domingo, 27 de outubro de 2019

Aula 05 – A INSTITUIÇÃO DA MONARQUIA EM ISRAEL – Subsídio


4º Trimestre/2019

Texto Base: 1Samuel 8:4-7; 2Samuel 10:1-7


“Então, todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações” (1Sm.8:4,5).
1 Samuel 8:
4-Então, todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá,
5-e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações.
6-Porém essa palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao SENHOR.
7-E disse o SENHOR a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te disser, pois não te tem rejeitado a ti; antes, a mim me tem rejeitado, para eu não reinar sobre ele.
1 Samuel 10:
1-Então, tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e o beijou, e disse: Porventura, te não tem ungido o SENHOR por capitão sobre a sua herdade?
2-Partindo-te hoje de mim, acharás dois homens junto ao sepulcro de Raquel, no termo de Benjamim, em Zelza, os quais te dirão: Acharam-se as jumentas que foste buscar, e eis que já o teu pai deixou o negócio das jumentas e anda aflito por causa de vós, dizendo: Que farei eu por meu filho?
3-E, quando dali passares mais adiante e chegares ao carvalho de Tabor, ali te encontrarão três homens, que vão subindo a Deus a Betel: um levando três cabritos, o outro, três bolos de pão, e o outro, um odre de vinho.
4-E te perguntarão como estás e te darão dois pães, que tomarás da sua mão.
5-Então, virás ao outeiro de Deus, onde está a guarnição dos filisteus; e há de ser que, entrando ali na cidade, encontrarás um rancho de profetas que descem do alto e trazem diante de si saltérios, e tambores, e flautas, e harpas; e profetizará
6-E o Espírito do SENHOR se apode-rará de ti, e profetizarás com eles e te mudarás em outro homem.
7-E há de ser que, quando estes sinais te vierem, faze o que achar a tua mão, porque Deus é contigo.

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo do “Governo Divino em Mãos Humanas”, tendo como base os Livros de Samuel, trataremos nesta Aula da Instituição da Monarquia em Israel. Desde os dias de Moisés, Deus governou Israel através de sacerdotes e juízes dotados com poder e habilidade. Quando Samuel, o último dos juízes, envelheceu, o povo pediu um rei para que eles fossem como as nações que estavam ao seu redor.
Aquele não era o momento apropriado para pedir um rei, mas Deus ordenou a Samuel que atendesse o pedido do povo. A partir de então, Israel deixou de ser uma teocracia, ou seja, uma nação governada por Deus, que era o seu rei (1Sm.8:7), para ser uma monarquia, ou seja, uma nação governada por um rei humano, como ocorria com todas as nações circunvizinhas (1Sm.8:5).
Todavia, como profeta e último dos juízes, Samuel alertou o povo que a instituição da monarquia em Israel traria mais malefícios que benefícios para eles. Mesmo assim, o povo quis um rei. Eles pediram um rei porque criam, erroneamente, que a razão das suas derrotas vinha da incompetência do governo em vigor, quando, na realidade, o problema era o pecado deles. Daí, eles conformarem-se com o modo de vida dos povos ímpios ao seu redor, ao invés de confiarem em Deus.
Outrora, Deus levantava juízes em diversas regiões, mas agora Ele levantaria uma monarquia em Israel. Embora a monarquia fosse um desejo nacional, Deus interveio e, segundo a sua vontade, estabeleceu essa forma de governo. Incialmente, Saul, da tribo de Benjamim, fora escolhido como o primeiro rei de Israel.
Deus, na sua presciência, sabia que um dia o seu povo ficaria descontente com o governo direto de Deus, e ordenou a Moisés que incluísse em sua Lei as diretrizes a serem seguidas pelo rei, quando isso acontecesse (cf. Dt.17:14-17).
Quando entrares na terra que te dá o SENHOR, teu Deus, e a possuíres, e nela habitares, e disseres: Porei sobre mim um rei, assim como têm todas as nações que estão em redor de mim, porás, certamente, sobre ti como rei aquele que escolher o SENHOR, teu Deus; dentre teus irmãos porás rei sobre ti; não poderás pôr homem estranho sobre ti, que não seja de teus irmãos.
Porém não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito, para multiplicar cavalos; pois o SENHOR vos tem dito: Nunca mais voltareis por este caminho.
Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração se não desvie; nem prata nem ouro multiplicará muito para si.
Embora aquele momento, para eles terem um rei, não fosse o momento de Deus, e fosse injusta a sua motivação, Deus os atendeu no que pediram. Apesar de tudo, Deus se propôs a guiar o povo, apesar dos fracassos do governo monárquico de Israel (cf. 1Sm.12:14,15;19-25). Isso revela o amor de Deus e a Sua paciência com a fraqueza humana.

I. POR QUE A MONARQUIA?

1. Porque o povo queria ser como as nações vizinhas (1Sm.8:5,20)

Esta posição era exatamente o que Deus não desejava. Ter um rei facilitaria o esquecimento de que o Senhor era o Seu verdadeiro Líder. Entretanto, não era errado Israel querer um rei; Deus mencionou esta possibilidade em Deuteronômio 17:14-20. Mas, na realidade, o povo rejeitava a Deus como seu verdadeiro Líder. Os israelitas queriam leis, um exército e um monarca no lugar do Senhor. Eles desejavam governar a nação através da força humana, embora somente a de Deus pudesse fazê-los prosperar na terra de Canaã.
O povo não viu nenhuma preparação nos filhos de Israel para assumir tal responsabilidade como eles exigiam. Além do mais, as 12 tribos viviam desunidas, pois cada uma possuía sua própria liderança e território, ou seja, não existia uma unidade entre as tribos que pudesse qualificar Israel como uma nação perante os povos vizinhos. Eles desejavam um rei que unisse as tribos em uma única nação e um só exército; eles queriam ter o orgulho de ser uma nação no seu stricto sensu: com um rei soberano, um exército e um comando que impusesse respeito e ordem. Isto significava rejeitar a liderança divina representada por Samuel. Dessa forma, os israelitas escolheram uma política meramente humana, fugindo de sua real vocação sacerdotal e profética.
Concordo com o Pr. Osiel Gomes quando diz que “há perigo quando o povo de Deus deixa a sua verdadeira vocação para imitar as instituições terrenas. Embora seja bíblico cumprir nossas obrigações políticas e sociais, a vocação da Igreja é espiritual, como afirmou Jesus: ‘O meu Reino não é deste mundo; se o meu Reino fosse deste mundo, lutariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas, agora, o meu Reino não é daqui”’ (João 8:36).

2. Porque os filhos de Samuel fracassaram

Os israelitas estavam passando por um momento de turbulência espiritual e governamental, não por causa de Deus, que queria ser o Seu rei, mas por causa da rejeição do povo ao próprio Deus. O povo estava envolvido numa verdadeira idolatria; tenha uma noção disso em 1Sm.7:3,4. Além do mais, a Arca da Aliança tinha sido sequestrada pelos filisteus; havia ameaças constantes destes inimigos e os filhos de Samuel não andavam em caminhos retos.
Tendo Samuel envelhecido, procurou colocar seus dois filhos, Joel e Abias, como sucessores para julgar Israel, mas eles não andavam pelos caminhos de Samuel; antes, se inclinaram à avareza, se corromperam e “perverteram o juízo” (1Sm.8:3); eles foram corruptos qual os filhos de Eli (1Sm.2:12). Joel e Abias eram corruptos, portanto, não serviam a Deus e o povo se indignou tanto contra eles que pediu a mudança da forma de governo, rejeitando ao próprio Deus como rei sobre si (1Sm.8:4-7).
É impossível saber se Samuel foi um mau pai. Seus filhos eram adultos o suficiente para serem responsáveis pelos seus próprios atos. Todavia, os maus caminhos que eles andavam não foram bem vistos pelos anciãos de Israel, e por causa disto foram rejeitados para suceder a Samuel na liderança do povo de Deus. Embora fosse duro ouvir essa rejeição dos representantes principais do povo, os anciãos, Samuel era cônscio de que eles falavam a verdade. Como um líder fiel, sincero, autêntico, que só queria o bem maior do povo de Deus, aceitou essa rejeição sem nenhuma reserva. Para ele, a obra de Deus era muito mais importante do que as benesses empregatícias da família.
“Então, todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações” (1Sm.8:4,5).
Contudo, Samuel, ao contrário de Moisés, esqueceu-se que o povo era de Deus e não dele. Assim, ao constituir seus filhos como juízes, tomou uma deliberação precipitada, sendo, aliás, este o seu grande erro. Samuel deveria ter pedido a Deus que escolhesse um sucessor e não fazer dos seus filhos sucessores.
Temos de admitir que, na atualidade, vivemos uma verdadeira “síndrome de Samuel”. Homens de Deus dedicados, exemplares e irrepreensíveis, em seu profundo zelo pela obra do Senhor, têm caído na armadilha em que caiu o profeta Samuel, e tem procurado resolver a sua sucessão em família, sem qualquer consulta a Deus. Que eles possam ver os prejuízos causados por este gesto de Samuel antes que o povo de Deus se indigne e passe a querer copiar o mundo, escolhendo formas de governo que signifiquem a rejeição do Senhor, como, aliás, infelizmente, já está ocorrendo.
Sem dúvida, faltou a Samuel, e falta aos líderes atuais que vivem essa síndrome, a convicção de que Deus é o principal responsável pela Sua obra e que, portanto, devemos nos cercar da orientação e sabedoria divina para tomarmos decisão a este respeito, não nos esquecendo de que a obra é do Senhor e que, portanto, nenhum líder tem a prerrogativa de ditar, por sua própria conta, o futuro do povo de Deus. Somente Deus sabe, de antemão, o que está para acontecer e, portanto, sabe muito bem quem deve liderar o povo nos anos que estão por vir.
Observação:
Devemos ter cuidado para não culparmos a nós mesmos pelos pecados de nossos filhos. Por outro lado, a paternidade é uma incrível responsabilidade, e nada é mais importante do que moldar e formar a vida de nossos filhos.
Se os seus filhos adultos não seguem a Deus, perceba que você não pode mais controlá-los. Não culpe a si mesmo por algo que não está mais sob sua responsabilidade. Mas, caso eles ainda estejam sob os seus cuidados, saiba que o que você faz e ensina pode afetar profundamente seus filhos e durar para toda a vida (Bíblia de Estudo – Aplicação Pessoal).

3. Rejeitando os planos de Deus (1Sm.8:6-22)

Diante das circunstâncias adversas em que vivia o povo de Israel, naquela época, com uma espiritualidade e um padrão moral totalmente desvirtuado daqueles estabelecidos por Deus, e os inimigos apertando cada vez mais o povo, sem dúvida, o Senhor desejava ser, Ele próprio, o único defensor e governador de Israel. O Senhor desejava que seu povo fosse santo e diferente de todas as outras nações da terra.
Deus tinha os seus planos no futuro para Israel no tocante ao governo do seu povo; Ele já tinha previsto que estabeleceria uma monarquia sobre o seu povo. É tanto que muito tempo antes, à época de Moisés, ele indicou as regras a serem seguidas pelo futuro rei. Ele sabia que esse momento chegaria (Dt.17:14). Assim, no tempo certo, o próprio Deus daria um rei com as qualidades necessárias. Entretanto, os israelitas exigiram um rei fora do tempo, fora dos planos de Deus; não quiseram ser diferentes, preferiram se conformar ao mundo (1Sm.8:20). Samuel se entristeceu com o pedido, mas o Senhor o instruíra a atendê-lo. Afinal, não rejeitaram ao profeta, mas, sim, ao Senhor (1Sm.8:7). Deus permitiu isto, porém, a sua vontade perfeita era que Ele próprio governasse o Seu povo (1Sm.8:7; 12:12).
“Porém essa palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao SENHOR. E disse o SENHOR a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te disser, pois não te tem rejeitado a ti; antes, a mim me tem rejeitado, para eu não reinar sobre ele” (1Sm.8:6,7).
Diante do pedido insistente do povo, Samuel teve que protestar solenemente e explicar o direito do rei. Ele disse que o monarca enriqueceria a si mesmo à custa dos súditos, convocaria rapazes e moças para o serviço militar e doméstico, e praticamente os transformaria em escravos. Samuel, certamente, disse isto com fulcro nos textos sagrados exarados no Livro de Deuteronômio (cf. Dt.17:14-20). As regras em Deuteronômio visavam a conter os males que, sem dúvida, resultariam da monarquia.
A Igreja não pode cometer o mesmo erro de Israel do passado, fazendo escolhas erradas quer na esfera espiritual, quer na esfera humana; para tanto ela deve lançar-se à oração, jejum, consagração e viver uma vida de constante santificação porque sem a qual ninguém verá a Deus.
A Igreja tem de pedir a direção divina para que, através de uma vida santa, Deus estabeleça homens segundo o Seu coração, cheios do Espírito Santo, homens que conhecem a vontade de Deus e que governem bem a Igreja de Jesus Cristo, sendo Ele mesmo a Cabeça da Igreja.
Jesus é a Cabeça da Igreja porque Ele a amou e por ela morreu. Jesus tem o direito de guiar a Igreja por causa de Seu grande sacrifício. Ver Cristo como a Cabeça da Igreja dá segurança àqueles que são membros da Igreja de Cristo, pois os faz lembrar a perfeita direção que dEle recebem. Esta também deve ser uma razão para os não cristãos quererem entrar na Igreja - para que venham submeter-se à liderança infalível de Cristo.

II. A ESCOLHA DE SAUL COMO REI

1. Por que Saul?

Saul foi escolhido para atender uma exigência, a destempo, do povo – “... porque tenho olhado para o meu povo, porque o clamor chegou a mim” (1Sm.9:16). Ele foi escolhido (1Sm.9:15-17), mas o contexto de 1Samuel deixa transparecer que o foco principal era outra pessoa: Davi. Deus, que conhece o interior do ser humano, sabia que Saul não era a pessoa certa para liderar o Seu povo. Saul foi escolhido porque o povo rejeitou o Senhor, e Deus queria mostrar ao povo o quanto era precipitada essa atitude. Deus, naquele momento, atendeu o desejo do povo, mas não correspondia a Sua vontade ter Saul como líder máximo da nação. Na Sua presciência, Ele sabia que Saul era orgulhoso, precipitado, não se arrependia quando era reprendido pelo Senhor, tinha um instinto vingativo, era inconsistente e inconsequente. Na verdade, profundamente analisando, foi o povo que elegeu Saul, e não Deus; Samuel afirmou isso (1Sm.12:12,13).
“E, vendo vós que Naás, rei dos filhos de Amom, vinha contra vós, me dissestes: Não, mas reinará sobre nós um rei; sendo, porém, o SENHOR, vosso Deus, o vosso Rei. Agora, pois, vedes aí o rei que elegestes e que pedistes; e eis que o SENHOR tem posto sobre vós um rei”.
Com dois anos de reinado o Senhor rejeitou a Saul (1Sm.13:14), e disse, inclusive, que seria ele sucedido por alguém escolhido por Ele mesmo; seria escolhido um homem segundo o Seu coração. Para Saul, isto tornou-se um tormento, porquanto o Senhor confirmava que o sucessor ao trono seria alguém escolhido por Deus e não por Saul. Davi foi ungido, e Saul percebeu logo que a sucessão ao trono não viria da sua linhagem. Saul ficou obcecado para matar Davi, pois sabia que este o haveria de suceder, pondo em risco a sua própria casa.
Mesmo depois da morte de Saul, o grande ressentimento que se teve na sua casa foi sempre a circunstância de ter sido retirada do poder em favor de Davi e sua descendência (2Sm.6:20-23; 16:5-8), o que, inclusive, refletiu até mesmo na tribo de Saul (Benjamim), igualmente preterida em favor de Judá (2Sm.20:1), até porque frustrada foi a tentativa de Abner fazer continuar reinando o único filho sobrevivente da casa de Saul, Isbosete (2Sm.2:8; 3:6; 4:1,7,8), apesar de ele bem como Isbosete saberem que isto era contrário à vontade de Deus, o qual tinha ordenado ungir Davi para suceder a Saul.

2. A Unção de Saul por Samuel (1Sm.10:1)

“então, tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e o beijou, e disse: Acaso o Senhor não te ungiu como governador sobre o povo dele, Israel?”.
Quando um rei israelita tomava posse, ele não era apenas coroado, mas ungido também. Primeiramente, vinha a unção. A coroação era o ato político de estabelecer o rei como governador; a unção era o ato religioso de fazer do rei o representante de Deus para o povo.
Um rei era sempre ungido por um sacerdote ou profeta. O óleo especial da unção era uma mistura de óleo de oliva, mirra e outras especiarias. Era despejado sobre a cabeça do rei para simbolizar a presença e o poder do Espírito Santo em sua vida. Esta cerimônia tinha a finalidade de lembrar o rei sobre a sua grande responsabilidade de governar o povo através da sabedoria de Deus, e não da sua.
O que é unção? É a capacitação especial do Espírito Santo para realizar a Sua obra. Quando Saul recebeu a unção, ele foi imediatamente capacitado. Veja o que o texto sagrado afirma:
“Sucedeu, pois, que, virando ele as costas para partir de Samuel, Deus lhe mudou o coração em outro; e todos aqueles sinais aconteceram aquele mesmo dia. E, chegando eles ao outeiro, eis que um rancho de profetas lhes saiu ao encontro; e o Espírito de Deus se apoderou dele, e profetizou no meio deles” (1Sm.10:9,10).
Na Nova Aliança, Deus capacita os seus líderes, e qualquer um que é vocacionado para realizar a Sua obra, com a Unção do Espírito Santo; é o que comumente chamamos de Batismo com o Espírito Santo, que é o revestimento e derramamento de poder do Alto.
“Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós...”(Atos 1:8).
No Senáculo, todos aqueles que estavam esperando o Batismo com o Espirito Santo foram revestidos do poder do Alto para cumprir a Grande Comissão (Mt.28:19,20) estabelecida pelo Senhor.
“E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”(Atos 2:2,3).
Não devemos confundir o batismo com Espírito Santo com o batismo descrito em 1Co.12:13; Gl.3:27; Ef.4:5. Nestes textos sagrados, trata-se de um batismo figurado, apesar de real. Todos aqueles que experimentaram o Novo Nascimento (João 3:5) são batizados (imersos) no corpo místico de Cristo (Hb.12:23; 1Co.12:12ss). Nesse sentido, todos os salvos são batizados pelo Espírito Santo, mas nem todos são batizados com o Espírito Santo.

3. Os sinais de confirmação da Unção (1Sm.10:2-7)

Samuel deu a Saul um sinal triplo a fim de comprovar a autenticidade de sua eleição como líder ungido de Israel e da comissão que Samuel tinha acabado de lhe transmitir. Os sinais foram:
Ø  Saul encontraria as jumentas perdidas de seu pai.
Ø  Ele encontraria três homens no Monte Tabor, um levando três cabritos, outro, três bolos de pão, e o outro, um odre de vinho.
Ø  Ele teria capacidade de profetizar pelo Espírito de Deus.
-No entendimento do Pr. Osiel Gomes, o primeiro sinal representava o trabalho que o rei teria; o segundo apontava para o sustento divino para a tarefa de Saul; e o terceiro, o rei reinaria sob o Espírito de Deus e, assim, salvaria Israel de seus inimigos.
-No entendimento de Robert B. Chisholm Jr., os dois primeiros sinais mostraram o controle providencial de Deus sobre os acontecimentos e o terceiro mostrou que Deus tinha escolhido Saul para ser seu instrumento especial, ungido (capacitado) pelo Espirito Santo para realizar a tarefa que lhe foi confiada.
Uma vez cumprido os sinais e Saul se convencesse da presença de Deus e de seu poder capacitador, ele devia fazer o que fosse apropriado (1Sm.10:7).
“E há de ser que, quando estes sinais te vierem, faze o que achar a tua mão, porque Deus é contigo”.
Embora essa ordem pareça ser tanto vaga, o contexto parece indicar que Samuel tinha em mente uma ação militar. Afinal, a incumbência de Saul consistia em livrar Israel de seus inimigos (cf. 1Sm.9:16), e Samuel faz questão de lembrá-lo da presença de uma guarnição de filisteus em Gibeá (1Sm.10:5 - ARA). A promessa de que o Espírito Santo “virá sobre Saul” (1Sm.10:6) também pode sugerir ação militar.
Uma vez cumprido todos esses sinais, Saul deveria ir a Gilgal e esperar sete dias até Samuel chegar para oferecer sacrifícios (1Sm.10:8). Todos os sinais indicados em 1Smuel 10:2-6 se cumpriram no mesmo dia, mas os acontecimentos em Gilgal ocorreram posteriormente (1Sm.13:7-15).
Não devemos concluir pelo texto de 1Samuel 10:9 que Saul teve uma experiência genuína de conversão. Na verdade, Saul vivia segundo a carne, como sua história posterior deixa claro.
Apesar de não ter havido uma experiência pessoal e salvadora, o Espírito Santo o capacitou para a posição oficial de governante do povo de Deus. Em outras palavras, oficialmente, Saul era um homem de Deus, mas, a nosso ver, não tinha um compromisso pessoal com o Senhor.
Num primeiro momento, podemos perceber que o rei Saul foi ungido pela soberana vontade de Deus; entretanto, ele reinou indiferente aos mandamentos divinos; era um rei falho, egoísta, ciumento e não estava nem aí para obedecer aos mandamentos do Senhor.
Por isso, mas tarde, por causa da desobediência às ordenanças de Deus, ele perdeu a unção, ou seja, perdeu a presença e o poder do Espírito Santo sobre a sua vida; por conseguinte, perdeu a capacidade de governar o povo de Deus. Está escrito:
“e o espírito do senhor se retirou de Saul, e o assombrava um espírito mau, da parte do Senhor” (1Sm.16:14).
Saul foi capacitado pelo Espírito Santo, mas perdeu a unção em sua vida. Aquele Saul, que Samuel derramou um vaso de azeite sobre a cabeça, e o beijou, e disse: “Acaso o Senhor não te ungiu como governador sobre o povo dele, Israel?”(1Sm10:1); aquele Saul, que após ser ungido o Espírito de Deus se apoderou dele e profetizou no meio dos profetas (cf. 1Sm.10:10), perdeu a unção. A unção de Saul, agora, era coisa do passado.
Isto nos traz uma grande lição que deve ser considerada: a unção do Espírito Santo pode ser retirada de nós. Todos nós, servos de Deus, temos a unção do Espírito Santo. Está escrito: “e vós tendes a unção do Santo...” (1João 2:20); mas, esta unção pode ser retirada de nós:
  • Se não estivermos no centro da vontade do Senhor.
  • Se não fizermos aquilo para o qual nos capacitou.
  • Se não nos empenharmos com amor e responsabilidade no reino de Deus.
Você entendeu? A unção pode ser tirada de nós! Perde-se a unção e fica somente o azeite sobre os cabelos! Tem muita gente vivendo somente de sua força física e capacidade intelectual, e do azeite que ainda pensa estar sobre sua cabeça, mas a unção de Deus já se foi há muito tempo.
Na Nova Aliança, os que são vocacionados por Deus para realizar a sua Obra, têm a unção do Espírito Santo – a capacidade que vem do alto para o exercício do santo ministério (Ef.4:11-14). Os que são separados para compor o ministério eclesiástico não é necessário o azeite para ungi-los, basta apenas a imposição de mãos do presbitério (1Tm.4:14; 2Tm.1:6) e ser escolhido de acordo com os preceitos estabelecidos pelo Espírito Santo em 1Tm.3:1-13. Se seguir estas diretrizes impostas pelo Espírito Santo, teremos uma Igreja esplendidamente sadia, forte e unida.

III. O REI QUE O POVO ESCOLHEU

1. Uma escolha pautada na aparência

A aparência nada diz acerca do caráter de uma pessoa. Se quer conhecer uma pessoa, conviva com ela por algum tempo, pois os seus atos lhe dirão quem realmente ela é. As primeiras impressões podem ser enganosas, especialmente quando a imagem criada pela aparência da pessoa é contraditada por suas qualidades e habilidades. Saul representava a imagem visual ideal de um rei, fisicamente, era um homem notável (1Sm.9:2), mas as tendências de seu caráter foram com frequência contrárias às ordens de Deus para um rei. O povo não via nada além que a aparência humana; mas Deus, que sonda todas as coisas, conhecia o coração de Saul.
Mesmo utilizando a aparência para escolher o rei Saul, e não o seu caráter, Deus atendeu ao pedido do povo que desejava um rei, mas seus mandamentos e requisitos permaneceram intactos. O Senhor deveria ser seu verdadeiro Rei, e tanto Saul como o povo deveriam estar sujeitos às suas leis. Nenhuma pessoa está excluída de sua jurisdição. O Senhor é o verdadeiro Rei de cada área de nossa vida. Devemos reconhecer sua soberania e padronizar nossos compromissos, profissão e nosso lar de acordo com seus princípios.

2. Os direitos do novo rei (1Sm.8:10-17)

Deus atendeu o pedido do povo, mas deixou claro quais eram os direitos que o rei teria, ou seja, esse novo posicionamento do povo traria peso sobre ele.
Sociologicamente, olhando para a forma como Israel vivia antes da monarquia, cada família era dirigida pelos seus anciãos; eram todos livres. Vivendo agora sob o domínio de um rei, o povo, que antes não prestava serviço a ninguém e que vivia dominado e orientado pelo Senhor, doravante iria sair dessa vida autônoma para uma vida de submissão, que envolvia alguns aspectos: (a) militar – seriam convocados para a guerra; (b) agrícola – o melhor das colheitas seria para o rei; (c) serviços gerais – as mulheres trabalhariam como perfumistas, cozinheiras, padeiras, etc.; (d) impostos – doravante pagariam impostos ao rei.
A vida livre que antes Israel vivia agora seria marcada pela imposição. A situação iria cada vez mais se intensificar, a ponto de os israelitas voltarem-se para o Senhor (1Sm.8:18). Samuel passa a descrever sobre as exigências reais. Estudiosos falam que essas exigências eram tão pesadas como são as exigências tributárias atuais em nosso país.
O texto diz mais que o rei iria presentear aqueles ministros que servissem bem. O presente, na verdade, era tomar a terra de alguém e entregar a esses servos reais. E mais, tudo que fosse melhor - jovens, bois, frutos, impostos da colheita -, o rei teria direito de tomar. Veja o que Samuel disse ao povo (1Sm.8:10-18):
10.E falou Samuel todas as palavras do SENHOR ao povo, que lhe pedia um rei,
11.e disse: Este será o costume do rei que houver de reinar sobre vós: ele tomará os vossos filhos e os empregará para os seus carros e para seus cavaleiros, para que corram adiante dos seus carros;
12.e os porá por príncipes de milhares e por cinquentenários; e para que lavrem a sua lavoura, e seguem a sua sega, e façam as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros.
13.E tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras.
14.E tomará o melhor das vossas terras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais e os dará aos seus criados.
15.E as vossas sementes e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus eunucos e aos seus criados.
16.Também os vossos criados, e as vossas criadas, e os vossos melhores jovens, e os vossos jumentos tomará e os empregará no seu trabalho.
17.Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe servireis de criados.
18.Então, naquele dia, clamareis por causa do vosso rei, que vós houverdes escolhido; mas o SENHOR não vos ouvirá naquele dia.
Estas exigências descritas por Samuel, agora, iriam fazer parte do novo sistema político que o povo tanto desejava, um padrão praticado pelas nações gentílicas.
Samuel cuidadosamente explicou todas essas consequências negativas de se ter um rei, mas os israelitas se recusaram a dar ouvidos, e exigiram o rei.
“Porém o povo não quis ouvir a voz de Samuel; e disseram: Não, mas haverá sobre nós um rei. E nós também seremos como todas as outras nações; e o nosso rei nos julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas guerras” (1Sm.8:19,20).
Quando você quiser tomar uma importante decisão, veja os pros e os contras cuidadosamente e considere todas as pessoas que podem ser afetadas pela sua decisão. Quando se deseja algo prejudicial é difícil enxergar os problemas que advirão, mas não negligencie os pontos negativos. A menos que tenha uma maneira para lidar com cada um deles, mais tarde eles lhe causarão grandes dificuldades.
O motivo de os israelitas pedirem um rei era para serem como os povos ao seu redor; isto era totalmente oposto ao plano original de Deus. O erro não estava em querer um rei, mas nos motivos desse desejo.
Frequentemente, permitimos que os valores de outras pessoas ou povos ditem as nossas atitudes e comportamentos. Você já fez uma escolha errada porque quis imitar o mundo? Tome cuidado para que os valores de seus amigos ou “heróis” não o afastem da Palavra de Deus. Ao querer ser como os incrédulos, o povo de Deus rumará para o desastre espiritual e moral. Pense nisso!

3. O novo sistema político e o aspecto teológico

Com a instituição da monarquia, a liderança seria centralizada na pessoa do rei. Todavia, Deus não deixaria o seu povo totalmente à mercê do governo humano para estabelecer diretrizes e normas; Ele continuaria cuidando do seu povo, dando as diretrizes corretas ao rei para serem aplicadas, sob pena de responsabilidade governamental. Os reis deveriam governar tendo como medida o reino superior de Deus, com justiça e equidade. Caso não procedessem assim, seriam julgados pelo Senhor.
Deus havia feito um pacto perpétuo com a casa de Davi - ela teria que proceder com equidade -, porém, sempre fracassou, infelizmente, porque o governo humano é falho e inconsistente. O que ficou foi a promessa que, da linhagem de Davi, viria o grande Rei, Jesus, que julgará os povos com justiça (Is.11; Jr.23; Ez.34).
Teologicamente, entende-se que, no novo sistema político, a monarquia, Deus continuaria reinando no cenário humano, mas tendo como representante maior o seu ungido, o qual deveria representar a justiça do Senhor perante seu povo. Caso o rei não seguisse o padrão de justiça estabelecido por Deus, então ele seria castigado; sacerdotes e profetas representariam o conselho de Deus para o governo monárquico. Assim, o Altíssimo conduziria o seu povo pela história. Na oração de Ana, ela descreve Deus como aquele que controla tudo, ou seja, o destino do seu povo e da raça humana. Ele é quem abate e exalta, inclusive é quem dará força ao rei e ao seu ungido (1Sm.2:1-10).

CONCLUSÃO

Devemos ter em nossa mente a certeza de que Deus é quem domina a nossa vida e a história. Por isso, não podemos perdê-lo de vista, jamais. Como povo de Deus da Nova Aliança, devemos nortear a nossa vida, em todos os aspectos, conforme a vontade de Deus; nossas escolhas, decisões, diretrizes devem estar sempre bem alinhadas com os ditames de Deus exarados na Sua Palavra, que é a Carta magna de Deus para a Sua Igreja; todos os líderes das Igrejas Locais devem estar sob as suas determinações, caso contrário, esse líder será responsabilizado pelo Senhor por desobediência. Obedecer é um princípio fundamental para toda a Igreja, incluindo, claro, os líderes; e Deus requer obediência incondicional.
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 80. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Osiel Gomes. O Governo divino em mãos humana. CPAD.
Bíblia da Liderança Cristã. Sociedade Bíblica do Brasil.
Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Roberto B. Chisholm Jr. 1 & 2 Samuel. Vida Nova.


domingo, 20 de outubro de 2019

Aula 04 – A DEGENERAÇÃO DA LIDERANÇA SACERDOTAL – Subsídio


4º Trimestre/2019

Texto Base: 1 Samuel 2:22-25; 3:10-14

“E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Porque ouço de todo este povo os vossos malefícios ” (1Sm.2:23).
1 Samuel 2:
22-Era, porém, Eli já muito velho e ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo o Israel e de como se deitavam com as mulheres que em bandos se ajuntavam à porta da tenda da congregação.
23-E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Porque ouço de todo este povo os vossos malefícios.
24-Não, filhos meus, porque não é boa fama esta que ouço; fazeis transgredir o povo do SENHOR.
25-Pecando homem contra homem, os juízes o julgarão; pecando, porém, o homem contra o SENHOR, quem rogará por ele? Mas não ouviram a voz de seu pai, porque o SENHOR os queria matar.
1 Samuel 3:
10-Então, veio o SENHOR, e ali esteve, e chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel. E disse Samuel: Fala, porque o teu servo ouve.
11-E disse o SENHOR a Samuel: Eis aqui vou eu a fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que ouvir lhe tinirão ambas as orelhas.
12-Naquele mesmo dia, suscitarei contra Eli tudo quanto tenho falado contra a sua casa; começá-lo-ei e acabá-lo-ei.
13-Porque já eu lhe fiz saber que julgarei a sua casa para sempre, pela iniquidade que ele bem conhecia, porque, fazendo-se os seus filhos execráveis, não os repreendeu.
14-Portanto, jurei à casa de Eli que nunca jamais será expiada a iniquidade da casa de Eli com sacrifício nem com oferta de manjares.

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo sobre liderança do povo de Deus, com base nos livros de Samuel, trataremos nesta Aula da degeneração da liderança sacerdotal da casa de Eli, o qual era sacerdote e juiz em Israel. Ele ocupava as posições mais elevadas e de maior responsabilidade que havia entre o povo de Deus. Como homem divinamente escolhido para os sagrados deveres do sacerdócio, e posto no país como a autoridade judiciária mais elevada, era ele olhado como um exemplo, e exercia grande influência sobre as tribos de Israel. Mas, embora tivesse sido designado para governar o povo de Deus, não governava a sua própria casa.
Eli era um pai transigente. Amando a paz e a comodidade, não exercia a sua autoridade para corrigir os maus hábitos e paixões de seus filhos, os quais não corresponderam aos propósitos divinos, e enveredaram pelo caminho do pecado, o que os fez deturpar os deveres do sacerdócio (Lv.21:6,7). Em vez de contender com eles ou castigá-los, submetia-se à sua vontade e os deixava seguir seu próprio caminho. Em vez de considerar a educação de seus filhos como uma das mais importantes de suas responsabilidades, tratou desta questão como se fosse de pequena relevância. Desta feita, Deus agiu de modo punitivo para com os filhos de Eli, pois eles, tendo conhecimento das leis divinas, não andaram por elas, mas degeneraram-se, abandonando as virtudes do verdadeiro sacerdócio.
Eli não foi excluído do dever de restringir e governar os filhos que Deus dera aos seus cuidados. Mas Eli recuou deste dever, porque o mesmo implicava contrariar a vontade de seus filhos, e tornaria necessário puni-los e repudiá-los. Sem pesar as terríveis consequências que se seguiriam à sua conduta, condescendeu com seus filhos no que quer que eles desejassem, e negligenciou o dever de os habilitar para o serviço de Deus e para os deveres da vida, conforme os ditames da Lei de Deus. Desta feita, veio juízo divino sobre os filhos de Eli e sobre toda a sua casa.
Da mesma forma é na liderança do povo de Deus da Nova Aliança. A todo tempo Deus espera que o líder esteja aprovado durante a sua jornada. Para isso, precisa ser vigilante e evitar o pecado a todo custo, viver uma vida santa e sincera com Deus, jamais se desviando dos ensinamentos das Escrituras Sagradas.

I. A DEGENERAÇÃO DOS FILHOS DE ELI

A história dos dois filhos de Eli chama-nos a atenção para o perigo de profanar o que é santo. Quando estamos exercendo um ministério há muito tempo, ou auxiliando em alguma atividade da Igreja Local, corremos o risco de ficarmos insensíveis às coisas espirituais, e tornarmos um burocrata da fé. Naturalmente, não é esta a vontade de Deus. Devemos nos precaver contra a apostasia e as ofensivas de Satanás.

1. Os filhos de Eli não valorizaram o ministério dado por Deus (1Sm.2:12-17)

12.Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial e não conheciam o SENHOR;
13.porquanto o costume daqueles sacerdotes com o povo era que, oferecendo alguém algum sacrifício, vinha o moço do sacerdote, estando-se cozendo a carne, com um garfo de três dentes em sua mão;
14.e dava com ele, na caldeira, ou na panela, ou no caldeirão, ou na marmita; e tudo quanto o garfo tirava o sacerdote tomava para si; assim faziam a todo o Israel que ia ali a Siló.
15.Também, antes de queimarem a gordura, vinha o moço do sacerdote e dizia ao homem que sacrificava: Dá essa carne para assar ao sacerdote, porque não tomará de ti carne cozida, senão crua.
16.E, dizendo-lhe o homem: Queimem primeiro a gordura de hoje, e depois toma para ti quanto desejar a tua alma, então, ele lhe dizia: Não, agora a hás de dar; e, se não, por força a tomarei.
17.Era, pois, muito grande o pecado desses jovens perante o SENHOR, porquanto os homens desprezavam a oferta do SENHOR”.
Eram visíveis e irrefutáveis as transgressões, corrupções e males que assinalaram a conduta de Hofni e Fineias; eles não tinham a devida apreciação ao caráter de Deus nem à santidade de Sua santa Lei. Para eles o Seu serviço era uma coisa comum e passível de ser preterido.
As ofertas pacíficas eram especialmente uma expressão de ações de graças a Deus. Nestas ofertas apenas a gordura devia ser queimada no altar; certa porção especificada era reservada aos sacerdotes, mas a maior parte era devolvida ao ofertante, para ser, por ele e seus amigos, comida em uma festa sacrifical. Assim, todos os corações deveriam ser, com gratidão e fé, encaminhados ao grande Sacrifício que deveria tirar o pecado do mundo.
Hofni e Fineias, que só pensavam em satisfazerem a si próprios, foram acusados de, pelo menos, três pecados:
ü  Não se contentavam com o peito e a coxa, as partes que lhes cabiam (cf. Lv.7:28-34), e roubavam a parte que devia ficar para o ofertante.
ü  Exigiam a carne dos sacrifícios antes de oferecer a gordura a Deus, uma transgressão da Lei de Deus.
ü  Preferiam assar a carne em vez de cozinhá-la, colocando, portanto, seu próprio apetite em primeiro lugar.
Não contentes com a parte que lhes tocava das ofertas pacíficas, estes dois sacerdotes exigiam uma porção adicional; e o grande número desses sacrifícios apresentados nas festas anuais dava a eles oportunidade de se enriquecerem ilicitamente, à custa do povo.
Não somente reclamavam daquilo a que tinham direito, mas recusavam-se mesmo a esperar até que a gordura estivesse queimada como oferta a Deus. Persistiam em exigir qualquer porção que lhes agradasse, e, sendo-lhes negada, ameaçavam tomá-la pela violência.
A irreverência por parte desses sacerdotes logo despojou o serviço do culto ao Senhor de sua significação santa e solene, e o povo "desprezava a oferta do Senhor" (1Sm.2:12-36). O grande Sacrifício antitípico para o qual deveriam olhar em antecipação, não mais era reconhecido.
Os sacrifícios, que apontavam à morte de Cristo, no futuro, estavam destinados a conservar no coração do povo a fé no Redentor vindouro; daí a grande importância que as determinações do Senhor, com relação aos mesmos, fossem estritamente atendidas. Mas, Hofni e Fineias desprezavam tudo isso. Como expressa o texto sagrado, “era, pois, muito grande o pecado desses jovens perante o SENHOR, porquanto os homens desprezavam a oferta do SENHOR” (1Sm.2:17).
Desde a infância, Hofni e Fineias haviam se acostumado ao santuário e aos seus serviços, mas em vez de se tornarem mais reverentes perderam toda a intuição da santidade e significação do mesmo. O pai deles, Eli, não lhes corrigira a falta de reverência para com a sua autoridade, não impedira o desrespeito deles pelos serviços solenes do santuário, e, quando chegaram à maioridade, estavam cheios dos frutos mortíferos do ceticismo e da rebelião. Logo, o Senhor não demoraria em derramar a sua ira sobre eles e sobre toda a Casa de Eli (1Sm.3:12).
É necessário fazer a Obra do Senhor com zelo, porque fazer a Obra de Deus relaxadamente é apropriar-se de maldição. Está escrito: “Maldito aquele que fizer a obra do SENHOR relaxadamente...” (Jr.48:10).

2. Os filhos de Eli trocaram o Senhor pelos prazeres do mundo (1Sm.2:22)

“Era, porém, Eli já muito velho e ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo o Israel e de como se deitavam com as mulheres que em bandos se ajuntavam à porta da tenda da congregação”.
23.E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Porque ouço de todo este povo os vossos malefícios.
24.Não, filhos meus, porque não é boa fama esta que ouço; fazeis transgredir o povo do SENHOR.
Hofni e Fineias, sacerdotes infiéis, também transgrediam a lei de Deus e desonravam o ofício sagrado pelas suas práticas vis e degradantes; eles trocaram o Senhor pelos prazeres do mundo; contudo, não foram impedidos de ministrar no Tabernáculo de Deus, e continuaram poluindo a Casa de Deus.
Muitos dentre o povo, cheios de indignação ante o deplorável procedimento de Hofni e Finéias, deixaram de subir ao lugar designado para o culto ao Senhor. Assim, o serviço que Deus ordenara era desprezado e negligenciado porque se achava ligado com os pecados de homens ímpios, ao mesmo tempo em que aqueles cujo coração era inclinado ao mal se tornavam audazes no pecado. A impiedade, a dissolução, e mesmo a idolatria, prevaleciam em terrível extensão. Eli só reprendeu seus filhos quando ouviu relatos da imoralidade deles, mas era tarde demais para uma palavra branda de censura ter qualquer efeito.
Tendo em vista que esses acontecimentos ocorreram no período dos juízes, não surpreende ver o sacerdócio corrompido pela decadência moral da época. Os seus corações estavam endurecidos e contaminados com o mundo imoral e degradante da época, e, como juízo, Deus também os endureceu, como havia feito com Faraó em outros tempos, pois havia decidido destruí-los (1Sm.2:25).
A cobiça e os prazeres do mundo são muito fortes em nós por causa do pecado, mas Deus dá uma graça maior. A graça de Deus é maior do que as nossas paixões. Só que Deus não dá essa graça a todos. Ele dá essa graça aos humildes, aos piedosos, porque ele resiste aos soberbos, aos arrogantes, aos autossuficientes, aos ímpios, mas os que se aproximam dEle com humildade receberão essa graça poderosa para poder vencer o mundanismo (Tg.4:6).
“... Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes”.

3. As consequências para quem peca contra Deus

As Escrituras Sagradas são claras com relação as consequências do pecado contra Deus. Desde a queda de Adão e Eva, as consequências são desastrosas, tanto para quem peca como para sua posteridade.
O Senhor não tolera aqueles que desonram sua autoridade como Rei, Senhor, Deus, e isso incluem até mesmo aqueles que prestam serviços de liderança na Casa de Deus, como Eli, que aprovava passivamente o desrespeito de seus filhos, não os confrontando de modo suficientemente enérgico. Por causa disso, o Senhor chegou a cancelar sua promessa condicional a Eli e anunciou que trocaria os seus descendentes por outros mais dignos (cf. 1Sm.2:35).
“E eu suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o meu coração e a minha alma, e eu lhe edificarei uma casa firme, e andará sempre diante do meu ungido”.
Esse episódio nos faz entender que uma posição privilegiada diante de Deus não isenta o indivíduo da disciplina de Deus e de que a desobediência pode fazer uma benção prometida desaparecer; veja o caso de Saul, que perdeu a presença constante do Espírito Santo porque desobedeceu às ordenanças do Senhor. Eli teve razão ao dizer as seguintes palavras aos seus filhos:
“Pecando homem contra homem, os juízes o julgarão; pecando, porém, o homem contra o SENHOR, quem rogará por ele? Mas não ouviram a voz de seu pai, porque o SENHOR os queria Matar” (1Sm.2:25).
Para os pecados dos filhos de Eli, não haveria tribunal humano para julgá-los, pois eles pecaram consciente e deliberadamente contra Deus. Como eles não se arrependeram, o juízo divino foi inevitável. O Senhor é fiel e digno de confiança, e espera que seus servos sejam leais e obedientes a Ele.
Ser chamado para um cargo especial, como era o caso de Eli e sua família, não isenta ninguém da disciplina de Deus; está escrito que a quem muito é dado, muito será exigido (Am.3:2; Lc.12:48).
Por vezes, Deus faz promessas àqueles a quem escolhe, mas, em muitas ocasiões, essas promessas são condicionais à lealdade contínua de quem as recebe. Em vez de serem garantias que dão a quem as recebe permissão de agir como desejar, essas promessas devem motivar a obediência contínua. Devemos ser cônscios de que Deus não tolera o pecado, principalmente aos que ensinam e estão em posição de liderança (Tg.3:1).
“Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo”.

II. A SENTENÇA DO JUÍZO DE DEUS

Eli errou grandemente em permitir que seus filhos ministrassem no ofício santo. Desculpando a sua conduta, sob um pretexto ou outro, tornou-se cego aos seus pecados; mas chegaram, finalmente, a um ponto em que não mais ele podia cerrar os olhos aos crimes dos filhos.
O povo se queixava das ações degradantes e imorais de Hofni e Fineias, e o sumo sacerdote ficou pesaroso e angustiado por causa disso. Não ousou permanecer em silêncio por mais tempo. Mas, seus filhos haviam crescidos sem a ideia de consideração para com qualquer pessoa a não ser para consigo mesmos; e agora não se preocupavam com quem quer que fosse. Viam a mágoa do pai, mas seus duros corações não se comoviam; ouviam-lhe as brandas admoestações, mas não se impressionavam, tampouco modificavam suas más condutas, embora advertidos das consequências de seus pecados.
Se Eli houvesse tratado com justiça seus ímpios filhos, teriam sido rejeitados do ofício sacerdotal, e punidos de morte. Temendo assim trazer a vergonha e a condenação pública a eles, manteve-os, indevidamente, nos mais sagrados cargos de confiança. Permitiu também que misturassem sua corrupção com o santo serviço de Deus e impusessem ao santo rito cultual um dano que os anos não poderiam apagar. Quando, porém, Eli negligenciou sua obra, Deus tomou a questão em Suas mãos, e aplicou o devido juízo.

1. Samuel toma ciência do juízo de Deus sobre a casa de Eli (1Sm.3:10-14)

“Então, veio o SENHOR, e ali esteve, e chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel. E disse Samuel: Fala, porque o teu servo ouve.
E disse o SENHOR a Samuel: Eis aqui vou eu a fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que ouvir lhe tinirão ambas as orelhas.
Naquele mesmo dia, suscitarei contra Eli tudo quanto tenho falado contra a sua casa; começá-lo-ei e acabá-lo-ei.
Porque já eu lhe fiz saber que julgarei a sua casa para sempre, pela iniquidade que ele bem conhecia, porque, fazendo-se os seus filhos execráveis, não os repreendeu.
Portanto, jurei à casa de Eli que nunca jamais será expiada a iniquidade da casa de Eli com sacrifício nem com oferta de manjares”.
Certa madrugada, pouco antes do amanhecer, Samuel ouviu uma voz chamá-lo. Pensou que era Eli, mas o sacerdote não o havia chamado. Samuel ainda não conhecia o Senhor no sentido de que nunca havia recebido dele nenhuma revelação pessoal (1Sm.3:7). Depois de Samuel ouvir a voz mais duas vezes, Eli percebeu que era o Senhor quem estava chamando o menino. Por isso, o instruiu a dizer as seguintes palavras, caso ouvisse a voz novamente: “Fala, Senhor, porque o teu servo ouve”. Quando o Senhor chamou Samuel pela quarta vez, ele respondeu: “Fala, porque o teu servo ouve” (1Sm.3:10).
A mensagem do Senhor confirmava o juízo proferido anteriormente contra Eli e sua casa (1Sm.2:27-36), e é possível que incluísse a derrota de Israel e a captura da Arca. Eli era tão culpado quanto os filhos, pois não os refreara nem insistira para que abandonassem o pecado. Em vez de serem reprendidos, deveriam ter aplicado a pena capital, conforme a Lei prescrevia, por haverem cometido sacrilégio nos ritos sagrados do culto ao Senhor. Nenhum sacrifício poderia expiar tamanha iniquidade; sua destruição fora selada e confirmada a Eli pela boca de duas testemunhas: o homem de Deus (1Sm.2:27-36) e o jovem profeta Samuel (1Sm.3:14).
A princípio, Samuel teve medo de relatar a Eli o que o Senhor havia dito, mas sob juramento solene, revelou ao sacerdote o juízo iminente. Eli recebeu a notícia em atitude de submissão. Sem dúvida, entendeu que a sentença de Deus era justa. Porventura, depois de exterminar os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, por sua impiedade (Lv.10:1,2), Deus deixaria impune Hofni e Fineias?
Ao repetir para Samuel a mensagem proferida por intermédio do “homem de Deus” (1Sm.2:27), o Senhor colocou Samuel no mesmo nível desse profeta. Ademais, não há indicação alguma de que Samuel tivesse conhecimento do anuncio anterior de julgamento. A repetição básica dessa mensagem por meio de Samuel, que, obviamente, vivencia um encontro teofânico com o Senhor, confirma para Eli a chamada de Samuel, bem como o caráter inevitável do julgamento anunciado.

2. A sentença proferida

Um homem de Deus, cujo nome não é citado, proferiu a sentença:
30.Portanto, diz o SENHOR, Deus de Israel: Na verdade, tinha dito eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente; porém, agora, diz o SENHOR: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram honrarei, porém os que me desprezam serão envilecidos.
31.Eis que vêm dias em que cortarei o teu braço e o braço da casa de teu pai, para que não haja mais velho algum em tua casa.
32.E verás o aperto da morada de Deus, em lugar de todo o bem que houvera de fazer a Israel; nem haverá por todos os dias velho algum em tua casa.
33.O homem, porém, que eu te não desarraigar do meu altar será para te consumir os olhos e para te entristecer a alma; e toda a multidão da tua casa morrerá quando chegar à idade varonil.
34.E isto te será por sinal, a saber, o que sobrevirá a teus dois filhos, a Hofni e a Finéias: que ambos morrerão no mesmo dia.
35.E eu suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o meu coração e a minha alma, e eu lhe edificarei uma casa firme, e andará sempre diante do meu ungido.
36.E será que todo aquele que ficar de resto da tua casa virá a inclinar-se diante dele, por uma moeda de prata e por um bocado de pão, e dirá: Rogo-te que me admitas a algum ministério sacerdotal, para que possa comer um pedaço de pão.
Eli, prontamente, recebeu a mensagem que veio da parte de Deus – “...E disse ele: É o SENHOR; faça o que bem parecer aos seus olhos” (1Sm.3:18).
Eli e seus filhos foram avaliados, e o Senhor os encontrou inteiramente indignos da exaltada posição de sacerdotes ao Seu serviço; e Deus declarou: "Longe de Mim" (1Sm.2:30).
A promessa divina de perpetuidade do sacerdócio Araônico partia do pressuposto de que os sacerdotes seriam homens de caráter irrepreensível. Todavia, em razão da perversidade dos filhos de Eli e de sua casa, o Senhor não permitiria mais que servissem no santo ofício sacerdotal. O Senhor não pôde cumprir o bem que tencionara fazer-lhes, porque deixaram de desempenhar a sua parte.
Nenhum membro da família de Eli chegaria a uma idade avançada; o santuário em Siló entraria em declínio, e sua posteridade seria marcada por tristeza e vergonha. Além disso, Hofni e Fineias morreriam no mesmo dia, um sinal de que Deus executaria o seu juízo de forma cabal.

3. A consumação da sentença e a desgraça da família de Eli

A sentença foi executada por intermédio da invasão dos filisteus à terra de Israel. Ali, além de muita matança, houve a captura da Arca da Aliança, símbolo da presença divina no meio do povo. Os filhos de Eli foram mortos (1Sm.2:34; 4:11). Eli, ao saber disso, e principalmente de que a Arca havia sido levada, caiu e quebrou o pescoço; de imediato, sua nora entrou em trabalho de parto; logo após, ela deu o nome ao seu filho, “Icabode” - a glória de Israel se foi -, a fim de marcar a tragédia que se abateu contra aquela casa (1Sm.4:18-22); em seguida, ela morreu.
Algum tempo depois, no reinado de Saul, Aimeleque, que era o sumo sacerdote de Nobe, e seus filhos (com exceção de Abiatar) foram assassinados por Saul (1Sm.2:31; 22:16-20). Abiatar serviu a Davi durante todo o seu reinado, mas foi expulso do sacerdócio no reinado de Salomão por seguir Adonias (1Sm.2:32,33; 1Rs.2:27); a partir daí, a casa de Eli passou a ser preterida (1Rs.1:7,8; 2:27,35). Os descendentes de Eli, por sua vez, suplicariam o exercício da função sacerdotal não com o intuito de servir ao Senhor, mas simplesmente para ter o que comer (1Sm.2:36).
Eli era da casa de Itamar, e quando Salomão removeu Abiatar o sacerdócio voltou à casa de Eleazar, onde deveria ter ficado desde o começo. O “sacerdote fiel” prometido em 1Sm.2:35 é Zadoque, da casa de Eleazar, que ministrou no tempo de Davi e de Salomão. Seu sacerdócio permanecerá, mesmo durante o reino milenar de Cristo (Ez.44:15). Para muitos, o sacerdote fiel em 1Sm.2:35 é uma alusão messiânica, em parte por causa da expressão para sempre.
“As predições do profeta desconhecido e de Samuel se cumpriram na totalidade, ainda que levassem aproximadamente 130 anos para seu desfecho. Isso nos mostra que o pecado contra Deus tem a sua sentença, o seu juízo. A Bíblia revela que o salário do pecado é a morte (Rm.6:3)” (LBM.CPAD).

III. AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO

1. O preço do pecado

O pecado parece gratuito, mas não é; o pecado é caro, e o prazo de pagamento é a eternidade. 
·         O preço do fruto proibido que Adão e Eva comeram foi muito alto; seus efeitos ainda hoje repercutem com grande intensidade. O preço do pecado de Adão e Eva foi distribuído em várias parcelas: vergonha, medo, culpa, perda imediata da comunhão com Deus, expulsão do paraíso, bloqueio do acesso à árvore da vida, homicídio, doenças, trabalho fatigante e infrutífero, morte física deles, sem contar com as consequências no âmbito espiritual.
·         Esaú comeu as lentilhas e saiu; tudo parecia normal, mas a cobrança veio depois: perdeu a bênção da primogenitura.
·         Sansão se prostituiu diversas vezes; ele se levantava e saía como se nada tivesse acontecido, mas a cobrança veio: foi humilhado perante os seus inimigos de forma vergonhosa.
·         Os filhos de Arão, entrava na Casa de Deus como se fosse na casa deles; certa feita, trouxeram fogo estranho sobre o Altar de ouro; e aí veio a cobrança: a morte súbita, física e espiritual (Lv.10:1,2).
·         Acã e sua família perderam a vida por causa do egoísmo (Js.7:24,25).
·         Ananias e Safira foram mortos por causa da mentira (At.5:1-11).
·         Os filhos de Eli, Hofni e Fineias, abusaram do ofício que lhes era peculiar; cometeram até prostituição à porta da casa de Deus. E aí veio a cobrança: a morte deles, de toda sua casa, e perdeu para sempre a proeminência sacerdotal.
O pecado pode ser até perdoado, porém, as consequências são inevitáveis. Veja o caso de Davi, o qual Deus teve misericórdia dele, perdoando-o, mas as consequências foram impiedosas, e ele teve que enfrentá-las durante o resto de sua vida.
O pecado contamina e causa maldade e precisa ser castigada a pessoa que o cometeu, mas, em Jesus Cristo, a pessoa é salva e está livre do poder do pecado (Rm.6:23), e em muito breve, para sempre, livre da presença do pecado (1Co.15:42-57).
“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor”.

2. Os males da falta de repreensão

Repreender o filho quando necessário tem muito a ver com disciplina. Através da disciplina, o filho aprende a estabelecer os limites da sua liberdade. Se Eli tivesse dado disciplina aos seus filhos, certamente, não ultrapassaria os limites dos padrões morais; enxergariam a linha divisória entre o certo e o errado. Os propósitos da disciplina são: desenvolver o senso de respeito à autoridade; estabelecer a prática da obediência; formar bons hábitos; corrigir maus hábitos.
Os pais têm a responsabilidade vital de disciplinar os seus filhos, contribuindo assim para que eles cresçam em harmonia com a vontade de Deus e com os homens. Disciplinar significa literalmente “tornar discípulos”. Deste modo, toda autêntica autoridade para disciplinar os filhos, procede de Deus. Disciplinar os filhos não é puni-los impiedosamente; é corrigi-los, e isso implica amor. Está escrito:
“Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele”(Pv.22:6).
“A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma, envergonha a sua mãe”(Pv.29:15).
Por não atentar para a repreensão dos seus filhos, a casa de Eli padeceu. Eli não dirigiu sua casa segundo as regras de Deus para o governo da família. Seguiu seu próprio juízo. O extremoso pai deixou de tomar em consideração as faltas e pecados dos filhos, em sua meninice, comprazendo-se com o pensamento de que após algum tempo eles perderiam suas más tendências.
Muitos estão hoje a cometer erro semelhante; julgam que conhecem um meio melhor para educar os filhos do que aquele que Deus deu em Sua Palavra; alimentam neles más tendências, insistindo nesta desculpa: "São novos demais para serem castigados! Esperemos que fiquem mais velhos, e possamos entender-nos com eles!". Assim, os maus hábitos são deixados a se fortalecerem e os filhos crescem sem sujeição, com traços de caráter que são para eles uma maldição por toda a vida, e que podem reproduzir-se em outros.
Não há maior desgraça para os lares do que permitir que as crianças, adolescentes e jovens sigam o seu próprio caminho. Quando os pais tomam em consideração todo desejo dos filhos, e com estes condescendem no que sabem não ser para o seu bem, os filhos logo perdem todo o respeito para com os pais, perdem toda a consideração pela autoridade de Deus e da liderança humana, e são levados cativos à vontade de Satanás.
A influência de uma família mal dirigida é dilatada, e desastrosa a toda a sociedade. Acumula uma onda de males que afeta famílias, a Igreja Local, comunidades e governos.
A Palavra de Deus nos mostra que, se os filhos não forem bem encaminhados, no caminho do Senhor (Pv.29:15), se tornarão uma vergonha aos seus pais e, se persistirem no erro, sofrerão consequências gravíssimas. Portanto, além de orarmos por nossos filhos, precisamos conduzi-los à comunhão com Deus (Dt.6:4-9), para, enfim, dizermos: “eu e a minha casa serviremos ao SENHOR” (Js.24:15) (LBM.CPAD).

3. Pecados voluntários e deliberados não têm perdão

Admoesta o escritor de Hebreus 10:26.27:
“Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo e ardor de fogo, que há de devorar os adversários”.
Os filhos de Eli pecaram voluntaria e deliberadamente; zombaram do Senhor, fizeram o povo pecar e desprezar o culto ao Senhor; por isso, o Senhor os condenou à morte física e espiritual; não houve misericórdia para os filhos de Eli.
Através do sacrifício de Jesus Cristo, foi criada a possibilidade de toda a humanidade voltar a estabelecer uma relação correta com Deus. Sendo assim, todo aquele que aceitar Jesus como Senhor e Salvador, será declarado justo e capacitado a viver de forma justa (Rom.5:1,2). Porém, Deus exige de todo o ser humano, um comportamento condizente com a fé que ele diz professar.
A partir do momento em que a pessoa aceita Jesus, ele passa a ter um compromisso sério com Deus, e os frutos produzidos pela sua vida devem ser condizentes com a sua fé, por isso Tiago diz que a “fé sem obras é morta”. Mas, há crente que não atenta para a grande responsabilidade que está colocada sobre os seus ombros.
O sacrifício de Jesus não pode ser depreciado, repudiado ou desprezado, pelo pecado cometido de forma voluntária, deliberada e consciente, sob pena de não haver mais perdão para quem agir assim.
Os versículos supracitados afirmam que se o homem continuar a pecar propositalmente, depois de conhecer a Palavra de Deus, já não há mais sacrifício que possa tirar o seu pecado; pelo contrário, resta apenas o medo do que acontecerá, medo do julgamento e do fogo violento que destruirá os que são contra Deus. Estamos falando do pecado da apostasia, que se caracteriza pelo abandono da verdade de Deus, a fé, de forma deliberada, espontânea e consciente, mesmo conhecendo os ditames da Palavra de Deus.
É importante salientar, que o “conhecimento da verdade” referido no texto, não é aquele superficial ou básico, que alguns crentes podem ter, mas aquele onde não existe mais nenhuma dúvida a respeito das Escrituras Sagradas.
É duro, mas a Palavra de Deus é muito clara a respeito desse assunto, e que Deus tenha misericórdia daqueles que estão banalizando a fé em Cristo e vivendo como vive o ímpio, de forma voluntaria e deliberada, não se importando mais com as consequências deste terrível pecado, que é a apostasia. Que Deus tenha misericórdia das pessoas que estão agindo assim.

CONCLUSÃO

Eli, juiz e sacerdote do Senhor, falhou na disciplina dos seus filhos e acabou criando rebeldes espirituais, e levou a sua linhagem sacerdotal à degeneração. Como um sacerdote, que nem Eli, pôde errar o alvo? Eis alguns erros fatais cometidos:
Ø  Eli enfatizou o ensino aos outros, mas não aos familiares.
Ø  Eli pensava que os seus dois filhos dariam conta de si mesmo pelo fato de viverem na Casa de Deus.
Ø  Eli falhou em viver no lar aquilo que ensinava no trabalho.
Ø  Eli ocupou-se tanto no seu ministério sacerdotal, que não via as próprias faltas.
Eli perdeu a sua credibilidade, o seu trabalho e, posteriormente, a sua vida. As Escrituras ensinam que, se não conduzimos fielmente os nossos próprios familiares, faltam-nos qualificações de liderar fora do lar (1Tm.3:4,5). Em outras palavras, se não funciona em casa, não leve a situação adiante. Pense nisso!
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 80. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Osiel Gomes. O Governo divino em mãos humana. CPAD.
Bíblia da Liderança Cristã. Sociedade Bíblica do Brasil.
Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Roberto B. Chisholm Jr. 1 & 2 Samuel. Vida Nova.