segunda-feira, 13 de abril de 2015

Aula 03 – A INFÂNCIA DE JESUS


2ºTrimestre_2015

 
Texto Base: Lucas 2:46-49; 3:21,22

19/04/2015

 

 “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc 2:52).

 

INTRODUÇÃO

Uma das maiores prova de que Jesus Se humanizou é a Sua infância e adolescência, que, apesar de pouco mencionadas nas Escrituras, mostram-nos claramente que Jesus Se fez homem, semelhante a qualquer um de nós. A Bíblia pouco diz sobre a infância de Jesus, que vai de zero aos doze anos de idade, mas é o suficiente para mostrar que Jesus teve uma infância como qualquer ser humano. Fora da Bíblia, nada é confiável quando se fala sobre essa fase de vida de Jesus, haja vista que sua vida transcorreu normalmente como qualquer ser humano de vida simples e sem notoriedade. Os fatos que demonstraram a sua natureza divina, Maria guardava-os em seu coração (Lc 2:19).

I. FASES DA INFÂNCIA DE JESUS

Jesus, ao se humanizar, submeteu-se a todas as fases do desenvolvimento humano. Ao contrário de Adão, que não teve infância, que já foi criado adulto, Jesus, segundo a promessa de Deus, deveria ser “nascido de mulher” e, portanto, haveria de passar por todas as fases de desenvolvimento humano que os descendentes de Eva, “mãe de todos os viventes”, se submeteriam, entre os quais a própria concepção (Gn.3:16).

1. Jesus, o Menino Deus-Homem. Na descrição bíblica do nascimento de Jesus, vemos estampadas sua divindade e humanidade. Jesus nasceu como qualquer outro ser humano. Sua mãe deu à luz a ele em uma estrebaria, pois o casal não havia encontrado lugar nas estalagens de Belém, que se encontrava lotada por causa do recenseamento, tendo, após o nascimento, envolto o menino em panos e o posto em uma manjedoura (Lc 2:7). Estas circunstâncias mostram-nos claramente que Jesus nasceu como um pequenino bebê, que carecia de calor dos panos e do estrito cuidado e carinho da sua mãe. Era um bebê como qualquer outro, um ser humano.

Conquanto fosse um ser humano a sua deidade não pudera ser dEle retirada, e, por isso, anjos vieram louvar seu nascimento. Este bebê não deixou de ser Deus, mas se despira de toda a sua glória, para nascer de mulher, para nascer sob a lei (Gl 4:4). Daí deve-se refutar toda narrativa fantasiosa que apresente um Jesus que nasceu e, de forma miraculosa, já se apresentou, ainda recém-nascido, como um “super-homem”, como um “ser especial”.

Precisamos ter cuidado com os falaciosos evangelhos da infância” ou “evangelhos da natividade”, escritos não inspirados que surgiram ao longo dos primeiros séculos da igreja cristã, os quais tendemaumentar” o caráter miraculoso do nascimento de Jesus, “acrescentando” dados fantasiosos e sobrenaturais a este episódio; algo, aliás, que costumamos ver, lamentavelmente, em “testemunhos” contados por alguns em nossos púlpitos.

Estes escritos são puras invencionices, fruto da imaginação de pessoas que não tinham e nem tem qualquer compromisso com a verdade. Não passam de fábulas artificialmente compostas (2Pedro 1:16), que querem causar “impacto” nos leitores e ouvintes, como se isso fosse necessário para gerar temor e tremor diante de Deus ou para assegurar a dupla natureza de Jesus e seu caráter singular diante de todos os homens. São mentiras que foram rechaçadas pelos cristãos do tempo em que foram divulgadas e espalhadas e que, hoje, por força da operação do erro, do espírito do anticristo, renascem das tumbas para onde haviam sido lançadas pelos crentes primitivos, a fim de fazer com que os que rejeitam o Evangelho sejam cada vez mais enganados e iludidos (2Ts 2:7-12).

Assim, por exemplo, o chamado “protoevangelho de Tiago” ou “livro de Santiago” diz que Jesus nasceu em uma gruta, depois de uma luminosidade intensa, ocasião em que teria, de imediato, se pegado ao peito de sua mãe, que, aliás, teria se mantido virgem. Bem se vê que é neste escrito que se construiu a tese do “nascimento virginal de Cristo”, ou seja, de que Maria se manteve virgem mesmo tendo dado à luz a Jesus, o que é totalmente contrário ao que nos ensinam as Escrituras que não só não diz que Maria tenha se mantido virgem (Mt 1:25), como que Maria teve outros filhos além de Jesus. Como se não bastasse, este livro conta que Jesus teria curado, ainda na gruta, uma mulher que não havia crido que Maria tivesse se mantido virgem, o que é um perfeito absurdo, pois, então, Jesus teria usado da sua divindade, logo no limiar da sua existência, contrariando, deste modo, toda a “kenosis (*), absolutamente necessária para nos abrir a porta da graça.

O chamado “evangelho árabe da infância”, também, diz que, ainda no berço (que berço?), Jesus teria dito a Maria: “Eu sou Jesus, o filho de Deus, o Verbo, a quem tu deste à luz de acordo com o anunciado pelo anjo Gabriel. Meu Pai me enviou para a salvação do mundo”. Teria, também, ainda dentro da “gruta”, curado uma mulher de paralisia. Tal narrativa fantasiosa deve ter sido a fonte de inspiração de Maomé no Alcorão, onde Jesus, também, é apresentado como tendo falado logo após seu nascimento, dando conta de que era “Profeta de Alá”.

Todos estes relatos são absurdos, porque jamais Jesus deixaria a sua condição de homem e assumiria a de Deus, negando, assim, toda a sua obra. Muito pelo contrário, a Bíblia nos revela que Jesus cumpriu toda a obra que o Pai lhe havia dado a fazer (João 17:4).

2. A circuncisão de Jesus (Lc.2:21-24). De acordo com as prescrições da lei, a circuncisão de Jesus ocorreu no oitavo dia após o nascimento. A circuncisão de Jesus é o primeiro ato que demonstra que Jesus nasceu sob a lei (Gl 4:4), que deveria cumprir integralmente a lei de Moisés (Mt 5:17). A circuncisão simboliza a separação dos judeus dos gentios e seu relacionamento singular com Deus.  Obedecendo as instruções do anjo, José e Maria deram ao menino o nome de Jesus, que significa “o Senhor é Salvação” ou “Jeová é o Salvador”.

É interessante observar que a narrativa de Lucas mostra um menino Jesus totalmente indefeso, dependente, como toda criança recém-nascida. Em toda a narrativa, Jesus não pratica qualquer ação, é sempre o objeto das ações dos outros homens: foi envolto em panos, deitado na manjedoura, visto pelos pastores, foi circuncidado e dado a ele o nome. Isto é uma demonstração de que Jesus, assim como qualquer outro recém-nascido, como qualquer outro neonato, dependia inteiramente de seus pais.

3. O Menino Jesus é apresentado no Templo para resgate da Primogenitura, conforme a Lei (Lc 2:22-24). Depois dos dias de purificação, ainda de acordo com a lei, Jesus foi apresentado no Templo. O filho Primogênito era apresentado a Deus um mês após o nascimento. A cerimônia incluía o resgate da criança para Deus por meio de uma oferta. Deste modo, os pais reconheciam que o filho pertencia a Deus, o único com poder de dar a vida.

A apresentação do menino Jesus segue-se do fato de que todo primogênito [lit. “que abre a madre”] (isto é, o filho primogênito da mãe, não necessariamente do pai) ao Senhor será consagrado (a citação de Lucas não é literal, mas dá o sentido de várias passagens: Êx 13:12,15; Nm 18:15,16). Embora Lucas não mencione o fato, sem dúvida os cinco siclos usuais foram pagos para redimir o primogênito (Nm 18:16).

4. O Menino Jesus foi levado ao templo com seus pais, a fim de que se fizesse o sacrifício relacionado à purificação de sua mãe (Lc 2:22). Segundo Leon L. Morris, “a presença da criança não era necessária, mas era natural quando os pais estavam suficientemente perto de Jerusalém”. A lei levítica estipulava que, depois do nascimento de um filho, uma mulher ficaria impura durante os sete dias até a circuncisão do menino, e que, por mais trinta e três dias, devia manter-se afastada de todas as coisas sagradas (para uma filha, o tempo era dobrado – Lv 12:1-5). Na ocasião, devia sacrificar um cordeiro e um pombo (macho ou fêmea, Lv 12:6-8) como oferta pelos pecados. O sacerdote sacrificava estes animais e declarava a mulher purificada. Se um cordeiro fosse muito caro para a família, os pais poderiam ofertar dois pombos (macho ou fêmea). Isto foi o que Maria e José fizeram (Lc 2:24), numa demonstração de que José e Maria eram pobres.

Tem-se aqui outra prova de que o parto de Jesus foi normal, porque só nestes casos é que havia a necessidade do sacrifício da purificação que, pela tradição judaica, é dispensado em outros casos, como o da cesariana, como se encontra no Talmude.

Vemos, portanto, que Jesus nascia em uma família humilde, pobre, de modo que a pobreza de que nos fala o apóstolo em relação à pessoa de Jesus (2Co 8:9), não envolve apenas a questão da “kenosis”, mas também abrange a própria condição econômico-financeira da “sagrada família”. Ao contrário do que apregoam os “teólogos da prosperidade”, Jesus não nasceu rico, mas, sim, bem humilde, tanto que seus pais ofereceram o mínimo previsto na lei para a purificação de Maria.

5. O Menino Jesus, ao entrar pela primeira vez no Templo, é identificado pelo Espírito Santo como o Messias (Lc 2:26,27). Quando o menino Jesus entrava, pela primeira vez, no Templo de Jerusalém, eram apresentadas tanto a sua humanidade quanto a sua deidade. Ao entrar no Templo, o Espírito Santo usou Simeão para apresentar aquela criança como sendo o Messias, o Salvador do mundo, o Verbo que se fez carne. Simeão louvou a Deus cantando (Lc 2:25-35). Esse cântico muito conhecido é chamado em latim de Nunc dimittis, que significa “agora despede”.

Ao mesmo tempo em que Simeão tomava o menino nos seus braços, indicando tratar-se de uma criança recém-nascida, era chamado pelo sacerdote de “a Tua salvação preparada”, “luz para alumiar as nações e para glória de Teu povo Israel” (Lc 2:30-32). Enquanto dizia já poder morrer em paz, porque já vira a salvação de Deus para o seu povo, também abençoava o menino e o casal, a indicar, pois, como Jesus é homem e é Deus simultaneamente. Como Messias, traria elevação e queda de muitos em Israel; como homem, provocaria grande tristeza em Sua mãe quando de Sua morte (Lc 2:35).

Mas não foi apenas Simeão que viu aquele pequenino como o Salvador do mundo, uma visão que corresponde à dos pastores de Belém, mas também Jesus foi revelado como o Messias à profetisa Ana, da tribo de Aser, a demonstrar que Jesus estava vindo para toda a nação de Israel, para todos, homens e mulheres. Àquela viúva, idosa, mas que não se afastava do templo, o Espírito Santo também revelou quem era aquela criança e, assim como os pastores, Ana não pôde se calar e a todos divulgava a boa-nova, o Evangelho (Lc 2:36-38), o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1:16).

Estes episódios narrados por Lucas mostram-nos com grande clareza que Jesus, na aparência, era uma criança como qualquer outra, sem nada que O pudesse distinguir dos demais e que apenas pelo Espírito Santo poderia ser identificado como o Messias, identificações que foram feitas com o propósito de nos fazer compreender que, embora humanizado, Jesus jamais perdeu a sua deidade.

6. Cumpridos os ritos da lei, José e Maria passaram a residir em Belém de Judá (Mt  2:16). Mateus 2:11 registra o casal e o menino em uma casa, quando foram visitados pelos magos do Oriente, em Belém (Mt 2:16). Isto nos permite observar, pois, que as famosas cenas dos presépios, onde vemos a “sagrada família” recebendo a visita dos magos ainda na estrebaria não corresponde à realidade do texto bíblico. O presépio, aliás, foi uma criação de Francisco de Assis que, no século XIII, quis retratar o nascimento de Jesus de forma a realçar a sua pobreza, um de seus principais lemas que o levou a fundar a ordem religiosa dos franciscanos. Assim, acabou adotando a gruta dos escritos apócrifos e incluindo os magos, o que, porém, não tem respaldo das Escrituras.

7. O Menino Jesus é visitado pelos magos do Oriente (Mt 2:11). Tendo os magos visto a “estrela” no dia do nascimento de Jesus e até interpretarem o que isto significava e, por fim, resolvido viajar até Jerusalém para adorarem o “rei dos judeus”, decorreu um bom período, período este que é inferior a dois anos, diante da deliberação de Herodes de matar a todas as crianças de dois anos para baixo que haviam nascido em Belém.

Os magos foram procurar o “rei dos judeus” em Jerusalém (Mt 2:1,2), mas acabaram encontrando o menino em Belém, em uma casa, prova de que o casal se instalara naquela cidade, pelo menos neste período de menos de dois anos após o nascimento de Jesus. Nada havia de especial no menino, como se pode perceber, tanto que preciso foi que a “estrela” os guiasse, depois que sua sabedoria humana os conduzira, equivocadamente, a Jerusalém.

8. O Menino Jesus recebe presentes (Mt 2:11) – “...e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro incenso e mirra”.

Ao encontrarem o Menino, os magos O adoraram, apesar de ser um simples menino, tendo, ainda, trazido ofertas para a criança, de ouro, incenso e mirra, dádivas que simbolizavam o tríplice ministério de Jesus: de rei (ouro), sacerdote (incenso) e profeta (mirra), vez que o ouro representa a realeza, o incenso, que era usado pelos sacerdotes como parte acompanhante dos sacrifícios e, por fim, a mirra, resina de planta do mesmo nome de aroma agradável e gosto amargo, com propriedades adstringentes (isto é, que provocam constrição, compressão, em termos figurados, arrependimento) e antissépticas (isto é, que impedem a contaminação, que cura, que mata os germens, em termos figurados, o pecado), características que acompanham sempre aquele que é porta-voz do Senhor.

9. A fuga do Menino Jesus para o Egito (Mt 2:13-15). Ante a revelação divina aos magos para que não dissessem a Herodes onde estava o menino, antes que houvesse a matança dos inocentes em Belém, José e Maria foram avisados para descerem ao Egito, o que lhes foi possível porque, com as dádivas recebidas pelos magos, tinham condições para se estabelecer naquela terra estranha, onde, afinal de contas, havia uma grande colônia judaica. A Bíblia não nos diz onde Jesus esteve no Egito, mas os cristãos coptas (como são conhecidos os cristãos do Egito, Etiópia e Eritréia, países do Norte da África), não sem muitas superstições, mantêm locais considerados como tendo sido visitados e habitados pela “sagrada família”, que, hoje, faz parte da chamada “Rota Sagrada”, um dos itinerários turísticos oficiais do governo do Egito.

10. O Menino Jesus retorna do Egito (Mt 2:21). Jesus esteve no Egito até a morte de Herodes, quando José e Maria, novamente por revelação divina, deixaram o Egito e foram morar em Nazaré, já que José temeu retornar a Judéia, vez que ali reinava Arquelau, filho de Herodes (Mt 2:22), enquanto que, na Galileia, onde ficava Nazaré, o governante era Herodes Antipas, o mesmo que foi, certa feita, chamado de “raposa” por Jesus (Lc 13:32), que, apesar de também ser filho de Herodes, era pessoa de menor crueldade e menos apegado aos valores judaicos.

A situação simples em que vivia a “sagrada família” obrigou-a voltar a morar em Nazaré, local completamente ignorado, mesmo na Galileia, alvo de todo tipo de preconceito (João 1:46). Quão diferente é a Bíblia das fantasias trazidas pelos “teólogos da prosperidade”.

Nazaré era localidade que nem sequer foi objeto de menção no Antigo Testamento, nem mesmo quando houve a divisão da terra, também não tendo sido mencionada nenhuma vez por Flávio Josefo, apesar de ele ter sido governador da Galileia. Vemos, assim, que, tanto antes, quanto depois da passagem de Jesus por este mundo, Nazaré foi sempre aviltada e desprezada enquanto lugar. Por causa disto, alguns estudiosos chegam a pensar que Nazaré seria uma aglomeração urbana irregular, uma espécie de ajuntamento de pessoas desqualificadas ou marginalizadas na sociedade, algo como os “favelões” das metrópoles atuais. Foi nesta localidade obscura que José e Maria foram habitar, levando consigo Jesus e os filhos que já haviam nascido do casal.

11. Na Pré-Adolescência, Jesus fora levado ao Templo a fim de assumir a sua responsabilidade perante a Lei (Lc 2:41-49). Era a festa da Páscoa, a primeira das 21 Páscoas em que Jesus cumpriria seu dever de se apresentar perante o Senhor no templo.

O fato de Lucas registrar a ida de Jesus ao Templo em Jerusalém, aos 12 anos, demonstra a seriedade dos pais em seguir os costumes da religião judaica. Antes de completar 13 anos, todo menino judeu devia ir a Jerusalém para receber oficialmente o título de “filho da lei”, significando que se tornara um menino adulto da comunidade religiosa de Israel.

Na condição de "filho da lei", Ele foi encontrado por seus pais depois que voltaram a Jerusalém para procurá-lo. Nessa condição, Jesus pôde assentar-se com os mestres da lei, ouvindo-os e interrogando-os. Destacam-se também a inteligência de Jesus ao responder as indagações dos mestres da lei, o que provocava admiração em todos os presentes, e a resposta que Jesus deu a Maria, sua mãe, diante da preocupação demonstrada por não o terem encontrado durante a viagem. Jesus contrastou de uma maneira bem interessante a expressão "teu pai" (Lc 2:48), que Maria usou referindo-se a José, com a que Ele usou para referir-se a Deus, "meu Pai" (2:49). Ao ser repreendido pelos seus pais, que O encontram três dias depois no templo, o adolescente Jesus mostra ter esta consciência quando diz a Maria: “… Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?” (Lc 2:49). Não era, porém, o momento para iniciar esta obra, o que se daria apenas quando tivesse trinta anos de idade, ou seja, dezoito anos depois.

Em Lucas 2:48-50 fica patente que Jesus, mesmo tendo apenas 12 anos, tinha consciência da sua relação especial com Deus, o seu verdadeiro Pai, o Pai celeste, embora esse fato não fosse claramente entendido por Maria e José.

12.  A submissão do Menino Jesus aos seus pais terrenos (Lc 2:51,52). Após esta demonstração de plenitude de consciência de sua condição de Filho de Deus, que faz o adolescente Jesus? Desce com seus pais para Nazaré, onde permanece sujeito a eles (Lc 2:51), ou seja, obediente e reverente a seus pais, como todo adolescente de seu tempo, como mandava a lei de Moisés, perante a qual assumira a responsabilidade quando fora a Jerusalém. Em Lucas 2:51 encontramos a última referência a José no Novo Testamento. Nas bodas de Caná da Galileia, ele não estava presente (João 2). Talvez já houvesse falecido.

A sujeição de Jesus a seus pais terrenos foi uma característica predominante em sua infância e, na vida adulta, obedeceu aos pais em tudo. Isto serve de exemplo para as crianças nessa faixa etária. Em nossos dias, muitas crianças crescem em lares onde a obediência não foi nem ensinada nem cobrada, gerando uma rebeldia que se estende até a vida adulta.

A obediência dos filhos é tão importante que é um pré-requisito para que uma pessoa possa ser ordenada ao santo ministério: “que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?”(1Tm 3:4,5).

Da infância até a crucificação, Jesus foi submisso ao Pai Eterno e aos seus pais mortais, deixando-nos um memorável exemplo, a fim de que cuidemos de nosso pai e mãe e a eles sejamos obedientes em tudo. Se o próprio Filho de Deus foi sujeito aos seus pais humanos, porque nós, algumas vezes, os desobedecemos? "Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo" (Ef 6:1).

A partir daí, a Bíblia quase nada mais nos revela a respeito da adolescência de Jesus. Sabemos, apenas, por inferência, que, durante esses anos, Jesus exerceu o mesmo ofício de seu pai, ou seja, o de carpinteiro, em Nazaré, pois é chamado de carpinteiro e filho do carpinteiro pelos nazaritas, quando lá retorna, já quando iniciado o seu ministério público (Mt 13:55; Mc 6:3). Vemos, portanto, que, na adolescência, Jesus aprendeu o ofício de seu pai e o exerceu, em mais uma demonstração de que a “sagrada família” vivia a “porção acostumada de Agur” (Pv 30:8), dependendo do trabalho para a sua sobrevivência.

II. O CRESCIMENTO DE JESUS

Em toda a sua humanidade, Jesus era um “menino”, que “crescia”. Estava submetido ao processo de desenvolvimento como todo indivíduo, porque realmente se fez carne e, em virtude disto, necessitava crescer tanto física quanto psíquica e espiritualmente. Crescia em sabedoria, conforme a graça de Deus. Era perfeito quanto à natureza humana, prosseguindo para a maturidade, segundo a vontade de Deus, plenamente consciente de que Deus era seu Pai (Lc 2:49).

1. Jesus cresceu fisicamente. “E o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lc 2:40). Jesus passou pelas mesmas fases de desenvolvimento físico, aprendendo a andar, falar, brincar e trabalhar. Por causa disso ele pode identificar-se conosco em cada fase do nosso crescimento.

2. Jesus cresceu socialmente. “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc 2:52). Aqui vemos a verdadeira humanidade e o crescimento normal do Senhor Jesus: (a) Crescimento mental: crescia Jesus em sabedoria; (b) Crescimento físico: estatura; (c) Crescimento espiritual: e graça, diante de Deus; (d) Crescimento social: e dos homens. Jesus era perfeito em todo aspecto do seu crescimento.

A narrativa de Lucas passa silenciosamente por cima dos dezoito anos que o Senhor Jesus passou em Nazaré como Filho de um carpinteiro. Esses anos nos ensinam a importância de preparação e treinamento, a necessidade de paciência e o valor do trabalho diário. Eles advertem contra a tentação de pular do nascimento espiritual ao ministério público. Espiritualmente falando, os que não têm infância e adolescência normal atraem desastre na sua vida e no seu testemunho posteriores.

3. Jesus cresceu psicologicamente.  E crescia Jesus em sabedoria...” (Lc 2:52). Aqui, Lucas informa que Jesus crescia em sabedoria. Segundo o pr. José Gonçalves, “crescer em sabedoria é crescer em conhecimento. É desenvolver-se intelectual e mentalmente”. Jesus não apenas aprendeu o ABC, assimilou os conhecimentos da vivência humana do dia a dia, os números e todo o conhecimento geral daqueles dias, mas cresceu em sabedoria, isto é, na aplicação prática desse conhecimento aos problemas da vida. Ele “encheu-se de sabedoria” (Lc 2:40).

4. Jesus cresceu espiritualmente.  “… crescia, e se fortalecia em espírito...” (Lc 2:39). Jesus passara a infância crescendo e se fortalecendo em espírito, enchendo-se de sabedoria, tendo sobre si a graça de Deus. A graça de Deus estava sobre ele. Jesus andava em comunhão com Deus e na dependência do Espírito Santo. Ele estudava a Bíblia, passava tempo em oração e se alegrava em fazer a vontade do Pai.

Seu crescimento e fortalecimento, diz-nos o texto bíblico, era “em espírito”. O crescimento de Jesus se dava na comunhão com o Senhor. O espírito faz a ligação entre Deus e o homem, e Jesus crescia, enquanto homem, neste quesito, até, quando se tornou responsável diretamente diante de Deus, segundo a lei, a iniciar a tratar dos negócios de seu Pai (Lc 2:49).

O fato de a Bíblia dizer que o menino crescia e se fortalecia, é a prova de que a plenitude do Espírito Santo não estava ainda sobre o menino ou o adolescente Jesus. Tinha Ele tido a consciência do bem e do mal, escolhendo o bem, o que proporcionou o início do seu progresso espiritual, mas, de modo algum, pode-se admitir um Jesus milagreiro, como o apresentado pelos “evangelhos da infância”. Nem no Egito, nem em Nazaré, Jesus fez qualquer milagre, pois ainda não era chegada a hora.

Se Jesus, sendo Deus, enquanto homem necessitava crescer e se fortalecer em espírito, que diremos de nós? Não se pode exigir de um ser humano que atinja de imediato a plenitude espiritual. Muito pelo contrário, a Bíblia é repleta de textos que nos indicam a necessidade de crescermos na graça e no conhecimento de Jesus (2Pedro 3:18), de nos aperfeiçoarmos continuadamente (Ef.4:11-14).

5.  O Menino Jesus crescia em “graça para com Deus e os homens” (Lc 2:52). Além de ser “cheio de sabedoria”, o menino Jesus tinha a “graça de Deus sobre Ele”. Enquanto Deus, o Verbo era cheio de graça e de verdade. Enquanto homem, Jesus precisava que a “graça de Deus” estivesse sobre Ele.

Se Jesus, sem pecado, tendo optado pelo bem e rejeitado o mal, necessitava que a graça de Deus estivesse sobre Ele, que diremos de nós? Nunca devemos nos esquecer de que a graça de Deus está sobre nós e que, por isso, podemos chegar à glorificação, por este motivo temos a vida eterna. É tudo pela graça, que se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens (Tt 2:11), graça esta que nos ensina a abandonar o mundo, a rejeitar o mal, assim como fez o menino Jesus assim que adquiriu consciência (Tt 2:12).

CONCLUSÃO

O limitado relato bíblico que temos a respeito da infância de Jesus é plenamente suficiente para a compreensão da sua vida. Ele é o modelo de criança que devemos ter em nossos lares, em nossas igrejas locais, em nossa sociedade. As crianças devem ser educadas a crescer, a se fortalecer em espírito, a se encherem de sabedoria, a terem sobre si a graça de Deus. Ao adquirirem a consciência, perdendo a inocência, devem ser ensinadas a rejeitar o mal, devem ser estimuladas e incentivadas a seguir o bem, a terem comunhão com Deus. Para tanto, precisam ser apresentadas a Jesus, o autor e consumador de nossa fé, para que, nEle e com Ele, venham a crescer, fortalecer-se em espírito, encher-se de sabedoria e ter a graça de Deus sobre si. Temos levado este ensino, esta instrução às nossas crianças?

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Luciano de Paula Lourenço - Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 62. CPAD.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD

Lucas (Introdução e Comentário). Leon L. Morris. VIDA NOVA.

Comentário Lucas – à Luz do Novo Testamento Grego. A.T. ROBERTSON. CPAD

Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards

 Leon L. Morris. Lucas (Introdução e comentário). pg. 34.

John Vernon McGee. Através da Bíblia – Lucas. RTM.

(*)Kenosis é um conceito na teologia cristã que trata do esvaziamento da vontade própria de uma pessoa e a aceitação do desejo divino de Deus. É encontrado no novo testamento como o esvaziamento de Jesus (Wikipédia).

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