segunda-feira, 30 de julho de 2012

Aula 06 – A DESPENSA VAZIA


Texto Básico: 2Reis 4:1-7


“Fui moço e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão” (Sl 37:25)



INTRODUÇÃO

A falta de bens básicos e necessários para a sobrevivência no cotidiano é, sem dúvida alguma, um do mais penosos problemas com o qual o ser humano pode se deparar. É decepcionante ver um genitor sem condições de trazer provisões para o seu lar. É desconcertante saber que o fruto de nosso trabalho não é capaz de suprir as nossas necessidades básicas. São situações de um mundo real, e que poderá ocorrer com qualquer pessoa, seja ela cristã ou não. Muitos são os fatores que podem levar uma família a passar escassez: a morte do provedor ou o descaso deste para com os seus dependentes; desemprego, doenças, etc. É bom saber que estes fatores podem acontecer tanto para os que amam e temem ao Senhor quanto para os que não o temem.
É preciso ter equilíbrio e prudência nos momentos de escassez. Temos que avaliar as causas disso. Se Deus está nos provando, não murmure. Muitas vezes somos instados a crer na soberania e na provisão de Deus, ainda que o mundo demonstre o contrário. Se estivermos sob a sua Palavra, não seremos envergonhados. Temos duas escolhas: crer na Palavra de Deus e nos aplicarmos, com fé, aos desafios por ela apresentados, experimentando a vitória, ou desconfiarmos e experimentar a derrota e a vergonha.
Muitas vezes a escassez advém de desequilíbrio na família, no tocante ao consumismo. O mal de muitos é não saber distribuir, é não ter método no gastar. Se tem muito, gastam tudo; quando não tem bastante, tomam emprestado. Por isso a vida financeira de muitos evangélicos é uma pedra de tropeço diante dos incrédulos. Sejamos cuidadosos na maneira de gastar o nosso dinheiro, busquemos a direção do Senhor de nossas vidas, para que ele nos ensine a usar o pouco que nos foi entregue. Economize comprando no estabelecimento que é mais em conta. Racionalize os gastos com água, luz, telefone, etc. (ler Gn 41:35,36; Pv 21:20). Fuja das dívidas! Evite o desperdício e o supérfluo. Gaste somente o necessário, dentro da sua capacidade financeira! Liberte-se do consumo irresponsável! Viva dentro do orçamento cabível e, se for possível, reserve um pouco para imprevistos, que sempre aparecem. 

I. LUTANDO CONTRA O IMPREVISTO

Ser tomado pelos imprevistos é muito decepcionante. Ninguém aceita isso. Mas eles acontecem, e devemos estar preparados para esses momentos. Ter equilíbrio e firmeza espiritual, esperança e fé no Senhor é fundamental para enfrentarmos as intempéries. Portanto, quando os imprevistos baterem à nossa porta não devemos nos desesperar; devemos, sim, ir ao Senhor, ou seja, conversar com Ele e crer em sua provisão( ler e medite Sl 147:7-9; At 17:25).
A seguir, analisaremos, resumidamente, o imprevisto ocorrido na vida de uma mulher e seus dois filhos, cujo cônjuge falecera e deixou uma grande dívida. Deus interveio e concedeu-lhe a provisão suficiente para atender a necessidade urgente dessa família. Essa história é muito conhecida no meio cristão tradicional e é um exemplo importantíssimo de  como a provisão de Deus funciona na nossa vida. O texto base que relata essa história está em 2Reis 4:1-7.
1. A viuvez. Imagine uma pessoa que é dependente absoluto do seu cônjuge e de repente fica desamparada, ou seja, o seu marido falece e ainda deixa uma grande dívida, que para ela naquele momento era impagável. Foi o que aconteceu com uma mulher, esposa de um profeta. Mas, uma coisa interessante existia nessa família: temor a Deus(2Rs 4:1). E aos seus servos Deus não nega bem nenhum. No tempo apropriado a provisão divina chegará. “Está escrito: Os filhos dos leões necessitam e sofrem fome, mas àqueles que buscam ao Senhor bem nenhum faltará”(Sl 34:10).
2. A dívida. Essa mulher já estava muito triste com a perda que sofrera, então vem à tona outro problema: o homem tinha contraído dívidas, e seus credores foram cobrá-las. Achando-se incapaz de saldar a dívida deixada pelo seu marido, enfrentou a possibilidade do credor tomar seus dois filhos para um período de escravidão. Os credores queriam recuperar seu dinheiro logo. Então, a viúva deve ter-lhes dito: “Sinto muito, senhores, eu não tenho recursos para pagar a dívida que o meu marido contraiu”. Ao que eles responderam: “Muito bem, senhora, como não dispõe do valor necessário para quitar a dívida, de acordo com a lei, podemos levar seus dois filhos como pagamento. Eles serão nossos escravos, para compensar a dívida que seu a marido não saldou”. O texto em Levítico 25:39,40 determina que se o devedor não pudesse pagar a sua dívida, ele era obrigado a servir ao credor como escravo até o ano do jubileu.
O que seria dela, que tinha acabado de perder seu marido e que poderia perder também seus dois filhos, tendo de viver desamparada? Ela infelizmente não possuía nem dinheiro nem propriedades que pudessem oferecer aos credores para quitar a dívida assumida pelo marido
Diante daquela situação, a viúva teve de tomar uma atitude urgentíssima: pedir ajuda a alguém qualificado, que pudesse orientá-la a resolver o problema imediatamente. E quem era esse alguém? Ela sabia que Eliseu era um profeta de Deus e que, por intermédio dele, o Senhor poderia ajudá-la.
Aquela mulher procurou um servo de Deus e apresentou seu problema, pedindo socorro. Nosso comportamento deve ser o mesmo hoje. Quando enfrentamos dificuldades, devemos clamar a Deus pedindo Sua ajuda. Ele designará um cristão que o ama e obedece a Ele para nos socorrer. Deus estará sempre à nossa espera para atender e satisfazer todas as nossas verdadeiras necessidades.
Por isso nós, servos de Deus, podemos ser usados da mesma maneira que o Senhor usou Eliseu, como o objetivo de auxiliar alguém que esteja passando necessidades. Nesse momento, devemos orar apara que Deus nos mostre como podemos ajudar essa pessoa.
3. A solução. Provavelmente no início, Eliseu não sabia como poderia solucionar o problema daquela viúva aflita. Porém, depois, iluminado por Deus, ele perguntou o que havia na casa dela que pudesse ser vendido e render à família algum lucro. O que restava era uma botija de azeite.
Muitas vezes, nós nos sentimos como aquela viúva quando percebemos que o que nos resta parece algo absolutamente insignificante, de modo que nem cogitamos que aquilo possa ser usado por Deus a nosso favor. Contudo, essa história nos mostra que Deus tem poder para transformar em muito aquilo que nos parecia pouco.
Eliseu havia compreendido o que Deus podia fazer usando um simples vaso com azeite, a princípio insignificante, e então disse à mulher e a seus filhos para pedir emprestado aos vizinhos a maior quantidade de frascos vazios que pudessem.
A viúva voltou para casa, e fez exatamente o que Eliseu ordenara. Ela e seus filhos foram de porta em porta, perguntando aos vizinhos se eles poderiam emprestar quaisquer frascos vazios que tivessem. Depois de reunir os recipientes que conseguiram encontrar, a viúva e seus filhos entraram em casa e fecharam a porta. Ela pegou o pequeno recipiente com óleo e começou a derramá-lo com cuidado em um frasco vazio que havia pedido emprestado. Surpreendentemente, o conteúdo do jarro encheu o frasco até a boca e ainda havia azeite no jarro da viúva. Então ela começou a encher uma panela vazia, e o mesmo aconteceu. Mais uma vez, ela foi capaz de encher aquele recipiente e ainda ter azeite na pequena botija. Imagine como seus filhos se sentiam ao assistir àquele milagre! Sua mãe ia enchendo todos os recipientes, e o nível de azeite do pequeno jarro não acabava! Ela encheu de azeite até o último recipiente que conseguira arranjar com os vizinhos.
Finalmente, a viúva e seus filhos olharam para todos os vasos cheios do azeite que viera de sua pequena botija. Eliseu disse para ela vender o azeite e pagar a dívida deixada por seu marido. Com o dinheiro que sobrasse, ela e seus filhos poderiam viver por muito tempo. Aquilo foi realmente um milagre! Deus trouxe àquela família Sua provisão de maneira extraordinária. A partir de um único vaso de azeite que a viúva possuía, Deus foi capaz de multiplicar a quantidade de óleo de modo a atender a necessidade urgente da família.
A fé que aquela mulher tinha no Senhor tornou possível que ela saísse daquela situação crítica; permitiu que ela apresentasse seu problema a Deus e confiasse nele para orientá-la no sentido de encontrar a solução.
Deus também deseja que você creia e busque em Sua Palavra a orientação sobre o que esperar dele e sobre como agir com sabedoria nos momentos de escassez, de despensa vazia.

II. DEUS AGE COM O QUE VOCÊ TEM

1. A botija de azeite. Quando o profeta Eliseu perguntou à viúva sobre o que ela tinha em casa, a resposta da mulher vem em um tom desanimador: “Tua serva não tem nada em casa, senão uma botija de azeite”. Ora, se para Deus o nada já é muita coisa, quanto mais uma botija de azeite. A provisão milagrosa lhe veio mediante o que ela já tinha: um vaso de azeite. A provisão foi dada na medida da fé que a mulher tinha e da sua capacidade de armazenamento. Deus usou o que ela possuía para multiplicar-lhe os recursos e realizar o milagre de que ela precisava. Para Deus  operar  um milagre a quantidade não faz nenhuma diferença. Vejamos:
·   Moisés – tinha uma vara: “… e os filhos de Israel passaram pelo meio do mar em seco…” (Êx 14:16,21, 22).
·   Sansão – tinha uma queixada de um jumento: “… e feriu com ela mil homens.” (Jz 15:15).
·   Davi – tinha uma funda e cinco pedras: “E assim… prevaleceu contra o gigante filisteu…” (1Sm 17:40,50).
·   A viúva de Sarepta – tinha farinha na panela e azeite na botija: “… e assim comeu ela… e a sua casa muitos dias” (1Rs 17:12,14,15).
·   Elias – tinha uma capa: “… e passaram ambos (Elias e Eliseu) o rio Jordão em seco.” (2Rs 2:8).
·   Os discípulos – tinham cinco pães e dois peixinhos: “… e deram de comer a quase cinco mil pessoas.” (Mc 6:37-44).
·   O apóstolo Pedro – tinha unção e poder e disse ao paralítico: “Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta e anda.” (At 3:6).
·   A mulher do profeta – tinha apenas uma botija de azeite. E foi a partir desta botija de azeite que Deus operou o milagre: “E sucedeu que, todos os vasos foram cheios…” (2Rs 4:2,6,7).
O milagre, portanto, depende do que se têm. O que é que você tem em casa? Diante da pergunta, você poderia responder: “Não tenho nada”. Não seja tão pessimista para enxergar o quão é suficiente para Deus fazer um grande milagre através daquilo que você considera não ser nada. Um martelo é suficiente para transformar você num homem de grandes negócios. Deus irá operar o milagre em sua vida a partir do que você tem. Se nada oferecemos a Deus, Ele nada terá para usar. Mas Ele pode usar o pouco que temos e transformá-lo em muito. “Sem fé é impossível agradar a Deus”.
Nós podemos nem ter tudo, e, contudo, podemos ter conosco alguma coisa que Deus é capaz de abençoar abundantemente - “Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera”  (Ef 3:20).
Não perca a esperança! “O pouco pode ser transformado em muito se for colocado nas mãos do Senhor e por Ele abençoado” (Mc 6:30-44). Creia!
2. A farinha na panela.  Veja outra demonstração impressionante do agir de Deus. Isso ocorreu com a viúva de Sarepta, cuja despensa estava vazia, prestes a morrer de fome, mas foi usada por Deus para sustentar o profeta Elias com o que ela tinha(leia 1Rs  17:8-16).
Após dizer que haveria seca em Israel (1Rs 17:1), o profeta Elias recebeu a ordem divina de ir à Sarepta, porque ali residia uma viúva que o sustentaria(1Rs 17:8,9). Por que Deus agiu assim? Deus poderia ter enviado Elias para a casa de um dos líderes religiosos de Sarepta que estivesse em condições de recebê-lo e hospedá-lo durante aquele período de provação. Ou, o Senhor poderia tê-lo encaminhado ao homem mais rico do local e convencesse o homem a manter Elias até quando fosse necessário. Mas Deus ordenou que o profeta buscasse o destino mais improvável, a casa mais humilde, a pessoa mais necessitada naquele momento: uma viúva sem eira nem beira.
O texto bíblico diz que a situação daquela mulher era tão crítica, que ela estava prestes a preparar a sua última refeição e aguardar, com o único filho, a morte. Então, por que Deus enviou o profeta à viúva de Sarepta, que estava vivendo um momento de dificuldade e escassez muito maior que a experimentada por ele?
A lógica de Deus se contrapõe à lógica humana. Deus não pensa como o homem, não considera as saídas e soluções que imaginamos, nem se prende ao que vemos e supomos ser o melhor para nós nas situações pelas quais passamos. Está escrito: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor”(Is 55:8). Contrário à lógica humana, Deus afirma que os “últimos serão os primeiros”; “que não veio chamar os justos, mas os pecadores”; “que não é o que entra pela boca do homem que o contamina, mas o que dela sai, pois do coração provém toda a imundície e maldade existentes”.
O que precisamos saber é que a lógica de Deus não é, nem de longe, parecida com a nossa. Ela leva em conta nossa obediência e nossa fé, e também o fato de Deus ser onisciente, onipresente, onipotente; enquanto a nossa lógica considera apenas superficialmente as coisas, por meio de nossa visão limitada.
Quando, em meio a uma gigantesca necessidade, Deus nos coloca diante de alguém com uma necessidade maior ainda e afirma que de tal pessoa virá a ajuda, é porque o milagre está sendo preparado, o milagre da dependência total do Senhor.
Sempre estamos providos de alguma coisa que satisfaz a necessidade de nosso próximo. Pelo episódio de Elias em Sarepta, Deus nos ensina uma grande lição: Ele nos mostra que mesmo na adversidade, na despensa vazia, temos algo a oferecer, ajuda a proporcionar, uma bênção a transmitir aos outros. Às vezes, é algo que nem mesmo está ao alcance de nossa vista, seja porque não imaginamos que tal coisa seja necessária para alguém, seja porque nenhum valor vemos nela, por ser tão simples ou banal.
Note a postura daquela viúva. Quando Elias se aproximou dela, no primeiro momento lhe pediu água. Ela não questionou, nem mesmo reclamou que não tinha. Água aquela mulher possuía em casa, e a deu ao profeta. Leia 1Rs 17:10-12. Ao ler este texto Deus nos revela outro princípio: quando estamos vivendo momentos de escassez, existem coisas de que não dispomos para ajudar nosso próximo, mas sempre temos algo. Pode não ser uma coisa material, como dinheiro, comida, roupa, mas podemos oferecer uma palavra de ânimo, sabedoria, apoio moral; podemos orar e confortar a pessoa, trazendo glória ao nome do Senhor.
Aquela viúva agiu com honestidade e sinceridade.Vive o Senhor, teu Deus, que nem um bolo tenho, senão somente um punhado de farinha numa panela e um pouco de azeite numa botija” (1Rs 17:12a). Na escassez, quando a despensa está vazia, é assim. Você só pode dar aquilo que tem. No entanto, muitas pessoas agem diferente. Querem viver na opulência, na fartura, viver de aparências, quando na realidade de nada dispõem. Estão passando por necessidades terríveis, mas diante dos outros querem demonstrar que nada lhes falta, e ainda "fazem a festa".
“Apanhei dois cavacos e vou prepará-lo para mim e para o meu filho, para que o comamos e morramos” (1Rs 17:12b). Mas também é verdade que em momentos de extrema necessidade, quando estamos enfrentando crises violentas de escassez, nos deixamos vencer pela desesperança, pela falta de perspectiva, pela agressividade da situação. E nesses momentos, que podem atingir qualquer um, agimos como a viúva. Ela simplesmente não acreditava em mais nada, nenhuma visão, profecia ou promessa; é o que percebemos em suas palavras: “para que o comamos e morramos”. Porém, é nesse momento que começamos a vislumbrar como a lógica de Deus funciona na escassez.
Vejamos como Elias respondeu à viúva após a declaração dela de que não tinha nada, apenas a certeza da morte. Elias lhe disse: “Não temas; vai e faze conforme a lua palavra”(1Rs 17:13a). A lógica de Deus na escassez começa por afirmar que não precisamos ter medo. O mesmo versículo, em outras versões, deixa isso bem claro: “Elias, porém, lhe disse: "Não tenha medo"(NVI);  – “Não se preocupe!  - disse Elias (NTLH).
Deus recomenda isso ao longo de toda a Bíblia. Ele afirma que se o medo, a insegurança destrutiva dominar você, o pavor o invadirá e acabará por neutralizar o potencial e a iniciativa que ainda existem em seu interior. Deus está declarando, nesse versículo, para você que está vivendo um momento de despensa vazia, um momento difícil em sua vida: ''Não temas, pois eu agirei!".
Vai e faze conforme a tua palavra”. Elias orientou a viúva a fazer conforme o quê? Conforme a tua palavra. Ou seja, que aquela mulher agisse conforme o que ela havia dito, conforme sua própria decisão. O que Deus nos ensina aqui? Que a solução para a despensa vazia começa com nós mesmos! Começa com você, por sua própria iniciativa!
A viúva havia afirmado que possuía farinha e azeite suficientes apenas para fazer um bolo para ela e o filho. Então, o profeta lhe ordenou que fizesse um bolo primeiro para ele! Ela obedeceu, e Deus multiplicou a farinha e o azeite daquela mulher.
A viúva foi obediente à palavra que lhe foi entregue. Não à palavra do profeta, mas à palavra do próprio Deus, pois Elias falou em nome do Senhor. E ela demonstrou sua obediência e fé alimentando o profeta com a última refeição de que dispunha. A lógica humana afirmaria que, em primeiro lugar, a viúva deveria fazer um bolo para si mesma e para seu filho; e, depois de satisfeitos, as sobras seriam dadas ao profeta. Porém, a lógica de Deus inverte a lógica do homem. Deus orientou que, pela fé, a viúva deveria oferecer a primícia da farinha e do azeite ao profeta, e então crer que seus mantimentos jamais faltariam, até que as chuvas voltassem a cair. A mulher obedeceu, e isso trouxe fartura à sua casa, pois não faltou alimento para ela e seu filho, quando todos à sua volta experimentavam a escassez.
Na despensa vazia, as Escrituras requerem fé e atitude, fé e ação. A viúva de Sarepta, ao aceitar a palavra profética de Elias, demonstrou fé e submissão, obtendo a vitória em meio à luta, a fartura em meio à escassez. Assim pode acontecer conosco também!
3. Cinco pães e dois peixes(João 6:1-13; Mt 13:-21; Mc 6:30-44). O milagre da multiplicação dos pães e dos peixes realizado por Jesus é um dos que mais exerce fascínio nos seres humanos porque atinge seu maior drama: a escassez. Esse milagre nos ensina que o pouco que temos pode ser transformado em muito, se for colocado nas mãos do Senhor e por Ele abençoado.
Muitos quilômetros eram percorridas pelas multidões para fora da cidade a fim de ouvirem Jesus Cristo, todos no propósito de receber. Aliás, o homem natural, aonde quer que vá, vai para receber. Nesse afã, cinco mil homens(sem contar as mulheres e crianças) partiram para ouvir Jesus no deserto, mas esqueceram que lá não há comida e não levaram provisão; então veio o mais impressionante problema logístico do ministério de Jesus: multidões que buscaram o pão da vida, o pão que desceu do céu – Jesus – padeciam do pão da terra. Mas havia um jovem precavido com cinco pães e dois peixes e, o mais importante, com um coração aberto para Jesus, disposto a dar.
Deus usa o que temos em mãos para nos abençoar, para encher a nossa despensa. O segredo não está em quanto temos, naquilo que possuímos, mas sim na entrega incondicional daquilo que temos a Deus. Tudo que aquele menino do deserto fez foi entregar a Cristo os pães e os peixes que possuía. O que aconteceria depois não dependeria dele: Jesus fez um milagre e alimentou milhares de pessoas a partir daquela entrega significativa.
Você quer ser um instrumento dos milagres de Jesus? O que você tem para dedicar ao Deus da sua salvação? Será que você está dedicando o melhor da sua vida para Deus?

III. A PROVIDÊNCIA DIVINA

1. No Antigo Testamento. Muitos são os exemplos no Antigo Testamento que mostram a providência divina, dentre eles está o cuidado com a subsistência alimentar. No tópico anterior, analisamos a multiplicação do azeite de duas viúvas, em circunstâncias diferentes e épocas diferentes. Dois homens de Deus foram usados para que esses milagres ocorressem. Dois elementos foram essenciais para que ocorressem esses milagres: fé em Deus e obediência à sua Palavra.
Não poderíamos deixar de citar a providência divina para com Israel no deserto, quando de sua peregrinação em direção à Terra prometida. Em Êxodo 16:15, vemos a providência divina dando a Israel o pão do Céu – o maná. A cada dia o maná aparecia no chão como pequenos flocos, à semelhança de geada(Ex 16:31). O povo juntava-o e fazia bolos que tinham um sabor de mel. Para os israelitas, o maná era uma presente  - chegava todos os dias, na quantidade necessária.
Não há Deus como o nosso, que trabalha para aqueles que nele esperam. Ele cavalga nas alturas para nos ajudar. Está assentado na sala de comando do universo, tem nas mãos o controle da história e age de tal maneira que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que o amam. Essa não é a linguagem da conjectura hipotética, mas da certeza experimental. Deus cuida do justo e não o deixa ter fome. Davi disse: “Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão” (Sl 37:25). Glórias ao Deus Soberano!
2. Em o Novo Testamento. Os Evangelhos mostram dois impressionantes milagres de Jesus: as duas multiplicação de pães e peixes(cf  Mc 6:30-44; Mc 8:1-9). Eles demonstram a providência divina presente na vida daqueles que sofrem de escassez. Esta foi a maneira sobrenatural que o Senhor usou para suprir as necessidades dos carentes. Entrementes, assim como no Antigo Testamento Deus usava os seus profetas para socorrer os carentes, no Novo Testamento Deus convida-nos a fazer parte dessa importante missão (ler Rm 12:9-21). Deus deseja que, através de nossas vidas, socorramos aos que, realmente, são necessitados. O apóstolo Paulo exorta-nos a trabalhar para repartir com  aqueles que passam por dificuldades (2Co 8:14; Ef 4:28).
Jesus disse: “Porque sempre tendes os pobres convosco, e podeis fazer-lhes bem, quando quiserdes”(Mt 14:7). Os pobres existem e continuarão existindo, para que os cristãos generosos exerçam a caridade, a maior expressão do cristianismo verdadeiro. A igreja primitiva sobressaia-se neste mister, tanto que foi estabelecida a diaconia ou o serviço de atendimento social(ler At 6:1-10). 
O apóstolo Paulo recorda que Pedro, Tiago e João, que eram tidos como as colunas da Igreja em Jerusalém, pediram-lhe que não se esquecesse dos pobres – “recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligencia”(Gl 2:10).
A generosidade para com os necessitados é considerada não como um mérito à salvação, mas apenas como “um teste de caráter”. Ajudando os necessitados, estaremos rompendo com nossos próprios interesses egoístas, para acumular “tesouros no Céu” (Mt 6:19-21;Lc 12:33-34). O maior tesouro é, sem dúvida, a salvação eterna, pela graça de Cristo (Ef 2:8-10), daqueles que são levados a glorificar a Deus por nossas boas obras de generosidade (ver Mt 5:16). Você tem ajudado a quem necessita? Você se preocupa em saber quem precisa da sua ajuda? Pense nisso!

CONCLUSÃO

Quero concluir esta Aula dizendo que, assim como aquela viúva(Rs 4:1-7), temos uma dívida que não podemos pagar, que herdamos de Adão e na qual incorremos todos os dias: o pecado. E o pagamento dessa dívida implicaria a morte espiritual e eterna, se não fosse o sacrifício de Cristo Jesus em nosso lugar.
Jesus pagou a nossa dívida com Sua própria vida. O apóstolo Paulo com muita propriedade escreveu: “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”(Cl 2:14). Portanto, no momento em que alguém aceita Jesus, com sinceridade, é salvo, e suas reais necessidades (de perdão, paz, amor, salvação, vida eterna, etc) são supridas.
Para sermos perdoados e passarmos a ter direitos a uma vida eterna, no Céu, de nada nos adiantaria nos esforçarmos para, por nossas próprias forças e justiça, sermos bonzinhos, honestos. Também não adiantaria frequentarmos regularmente uma igreja e vivermos de joelhos, pedindo perdão e infligindo-nos sofrimentos e penitências. Nada disse salva o homem. A única maneira de conseguirmos o perdão de Deus, a regeneração espiritual e a vida eterna é aceitando Jesus como nosso Salvador e submetendo-nos inteiramente a Ele.
É por intermédio de Cristo, com quem está o “amém”, que Deus opera muito mais além do que pedimos ou pensamos, para a glória do Seu bendito nome e o engrandecimento do Seu reino.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Novo Testamento).

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.
Revista Ensinador Cristão – nº 51 – CPAD.

domingo, 29 de julho de 2012

EDUCAÇÃO CRISTÃ CONTINUADA – Aula 06


DESCOBRINDO O NOVO TESTAMENTO

 

ATOS E ROMANOS



Texto Básico:Atos 2:37-41



“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da Terra”(Rm 1:8).

INTRODUÇÃO

Nesta Aula estudaremos sobre o livro de Atos e Romanos. Faremos uma breve análise destes dois livros, seguindo os tópicos propostos pelo  comentarista da lição. Em primeiro lugar estudaremos o livro de Atos. Estudar este livro é trazer à memória os gloriosos feitos de Deus; é alimentar nossa alma com a esperança de que o mesmo Deus que realizou coisas exponenciais no passado tem poder para realizar de novo em nossos dias; é nutrir nosso coração com a perspectiva de novos avivamentos, que coloquem a igreja no trilho da verdade e firmem seus passos no caminho da santidade. Em segundo lugar estudaremos a Carta aos Romanos. Esta carta é o maior tratado teológico do Novo Testamento. Nela, o apóstolo Paulo, o maior bandeirantes do cristianismo, alcança as alturas excelsas e contempla desses cumes o plano glorioso da redenção. Portanto, estudar a Carta aos Romanos é como matricular-se na escola superior do Espírito Santo e aprender as verdades mais profundas e mais importantes do cristianismo.

I. ATOS, A IGREJA EM AÇÃO

1. Introdução ao Livro de Atos. Atos dos Apóstolos é a única história inspirada da Igreja; também é a primeira história da Igreja e o único registro histórico original a tratar do inicio da fé. Se não fosse por Atos, não teríamos nenhuma informação acerca da Igreja primitiva e haveria uma enorme lacuna entre a vida de Jesus nos evangelhos e as epístolas.
O Rev. Hernandes Dias Lopes chama este livro de “a dobradiça do Novo Testamento”. O livro de Atos é a segunda parte de uma obra cujo primeiro volume é o Evangelho de Lucas. O Evangelho de Cristo segundo Lucas trata do que Jesus começou a fazer e a ensinar; Em ATOS, o que Jesus continuou a fazer e a ensinar por intermédio dos apóstolos, no poder do Espírito Santo. Lucas reúne a história de Jesus e a história da igreja primitiva. Explica como as boas novas começaram e se espalharam a ponto de abranger o mundo do princípio da igreja, desde Jerusalém até Roma.
Citando William MacDonald, o rev. Hernandes Dias ressalta que o livro de Atos é a única história da igreja inspirada; é também o primeiro livro da história da igreja apostólica. Atos não é apenas uma ponte que liga a vida de Cristo com o Cristo vivo ensinado nas epístolas; é também um elo de transição entre o judaísmo e o cristianismo, entre a lei e a graça.
À guisa de introdução, destacamos três verdades importantes sobre a mensagem de Atos:
a) A importância de sua mensagem. Atos narra a história da igreja apostólica, desde os seus primeiros passos em Jerusalém até Roma, a cidade imperial. Faz uma estreita conexão entre o que Jesus começou a fazer e ensinar e o que ele continuou a fazer e ensinar por intermédio dos apóstolos. O livro de Atos não coloca no centro do palco os apóstolos, mas o Senhor Jesus. É ele quem fala e faz. Os homens de Deus são apenas instrumentos; o agente é o próprio Filho de Deus. O poder que transforma vidas não vem do homem, mas de Deus; não vem da terra, mas do céu; não vem de dentro, mas de cima. Como nos Evangelhos, o tema central de Atos é Cristo, mas agora é o Cristo ressuscitado, vivo, que dá poder, e que desafia seus seguidores a irem por todo o mundo com a incomparável história do amor de Deus.
b) A necessidade de sua mensagem. Atos é um manual sobre o crescimento saudável da igreja. Vivemos num tempo de busca desenfreada pelo crescimento numérico da igreja. No entanto, muitos se perdem nessa corrida. Buscam as fórmulas do pragmatismo em vez de recorrer aos princípios emanados do livro de Atos. Caem nas armadilhas da numerolatria (idolatria dos números) e transigem com a verdade para alcançar resultados. Pregam o que o povo quer ouvir em vez de pregar o que povo precisa ouvir. Pregam para agradar os incrédulos em vez de levá-los ao arrependimento. Pregam prosperidade em vez de graça. Por outro lado, o livro de Atos nos previne contra a numerofobia (medo dos números). Uma igreja saudável cresce naturalmente. Quando a igreja vive a doutrina apostólica, Deus acrescenta a ela, diariamente, os que vão sendo salvos. O livro de Atos é o mais importante manual de crescimento da igreja.
c) A urgência de sua mensagem. O livro de Atos trata do crescimento espiritual e numérico da igreja. Para alcançar esse alvo, a igreja manteve, inseparavelmente, ortodoxia e piedade, doutrina e vida, palavra e poder. Ortodoxia sem piedade gera racionalismo estéril. Piedade sem ortodoxia produz misticismo histérico. Ao longo da história, a igreja várias vezes caiu num extremo ou noutro. Ainda hoje, vemos muitas igrejas zelosas da doutrina, mas áridas como um deserto; outras cheias de entusiasmo, mas vazias de doutrina. Atos é um alerta para a necessidade urgente de um profundo reavivamento. Não precisamos buscar as novidades do mercado da fé, mas nos voltarmos às origens do cristianismo apostólico.
2. Autor de Atos. O autor de Atos dos Apóstolos e do Evangelho nada diz a respeito de si mesmo, nem mesmo em sua dedicatória pessoal a Teófilo. A tradição eclesiástica, porém, desde cedo não tem dúvidas de que o autor é Lucas. Lucas era médico e historiador. A tradição liga-o à cidade de Antioquia da Síria, a terceira maior do mundo naquela época. Único escritor gentio do Novo Testamento, Lucas foi testemunha ocular dos ocorridos nas viagens missionárias de Paulo, uma vez que acompanhou o apóstolo nessas peregrinações como seu companheiro e médico. Sabemos muito pouco acerca de Lucas; só há três citações diretas a ele no Novo Testamento (Cl 4:14; 2Tm 4:11; Fm 24). Essas referências nos permitem afirmar duas coisas a seu respeito: Lucas era médico e cooperador de Paulo, aliás, um de seus amigos mais fiéis, pois estava com ele em sua segunda prisão em Roma.
3. O esboço de Atos. Há vários modelos de esboço deste Livro. Destaco este:
I. A Igreja em Jerusalém (At 1-7).
  1. A promessa da vinda do Espírito Santo (At 1:1-5).
  2. A comissão dos apóstolos (At 1:6-11).
  3. A espera dos discípulos em Jerusalém (At 1:12-26).
  4. O dia de Pentecostes e o nascimento da Igreja (At 2:1-47).
  5. A cura de um coxo e a exortação de Pedro a Israel (At 3:1-26).
  6. A perseguição e o crescimento da Igreja (At 4:1-7:60).
II. A Igreja na Judéia e em Samaria (At 8:1-9:31).
  1. O ministério de Filipe em Samaria (At 8:1-25).
  2. Filipe e o eunuco etíope (At 8:26-40).
  3. A conversão de Saulo de Tarso (At 9:1-31).
III. A Igreja até os confins da Terra (At 9:32-28:31).
  1. A pregação do Evangelho aos gentios (At 9:32-11:18).
  2. A implantação da Igreja em Antioquia (At 11:19-30).
  3. A perseguição por Herodes e a morte do rei (At 12:24-14:28).
  4. A primeira viagem missionária de Paulo: Galácia (At 12:24-14:28).
  5. O concílio de Jerusalém (At 15:1-35).
  6. A segunda viagem missionária de Paulo: Ásia Menor e Grécia (At 15:36-18:22).
  7. A terceira viagem missionária de Paulo: Ásia Menor e Grécia (At 18:23-21:26).
  8. A prisão e os julgamentos de Paulo (At 21:27-26:32).
  9. A viagem de Paulo a Roma e o naufrágio (At 27:1-28:16).
  10. A prisão domiciliar e o testemunho de Paulo aos judeus em Roma (At 28:17-31).
4. Os propósitos do livro de Atos. Lucas, inspirado pelo Espírito de Deus, escreveu o livro de Atos com vários propósitos em mente. Citamos mos alguns deles:
a) Mostrar a legitimidade do cristianismo diante das autoridades romanas. O livro de Atos não é apenas a história do avanço dos cristãos, mas, sobretudo, uma defesa do cristianismo. O propósito de Lucas é defender a fé cristã diante dos seus opositores, mostrando que a religião do “Caminho” é legítima, legal e salutar para o povo. Ao longo do livro, Lucas reúne vários relatos nos quais as autoridades romanas reconhecem que não têm nenhuma acusação formal contra os cristãos.
b) Mostrar a expansão da igreja de Jerusalém a Roma apesar das perseguições. Lucas é enfático em mostrar as variadas formas de perseguição que os apóstolos e toda a igreja sofreram na marcha do cristianismo de Jerusalém a Roma. Perseguições internas e externas, físicas e psicológicas, políticas e religiosas. O próprio apóstolo Paulo afirma: ...através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus (At 14:22). A perseguição começa com a zombaria dirigida aos apóstolos no dia de Pentecostes, e continua com a tentativa do Sinédrio de calar os apóstolos, mandando prendê-los e açoitá-los. Chega rapidamente ao auge na morte de Estêvão, passando também pela morte de Tiago. Paulo foi apedrejado em Listra, açoitado em Filipos, escorraçado da Tessalônica, enxotado de Beréia, chamado de tagarela em Atenas e de impostor em Corinto. Em Éfeso enfrentou feras, foi preso em Jerusalém, acusado em Cesaréia e novamente preso em Roma. Longe, porém, de recuar diante das perseguições, a igreja caminhou com ainda mais ousadia e desassombro para obter resultados alvissareiros.
c) Mostrar o espantoso crescimento da igreja apesar das limitações humanas. A igreja apostólica estava desprovida de recursos financeiros. Os apóstolos não tinham prata nem ouro. E, mais, eram homens iletrados. Não tinham influência política, e a maioria dos membros da novel igreja era composta de escravos. Apesar dessas limitações humanas, a igreja encheu o império romano com a doutrina de Cristo e fincou a bandeira do evangelho no centro da cidade imperial. A mensagem de Atos é vital para a igreja contemporânea porque nos mostra o caminho de Deus para o crescimento da igreja, a despeito de todas as suas limitações. A igreja cresce pela oração e pela Palavra, no poder e na virtude do Espírito Santo, por intermédio de cristãos fiéis e ousados.
d) Mostrar a oração e a Palavra como os dois vetores do crescimento da igreja. Os apóstolos entenderam que não poderiam abandonar a oração e o ministério da Palavra para servirem às mesas. A oração e a Palavra foram os grandes vetores do crescimento da igreja. Ainda hoje esses dois instrumentos são os principais fatores do crescimento saudável da igreja. Deus não unge métodos; unge homens e mulheres de oração. Sem oração não há pregação de poder. Não podemos separar pregação de oração. Só podemos levantar-nos diante dos homens se primeiro nos prostrarmos diante de Deus.
e) Mostrar a obra do Espírito Santo na expansão da igreja. A igreja apostólica avançou de Jerusalém a Roma no poder do Espírito Santo. Foi o Espírito quem capacitou a igreja para viver e pregar. Foi o Espírito Santo quem liderou a igreja em seu extraordinário crescimento espiritual e numérico. A ação do Espírito Santo é tão marcante em Atos que este livro tem sido descrito às vezes como o livro dos "Atos do Espírito Santo”.
f) Mostrar o triunfo do reino de Deus sobre o reino das trevas. A igreja apostólica cresceu espantosamente e desbastou as trevas do paganismo. A igreja triunfou sobre o legalismo fariseu e o liberalismo saduceu em Jerusalém. Triunfou, outrossim, sobre o sincretismo samaritano. Triunfou, de igual forma, sobre o paganismo e a idolatria nas províncias da Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia Menor. Triunfou, finalmente, sobre o culto ao imperador. A igreja apostólica cresceu a despeito das mais variadas e perversas perseguições. O sangue dos mártires tornou-se a sementeira do evangelho.

II. ROMANOS, A JUSTIÇA DE DEUS

1. Introdução à Epístola. Alguém disse que Romanos é “a Catedral da Fé”. Não é sem motivo que Romanos sempre encabeçou as cartas de Paulo. Uma vez que Atos termina com a chegada de Paulo a Roma, é lógico a seção de epístolas do Novo Testamento iniciar-se com a Carta do apóstolo Paulo à igreja romana, uma Carta escrita antes de ele visitar os cristãos daquela cidade. Acima de tudo, porém, em termos teológicos, Romanos é o livro mais importante do Novo Testamento, pois constitui o texto bíblico mais próximo de uma apresentação sistemática da fé cristã.
Em termos históricos, Romanos é o livro mais influente da Bíblia. Esta epístola, provavelmente mais que qualquer outro livro da Bíblia, tem influenciado a história do mundo de formas dramáticas. Vejamos alguns fatos contados pelos historiadores da igreja:
- Foi por intermédio da sua leitura que Aurélio Agostinho (354-430), o grande líder religioso e intelectual da África do Norte, professor de retórica em Milão, o maior expoente da igreja ocidental no período dos pais da igreja, foi convertido a Cristo em 386 d.C. Agostinho viveu de forma devassa, entregue às paixões carnais, prisioneiro do sexo ilícito e ao mesmo tempo objeto das orações de Mônica, sua mãe, até que se assentou a chorar no jardim de seu amigo Alípio, quase persuadido a começar vida nova, mas sem chegar à resolução final de romper com a vida que levava. Ali sentado, ouviu uma criança cantar numa casa vizinha: Tolle, legel Tolle, legel (Pega e lê! Pega e lê). Ao tomar o manuscrito do amigo que estava ao lado, seus olhos caíram nestas palavras: "Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências" (Rm 13:13,14 ). Seus olhos foram imediatamente abertos, seu coração foi transformado e as sombras de suas dúvidas, dissipadas. O próprio Agostinho confessa: "Não li mais nada e não precisava de coisa alguma. Instantaneamente, ao terminar a sentença, uma clara luz inundou meu coração e todas as trevas da dúvida se desvaneceram". Agostinho tornou-se o maior teólogo da igreja ocidental.
- O monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) rompeu os grilhões da escravidão espiritual diante de Romanos 1:17 e descobriu que o justo vive pela fé. Até então, Lutero vivia atormentado pela culpa. A justiça de Deus o esmagava e o levava ao desespero. O monge afligia sua alma com intermináveis confissões ao vigário, no confessionário, flagelando seu corpo com castigos e penitências. Lutero recorreu a todos os recursos do catolicismo de sua época na tentativa de amenizar a angústia de um espírito alienado de Deus, diz Stott (STOTT, John. Romanos, p. 15).
- João Wesley recebeu a certeza da salvação ao ouvir numa igreja moravia a leitura do prefácio do comentário de Romanos escrito por Lutero. João Wesley tornou--se um líder espiritual de grande expressão na Inglaterra. Criou depois a igreja metodista, uma igreja que buscava a santidade sem deixar de engajar-se firmemente na obra missionária. O reavivamento inglês salvou a Inglaterra dos horrores da Revolução Francesa. Esse movimento espiritual espalhou-se para a Nova Inglaterra e atingiu horizontes ainda mais largos.
2. Autor e importância. Há abundantes evidências internas e externas acerca da autoria paulina de Romanos. Paulo se apresenta como o remetente da carta. Ele o faz com senso de humildade, chamando a si mesmo de servo de Cristo e, também, com senso de autoridade, afirmando seu apostolado (Rm 1:1). Pais da igreja como Eusébio, Irineu, Orígenes, Tertuliano e Clemente dão pleno testemunho da autoria paulina de Romanos.
Quanto a sua importância, é o maior compêndio de teologia do Novo Testamento. É a epístola das epístolas, a mais importante e proeminente carta de Paulo. É uma exposição e uma defesa do evangelho da graça. John Stott considera Romanos uma espécie de manifesto cristão. Nenhum livro da Bíblia exerceu tanta influência sobre a teologia protestante e nenhuma carta de Paulo revela de forma tão clara o pensamento teológico do apóstolo aos gentios.
3. Local de onde foi escrita e a Portadora da Carta.. Há um consenso geral de que Paulo escreveu Romanos durante sua estada de três meses na Grécia (At 20:2,3), na província da Acaia, numa região próxima de Corinto. Isso é confirmado pela recomendação de Paulo a Febe, a portadora da Carta à igreja de Roma. Febe era da igreja de Cencreia (Rm 16:1), uma pequena cidade a 12 quilômetros de Corinto, onde se situava um importante porto da capital da Acaia. Paulo estava encerrando sua terceira viagem missionária e se preparava para viajar a Jerusalém a fim de levar as ofertas levantadas entre as igrejas gentias que socorreriam os pobres da Judéia (Rm 15:30,31).
É bastante provável que esta Carta tenha sido escrita por volta do ano 57 ou 58 d.C. É, portanto, a última Carta escrita por Paulo antes de seu prolongado período de detenção, primeiro em Cesaréia (At 23:31-26:32) e depois em Roma (At 28:16-31). Nesse tempo, o veterano apóstolo já havia concluído suas três viagens missionárias.
4. Quem fundou a igreja de Roma? Paulo escreveu a Carta à igreja de Roma, que era composta por judeus e também por gentios. A Carta é dirigida tanto a uns como aos outros. Dirigindo-se a seus irmãos judeus, Paulo demonstra sua preocupação com eles e explica como podem ajustar-se ao plano divino (cf Rm 9:1-11:2). Visto que o caminho para que judeus e gentios pudessem estar unidos no corpo de Cristo foi aberto pelo próprio Deus, os dois grupos poderão louvá-lo por sua sabedoria e amor (cf Rm 11:13-36).
Mas, quem fundou a igreja de Roma? Com toda convicção podemos afirmar que Paulo não foi o fundador da igreja, uma vez que ele escreve falando acerca de seu desejo de visitar aqueles irmãos (Rm 1:10-13). Tampouco a igreja de Roma foi fundada por algum dos outros apóstolos. O catolicismo romano ensina que o apóstolo Pedro foi o fundador da igreja, e seu episcopado na igreja durou 25 anos, ou seja, de 42-67 d.C. Essa tese, porém, carece de fundamentação. Primeiro, porque Pedro era o apóstolo da circuncisão (Gl 2:9), e não o apóstolo destinado aos gentios, ou seja, o seu ministério era destinado prioritariamente aos judeus. Segundo, porque Paulo não menciona Pedro em sua carta aos Romanos, o que seria uma gritante falta de cortesia. Terceiro, porque Paulo diz que gostaria de ir a Roma para compartilhar o evangelho e distribuir algum dom espiritual (Rm 1:11), o que não faria sentido se Pedro já estivesse entre eles. Além disso, Paulo tinha o princípio de pregar o evangelho não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio (Rm 15:20).
Há duas possibilidades para a origem da igreja de Roma. A primeira é que essa igreja foi estabelecida pelos judeus ou prosélitos de Roma, convertidos na Festa do Pentecostes em Jerusalém no ano 30 d.C., os quais retornaram à capital do império para plantar a igreja (At 2:10). Em Roma estava o maior centro judaico do mundo antigo. Havia mais de treze comunidades sinagogais na cidade. Mantinham um contato intenso com Jerusalém. As pessoas viajavam para lá e para cá como comerciantes, artesãos e também como peregrinos devotos. Confessando sua fé, deram origem a um movimento cristão muito vivo. Desse modo, o cristianismo em Roma originou-se da atuação de crentes para nós anônimos. As famosas estradas romanas facilitaram sobremodo a mobilização das pessoas e a rápida expansão do evangelho. A via Ápia, a via Cornélia, a via Aurélia e a via Valéria eram algumas das estradas que cruzavam o império.
A segunda possibilidade é que essa igreja tenha sido estabelecida por cristãos desconhecidos, convertidos pelo ministério de Paulo, emissários de algum dos centros gentílicos que haviam compreendido plenamente o caráter universal do evangelho. Vale ressaltar que as três grandes cidades onde Paulo estivera por mais tempo - Antioquia, Corinto e Éfeso - eram justamente as três com as quais (assim como Alexandria) o intercâmbio com Roma se mostrava mais intenso.
5. Motivos, Tema e Características da Carta aos Romanos.
5.1) Motivos da Carta. Diferentemente das outras cartas, Paulo não escreveu aos romanos para resolver problemas locais e circunstanciais. Por isso, essa carta parece mais um tratado teológico que uma missiva pastoral. Paulo tem pelo menos cinco propósitos em seu coração ao escrever esta carta:
a) Pedir oração da igreja em seu favor. Paulo estava prestes a realizar uma viagem extremamente perigosa a Jerusalém (Rm 15:30,31). Mesmo com o coração cheio de amor e as mãos transbordando de ofertas para os pobres da Judéia, ele conhecia os perigos da viagem. Ele temia duas coisas: que os judeus o matassem; que os "santos" de Jerusalém nem mesmo se dispusessem a receber o generoso donativo vindo dos crentes gentios. Seus pressentimentos não eram sem fundamento (At 20:3). Ao despedir-se dos presbíteros de Éfeso, o apóstolo os alerta sobre essa dolorosa possibilidade (At 20:22,23). Chegando a Cesareia, ele foi alertado a não subir a Jerusalém, pois lá o esperavam cadeias e tribulações (At 21:8-14). Na cidade, Paulo foi recebido com alegria pelos irmãos (At 21:17), mas com sórdida crueldade pelos judeus, que entraram em conspiração para matá-lo (At 21:27-31). Pressentindo esse desfecho, Paulo escreveu aos crentes de Roma pedindo oração em seu favor (Rm 15:30,31).
b) Demonstrar seu desejo de visitar a igreja de Roma. Paulo desejou visitar a igreja de Roma algumas vezes, mas isso lhe foi impedido (Rm 1:13). Portas abertas e portas fechadas, porém, são a mesma coisa, se abertas ou fechadas por Deus. Porque não pôde ir a Roma, Paulo escreveu esta carta, o maior tratado teológico do Novo Testamento. A impossibilidade de Paulo viajar a Roma privou aqueles crentes por um tempo da presença do apóstolo, mas abençoou todas as igrejas ao longo dos tempos, por meio dessa carta inspirada.
c) Demonstrar seu desejo de compartilhar com os crentes de Roma algum dom espiritual. O interesse de Paulo em ir a Roma era compartilhar com os crentes de Roma o evangelho. Mesmo não tendo sido o fundador da igreja, aquela igreja estava sob sua jurisdição espiritual, uma vez que era o apóstolo enviado por Jesus aos gentios.
d) Ser enviado pela igreja de Roma a Espanha. Paulo queria uma base missionária para os seus novos projetos. Depois de concluir seu trabalho missionário nas quatro províncias da Galácia, Macedónia (nordeste da Grécia), Acaia (sudeste da Grécia) e Ásia Menor, Paulo tinha planos de ampliar os horizontes e chegar à Espanha (Rm 15:24,28), a mais antiga colônia romana no Ocidente e o principal baluarte da civilização romana naquelas partes. Para isso, precisava de suporte financeiro e apoio espiritual (Rm 15:24). Essas coisas ele buscava na igreja de Roma.
e) Fazer uma exposição detalhada do evangelho. Paulo escreve Romanos para repartir com a igreja da capital do império o significado do evangelho. Nessa carta ele discorre sobre a condição de ruína e perdição tanto dos gentios como dos judeus. Também mostra que a salvação é pela graça, independentemente das obras, tanto para os gentios como para os judeus.
5.2) Tema e Características da Carta. O Tema da Carta aos Romanos é: A justiça de Deus para judeus e gentios. O versículo chave do Tema é: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego”(Rm 1:16,17). A justiça de Deus manifesta-se no Evangelho. Na cruz de Cristo Deus revelou sua ira sobre o pecado e seu amor ao pecador. A cruz de Cristo foi a justificação de Deus, uma vez que nela Deus satisfez plenamente sua justiça violada. Se a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens, no Evangelho a Justiça de Deus se revela para a salvação de todo o que crê.
A palavra “Evangelho”, aqui, significa Boas-Novas. Nos versículos 1-17, do Capítulo1, o apóstolo apresenta seis fatos importantes acerca da Boas-Novas:
a)      São provenientes de Deus (v.1).
b)      Foram prometidas pelas Escrituras proféticas do Antigo Testamento (v.2).
c)       Dizem respeito ao Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus (v.3).
d)      São o poder de Deus para a Salvação (v.16).
e)      São para todos os homens, tanto judeus quanto gentios (v.16).
f)        Revelam a justiça de Deus, que é somente pela fé (v.17).
O apóstolo Paulo acompanhou essa temática por toda a sua epístola, esclarecendo sobre a justiça divina, passo a passo.
Características Particulares. A Carta aos Romanos foi apresentada como um tratado teológico organizado e bem fundamentado da fé de Paulo; não tem o formato típico de uma epístola, exceto pela forma como o apóstolo se despediu, saudando vários irmãos romanos.
Todos os reformadores viam Romanos como sendo a chave divina para o entendimento de todas as Escrituras, já que aqui Paulo une todos os grandes temas da Bíblia: pecado, lei, julgamento, destino humano, fé, obras, graça, justificação, eleição, o plano da salvação, a obra de Cristo e do Espírito Santo, a esperança cristã, a natureza e vida da igreja, o lugar do judeu e do não-judeu nos propósitos de Deus, a filosofia da igreja e a história do mundo, o significado e a mensagem do Antigo Testamento, os deveres da cidadania cristã e os princípios da retidão e moralidade pessoal. Romanos nos abre uma perspectiva através da qual a paisagem completa da Bíblia pode ser vista e a revelação de como as partes se encaixam no todo se torna clara.
6. Esboço de Romanos. Apresentamos a mais adequada com o Tema:
I.        O Homem precisa desesperadamente da Justiça de Deus (Rm 1:18-3:20).
II.      A gloriosa provisão divina da Justiça (Rm 3:21-5:21).
III.    A concretização da Justiça pela Fé (Rm 6:1-8--:39).
IV.    Justiça pela Fé relacionada com Israel (Rm 9:1-11:36).
V.      Aplicações práticas da Justiça pela Fé (Rm 12:1-15:13).
VI.    Conclusão – Os planos de Paulo e as saudações finais (Rm 15:14-16:27).

CONCLUSÃO

Romanos é a maior, mais rica e mais abrangente declaração da parte de Paulo sobre o Evangelho. Suas declarações condensadas sobre verdades imensas são como molas retraídas – quando são liberadas, elas voam pela mente e pelo coração até encherem o horizonte do indivíduo e moldarem a sua vida. O estudo de Romanos é vitalmente necessário para a saúde e entendimento espiritual do cristão.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.

Panorama do Novo Testamento – ICI, São Paulo, 2008).

William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Novo Testamento).

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

ATOS (A ação do Espírito Santo na vida da Igreja) – Hernandes Dias Lopes.

ROMANOS (O evangelho segundo Paulo) – Hernandes Dias Lopes.