3º Trimestre/2014
Texto Básico: Tiago 2:14-26
“Assim resplandeça a vossa luz diante
dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que
está nos céus” (Mt 5:16).
INTRODUÇÃO
A fé é uma doutrina chave no cristianismo. O
pecador é salvo pela fé (Ef 2:8,9). O justo vive pela fé (Rm 1:17). Sem fé é
impossível agradar a Deus (Hb 11:6). Tudo o que é feito sem fé é pecado (Rm 14:23).
Em Hebreus 11 encontramos a galeria da fé, em que homens e mulheres creram em
Deus, viveram e morreram pela fé. Fé é a confiança de que a Palavra de Deus é
verdadeira, não importam as circunstâncias.
Nesta Aula, veremos a importância de
manifestar nossa fé por meio de nossas obras. Para que a ortodoxia gere frutos
é necessário que ela seja encarnada na vida, se manifeste nas ações; é
necessário que seja algo mais do que mero conhecimento; é necessário que se
materialize em ortopraxia.
Não basta falar bonito ou saber
o que falar, se não houver ação. Não raro, muito do que é falado nos púlpitos
raramente é praticado, e isso tem colocado o testemunho de muitos em
desvantagem. A verdadeira fé salvífica é tão vital que não poderá
deixar de se expressar por ações, e pela devoção a Jesus Cristo; Tiago chama
isso de “religião pura e imaculada para com Deus” (Tg 1:27). Portanto, as obras
sem a fé são obras mortas; a fé sem obras é fé morta.
I. DIANTE DO NECESSITADO, A NOSSA FÉ
SEM OBRAS É MORTA (Tg 2:14-17)
1. Fé e Obras. A
julgar pela dedicação da Epístola no capitulo 1:1 – “aos irmãos da dispersão”
-, o local da dispersão era o local onde Paulo pregou muito, para os judeus que
estavam fora da palestina. Não é impossível que estes crentes tenham escutado o
que Paulo tinha falado a respeito da doutrina da justificação, e que
desenvolveram uma implicação errada acerca da justificação. Ou seja, para eles,
se você é justificado pela fé em Cristo Jesus, o que você faz ou como você vive
isso não vai ter muito impacto em seu relacionamento com Deus. Isto é o que em
Teologia nós chamamos de antinomianismo, ou seja, a ideia de que a fé e a graça
excluem as obras, atitude, comportamento e o andar diante de Deus. Tiago,
porém, no capítulo 2:14-26, confronta essa compreensão errada, e afirma que a
fé salvadora sempre vem acompanhada da evidência. Então neste sentido, fé e
obras são dois lados de uma mesma moeda: a fé sendo a raiz da salvação e as
obras sendo fruto dela. Onde tem uma vai ter a outra. Onde falta uma a outra
também falta.
Alguém pode aparentar que tem fé, mas não
vai ter obras se essa fé não é verdadeira. Pode haver que pessoas sejam retas,
morais, que tenham obras, todavia lhe falta fé, que é a raiz de toda obra
verdadeira. Então fé e obras são dois
lados de uma mesma moeda. São duas coisas que andam juntas. Então não há nem a
necessidade de jogar Tiago contra Paulo, porque a fé que Tiago condena não é a
fé que Paulo recomenda em Romanos; e as obras que Paulo condena, dizendo que
nós não somos salvos pelas obras, não são as obras que Tiago recomenda. Paulo
estava falando contra o legalismo, por isso ele enfatizava um lado da moeda; e
Tiago está falando contra o antinomianismo - a libertinagem -, por isso ele
está enfatizando o outro lado da moeda. Portanto, os dois homens de Deus estão
absolutamente de acordo.
Em nossa vida cristã, o equilíbrio deve
sempre ser uma busca incessante: uma fé que seja pura, centrada somente em
nosso Senhor Jesus; e, por outro lado, uma vida que demonstre a realidade dessa
fé através da prática das obras.
2.
A “morte” da fé. “Assim
também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg 2:17). Tiago é
claro em afirmar que a fé sem as obras está morta (Tg 2:17; 2:26), e uma fé
morta não salva ninguém. Ortodoxia sem piedade produz morte. Quando, então, se
constata a “morte” da fé? Responde o Rev. Hernandes Dias Lopes: (1)
a) quando a fé não desemboca em vida santa.
A fé morta está divorciada da prática da piedade. Há um hiato, um abismo entre
o que a pessoa professa e o que a pessoa vive. Ela crê na verdade, mas não é
transformada por essa verdade. A verdade chegou à sua mente, mas não desceu a
seu coração. É um erro pensar que apenas recitar ou defender um credo ortodoxo
faz de uma pessoa um cristão. Aceitação intelectual, apenas, não é fé
salvadora. A fé que não produz vida, que não gera transformação, é uma fé
espúria (Mt 7:21).
Certo pastor, ao ser confrontado em razão de
seu adultério, respondeu: "E daí se eu estou cometendo adultério? Eu prego
melhores sermões do que antes". Esse homem estava dizendo que enquanto ele
acreditasse e pregasse doutrinas ortodoxas, não importava a vida que ele
levava. Mas Tiago ataca esse tipo de pensamento. Isso é fé morta.
b) quando a fé é meramente intelectual. Constata-se
a “morte” da fé quando ela atinge apenas o intelecto. A pessoa consente com
certas verdades, mas não é transformada por elas. No versículo 14, Tiago
pergunta: "Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?". Quando Tiago usa a
palavra semelhante, ele está falando de um certo tipo de fé, ou seja, a fé
apenas verbal em oposição à fé verdadeira. Ainda no versículo 14, ele pergunta:
"Que proveito há, meus irmãos, se alguém disser que tem fé e não tiver
obras?". A fé aqui descrita existe apenas na base da pretensão. A pessoa
diz que tem fé, mas na verdade não tem.
As pessoas com uma fé morta substituem obras
por palavras. Elas conhecem as doutrinas, mas elas não praticam a doutrina.
Elas têm discurso, mas não têm vida. A fé está apenas na mente, mas não na
ponta dos dedos.
c) quando a fé não produz frutos dignos de
arrependimento. Essa fé é ineficiente, inoperante e não produz nenhum
resultado. Ela tem sentimento, mas não ação. Tiago dá dois exemplos para
ilustrar a fé morta (Tg 2:15,16): um crente vem para a igreja sem roupas próprias
e sem comida. Uma pessoa com uma fé morta vê essa situação e não faz nada para
resolver o problema do irmão necessitado. Tudo o que ele faz é falar algumas palavras
piedosas (Tg 2:16). Comida e roupa são necessidades básicas (1Tm 6:8; Gn 28:20).
Como crentes, devemos ajudar a todos e, principalmente, aos que professam a
mesma fé (Gl 6:10). Deixar de ajudar o necessitado é fechar o coração ao amor
de Deus (1João 3:17,18). O sacerdote e o levita podiam pregar sobre sua fé, mas
não demonstraram a sua fé (Lc 10:31,32).
II. EXEMPLOS VETEROTESTAMENTÁRIOS DE FÉ
COM OBRAS (Tg 2:18-25)
1. Não basta “crer”. “Tu crês que há um só Deus? Fazes bem; também
os demônios o creem e estremecem” (Tg 2:19). Somente crer não é uma
experiência salvadora. Você não conhece uma pessoa salva pelo conhecimento que
adquire nem pelas emoções que demonstra, mas pela vida que vive (Tg 2:18). A fé
dos demônios tem um estágio mais avançado de fé que muitos crentes, porque a fé
dos demônios não é apenas intelectual, mas também emocional - eles creem e
tremem. No que os demônios creem? O Rev. Hernandes Dias, citando Warren Wiersbe,
responde a essa pergunta: (1)
Em primeiro lugar, os
demônios creem que Deus é um só. Os demônios creem na existência de Deus. Eles
não são nem ateístas nem agnósticos. Eles creem na "shemma" judaica: "Ouve ó Israel, o Senhor nosso Deus é o
único Senhor". Mas essa crença dos demônios não pode salvá-los.
Em segundo lugar, os
demônios creem na divindade de Cristo. Os demônios corriam para ajoelhar-se
diante de Cristo para adorá-lo (Mc 3:11,12). Eles sabiam quem era Jesus. Eles
se prostravam aos pés do Senhor Jesus.
Em terceiro lugar, os
demônios creem na existência de um lugar de penalidades eternas. Eles sabem que
o inferno foi criado para o diabo e seus anjos. Eles sabem que o inferno é
destinado para todos aqueles cujos nomes não forem encontrados no Livro da
Vida. Eles não negam a existência do inferno (Mt 8:29; Lc 8:31). Eles creem nas
penalidades eternas.
Em quarto lugar, os
demônios creem que Cristo é o supremo Juiz que os julgará. Os demônios sabem
que terão de comparecer diante de Cristo, o supremo juiz. Eles creem no
julgamento final. Eles creem que todo joelho se dobrará diante de Cristo.
Entretanto,
os demônios estão perdidos, eternamente perdidos. Uma fé meramente intelectual
e emocional coloca-nos apenas no patamar dos demônios.
Portanto,
irmãos, não basta somente “crer”. É necessário que a fé seja compromissada com
ação. Tiago demonstra que a fé não consiste em um discurso, mas em convicção
autêntica, seguida da prática de obras de amor. Em Tiago 2:18 é mostrado que a única
maneira de os outros saberem que você tem fé é por uma vida que a comprove - “...mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e
eu te mostrarei a minha fé pelas
minhas obras”. Neste versículo a palavra-chave é “mostrar”. É impossível mostrar fé sem obras. A verdadeira fé e as
obras são inseparáveis.
Tiago
apresenta dois exemplos de fé operante encontrados no Antigo Testamento: Abrão,
um hebreu, e Raabe, uma gentia. Vejamos mais detalhes nos itens seguintes.
2. Abraão. “Porventura Abraão, o nosso pai, não foi
justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?”
(Tg 2:21). Abraão ouviu a voz de Deus e o obedeceu quando Ele ordenou que o
patriarca oferecesse seu filho em holocausto. Abraão foi obediente à ordem de
Deus porque cria que Ele era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar
(Hb 11:18 - ARC). Foi sem dúvida uma prova difícil, mas Abraão confiou que Deus
iria fazer o melhor, pois Ele mesmo havia prometido que faria de Abraão uma
grande nação.
Para entendermos corretamente a afirmativa
de Tg 2:21 devemos ler Gênesis 15:6. Nesta passagem, observamos que Abraão creu
no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça. Abraão foi justificado por
crer, ou seja, pela fé. Só mais adiante, em Gênesis 22, vemos Abraão oferecer
seu filho e ser justificado por obras. Assim que creu no Senhor, Abraão foi
justificado. Mas, no capítulo 22, Deus provou essa fé. O patriarca demonstrou a
autenticidade de sua fé por meio da disposição de oferecer Isaque. Com a
obediência, deixou claro que sua fé não era apenas uma crença intelectual, mas
um compromisso do coração. A disposição de oferecer Isaque foi uma demonstração
prática de fé do patriarca Abraão. Suas boas obras o levaram a ser chamado
amigo de Deus (Tg 2:23).
3.
Raabe. “E de igual modo
Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os
emissários e os despediu por outro caminho?” (Tg 2:25). Aqui, também, Tiago
menciona o exemplo de Raabe. Essa mulher, que era meretriz, ouviu a Palavra de
Deus e reconheceu que estava em uma cidade condenada. Ela não somente entendeu
a mensagem, mas seu coração foi tocado (Js 2:11), e assim fez alguma coisa:
protegeu os espias (Hb 11:31). Ela arriscou sua própria vida para proteger os
espias. Mais tarde ela fez parte do povo de Deus (Mt 1:5) e tornou-se membro da
genealogia de Cristo. Raabe não foi salva porque acolheu os espias, mas porque
esse ato de hospitalidade comprovou que ela era, verdadeiramente, fiel ao
Senhor.
Pergunta-se: Acaso essas obras de Abraão e Raabe, por si
só, foram boas? Certamente não! No caso de Abraão, foi a disposição de
matar o filho; no caso de Raabe, foi traição. Se removêssemos a fé dessas
obras, elas seriam más, e não boas. Alguém disse que “sem a fé, essas obras
seriam não apenas imorais e insensíveis, mas pecaminosas”. Se subtrairmos a fé
de Abraão e Raabe, o resultado são obras do mal. Se as considerarmos frutos da
fé, são obras da vida.
Conclui-se, então, que
uma pessoa é também justificada por obras, e não somente por fé (Tg 2:24). Isso
não significa que o cristão é justificado por fé acrescida de obras. A
justificação se dá por fé em relação a Deus e por obras em relação aos homens.
Deus justifica o cristão no momento em que ele crê. Alguém poderá dizer:
“Mostra-me a realidade da tua fé”. A única maneira de fazer isso é por meio de
boas obras.
III. A METÁFORA DO CORPO SEM O ESPÍRITO
PARA EXEMPLIFICAR A FÉ SEM OBRAS (Tg 2:26)
1. Uma analogia do corpo sem espírito.
Tiago termina a sua mensagem sobre fé e obras fazendo uma analogia do corpo sem
espírito: “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé
sem obras é morta” (Tg 2:26).
Eis um excelente resumo da questão: Tiago
compara a fé ao corpo humano, e as obras, ao espirito. O corpo sem espirito é
morto, inútil e sem valor. De modo semelhante, a fé sem obras é morta, ineficaz
e imprestável. Trata-se, obviamente, de uma fé espúria, e não da verdadeira fé
salvadora.
Em síntese, Tiago testa nossa fé de acordo
com a resposta que damos à seguinte pergunta: Estou disposto, como Abraão, a
oferecer a Deus o que tenho de mais precioso? Estou disposto, como Raabe, a
trair o mundo a fim de ser leal a Cristo? Ninguém é levado a agir se não tiver
fé; a fé de uma pessoa não será real a menos que a leve à ação. A ação é a
obediência a Deus.
2.
Da mesma maneira: fé sem obras é morta. Tiago conclui a sua
exortação, reafirmando seu tema central: a
fé sem obras é morta. Do mesmo modo que o corpo sem seu espírito
vivificante - “sem fôlego de vida” (Gn 2:7) -, não passa de um cadáver, assim
também a fé, sem as obras que lhe dão vitalidade, é morta. Percebemos que Tiago
está preocupado não com que as obras sejam “acrescentadas” à fé, mas, sim, com
que se possua o tipo certo de fé, uma fé operante. Sem este tipo de fé, o
cristianismo torna-se uma ortodoxia estéril e perde todo o direito de ser
chamado de fé. (2)
CONCLUSÃO
A fé deve nos mover em prol de boas ações,
não para sermos salvos, mas para demonstrar que somos salvos, que nossa fé não
é estática, e que Deus pode usar nossas ações para fazer apresentar a fé pura e
imaculada.
---------
Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista.
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação
Pessoal.
Revista Ensinador Cristão – nº
59 – CPAD.
William Macdonald - Comentário
Bíblico Popular do Novo Testamento. Mundo Cristão.
(1) Rev. Hernandes Dias Lopes – Tiago (Transformando Provas em
Triunfo). Hagnos.
(2) Douglas J. Môo. Tiago. Introdução e Comentário. Vida Nova.
Comentário do Novo Testamento –
Aplicação Pessoal. CPAD.
Silas Daniel & Alexandre
Coelho – Tiago – Fé e Obras. CPAD.
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