REVISTA: EDUCAÇÃO
CRISTÃ CONTINUADA
Texto Básico:
Mateus 25:14-30
“E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo
bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo
do teu senhor”.
INTRODUÇÃO
A
Bíblia mostra as orientações para que o homem desempenhe o seu papel de mordomo
daquilo que pertence a Deus. Compete ao homem administrar com eficiência os
bens confiados, sob o peso medidor da Palavra de Deus, pois é ela que faz do
homem o mordomo de Deus neste mundo.
Esta
Aula tem como texto básico a Parábola dos Talentos, exarada em Mateus 25:14-30.
Esta é uma das mais ricas ilustrações a respeito do sentido da mordomia do
homem em relação a Deus. Nela, Jesus mostra-nos, com clareza meridiana, o papel
e o lugar do homem no seu relacionamento com Deus.
A
parábola dos talentos é mencionada apenas por Mateus e incluída no sermão
escatológico de Jesus. Ela encontra-se inserida nos ensinos de Jesus a respeito
da sua vinda, tendo o objetivo de mostrar aos seus discípulos a necessidade da
fidelidade e da diligência na obra de Deus como aspectos da vigilância exigida
para o seu retorno. Ela foi proferida alguns dias depois da chegada de Jesus em
Jerusalém. Foi a última que ele
proferiu, talvez no dia em que foi preso, à noite.
O
Senhor Jesus não proferiu esta Parábola com o objetivo de ensinar sobre a
Salvação, mas, sobre a fidelidade dos salvos na administração dos Talentos,
ou dos Dons recebidos.
O
objetivo de uma Parábola é ilustrar uma doutrina, e nunca ser a sua
base de sustentação. Assim, entendemos que, nesta Parábola, não deve ser
discutido o problema da salvação, mas sim, da fidelidade do homem
na execução dos serviços referentes ao Reino de Deus.
CONSIDERAÇÕES
PRELIMINARES
Na
parábola dos talentos, Jesus conta a história de um homem que, partindo para
fora da terra, chamou os seus servos e entregou-lhes os seus bens. Para um
servo deu cinco talentos, a outro, dois e ao terceiro, um.
Tendo
partido, os dois primeiros servos negociaram os talentos recebidos e ambos obtiveram
a duplicação dos talentos, enquanto que o terceiro servo enterrou o talento
recebido.
Quando
o senhor voltou, os servos tiveram de prestar contas. Os dois servos foram
tidos por servos bons e fiéis e admitidos no gozo de seu senhor. Já o servo que
nada granjeou, ao devolver o talento que havia recebido, com justificativas,
foi tido por mau e negligente servo, tendo, então, sido tomado o seu talento e
dado ao que recebera cinco talentos e granjeara outros cinco, tendo o servo mau
sido lançado nas trevas exteriores, onde há pranto e ranger de dentes.
O
primeiro elemento da parábola é o homem que chama os seus servos e lhes
distribui talentos antes de partir para fora da terra -“Porque isto é
também como um homem que, partindo para fora da terra...”(Mt 25:14).
Certamente
que, num rápido olhar sobre esta Parábola há que se perceber que sua figura
central, ou que o seu personagem mais importante é esse homem que iria
partir como de fato partiu, “para fora da terra”. Portanto, identificá-lo, e
conhecê-lo, deve ser nossa primeira preocupação.
Damos
graças a Deus porque conhecemos esse homem. Ele é o mesmo que na Parábola do
Semeador é “...o Semeador que saiu a semear”(Mt 13:3), e “...que
andava de cidade em cidade e aldeia em aldeia, pregando a anunciando o
evangelho do Reino de Deus; e os doze iam com ele”(Lc 8:1).Este
homem é o mesmo que na Parábola do Trigo e do Joio é o dono do campo, no
qual ele “semeia a boa semente...”(Mt 13:24).Este homem é o mesmo que na
Parábola do Grão de Mostarda semeou, também o grão de mostarda – “...O
Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem, pegando dele,
semeou no seu campo”(Mt 13:31). Este homem após passar aqui na terra um
período de 33 anos, agora se prepara para sua viagem de volta à casa de seu
Pai. Porém, antes de partir, como bom Senhor, ele não deixou seus servos
ociosos e nem desamparados. Antes “...chamou os seus servos, e
entregou-lhes os seus bens”, conforme veremos nesta Lição.
O Senhor chamou os seus
servos.
Trata-se
uma escolha do dono, não uma demonstração de aptidão, capacidade, poder ou
qualidade dos servos. Deus chama o homem e lhe confia alguns de seus bens. O
homem não é alguém que possa reivindicar direitos diante de Deus, como insistem
muitos falsos pregadores e ensinadores nos nossos dias. É a misericórdia do
Senhor a causa de não termos sido consumidos (Lm 3:22), pois o que mais de
sublime existir no homem, é menos do que nada diante de Deus (Is 40:17).
Este homem tem servos, ou
seja, ele é Senhor.
Isto
nos mostra bem que a nossa condição diante de Cristo, mesmo após a salvação, é
uma condição de servos, de mordomos. Isto é deveras importante afirmar num
instante em que muitos são os que pregam um evangelho diferente, que reduz o
Senhor Jesus à inadmissível condição de empregado qualificado, pronto e
obrigado a atender a todos os caprichos dos crentes, em nome de uma “confissão
positiva” inexistente. Só Deus é o dono, portanto só a sua vontade deve
prevalecer, não a dos servos. É por não compreenderem esta realidade bíblica, tão
importante que constou das " últimas instruções" do Senhor, que
muitos têm se deixado envolver por ventos de doutrina sem respaldo bíblico,
como são a doutrina da confissão positiva e a teologia da prosperidade.
Este homem partiu para fora
da terra.
Isto
nos indica que haveria uma ausência física do dono dos bens e que os servos
deveriam cuidar para que o que, normalmente, o dono do patrimônio fazia quando
estava fisicamente presente, passasse a ser efetuado pelos servos, por conta e
em nome do dono.
A
vida dos servos, então, durante este período de ausência física do dono,
deveria fazer o que o dono estava acostumado a fazer, tomar providências para
tomar conta do bem-estar do patrimônio do proprietário, até que ele voltasse. É
precisamente o que significa a vida do crente enquanto estamos aqui nesta
Terra. Nosso trabalho é realizar as obras do dono que se ausentou fisicamente.
Desde
o momento em que Jesus foi ocultado da visão física dos discípulos (At.1:9), os
seus servos não podem ficar inertes, paralíticos ou perplexos, mas devem fazer
o que Ele fazia até a sua volta (At 1:11-14; 20:24). Este período de ausência
física do dono é o período da dispensação da graça (Ef 3:2,9-11), o período em
que cabe à Igreja fazer aquilo que Jesus fazia, ter as mesmas atitudes que
Jesus tinha enquanto esteve entre nós, de anunciar a salvação como Jesus
anunciou, a tal ponto que a Igreja é chamada de "corpo de Cristo"
(1Co 12:27), já que realiza aqui a mesma obra que Cristo, através de seu corpo
físico, realizou durante o seu ministério terreno. Vemos, portanto, que a
parábola é, inicialmente, dirigida para a Igreja, para nós, já que a Igreja
somos nós.
Quem eram os Servos.
“...
chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens”. Certamente
que estes servos não eram os anjos, embora eles também sejam servos – “Então,
o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos e o serviram”(Mt 4:11). “Não
são, porventura, todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a
favor daqueles que hão de herdar a salvação?”(Hb 1:14). “E eu lancei-me
a seus pés para o adorar, mas, ele disse-me: olha, não faças tal; sou teu
conservo e de teus irmãos...”(Ap 19:10). Também, estes servos não se
referem aos homens que estão “lá fora”, os quais, pela Bíblia, são
servos do pecado e, por conseguinte, são servos de Satanás – “Respondeu-lhes
Jesus: em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é
servo do pecado”(João 8:34). Aqui, nesta Parábola, o dono dos talentos
chamou “os seus servos”. Não se tratava de pessoas estranhas, desconhecidas,
mas, os que viviam na sua casa.
Os servos, portanto, somos
nós.
Ser
crente significa ser servo, e isto não implica em algo depreciativo, mas,
honroso, considerando que somos servos daquele que a Bíblia denomina de “... Rei
dos Reis e Senhor dos senhores”(Ap 19:16).
Os
maiores homens de Deus, na Bíblia, são chamados de servos.
Abraão
foi chamado de servo pelo Senhor, quando falava sobre ele, com Isaque – “...e
multiplicarei a tua semente por amor de Abraão, meu servo”(Gn 26:24).
Moisés
foi chamado de servo – “...pois, ele vê a semelhança do Senhor; por que,
pois, não tivestes temor de falar contra meu servo Moisés?”(Nm 12:8).
Davi
foi chamado de servo – “Porque eu ampararei a esta cidade, para a livrar,
por amor de mim e por amor do meu servo Davi”(2Cr 19:34).
O Apóstolo João,
conhecido como o apóstolo do amor, foi chamado de servo – “Revelação de
Jesus Cristo... e pelo seu anjo as enviou e as notificou a João, seu servo”(Ap
1:1).
Paulo, o
grande Apóstolo dos gentios, ele mesmo se auto-intitulou como sendo servo – “Paulo,
servo de Deus e Apóstolo de Jesus Cristo...”(Tito 1:1).
Vê-se,
pois, que para todos os grandes homens de Deus, Profetas, Reis,
Apóstolos, ser chamado de servo de Deus era considerado uma benção, um
privilégio especial. Nós, pela grande misericórdia de Deus, também alcançamos
este privilégio de podermos dizer como disse Paulo, de podermos afirmar que
somos servos de Deus. Estamos entre aqueles aos quais o Senhor antes de partir
“para fora da terra chamou os servos, e entregou-lhes os seus bens”.
Ser
servo de Deus é algo de que devemos nos gloriar.
Humilhante, pejorativo, depreciativo, desonroso, vergonhoso, é ser servo do
pecado, ser servo de Satanás. Ser servo do Rei dos Reis e do Senhor dos
Senhores, ser servo daquele que disse: “... toda a terra é minha”; “minha
é a prata, e meu é o ouro”; daquele do qual a sua Palavra diz, que “Do
Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam”;
daquele que nos amou “...e se entregou a si mesmo por nós”(Gl 2:20), é uma
coisa que deve nos encher de júbilo.
Agora,
ser servo de Satanás é realmente, humilhante, pois é um inimigo vencido; um
pobre miserável “sem terra e sem nada”, porque todas as coisas pertencem a Deus
por direito de criação, porque só ele é o Criador; um espírito mau cujo desejo
é só roubar, matar, destruir(João 10:10); que foi jogado nos ares, que dos ares
será jogado na terra, que da terra será lançado no “lago de fogo e enxofre”,
conforme está escrito: “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de
fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão
atormentados para todo o sempre”(Ap 20:10); Pior ainda é saber que os seus
servos estarão com ele eternamente naquele “lago de fogo e enxofre”, conforme o
próprio Jesus lhes dirá: “...Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno,
preparado para o diabo e seus anjos”(Mt 25:41).
I. DISTRIBUIÇÃO
DOS TALENTOS(Mt 25:14,15)
1.
O que era talento? O homem confiou a seus servos coisas
valiosas, boas, importantes e que têm condição de se tornar em coisas ainda
mais valiosas. Na parábola, é dito que o dono deu a um servo dez talentos, a
outro, cinco e a outro, um. O talento era a medida máxima de peso dos sistemas
de medida da Antigüidade. A palavra “talento" significa, em latim,
"coisa estimada pelo peso" e seu correspondente em hebraico,
significa "círculo, globo, soma total". O talento corresponderia a
aproximadamente 35 kg de prata ou ouro.
Na
época de Jesus, um Talento podia pagar seis mil dias de trabalho, de um homem
numa vinha. Podemos ver isto seguindo o seguinte raciocínio: 01 Talento
valia 60 minas; 01 mina valia 100 drácmas; 01 drácma era igual a 01 denário, ou
01 dinheiro. Temos uma informação Bíblica de que um trabalhador numa vinha
era ajustado por um denário, ou um dinheiro, por dia, conforme Mateus 20:2.
Assim, 01 Talento pagava seis mil dias de trabalho, ou seja, mais de 16
anos e cerca de quase 200 meses.
2.
Os significados dos talentos na Parábola. No sentido Literal,
como vimos no item 01 deste tópico, era uma medida de peso usada,
principalmente, entre os Gregos e os Romanos. Ao fazer uso do Talento, que era
um valor monetário, mas, não era uma moeda comum, o que ele queria que o povo
soubesse é que o Reino de Deus não é como um reino comum, porque as coisas mínimas
nele existentes, são na verdade, coisas de altíssimo valor.
No
sentido Figurado - Talento, no seu sentido figurado, veio a
significar um Dom, ou aptidão, inteligência, capacidade, ou habilidade
inata ou adquirida. Assim, em sentido figurado, biblicamente, temos dois
tipos de Talentos, ou Dons: Talentos Naturais; Talentos espirituais.
a) Talentos
Naturais. Os talentos, ou dons naturais, são concedidos aos homens, por
Deus, através daquilo que, teologicamente, conhecemos como sendo sua graça
comum, ou seja, a sua capacidade de abençoar, e beneficiar a todos os homens,
pois, Deus é a fonte do bem.
Segundo
declarou o Salmista, o Senhor Deus dá “... dons para os homens e até para
os rebeldes...”(Salmo 68:18). Além de dar Dons Naturais a todos os
homens, Deus não exige que esses Dons sejam usados em beneficio de seu Reino. A
inteligência é um desses Dons Naturais. No entanto, quantas inteligências
estiveram, e estão a serviço de Satanás, o inimigo de Deus! Quantas lindas e
afinadas vozes, também um Dom Natural concedido por Deus, estão cantando
“louvores” ao mundo, também inimigo de Deus! Quantos eloquentes oradores,
também um Dom Natural concedido por Deus, estão pregando heresias que afrontam
a Palavra de Deus!
b)
Talentos Espirituais. Estes são dados aos seus servos, conforme
destacou o Senhor Jesus nesta Parábola – “...chamou os seus servos, e
entregou-lhes os seus bens”. Estes Talentos, ou Dons, são concedidos,
por Deus, aos seus servos, através de sua graça especial. Ao contrário do que
acontece em relação aos Talentos Naturais, onde o homem é livre para usá-los
até mesmo contra o Reino de Deus, aqui, em relação aos Talentos Espirituais,
estes são concedidos aos servos. Servo, como se sabe, não tem vontade própria.
A vontade de um servo obediente é a vontade do seu senhor. Por isto Paulo
advertiu aos efésios, dizendo: “Pelo que não sejais insensatos, mas entendei
qual seja a vontade do Senhor”(Ef 5:17). Em sendo assim, e assim é, os
Talentos Espirituais, sendo concedidos de forma exclusiva aos servos, devem
ser usados, apenas, e tão somente, para atender os interesses do Reino de Deus.
O termo correto é devem, e não, podem, porque, como veremos, o servo que
recebeu um talento não fez uso dele, e foi punido! Lembre-se do que disse o
apóstolo Paulo – “De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que
nos é dada: se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; se é ministério,
seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use
esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com
cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria”(Rm 12:6-8).
3.
Talentos repartidos entre os servos(Mt 25:15). Observe que o homem da Parábola é um homem sábio, pois antes de entregar “os
seus bens”, procurou conhecer os seus servos e determinou a capacidade de
cada um.
Para
este conhecimento ele não necessitou de informações de terceiros; não mandou “grampear”
o telefone de ninguém; não espalhou “espiões”, ou agentes secretos no
meio do povo; não incentivou e não apoiou o dedurismo. Ele era um homem sábio!
Sobre “este homem”, declarou Davi: “...tu me sondas, e me conheces. Tu
conheces o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento”(Salmos
139:1-2). Acreditamos poder afirmar que Deus quer intercessores, não “informantes”.
Ele sabe e conhece tudo sobre cada um dos seus servos, por isto pode dar “... a
cada um segundo a sua capacidade...”.
Este
homem da Parábola é capaz de confiar
nos seus servos - “... chamou os seus servos,
entregou-lhes os seus bens... e ausentou-se logo para longe”. Para agir
desta maneira é preciso ter confiança. Ele confiava e continua confiando nos
seus servos. Não se diz que ele chamou os parentes, ou mesmo os amigos mais
chegados, mas que “chamou os seus servos”.
Consideremos
ainda que ele entregou bens de grande valor; não exigiu qualquer
garantia; não determinou como deveriam aplicar “os seus bens”; não contratou “fiscais”
para vigiar os passos dos seus servos e estarem atentos para que não houvesse
má administração de seus talentos; não fez qualquer tipo de ameaça; ao partir
não marcou a data de seu retorno.
Para
fazer o que ele fez era preciso confiar. E ele confiou! Com esse procedimento
ímpar Ele estabeleceu aos seus servos, como forma de servi-lo, o principio
da responsabilidade pessoal. Ele concedeu-lhes plena liberdade de ação. Ele
quer ser servido com temor, nunca por medo; com alegria, e não com tristeza; de
forma voluntária, nunca como que por obrigação.
Ele
ama seus servos e quer ser amado por eles. É assim que ele quer ser servido.
Todos nós conhecemos este Homem - seu nome é Jesus. Com
efeito, “este homem” tratava seus servos de uma forma diferente de todos os
demais senhores. Certa feita ele disse aos seus servos : “Já vos não
chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor, mas tenho-vos
chamado amigos”(João 15:15). Tinha razão o Salmista, quando disse: “Servi
ao Senhor com alegria...” (Salmos 100:2).
II.
O TRABALHO DOS SERVOS(Mt 25:15-18)
Na
Parábola que estamos analisando esta bem claro que não houve doação.
Os bens continuaram sendo do dono da casa, ou seja, do homem que partiu “para
fora da terra”, o qual “... muito tempo depois, veio o Senhor daqueles
servos, e ajustou contas com eles”.
Perceba
que “muito tempo depois”,
quando ele retornou, ele continuava sendo o Senhor e continuava sendo o
dono dos bens “entregues” aos seus servos.
Também
os servos tinham consciência de que não eram donos daqueles bens. Servo não
pode considerar nada como sendo seu. Tudo que estiver em seu poder é
propriedade de seu Senhor, até mesmo seus filhos, ou melhor, até ele próprio.
Pelo
exposto na Parábola, os servos entenderam que os Talentos recebidos eram bens
do seu Senhor. Como servos fiéis que eram, procuraram trabalhar da melhor
maneira, possível. É assim que fazem os servos fiéis, ainda hoje.
Quanto
ao servo negligente, ou o “mau servo”, também tinha consciência
de que aquele Talento não era seu, e que, no futuro, teria que prestar contas
ao seu Senhor. Por isto “... cavou na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor”.
Nenhum
deles entendeu que tinha recebido um prêmio pelos serviços prestados, ou um
presente pessoal. Sabiam ter recebido os Talentos para trabalharem com eles;
sabiam ter em mãos um instrumento de trabalho que lhes fora entregue por seu
senhor.
1.
O que recebeu cinco talentos (vv. 16,19-21). Este foi o que
recebeu mais talentos, dentre os três. Nota-se que era o mais capacitado,
tanto que logo após a saída do seu senhor, foi imediatamente aplicar o talento
que recebera, sabendo que o tempo é curto e não sabia quando o seu senhor
voltaria. O seu esforço foi 100% recompensador, pois produziu mais
05(cinco) talentos(Mt 25:16,20). Isto significa que o verdadeiro cristão
esmera-se em aplicar os seus talentos, procurando produzir o máximo que puder
para o Senhor Jesus, sabendo que o seu galardão é certo(1 Co 15:10).
2.
O que recebeu dois talentos (vv.17,22,23). Este servo recebeu
com bom grado os dois talentos, e não demonstrou nenhuma inveja ou ciúmes do
que recebera cinco, pois sabia de sua capacidade de produção.
O
Senhor sabe perfeitamente quantos talentos ou Dons
podemos administrar. Ele conhece a estrutura de cada indivíduo (Sl 103:14),
pois Ele fez a cada um de nós e nos acompanhou desde a nossa geração (Sl 139:13-16).
Sendo assim, tem condições plenas para dar os talentos segundo a capacidade de
cada um, sem qualquer condição de errar, pois é o único que nos conhece
perfeitamente.
Este
servo não quis saber porque recebeu apenas dois talentos,
pelo contrário, trabalhou com máxima dedicação e o incremento foi igual ao do
primeiro servo, ou seja, 100%.
3.
O que recebeu apenas um talento (vv.18,24,25). O
servo negligente recebeu um talento apenas, mas não é por isso que fosse mau.
Gozava da plena confiança do seu senhor, tanto quanto os outros dois, a ponto
de também lhe ser confiado um talento.
A
confiança do senhor era igual para todos os servos. O
servo que recebeu um talento só tinha recebido um talento em virtude de sua
capacidade, de sua aptidão. Portanto, em nada era diferente dos demais.
Isto
é importante deixar bem claro: o senhor não fez acepção de pessoas, mas foi
justo na distribuição. Entretanto, ao contrário dos outros dois servos,
este, ao receber o talento, traiu a confiança do seu senhor, não
negociando, o que, em primeiro lugar, representa desobediência ao
mandado do senhor, pois, como já vimos, a ordem de negociar, embora não
tenha sido explícita por Jesus na parábola dos talentos, deve ser inferida,
na medida em que o senhor, na prestação de contas, chama o servo de infiel.
A
infidelidade é consequência da desobediência. O senhor havia se
ausentado, mas continuava sendo o senhor e o servo, mesmo tendo recebido o
talento, continuava sendo servo e, portanto, lhe era necessário a obediência.
A
manutenção de nossa comunhão com o Senhor, mesmo estando ele
ausente, depende da obediência. Obedecer é se manter em posição de
vigilância, é se credenciar para o reino dos céus.
III.
A PRESTAÇÃO DE CONTAS (Mt 25:19)
A
parábola dos talentos ensina que teremos de prestar contas quando o Senhor voltar.
Sua volta é certa, demorará, conforme se depreende das parábolas, mas
acontecerá de forma inevitável.
Quando
o Senhor chegar, deveremos nos apresentar com os talentos que nos foram
confiados, pois, como já dissemos há pouco, na eternidade apenas as nossas
obras nos seguirão (Ap 14:13).
Estas
obras serão manifestadas a todos e, no tribunal de Cristo, passarão pelo teste
do fogo, pela prova divina e, então, o trabalho que cada um fez por meio do
corpo se revelará de forma inapelável diante dAquele em que tudo está nu e
patente (Hb 4:13).
Muito
tempo depois, o senhor veio e fez contas com eles.
É
interessante notar, em primeiro lugar, que Jesus fala em “muito tempo depois”.
A parábola, portanto, indica que a dispensação da graça, o tempo destinado para
os servos negociarem, seria extenso.
Tudo
parecia indicar que nada aconteceria, que a desobediência ficaria impune e que
o labor dos servos obedientes tinha sido em vão, um zelo dispensável e
desnecessário. Mas, sem que alguém esperasse, chegou o dia do retorno do senhor
e, com ele, a prestação de contas.
Mais
uma vez, Jesus mostra, nas parábolas, que chegará o dia em que deveremos prestar
contas pelos nossos atos.
Na
parábola do joio e do trigo, do grão de mostarda e da rede, o Senhor,
explicitamente, lembra os seus discípulos de que haverá um dia de juízo, um dia
de prestação de contas.
O
julgamento apresentado na parábola começa com os servos fiéis.
Os
servos apresentaram as suas obras e, em tendo sido elas aprovadas, tiveram a
oportunidade de serem reconhecidos pelo senhor e de serem convidados a entrar
no seu gozo. Este julgamento mostra-nos a realidade do Tribunal de Cristo, o
local destinado para os que pertenceram à Igreja sejam julgados pelas suas
obras.
O
Tribunal de Cristo é exclusivo para os servos bons e fiéis e terá lugar depois
do arrebatamento da Igreja e antes da ceia das bodas do Cordeiro.
Nele, os salvos serão julgados pelo que tiverem feito por meio do corpo, ou
bem, ou mal (2Co 5:10). O Senhor, ali, verificará o que foi dado ao servo e o
que ele granjeou com o que lhe foi dado.
A
mensagem dada ao servo que recebeu cinco talentos é absolutamente idêntica ao
que recebeu dois talentos, uma vez que o trabalho de ambos foi, também, igual.
Ambos duplicaram os talentos que receberam, ambos exerceram a plenitude de sua
capacidade na obra do Senhor, ambos tiveram dedicação integral, de sorte que
ambos tiveram o mesmo galardão. Não foi, porém, pelas obras que cada um
chegou ao gozo do Senhor, mas pela sua fidelidade e obediência.
O
julgamento do servo mau não diz respeito ao Tribunal de Cristo.
Refere-se
o Senhor, aqui, ao juízo final ou juízo do trono branco, já que os
ímpios serão julgados nesta oportunidade, onde haverá, sim, condenação, ao
contrário do Tribunal de Cristo, onde os que forem julgados jamais perderão a
salvação, ainda que sejam salvos como que pelo fogo (1Co 3:15).
O
servo mau surge com desculpas, num comportamento bem
diferente daquele que foi apresentado pelos servos bons. Assim procede o homem
no pecado: tenta sempre encontrar uma justificativa para o seu erro, mas a
Bíblia diz que os pecadores são inescusáveis, ou seja, não têm quaisquer
desculpa diante de Deus (Rm 1:20).
-
Em primeiro lugar ele mentiu, pois alegou que conhecia o
senhor. Se conhecesse, mesmo, o senhor, teria se empenhado em negociar os
talentos. Quem o diz é o próprio senhor, na parábola, que afirma que, pelo
menos, o servo mau deveria ter se preocupado em não causar a perda do poder
aquisitivo do patrimônio que lhe fora confiado(Mt 25:26).
-
Em segundo lugar, o servo negligente acusou o Senhor
de “homem duro”, que ceifava onde não semeara e ajuntava onde não
espalhara. Vemos aqui a segunda característica do pecador: ele sempre culpa
Deus pela suas próprias faltas.
Quantos,
nos nossos dias, não têm culpado Deus, negado até a existência de
Deus, usando da vida que Deus lhe deu e que ele jamais conseguiria ter por
conta própria, para fazê-lo?
Quantos
não acusam Deus de ser impiedoso e cruel porque mandará
pessoas para a perdição eterna, e, enquanto o fazem, pecam desmedidamente,
escandalizam o evangelho, muitas vezes até, sob a paciência deste mesmo Deus
injustamente acusado?
- Em
terceiro lugar, o servo negligente chama o Senhor de Ladrão - colher
onde não se semeou é invadir terreno alheio, é apropriar-se do alheio, é chamar
o Senhor de ladrão.
-
Em quarto lugar, o servo mau chama o senhor de cobiçoso
- ajuntar onde não se espalhou é uma expressão proverbial que indica um desejo
ilegítimo de crescimento, uma ganância. O servo mau, entretanto, ao assim se
referir ao senhor denuncia a sua própria ganância. Ele havia se apropriado
indevidamente do talento recebido e o enterrara porque sabia que tudo que
granjeasse seria do senhor e não dele.
-
Em quinto lugar, o servo “mau” diz que teve medo do
Senhor. Não adianta ter medo de Deus. É preciso ter respeito, reverência, mas
não, medo. O servo mau alegou ter medo de Deus e por isso não Lhe obedeceu. É
assim mesmo: quem tem medo, não obedece. Pode até fazer o que se manda, mas
isto não é obedecer, pois a obediência é uma ação voluntária, não forçada. Não
podemos mostrar aos homens um Deus irado, cruel e pronto a castigar. O medo de
Deus não resolve. Na Grande Tribulação, os homens terão medo de Deus, que
estará derramando terríveis juízos sobre a Terra, mas não se arrependerão de
seus pecados, pois medo não transforma, não torna ninguém obediente.
-
Em sexto lugar, o servo não devolveu corretamente o
que havia recebido do Senhor. Ele mentiu mais uma vez, ao dizer ao
Senhor “aqui tens o que é teu”. Diante do longo tempo decorrido, o
talento devolvido não tinha o mesmo valor do talento que havia sido entregue. O
tempo passou e, como a vida é dinâmica, o patrimônio recebido se desvalorizou,
tanto que o senhor diz que, se o servo “mau” quisesse mesmo apenas devolver o
que lhe havia sido dado, teria entregado o talento ao banqueiro para que este o
negociasse e, assim, não houvesse perda de valor.
O
servo mau se apropriou de parte do valor do talento ilegitimamente, pois
não era o dono. Assim ocorre com aquele que não usa o dom que Deus lhe deu.
Ele retém ilegitimamente e o dom não será simplesmente devolvido ao Senhor,
pois haverá um prejuízo irreparável, pois o bem que deveria ter sido feito com
aquele dom, a glória que deveria ter sido dada a Deus através daquele dom nunca
terá sido concretizada e, como sabemos, quatro coisas não voltam atrás: o tempo
passado, a oportunidade perdida, a palavra dita e a pedra atirada. O servo mau
não teria mais condições de repor o valor perdido e, por isso, era praticante
de uma injustiça, de uma iniquidade.
CONCLUSÃO
Como
os dons, os talentos e as habilidades são do Senhor, não temos como achar que
podemos deles fazer o que quisermos. Teremos de prestar contas diante de Deus
quanto ao seu uso e isto não apenas os crentes, que o farão no Tribunal de
Cristo, mas todos os seres humanos, pois todos somos mordomos de Deus pelo
simples fato de termos sido criados por Ele. É por isso que todos os homens
serão julgados, inclusive os ímpios, só que tal julgamento se dará em outra
ocasião, qual seja, o juízo do trono branco (Ap 20:11-15).
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Elaboração: Luciano de
Paula Lourenço – Assembleia de Deus –Ministério Bela Vista/Fortaleza-CE.
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Bibliografia:
Dr. Caramuru Afonso Francisco - Fidelidade e Diligência na Obra de Deus. PortalEBD.
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico Popular do Novo
Testamento – William Macdonald.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação
Pessoal. CPAD.
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