós não se enfadará" (Lv.26:11).

INTRODUÇÃO
Neste trimestre letivo estudaremos preciosas lições para nossa edificação e maturidade espiritual, tendo como base o Livro de Levítico, o terceiro do Pentateuco. Levítico não relata a história de Israel, mas as leis dadas por Deus a esta nação. As leis tratadas são relacionadas com os ritos, sacrifícios e serviço do sacerdócio levítico.
O propósito do livro era instruir os hebreus, e em especial os da casa de Arão, a respeito da adoração, o culto a Deus, os sacrifícios e as ofertas. Portanto, Levítico é um manual de como cultuar a Deus, dado aos sacerdotes e ao povo de Israel para que soubessem fazer a adoração exigida pelo concerto de maneira eficaz e aceitável ao Deus de Israel. Há também instruções diversas sobre como viver de forma que tal adoração seja aceitável ao Senhor, o Deus do concerto.
Embora Levítico tenha sido escrito principalmente como manual dos sacerdotes, nele encontramos, muitas vezes, a ordenança de Deus: "Fala aos filhos de Israel" -, de modo que contém muitos ensinamentos para todo o povo de Deus.
Levítico é imprescindível para compreendermos a essência do culto divino no Antigo Testamento. Que cada lição dele extraída possa servir de substância à nossa fé, orientação para agradarmos ao Senhor, direção para achegarmos sem óbice ao trono da graça e conforto para os pés daqueles que caminham sem hesitação rumo à Formosa Jerusalém.
I. SOBRE O LIVRO DE LEVÍTICO
O Livro de Levítico é o âmago do Pentateuco. Uma das principais funções dos cinco primeiros livros da Bíblia é dar uma identidade ao povo de Deus. Na essência dessa identidade está o Livro de Levítico. No centro do Livro está a santidade. A fonte de santidade é o Deus vivo, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó; o Deus que derrotou os egípcios e dividiu as águas; o Deus cuja presença habita no Tabernáculo. Levítico ensina o povo de Deus como viver em segurança na presença de um Deus santo. Para compreendermos este Livro, temos de considerar, inicialmente, sete coisas muito importantes: sua canonicidade, gênero literário, autoria, data, tema e mensagem.
1. Canonicidade. A palavra cânon deriva do grego kanōn (“cana, régua”), que por sua vez vem do hebraico kaneh, que significa vara de medir (Ez.40:3). Era usada antes do cristianismo de modo mais amplo com o sentido de padrão ou norma. O Novo Testamento emprega o termo em sentido figurado referindo-se a padrão ou regra de conduta (Gl.6:16).
Não há dúvida sobre a canonicidade do livro de Levítico. Sua localização no cânon sagrado, sua relação com o restante da Palavra de Deus, e a natureza surpreendente e variada do seu conteúdo, o tornam um dos livros mais notáveis da Sagrada Escritura. Tudo neste livro é relevante, didático, profundo, belo e devocional. Desde o princípio, Levítico é reconhecido como Palavra de Deus, e posto “perante o Senhor”, junto à Arca da Aliança, no Tabernáculo (Dt.31:26). Em várias passagens, ele é chamado, juntamente com outros livros do Pentateuco, de "Livro do Senhor", ou "Livro da Lei" (Is.34:16; 2Rs.22:8). Portanto, o livro de Levítico deve ser considerado, à semelhança dos demais Livros da Bíblia Sagrada, como a Palavra inspirada e inerrante de Deus.
2. Gênero literário. O livro de Levítico não relata a história de Israel, mas as leis dadas por Deus a ela. É diferente dos outros livros do Pentateuco porque relata quase exclusivamente o sistema das leis para governar Israel na sua vida religiosa, civil, dietética e diária. Levítico recebe este nome por ser um manual para os levitas (Lv.1:1) – “E chamou o SENHOR a Moisés e falou com ele da tenda da congregação, dizendo: ”. Ele descreve os rituais necessários para os homens pecaminosos da época terem comunhão com o Deus santo. O livro traz figuras e tipos do sacrifício de Cristo. É visto também como o estatuto da purificação nacional, social e pessoal do povo hebreu (Lv.17:1-7).

1. Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo:

2. Fala a Arão, e aos seus filhos, e a todos os filhos de Israel e dize-lhes: Esta é a palavra que o SENHOR ordenou, dizendo:

3. Qualquer homem da casa de Israel que degolar boi, ou cordeiro, ou cabra, no arraial ou quem os degolar fora do arraial,

4. e os não trouxer à porta da tenda da congregação, para oferecer oferta ao SENHOR diante do tabernáculo do SENHOR, a tal homem será imputado o sangue; derramou sangue; pelo que tal homem será extirpado do seu povo;

5. para que os filhos de Israel, trazendo os seus sacrifícios, que sacrificam sobre a face do campo, os tragam ao SENHOR, à porta da tenda da congregação, ao sacerdote, e os ofereçam por sacrifícios pacíficos ao SENHOR.

6. E o sacerdote espargirá o sangue sobre o altar do SENHOR, à porta da tenda da congregação, e queimará a gordura por cheiro suave ao SENHOR.

7. E nunca mais sacrificarão os seus sacrifícios aos demônios, após os quais eles se prostituem: isto ser-lhes-á por estatuto perpétuo nas suas gerações.

A denominação "Levítico" foi dada pelos tradutores das Escrituras para o grego (a Septuaginta), uma vez que a mensagem importante deste livro é a prescrição de leis e regras que dizem respeito ao ministério sacerdotal, ligado à casa de Arão, que era da tribo de Levi.

O livro de Levítico é, na verdade, um código de leis para os sacerdotes, regras que Deus determinou a Moisés que fossem observadas em todas as cerimônias e condutas que envolviam o ministério sacerdotal, que há pouco tinha sido instituído com a chamada de Arão e de seus filhos.

Apesar do conteúdo cerimonial, destinado ao povo de Israel, não ter aplicabilidade direta ao povo da Nova Aliança, o livro de Levítico apresenta-nos a noção da santidade de Deus e, embora fosse destinado precipuamente aos sacerdotes da Antiga Aliança, é uma prova irrefutável de que Deus é santo e exige que Seu povo seja santo, como se vê claramente em Lv.11:44,45 e 20:7,26.

Também é no livro de Levítico que se encontra a chamada "regra áurea", que foi considerada um dos pilares de toda a lei pelo próprio Jesus, ou seja, a determinação para que amemos o próximo (Lv.19:18). Por trás deste cerimonial, portanto, temos um sentido profundo e extremamente atual: o da necessidade de o povo de Deus separar-se do mundo e do pecado. 

O livro de Levítico tem a seguinte ordem de prescrições: holocaustos; ofertas de manjares; sacrifícios; a consagração dos sacerdotes; as leis sobre coisas santas; as leis sobre os animais; as normas sobre a lepra; as “imundícias” do homem e da mulher; o sacrifício anual no santo dos santos; a lei do sangue; as regras sobre casamento e relações sexuais; as penalidades; as leis a respeito dos sacerdotes; as festividades; o jubileu; o ano sabático; os votos e os dízimos. Além disso, o livro também contém a narrativa da consagração de Arão e de seus filhos, e a trágica morte de Nadabe e Abiú, porque “trouxeram fogo estranho perante a face do SENHOR, o que lhes não ordenara” (Lv.10:1,2).

3. Autoria. Vinte dos 27 capítulos de Levítico começam com a seguinte frase: “Disse mais o Senhor a Moisés, dizendo”, ou expressões equivalentes. Em sua maioria, o Senhor manda que Moisés transmita uma mensagem a Israel (cf. Lv.1:1-3:17; 4:1-5:19), ou a Arão e seus filhos (cf. Lv.6:9,25; 8:1,2). Ocasionalmente, o texto diz que Deus falou com Moisés e Arão (cf. Lv.11:1; 13:1; 14:33; 15:1). A maior parte do material do Livro apresenta mensagens vindas diretamente de Deus para Moisés. Por toda a obra, há uma interação entre Moisés e Deus (Lv.1:1; 5:14; 8.1; 15:1; 21:1; 27:1).

A perspectiva tradicional da Igreja é que Moisés deu este Livro a Israel, e, consequentemente, a nós. O próprio Senhor Jesus dá testemunho de que a autoria é de Moisés, por ocasião da cura de um leproso: “E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho” (Mc.1:44). Nesta passagem, Jesus estava se referindo o texto de Levítico 13:49, que fala sobre a necessidade de o leproso se apresentar ao sacerdote e oferecer um sacrifício.

4. Data. Uma vez que concordamos com a autoria mosaica de Levítico, propomos que o Livro foi revelado a Moisés durante o período de cinquenta dias após a edificação do tabernáculo e antes de os israelitas deixarem o Monte Sinai (Nm.10:11). De acordo com a cronologia bíblica, a saída de Israel do Egito ocorreu no ano 1445 a.C. Dois anos mais tarde, no primeiro mês, Moisés levantou o Tabernáculo no deserto (cf. Êx.40:17). Foi exatamente nesse ponto que o profeta e legislador, inspirado pelo Espírito Santo, passou a registrar normas do culto hebreu - “E chamou o SENHOR a Moisés e falou com ele da tenda da congregação, dizendo:” (Lv.1:1). Portanto, Moisés teria escrito o livro de Levítico, aproximadamente, entre 1443 a.C. (dois anos após a saída do Egito) e 1403 a.C. (ano da morte de Moisés).

5. O tema de Levítico. A palavra chave do livro é santidade, e esta palavra em várias formas é falada muitas vezes: santificar, santíssimo, santo, santuário, limpo e santidade. O versículo chave é Lv.19:2: "santos sereis, porque eu, o senhor vosso Deus, sou santo". Outro versículo que diz a mesma verdade é Lv.11:44: “Porque eu sou o SENHOR, vosso Deus; portanto, vós vos santificareis e sereis santos, porque eu sou santo”. Podemos ver uma grande verdade neste tema: temos que pregar tanto a expiação pelo sangue de Cristo quanto a vida de santidade baseada na expiação feita pelo sangue de Cristo. O salvo precisa saber como andar em comunhão com Deus.

6. Mensagem de Levítico. A grande mensagem de Levítico é a santidade de Deus: “... santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo” (Lv.19:2). Ao longo do seu conteúdo, apresenta, implicitamente, as seguintes mensagens, conforme descreveu Dennis F.Kinlaw:

a) Não é possível comunhão com Deus exceto com base na expiação do pecado. A comunhão com o Deus vivo é a essência da adoração. Ela é vital, atingindo o âmago da nossa vida. Os capítulos iniciais de Levítico descrevem várias ofertas que são necessárias para que a expiação e a comunhão sejam realizadas.

b) O homem não pode expiar os próprios pecados. Faz-se necessário um sistema de mediação. O papel dos sacerdotes, os filhos de Arão, é desempenhado em cada trecho do livro. O sistema pressupõe um mediador. Para o povo da Nova Aliança só há um mediador: Jesus Cristo (1Tm.2:5) – “Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem”.

c) A expiação deve ser de acordo com o plano divino. Repare o fim trágico de Nadabe e Abiú quando cultuaram segundo padrões próprios em vez de seguir o padrão de Deus dado por Moisés (Lv.10:1-3).

d) Somente o bom, o limpo e o são (o perfeito) é aceitável como sacrifício a Deus. Deus faz estipulações rígidas sobre o que lhe agrada. Abel tinha um caráter impoluto e probo, que agradava a Deus; conduzia-se de modo correto, demonstrando ter um relacionamento saudável com Deus e um coração bondoso, por isso, sua oferta foi aceita pelo Senhor. A questão não era propriamente a oferta, mas a disposição do ofertante expressa na oferta.

e) As pessoas que andam com Deus devem ser santas, porque Ele é santo. Esta exigência é responsável pela forte ênfase na diferença entre o limpo e o imundo, o puro e o abominável, o santo e o profano. A santidade exigida em Levítico não é meramente cerimonial, é também ética e social, como no capitulo 19, que em grande parte é recapitulação do Decálogo.

f) A comunhão com Deus envolve o compromisso da vida total. O livro deixa muito claro que nenhuma área da existência pessoal está fora do direito do Deus de Israel controlar. Há instruções sobre alimentos, hábitos sexuais, posse de propriedades, ofertas a Deus, as ocasiões certas da verdadeira adoração e as relações pessoais com o próximo e o estrangeiro. É de Levítico que temos o mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv.19:18). O Santo de Israel exigiu e exige que a vida inteira de quem anda com Ele seja colocada sob seu controle soberano e sua influência santificadora.

Para quem conhece o Novo Testamento, não é difícil identificar nestas mensagens as raízes da devoção cristã.

II. A RAZÃO DO LIVRO DE LEVÍTICO

As razões principais pelas quais o Livro de Levítico foi escrito são: purificar Israel das abominações do Egito; preservá-lo das iniquidades de Canaã e; transformá-lo num povo adorador, santo e dedicado a seu serviço.
1. Purificar Israel das abominações do Egito. O caráter espiritual do povo de Israel, ao longo dos 430 anos que estivera no Egito, foi contaminado, e no início do êxodo possuíam apenas uma fé nominal, mesmo assim Deus tinha uma promessa a cumprir, feita a Abraão, o pai do povo Hebreu, que era de resgatá-los do Egito e formar um povo separado de todas as nações no aspecto de fé e prática. A um homem foi dada a árdua tarefa de tirar o povo de Israel do Egito, e não somente isto, mas, principalmente, tirar o Egito dos descendentes de Abraão; esta missão, como bem diz o Pr. Claudionor de Andrade, era a mais difícil, a mais árdua. Para arrancar Israel do Egito bastou um dia; para arrancar o Egito de Israel, quarenta anos não foram suficientes (Nm.14:33,34).
Um dos principais pecados impregnados no coração e na mente do povo de Israel era a idolatria. A menos de quarenta dias depois de haver prometido solenemente que guardariam a lei, os israelitas quebraram a aliança com o Rei divino. Enquanto Moisés estava no Monte com o Senhor, o povo israelita cansou-se de esperar o seu líder e pediu a Arão que lhe fizesse uma representação visível da divindade, a saber, um bezerro de ouro (Êx.32:1-10). Assim, manifesta-se a tendência idólatra do coração humano: não se contenta com um Deus invisível; quer ter sempre um Deus a quem se possa ver e apalpar. Israel queria servir a Deus por meio de uma imagem e a fez provavelmente na forma do deus egípcio, o boi Ápis. Não se sabe se Israel queria prestar culto ao deus egípcio ou meramente representar o Senhor em forma de um bezerro. Por sua rebelião, deixou de ser o povo de Deus; ao falar com Moisés, o Senhor denominou a Israel "teu povo" (Êx.32:7). Este episódio demonstra-nos que o homem precisa de um coração novo, de um novo nascimento, precisa ser purificado das abominações do “Egito”, do mundo.
2. Preservar Israel das iniquidades de Canaã. Já na Terra Prometida, Deus agiu com rigorosa disciplina. Deus sabia que o povo seria muito vulnerável ao aculturamento do povo cananeu, que era má, abominável e contrária aos ditames estabelecidos por Deus. O povo cananeu era tomado pela idolatria e por práticas perversas que levaram o Senhor, inclusive, a determinar a destruição deles por parte de Israel, em virtude da sua “medida de injustiça” (Gn.15:16; Dt.7:1-5). Deus não queria que o seu povo se misturasse com os cananeus, por esse motivo, as recomendações divinas eram tão enérgicas (Dt.18:9-13).

“Quando entrares na terra que o SENHOR, teu Deus, te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações. Entre ti se não achará quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador de encantamentos, nem quem consulte um espírito adivinhante, nem mágico, nem quem consulte os mortos, pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por estas abominações o SENHOR, teu Deus, as lança fora de diante de ti. Perfeito serás, como o SENHOR, teu Deus”.

Um Deus santo não pode tolerar o pecado flagrante e desavergonhado em Seu povo, e a Sua santidade exige que essa transgressão seja punida. Não devemos de forma alguma ser impertinentes em nossas atitudes para com o pecado ou o ódio de Deus para com ele, nem devemos minimizá-lo de forma alguma.
Indubitavelmente, sem os estatutos, leis e regras do Livro de Levítico, os israelitas corriam sério risco de perder as suas características como povo de Deus (Lv.20:24,26), o povo de onde viria o Messias, prometido por Deus no princípio da humanidade (Gn.3:15).
3. Transformar Israel num povo santo, adorador e obreiro. Por meio do Livro de Levítico, Deus forneceu instruções especificas para a adoração que lhe era agradável. Essas instruções lhes ensinaram a respeito da sua natureza e os ajudaram a desenvolver uma atitude correta na adoração. Através dos sacrifícios, aprenderam sobre a seriedade do pecado e a importância de pedir perdão a Deus.
Os primeiros capítulos de Levítico fornecem instruções detalhadas para as ofertas de sacrifício, que constituíam símbolo ativo de arrependimento e obediência. Quer fossem bois jovens, grãos, cabritos ou ovelhas, as ofertas sacrificiais tinham de ser perfeitas, sem defeito ou manchas, simbolizando o sacrifício perfeito e definitivo que estava por vir: Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus. Jesus veio e abriu o caminho para Deus, dando a sua vida como sacrifício final em nosso lugar. A verdadeira adoração e unidade com Deus se inicia quando confessamos os nossos pecados e aceitamos a Cristo como o único que pode nos redimir do pecado e nos aproximar de Deus.
O Livro de Levítico, também, deixa claro o padrão de vida santa que os israelitas deveriam seguir. Eles precisavam estar separados e distintos das nações pagãs que os cercavam. Eles teriam de portar-se como nação messiânica, pois tinha como missão principal, embora inconsciente, revelar Jesus Cristo ao mundo (João 4:22). A verdade é que, sem as instruções exaradas no Livro de Levítico, os israelitas nunca teriam cumprido a missão que o Senhor lhes designara por intermédio de Abraão: ser uma bênção a todas as famílias da Terra (Gn.12:1-3; Dt.14:2). Da mesma forma, todos os crentes da Nova Aliança, devem ser separados do pecado e dedicados a Deus. 
III. O MANUAL DO SACERDOTE
O Livro de Levítico é chamado pelos judeus de "Vayikrá", palavra que significa "e chamou", termo que inicia a narrativa bíblica do texto de Lv.1:1 - "E chamou o Senhor a Moisés..."; sendo que, na linguagem do Talmude (livro sagrado do judaísmo que reúne toda a tradição oral judaica), é conhecido como "Sefer Torah Cohanim" (Livro da Lei dos Sacerdotes), conhecido, também, como Manual dos Sacerdotes levíticos, objetivando orientar os sacerdotes quanto às atividades cultuais, santificadoras e intercessoras.

1. Atividades cultuais. No Templo de Jerusalém, os levitas prestavam diversas atividades, dentre elas destacamos:

a) eram os zeladores e porteiros do Tabernáculo/Templo.  Eram responsáveis pela guarda e conservação do tabernáculo e de todos os seus móveis e utensílios (Nm.1:50-53; 3:6-8; 4:1-33). Na época do Templo, tinham a função de guardar e manter o Templo sempre limpo; controlavam a entrada dos diferentes círculos de santidade, que iam ao Templo; tinham a tarefa de manter o policiamento e a guarda das entradas do santuário.

b) auxiliavam os sacerdotes a matar e esfolar os animais para o sacrifício.

c) examinavam os leprosos, conforme a prescrição da Lei.

d) recebiam os dízimos dos demais judeus, mas também entregavam seus dízimos aos sacerdotes (descendentes de Arão).

e) sustentavam a música e os cantos na liturgia, e utilizavam instrumentos musicais. Um dos maiores levitas conhecidos na área musical, que atuava no Templo, era Asafe; ele era o chefe do coral, no Templo. É válido salientar que a música era apenas uma dentre muitas ocupações dos levitas. Vale ressaltar que, primordialmente, a música não era atribuição dos levitas, e sim o auxílio aos sacerdotes na organização do Tabernáculo ou Templo e do culto judaico. Tocar e cantar foi uma função agregada aos levitas tardiamente, que ocorreu na época do reinado de Davi, quando o mesmo implementou uma reforma nas atividades cultuais (cf.1Cr.23:1-5).

Alguém poderá indagar: “atualmente, os irmãos responsáveis pelos louvores na Igreja são considerados levitas?”. Em primeiro lugar, nenhum texto do Novo Testamento trata os crentes como levitas, mas diz que todos os salvos, não apenas cantores, fomos feitos “sacerdotes”; o apóstolo Pedro registra isso: “Mas vós sois… sacerdócio real” (1Pd.2:9). Ou seja, todo crente é um sacerdote, porque oficia diante de Deus, ministrando culto e adoração ao Senhor. Mas levita, propriamente dito, o compêndio doutrinário da Igreja, o Novo Testamento, não afirma isso.

f) Zelavam pela santidade, perfeição e beleza do culto do Deus de Israel; e para que tudo fosse realizado com perfeição, eles eram obrigados a observar rigorosamente as ordenações do Livro de Levítico. O ofício dos levitas deveria refletir a glória de Deus (Lv.9:1-6); por este motivo, tudo neles tinha de estar de acordo com as prescrições do Senhor: ordenação, pureza moral, espiritual e física (Lv.8:1-36; 10:8-11).

2. Atividades santificadoras. Como foi dito acima, a principal mensagem de Levítico é a santidade de Deus (Lv.19:2). A exigência de Deus pela santidade do Seu povo baseia-se na Sua própria natureza santa. Deus é a essência absoluta da santidade, sendo Ele o alvo de toda a busca por santidade, pureza e justiça. A santidade de Deus é perfeita (1Sm.2:2) e incomparável (Êx.15:11); é exibida em seu caráter (Sl.22:3; João 17:11), em seu nome (Is.57:15), em suas obras (Sl.145:17) e em seu reino (Sl.47:8).

Deus leva a Sua santidade muito a sério, e por isso Ele exige de forma imperativa que seu povo seja santo - “santos sereis”. Aos levitas, aos sacerdotes, aos líderes do povo de Deus, ao próprio povo de Israel, a santificação era a reivindicação precípua e essencial no Livro de Levítico. Os levitas, os sacerdotes, deveriam ser os primeiros a darem o exemplo e cuidar de sua própria santificação para terem condições de zelar pela santidade de todo o povo (Lv.16:1-11). Para estes, para os líderes do povo de Deus e ao próprio povo de Israel, a santificação era a reivindicação precípua e essencial no Livro de Levítico: "Portanto, santificai-vos e sede santos, pois eu sou o Senhor, vosso Deus" (Lv.20:7).

Todavia, essa exigência não era somente para o povo da Antiga Aliança, mas, também, é para o povo da Nova Aliança, como exorta o apóstolo Pedro: “como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda vossa maneira de viver”(1Pd.1:15); “Porquanto escrito está: Sede santos porque eu sou santo” (1Pd.1:16).

Podemos entender, então, que a santidade não é uma opção para os filhos de Deus, é um mandamento e deve ser a principal característica do cristão. Não basta apenas aceitar a Jesus e reconhecê-lo como nosso Salvador, é preciso andar como Ele andou, de forma santa e irrepreensível.

Na vida cristã, de nada adianta intitular-se cristão e não demonstrar uma vida santa diante de Deus e dos homens. É necessário o crente separar-se voluntariamente do mundo, passando a ser controlado pelo Espírito de Deus. Ser santo é ser separado das concupiscências do mundo em todos os aspectos da vida. Deus é santo, e exige de nós santidade em todos os momentos da nossa peregrinação.

A santidade é um pré-requisito para a glória futura, e sua prática exige um esforço humano, tanto no sentido da separação das coisas mundanas como no empenho de conhecer a Deus de forma progressiva.

3. Atividades intercessoras. Na Antiga Aliança, conforme o Livro de Levítico, o sacerdote era o mediador entre Deus e o homem. O sacerdote fazia a intermediação entre o pecador arrependido e o Deus Santo, único e verdadeiro (Lv.9:7).

“E disse Moisés a Arão: Chega-te ao altar e faze a tua expiação de pecado e o teu holocausto; e faze expiação por ti e pelo povo; depois, faze a oferta do povo e faze expiação por ele, como ordenou o SENHOR”.

Na Nova Aliança, só há um mediador entre Deus e o homem: Jesus Cristo (1Tm.2:05). Jesus é o nosso sublime e perfeito Sumo Sacerdote (Hb.7:26,27). Portanto, não mais necessitamos de intermediários humanos para nos achegarmos a Deus; não há mais a figura humana do sacerdote; por isso é errado chamar os pastores de sacerdotes, pois não existe mais a atividade de intermediação, como existia no Antigo Testamento; cada crente é um sacerdote - “vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1Pd.2.5). Agora, qualquer um de nós pode adentrar ao trono da graça de Deus para suplicar e oferecer culto e sacrifício de louvor ao Senhor.

Na Nova Aliança, a principal função do pastor é apascentar as ovelhas do Senhor (João 21:16) e prepará-las para entregar ao seu legitimo dono: Jesus Cristo (João 10:27; 21:16). A Bíblia, porém, exige que respeitemos os nossos pastores “porque velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas” (Hb.13:7).

Tendo em vista que o sacerdócio é exercido por cada crente diante de Deus (1Pd.2:9), a santidade continua a ser exigida para que possamos orar, interceder e ser aceito por Deus. Exorta o apóstolo Paulo: “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens. Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda” (1Tm.2:1,8).

CONCLUSÃO

Diante do que foi exposto, concluímos que o Livro de Levítico apresenta várias lições preciosas para o nosso crescimento espiritual e maturidade cristã, sendo duas delas consideradas as principais retratadas: santidade e dedicação ao serviço de Deus. A vida em Cristo consiste viver em santidade. Está escrito que sem a santificação ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 75. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Comentário Bíblico Bacon.
C.H. Mackintosh. Estudo sobre o Livro de Levítico.

sábado, 23 de junho de 2018

LIÇÕES BÍBLICAS - 3° TRIMESTRE DE 2018.

No 3º Trimestre letivo de 2018, estudaremos, através das Lições Bíblicas da CPAD, sobre o tema: “Adoração, Santidade e Serviço – Os Princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico.  Teremos como base o terceiro Livro do Pentateuco, Levítico. O comentarista das lições é o pastor Claudionor de Andrade — escritor, conferencista e Consultor Doutrinário e Teológico da Casa Publicadora das Assembleias de Deus.

As Lições estão distribuídas sob os seguintes temas:

Lição 1: Levítico, Adoração e Serviço ao Senhor.

Lição 2: A Beleza e a Glória do Culto Levítico.

Lição 3: Os Ministros do Culto Levítico.

Lição 4: A Função Social dos Sacerdotes.

Lição 5: Santidade ao Senhor.

Lição 6: A Doutrina do Culto Levítico.

Lição 7: Fogo Estranho Diante de Deus.

Lição 8: A Sobriedade na Obra de Deus.

Lição 9: Jesus, o Holocausto Perfeito.

Lição 10: Ofertas Pacíficas para um Deus de Paz.

Lição 11: A Lâmpada Arderá Continuamente.

Lição 12: Os Pães da Proposição.

Lição 13: As Orações dos Santos no Altar de Ouro.

Lição 14: Entre a Páscoa e o Pentecostes.

Levítico é parte integrante do Pentateuco, que foi escrito por Moisés; é o terceiro Livro. Tem este nome porque trata do sistema levítico de adoração, santificação e serviço na Antiga Aliança. À semelhança dos israelitas, a Igreja do Senhor Jesus também foi chamada a servir amorosa e incondicionalmente a Deus. Por esse motivo, nossa adoração a Cristo tem de ser traduzida em bom testemunho, evangelização, amor a Deus e ao próximo.

Conforme escreve Paul Hoff, em seu livro “O Pentateuco”, Levítico foi escrito, principalmente, como manual dos sacerdotes. Nele são tratadas as leis relacionadas com os ritos, sacrifícios e serviço do sacerdócio levítico. Quanto aos sacrifícios, a Igreja do Senhor Jesus não precisa observá-los, porque o Senhor Jesus Cristo cumpriu, tipológica e profeticamente, todo o Antigo Testamento. Ele é o holocausto perfeito; morreu em nosso lugar; ressuscitou para a nossa vitória.

Os principais temas teológicos do Livro de Levítico, segundo o pr. Claudionor de Andrade, em seu comentário na revista Ensinador Cristão, são:

·        Teontologia: a existência de um Deus que se comunica com o ser humano, e, com este, firma um concerto eterno.

·        Diaconologia: o ser humano, agora redimido, é intimado a consagrar-se amorosa e inteiramente ao serviço de Deus.

·        Doxologia: amando e servindo a Deus, o homem e a mulher demonstram-lhe, na prática, a sua adoração.

·        Soteriologia: observando as leis divinas e, pela fé, cumprindo-as, o crente do Antigo Testamento era salvo. Hoje, não mais precisamos observar as leis cerimoniais do Levítico, mas a essência e o espírito de seus mandamentos são ainda válidos: consagração amorosa e incondicional ao Senhor.

O propósito de Levítico era instruir os Hebreus, e em especial os da casa de Arão, a respeito da Adoração, o Culto a Deus, os Sacrifícios e as Ofertas.

Em toda a extensão de Levítico, que foi inspirado pelo Espírito Santo, não há outro livro com tantas palavras proferidas pelo próprio Deus. Ele é o orador direto em quase todas as páginas, e suas palavras foram registradas exatamente como as pronunciou.

Embora pareça árido e pouco interessante a muitos leitores, o Livro de Levítico tem grande significado e valor quando bem compreendido:

Ø  Proporciona-nos um antecedente que torna compreensíveis outros livros da Bíblia. Se alguém deseja entender as referências aos sacrifícios, às cerimônias de purificação, às instituições tais como o sacerdócio ou as convocações sagradas, é necessário consultar o Livro de Levítico. Os profetas destacados, Isaías, Jeremias e Ezequiel em suas visões contemplavam verdades permanentes dadas por via do simbolismo do templo, das ofertas, das festas e das pessoas sagradas. Sem a luz que Levítico jorra sobre a Epístola aos Hebreus, esta seria um enigma.

Ø  Apresenta princípios elevados da religião judaica. As leis e cerimônias de Levítico mostram como Deus operava para remover o pecado mediante o sacrifício e a purificação, como Deus atuava contra pecados sociais por meio do ano sabático e do ano do jubileu, e como ele enfrentava a imoralidade por meio de leis de castidade e também mediante promessas e ameaças. Em Levítico se encontra o sublime preceito: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lv.19:18). Conquanto muitas de suas normas e cerimônias já não estejam em vigor, para o crente da Nova Aliança, ainda encerram princípios permanentes. Deve-se des­cartar a casca (a forma antiga das leis) e guardar o grão (o princípio moral ou espiritual).

Ø  Tem o propósito de preparar a mente humana para as grandes verdades do Novo Testamento. Levítico apresenta o evangelho revestido de simbolismo. Os sacrifícios da Antiga Aliança, especialmente o do grande dia de expiação (yom kippur), antecipa­vam o sacrifício do mediador da Nova Aliança. Para entender cabalmente o Calvário e sua glória redentora, temos de vê-lo à luz do Livro de Levítico; este Livro põe em relevo a verdadeira face do pecado, da graça e do perdão, e assim prepara os israelitas para a obra do Redentor.

Qual a importância do Livro de Levítico para o povo de Deus da Nova Aliança? Embora escrito há mais de 3.450 anos, ensina-nos três coisas muito importantes: Adoração, Santidade e Serviço.

1. SANTIDADE. A Santidade é o tema principal de Levítico. Nele é narrado o episódio em que Deus executou juízo sobre os filhos de Arão (Lv.10:1,2). O que podemos aprender desse episódio? Antes de tudo, que Deus exige santidade e verdadeira adoração de seus filhos. Então, tomemos cuidado para não nos apresentarmos diante do Senhor com fogo estranho. O Deus que puniu a Nadabe e Abiú não morreu. Deus não se deixa escarnecer.

A palavra santificação significa apartar-se do mal e dedicar-se ao serviço de Deus. É condição necessária para desfrutar-se da comunhão com Deus. O mandamento bíblico para ser santo pode ser perfeitamente cumprido pelo crente da Nova Aliança, através do sangue precioso de Cristo. A chamada do crente é para que ele seja santo em todas as áreas da sua vida (1Pd.1:15).

As leis e as instituições de Levítico faziam os israelitas tomar consciência de sua pecaminosidade e de sua necessidade de receber a misericórdia divina; ao mesmo tempo, o sistema de sacrifícios ensinava-lhes que o próprio Deus provia o meio de expiar seus pecados e de santificar sua vida.

Deus é santo, e seu povo há de ser santo também. Israel devia ser diferente das outras nações e devia separar-se de seus costumes:

"Não fareis segundo as obras da terra do Egito... nem fareis segundo as obras da terra de Canaã" (Lv.18:3).

O texto chave encontra-se em Lv.11:44,45; 19:2:

“Porque eu sou o SENHOR, vosso Deus; portanto, vós vos santificareis e sereis santos, porque eu sou santo; e não contaminareis a vossa alma por nenhum réptil que se arrasta sobre a terra. Porque eu sou o SENHOR, que vos faço subir da terra do Egito, para que eu seja vosso Deus, e para que sejais santos; porque eu sou santo. Santos sereis, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo".

A palavra "santo" aparece setenta e três vezes em Levítico. O tabernáculo e seus móveis eram santos, santos eram os sacerdotes, santas eram as suas vestimentas, santas eram as ofertas, santas eram as festas, e tudo era santo para que Israel fosse santo. O apóstolo Paulo sintetiza este princípio e o aplica aos cristãos: "Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus" (1Co.10:31).

A santidade de Deus impõe leis concernentes às ofertas, ao alimento, à purificação, à castidade, às festividades e outras cerimônias. Somente por seus mediadores, os sacerdotes, o povo de Israel podia aproximar-se do Deus santo. Tudo isto ensinou ao povo de Israel que o pecado é que afasta o homem de Deus, que Deus exige a santidade e que só o sangue espargido sobre o altar podia expiar a culpa; de modo que Levítico fala de santidade, mas ao mesmo tempo fala da graça, ou possibilidade de obter perdão por meio de sacrifícios.

2. ADORAÇÃO. No Sistema Sacrificial Levítico, também, encontra-se a ideia de Adoração.

Sacrificar equivale a "prestar culto a Deus, atribuir-lhe glória por ser o Deus de quem dependemos e a quem devemos culto e submissão".

Após a queda do homem, apesar da impossibilidade de uma comunhão com Deus, pois o pecado fez uma divisão entre Deus e o homem (Is.59:2; Ef.2:14), o primeiro casal ensinou a seus filhos que havia a necessidade de se render a Deus um tributo, um louvor, de reconhecer que Deus é o Senhor de todas as coisas e que, portanto, devemos dar a Ele satisfação e lhe render graças. Por isso, vemos Caim e Abel apresentando ofertas a Deus, numa atitude nítida de adoração a Deus (Gn.4:3,4).

Na Antiga Aliança, a adoração era um dos alvos centrais na vida do povo de Deus. A construção e o lugar do Tabernáculo em Israel, por exemplo, evidencia a ênfase na prioridade da adoração. Infelizmente, com o transcorrer do tempo, os israelitas chegaram a atuar como se o que importasse para Deus fossem os próprios sacrifícios em lugar do coração do ofertante. O salmista Davi e os profetas procuraram inculcar no povo a verdade de que Deus não se contenta com as vítimas oferecidas quando faltam o arrependimento, a fé, a justiça e a piedade naqueles que as oferecem (cf. 1Sm.15:22; Salmo 51:16,17; Is.1:11-17; Mq.6:6-8).

Adorar a Deus requer reverência. De acordo com a Bíblia, a adoração está associada com a ideia de culto, reverência, veneração, por aquilo que Deus é: Santo, Justo, Amoroso, Soberano, Misericordioso, etc. Ele é infinitamente sublime em majestade, poder, santidade, bondade, amor e glória. Por isso, devemos adorá-lo e servi-lo com toda reverência, temor, fervor, zelo, sinceridade e dedicação.

“Pelo que, recebendo nós um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e temor”(Hb.12:28,29).

“Adorai ao Senhor vestidos de trajes santos; tremei diante dele, todos os habitantes da terra” (Sl.96:9).

A adoração a Deus é algo que faz parte da própria natureza do ser humano, é uma característica que acompanha o homem desde quando foi criado. O homem deve adorar a Deus, porque Deus o fez e ele tudo deve a este Deus. A adoração estabelece os parâmetros corretos do relacionamento entre Deus e o homem, exatamente porque é através da adoração que Deus é reconhecido como Senhor; e o homem, como seu servo.

A adoração, embora se manifeste por atos exteriores, começa no interior do homem. É uma atitude que tem seu nascimento no espírito, que é a parte do homem que mantém o canal com Deus. Por isso, a oferta de Abel foi aceita, mas não a de Caim.

A adoração é acompanhada e observada por Deus. Quando nos dispomos a adorar a Deus, jamais nos esqueçamos de que o Senhor a tudo está observando e conhece quais são nossas intenções e os nossos atos, tanto que aceitou a oferta de Abel, mas rejeitou a de Caim.

A adoração, para que seja aceita por Deus, exige um ato de fé, pois sem ela é impossível agradar-lhe (Hb.11:6). A Bíblia afirma-nos que Abel era uma pessoa dotada de fé de justiça (Mt.23:35; Hb.11:4), enquanto que Caim era do maligno (1João 3:12). Reside, então, aí a razão por que a adoração de Abel foi aceita e não a de Caim.

A adoração com uma atitude certa nos faz ser diferente. É o diferencial entre os que servem e os que não servem a Deus. Uma das características que temos da descendência piedosa de Sete, estava, precisamente, no fato de que era esta linha de descendentes que adorava a Deus. A Bíblia informa-nos que, após o nascimento de Enos, o filho primogênito de Sete, passou-se a invocar o nome do Senhor (Gn.4:26), ou seja, Deus passou a ser buscado, a ser procurado, a ser reverenciado. O fato de esta linha de descendentes adorar a Deus, buscar reconhecer a sua autoridade, era o grande diferencial entre eles e os descendentes de Caim, a ponto de a Bíblia a eles se referir como sendo os "filhos de Deus" (Gn.6:2). Deus sempre irá manter um relacionamento de pai para filho com aqueles que O adorarem.

A adoração corrompida e a idolatria estão entre as causas principais da manifestação do julgamento divino (cf. 2Rs.17:7-20; 2Cr.26:16-20; Is.1:11-17; Am.4:4-11; Rm.1:21-32, etc). Há sempre o perigo de trazermos um “fogo estranho” diante do altar e trono do Senhor (Lv.10:1,2) e contra o mesmo devemos estar sempre em guarda. Não apenas a adoração a falsos deuses é proibida nas Escrituras, mas também a adoração ao verdadeiro Deus com uma atitude errada (veja Ml.1:7-10; Is.1:11-15; Os.6:4-6; Amós 5:21; Mt.5:23-26, etc.). Em Levítico 10 temos o registro não apenas da morte de Nadabe e Abiu, mas também somos instruídos sobre o fato de que o “fogo estranho” que eles trouxeram perante o Senhor consistia naquilo que era contrário aos mandamentos divinos quanto à adoração. Paulo repreendeu os cristãos de Corinto porque eles não se ajuntavam “para melhor, e sim para pior”(1Co.11:17), e o mesmo fez Amós com a nação de Israel(Am.4:4).

A adoração deve ser feita em direção a Deus. Ele é o centro da adoração. Jesus foi claríssimo ao afirmar que somente devemos adorar a Deus (Mt.4:10). Como a Igreja é o povo de Deus da Nova Aliança, só ao Senhor é que este povo adora e entoa louvores somente a Ele (Sl.138:1). No entanto, muitas pessoas, embora presentes e assíduas nas reuniões das igrejas locais, a que muitas, inclusive, pertencem, não se tem mais adoração a Deus, mas, sim, a muitos outros “deuses”.

Lamentavelmente, muitos estão a adorar ao homem, que se tornou o centro das preocupações dos louvores, dos cânticos e da própria reunião. Vivemos os dias da predominância do “eu”, em que o crente é o centro das pregações, das letras dos cânticos e da própria “liturgia”. Por isso, as reuniões passaram a ser “shows” (seja de cantores, seja de pregadores), ou seja, exibições de pessoas e não uma reunião voltada para Deus. Muitos querem e conseguem aparecer nestas reuniões e Deus só é lembrado como Aquele que é obrigado a saciar e satisfazer os desejos dos “adoradores” ali presentes. Que coisa abominável aos olhos do Senhor! Quantos ídolos são louvados, e o Senhor completamente esquecido. É uma repugnante inversão de valores. Espero que neste trimestre letivo nos conscientizemos de que o Senhor não divide a sua glória com ninguém, como Ele mesmo exorta em Isaias 42:8: “Eu sou o SENHOR; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei...”.

Adorar a Deus é reconhecer e confessar a sua glória, o seu poder, a sua majestade, a sua magnificência, não importando o que Ele faça ou deixe de fazer. A adoração é pelo que Deus é.

Tudo que somos e possuímos pertence a Deus; por conseguinte, somos servos dEle. Um exemplo deste conceito acha-se em Mateus 4:10, que relata a ocasião em que Jesus foi tentado: "Então, disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás" (ARC). Parece, então, que adorar a Deus de maneira bíblica implica em que reconhecemos ser Ele o nosso Senhor e que temos de servi-lo em nossas vidas.

Em resumo, adoração a Deus envolve tanto as palavras quanto a vida. Se quiséssemos uma breve definição de adorar poderíamos dizer: Adorar a Deus é reconhecê-lo como nosso Senhor, tanto nas palavras quanto nos atos. O serviço que fazemos para Deus por amor e gratidão, sob o estímulo do Espírito Santo, é uma forma de adoração.

3. SERVIÇO. Quando Deus ordenou a construção do Tabernáculo e, mais tarde, do Templo, Ele separou a Tribo de Levi para assumir grandes responsabilidades. As responsabilidades dos levitas estão descritas no livro de Levítico (cf.Lv.1:1-17). Eles  faziam todo o trabalho ligado ao Templo de Deus. Eles cuidavam do Templo e guiavam o povo na adoração a Deus. 

Os sacerdotes, descendentes de Arão, levita, eram os únicos que podiam entrar no edifício do templo para oferecer sacrifícios a Deus (Lv.1:10-11). Eles também abençoavam o povo, carregavam a Arca da Aliança e recebiam uma porção dos sacrifícios para seu sustento.

Os outros levitas eram divididos por clãs e, no tempo do tabernáculo, carregavam todas as partes da tenda sempre que este mudava de lugar. Quando o Templo foi construído em Jerusalém, no tempo de Salomão, os levitas tinham assumido várias outras funções ligadas ao Templo:

·        Porteiros.

·        Guardas.

·        Administradores.

·        Músicos e líderes de louvor.

·        Mestres que ensinavam as leis de Deus.

Visto que trabalhavam para o Templo, os levitas não receberam uma porção de terra como herança, como as outras tribos de Israel. Deus era sua herança. Seu trabalho no Templo era muito importante para a nação, por isso o resto do povo tinha a responsabilidade de sustentar os levitas com seus dízimos (Nm.18:23-24). Os levitas depois davam o dízimo do que tinham recebido para o sustento dos sacerdotes. Eles também receberam algumas cidades espalhadas por Israel, para terem onde morar. Assim, os levitas estavam próximos de todos os israelitas.

Atualmente, entre os judeus ainda há descendentes de Levi, mas os levitas já não podem realizar todas as funções descritas no Antigo Testamento porque o templo foi destruído em 70 d.C.

No Novo Testamento, Jesus instituiu uma nova ordem. Agora, todo cristão é dedicado a Deus e chamado para O servir (1Pd.2:9). Não é preciso ser levita ou de uma família especial. Todos devem cuidar da igreja e viver em consagração a Deus, refletindo Sua glória entre as pessoas à sua volta.

Diante destes fatos mencionados não nos deixa outra escolha, a não ser estudar o Livro de Levítico com todo interesse e atenção. Ele precisa ser lido, conhecido e vivido. Seus princípios são bastante simples e assaz aplicáveis aos nossos dias.

Que o Deus de Israel, que é digno de toda adoração e reverência, nos abençoe sobremaneira, e que tenhamos experiências marcantes mediante o estudo deste precioso livro das Sagradas Escrituras. Que a cada lição possamos adorar a Jesus Cristo, por seu sacrifício perfeito, que fez de nós reis e sacerdotes para Deus (Ap.1:6).

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Ev. Luciano de Paula Lourenço