domingo, 26 de abril de 2015

Aula 05 – JESUS ESCOLHE OS SEUS DISCÍPULOS


2º Trimestre/2015

 
Texto Base: Lucas 14:25-35

 

“E qualquer que não levar a sua cruz e não vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14:27)

 

INTRODUÇÃO

A escolha dos doze homens para atuar como apóstolos de Jesus foi um acontecimento central no ministério de Jesus. A escolha foi feita após uma noite inteira em oração (Lc 6:12-16). Ao amanhecer, Jesus chamou a si os seus discípulos. Jesus orava a noite toda antes de tomar uma decisão importante como essa. Ora, se Jesus, sendo o perfeito Filho de Deus, passou uma noite toda em oração ao Pai, para tomar uma importante decisão, quanto mais nós, com nossas fraquezas e nossos fracassos, precisamos orar muito e cultivar uma íntima comunhão com nosso Pai celestial.

Um discípulo era um aprendiz, um estudante. Segundo Leon L. Morris, “no século I, o estudante não estudava simplesmente uma matéria; estudava com um mestre. Há um elemento de ligação pessoal no ‘discípulo’ que falta no ‘estudante’. Do grupo maior de adeptos, Jesus escolheu doze. A esses doze Jesus deu o nome de apóstolos; o termo é derivado do verbo ‘enviar’ e significa ‘uma pessoa enviada’, ‘um mensageiro’”.

A lista dos escolhidos por Jesus para ser apóstolos não é muito impressionante do nosso ponto de vista. A maioria deles deixou pouquíssimas marcas na história da igreja. Jesus escolheu quatro pescadores (Pedro, André, Tiago e João); um coletor de impostos (Mateus); um nacionalista extremado (Simão Zelote); Filipe, que às vezes parecia muito difícil de entender as coisas (João 6:5-7; 12:21-22; 14:8-9); Tomé, que em geral parecia pessimista (João 11:16; 14:5; 20:24-29); Judas, que o traiu, e; três outros, a respeito de quem simplesmente não sabemos coisa alguma. É óbvio que Jesus não levava em conta o sucesso do mundo, a inteligência, etc., como critério importante para ser útil a ele. Jesus preferia operar, naqueles tempos como também agora, através de pessoas perfeitamente comuns.

Os escolhidos foram as pedras fundamentais da Igreja, e sua mensagem encontra-se nos escritos do Novo Testamento, como testemunho original e fundamental do evangelho de Cristo, válido para todas as épocas. O Evangelho concedido a esses escolhidos por Cristo, mediante o Espírito Santo, é a fonte permanente de vida, verdade e orientação à igreja. Isso prova que as escolhas de Deus são muito diferentes daquelas feitas pelos homens. Afinal, Ele olha para o interior das pessoas e não para as aparências, como nós fazemos.

I. O MESTRE

A ênfase que Jesus deu ao ensino ressalta do fato de em geral ser ele reconhecido como Mestre. Ele foi mesmo chamado Mestre, Professor ou Rabi; e tudo isto, traz em seu bojo a mesma ideia geral expressa por Nicodemos quando disse: "Rabi, sabemos que és mestre vindo da parte de Deus" (João 3:2). Jesus a si mesmo se chamava Mestre, dizendo: "Vós me chamais Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque eu o sou" (João 13:13).

1. Seu ensino. Jesus foi o maior Mestre que já viveu. Sua missão era instruir aos outros como conhecer a Deus. Sua mensagem principal era que Deus queria nos amar e nos conhecer. Ele ensinava enquanto andava com os seus seguidores. Ele ensinava em qualquer lugar e a toda hora — no Templo, nas sinagogas, no monte, nas praias, na estrada, junto ao poço, nas casas, em reuniões sociais, em pú­blico e em particular. Ele ensinava em sermões, mas preferia usar uma história ou uma parábola. Ma­teus diz: "Andava Jesus por toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas deles, e proclamando as boas-novas do reino..." (Mt 4:23). Toda a obra de Jesus estava envolvida em atmosfera didática, e não tanto num ar de preleções ardentes, pois observamos que os ouvintes se sentiam à vontade para lhe fazer perguntas, e ele, por sua vez, lhes propunha questões e problemas. “As pessoas ficavam maravilhadas com o ensino de Jesus (Lc 4:22), porque Ele as ensinava com autoridade, e não apenas reproduzia os que os outros disseram. A natureza do seu ensino era diferente – era de origem divina (João 7:16)”.

a) O seu ensino é acessível a todo povo. Ao contrário dos “sabichões” da sua época e dos nossos dias, não queria demonstrar conhecimento, mas tinha por missão fazer com que Deus fosse compreendido pelo povo. Utilizando-se de circunstâncias da vida de seus ouvintes, permitia-lhes enxergar as “coisas de cima”, as realidades espirituais que, se fossem ensinadas em sua profundidade e dificuldade, estariam acima da capacidade de qualquer doutor, como Jesus deixou claro em seu diálogo com o “mestre de Israel” Nicodemos (João 3:9-12).

b) O seu ensino tem uma linguagem acessível, universal. Nunca Jesus fez uso de histórias fantasiosas, de coisas complexas, de enigmas que exigissem capacidade invulgar para decifrá-los. Ele ensinava por Parábolas, ou seja, Ele revelava verdades desconhecidas com base em verdades e fatos conhecidos; eram histórias retiradas do cotidiano, do dia-a-dia dos seus contemporâneos, cuja profundidade é mostrada com elementos absolutamente triviais e simples. Ele usava figuras, ou pessoas que todo povo conhecia, tal como a figura de um Semeador que saiu a semear; da Semente que caiu na boa ou na terra ruim; de um Pastor que perdeu uma ovelha; de um Filho que abandonou a casa de seu pai; de uma Moeda perdida por uma mulher; de um Vestido novo que não podia ser remendado com pano velho; de um Pescador jogando sua rede para pescar; de um Construtor que construiu sua casa sobre a areia. Eram dezenas de historias e de figuras sobejamente conhecidas. Isto é uma eloquente demonstração da “simplicidade que há em Cristo” (2Co 11:3).

Ao contemplarmos este modelo de ensino de Jesus, devemos sempre lembrar que na igreja o ministério do ensino deve ser exercido com simplicidade, pois não será a complicação, a erudição excessiva que conferirá profundidade ao ensino, e as parábolas são a prova disto. A mensagem do Evangelho é para todo o mundo, para toda a criatura (Mc 16:15) e, por isso, temos de usar de uma linguagem facilmente acessível, universal, como eram as parábolas.

c) O Seu ensino é completo, ou seja, não se pode acrescentar coisa alguma ao que Ele ensinou. O que foi ensinado e registrado nas Escrituras não pode mais ser acrescido nem tampouco diminuído. Tanto assim é que o Espírito Santo tem por tarefa tão somente nos fazer lembrar o que foi ensinado pelo Senhor Jesus (João 14:26; 16:13-15) - ou seja, não ensina coisas novas -, mas tão somente nos revela o que foi ensinado. Por isso, não podemos permitir “novos ensinos”, “novas doutrinas”, inovações que nada mais são que “doutrinas de homens” (Cl 2:22) ou “doutrinas de demônios” (1Tm 4:1), trazidos por pessoas que querem nos desviar do verdadeiro e único Mestre: Jesus Cristo. Por isso, não podemos crer nestas invenções, uma das principais características dos dias que antecedem à vinda do Senhor (Mt 24:4,5,11,23-26).

2. Jesus ensinava pelo exemplo. O exemplo é essencial para que o ensino tenha eficácia, e Jesus foi, em todos os aspectos, um exemplo como Mestre, demonstrando na prática as verdades que anunciava. Quando lavou os pés dos discípulos, demonstrou a grandeza do serviço humilde, pois apenas os escravos lavavam os pés daqueles que chegavam de viagem nas estradas poeirentas da Palestina. Quando confrontado por seus inimigos em relação ao pagamento de tributos, pegou uma moeda e deu-lhes uma lição importante acerca do respeito ao Estado.

Quando vemos os preciosos ensinamentos de Jesus no sermão do monte, vemos que Ele demonstrou o verdadeiro e profundo sentido da lei e dos profetas, mas, antes mesmo de anunciar tais lições, fez questão de afirmar que havia vindo para cumprir a lei (Mt 5:17). Diante desta afirmativa, não havia como Seus ouvintes deixarem de vincular o que ensinava com o que Jesus vivia e, ao término do discurso, puderam compreender que Jesus dava exemplo, vivia o que ensinava (1Pe 2:21-24), daí porque Seu ensino era “com autoridade”.

Assim falai, assim procedei (Tg 2:12). Na escola secular, o professor pode ser um mero transmissor de conhecimentos. Na igreja é diferente: o professor tem que ser didático e exemplar. Ensinar não é passar conhecimento simplesmente por meio de uma aula expositiva. É muito mais do que isso. Uma lição fica completa quando existe coerência entre o que é “falado” e o que é “vivido”. César Moisés Carvalho, pedagogo e autor do livro Marketing para a Escola Dominical, editada pela CPAD, disse certa vez que o problema de muitos cristãos de nossos dias não é a ortodoxia – saber fazer o que é certo à luz da Bíblia -, e sim a ortopraxia – viver aquilo que sabemos ser o certo à luz da Bíblia. Aqui reside um dos maiores desafios para os que se dedicam ao ensino.

II. O CHAMADO

A expressão "segue-me" é o principal termo para descrever o chamado para o discipulado (Mc 2:14; 8:34; 10:21). Jesus não chamou os discípulos para prioritariamente fazerem um trabalho, mas para um relacionamento. Ir a Cristo, seguir a Cristo, estar com Cristo é mais importante do que fazer a obra de Cristo. Jesus está mais interessado em quem nós somos do que no que fazemos. Relacionamento precede o desempenho. A vida com Cristo precede o trabalho para Cristo. Santidade pessoal precede ministério cristão. Primeiro damos ao Senhor o nosso coração, depois consagramos a Ele tudo o que temos. Inverter esta ordem é o mesmo que trocar a raiz pelo fruto, a causa pelo efeito.

1. Jesus chama cooperadores para fazer a sua obra (1). Os evangelhos registram três ocasiões em que os discípulos foram chamados:

a) A chamada para a salvação. Essa chamada aconteceu na Judeia e está registrada em João 1:35-51. Jesus chamou André e Pedro e estes deixaram as fileiras de João Batista e o seguiram. Mas nessa ocasião, eles ainda voltaram para a Galileia e continuaram com sua atividade pesqueira.

b) A chamada para o discipulado. Essa ocasião é descrita em Marcos 1:16-20, no Mar da Galileia, quando Jesus chamou Pedro e André, Tiago e João para segui-lo. Esse é o chamado para o discipulado. Eles seriam treinados para serem pescadores de homens. Contudo, somos informados em Lucas 5:1-11, que eles ainda voltaram à pescaria no Mar da Galileia. Foi nessa ocasião que Pedro disse para Jesus: "Senhor, afasta-te de mim, porque eu sou pecador". Em outras palavras, estava pedindo para Jesus desistir dele e buscar alguém mais adequado para a grande missão. Mas Jesus não desistiu de Pedro.

c) A chamada para o apostolado. Esse chamado está registrado em Marcos 3:13-21, quando Jesus separou dentre seus discípulos, doze apóstolos para estarem com Ele e para os enviar a pregar e expulsar demônios. Esse foi o chamado para o apostolado.

2. Jesus chama para o seu trabalho pessoas ocupadas (2). Pessoas escolhidas por Deus para uma missão especial normalmente não são pessoas desocupadas e ociosas. O trabalho de Deus exige energia e disposição. O Senhor chamou a Moisés quando ele estava pastoreando as ovelhas no Sinai (Ex 3:1-14). Chamou a Gideão, quando estava malhando trigo no lagar (Jz 6:11). Chamou a Amós quando estava nos campos de Tecoa cuidando do gado (Am 7:14,15). Tirou Davi detrás das ovelhas para colocá-lo no palácio (Sl 78:70-72). Jesus chamou Pedro e André, Tiago e João quando estavam pescando e consertando as suas redes (Mc 1:16,19).

3. Jesus chama para o seu trabalho pessoas humildes (3). Jesus não foi buscar seus discípulos entre os estudantes de teologia das escolas rabínicas nem dentre a elite sacerdotal. Nem mesmo chamou aqueles de refinado saber, ou possuidores de riquezas, mas recrutou-os das classes operárias, no meio dos pescadores. Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios (1Co 1:26,27).

Os primeiros discípulos de Jesus não tinham riquezas, fama nem poder. Isso prova que o Reino de Deus não depende dessas coisas. A causa de Cristo avança não por força nem por poder, mas pelo Espírito Santo (Zc 4:6). A igreja que começou com poucos pescadores e espalhou-se pelo mundo, só poderia ter sido fundada pelo próprio Deus.

4. O custo do discipulado. Jesus deixa bem claro quais são as implicações envolvidas na vida daqueles que aceitam o chamado para ser seu discípulo. Em Lucas 14:25-27 encontramos Jesus sendo seguido por numerosa multidão. Então, Ele repetiu o que já tinha mencionado em Lucas 9:23-25: “E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14:27). Nessas palavras temos o ápice, a consequência de tudo o que veio antes e de tudo o que viria depois, pois em Lucas 14:33 Jesus afirma: “Assim, pois, qualquer de vós que não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo”. O que Jesus quis dizer é que como discípulos Seus, nós entregamos a Ele a “escritura” de tudo o que possuímos. Deste momento em diante vivemos conscientes de que somos mordomos do Senhor, e que tudo o que possuímos pertence a Ele.

Temos que renunciar inclusive o inchaço do orgulho, a sede de competição, a busca pelos interesses próprios, a segurança representada pelas posses, pela profissão e pela família, incluindo a própria vida (Lc 14:26), isto é, pelo estilo de vida comprometido com os valores terrenos e passageiros. Se temos que renunciar a tudo, então o que é que sobra? Sobra a cruz, ou seja, a disponibilidade para seguir a Jesus até à morte pela causa da justiça (Lc 14:27). Não sobra nem a boa fama, pois a cruz era a sentença para os que ousavam subverter a ordem criada pelo Império Romano. Jesus morreu como um criminoso.

Essas palavras são duras? Claro que são. Mas esse é o evangelho verdadeiro. Não é esse o evangelho que temos ouvido e visto pelos meios de comunicação, que promete “mundos e fundos” que Jesus nunca prometeu aos seus seguidores. O evangelho verdadeiro exige renúncia!

Você está atrás das bênçãos e das vantagens que esses benefícios efêmeros lhe oferecem? Ou está disposto a tomar a sua cruz? Está disposto a sofrer e morrer pelo evangelho, pelo Senhor Jesus? Você está disposto a seguir a Jesus? Está disposto a continuar seguindo-o? Fez todos os cálculos? Tem assumido o compromisso com Ele? O que Jesus estabelece como requisito para qualquer um de nós sermos seus discípulos é a disposição de renunciarmos a tudo, inclusive a nós mesmos (Lc 9:23,24; 14:27,33). Você está disposto?

Jesus cita duas parábolas para conscientizar sobre o custo de segui-lo (Lc 14:28-32). Na primeira parábola, Jesus diz: “Senta-te e calcula se podes pagar o preço de Me seguir”. Na segunda, diz: “Senta-te e calcula se pode pagar o preço de recusar Minhas exigências”. A lição fica clara. Jesus não deseja seguidores que se precipitam para o discipulado sem pensar naquilo que está envolvido. E fica claro quanto ao custo. O homem ou a mulher que vier a Ele deve renunciar a tudo quanto tem; deve considerar tudo como perda por amor a Ele, de modo que possa entrar na experiência gratificante do discipulado vigoroso. (5)

III. O TREINAMENTO

Os que são chamados à salvação são também convocados para um treinamento a fim de alcançar outros. Disse Jesus: "Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens" (Mt 4:19). Observe que o tempo do verbo fazer está no futuro. Seguir a Cristo ainda não é ser enviado; isto vem depois. Jesus chama os discípulos para a obra, mas antes os prepara para a obra. É Jesus quem os faz pescadores de homens. Ele é quem os ensina, os equipa, os prepara e os capacita para o trabalho. Eles deixam as redes encorajados pela promessa do Senhor de treiná-los para uma tarefa muito superior à que estavam engajados.

Aqueles discípulos frequentaram a melhor escola do mundo, com o maior mestre do mundo, sobre o mais importante assunto do mundo. O ensino de Jesus não era limitado a uma sala de aula. Ele não era um alfaiate do efêmero, mas um escultor do eterno. Não era um mestre de banalidades, mas o Salvador do mundo. Ele não apenas transmitia informações, mas transformava vidas.

Nessa preparação Jesus andou com os discípulos, comeu com eles, socorreu-os nas suas aflições, exortou-os nas suas dúvidas, encorajou-os em suas fraquezas. Jesus não apenas os treinou com palavras, mas, sobretudo, com exemplo. O exemplo não é uma forma de ensinar, mas a única eficaz.

Simão, o inconstante e covarde, haveria de tornar-se um intrépido apóstolo. João, o filho do trovão, haveria de ser o discípulo amado. Aqueles iletrados pescadores haveriam de revolucionar o mundo. O vaso é de barro, mas o poder é de Deus. Os instrumentos são frágeis, mas a mensagem é poderosa. Os pescadores são limitados, mas a pesca será gloriosa. (4)

IV. A MISSÃO

1. Pregar e ensinar. Jesus não chamou os discípulos para o ócio, mas para o serviço. Chamou-os para um trabalho, um glorioso trabalho: serem pescadores de homens (Mt 4:19). Chamar os pecadores ao arrependimento e oferecer a eles o dom da vida eterna é a mais sublime missão que podemos ocupar na vida.

A mensagem que os discípulos foram desafiados a pregar, não estava baseada em contos humanos, ou em personalidades importantes que a humanidade já teve, mas sim, exclusivamente, baseada no que viram e ouviram de Seu Mestre. Teriam autoridade para falar do perdão, conforme o modelo de perdão que viram n'Ele. Teriam condições de pregar sobre o amor, porque conviveram com quem era o Amor em Pessoa (1João 4:8). Teriam liberdade para desafiar as pessoas a entregar suas próprias vidas pelo Evangelho, com base nas atitudes altruístas de quem deu Sua própria vida por nós (1Co 15:3). Tratava-se verdadeiramente de uma mensagem “cristocêntrica” (centrada na Pessoa e no caráter de Cristo). E é exatamente disso que a humanidade necessita ouvir.

Ganhar almas é o maior negócio deste mundo, o maior investimento. É o mais importante e mais urgente trabalho que se pode fazer no mundo. Pescar pessoas é arrebatá-los do fogo; é tirá-los das trevas para a luz, da casa do valente para a liberdade, do reino das trevas para o reino da luz, da potestade de Satanás para Deus. Engajar-se nesse projeto deve ser a maior aspiração da nossa vida, o maior projeto da nossa história. Quem ganha almas é sábio (Pv 11:30). Quem a muitos conduz à justiça brilhará como as estrelas no firmamento (Dn 12:3).

2. Libertar e curar. A cura divina, tanto para a alma como para o corpo, é uma promessa advinda de Deus (Mt 8:16,17). A Bíblia Sagrada, tanto no Antigo como no Novo Testamento, mostram manifestações de Deus em cumprimento a esta promessa divina. Cristo, em seu ministério terreno, atuou na vida das pessoas curando suas enfermidades (Mt 4:23; 8:16,17). O Senhor também estendeu o ministério da cura divina aos seus seguidores (Mc 16:16-18; Lc 9:2; Mt 10:8). O cumprimento dessa promessa de Jesus é testificado no livro de Atos (At 3:6-10; 14:8-10).

Não se pode deixar de valorizar a cura divina nesta caminhada da Igreja, porém, deve ter como meta a glorificação a Deus (Mt 28:19,20), jamais a promoção humana. Portanto, aqueles que pregam a cura divina não podem esquecer que o maior milagre continua sendo o perdão dos pecados (Mc 2:10-12). Além disso, é bom saber que nem todos são curados. Há exemplo na Bíblia em que apenas uma pessoa, em meio a uma multidão, recebeu essa dádiva, como é o caso do paralítico do tanque de Betesta(João 5:1-8). Isto porque a cura é um ato eminentemente divino e Deus cura a quem e quando lhe apraz.

CONCLUSÃO

Jesus chamou doze homens para estarem com Ele. E não os chamou para um trabalho burocrático ou apenas para uma posição de liderança, mas, sobretudo para um trabalho de ganhar almas, de buscar os perdidos, de arrancar pessoas da morte para a vida. Ganhar almas e vidas para Cristo foi a sublime vocação desses primeiros discípulos.

Lucas relaciona os doze nomes destacando que Judas Iscariotes se tornou traidor (Lc 6:16). Vemos que até mesmo entre os escolhidos para continuar a obra de Jesus havia alguém que iria traí-lo e à sua missão. Devemos, portanto, estar conscientes de nossas convicções pessoais, e ver se estamos dando continuidade ao ministério que Jesus nos delegou ou se o estamos traindo, como Judas fez, em troca de bens circunstanciais. Os rótulos e as aparências não adiantam. Cuidemos para que não ajamos como Judas agiu!

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Luciano de Paula Lourenço - Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 62. CPAD.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD

Lucas (Introdução e Comentário). Leon L. Morris. VIDA NOVA.

Comentário Lucas – à Luz do Novo Testamento Grego. A.T. ROBERTSON. CPAD

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

John Vernon McGee. Através da Bíblia – Lucas. RTM.

(1) Hernandes Dias Lopes. Marcos, o Evangelho dos milagres. Hagnos.

(2) Ibidem

(3) Ibidem.

(4) Ibidem.

(5) Leon L. Morris. Lucas (Introdução e Comentário). VIDA NOVA.

domingo, 19 de abril de 2015

Aula 04 – A TENTAÇÃO DE JESUS


2º Trimestre/2015

Texto Base: Lucas 4:1-13

 
“Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4:15).

 

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos sobre a tentação que Jesus passou no deserto da Judéia após o batismo no rio Jordão. Veremos a sutileza do Diabo em tentar o Filho do Homem em um momento de extrema carência e necessidade física, e como o Filho do Homem o derrotou ao dizer “não” a cada uma de suas propostas. É importante registrarmos que esse teste a que Jesus foi submetido visava enfatizar a Sua humanidade. Como nosso Salvador e Sumo Sacerdote, Ele teve que experimentar as nossas experiências para vencê-las e nos dar condições de vencê-las também. Lucas destaca que Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo Espírito Santo, no deserto (Lc 4:1). Nesse ponto encontramos uma diferença importante. Uma pessoa cheia do Espírito Santo é alguém que está completamente vazia de si mesma. Quanto menos temos do nosso "eu" ocupando lugares e dirigindo a própria vida, mais teremos do Espírito Santo e mais daremos liberdade para que nos dirija e nos capacite contra as investidas do diabo.

I. A REALIDADE DA TENTAÇÃO

1. Uma realidade humana. Tentação é o estímulo externo ou interno que impulsiona o ser humano à prática do pecado. É a investida do diabo contra os cristãos. Ela é inerente à carne – “Não vos sobreveio nenhuma tentação, senão humana” (1Co 10:13a). Ela tem influência destrutiva, mas fiel é Deus que dá o escape para suportar a tentação. Quando a tentação é consumada, a consequência é o pecado (sua prática destitui o homem da comunhão com o Eterno) e a sua continuidade é punida com o castigo eterno. A tentação é comum a todos os servos, todos são tentados no dia-a-dia. É-nos garantido pelo Senhor, que todas elas são suportáveis; nenhuma tentação é superior às nossas forças (1Co 10:13).

2. A diferença entre Tentação e Provação.

a) Tentação. Pode ser definida como aquele impulso inicial que a pessoa sente para cometer pecados (Rm 7:18,19). É procurar seduzir alguém para o pecado, persuadir a tomar um caminho errado. É de origem satânica e carnal (Mt 4:1, João 13:2, Tg 1:14). Seu objetivo é fazer o crente abandonar a vontade de Deus. Visa sempre o mal (tirar-nos da dependência de Deus - Mt 4:3-6,8,9).  Não é pecado em si, pois Jesus foi tentado em tudo (Hb 4:15).

b) Provação. Significa "por alguém à prova", submeter a um teste. É de origem divina. Veja o caso de Abraão (Gn 22:1). Visa fortalecer a pessoa e não derrubar (Leia 2Cr 32:31, Hb 11:17-19). Recompensa dos que são provados e aprovados: “Bem-aventurado o homem que suporta a provação; porque, depois de aprovado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam” (Tg. 1:12 ).

3. A tentação em si não é pecado. A tentação em si não é pecado, mas quando o homem cede à tentação então ele peca. Deus nunca usa este instrumento chamado tentação, visto que o objetivo da tentação é levar o homem ao pecado. Por isto, diz a Palavra de Deus: “Ninguém, sendo tentado, diga: de Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta” (Tg 1:13). Quando uma tradução diz que Deus tentou alguém, na verdade trata-se de uma prova, e não uma tentação no sentido de induzir o homem ao pecado. Diz a Bíblia Sagrada: “Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência; então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg 1:14,15). E Deus não permite a Satanás tentar alguém acima de suas próprias forças e Ele sempre nos dá o escape – “...fiel é Deus, o qual não deixará que sejais tentados acima do que podeis resistir, antes com a tentação dará também o meio de saída, para que a possais suportar” (1Co 10:13b).

4. O agente da tentação. Satanás é o agente principal da tentação. Esse é o seu principal trabalho desde a formação do homem e da mulher. O trabalho que mais o agrada é desviar o crente das disciplinas da vida cristã. A Bíblia diz: "Quem comete o pecado é do diabo, porque o diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo" (1Jo 3:8).

5. Vencendo a tentação. Ao voltar do Jordão onde foi batizado, Jesus foi guiado pelo Espírito Santo ao deserto, provavelmente o da Judéia, na costa ocidental do mar Morto. Ali Ele foi tentado durante quarenta dias pelo Diabo – dias nos quais o Senhor nada comeu. Ao fim desses dias surgiu a tentação tripla com que estamos mais familiarizados. As tentações ocorreram em três lugares diferentes: no deserto, numa montanha e no templo em Jerusalém. E Ele venceu todas.

Jesus, o homem perfeito, venceu a sedução do pecado com oração, com a Palavra e por andar no Espírito. Todos os que estão em Cristo podem sim, também, vencer a tentação (1Co 10:13).

A vitória de Jesus sobre a tentação é também a nossa vitória.

Alguns dizem que, como Deus, Jesus não poderia pecar, mas, como homem, poderia. Mas Ele continua sem Deus e Homem, e é inconcebível que Ele pudesse pecar hoje. O propósito da tentação não foi ver se Ele pecaria, mas provar que Ele não poderia pecar. Somente um Homem santo, sem pecado, poderia ser nosso Redentor.

II. A TENTAÇÃO DE SER SACIADO

1. A sutileza do Diabo - "... e, naqueles dias, não comeu coisa alguma, e, terminados eles, teve fome. E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão” (Lc 4:2,3).

A verdadeira humanidade de Jesus é refletida pelas palavras “teve fome”. Esse foi o alvo da primeira tentação: a tentação de ser saciado. Satanás sugeriu que o Senhor deveria usar seu poder divino para satisfazer a fome física. A sutileza da tentação foi que o ato em si era perfeitamente legítimo. Mas o erro estaria em Jesus obedecer a Satanás.

O diabo é um mestre das coisas aparentemente lógicas. Jesus estava faminto; ele tinha poder para transformar as pedras em pão. O diabo simplesmente sugeriu que ele tirasse vantagem de seu privilégio especial para prover sua necessidade imediata.

Era verdade que Jesus necessitava de alimento para sobreviver. Mas a questão era como ele o obteria. Lembre-se de que foi Deus quem o conduziu a um deserto sem alimento. O diabo aconselhou Jesus a agir independentemente e encontrar seus próprios meios para suprir sua necessidade.

Confiará ele no Pai ou se alimentará a seu próprio modo? Há aqui, também, uma questão mais básica: Como Jesus usará suas aptidões? A tentação era ressaltar demais os privilégios de sua divindade e minimizar as responsabilidades de sua humanidade. E isto era crucial, porque o plano de Deus era que Jesus enfrentasse a tentação na área de sua humanidade, usando somente os recursos que todos nós temos à nossa disposição.

2. A resposta de Jesus - "E Jesus lhe respondeu, dizendo: Escrito está que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra de Deus” (Lc 4:4).

Mais importante que a satisfação do apetite físico é a obediência à Palavra de Deus.  Alguém disse que “o segredo total de força no conflito é o uso da palavra de Deus da maneira certa”.

Jesus usou um meio que nós também podemos empregar para superar a tentação: a Palavra de Deus. A passagem que ele citou foi a mais adequada naquela situação. No contexto, os israelitas tinham aprendido durante seus 40 anos no deserto que eles deveriam esperar e confiar no Senhor para conseguir alimento, e não tentar conceber seus próprios esquemas para se sustentarem.

3. Lições práticas:

a) O diabo ataca as nossas fraquezas. Ele não se acanha em provar nossas áreas mais vulneráveis. Depois de jejuar 40 dias, Jesus estava faminto. Daí, a tentação de fazer alimento de uma maneira não autorizada. Satanás escolhe justamente aquela tentação à qual somos mais vulneráveis no momento. De fato, as tentações são frequentemente ligadas a sofrimento ou desejos físicos.

b) Precisamos confiar em Deus. Depois de 40 dias de jejum total, indubitavelmente, Jesus precisava de alimento. Ele encontrava-se debilitado fisicamente. Todo o seu organismo exigia ser saciado de pão e água. Porém, mais do que isso, precisava fazer a vontade do Pai. É sempre certo fazer o certo e sempre errado fazer o errado. Deus proverá o que ele achar melhor; meu dever é obedecer-lhe. É melhor morrer de fome do que desagradar ao Senhor.

III. A TENTAÇÃO DE SER CELEBRADO

1. O príncipe deste mundo. “E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe, num momento de tempo, todos os reinos do mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu” (Lc 4:5-7).

Não levou muito tempo para Satanás mostrar tudo o que ele tem para oferecer. Não foi o mundo em si, mas os reinos deste mundo que ele ofereceu. Por causa do pecado do homem, Satanás se tornou “o príncipe” deste mundo (João 12:31; 14:30; 16:11), “o deus deste século” (2Co 4:4) e “o príncipe da potestade do ar” (Ef 2:2). Deus propôs que “o reino do mundo” um dia se tornará do “nosso Senhor e do seu Cristo” (Ap 11:15). Deus Pai prometeu o reinado ao Filho depois de seu sofrimento (Hb 2:8,9). Assim, Satanás estava oferecendo a Cristo o que certamente seria dele. O Diabo ofereceu um atalho: a coroa sem a cruz. Mas não poderia ter qualquer atalho ao trono. A cruz precisava vir primeiro. Nos conselhos de Deus, o Senhor Jesus tinha de sofrer antes que pudesse entrar na gloria. Ele não poderia conseguir um fim legítimo por um meio errado. Em nenhuma circunstância ele adoraria o Diabo fosse qual fosse o prêmio.

2. A resposta de Jesus - "E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele servirás” (Lc 4:8). Aqui, o Senhor cita Deuteronômio 6:13 para mostrar que, como homem, ele deveria adorar e servir somente a Deus.

Como bem disse o pr. José Gonçalves, “o Diabo sabe que o desejo de ser celebrado, de ser chamado ‘senhor’, é algo que fascina os homens. Satanás sabia que derrubaria Adão se o convencesse de que ele poderia se tornar poderoso ao adquirir conhecimento. Adão acreditou que até mesmo poderia ser como Deus (Gn 3:5)”. Adão acreditou na tese do Diabo e caiu. “O Diabo por certo acreditava que o mesmo aconteceria com Jesus, o Filho do Homem. Mas Jesus não se dobrou diante de Satanás. Por certo muitos estão exercitando poder e domino neste mundo, mas provavelmente também estão se curvando diante de Satanás”, afirma Jose Gonçalves.

3. Lições práticas:

a) Satanás paga o que for necessário. O diabo ofereceu tudo para "comprar" Jesus. Se houver um preço pelo qual você desobedecerá a Deus, pode esperar que o diabo virá pagá-lo. Mas, a Palavra de Deus exorta: “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?” (Mt 16:26).

b) O diabo oferece atalhos. Ele oferece o mais fácil, o mais decisivo caminho ao poder e à vitória. Jesus recusou o atalho. Ele ganharia os reinos pelo modo que o Pai tinha determinado. Hoje Satanás tenta as igrejas a usar atalhos para ganhar poder e converter pessoas. O caminho de Deus é converter ensinando o evangelho (Rm 1:16). Exatamente como ele tentou Jesus para corromper sua missão e ganhar poder através de meios carnais, assim ele tenta nestes últimos dias da Igreja.

IV. A TENTAÇÃO DE SER NOTADO

1. A artimanha do inimigo. A terceira tentação de Jesus está localizada em Jerusalém. Jesus é convidado a lançar-se do pináculo do templo – “Levou-o também a Jerusalém, e pô-lo sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo porque está escrito: Mandará aos seus anjos, acerca de ti, que te guardem e que te sustenham nas mãos, para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra” (Lc 4:9-11).

Jesus tinha replicado à tentação anterior dizendo que confiava em cada palavra do Senhor. Aqui Satanás está dizendo: "Bem, se confia tanto em Deus, então experimenta-o. Verifica o sistema e vê se ele realmente cuidará de ti". E ele confirmou a tentação com um trecho das Escrituras, o Salmo 91:11,12, para assegurar Jesus que Ele ficaria bastante seguro. Satanás, porém, empregou erroneamente a Bíblia. Ele torceu um texto para servir um propósito. Talvez Satanás estivesse tentando Jesus a apresentar-se como Messias ao fazer uma sensacional acrobacia. Malaquias predisse que o Messias viria de repente ao seu templo (Ml 3:1). Aqui, então, chegou a oportunidade para Jesus obter fama e notoriedade como o Libertador prometido sem ir ao Calvário. Jesus, porém, rejeita esta tentação, conforme fizera com as outras duas, ao apelar para o significado verdadeiro da Bíblia – “E Jesus, respondendo, disse-lhe: Dito está: Não tentarás ao Senhor, teu Deus” (Dt 6:16). Não cabe ao homem submeter Deus ao teste, nem sequer quando o homem é o próprio Filho de Deus encarnado.

2. Lições práticas:

a) O diabo cita a Escritura; ele põe como isca no seu anzol os versículos da Bíblia. Há muitas pessoas que frequentemente aceitam qualquer ensinamento bíblico fora do contexto. Mas cuidado! O mesmo diabo que pode disfarçar-se como um anjo celestial (2Co 11:13-15) pode, certamente, deturpar as Escrituras para seus próprios propósitos. O diabo fez três enganos:

- Primeiro, não utilizou todas as Escrituras. Jesus replicou com: "Também está escrito". A verdade é a soma de tudo o que Deus diz; por isso precisamos estudar todos os ensinamentos das Escrituras a respeito de um determinado assunto para conhecer verdadeiramente a vontade de Deus.

- Segundo, ele tomou a passagem fora do contexto. O Salmo 91, no contexto, conforta o homem que confia e depende do Senhor; ao homem que sente necessidade de testar o Senhor nada é prometido aqui.

- Terceiro, Satanás usou uma passagem figurada literalmente. No contexto, o ponto não era uma proteção física, mas uma proteção espiritual.

b) Satanás é versátil. Jesus venceu em uma área, então o diabo se mudou para outra. Temos que estar sempre em guarda – “Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1Pedro 5:8).

V. ELEMENTOS IMPORTANTES PARA VENCERMOS A TENTAÇÃO

a) Vigiar e orar. A advertência é do próprio Cristo: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mt 26:41).

A parte que se refere à vigilância é negligenciada por uma porcentagem elevada do povo de Deus.  O estar atento, nos resguarda de cairmos nas ciladas do maligno.

O apóstolo Paulo recomenda em 1Tessalonicences 5:17: "Orai sem cessar." Isso significa ter a mente ligada a Deus 24 horas. Consultá-lo sempre que precisar tomar uma decisão ou resolver alguma questão. Ter uma atitude de oração é perguntar a Deus o que Ele quer nos ensinar com tal circunstância; tentar imaginar o que Jesus diria a nós em determinada situação e pedir sempre a Deus que Ele seja a nossa força.

b) Não dar ouvidos a quem duvida da Palavra de Deus. Gênesis 3:1: "Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?".

A cena relata o encontro da serpente (Satanás) com Eva. O que interessa aqui, propriamente, não é o diálogo, mas a razão pela qual Eva estava dando ouvidos àquela serpente. Creio que talvez possa ter surgido uma dúvida no coração dela quanto ao que Deus havia ordenado. Talvez tenha duvidado da palavra de Deus. Talvez estivesse curiosa para saber se haveria algo por trás da ordem que Ele lhes dera. Eva abriu espaço para que houvesse uma conversa, mesmo após a serpente ter colocado em dúvida a ordem divina.

c) Esquecer o passado. Filipenses 3:13,14: "Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim. Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus".

Paulo nos aconselha a esquecer o passado. Creio realmente que essa seja uma poderosa arma, pois se olharmos para trás, veremos o inimigo de Deus com dedo acusador pronto para nos fazer cair novamente. Esqueça o passado, aprenda com os erros, apegue-se às promessas de Deus e siga em frente, confiante que Ele será sua força contra qualquer tentação que atravessar seu caminho.

Satanás quer que nos desviemos do nosso alvo, que é a vida eterna ao lado de Jesus. Portanto, é extremamente importante que a nossa vida e comportamento esteja focada nas verdades bíblicas. Depositemos nas mãos de Deus todas as nossas esperanças. Se nós olharmos para trás, veremos Satanás nos acusando dos erros do passado e fazendo de tudo para nós cairmos novamente; mas, se olharmos para frente, veremos o Filho de Deus de braços abertos, pronto para nos receber como estamos.

d) Alimentar a mente com coisas boas. Filipenses 4:8: "Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”.

A lição que podemos tirar aqui é em relação ao conteúdo com que temos preenchido nossa mente. Com quem estamos conversando? A quem você tem dado ouvidos? Que músicas você tem escutado? Que tipo de literatura tem tomado seu tempo? O que seus olhos têm assistido? Do que e com que você está alimentando sua mente? Essas são perguntas que você deve refletir em seu íntimo.

CONCLUSÃO

As três tentações de Jesus giram em torno de três das mais fortes atividades da existência humana: apetite físico, desejo de adquirir poder e possessões e vontade de ter reconhecimento público. Quantas vezes os crentes são tentados a escolher um caminho de conforto e tranquilidade, procurar um lugar proeminente no mundo e ganhar elencada posição na Igreja!

Nesta batalha entre os dois leões (1Pedro 5:8; Ap 5:5), Jesus foi vitorioso. E ele fez isso do mesmo modo que nós temos que fazer: confiou em Deus (1João 5:4; Ef 6:16); usou as Escrituras (1João 2:14; Cl 3:16); resistiu ao diabo (Tg 4:7; 1Pedro 5:9). O ponto crucial é este: Jesus nunca fez o que ele sabia que não era certo. Que Deus nos ajude a seguir seus passos (1Pedro 2:21).

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Luciano de Paula Lourenço - Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 62. CPAD.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD

Lucas (Introdução e Comentário). Leon L. Morris. VIDA NOVA.

Comentário Lucas – à Luz do Novo Testamento Grego. A.T. ROBERTSON. CPAD

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

John Vernon McGee. Através da Bíblia – Lucas. RTM.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Aula 03 – A INFÂNCIA DE JESUS


2ºTrimestre_2015

 
Texto Base: Lucas 2:46-49; 3:21,22

19/04/2015

 

 “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc 2:52).

 

INTRODUÇÃO

Uma das maiores prova de que Jesus Se humanizou é a Sua infância e adolescência, que, apesar de pouco mencionadas nas Escrituras, mostram-nos claramente que Jesus Se fez homem, semelhante a qualquer um de nós. A Bíblia pouco diz sobre a infância de Jesus, que vai de zero aos doze anos de idade, mas é o suficiente para mostrar que Jesus teve uma infância como qualquer ser humano. Fora da Bíblia, nada é confiável quando se fala sobre essa fase de vida de Jesus, haja vista que sua vida transcorreu normalmente como qualquer ser humano de vida simples e sem notoriedade. Os fatos que demonstraram a sua natureza divina, Maria guardava-os em seu coração (Lc 2:19).

I. FASES DA INFÂNCIA DE JESUS

Jesus, ao se humanizar, submeteu-se a todas as fases do desenvolvimento humano. Ao contrário de Adão, que não teve infância, que já foi criado adulto, Jesus, segundo a promessa de Deus, deveria ser “nascido de mulher” e, portanto, haveria de passar por todas as fases de desenvolvimento humano que os descendentes de Eva, “mãe de todos os viventes”, se submeteriam, entre os quais a própria concepção (Gn.3:16).

1. Jesus, o Menino Deus-Homem. Na descrição bíblica do nascimento de Jesus, vemos estampadas sua divindade e humanidade. Jesus nasceu como qualquer outro ser humano. Sua mãe deu à luz a ele em uma estrebaria, pois o casal não havia encontrado lugar nas estalagens de Belém, que se encontrava lotada por causa do recenseamento, tendo, após o nascimento, envolto o menino em panos e o posto em uma manjedoura (Lc 2:7). Estas circunstâncias mostram-nos claramente que Jesus nasceu como um pequenino bebê, que carecia de calor dos panos e do estrito cuidado e carinho da sua mãe. Era um bebê como qualquer outro, um ser humano.

Conquanto fosse um ser humano a sua deidade não pudera ser dEle retirada, e, por isso, anjos vieram louvar seu nascimento. Este bebê não deixou de ser Deus, mas se despira de toda a sua glória, para nascer de mulher, para nascer sob a lei (Gl 4:4). Daí deve-se refutar toda narrativa fantasiosa que apresente um Jesus que nasceu e, de forma miraculosa, já se apresentou, ainda recém-nascido, como um “super-homem”, como um “ser especial”.

Precisamos ter cuidado com os falaciosos evangelhos da infância” ou “evangelhos da natividade”, escritos não inspirados que surgiram ao longo dos primeiros séculos da igreja cristã, os quais tendemaumentar” o caráter miraculoso do nascimento de Jesus, “acrescentando” dados fantasiosos e sobrenaturais a este episódio; algo, aliás, que costumamos ver, lamentavelmente, em “testemunhos” contados por alguns em nossos púlpitos.

Estes escritos são puras invencionices, fruto da imaginação de pessoas que não tinham e nem tem qualquer compromisso com a verdade. Não passam de fábulas artificialmente compostas (2Pedro 1:16), que querem causar “impacto” nos leitores e ouvintes, como se isso fosse necessário para gerar temor e tremor diante de Deus ou para assegurar a dupla natureza de Jesus e seu caráter singular diante de todos os homens. São mentiras que foram rechaçadas pelos cristãos do tempo em que foram divulgadas e espalhadas e que, hoje, por força da operação do erro, do espírito do anticristo, renascem das tumbas para onde haviam sido lançadas pelos crentes primitivos, a fim de fazer com que os que rejeitam o Evangelho sejam cada vez mais enganados e iludidos (2Ts 2:7-12).

Assim, por exemplo, o chamado “protoevangelho de Tiago” ou “livro de Santiago” diz que Jesus nasceu em uma gruta, depois de uma luminosidade intensa, ocasião em que teria, de imediato, se pegado ao peito de sua mãe, que, aliás, teria se mantido virgem. Bem se vê que é neste escrito que se construiu a tese do “nascimento virginal de Cristo”, ou seja, de que Maria se manteve virgem mesmo tendo dado à luz a Jesus, o que é totalmente contrário ao que nos ensinam as Escrituras que não só não diz que Maria tenha se mantido virgem (Mt 1:25), como que Maria teve outros filhos além de Jesus. Como se não bastasse, este livro conta que Jesus teria curado, ainda na gruta, uma mulher que não havia crido que Maria tivesse se mantido virgem, o que é um perfeito absurdo, pois, então, Jesus teria usado da sua divindade, logo no limiar da sua existência, contrariando, deste modo, toda a “kenosis (*), absolutamente necessária para nos abrir a porta da graça.

O chamado “evangelho árabe da infância”, também, diz que, ainda no berço (que berço?), Jesus teria dito a Maria: “Eu sou Jesus, o filho de Deus, o Verbo, a quem tu deste à luz de acordo com o anunciado pelo anjo Gabriel. Meu Pai me enviou para a salvação do mundo”. Teria, também, ainda dentro da “gruta”, curado uma mulher de paralisia. Tal narrativa fantasiosa deve ter sido a fonte de inspiração de Maomé no Alcorão, onde Jesus, também, é apresentado como tendo falado logo após seu nascimento, dando conta de que era “Profeta de Alá”.

Todos estes relatos são absurdos, porque jamais Jesus deixaria a sua condição de homem e assumiria a de Deus, negando, assim, toda a sua obra. Muito pelo contrário, a Bíblia nos revela que Jesus cumpriu toda a obra que o Pai lhe havia dado a fazer (João 17:4).

2. A circuncisão de Jesus (Lc.2:21-24). De acordo com as prescrições da lei, a circuncisão de Jesus ocorreu no oitavo dia após o nascimento. A circuncisão de Jesus é o primeiro ato que demonstra que Jesus nasceu sob a lei (Gl 4:4), que deveria cumprir integralmente a lei de Moisés (Mt 5:17). A circuncisão simboliza a separação dos judeus dos gentios e seu relacionamento singular com Deus.  Obedecendo as instruções do anjo, José e Maria deram ao menino o nome de Jesus, que significa “o Senhor é Salvação” ou “Jeová é o Salvador”.

É interessante observar que a narrativa de Lucas mostra um menino Jesus totalmente indefeso, dependente, como toda criança recém-nascida. Em toda a narrativa, Jesus não pratica qualquer ação, é sempre o objeto das ações dos outros homens: foi envolto em panos, deitado na manjedoura, visto pelos pastores, foi circuncidado e dado a ele o nome. Isto é uma demonstração de que Jesus, assim como qualquer outro recém-nascido, como qualquer outro neonato, dependia inteiramente de seus pais.

3. O Menino Jesus é apresentado no Templo para resgate da Primogenitura, conforme a Lei (Lc 2:22-24). Depois dos dias de purificação, ainda de acordo com a lei, Jesus foi apresentado no Templo. O filho Primogênito era apresentado a Deus um mês após o nascimento. A cerimônia incluía o resgate da criança para Deus por meio de uma oferta. Deste modo, os pais reconheciam que o filho pertencia a Deus, o único com poder de dar a vida.

A apresentação do menino Jesus segue-se do fato de que todo primogênito [lit. “que abre a madre”] (isto é, o filho primogênito da mãe, não necessariamente do pai) ao Senhor será consagrado (a citação de Lucas não é literal, mas dá o sentido de várias passagens: Êx 13:12,15; Nm 18:15,16). Embora Lucas não mencione o fato, sem dúvida os cinco siclos usuais foram pagos para redimir o primogênito (Nm 18:16).

4. O Menino Jesus foi levado ao templo com seus pais, a fim de que se fizesse o sacrifício relacionado à purificação de sua mãe (Lc 2:22). Segundo Leon L. Morris, “a presença da criança não era necessária, mas era natural quando os pais estavam suficientemente perto de Jerusalém”. A lei levítica estipulava que, depois do nascimento de um filho, uma mulher ficaria impura durante os sete dias até a circuncisão do menino, e que, por mais trinta e três dias, devia manter-se afastada de todas as coisas sagradas (para uma filha, o tempo era dobrado – Lv 12:1-5). Na ocasião, devia sacrificar um cordeiro e um pombo (macho ou fêmea, Lv 12:6-8) como oferta pelos pecados. O sacerdote sacrificava estes animais e declarava a mulher purificada. Se um cordeiro fosse muito caro para a família, os pais poderiam ofertar dois pombos (macho ou fêmea). Isto foi o que Maria e José fizeram (Lc 2:24), numa demonstração de que José e Maria eram pobres.

Tem-se aqui outra prova de que o parto de Jesus foi normal, porque só nestes casos é que havia a necessidade do sacrifício da purificação que, pela tradição judaica, é dispensado em outros casos, como o da cesariana, como se encontra no Talmude.

Vemos, portanto, que Jesus nascia em uma família humilde, pobre, de modo que a pobreza de que nos fala o apóstolo em relação à pessoa de Jesus (2Co 8:9), não envolve apenas a questão da “kenosis”, mas também abrange a própria condição econômico-financeira da “sagrada família”. Ao contrário do que apregoam os “teólogos da prosperidade”, Jesus não nasceu rico, mas, sim, bem humilde, tanto que seus pais ofereceram o mínimo previsto na lei para a purificação de Maria.

5. O Menino Jesus, ao entrar pela primeira vez no Templo, é identificado pelo Espírito Santo como o Messias (Lc 2:26,27). Quando o menino Jesus entrava, pela primeira vez, no Templo de Jerusalém, eram apresentadas tanto a sua humanidade quanto a sua deidade. Ao entrar no Templo, o Espírito Santo usou Simeão para apresentar aquela criança como sendo o Messias, o Salvador do mundo, o Verbo que se fez carne. Simeão louvou a Deus cantando (Lc 2:25-35). Esse cântico muito conhecido é chamado em latim de Nunc dimittis, que significa “agora despede”.

Ao mesmo tempo em que Simeão tomava o menino nos seus braços, indicando tratar-se de uma criança recém-nascida, era chamado pelo sacerdote de “a Tua salvação preparada”, “luz para alumiar as nações e para glória de Teu povo Israel” (Lc 2:30-32). Enquanto dizia já poder morrer em paz, porque já vira a salvação de Deus para o seu povo, também abençoava o menino e o casal, a indicar, pois, como Jesus é homem e é Deus simultaneamente. Como Messias, traria elevação e queda de muitos em Israel; como homem, provocaria grande tristeza em Sua mãe quando de Sua morte (Lc 2:35).

Mas não foi apenas Simeão que viu aquele pequenino como o Salvador do mundo, uma visão que corresponde à dos pastores de Belém, mas também Jesus foi revelado como o Messias à profetisa Ana, da tribo de Aser, a demonstrar que Jesus estava vindo para toda a nação de Israel, para todos, homens e mulheres. Àquela viúva, idosa, mas que não se afastava do templo, o Espírito Santo também revelou quem era aquela criança e, assim como os pastores, Ana não pôde se calar e a todos divulgava a boa-nova, o Evangelho (Lc 2:36-38), o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1:16).

Estes episódios narrados por Lucas mostram-nos com grande clareza que Jesus, na aparência, era uma criança como qualquer outra, sem nada que O pudesse distinguir dos demais e que apenas pelo Espírito Santo poderia ser identificado como o Messias, identificações que foram feitas com o propósito de nos fazer compreender que, embora humanizado, Jesus jamais perdeu a sua deidade.

6. Cumpridos os ritos da lei, José e Maria passaram a residir em Belém de Judá (Mt  2:16). Mateus 2:11 registra o casal e o menino em uma casa, quando foram visitados pelos magos do Oriente, em Belém (Mt 2:16). Isto nos permite observar, pois, que as famosas cenas dos presépios, onde vemos a “sagrada família” recebendo a visita dos magos ainda na estrebaria não corresponde à realidade do texto bíblico. O presépio, aliás, foi uma criação de Francisco de Assis que, no século XIII, quis retratar o nascimento de Jesus de forma a realçar a sua pobreza, um de seus principais lemas que o levou a fundar a ordem religiosa dos franciscanos. Assim, acabou adotando a gruta dos escritos apócrifos e incluindo os magos, o que, porém, não tem respaldo das Escrituras.

7. O Menino Jesus é visitado pelos magos do Oriente (Mt 2:11). Tendo os magos visto a “estrela” no dia do nascimento de Jesus e até interpretarem o que isto significava e, por fim, resolvido viajar até Jerusalém para adorarem o “rei dos judeus”, decorreu um bom período, período este que é inferior a dois anos, diante da deliberação de Herodes de matar a todas as crianças de dois anos para baixo que haviam nascido em Belém.

Os magos foram procurar o “rei dos judeus” em Jerusalém (Mt 2:1,2), mas acabaram encontrando o menino em Belém, em uma casa, prova de que o casal se instalara naquela cidade, pelo menos neste período de menos de dois anos após o nascimento de Jesus. Nada havia de especial no menino, como se pode perceber, tanto que preciso foi que a “estrela” os guiasse, depois que sua sabedoria humana os conduzira, equivocadamente, a Jerusalém.

8. O Menino Jesus recebe presentes (Mt 2:11) – “...e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro incenso e mirra”.

Ao encontrarem o Menino, os magos O adoraram, apesar de ser um simples menino, tendo, ainda, trazido ofertas para a criança, de ouro, incenso e mirra, dádivas que simbolizavam o tríplice ministério de Jesus: de rei (ouro), sacerdote (incenso) e profeta (mirra), vez que o ouro representa a realeza, o incenso, que era usado pelos sacerdotes como parte acompanhante dos sacrifícios e, por fim, a mirra, resina de planta do mesmo nome de aroma agradável e gosto amargo, com propriedades adstringentes (isto é, que provocam constrição, compressão, em termos figurados, arrependimento) e antissépticas (isto é, que impedem a contaminação, que cura, que mata os germens, em termos figurados, o pecado), características que acompanham sempre aquele que é porta-voz do Senhor.

9. A fuga do Menino Jesus para o Egito (Mt 2:13-15). Ante a revelação divina aos magos para que não dissessem a Herodes onde estava o menino, antes que houvesse a matança dos inocentes em Belém, José e Maria foram avisados para descerem ao Egito, o que lhes foi possível porque, com as dádivas recebidas pelos magos, tinham condições para se estabelecer naquela terra estranha, onde, afinal de contas, havia uma grande colônia judaica. A Bíblia não nos diz onde Jesus esteve no Egito, mas os cristãos coptas (como são conhecidos os cristãos do Egito, Etiópia e Eritréia, países do Norte da África), não sem muitas superstições, mantêm locais considerados como tendo sido visitados e habitados pela “sagrada família”, que, hoje, faz parte da chamada “Rota Sagrada”, um dos itinerários turísticos oficiais do governo do Egito.

10. O Menino Jesus retorna do Egito (Mt 2:21). Jesus esteve no Egito até a morte de Herodes, quando José e Maria, novamente por revelação divina, deixaram o Egito e foram morar em Nazaré, já que José temeu retornar a Judéia, vez que ali reinava Arquelau, filho de Herodes (Mt 2:22), enquanto que, na Galileia, onde ficava Nazaré, o governante era Herodes Antipas, o mesmo que foi, certa feita, chamado de “raposa” por Jesus (Lc 13:32), que, apesar de também ser filho de Herodes, era pessoa de menor crueldade e menos apegado aos valores judaicos.

A situação simples em que vivia a “sagrada família” obrigou-a voltar a morar em Nazaré, local completamente ignorado, mesmo na Galileia, alvo de todo tipo de preconceito (João 1:46). Quão diferente é a Bíblia das fantasias trazidas pelos “teólogos da prosperidade”.

Nazaré era localidade que nem sequer foi objeto de menção no Antigo Testamento, nem mesmo quando houve a divisão da terra, também não tendo sido mencionada nenhuma vez por Flávio Josefo, apesar de ele ter sido governador da Galileia. Vemos, assim, que, tanto antes, quanto depois da passagem de Jesus por este mundo, Nazaré foi sempre aviltada e desprezada enquanto lugar. Por causa disto, alguns estudiosos chegam a pensar que Nazaré seria uma aglomeração urbana irregular, uma espécie de ajuntamento de pessoas desqualificadas ou marginalizadas na sociedade, algo como os “favelões” das metrópoles atuais. Foi nesta localidade obscura que José e Maria foram habitar, levando consigo Jesus e os filhos que já haviam nascido do casal.

11. Na Pré-Adolescência, Jesus fora levado ao Templo a fim de assumir a sua responsabilidade perante a Lei (Lc 2:41-49). Era a festa da Páscoa, a primeira das 21 Páscoas em que Jesus cumpriria seu dever de se apresentar perante o Senhor no templo.

O fato de Lucas registrar a ida de Jesus ao Templo em Jerusalém, aos 12 anos, demonstra a seriedade dos pais em seguir os costumes da religião judaica. Antes de completar 13 anos, todo menino judeu devia ir a Jerusalém para receber oficialmente o título de “filho da lei”, significando que se tornara um menino adulto da comunidade religiosa de Israel.

Na condição de "filho da lei", Ele foi encontrado por seus pais depois que voltaram a Jerusalém para procurá-lo. Nessa condição, Jesus pôde assentar-se com os mestres da lei, ouvindo-os e interrogando-os. Destacam-se também a inteligência de Jesus ao responder as indagações dos mestres da lei, o que provocava admiração em todos os presentes, e a resposta que Jesus deu a Maria, sua mãe, diante da preocupação demonstrada por não o terem encontrado durante a viagem. Jesus contrastou de uma maneira bem interessante a expressão "teu pai" (Lc 2:48), que Maria usou referindo-se a José, com a que Ele usou para referir-se a Deus, "meu Pai" (2:49). Ao ser repreendido pelos seus pais, que O encontram três dias depois no templo, o adolescente Jesus mostra ter esta consciência quando diz a Maria: “… Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?” (Lc 2:49). Não era, porém, o momento para iniciar esta obra, o que se daria apenas quando tivesse trinta anos de idade, ou seja, dezoito anos depois.

Em Lucas 2:48-50 fica patente que Jesus, mesmo tendo apenas 12 anos, tinha consciência da sua relação especial com Deus, o seu verdadeiro Pai, o Pai celeste, embora esse fato não fosse claramente entendido por Maria e José.

12.  A submissão do Menino Jesus aos seus pais terrenos (Lc 2:51,52). Após esta demonstração de plenitude de consciência de sua condição de Filho de Deus, que faz o adolescente Jesus? Desce com seus pais para Nazaré, onde permanece sujeito a eles (Lc 2:51), ou seja, obediente e reverente a seus pais, como todo adolescente de seu tempo, como mandava a lei de Moisés, perante a qual assumira a responsabilidade quando fora a Jerusalém. Em Lucas 2:51 encontramos a última referência a José no Novo Testamento. Nas bodas de Caná da Galileia, ele não estava presente (João 2). Talvez já houvesse falecido.

A sujeição de Jesus a seus pais terrenos foi uma característica predominante em sua infância e, na vida adulta, obedeceu aos pais em tudo. Isto serve de exemplo para as crianças nessa faixa etária. Em nossos dias, muitas crianças crescem em lares onde a obediência não foi nem ensinada nem cobrada, gerando uma rebeldia que se estende até a vida adulta.

A obediência dos filhos é tão importante que é um pré-requisito para que uma pessoa possa ser ordenada ao santo ministério: “que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?”(1Tm 3:4,5).

Da infância até a crucificação, Jesus foi submisso ao Pai Eterno e aos seus pais mortais, deixando-nos um memorável exemplo, a fim de que cuidemos de nosso pai e mãe e a eles sejamos obedientes em tudo. Se o próprio Filho de Deus foi sujeito aos seus pais humanos, porque nós, algumas vezes, os desobedecemos? "Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo" (Ef 6:1).

A partir daí, a Bíblia quase nada mais nos revela a respeito da adolescência de Jesus. Sabemos, apenas, por inferência, que, durante esses anos, Jesus exerceu o mesmo ofício de seu pai, ou seja, o de carpinteiro, em Nazaré, pois é chamado de carpinteiro e filho do carpinteiro pelos nazaritas, quando lá retorna, já quando iniciado o seu ministério público (Mt 13:55; Mc 6:3). Vemos, portanto, que, na adolescência, Jesus aprendeu o ofício de seu pai e o exerceu, em mais uma demonstração de que a “sagrada família” vivia a “porção acostumada de Agur” (Pv 30:8), dependendo do trabalho para a sua sobrevivência.

II. O CRESCIMENTO DE JESUS

Em toda a sua humanidade, Jesus era um “menino”, que “crescia”. Estava submetido ao processo de desenvolvimento como todo indivíduo, porque realmente se fez carne e, em virtude disto, necessitava crescer tanto física quanto psíquica e espiritualmente. Crescia em sabedoria, conforme a graça de Deus. Era perfeito quanto à natureza humana, prosseguindo para a maturidade, segundo a vontade de Deus, plenamente consciente de que Deus era seu Pai (Lc 2:49).

1. Jesus cresceu fisicamente. “E o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lc 2:40). Jesus passou pelas mesmas fases de desenvolvimento físico, aprendendo a andar, falar, brincar e trabalhar. Por causa disso ele pode identificar-se conosco em cada fase do nosso crescimento.

2. Jesus cresceu socialmente. “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc 2:52). Aqui vemos a verdadeira humanidade e o crescimento normal do Senhor Jesus: (a) Crescimento mental: crescia Jesus em sabedoria; (b) Crescimento físico: estatura; (c) Crescimento espiritual: e graça, diante de Deus; (d) Crescimento social: e dos homens. Jesus era perfeito em todo aspecto do seu crescimento.

A narrativa de Lucas passa silenciosamente por cima dos dezoito anos que o Senhor Jesus passou em Nazaré como Filho de um carpinteiro. Esses anos nos ensinam a importância de preparação e treinamento, a necessidade de paciência e o valor do trabalho diário. Eles advertem contra a tentação de pular do nascimento espiritual ao ministério público. Espiritualmente falando, os que não têm infância e adolescência normal atraem desastre na sua vida e no seu testemunho posteriores.

3. Jesus cresceu psicologicamente.  E crescia Jesus em sabedoria...” (Lc 2:52). Aqui, Lucas informa que Jesus crescia em sabedoria. Segundo o pr. José Gonçalves, “crescer em sabedoria é crescer em conhecimento. É desenvolver-se intelectual e mentalmente”. Jesus não apenas aprendeu o ABC, assimilou os conhecimentos da vivência humana do dia a dia, os números e todo o conhecimento geral daqueles dias, mas cresceu em sabedoria, isto é, na aplicação prática desse conhecimento aos problemas da vida. Ele “encheu-se de sabedoria” (Lc 2:40).

4. Jesus cresceu espiritualmente.  “… crescia, e se fortalecia em espírito...” (Lc 2:39). Jesus passara a infância crescendo e se fortalecendo em espírito, enchendo-se de sabedoria, tendo sobre si a graça de Deus. A graça de Deus estava sobre ele. Jesus andava em comunhão com Deus e na dependência do Espírito Santo. Ele estudava a Bíblia, passava tempo em oração e se alegrava em fazer a vontade do Pai.

Seu crescimento e fortalecimento, diz-nos o texto bíblico, era “em espírito”. O crescimento de Jesus se dava na comunhão com o Senhor. O espírito faz a ligação entre Deus e o homem, e Jesus crescia, enquanto homem, neste quesito, até, quando se tornou responsável diretamente diante de Deus, segundo a lei, a iniciar a tratar dos negócios de seu Pai (Lc 2:49).

O fato de a Bíblia dizer que o menino crescia e se fortalecia, é a prova de que a plenitude do Espírito Santo não estava ainda sobre o menino ou o adolescente Jesus. Tinha Ele tido a consciência do bem e do mal, escolhendo o bem, o que proporcionou o início do seu progresso espiritual, mas, de modo algum, pode-se admitir um Jesus milagreiro, como o apresentado pelos “evangelhos da infância”. Nem no Egito, nem em Nazaré, Jesus fez qualquer milagre, pois ainda não era chegada a hora.

Se Jesus, sendo Deus, enquanto homem necessitava crescer e se fortalecer em espírito, que diremos de nós? Não se pode exigir de um ser humano que atinja de imediato a plenitude espiritual. Muito pelo contrário, a Bíblia é repleta de textos que nos indicam a necessidade de crescermos na graça e no conhecimento de Jesus (2Pedro 3:18), de nos aperfeiçoarmos continuadamente (Ef.4:11-14).

5.  O Menino Jesus crescia em “graça para com Deus e os homens” (Lc 2:52). Além de ser “cheio de sabedoria”, o menino Jesus tinha a “graça de Deus sobre Ele”. Enquanto Deus, o Verbo era cheio de graça e de verdade. Enquanto homem, Jesus precisava que a “graça de Deus” estivesse sobre Ele.

Se Jesus, sem pecado, tendo optado pelo bem e rejeitado o mal, necessitava que a graça de Deus estivesse sobre Ele, que diremos de nós? Nunca devemos nos esquecer de que a graça de Deus está sobre nós e que, por isso, podemos chegar à glorificação, por este motivo temos a vida eterna. É tudo pela graça, que se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens (Tt 2:11), graça esta que nos ensina a abandonar o mundo, a rejeitar o mal, assim como fez o menino Jesus assim que adquiriu consciência (Tt 2:12).

CONCLUSÃO

O limitado relato bíblico que temos a respeito da infância de Jesus é plenamente suficiente para a compreensão da sua vida. Ele é o modelo de criança que devemos ter em nossos lares, em nossas igrejas locais, em nossa sociedade. As crianças devem ser educadas a crescer, a se fortalecer em espírito, a se encherem de sabedoria, a terem sobre si a graça de Deus. Ao adquirirem a consciência, perdendo a inocência, devem ser ensinadas a rejeitar o mal, devem ser estimuladas e incentivadas a seguir o bem, a terem comunhão com Deus. Para tanto, precisam ser apresentadas a Jesus, o autor e consumador de nossa fé, para que, nEle e com Ele, venham a crescer, fortalecer-se em espírito, encher-se de sabedoria e ter a graça de Deus sobre si. Temos levado este ensino, esta instrução às nossas crianças?

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Luciano de Paula Lourenço - Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 62. CPAD.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD

Lucas (Introdução e Comentário). Leon L. Morris. VIDA NOVA.

Comentário Lucas – à Luz do Novo Testamento Grego. A.T. ROBERTSON. CPAD

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

 Leon L. Morris. Lucas (Introdução e comentário). pg. 34.

John Vernon McGee. Através da Bíblia – Lucas. RTM.

(*)Kenosis é um conceito na teologia cristã que trata do esvaziamento da vontade própria de uma pessoa e a aceitação do desejo divino de Deus. É encontrado no novo testamento como o esvaziamento de Jesus (Wikipédia).