terça-feira, 31 de março de 2020

Aula 01 - CARTA AOS EFÉSIOS – SAUDAÇÃO AOS DESTINATÁRIOS


2º Trimestre/2020
Texto Base: Ef.1:1,2; Atos 19:1-7
05/04/2020
“A vós graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo” (Ef.1:2).

Efésios 1:
1.Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estão em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus:
2.a vós graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo.
Atos 19:
1.E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas as regiões superiores, chegou a Éfeso e, achando ali alguns discípulos,
2.disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo.
3.Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados, então? E eles disseram: No batismo de João.
4.Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo.
5.E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus.
6.E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas e profetizavam.
7.Estes eram, ao todo, uns doze varões.

INTRODUÇÃO

Estamos iniciando mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical, esta que é a mais icônica instituição discipuladora, ao longo de sua existência, de forma contínua, das Assembleias de Deus no Brasil, quiçá, do mundo; milhões de pessoas foram e estão sendo beneficiadas espiritualmente e moldado o seu caráter nos padrões que o Espírito Santo requer ao um verdadeiro cristão. Sem dúvida, a EBD tem cumprido cabalmente a grande comissão estabelecida por Jesus Cristo, antes de Sua ascensão, e que foi registrada por Mateus – “Portanto, ide, ensinai todas as nações [...]; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado[...]” (Mt.28:19,20). Como bem diz o Pr. Caramuru Afonso Francisco, “A EBD é a igreja reunida, ensinando enquanto evangeliza, e evangelizando enquanto ensina”.
Neste Trimestre letivo trataremos do seguinte tema: “A Igreja Eleita – Redimida pelo Sangue de Cristo e selada com o Espírito Santo da Promessa”. Teremos como base a Epístola aos Efésios, esta que é considerada pelos estudiosos da Bíblia como uma síntese de todo o cristianismo. As principais doutrinas básicas da Igreja de Cristo estão contidas neste inspirado compêndio doutrinário, como a que estudaremos neste trimestre letivo – a Eleição da Igreja. Nesta obra prima, Paulo é contundente e claro em suas palavras: a Igreja, o povo de Deus da Nova Aliança, é a Eleita de Deus em Cristo Jesus. Enfim, Efésios é uma combinação da doutrina cristã (capítulos 1 a 3) com o dever cristão (capítulos 4 a 6).
Devo acreditar que os estudos deste trimestre nos trarão revelações espirituais que devem conduzir-nos à verdadeira adoração, gratidão, e maior maturidade cristã e espiritual. Nesta primeira Aula trataremos dos aspectos introdutórios da Epístola, tais como: autoria, data que foi escrita, os destinatários, propósito e mensagem.

CAPA DO TRIMESTRE

A capa do trimestre traz um rolo selado, sendo este selo vermelho com uma figura de um leão coroado, a nos mostrar que a escolha divina foi de salvar o ser humano pelo sangue de Jesus, o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi (Ap.5:5), bem como que, por meio de Cristo, passamos a ser propriedade do Senhor (1Co.1:30), sendo, por isso, selados pelo Espírito Santo, algo que também é afirmado pelo apóstolo nesta Epístola aos efésios (Ef.1:13).
Além da cor vermelha do selo, há, também a coroa de espinhos, a nos lembrar o sacrifício de Cristo, que tomou o lugar do pecador, para satisfazer a justiça divina e, deste modo, permitir que passasse a existir um povo de Deus na face da Terra, que se aproxima de Deus pelo derramamento do sangue de Cristo (Ef.2:13). Na carta aos Efésios é dito claramente que a redenção do homem vem pelo sangue de Jesus (Ef.1:7) (Fonte: PortalEBD).

DIVISÃO EM BLOCOS

O trimestre está dividido em três blocos, a saber:
-Primeiro bloco (Lição 01). Neste bloco é feita a apresentação da Epístola como também uma análise das saudações iniciais, com a identificação do remetente e dos destinatários.
-Segundo bloco (Lições 2 a 10). As lições deste bloco dizem respeito à parte doutrinária da Epístola, onde são registrados os ensinamentos relacionados com o que significa ser Igreja, as bênçãos de que é alvo, o significado da salvação, a natureza da Igreja, além da oração que Paulo faz em favor da Igreja.
-Terceiro bloco (Lições 11 a 13). As lições deste bloco dizem respeito à parte prática da Epístola, onde é registrada a conduta que devem ter os salvos em Cristo Jesus em sua peregrinação terrena (Fonte: PortalEBD).

I. AUTORIA E DATA

1. Autoria

Sem dúvida, esta Epístola reclama a autoria paulina de forma explícita (Ef.1:1; 3:1). Praticamente todos os eruditos, desde o primeiro século, apontam o apóstolo Paulo como o autor de Efésios. Já no segundo século depois de Cristo, os pais da igreja atribuíram esta Epístola a Paulo de Tarso. Inácio de Antioquia (martirizado em 115 d.C.) conhecia a Epístola aos Efésios e atribuía a sua autoria ao apóstolo dos gentios, que também é sustentada por outros líderes cristãos do segundo século, incluindo Irineu de Lyon, Clemente de Alexandria e Tertuliano de Cartago. O próprio apóstolo se apresenta como o remetente de Efésios - “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estão em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus” (Ef.1:1).
Muitas expressões que são comuns em outras Epístolas de sua autoria são encontradas com frequência em Efésio. A linguagem e o estilo de Efésios são diferentes em alguns aspectos quando comparadas com outras epístolas/cartas de Paulo; ainda assim, parecem-se tanto com Paulo que mesmo se a Epístola não tivesse o seu nome, seria difícil imaginar que a Igreja creditasse sua autoria a qualquer outra pessoa.

2. A assinatura apostólica

O Novo Testamento contém 13(treze) Epístolas/Cartas escritas pelo apóstolo Paulo, e em todas elas o autor deixou a sua assinatura. Efésios, em alguns sentidos, é uma Epístola típica de Paulo: contém a saudação, as ações de graça, o desenvolvimento da doutrina seguida de sua aplicação e as saudações finais. Por duas vezes, o autor diz que se chama Paulo (Ef.1:1; 3:1), e o conteúdo é tão parecido com o da Epístola aos Colossenses (em alguns aspectos) que dá a entender que ambas devem ter sido escritas quase ao mesmo tempo. Portanto, a estrutura de Efésios é tipicamente paulina e a sua assinatura apostólica é assaz perceptível e inconfundível.
O pastor Douglas Baptista chama a nossa atenção para uma curiosidade na saudação da Epístola aos Efésios, o que ocorre em todas as demais epístolas paulinas: “a identificação pelo seu nome romano, Paulo, e nunca pelo nome judeu, Saulo, provavelmente por considerar que Paulo era mais apropriado para evangelizar o mundo gentílico (Rm.11:13). Outro detalhe relevante é que, em sete das suas Epístolas (1Coríntios; 2Cocoríntios; Gálatas; Efésios; Colossenses; 1Timóteo e 2Timóteo), Paulo reivindica explicitamente a sua autoridade apostólica com a ressalva: ‘pela vontade de Deus’. Isso significa que o seu chamado e apostolado ‘não era da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos’ (Gl.1:1)” (Douglas Baptista. A Igreja eleita).

3. Uma Epístola da prisão

Pelo que se percebe pelos próprios escritos de Paulo, ele escreveu 05(cinco) Epístolas na prisão: sendo 04 (quatro) por ocasião da primeira prisão e 01(uma) por ocasião da segunda prisão em Roma, sendo esta a última que ele escreveu, na antessala do martírio.
Paulo foi preso várias vezes. O Livro de Atos revela sua prisão em Filipos, em Jerusalém, em Cesaréia e em Roma. Paulo ficou preso boa parte da sua atividade apostólica. Ele podia estar encarcerado, mas a Palavra de Deus não estava algemada, como ele mesmo afirmou: “pelo que sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus não está Presa” (2Tm2:9). Ele era um embaixador em cadeias; jamais se sentiu prisioneiro de homens, mas sempre prisioneiro de Cristo.
Epístolas da Primeira Prisão, em Roma: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom
Depois de três meses que estava na Grécia, o apóstolo resolveu voltar à Judeia. Nesse contexto houve uma revolta popular em Jerusalém que culminou na prisão de Paulo em Cesareia por dois anos (Atos 20:1-24:27). Por ser cidadão romano, Paulo solicitou uma audiência com o imperador.
Após apelar para o tribunal de César, o apóstolo foi conduzido a Roma, onde permaneceu em prisão domiciliar por dois anos inteiros (Atos 28:30). A julgar pelas condições favoráveis na casa alugada para esse fim, tais como: ausência de restrições para receber visitas e o não cerceamento da liberdade para escrever e ensinar (Atos 28:31), ratifica-se que a prisão em Roma foi o local de redação das chamadas “Epístolas da Prisão”.
Foi durante esse cárcere em Roma que provavelmente Paulo escreveu as Epístolas aos Efésios, Filipenses, Colossenses e a Carta a Filemom. Por isso, estas são chamadas de “epístolas da prisão”. Alguns comentaristas sugerem que pelo menos uma dessas Epístolas talvez tenha sido escrita durante o tempo de prisão em Cesareia.
Epístola da Segunda Prisão, em Roma: 2Timóteo
O texto bíblico não explica exatamente o que aconteceu com Paulo após sua primeira prisão em Roma, registrada no final do livro de Atos dos Apóstolos. Provavelmente, ele foi libertado e talvez tenha saído numa nova viagem missionária; é possível que ele tenha conseguido chegar até a Espanha e depois visitado as cidades da região do mar Egeu (cf. Rm.15:24; 1Tm.1:3; Tito 1:5; 3:12). Caso isto esteja correto, então é possível que as chamadas epístolas pastorais (1Timóteo, Tito e 2Timóteo) tenham sido escritas durante esse período final de seu ministério.
Primeiramente, ele teria escrito as Epístolas de 1Timóteo e Tito; depois, já encarcerado novamente em Roma, na metade da década de 60 d.C., conforme afirma a tradição, ele teria escrito a Epístola de 2Timóteo, pouco antes de ser executado (cf.2Tm.4:6-18). Certo é que, depois de enxergar tamanha dedicação do apóstolo à causa do Evangelho, facilmente podemos entender a conclusão que ele próprio fez acerca de sua vida e ministério, ao dizer: “Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé” (2Tm.4:7).
Este grande bandeirante do Evangelho, escreveu estas Epístolas de sua prisão em Roma; mas, antes de chegar à capital do império, Paulo já tinha passado por provas e tribulações terríveis: ele tinha sido perseguido em Damasco, rejeitado em Jerusalém e esquecido em Tarso; já tinha sido apedrejado em Listra, açoitado em Filipos, escorraçado de Tessalônica, enxotado de Beréia, chamado de tagarela em Atenas e de impostor em Corinto; já tinha sido fustigado três vezes com varas pelos romanos e recebido 195 açoites dos judeus (2Co.11:24,25); enfrentou feras em Éfeso, foi preso em Jerusalém e acusado em Cesareia; enfrentou um naufrágio avassalador ao dirigir-se a Roma e foi picado por uma cobra altamente venenosa em Malta.
O velho apóstolo chegou a Roma preso e algemado. Ficou sendo vigiado pela guarda pretoriana - a guarda de elite do palácio imperial composta de 16 mil soldados de escol. A despeito disso, encorajou os crentes de Roma e escreveu epístolas/cartas às igrejas das províncias da Macedônia e da Ásia Menor. Apesar de estar preso em Roma, ele não se considerava prisioneiro de César, mas prisioneiro de Cristo Jesus (Ef.3:1), prisioneiro no Senhor (Ef.4:1) e embaixador em cadeias (Ef.6:20).
Como bem afirma o Rev. Hernandes Dias Lopes, a vida de Paulo foi um milagre; seu sofrimento, um monumento; suas cicatrizes, seu vibrante testemunho. Ele foi perseguido, rejeitado, esquecido, apedrejado, fustigado com varas, preso, abandonado, condenado à morte, degolado; mas, em vez de fechar as cortinas da vida com pessimismo, amargura e ressentimento, termina erguendo ao Céu um tributo de louvor ao Senhor: "eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu tesouro até aquele dia" (2Tm.1:12).
Em Roma, na antessala do martírio, de forma imperturbável, impressionante e com alegria na alma, Paulo ergue ao Céu sua última doxologia: “combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé; desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas a todos aqueles que amarem a sua vinda” (2Tm.4:7,8). "a Ele [o Senhor Jesus Cristo], glória pelos séculos dos séculos. Amém" (2Tm.4:18b).
Paulo tombou na terra, pelo martírio, mas ergueu-se no Céu para receber a recompensa, como o mais vitorioso e destacado bandeirante da fé. Glórias sejam dadas a Jesus Cristo!

4. Data

Conforme está registrado no Livro de Atos, Paulo realizou três viagens missionárias. Após estas viagens e ter implantado várias igrejas por onde passou, principalmente na Ásia e na Macedônia, ele foi preso em Cesareia por um período de dois anos, entre 58 e 60 d.C. (Atos 24:27).
Em razão de as datas serem aproximadas, a estimativa da chegada de Paulo em Roma fica entre 60 e 62 d.C. Partindo dessa premissa, a data provável da escrita aos Efésios ocorreu por volta dos anos 61 e 62 d.C. Tíquico foi o portador das Epístolas aos Efésios e aos Colossenses, que, possivelmente, foram despachadas na mesma ocasião que a carta a Filemom (Ef.6:21,22; Cl.4:7-9).

5. Contexto e Tema

a) Contexto. John Stott afirmou:
-Efésios é uma síntese maravilhosamente concisa, mas abrangente, das boas-novas e suas implicações. Ninguém pode ler Efésios sem ser levado a se maravilhar e adorar, e desafiado a levar uma vida de santidade e fidelidade. A Epístola concentra-se no que Deus fez por meio da obra de Jesus Cristo e o que Ele faz por meio do Seu Espírito, hoje, para edificar sua ‘nova sociedade’ em meio à ‘velha sociedade’.
-Efésios conta como Jesus Cristo derramou Seu sangue em uma morte sacrificial pelo pecado, foi ressuscitado da morte pelo poder de Deus e exaltado, acima de tudo que competia com Ele, ao lugar supremo, tanto no universo como na Igreja. Mais do que isso, nós, que estamos ‘em Cristo’, unidos a Ele pela fé, compartilhamos esses grandes eventos. Fomos ressuscitados da morte espiritual, exaltados ao Céu e lá nos assentaremos com Ele. Também fomos reconciliados com Deus e uns com os outros. Consequentemente, por meio de Cristo e em Cristo, somos a nova sociedade de Deus, a nova humanidade singular que Ele está criando, a qual inclui judeus e gentios em igualdade de condições. Somos a família de Deus Pai, o Corpo de Jesus Cristo, seu Filho, e o Templo ou morada do Espírito Santo.
Portanto, devemos demonstrar clara e visivelmente a realidade desta novidade que Deus fez: em primeiro lugar, pela unidade e diversidade de nossa vida comum; segundo, pela pureza e pelo amor de nossa conduta diária; em seguida, pela submissão mútua e cuidado de nossos relacionamentos em casa; e, por último, pela estabilidade na luta contra os principados e potestades do mal. Então, na plenitude do tempo, o propósito de unificação de Deus será completo sob a liderança de Jesus Cristo” (John Stott. Lendo Efésios).
b) Tema. Os grandes temas da fé cristã adornam a coroa de Efésios. Os capítulos mais destacados da soteriologia e da eclesiologia podem ser encontrados nessa obra-prima. Contudo, o foco de Efésios é o “mistério”, dantes guardados no coração de Deus, e que agora fora revelado.
A verdade sublime que compõe o tema da Epístola aos Efésios é o anúncio de que os crentes, tanto judeus como gentios, formam agora uma unidade em Cristo Jesus; são membros lado a lado da mesma Igreja, o Corpo de Cristo. No presente momento estão assentados em Cristo nos lugares celestiais; no futuro, vão compartilhar da Sua glória como Cabeça de todas as coisas.
O tema central, portanto, da Epístola é: “a nova sociedade de Deus”. Eu diria: “A Igreja, o novo povo eleito de Deus”. Enfim, em Efésios, a Igreja é:
  • A nova humanidade de Deus, uma colônia onde o Senhor da história estabeleceu uma amostra da unidade e dignidade renovada da raça humana (Ef.1:10-14; 2:11-22: 3:6,9-11; 4:1-6:9).
  • Uma comunidade onde o poder de Deus de reconciliar as pessoas a si próprio é experimentado e compartilhado através de relacionamentos transformados (Ef.2:1-10; 4:1-16; 4:32-5:2; 5:22-6:9).
  • Um novo templo, uma construção feita de pessoas, fundada na revelação segura do que Deus tem feito na história (Ef.2:19-22; 3:17-19).
  • Um organismo onde o poder e a autoridade são exercidos segundo o padrão de Cristo (Ef.1:22; 5:25-27), e a sua mordomia é uma maneira de servi-lo (Ef.4:11-16; 5:22-6:9).
  • Um posto avançado num mundo tenebroso (Ef.5:3-17), buscando o dia da redenção final.
  • Acima de tudo, a Igreja é a Noiva que se prepara para a chegada do seu amado esposo (Ef.5:22-32).

II. DESTINATÁRIOS

1. Destinatários

Alguns eruditos consideram Efésios uma Epístola circular dirigida às igrejas da Ásia, e não apenas uma Epístola dirigida particularmente à Igreja de Éfeso, uma vez que Paulo não trata ali de problemas locais como o faz nas outras epístolas. Mesmo que isso seja um fato, isso em nada deslustra a integridade e a pertinência de sua mensagem.
Efésios também é considerada uma Epístola gêmea de Colossenses. Escritas do mesmo local, no mesmo período e levadas às igrejas pelo mesmo portador, Tíquico, ambas tratam basicamente das mesmas coisas.
Primeiramente, a Epístola é endereçada “aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus” (Ef.1:1). “Santos e fiéis em Cristo Jesus”, que excelente reputação! O que seria necessário para que outrem nos caracterizassem como um santo e fiel seguidor de Cristo Jesus? Certamente, manter-nos firmes em nossa fé, continuamente. Agindo assim, ficaremos conhecidos com santo e fiel seguidor do Senhor Jesus Cristo, como os cristãos de Éfeso.
a)    “Aos santos”. A palavra “santo” não quer dizer uma pessoa que não peca. Também não são pessoas mortas canonizadas, mas pessoas vivas separadas por Deus para viver uma vida diferente; são pessoas que foram separadas do mundo por Deus. A palavra grega hagioi, "santos", quer dizer separados, é um nome que se aplica no Novo Testamento a todos os que são nascidos de novo, “novas criaturas” (2Co.5:17).
Basicamente a palavra se refere à posição do crente “em Cristo”, mais do que ao que ele é em si mesmo. Em Cristo todos os crentes são “santos”, mesmo quando não se comportam de maneira santa. Por exemplo, Paulo chama os crentes de Corinto de santos (1Co.1:2), porém, pelo que há nessa Epístola fica evidente que a vida deles não era rigorosamente santa. Entretanto, a vontade de Deus é que a vida prática do crente seja condizente com a sua posição em Cristo: “santos” de vida santa.
Segundo Russell P. Shedd:
-“Nos dias do Antigo Testamento, o tabernáculo, o templo, o sábado e o próprio povo eram santos por ser consagrados, separados para o serviço de Deus. Uma pessoa não é "santa" nesse sentido por mérito pessoal; ela é alguém separada por Deus e, por conseguinte, é chamada a viver em santidade.
-“No Novo Testamento, através do Espírito de santificação, santo é ‘alguém separado para pertencer exclusivamente a Deus’, são os nascidos de novo. Paulo envia a Epístola aos Efésios com a pressuposição de que os seus leitores são pessoas realmente convertidas e separadas para o reino de Cristo”.
b)    Aos “fiéis em Cristo Jesus”. “Fiéis”, aqui, significa “aqueles que se comprometeram com Cristo, que aceitaram o convite de sair do mundo perdido para o reino do Filho do seu amor”; em outras palavras: significa aqueles que creem, sendo, portanto, uma descrição dos cristãos verdadeiros. Esse comportamento dos cristãos de Éfeso é uma decisão definitiva e clara; é uma mudança de posição, não geográfica, mas mental, quanto a quem é Jesus Cristo e quanto a todos os outros senhorios do mundo, inclusive o de César. Dando esse passo, tornam-se fiéis. A palavra “fiéis” também carrega a ideia de fidelidade: eles não apenas deram aquele passo, quando se batizaram e se identificaram com Cristo, mas continuavam se identificando permanentemente. É verdade que os crentes também devem ser fiéis no sentido de fidedignidade, ou seja, devem ser merecedores de confiança. Porém, a ideia principal é que são pessoas que aceitaram Cristo Jesus como o seu único Senhor e Salvador.

2. Breve painel da Cidade de Éfeso.

a) A Cidade de Éfeso. A cidade de Éfeso era uma das cinco maiores cidades do Império Romano, ao lado de Roma, Corinto, Antioquia e Alexandria. Era um importante centro comercial, político e religioso de toda a Ásia Menor. Nesta cidade estava situado o templo dedicado ao ídolo grego Ártemis (Diana para os romanos) - “Então, o escrivão da cidade, tendo apaziguado a multidão, disse: Varões efésios, qual é o homem que não sabe que a cidade dos efésios é a guardadora do templo da grande deusa Diana e da imagem que desceu de Júpiter?” (Atos 19:35).
Éfeso abrangia uma extensa área, ela ficava localizada no território da Lídia entre as cidades antigas de Esmirna e Mileto. Era uma cidade portuária cujo Porto desaguava no mar Egeu. Por causa dessas boas instalações portuárias e das várias estradas que ligavam a cidade ao vasto Império Romano, Éfeso alcançou a posição de grande metrópole com cerca de 500 mil habitantes; era a sede do procônsul romano e da confederação de cidades da Ásia Menor.
b) A religiosidade em Éfeso. Esta cidade foi o centro de culto ao ídolo “Diana”, a chamada deusa da fertilidade, cujo templo, localizado a cerca de 1.600 metros da cidade, era considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo e constituía o principal motivo de orgulho para Éfeso. Quatro vezes maior do que o Partenon de Atenas, o templo de Éfeso levou, segundo a tradição, 220 anos para ser construído. Corria, na época, um dito popular de que "o Sol nada via mais belo no seu trajeto do que o templo de Diana”.
No argumento do Pr. Douglas Baptista, “o livro de Atos informa que a imagem adorada no templo havia ‘caído do céu’ (Atos 19:35). Provavelmente algum meteorito fora recolhido e talhado para moldar a imagem. Essa crendice sinaliza que a religiosidade dos efésios era permeada de superstições. O cortejo do templo, que abrangia sacerdotes, sacerdotisas, assistentes e escravos eunucos que cultuavam por meio de atos sexuais, indica o nível de depravação e imoralidade daquela cidade.
A maior fonte de renda da cidade era o comércio de nichos de prata do ídolo Diana, que eram comercializados no templo. A prostituição, a pornografia e as artes mágicas também auferiam lucros financeiros. Sendo o centro de vários outros cultos pagãos, inclusive o culto aos imperadores romanos deificados, a cidade era conhecida como arch paganismi, que quer dizer ‘o cúmulo do paganismo’”.
O culto idólatra também era estimulado pela crença e pela prática do ocultismo referendado por inúmeros livros de artes mágicas, encantamentos, amuletos, sacrilégios e feitiços. O temor dos fenômenos sobrenaturais ou supranormais, mantinha a cidade espiritualmente cega e escravizada. Com a mensagem do Evangelho, muitos dos que receberam a Cristo ‘trouxeram os seus livros e os queimaram na presença de todos’ (Atos 19:18,19).
John Stott ressalta que o fato de os recém-convertidos estarem dispostos a jogar seus livros no fogo, em vez de converterem o seu valor em dinheiro, vendendo-os, era uma evidência notável da sinceridade de suas conversões, era um sinal claro de que o povo de Éfeso estava desistindo da magia e abraçando o Evangelho de Jesus Cristo. Esse exemplo levou a outras conversões, pois “assim a palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente” (Atos 19:20).
Segundo alguns estudiosos, o valor total daqueles livros correspondia a cinquenta mil denários, ou seja, a 150 anos de salário de um trabalhador comum, levando em consideração que o salário de um trabalhador era de um denário por dia.
Somente o Evangelho tem o poder de mudar o caráter do ser humano, a sua cultura pervertida, a sua religiosidade infame, fazendo com que esse ser humano seja santo e fiel em Cristo Jesus.
Segundo Simon Kistemaker:
“Éfeso se tornou a depositaria da literatura sagrada que formou o cânone do Novo Testamento. Durante o tempo em que Paulo viveu em Éfeso, ele escreveu suas Epístolas aos Coríntios. Quando Paulo ficou em prisão domiciliar em Roma, ele enviou sua carta aos Efésios. Nos anos posteriores, quando Timóteo era pastor em Éfeso, Paulo despachou as duas epístolas que levam o nome de Timóteo. Algumas décadas mais tarde, o apóstolo João compôs seu Evangelho e suas três epístolas de Éfeso. De certa maneira, pode-se dizer que assim como o Antigo Testamento fora confiado aos judeus (Rm.3:2), da mesma forma os efésios se tornaram os guardiães do Novo Testamento” (KISTEMAKER, Simon. Atos. Vol.2).

3. A Igreja em Éfeso

O apóstolo Paulo visitou Éfeso pela primeira vez em sua segunda viagem missionária (Atos 18:19-21). Ela foi a igreja que João pastoreava quando foi desterrado para a solitária Ilha de Patmos, segundo a tradição Cristã dos primeiros séculos.
Na terceira viagem missionária, Paulo permaneceu nessa cidade por quase três anos (Atos 20:31). Ao chegar em Éfeso, ele encontrou doze discípulos, os quais batizou nas águas e conduziu-os a receber o batismo com o Espírito Santo (Atos 19:5-7). Em seguida, evangelizou os judeus na sinagoga por um espaço de três meses (Atos 19:8); e como alguns judeus resistiram ao Evangelho, ele se dedicou a pregar e a ensinar aos gentios num salão alugado na escola de Tirano (Atos 19:9). Ali, ele plantou uma pujante igreja, que se tornou influenciadora em todos os rincões da Ásia Menor.
Em Éfeso, Deus usou Paulo poderosamente. A Bíblia diz que até os lenços e aventais do apóstolo foram usados para curar os enfermos e expulsar os demônios (cf. Atos 19:12); e, assim, a Igreja crescia geometricamente. Mais tarde Paulo encontrou-se novamente com os anciãos da Igreja em Éfeso na cidade de Mileto (Atos 20:16-38).
A Igreja de Éfeso tem dois endereços: ela é cidadã do mundo (está em Éfeso) e cidadã do Céu (está em Cristo). O Rev. Hernandes Dias Lopes diz que toda a vida do cristão deve estar em Cristo Jesus; como a raiz enterrada na terra, o ramo ligado à videira, como o peixe está no mar e o pássaro, no ar, também o lugar da vida do cristão é em Cristo Jesus.
A Igreja de Éfeso foi muito bem estabelecida na doutrina apostólica. Todos os ensinos básicos lhe foram ministrados. Paulo disse: “porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de deus”(Atos 20:27). Pelo teor e conteúdo da Epístola de Paulo aos Efésios, observa-se que aquela igreja era bastante espiritual; porém, as severas advertências de Jesus às sete igrejas da Ásia Menor começaram exatamente pela Igreja em Éfeso (cf.Ap.2:1-7).
1.Escreve ao anjo da igreja que está em Éfeso: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro:
2.Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos e o não são e tu os achaste mentirosos;
3.e sofreste e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome e não te cansaste.
4.Tenho, porém, contra ti que deixaste a tua primeira caridade.
5.Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres.
6.Tens, porém, isto: que aborreces as obras dos nicolaítas, as quais eu também aborreço.
7.Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus.
Esta era a situação da Igreja de Éfeso logo depois da morte dos apóstolos. Jesus exortou os crentes dessa igreja a atentar para o que “o Espírito diz às igrejas” (Ap.2:7). Em seguida, o vencedor recebe uma promessa. Quem é este vencedor? Será uma pessoa superdotada ou alguém muito diferente? Não; o vencedor é aquele que ouve e coloca em prática a Palavra de Deus. Afirma o apóstolo Tiago: “E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”(Tg.1:22). Quando ouvimos o que o Espírito Santo fala através da Palavra de Deus, nos tornamos vencedores -“... Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus” (Ap.2:7).
Em Éfeso, portanto, o vencedor seria aquele que demonstrasse autenticidade de sua fé ao se arrepender por haver abandonado o primeiro amor. Quem assim procedesse, poderia se alimentar “da árvore da vida, que está no paraíso de Deus”.
O fato de a pessoa ser vencedora comprova a realidade de sua experiência de conversão. As pessoas são salvas única e exclusivamente pela graça mediante a fé em Cristo. Todos os salvos se alimentarão “da árvore da vida”, ou seja, entrarão na plenitude da vida eterna celestial.

4. A Saudação Epistolar (Ef.1:2)

Esta era a saudação costumeira de Paulo a todas as igrejas: “a vós graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo”.
“Graça e Paz”, estas eram as palavras usuais de destaque em suas saudações. Na tradição judaica usava-se apenas a palavra “paz” (shalom, no hebraico), mas Paulo por inspiração divina adicionou a palavra “graça” a já conhecida “paz” e deu a saudação cristã um sentido muito especial: “graça e paz”. Os crentes em Cristo têm agora a “paz” da parte de Deus Pai, mas obtiveram a “graça” por Jesus Cristo.
Nesta saudação de Paulo, cada palavra é carregada de significado espiritual, diferentemente das saudações vazias de hoje.
- “Graça”. É o favor de Deus para nossa vida diária. Os leitores da Epístola já haviam sido salvos pela graça de Deus, seu favor imerecido para com os perdidos; porém, agora precisavam da força vinda de Deus para poder enfrentar os problemas, provações e tristezas da vida. Isto é o que o apóstolo lhes deseja aqui.
- “Paz”. Esta “paz” descreve um espírito tranquilo em todas as circunstâncias transitórias da vida. Os “santos” de Éfeso experimentaram “paz” com Deus quando foram convertidos; porém careciam da “paz” de Deus no dia-a-dia, isto é, repouso calmo e seguro que independe das circunstâncias e resulta do hábito de levar tudo a Deus em oração (Fp.4:6,7).
William Macdonald afirma que “que em primeiro lugar vem a ‘graça’ e depois a ‘paz’. A ordem é sempre essa. Só depois que a ‘graça’ trata do problema do pecado é que pode haver ‘paz’; e é somente através da força imerecida, que Deus dá diariamente, que o crente experimenta ‘paz’, perfeita ‘paz’, em todas as vicissitudes da vida”.
- “Da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo”. O apóstolo Paulo não hesitou em colocar o Senhor Jesus no mesmo pé de igualdade com Deus Pai; ele honrou o Filho da mesma forma que honrou o Pai. E todo crente deve fazer o mesmo (João 5:23) – “para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai, que o enviou”.
Na observação inteligível de William Macdonald, o título completo do nosso Salvador é: “Senhor Jesus Cristo”.
  • Como “Senhor”, Ele é o nosso mestre absoluto, com autoridade sobre tudo o que somos e temos.
  • Como “Jesus”, Ele é o nosso Salvador que nos livrou do pecado.
  • Como “Cristo”, Ele é o nosso Profeta, Sacerdote e Rei divinamente ungido.
Que nome precioso é o de nosso “Senhor Jesus Cristo”! Aos crentes de Filipos Paulo profere esta linda doxologia:
“Pelo que também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp.2:9-11).

III. PROPÓSITO E MENSAGEM DA EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS

1. O Propósito

Analisando com cuidado o seu conteúdo percebe-se que o propósito da Epístola foi dar aos crentes da Igreja de Éfeso e das igrejas circunvizinhas ensinos profundos sobre como manter a unidade do Corpo de Cristo e adverti-los a respeito do propósito da Igreja. Paulo sentia-se enormemente responsável pela saúde espiritual das igrejas locais que tinha fundado, e como naquele momento estava preso, a sua preocupação o motivou a escrever cartas e a enviar outros mestres e líderes para ajudar os cristãos e fortalecê-los na sua fé em Cristo.
Nas palavras de despedida de Paulo aos anciãos de Éfeso, no final de sua terceira viagem missionária, ele os incentivou a permanecerem alertas contra os falsos mestres (Atos 20:28-31). Paulo sabia que os novos crentes, como ovelhinhas, seriam presas fáceis para os falsos mestres e pregadores ambiciosos, que destruiriam o rebanho. Desta feita, Paulo escreveu esta Epístola para fortalecer e amadurecer os seus irmãos e irmãs cristãos na fé, explicando o objetivo da Igreja e convocando os crentes à sã doutrina e a uma vida santificada.
Hoje, muitos cristãos aceitam a fé em Cristo e a sua igreja como algo natural. Mas, com o passar do tempo, eles começam a criticar os seus irmãos na fé, os cultos de adoração, e os líderes da igreja local, e frequentemente se tornam suscetíveis às falsas doutrinas. Ao ler Efésios, devemos examinar as nossas atitudes à luz da descrição que Paulo faz da igreja, o corpo de Cristo, e consideremos como poderíamos incentivar e fortalecer outros irmãos na fé.

2. A Mensagem

Alguém disse que a Epístola aos Efésios alcança um campo mais vasto do que qualquer outra Epístola do Novo Testamento, com exceção, talvez, da Epístola aos Romanos. Ela abrange os judeus e os gentios, o céu e a terra, o passado, o presente e os tempos futuros. A sua mensagem principal é apresentar a Igreja como o Corpo de Cristo; é mostrar o que Deus fez por meio de Jesus Cristo e que continua fazendo pelo Seu Espirito Santo ainda hoje, a fim de edificar uma nova sociedade – a Igreja.
Depois de uma calorosa saudação (Ef.1:1,2), Paulo afirma a natureza da Igreja: o fato glorioso de que aqueles que creem em Cristo foram banhados com a bondade de Deus (Ef.1:3-8), escolhidos para participar da grandeza de Cristo (Ef.1:9-12), marcados com o Espírito Santo (Ef.1:13,14), cheios do poder do Espírito (Ef.1:15-23), libertados da maldição e da escravidão do pecado (Ef.2:1-10), e trazidos para perto de Deus (Ef.2:11-18). Como se dominado pela emoção ao se lembrar de tudo o que Deus fez, Paulo desafia os efésios a viverem próximos a Cristo, e inicia espontaneamente uma oração (Ef.3:14-21).
A seguir, Paulo volta a sua atenção às implicações de fazer parte do Corpo de Cristo, a Igreja. Os crentes devem ter unidade no seu comprometimento com Cristo e no uso dos dons espirituais ((Ef.4:1-16). Eles devem ter os padrões morais mais elevados (Ef.4:17-6:9). Para o indivíduo, isto significa rejeitar as práticas pagãs (Ef.4:17-5:20); para a família, significa a submissão e o amor mútuos (Ef.5:21-6:9).
A seguir, Paulo os lembra de que a igreja está em uma batalha constante contra as forças das trevas, e que eles devem usar todas as armas espirituais que estiverem à sua disposição (Ef.6:10-17).
Ele conclui pedindo as suas orações, dando uma missão a Tíquico, e proferindo uma bênção (Ef.6:18-24).
“Ora, para que vós também possais saber dos meus negócios e o que eu faço, Tíquico, irmão amado e fiel ministro do Senhor, vos informará de tudo, o qual vos enviei para o mesmo fim, para que saibais do nosso estado, e ele console os vossos corações. Paz seja com os irmãos e amor com fé, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo. A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo em sinceridade. Amém!” (Ef.6:21-24).

CONCLUSÃO

Concluímos esta Aula inicial afirmando que a Epístola de Éfeso é uma magnifica combinação de doutrina e dever cristãos, fé e vida cristãs, o que Deus fez por meio de Cristo e o que devemos ser e fazer em consequência disso. “Suas exortações nos impelem a viver em santidade e, alicerçados em Cristo – a Cabeça da Igreja (Ef.1:22) -, a batalhar contra as forças das trevas”. Lembrando que: “há um só corpo e um só Espírito...; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos” (Ef.4:4-6).
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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Douglas Baptista. A IGREJA ELEITA. Redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo. CPAD.
Pr. Caramuru Afonso Francisco. PortalEBD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Efésios. Igreja, a noiva gloriosa de Cristo.
SHEDD, Russel. Epístolas da Prisão: uma análise. São Paulo: Edições Vida Nova,
2005, p. 15.
STOTT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo: ABU Editora, 2007.
STOTT, John. Lendo Efésios.

sexta-feira, 27 de março de 2020

LIÇÕES BÍBLICAS – 2º TRIMESTRE DE 2020


No 2º Trimestre letivo de 2020, estudaremos, através das Lições Bíblicas da CPAD, sobre o seguinte tema: “A IGREJA ELEITA – Redimida pelo Sangue de Cristo e selada com o Espírito Santo da Promessa.  Teremos como base para este tema a Epístola aos Efésios, escrita pelo apóstolo Paulo, em Roma, por ocasião de sua primeira prisão. O comentarista das Lições é o pastor Douglas Baptista, e estão distribuídas sob os seguintes assuntos:

Lição 1 – Carta aos Efésios – Saudação ao Destinatários.
Lição 2 – A Sublimidade das Bênçãos Espirituais em Cristo.
Lição 3 – Eleição e Predestinação.
Lição 4 – A Iluminação Espiritual do Crente.
Lição 5 – Libertos do Pecado para uma Nova Vida em Cristo.
Lição 6 – A Condição do Gentios sem Deus.
Lição 7 – Cristo é a nossa Reconciliação com Deus.
Lição 8 – Edificados sobre o Fundamento dos Apóstolos e dos Profetas.
Lição 9 – O Mistério da Unidade Revelado.
Lição 10 – A Intercessão pelos Efésios.
Lição 11 – Atributos da Unidade da Fé: Humildade, Mansidão e Longanimidade.
Lição 12 – A Conduta do Crente em Relação à Família.
Lição 13 – A Batalha Espiritual e as Armas do Crente.

EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS

A Epístola aos Efésios é uma das mais ricas Epístolas do Novo Testamento. Ela é uma síntese de todo o cristianismo. Ela é pura eclesiologia. É a demonstração do que Deus fez por intermédio de Cristo e o que devemos fazer em consequência disso. Em cada versículo são encontrados tesouros belíssimos e extremamente preciosos. As principais doutrinas básicas da Igreja de Cristo estão contidas nesta Epístola. Efésios é uma combinação da doutrina cristã (capítulos 1 a 3) com o dever cristão (capítulos 4 a 6).
O rev. Hernandes Dias Lopes afirma que, na Epístola aos Efésios, Paulo abre as cortinas do tempo, penetra nos refolhos da eternidade e traz aos homens as verdades mais consoladoras da graça de Deus. Os grandes temas da fé cristã adornam a coroa dessa Epístola. Os capítulos mais destacados da soteriologia e da eclesiologia podem ser encontrados nessa obra-prima do apóstolo. Já na introdução, Paulo descreve as verdades mais gloriosas acerca da obra da Trindade em favor da Igreja, a noiva de Cristo.
Paulo aborda nessa Epístola alguns temas que não trata com tanta profundidade nas demais Epístolas/Cartas, como a questão da reconciliação dos judeus com os gentios, o mistério do evangelho, a plenitude do Espírito, a família e a batalha espiritual.
Esta é uma Epístola não apenas teológica, mas, sobretudo, prática. Ela tange de forma profunda e clara os princípios que devem nortear a família e a igreja neste mundo inundado de escuridão.
Alguns eruditos consideram Efésios uma carta circular, e não apenas uma epístola dirigida particularmente à igreja de Éfeso, uma vez que Paulo não trata ali de problemas locais como o faz nas outras epístolas.
Efésios também é considerada uma Epístola gêmea de Colossenses; elas foram escritas do mesmo local, no mesmo período e levadas às igrejas pelo mesmo portador; ambas tratam basicamente das mesmas coisas. A ênfase fundamental de Colossenses é apresentar Cristo como Cabeça da Igreja, e a ênfase essencial de Efésios é apresentar a Igreja como Corpo de Cristo; sua mensagem tem uma abrangência muita ampla - ela abrange os judeus e os gentios, o céu e a terra, o passado e o presente e os tempos futuros.
O grande bandeirante do Evangelho, o apóstolo Paulo, escreveu esta Epístola de sua primeira prisão em Roma. Paulo já tinha passado por provas e tribulações terríveis antes de chegar à capital do império: Ele tinha sido perseguido em Damasco, rejeitado em Jerusalém e esquecido em Tarso. Ele já tinha sido apedrejado em Listra, açoitado em Filipos, escorraçado de Tessalônica, enxotado de Beréia, chamado de tagarela em Atenas e de impostor em Corinto. Já tinha sido fustigado três vezes com varas pelos romanos e recebido 195 açoites dos judeus (2Co.11:24,25). Enfrentou feras em Éfeso, foi preso em Jerusalém e acusado em Cesareia. Enfrentou um naufrágio avassalador ao dirigir-se a Roma e foi picado por uma cobra em Malta.
O velho apóstolo chegou a Roma preso e algemado. Durante dois anos, ficou numa casa alugada sob custódia do imperador. Vigiado pela guarda pretoriana - a guarda de elite do palácio imperial, composta de 16 mil soldados de escol -, encorajou os crentes de Roma e escreveu cartas para as igrejas das províncias da Macedônia e da Ásia Menor. Apesar de estar preso em Roma, ele não se considerava prisioneiro de César, mas prisioneiro de Cristo Jesus (Ef.3:1), prisioneiro no Senhor (Ef.4:1) e embaixador em cadeias (Ef.6:20).
As circunstâncias, nem mesmo as mais adversas, não levaram esse gigante de Deus a sucumbir. Ao contrário, ele foi um canal de consolo para as igrejas. Ele foi um arauto de boas notícias, um embaixador do Céu, um homem que ardeu de zelo por Cristo e doou-se com a mesma intensidade até sua voz ser silenciada pelo martírio. (1)
Nesta obra prima, que teremos como base às Lições deste trimestre letivo, Paulo é contundente e claro em suas palavras: a Igreja, o povo de Deus da Nova Aliança, é a Eleita de Deus em Cristo Jesus.

A IGREJA ELEITA - REDIMIDA PELO SANGUE DE CRISTO E SELADA COM O ESPÍRITO SANTO DA PROMESSA

As Escrituras neotestamentárias são claras: a Igreja, povo de Deus da Nova Aliança, é eleita de Deus (1Ts.1:4), e essa eleição foi disposta no coração de Deus antes da fundação do mundo (Ef.1:4), quando ainda não existia qualquer ser, ou movimento, ou tempo, e quando coisa alguma nem ser algum, exceto o próprio Deus, existia.
Como bem disse John Stott, “Deus colocou a nós e a Cristo juntos na Sua mente. Resolveu tornar-nos Seus próprios filhos através da obra redentora de Cristo”. Antes que houvesse o mundo, Deus elegeu a Sua Igreja em Cristo. Isto é um ato misericordioso e soberano de Deus de eleger um povo pecador para ser salvo em Cristo Jesus.
“Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus” (1Tes.1:4).
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Ef.1:3,4).
Portanto, essa eleição divina não foi um plano de última hora porque o primeiro plano fracassou. Não. O pecado de Adão não pegou Deus de surpresa. Deus não ficou ansioso, com temor do homem estragar tudo no Éden. Em sua soberania, Ele elegeu a Sua Igreja antes dos tempos eternos (2Tm.1:9), antes da fundação do mundo (Ef.1:4).
Deus planejou a nossa salvação antes mesmo de lançar os fundamentos da Terra; antes que houvesse céus e Terra, Deus já havia decidido eleger um povo para si mesmo, a fim de que sejam santos e inculpáveis diante dEle (2Ts.2:13).
A Igreja era o grande mistério de Deus guardado no Seu coração amoroso, que foi revelado pelo Espírito Santo (Ef.3:2,3) no Novo Testamento; e o mistério era que Deus, por meio de Cristo, faria com que todos os povos do mundo inteiro fossem unidos num só corpo, formando a Igreja do Senhor. Assim, judeus e gentios podem agora serem chamados de irmãos em Cristo (Ef.3:6), porquanto “não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl.3:28). 

A eleição da Igreja foi feita em Cristo, pelo seu sangue (Ef.1:7)

“Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça”.
O propósito de Deus, já antes da fundação do mundo, era ter um povo para si mediante a morte redentora de Cristo na cruz; sendo assim, a eleição é fundamentada na morte sacrificial de Cristo, no Calvário, para nos salvar dos nossos pecados.
“Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” (Atos 20:28).

A Igreja Eleita - Selada com o Espírito Santo da Promessa

O selo era um sinal que indicava, a um só tempo, tanto a propriedade de alguém como a autoridade deste mesmo alguém. O Espírito Santo é o Selo que nos indica que somos propriedade de Cristo Jesus (Ef.1:13).
“em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa”.
Conta-se que “um missionário inglês morreu na Índia no começo deste século. Assim que ele estava morto, seus vizinhos arrombaram sua casa e começaram a levar tudo que era dele. O cônsul inglês foi comunicado, e como não havia fechadura na porta da casa do missionário, ele colou sobre ela uma grande falha de papel, que carimbou com o selo, o lacre da Inglaterra. Os saqueadores não se arriscaram a quebrar o lacre, porque a nação mais poderosa do mundo o garantia”.
O Selo do Espírito Santo é um de uma série de acontecimentos simultâneos ao nosso arrependimento e recebimento do Senhor como Salvador, sem nós o percebermos: Em primeiro lugar, é claro, Deus nos regenerou e justificou; Em segundo lugar, o Espírito nos batizou no corpo de Cristo; Em terceiro lugar, o Espírito imediatamente se instalou nos nossos corações e nos selou para o Dia da redenção (Ef.4:30) – “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o Dia da redenção” (Ef.4:30).
Existe um costume de denominar de “selados” apenas os “batizados com o Espírito Santo”, mas não podemos confundir o Selo do Espírito Santo, que é a nossa qualificação como filhos de Deus, com o “batismo com o Espírito Santo”, que é o revestimento de poder. Não é biblicamente correto denominar de “selados” somente os batizados com o Espírito Santo.
O Selo do Espírito Santo é nosso passaporte para o Céu, nossa verdadeira e definitiva “pátria”. O Selo do Espírito Santo “imprime” em nós, “traços” de Cristo, restaurando nossa imagem e semelhança com Deus, deteriorada pelo pecado original.  Assim como reconhecemos os orientais pelo olho puxado, os africanos pela pele escura, os filhos de Deus, têm como “sinal” o Selo do Espírito Santo.
Enfim, o Selo como símbolo do Espírito Santo mostra-nos que todos os salvos são selados pelo Espírito Santo no momento da conversão, no instante em que passamos a pertencer ao corpo de Cristo (Rm.8:9; 1Co.12:13).
“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm.8:9).

A Eleição em Cristo é coletiva, isto é, a Eleição é de um povo e não de um só indivíduo (Ef.1:4,5,7,9; 1Pd.2:9).

“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido...” (1Pd.1:9).  
Todos aqueles que fazem parte da Igreja são chamados: “corpo de Cristo” (1Co.12:27; Ef.1:23; 4:12; Cl.1:24), “minha Igreja” (Mt.16:18), “povo adquirido” (1Pd.2:9), “senhora eleita” (3João 1), “noiva” de Cristo (Ap.21:9).
Todos os que estão mergulhados no “Corpo” de Cristo (1Co.12:13) são eleitos; mas, individualmente, a certeza dessa eleição depende da condição da fé pessoal e viva em Jesus Cristo, e da perseverança na união com Ele em santidade.
O propósito de Deus na eleição da Igreja é que ela seja santa e irrepreensível (Ef.1:4) – “...nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele...”.
Nenhuma pessoa deve considerar-se eleita de Deus se não vive em santidade. A santificação não é a causa, mas a prova da nossa eleição. A eleição é a raiz da salvação, não seu fruto; e o cumprimento desse propósito ao crente como individuo dentro da Igreja é condicional.
Cristo nos apresentará “santos e irrepreensíveis diante dele (Ef.1:4), somente se continuarmos na fé. A Bíblia mostra isso claramente: Cristo irá “vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé e não vos moverdes da esperança do evangelho” (Cl.1:22,23).
Enganam-se aqueles que pensam que a eleição da Igreja promove e estimula uma vida relaxada. Somos eleitos para a santidade, e não para o pecado. Somos salvos do pecado, e não no pecado. Jesus se manifestou para desfazer as obras do diabo (1João 3:8).
Uma pessoa que se diz segura de sua salvação e não vive em santidade está provando que não é eleita. Aqueles que não são santos não podem ter comunhão com Deus nem jamais verão a Deus. No céu, só entrarão os santos. Uma pessoa que não ama a santidade não suportará o Céu.
Somos a “Noiva” do Cordeiro que está se adornando para Ele. Não somos, portanto, eleitos para viver na lama, mas para viver como luzeiros do mundo e apresentar-nos a Jesus como a “Noiva” pura, santa e sem defeito (Ef.5:27).
“...Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef.5:25-27.
Portanto, a eleição tem como alvo nos levar a uma vida limpa, pura, santa; ninguém é eleito sem estar unido a Cristo pela fé, imbuído num processo de santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb.2:14). Pedro exorta a todos os eleitos (1Pd.1:2) da seguinte forma:
“mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pd.1:15,16).
Portanto, a eleição é coletiva e abrange o ser humano como indivíduo somente à medida que este se identifica e se une ao Corpo de Cristo, a Igreja, em santidade. É uma eleição como a de Israel no Antigo Testamento.

A Eleição de Israel no Antigo Testamento

Deus elegeu Israel, mas para sua formação, primeiramente, Ele teve que escolher alguém. Deus usou de sua soberana vontade para escolher Abrão entre todos os habitantes da Terra do seu tempo.
“Ora, o Senhor disse a Abrão: sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei”. Far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção”(Gn.12:1,2).
Deus escolheu Abrão sem que, em tal escolha, houvesse qualquer participação humana; no entanto, a escolha feita dependia, para a sua concretização, do atendimento por parte do escolhido ao chamado divino.
Deus escolheu Abrão, mas, certamente, Deus não iria tirá-lo à força de sua terra. Abrão precisava aceitar e concordar com a escolha de Deus. Podia rejeitá-la, caso quisesse. Portanto, uma eleição é um processo bilateral; ela se completa quando a vontade do eleitor se encontra com a vontade do eleito.
Somente a partir do instante em que Abrão respondeu com fé, com confiança nas promessas divinas que o levaram a abandonar a sua casa e a sua parentela, atendendo ao chamado do Senhor, deu-se início o plano divino para formação de uma nação que seria denominada Israel.
Deus ordenou a Abrão (cujo nome significa “pai da elevação”, “pai da exaltação”) que saísse do meio da sua terra e da sua parentela para uma terra que ainda lhe seria mostrada (Gn.12:1). Nestas palavras divinas, evidencia-se que o propósito de Deus era promover uma separação entre os gentios e Abrão, do qual se formaria um povo, uma grande nação, sendo que nele seriam benditas todas as famílias da terra (Gn.12:3). Todas as famílias da terra seriam benditas porque nessa nação seria cumprida a promessa redentiva feita após a Queda do ser humano (Gn.3:15).
Abrão aceitou o chamado de Deus - “Assim, partiu Abraão, como o Senhor lhe tinha dito...”(Gn.12:4). Perceba que está escrito que “partiu Abrão”, e não que “tirou Deus Abrão”. Ele partiu, em obediência, porém, fazendo uso do seu livre-arbítrio.
É válido ressaltar que a eleição provém de Deus e é soberana, mas a perda da bênção oferecida indistintamente a todos é consequência do mau exercício do livre-arbítrio pelo homem. Foi, aliás, exatamente o que ocorreu com o povo de Israel.
Israel, o povo eleito de Deus, firmou um pacto no Monte Sinai, prometendo viver conforme os preceitos do Senhor (Êx.19:8), mas logo cedo fracassou neste seu propósito, tendo, a partir da primeira geração adulta do êxodo, deixado de observar o referido pacto, endurecendo o seu coração continuadamente, ao longo da história, mostrando-se ser um povo obstinado (Ex.32:9; Dt.9:6; Ez.3:7); e por causa dessa obstinação, Israel sofreu progressivas sanções da parte do Senhor, pois Deus corrige a quem ama e castiga a quem quer bem (Hb.12:6), numa escalada já prevista na lei de Moisés (Dt.28:15-68), escalada esta que foi rigorosamente cumprida por Deus, o qual chegou a tirar o povo da própria Terra Prometida para Babilônia (2Cr.36:15-21), sem falar na integral destruição das dez tribos do Norte (Efraim, Manassés, Ruben, Gade, Issacar, Zebulom, Naftali, Aser, Simeão e Dã – cf. 2Rs.17).
16.E deixaram todos os mandamentos do SENHOR, seu Deus, e fizeram imagens de fundição, dois bezerros; e fizeram um ídolo do bosque, e se prostraram perante todo o exército do céu, e serviram a Baal.
17.Também fizeram passar pelo fogo a seus filhos e suas filhas, e deram-se a adivinhações, e criam em agouros; e venderam-se para fazer o que era mal aos olhos do SENHOR, para o provocarem à ira.
18.Pelo que o SENHOR muito se indignou contra Israel e os tirou de diante da sua face; nada mais ficou, senão a tribo de Judá.
No entanto, apesar de todos os pecados do povo de Israel, sempre houve um remanescente fiel, ou seja, pessoas que, ainda que anônimas e despidas de poder político, social ou econômico, servem a Deus com sinceridade, obedecendo à Sua Palavra. Isto nos mostra que, embora Deus tenha elegido a nação de Israel, com a qual firmara um pacto (Ex.19:8), não devemos nos esquecer que a resposta que se deu ao chamado divino foi de cada indivíduo. Veja o exemplo de Josué e Calebe, no deserto, em relação ao povo de sua geração que saiu do Egito e que caminhava em direção à Terra Prometida.
Toda a geração adulta do êxodo pereceu no deserto, menos Josué e Calebe, os quais ingressaram na Terra Prometida. E por quê? Por um simples motivo: porque creram em Deus e nas Suas promessas, ao contrário do restante do povo, que se manteve incrédulo (Nm.14:24; Dt.1:36,38; Hb.3:19). Este remanescente fiel, que sempre existiu em cada geração, é o que constitui o verdadeiro povo eleito de Deus.
Com relação à Igreja, a Eleita, também, isto não é menos verdadeiro. Somos o “Israel de Deus” (Gl.6:16) no que tange, temporariamente, às promessas espirituais e, portanto, nesta expressão do apóstolo, está presente a ideia de que só pertence à Igreja - a “universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus” (Hb.12:23) -, aquele que, por fé, tiver crido em Cristo Jesus e “andar conforme esta regra” (cf.Gl.6:16). Portanto, não são dados biológicos que poderão determinar quem é, ou não, eleito, mas única e exclusivamente a observância dos ditames de Deus e a fé nas Suas promessas.
Para que não haja qualquer sentimento de dúvida com relação ao texto de Gl.6:16, informo que a Igreja não sucedeu, para sempre, o Israel nacional como a instituição para a administração da bênção divina no mundo. Não há apoio nas Escrituras Sagradas à falaciosa teoria da substituição, que ensina que os Judeus foram rejeitados por Deus, e não são mais o seu povo escolhido. Aqueles que assumem esse ponto de vista, rejeitam qualquer futuro étnico para o povo Judeu em relação as alianças bíblicas. Está escrito que “os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis” (Rm.11:29). Deus tem um plano inabalável para Israel num futuro, que não está longe.
Em Romanos 11, Paulo afirma que, apesar da incredulidade da nação de Israel ter levado eles, como ramos naturais, a serem cortados, é garantido que no futuro, quando vier de Sião o libertador, por amor aos patriarcas, por ser os dons e a vocação de Deus irrevogáveis, todo o Israel será salvo (Rm.11:25-29). Claro, os salvos serão os remanescentes fiéis (Rm.9:23) – “...Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo”.
Em outras palavras, o fato de a geração da primeira vinda de Jesus ter sido infiel ao Senhor, sua descrença não tem o poder de anular o que Deus prometeu incondicionalmente aos patriarcas. Portanto, o vínculo pactual entre Deus e Israel permanece. Logo, tanto para os gentios como para Israel, o único caminho para a Salvação é a fé em Jesus Cristo (Gl.3:11-29).
Todos aqueles, judeus e gentios, que estão em Cristo Jesus, são considerados povo eleito de Deus. No capítulo 10 de Romanos, Paulo explica, minuciosamente, que a salvação não depende das obras, mas da fé em Cristo (Gl.3.8,9). Deus, em sua vontade soberana, franqueou a salvação a todos os homens: "todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" (Jl.2:32 cf. At.2:21; 10:34-36).
Portanto, Deus não rejeitou o seu povo da Antiga Aliança (Rm.11:1), e Paulo cita como prova disso os judeus cristãos. O exemplo de Elias, que ele apresenta, mostra que os sete mil que não dobraram os joelhos diante de Baal, eram os verdadeiros israelitas (Rm.11:24). Da mesma forma, a minoria de judeus, que creu em Jesus, são os israelitas de fato (Rm.11:5).
Os judeus perderam a oportunidade de consolidar sua eleição, enquanto povo, no exato instante em que rejeitaram o Messias (João 1:11,12). Esta rejeição teve o mesmo significado que a rebelião gentílica em Babel, encerrando, assim, temporariamente, o tempo de Israel no plano de Deus como povo eleito exclusivo dentre todos os outros povos. No entanto, essa rejeição operada gerou uma bênção para nós, gentios, pois, através dela, pudemos ter livre acesso a Deus por meio de Cristo Jesus - “…pela sua queda, veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação. E, se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição, a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude!” (Rm.11:11b,12).
A triste experiência de Israel deve servir de exemplo para a Igreja. Os israelitas eram os filhos eleitos de Deus e, não obstante, foram cortados da verdadeira Oliveira por causa da incredulidade (Rm.11:17-20).
Hoje, a "menina dos olhos" de Deus é a Igreja, a Sua eleita. Agora, a nossa posição espiritual está acima da dos judeus. Os ramos foram quebrados, por culpa dos próprios judeus: "Não que a palavra de Deus haja faltado" (Rm.9:6). A promessa de Deus não foi quebrada, mas os judeus é que recusaram a promessa. Somos como zambujeiros enxertados no lugar deles, e, assim, participamos da raiz e da seiva da oliveira (Rm.11:15-19).
O cristão é reconhecido, no Novo Testamento, como judeu, no sentido espiritual (Rm.4:11-16); isto é, pela fé em Jesus, ele tornou-se filho de Abraão (Gl.3:7) - "Nem todos que são de Israel são israelitas" (Rm.9:6). Cada cristão, portanto, deve valorizar a sua posição diante de Deus. O que Deus fez conosco é de uma grandeza infinita. Quem vacilar pode ser cortado por Deus assim como aconteceu com Israel (Rm.11:21-24).
Entretanto, o encerramento de Israel no plano de Deus para a salvação da humanidade não é definitivo, pois restam promessas a Israel que ainda não se cumpriram e sabemos que o Senhor vela pela sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12).
A Igreja é a eleita de Deus, é o povo de Deus da Nova Aliança, que abriga todos aqueles que receberam Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Assim com a Arca de Noé foi eleita para abrigar pessoas justas diante de Deus e livrá-las do juízo divino contra a civilização antediluviana, Deus elegeu a Sua Igreja, constituída de povos de todas as nações, gentios e judeus, salvas pelo sangue de Jesus Cristo, com o fim de abrigar todos aqueles que foram salvas em Cristo Jesus. Todos que adentraram a Arca de Noé estavam predestinados a serem salvas do dilúvio. Assim, também, todos os que fazem parte da Igreja de Cristo estão predestinados à salvação eterna. Porém, todos aqueles que estão fora dela e que dela saírem, escolhendo a apostasia, terão o mesmo destino dos demais ímpios (Sl.9:17).
“Podemos comparar a Igreja eleita a um grande navio viajando para o Céu. Cristo é o Capitão e Piloto desse Navio. Todos os que desejam estar nesse Navio eleito, podem fazê-lo mediante a fé viva em Cristo. Enquanto permanecerem no Navio, acompanhando seu Capitão, estarão entre os eleitos. Caso alguém abandone esse Navio e ao seu Capitão, deixará de ser um dos eleitos. E todos os que estão dentro desse Navio estão predestinados a serem salvos. Deus convida a todos a entrar a bordo do Navio eleito mediante Jesus Cristo. Quem aceitar o convite e entrar será salvo, quem rejeitar será condenado – ‘Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado’ (Mc.16:16)” (2).
Ev. Luciano de Paula Lourenço
EBD/IEADTC
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(1) Hernandes Dias Lopes. Efésios. Igreja, a noiva gloriosa de Cristo.
(2) (Adaptado do estudo sobre Eleição e Predestinação – Bíblia de Estudo Pentecostal, pg.1809. Versão:1995).