3º Trimestre/2015
Texto Base: 2Tm 1:3-8; 2:1-4
“[...] porque eu sei em quem tenho
crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele
Dia” (2Tm 1:12).
Dando continuidade ao estudo das “Ordenanças
de Cristo nas Cartas Pastorais”, estudaremos a partir desta Aula a respeito da
Segunda Epístola de Timóteo. Esta é a última carta de Paulo, escrita na
penumbra do martírio. Era um tempo de graves ameaças à fé cristã. De um lado, o
fogo da perseguição soprava com indomável violência. Por outro lado, o assédio
dos falsos mestres era assaz audacioso. Muitos crentes estavam abandonando as
fileiras do evangelho. Outros esquivavam-se de qualquer ligação com o apóstolo
Paulo, o qual estava preso como um malfeitor, sob pesadas acusações, numa
insalubre masmorra romana, na antessala do martírio. Apesar de estar velho e
cheio de cicatrizes, tendo de suportar o rigor do inverno e o abandono de
muitos amigos, Paulo não está, prioritariamente, preocupado consigo mesmo, mas
em manter acesa a chama da fé e incontaminado o evangelho de Cristo para as
gerações pósteras. O evangelho é maior que os obreiros. Estes passam; o
evangelho permanece.
Diante de um mundo que marcha resoluto rumo
à mais desavergonhada corrupção, Timóteo deve permanecer fiel às Escrituras,
pois são inspiradas por Deus e úteis para levar o povo de Deus à maturidade. A
igreja se alimenta da Palavra e cumpre sua missão por intermédio dela. Longe de
ser levado pelas ondas revoltas da impiedade ou abraçar as sedutoras novidades,
Timóteo deve manter-se firme nas mesmas verdades que aprendera desde sua
infância. O evangelho é insubstituível. É sempre atual. Sempre vivo. Sempre
poderoso. Sempre eficaz. Podemos, então, dizer como disse o apóstolo Paulo: “Eu
sei em quem tenho crido” (2Tm 1:12)?
I. ORAÇÕES E AÇÃO DE GRAÇAS (2Tm 1:3-5)
1. “Ao amado filho” (2Tm1:2).
Aqui, Paulo reafirma seu profundo amor por Timóteo. Apesar de Paulo se referir
a Timóteo como “amado filho”, não se pode provar que Timóteo tenha se
convertido por meio do ministério de Paulo. O primeiro encontro deles
registrado está em Atos 16:1, em que Timóteo já é descrito como discípulo antes
de Paulo chegar a Listra. De qualquer forma, o apóstolo o via como um “amado
filho” na fé cristã. “Paulo sabia que logo morreria, talvez por isso, tenha
demonstrado, de uma forma tão intensa e emotiva, sua afeição e amor por
Timóteo. Isso nos mostra que o líder precisa ter afeição, amor e saber
demonstrá-los por aqueles que estão ao sue lado, cooperando na obra do Senhor”.
Em
2Tm 1:3, Paulo fala das incessantes intercessões por Timóteo em
suas orações de noite e de dia – “...porque, sem cessar, me lembro de ti nas minhas orações,
noite e dia”. Sempre que se dirigia ao
Senhor em oração, o grande apóstolo se lembrava de seu querido e jovem colega
de trabalho e colocava o nome dele diante do trono de graça. Paulo sabia que
seu tempo de serviço se esgotava rapidamente e que Timóteo seria deixado só,
humanamente falando, para executar seu testemunho de Cristo. Ele sabia das
dificuldades que esse jovem guerreiro da fé enfrentaria e, então, orava
continuamente por ele. “Precisamos de
pastores que conheçam a intimidade de Deus pela oração e sejam exemplo de
piedade para o rebanho”.
2.
A sensibilidade de Paulo (2Tm 1:4). “Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por
ver-te, para que eu transborde de alegria”.
Estas palavras mostram que Paulo sentia uma
nostálgica saudade de ver Timóteo. Isto é, sem dúvida, um sinal especial de
amor e de estima e que traduz expressamente a graça, a ternura e a humildade de
Paulo.
Paulo se lembrava das lágrimas de Timóteo
quando da despedida deles. Suas lágrimas deixaram uma profunda impressão em seu
velho colega de serviço. Alguns estudiosos sugerem que isso ocorreu quando
Paulo fora apartado dele pela polícia ou pelos soldados romanos, provavelmente
quando Paulo foi preso e levado a Roma para o seu segundo aprisionamento. Paulo
não poderia se esquecer e desejava estar com Timóteo de novo para que ele
pudesse transbordar de alegria. Ele desejava muito ver Timóteo outra vez, de
modo que mais de duas vezes nesta carta ele pediu que Timóteo fizesse o
possível para vir vê-lo logo (cf 2Tm 4:9,21). Hoje, infelizmente, os relacionamentos
estão cada vez mais escassos e tímidos. Alguém disse: “corações sem lágrimas
jamais podem ser mensageiros do amor. Quando nossa compaixão perde o calor,
deixamos de ser servos do amor”.
3.
A fé de Timóteo (2Tm 1:5). “Pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que,
primeiramente, habitou em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice, e estou certo de
que também, em ti”.
Timóteo era um jovem obreiro de caráter
exemplar. Sua fé era sincera, verdadeira e não usava máscaras. Era uma “fé sem
fingimento”. Observe que é dito que a fé habitou em Lóide e Eunice. A fé não
estava nelas como visitante ocasional, mas como moradora permanente. Paulo
estava certo de que assim também era com Timóteo. Era a fé não fingida que
Timóteo sustentaria, apesar de todas as lutas que teria de enfrentar por causa
dela. A educação familiar de Timóteo serve de modelo para as famílias cristãs
atuais.
II. A CONVICÇÃO EM DEUS (2Tm 1:6-14).
1. “Despertes o dom de Deus” (2Tm 1:6). “Por este motivo, te lembro que despertes o
dom de Deus, que existe em ti pela imposição das minhas mãos”.
Timóteo é incentivado a reativar o dom de
Deus que há nele. Não nos é relatado que dom de Deus é esse. Alguns entendem
ser uma habilidade especial conferida pelo Senhor para alguma forma de serviço
cristão, como, por exemplo, o dom de evangelizar, pastorear ou de ensinar. Parece
claro que Timóteo foi chamado para o serviço cristão e a ele foi concedida
habilidade especial (vide 1Tm 4:14).
Em vez de pedir a Timóteo que reacendesse um
fogo apagado, Paulo o estava estimulando a atiçar um fogo que já estava aceso,
para mantê-lo ardendo em labareda viva. Timóteo não precisava de novas
revelações ou novos dons; ele precisava apenas “atiçar” o dom que já tinha
recebido, como também ter coragem e autodisciplina para se apegar à verdade nos
dias vindouros (vide 2Tm 1:13,14). Ele não deveria desanimar com o fracasso
geral ao seu redor (cf 2Tm 1:7). Nem se tornar profissional no serviço ao
Senhor e cair em uma confortável rotina. Ao contrário, ele deveria se preocupar
em usar cada vez mais seu dom à medida que os dias se tornassem cada vez mais
sombrios (2Tm 1:8). Quando Timóteo usasse este dom, o Espirito Santo estaria
com ele e lhe daria poder. Deus nunca nos dá uma tarefa sem nos capacitar para
realizá-la.
Esse “dom” foi concedido a Timóteo “pela
imposição das mãos” do apóstolo Paulo. Isso não deve ser confundido com o
ritual de ordenação praticado hoje nas convenções de obreiros. O significado é
exatamente o que as palavras expressam, isto é, que o “dom” foi concedido a
Timóteo no momento em que Paulo impôs as mãos sobre ele. O apóstolo foi o canal
pelo qual o dom foi outorgado.
2.
“Espírito de fortaleza, e de amor, de moderação” (2Tm 1:7). “Porque Deus não nos deu o espírito de temor,
mas de fortaleza, e de amor, e de moderação”.
Parece que Timóteo estava enfrentando uma
grande oposição à sua mensagem e à sua liderança (veja 1Tm 4:12). Talvez
Timóteo se sentisse intimidado, irado e até mesmo desamparado, face à oposição
dos falsos ensinadores. Qualquer que fosse o grau das suas dificuldades, Paulo
incentivou a ousadia de Timóteo, lembrando-o do seu chamado e do seu dom (2Tm
1:6). O medo paralisa e acaba por neutralizar as nossas ações em favor da obra
de Deus. O Espírito Santo nos ajuda a superar o medo e nos encoraja a
prosseguir. Por isso, o líder precisa ser alguém cheio do Espirito Santo (Ef
5:18).
Paulo, a despeito de estar na antessala do
martírio, lembra a Timóteo que:
- “Deus
não nos deu espírito de temor, mas de fortaleza...”.
Uma força ilimitada está à nossa disposição. Por meio da capacidade do Espírito
Santo, o cristão pode servir bravamente, resistir pacientemente, sofrer
vitoriosamente e, se necessário, morrer gloriosamente.
- “Que
Deus não nos deu espírito de temor, mas de...amor...”. É o nosso amor por Deus que expulsa o medo
e faz com que nos entreguemos voluntariamente a Cristo a qualquer preço. É o
amor pelos nossos semelhantes que nos estimula a suportar todos os tipos de
perseguições e retribuí-los com brandura.
- “Que Deus não nos tem dado espírito de temor, mas de…moderação” ou disciplina. Deus nos deu um espírito de
autocontrole e de autodomínio. Devemos ser discretos e não agir sem refletir,
de maneira precipitada ou tola. Independente das circunstâncias adversas,
devemos cultivar um juízo equilibrado e comportarmos sobriamente.
Nós podemos ficar impressionados com um
líder que exibe ousadia e poder, mas sem amor ou domínio próprio, esse líder
não passa de um “valentão”.
3.
Apóstolo dos gentios (2Tm 1:11). “Para o que fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios”.
Para proclamar o evangelho glorioso,
referido em 2Tm 2:8-10, Paulo sofreu prisão e solidão, mas não hesitou em
declarar a verdade de Deus. Nenhum temor por sua segurança pessoal fechou-lhe a
boca. Agora, mesmo aprisionado em uma cela insalubre, ele não se envergonhava,
porque sabia em quem tinha crido e estava certo de que Cristo é poderoso para
guardar o seu tesouro até àquele Dia (2Tm 1:12). E ele pede a Timóteo que “não se envergonhes do testemunho de nosso
Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do
evangelho [...] para o que fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos
gentios” (2Tm 1:8-11).
Paulo diz que foi designado pregador,
apóstolo e doutor (ou mestre) do evangelho. Pregador é o mensageiro
que tem por função proclamar publicamente uma mensagem. Apóstolo é aquele que foi
divinamente enviado, preparado e autorizado. Doutor (ou mestre) é quem
tem como função doutrinar os outros, explicar a verdade de forma compreensível
para que possam responder pela fé e obediência. A expressão “doutor dos
gentios” enfatiza o seu ministério especial para as nações não-judaicas.
Concordo com o argumento de John Stott “de
que hoje não temos mais apóstolos. A igreja apostólica é aquela que segue o
ensinamento dos apóstolos. Hoje, temos pregadores e mestres, aqueles que
proclamam e aqueles que ensinam o evangelho anunciado pelos apóstolos” (Stott,
John. Tu, porém: a mensagem de 2Timóteo,
p. 33).
III. UM CONVITE AO SOFRIMENTO POR
CRISTO (2Tm 2:1-13)
1. O fortalecimento na graça (2Tm 2:1).
“Tu, pois, meu filho, fortifica-te na
graça que há em Cristo Jesus”.
À época de Timóteo viver como cristão era um
grande desafio. Havia uma crudelíssima perseguição política, uma invasora
perturbação dos falsos mestres e uma debandada geral dos crentes. Num cenário tão
cinzento, Timóteo, que era jovem, tímido e doente, não poderia permanecer firme
sem uma capacitação da graça. A graça não está em Paulo nem na igreja, está em Cristo
Jesus. Não há vida cristã vitoriosa sem poder sobrenatural. Esse poder não vem
da terra, mas do céu; não vem dos talentos humanos, mas da graça de Cristo
Jesus. Jesus já havia deixado isso claro: “Sem
mim, nada podeis fazer” (João 15:5). Paulo também já havia escrito: “A nossa capacidade vem de Deus” (2Co
3:5). Portanto, a capacitação do obreiro, não vem do conhecimento intelectual
nem da influencia, vem da graça que está em Cristo Jesus. Os recursos para a realização
do ministério não estão em nós mesmos, estão em Cristo. Dele emana todo o
poder. Ele é a fonte de toda a capacitação.
2.
Soldado de Cristo (2Tm 2:3). “Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo”.
O apóstolo Paulo neste texto mostra o
soldado como uma figura do cristão. Ele já havia ensinado que a vida cristã é
uma luta sem trégua contra os principados e potestades e que, por essa razão,
todo cristão deve estar revestido com a armadura de Deus, equipado com as armas
espirituais.
“Sofre,
pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo”. O
serviço do Senhor é bastante duro; não é um papel indicado para qualquer
pessoa. Pelos relatos exarados nas Escrituras Sagradas, parece que as pessoas
que são mais usadas por Deus como instrumentos na obra dEle passam por grandes
aflições. Não é de admirar então que Paulo exortasse Timóteo para que se fortalecesse
a fim de passar por tribulações: " Sofre, pois, comigo, as aflições...”.
Segundo
o Rev. Hernandes Dias Lopes, a vida cristã não é um parque de
diversões, mas um campo de batalha. O obreiro não é um turista, mas um soldado.
Não vive buscando deleites e prazeres, mas está pronto a sofrer. Muitas vezes,
o papel do soldado é colocar seu corpo como parede viva entre o inimigo e
aqueles a quem ele ama. É sacrificar-se por aqueles a quem defende. Não há
ministério indolor. Não há vida cristã sem sofrimento. Não há cristianismo
genuíno sem dor. Sua fidelidade a Cristo certamente lhe acarretará oposição e escárnio.
A palavra de Deus desmente as doutrinas de
''parar de sofrer'', que são promulgadas por determinadas igrejas de nossa
época. A realidade das duras provações na vida cristã tem assustado vários
discípulos que ficam abalados ao ponto de deixar de trabalhar para o Senhor.
3.
O lavrador (2Tm 2:6). “O
lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos”.
Somente o lavrador que trabalha irá gozar
dos frutos do seu trabalho: uma boa colheita. O lavrador sabe que as sementes
não se plantam sozinhas; a colheita não irá andando até o celeiro. O lavrador
precisa ir ao campo para plantar as sementes, regá-las, protegê-las, arrancar
as ervas daninhas, e, finalmente, fazer a colheita. O lavrador não apenas tem o
direito aos frutos, mas lhe cabe o privilégio das primícias. Ele não apenas
semeia com lágrimas, mas colhe com júbilo.
A que colheita Paulo se refere? Primeiro, pode ser à colheita da santidade. Se semearmos no
Espírito, colhemos o fruto do Espírito e avida eterna (Gl 5:22; 6:8). Segundo, à colheita de conversões. Cabe ao agricultor semear e regar e compete
ao Senhor dar o crescimento (1Co 3:6,7). Quando o semeador semeia com lágrimas,
volta com júbilo, trazendo os seus feixes (Sl 126:5,6).
Nenhum lavrador preguiçoso consegue resultados
abundantes na lavoura. Dizem as Escrituras: “O preguiçoso não lavra por causa do inverno, pelo que, na sega, procura
e nada encontra” (Pv 20:4). Ainda diz a Palavra de Deus “Passei pelo campo do preguiçoso e junto à
vinha do homem falto de entendimento; eis que tudo estava cheio de espinhos, a
sua superfície, coberta de urtigas, e o seu muro de pedra, em ruinas” (Pv
24:30,31).
Há muitos obreiros que fazem a obra do
Senhor relaxadamente. Aquele que exerce o ministério deve fazê-lo com
excelência, e isto precisa ser demonstrado tanto no caráter pessoal quanto no
exercício de sua função.
CONCLUSÃO
Não importa a dureza dos momentos aqui, são
leves e momentâneos em comparação com a "glória eterna que pesa mais do
que todos eles" (2Co 4:17). Que aprendamos com o apóstolo Paulo a
suportar sofrimentos sem queixa, e que possamos expressar como ele: “por cuja causa padeço também isto, mas não me
envergonho, porque eu sei em quem tenho
crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até
àquele Dia” (2Tm 1:12).
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Luciano de Paula Lourenço -
Disponível
no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia
de Estudo Pentecostal.
Bíblia
de estudo – Aplicação Pessoal.
Revista
Ensinador Cristão – nº 63. CPAD.
Comentário
Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário
do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD
Guia
do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards
Tito e
Filemom – doutrina e vida, um binômio inseparável. Rev. Hernandes Dias Lopes.
Hagnos.
1 Timóteo
– o pastor, sua vida e sua obra. Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.
2 Timóteo
– O testamento de Paulo à Igreja. Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.
Comentário
do Novo Testamento – 1 e 2 Timóteo e Tito. William Hendriksen.
As
Ordenanças de Cristo nas Cartas Pastorais. Elinaldo Renovato de Lima. CPAD.
Continue sendo bênçãos nas mãos do Mestre por Excelência.
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