[Reflexão sobre a eleição presidencial de Domingo, dia
28/10/2018].
Texto Base: Jeremias 29.5-11.
Por:
Daniel Lima (*)
Não importa o
resultado das eleições deste final de semana. Inúmero de nós estaremos
satisfeitos e outra grande parcela ficará decepcionada! Temos dificuldade
quando nossa esperança (justificada ou não) é frustrada. Quem de nós nunca viu
homens adultos chegarem às lágrimas quando seu time de futebol perde uma
partida importante? E, veja bem, neste caso são resultados bastante
irrelevantes para sua vida.... Na questão de eleições, é bem possível que essa
frustração afete sua vida, sua casa e, quem sabe, até sua igreja.
Como devemos
reagir, enquanto cristãos, quando somos forçados a viver sob um governo que
desafia nossas preferências, nossas convicções e mesmo nossa fé? Certamente
muitos vão cair em uma apatia impotente: “Não adianta a gente se interessar e
se envolver, nada muda mesmo!”. Outros cairão em uma revolta ou indignação, em
sua grande maioria igualmente impotente: “Não dá mais, este governo eleito vai
nos levar a uma situação ainda pior. Não há nada que se aproveite nele...”.
Não creio que
estas sejam as únicas opções e certamente não creio que são as mais saudáveis,
seja para o país, seja para sua igreja, para sua família ou mesmo para você
enquanto seguidor de Jesus. Já falamos em outro artigo sobre o perigo
de entregar-se de forma absoluta a um movimento, partido ou candidato. Hoje eu
gostaria de estudar com você como fazer quando somos “forçados” a viver em um
contexto ou sob um governo que, na nossa opinião, é iníquo.
Esta curiosamente
não é uma situação nova ou rara para seres humanos, cristãos ou não. Com muito
mais frequência somos forçados a viver em situações que nos frustram e nas
quais nos sentimos injustiçados. É certo que uma parcela significativa da
igreja do primeiro século era composta por escravos que certamente não queriam
viver naquelas condições. O povo de Israel também passou várias vezes por
situações de opressão. A realidade de um sistema com o qual não concordamos,
longe de ser algo inédito, parece ser a experiência mais comum na história
humana. Com isso não estou propondo uma postura resignada e fatalista, mas uma
postura de fé. Nesta semana, passei por um texto que me desafiou novamente a
uma postura que contrasta com o que temos visto e me parece apropriada a um
exame mais cuidadoso nestes dias.
“Construam casas e
habitem nelas; plantem jardins e comam de seus frutos. Casem-se e tenham filhos
e filhas; escolham mulheres para casar-se com seus filhos e deem as suas filhas
em casamento, para que também tenham filhos e filhas. Multipliquem-se e não
diminuam. Busquem a prosperidade da cidade para a qual eu os deportei e orem ao
Senhor em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade
dela”. Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: “Não deixem
que os profetas e adivinhos que há no meio de vocês os enganem. Não deem
atenção aos sonhos que vocês os encorajam a terem. Eles estão profetizando
mentiras em meu nome. Eu não os enviei”, declara o Senhor. Assim diz o Senhor:
“Quando se completarem os setenta anos da Babilônia, eu cumprirei a minha
promessa em favor de vocês, de trazê-los de volta para este lugar. Porque sou
eu que conheço os planos que tenho para vocês”, diz o Senhor, “planos de
fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um
futuro” (Jeremias 29.5-11).
Esta foi uma
profecia de Jeremias em um período em que o povo de Deus estava colhendo
consequências de uma longa série de escolhas erradas. Após séculos rejeitando a
Deus, abandonando sua adoração, participando de cultos idólatras e mesmo
matando os profetas, o reino do Sul, Judá, estava em um caos completo.
Localizado entre superpotências da época, Judá havia ficado como uma presa
disputada por estes poderosos impérios. Em um período de cerca de trinta anos,
Judá passa por cinco reis e troca de lealdade entre Egito e Babilônia cerca de
seis vezes. Impostos são cobrados e parte da população é exilada a cada novo
dominador. No final, durante o reino de Joaquim, Jerusalém é destruída e a
família real e todos os habitantes qualificados são deportados (cerca de dez
mil). Apenas os mais pobres ficam na cidade destruída, com o templo queimado,
sem defesas ou projeto de futuro (2Reis 24–25).
No meio desta
situação, Jeremias recebeu uma palavra de Deus para passar ao rei e ao povo.
Sua palavra era dura e parecia ser uma traição, pois Deus lhe pediu para falar
ao povo que não resistisse ao inimigo, mas se entregasse a ele. Deus estava
trazendo disciplina sobre o povo para que pudessem se arrepender de sua
idolatria. Isso de forma nenhuma deveria consistir em uma surpresa para os
judeus. Em praticamente todo registro da aliança de Deus com seu povo há uma
longa descrição dos benefícios da fidelidade e as consequências e maldição da
infidelidade. A promessa da misericórdia de Deus também estava sempre presente
(por exemplo Josué 24).
No entanto,
infelizmente os sacerdotes e líderes religiosos de Judá passaram a confiar
tanto nas promessas de restauração, ignorando as consequências de seus atos,
que rejeitavam a realidade das consequências que estavam colhendo. Rei após rei
rejeitou as profecias de Jeremias, tratando-o com hostilidade e até mesmo
prisão. Reis contratavam profetas que falassem o que interessava ao rei, sempre
afirmando que eram profetas de Deus. Infelizmente este quadro é estranhamente
familiar, tanto na batalha de informações verdadeiras e falsas que são lançadas
o tempo todo como no costume de cristãos que, uma vez confrontados em uma
igreja, logo buscam outra que se “encaixe” melhor em suas preferências. Tenho
conhecido cristãos que agem tolamente, não cumprem seus compromissos e mais
tarde lamentam a “falta de cuidado de Deus”. Para estes Deus parece ser
obrigado a protegê-los de todo o mal, mesmo do mal que eles mesmos provocam.
De que forma este
texto pode nos ajudar? O povo estava vivendo sob um império estrangeiro, um
regime opressivo, pagão, idólatra e não tinha condições de fazer nada para
mudar este governo. Isso era resultado de suas escolhas anteriores, mas o fato
é que mesmo um judeu fiel e temente a Deus era forçado a viver nas mesmas
condições. Talvez esta venha a ser a sua situação a partir deste domingo – ou
melhor, do início do próximo ano. Talvez você se julgue injustiçado pela
escolha que outros fizeram por você. Certamente muitos de nós nos veremos nesta
condição. Muitos vão alegar que não escolheram este ou aquele candidato;
outros, se a história recente se repetir, logo estarão profundamente
arrependidos dos candidatos em que votaram.
Diante disso,
Jeremias escreve o texto acima e o envia para a corte e para o povo. Quais são
os princípios que podemos aprender? Como se comportar quando nos sentimos como
que vivendo no exílio, sob um governo que não pedimos ou concordamos, em
circunstâncias que contrariam o que cremos ou sonhamos?
·
A vida continua (Jeremias 29.5-6). Vivam a vida comum, sigam
trabalhando, vivendo e se relacionando. Caso um governo que na sua opinião seja
maligno for instalado, não devemos parar nosso modo de viver ou suspender
qualquer atividade. Nosso chamado é continuar e, por meio de nossa vida em
circunstâncias não ideais, manifestar nossa esperança em Deus.
·
Orem e trabalhem
pela prosperidade de seu país (Jeremias
29.7). Infelizmente é comum que pessoas que se sentem derrotadas em eleições
assumam uma postura de “quanto pior, melhor”, entendendo que agindo assim
mostrarão sua discordância com a situação. O povo de Judá foi desafiado a ver
que esta situação fazia parte do plano de Deus para eles. A mensagem
incentivava os judeus a investirem no progresso da cidade para onde foram
deportados, pois este progresso iria abençoá-los também. Mesmo se o resultado
das eleições for contrário ao seu entendimento, trabalhe, ore pelo nosso país,
contribua para que as coisas melhorem, continue a ser uma presença ativa e positiva.
Não importa quem ganhe a eleição, seja uma benção no lugar onde vive.
·
Cuidado com falsos
profetas (Jeremias 29.8-9). Seja
cuidadoso quanto ao que você ouve e o que consola você. Na profecia de Jeremias
havia uma promessa de restauração futura. No entanto, eles só viam o momento, e
o contexto era o contrário do que esperavam. Por isso, não é surpresa que em
sua desesperança o povo ouvisse, incentivasse e até mesmo contratasse profetas
para falar o que queriam ouvir. Estes profetas anunciavam coisas que Deus não
havia prometido, soluções que eram agradáveis mas irreais. Este era um tempo de
disciplina para a nação de Israel – e talvez seja o mesmo para nós. Deus
disciplina a quem ama e certamente Deus ama o povo brasileiro. Não importa o
resultado das eleições, o resultado não será tudo o que gostaríamos. No
entanto, temos a garantia dada por Deus de que ele continua no controle e de
que seu plano não pode ser frustrado.
·
Mantenha o foco
nas promessas (Jeremias
29.10-11). Para o povo de Israel havia uma promessa de que após determinado
tempo Deus iria resgatar sua nação. Como cristãos temos uma promessa muito
maior, mas que não se refere a esta nação. Nos foi prometido que Cristo mesmo
vai voltar para nos buscar (João 14.1-4). Esta promessa é enfatizada quando
Deus reafirma tanto sua autoridade como seu interesse naquilo que é melhor para
nós. Isso não significa ficarmos apáticos, mas continuarmos vivendo com graça e
esperança, mesmo em situações adversas.
Minha sincera
oração é que pessoas mais tementes a Deus assumam o governo. Não somente para
que meus interesses sejam protegidos, mas porque eu creio que pessoas tementes
a Deus farão um governo melhor para nosso país do que pessoas que promovem a
impiedade. Há uma exceção a este princípio: é quando Deus quer trazer
disciplina sobre uma nação. Neste caso, ele levanta pessoas iníquas que farão o
mal prosperar e assim talvez o povo aprenda a confiar em Deus. Em momentos
conturbados, nossa esperança é no Deus que afirma:
“O Senhor desfaz
os planos das nações e frustra os propósitos dos povos. Mas os planos do Senhor
permanecem para sempre, os propósitos do seu coração, por todas as gerações.
Como é feliz a nação que tem o Senhor como Deus, o povo que ele escolheu para
lhe pertencer!” (Salmo 33.10-12)
--------
(*)
Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25
anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutorando em formação
de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do
Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido
um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há
mais de 30 anos, tem 4 filhos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.
Fonte: https://www.chamada.com.br/mensagens/vivendo_no_exilio.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário