2º Trimestre/2020
Texto Base: Efésios 3:14-21
07/06/2020
“Por causa disso, me ponho de joelhos
perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e
na terra toma o nome” (Ef.3:14,15).
Efésios
3:
14.Por causa disso, me ponho de joelhos
perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
15.do qual toda a família nos céus e na terra
toma o nome,
16.para que, segundo as riquezas da sua
glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no
homem interior;
17.para que Cristo habite, pela fé, no vosso
coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor,
18.poderdes perfeitamente compreender, com
todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade
19.e conhecer o amor de Cristo, que excede
todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus.
20.Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo
muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder
que em nós opera,
21.a esse, glória na igreja, por Jesus Cristo,
em todas as gerações, para todo o sempre. Amém!
INTRODUÇÃO
Dando continuidade ao estudo da Epístola aos
Efésios, trataremos nesta Aula da segunda oração do apóstolo Paulo em favor da
Igreja do Senhor Jesus em Éfeso (Ef.3:14-21). Paulo está preso, algemado, na
antessala da morte, no corredor do martírio, com o pé na sepultura e com a
cabeça próxima da guilhotina de Roma, mas não inativo; ele estava realizando um
poderoso ministério na prisão: o ministério da intercessão. Os inimigos de
Paulo o colocaram em grilhões, mas não puderam enjaular sua alma; eles
algemaram suas mãos, mas não puderam algemar a Palavra de Deus e seus lábios;
eles proibiram Paulo de viajar, visitar e pregar nas igrejas, mas não puderam
impedir Paulo de orar pelas igrejas.
A primeira oração de Paulo, na Epístola em
epígrafe, enfatiza a necessidade de iluminação; ela enfatiza a capacitação, o
conhecimento. Nesta segunda oração, a ênfase não é no “conhecer”, mas no “ser”.
Ele tem muitas necessidades físicas e materiais imediatas e urgentes, porém não
faz nenhuma espécie de pedido a Deus com relação à essas necessidades.
Esta oração é geralmente considerada a mais
sublime, a mais ousada, a de mais longo alcance e a mais nobre de todas as orações
das epístolas paulinas. Ela é o ponto culminante da teologia de Paulo; nela,
vemos a intensidade do amor e o cuidado de Paulo para com os irmãos de Éfeso.
Ele nos mostra que a oração intercessória está baseada no amor que temos uns
pelos outros; quando isto é uma realidade, a tristeza do irmão nos toca, as
dificuldades deles tomam o nosso coração e, assim, nos colocamos diante de Deus
para apresentar as suas causas Àquele que tudo pode.
Que no término desta Aula possamos nos
conscientizar do real valor do exercício continuo do ministério da oração e da
sua eficácia no fortalecimento, restauração e crescimento espiritual da Igreja
de Cristo.
I.
INTRODUÇÃO À INTERCESSÃO DO APÓSTOLO
1. A
motivação de Paulo - “Por causa disso”
(Ef.3:14).
O apóstolo agora retoma o pensamento que
iniciou no versículo 1 do capítulo 3 e que foi interrompido para esclarecer o Mistério que estava oculto e que foi
revelado a ele - a gloriosa reconciliação dos gentios com Deus e dos gentios
com os judeus, formando uma única comunidade – a Igreja, o Corpo de Cristo. Por
isso, a expressão “Por causa disso”
faz referência ao capítulo 2 com a sua descrição de como eram os gentios por
natureza, e o que são agora em sua união com Cristo. A surpreendente
transformação de pobreza e morte espiritual em riquezas e glória levou Paulo a
orar a fim de que aqueles crentes vivessem sempre desfrutando de sua exaltada
posição.
2. A
postura do corpo na oração (Ef.3:14).
A postura do corpo de Paulo na oração é
indicada nas palavras “me ponho de joelhos”. Isso não quer
dizer que para orar a pessoa tem de se ajoelhar. Porém, a alma deve sempre ter
essa atitude de humilhação. Podemos orar enquanto andamos, sentamos ou
deitamos. O importante é que o nosso espirito se curve perante Deus numa
atitude de reverência e humildade. Obviamente, não podemos ser desleixados com
nossa postura física quando nos apresentamos Àquele que está assentado num alto
e sublime trono. Como bem diz o rev. Hernandes Dias Lopes, um santo de joelhos
enxerga mais longe do que um filósofo na ponta dos pés. Quando a Igreja ora, a
mão onipotente que dirige o universo se move para agir providencialmente na
história. Concordamos com a expressão: “Quando o homem trabalha, o homem
trabalha; mas quando o homem ora, Deus trabalha”.
3. A
oração é dirigida a Deus Pai (Ef.3:14).
“...perante o Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo”. A oração é dirigida a Deus Pai. Em sentido
geral Deus é o Pai de toda a humanidade porque é o Criador (Atos 17:28,29).
Porém, no sentido mais restrito Ele é somente o Pai de todos os crentes, a quem
gerou em sua família espiritual (Gl.4:6). De maneira ainda mais especial é o
Pai do nosso Senhor Jesus, o que significa que Ele (Jesus) é igual a Deus Pai
(João 5:18).
O papel especial do “Pai” que Paulo tem em
vista aqui está embutido nas seguintes palavras: “do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome”
(Ef.3:15). Essa família é a Igreja: a do Céu é a Igreja que já está na glória;
a da Terra é a que ainda não subiu ao Céu.
Quando Jesus ensinou aos seus discípulos a
oração do Pai Nosso (Mt.6:9-13), Ele inicia com a expressão “Pai nosso”. Ao reconhecermos Deus como
nosso Pai, demonstramos que a relação que existe entre Deus e o homem não é uma
relação de senhorio, de propriedade, de domínio ou de cruel submissão, como se
vislumbra, por exemplo, entre os islâmicos, mas é, sobretudo, uma relação de
amor, de filiação, de intimidade e comunhão.
Ao reconhecermos Deus como nosso Pai, estamos
dizendo que confiamos em Deus e em seu amor e que nada de ruim para nós pode
ocorrer, pois Ele nos ama. É por isso que Jesus insiste em que tenhamos a
imagem de Deus, na oração, como a imagem do Pai, daquele que é infinitamente
muito mais bondoso do que nosso pai terreno e que, portanto, nunca pode querer
nos prejudicar ou nos causar dano.
Como está a nossa vida de oração? Cultivamo-la diariamente? Ou já
nos conformamos com o presente século? Deus decidiu agir, em muitas ocasiões,
através da oração dos crentes. Lembre-se do apóstolo Paulo e da grandeza do seu
ministério. Lembre-se de Martinho Lutero e do impacto da sua vida em todo o
mundo. Lembre-se de João Wesley e do avivamento que varreu a Europa e os
Estados Unidos. E lembre-se de que, por trás de todas essas pessoas, existe uma
vida de oração. A igreja pode transformar o mundo; você pode transformar o
mundo. O caminho? Uma vida de oração. Quando oramos expressamos as seguintes
verdades:
ü Reconhecemos
a soberania de Deus, pois estamos dizendo que Deus é o único que pode atender
aos nossos pedidos, bem como é o único que merece nosso louvor e adoração.
ü Reconhecemos
a nossa insuficiência, pois demonstramos a consciência de que tudo está no
controle de Deus e que, sem Ele, nada podemos fazer.
ü Revelamos
nossa fé, pois demonstramos que nossa confiança está em Deus e não em qualquer
outro ser.
ü Revelamos
a nossa obediência, pois cumprimos a vontade de Deus expressa em sua palavra,
que quer que oremos sem cessar (1Ts.5:17).
ü Demonstramos
o nosso amor para com o próximo, pois intercedemos por ele e, como somos
justos, permitimos que tal oração tenha uma eficácia benévola em sua vida, o
que é o complemento do grande mandamento (Mt.22:39,40).
II.
CORROBORADOS COM O PODER DO ESPÍRITO
“para que, segundo as riquezas da sua
glória, vos conceda que sejais corroborados
com poder pelo seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite, pela
fé, no vosso coração...” (Ef.3:16,17).
Na primeira parte desta oração, o apóstolo
olha para o ponto mais íntimo do cristão: seu homem interior e seu coração. E
isso faz sentido porque esse é sempre o primeiro local para onde Deus olha (cf.
1Sm.16:7; Sl.15:1,2; 24:3,4; 51:6; Mt.22:16). Ele faz um duplo pedido: o poder
do Espírito no homem interior e a presença de Cristo nos corações (Ef.3:16,17).
1. As
riquezas da sua glória (Ef.3:16)
“Para que, segundo as riquezas da sua glória...”.
Paulo manifesta o desejo de que Deus atenda às suas súplicas “segundo a riqueza
da sua glória”. A glória de Deus é o fulgor pleno de todos os atributos de
Deus. Em Efésios 1:17, o apóstolo já havia declarado que Deus é o “o Pai da
glória” e despenseiro de ricas e ilimitadas bênçãos. O apóstolo tinha em mente
os ilimitados recursos que estão disponíveis a Deus. Mas, Paulo não está
pedindo que haja mudança nas circunstâncias em relação a si mesmo nem em
relação aos outros. A preocupação de Paulo não é com as coisas materiais, mas
com as coisas espirituais. Infelizmente, as orações de hoje, tão centradas no
homem, na busca imediata de prosperidade e curas, estão longe do ideal desta
oração paulina.
2.
Fortalecidos com poder (Ef.3:16)
“...vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior”. A bênção que Paulo busca é poder espiritual. Não se trata do
poder para fazer milagres espetaculares, mas do vigor necessário para que sejam
cristãos maduros, estáveis e inteligentes. Quem dá esse poder é o Espírito
Santo. Porém, Ele só pode fortalecer aqueles que se alimentam da Palavra de
Deus e usufruem da atmosfera pura da oração. A presença do Espírito na vida é a
evidência da salvação (Rm.8:9), mas o poder do Espírito é a evidência da
capacitação para a vida (Atos 1:8). Jesus realizou seu ministério na terra sob
o poder do Espírito Santo (Lc.4:1,14; Atos 10:38).
Esse
poder se manifesta no “homem interior”, ou seja, na parte espiritual da nossa
natureza. Lloyd-Jones diz que “o homem interior é o oposto do corpo e todas
suas faculdades e funções. Inclui o coração, a mente e o espírito do homem
regenerado, do homem que está em Cristo Jesus”. É o “homem interior” que se
deleita na lei do Senhor (Rm.7:22); é o “homem interior” que é renovado dia
após dia, enquanto o homem exterior se corrompe (2Co.4:16). Embora pertença a
Deus, nosso “homem interior” carece de força, crescimento e desenvolvimento.
Precisamos ser fortalecidos com poder porque somos fracos, porque o diabo é
astucioso, porque nosso homem interior (mente, coração e vontade) depende do
poder do alto para viver em santidade.
3.
Habitados por Cristo (Ef.3:17a)
“para
que Cristo habite no vosso coração, pela
fé...”.
-“Para
que Cristo habite”. Outro pedido de Paulo é “que Cristo habite, pela fé, no vosso coração”.
Cada cristão é habitado pelo Espírito Santo e é
templo do Espírito Santo. A habitação de Cristo, aqui, porém, é uma questão de
intensidade. A verdade é que Cristo passa a habitar no crente no momento da sua
conversão (João 14:23; Ap.3:20); porém, não é esse o assunto desta oração. Não
se trata aqui de Cristo habitar no
crente, mas sim de se sentir em casa.
Ele reside permanentemente em todos os convertidos; porém, o pedido aqui é que
Ele tenha livre acesso a todos os “quartos” e “cantos” do nosso ser; que não se
entristeça com nossas palavras, pensamentos, intensões e atos pecaminosos; que
desfrute de comunhão ininterrupta com o crente. Assim, o coração do cristão se
transformará no lar de Cristo, um lar onde Ele se deleita – como o lar de
Maria, Marta e Lázaro, em Betânia.
-“...no vosso coração”. Cristo encontra o seu lar no coração dos crentes.
O termo “coração” neste texto indica o centro da vida espiritual que controla
todos os aspectos do comportamento. Assim, o apóstolo pede que o senhorio de
Cristo se estenda aos livros que lemos, ao trabalho que fazemos, à nossa casa,
ao nosso dinheiro que gastamos, às palavras que falamos, enfim, a todos os
detalhes da nossa vida, por menores que sejam. Quanto mais somos fortalecidos
pelo Espírito Santo, mais nos tornamos semelhantes a Cristo; e quanto mais
somos parecidos com Cristo, mais Ele vai se sentir completamente à vontade no
nosso coração.
Nas palavras do rev. Hernandes Dias Lopes, “uma
coisa é ser habitado pelo Espírito, outra coisa é ser cheio do Espírito. Uma
coisa é ter o Espírito residente, outra coisa é ter o Espírito presidente. O
coração do crente é o lugar da habitação de Cristo, no qual ele está presente
não apenas para consolar e animar, mas para reinar. Cristo, em alguns, está
apenas presente; em outros, ele é proeminente e, em outros, ainda ele é
preeminente. Se Cristo está presente em nosso coração, algumas coisas não podem
estar ocupando o nosso coração (2Co.6:17,18; Gl.5:24)”.
-“...pela fé”. Desfrutamos de Sua presença em nós “pela fé”. Isso requer dependência
constante dEle, entrega constante a Ele, e a noção contínua da presença de
Cristo em nós. É “pela fé” que podemos pôr em prática a presença de Cristo na
nossa vida.
Até aqui a oração de Paulo envolve todas as Pessoas
da Trindade. O pedido é feito ao Pai (Ef.3:14) para fortalecer os crentes por
seu Espírito (Ef.3:16) e que, assim, Cristo se sinta completamente à vontade no
seu coração (Ef.3:17). Um dos privilégios da oração é que nela podemos envolver
a eterna Divindade no serviço a favor dos outros e de nós mesmos.
III.
ARRAIGADOS E FUNDADOS EM AMOR
“... a fim
de, estando arraigados e fundados em amor” (Ef.3:17).
Paulo ora para que os
crentes sejam fortalecidos para amar. Nessa nova comunidade que Deus está formando
- a Igreja -, o amor é a virtude mais importante. Precisamos do poder do
Espírito Santo e da habitação de Cristo para amar uns aos outros,
principalmente atravessando o profundo abismo étnico e cultural que,
anteriormente, separava-nos.
1.
Amor: a virtude cristã
O amor é a virtude principal do verdadeiro cristão
(1João 2:7-11). Foi Jesus quem definiu isso - "Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos
amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que
sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros" (João 13:34,35).
Jesus disse que o primeiro e grande mandamento é
amar a Deus de todo o coração, alma e entendimento; e o segundo, semelhante a
este, é amar ao próximo como a si mesmo (Mt.22:37-39). Estes dois mandamentos
são, portanto, a base da vida cristã.
Em 1João 4:7,8 está escrito: “Amados, amemo-nos uns
aos outros, porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e
conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”.
Em Romanos 13:10 diz que “o amor não faz mal ao
próximo. De modo que o amor é o cumprimento da lei”. Portanto, quem ama deseja
o melhor para o próximo.
Em 1Coríntios 13 vemos outras características do
amor: “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se
vangloria, não se ensoberbece; o amor jamais acaba”.
Em 1Timóteo 1:5 está escrito que “o fim do
mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé
não fingida”.
Muito além do amor romântico, de um sentimento, o
verdadeiro amor ultrapassa essas barreiras e é parte da personalidade do
cristão. Como está escrito no Manual Bíblico de Halley, "o amor é a arma
mais eficaz da Igreja. O amor é a essência da natureza de Deus. O amor é a
perfeição do caráter humano. O amor é a força mais poderosa e determinante do
universo inteiro. Sem o amor, nenhum dos vários dons do Espírito teria
proveito".
O amor é o sobretudo do cristão, é a identidade do
cristão. No rol das virtudes do fruto do Espírito, que representa o caráter de
Cristo e do cristão, descrito em Gl.5:22, o amor é a primeira virtude a se
apresentar.
O amor é o que nos distingue como filhos de Deus -
não é o dom de profecia, o poder de falar em nome de Deus ou de realizar curas.
Jesus deu poder aos seus discípulos, enviou o Consolador, mas deixou claro que
seríamos conhecidos como seus discípulos se amássemos uns aos outros (João
13:35). Deus sabe que somos todos diferentes, física e psicologicamente falando;
havia diferença também entre os discípulos, mas o Senhor ordenou que amassem
uns aos outros. O novo mandamento – demonstrar o amor - é a diferença cristã em um mundo egoísta e
vingativo.
É claro que não é uma tarefa fácil praticar o amor;
se fosse fácil, boa parte dos problemas do povo de Deus estariam resolvidos.
Realmente amar a quem nos ama é fácil, difícil é amar a quem nos persegue, a
quem nos oprime, a quem nos tem por inimigos, a quem pensa e age de forma
diferente de nós. Porém, é possível sim amar essas pessoas, pois Deus nos
capacita para isso através da Pessoa do Espírito Santo. Devemos então nos
avaliar, ver o que há de errado em nós, pedir perdão e perdoar quando
necessário e, principalmente, recorrer com humildade ao Espírito Santo para que
Ele produza em nós esse fruto tão precioso - o amor.
2.
Arraigados e fundados em amor (Ef.3:17b)
Paulo continua sua oração intercessória e suplica a
Deus por aprofundamento no amor fraternal – “...a fim de, estando arraigados e
fundados em amor”. Quando Cristo tem acesso irrestrito ao coração, os
cristãos se tornam “arraigados e fundados em amor”.
Se na primeira parte Paulo estava preocupado com o
coração, agora ele está interessado nas raízes. Para isso, ele usa duas
metáforas para expressar a profundidade do amor: uma procedente da botânica
(arraigados-enraizados) e outra, da arquitetura (alicerçados – alicerce é a
base, o fundamento, o sustentáculo). Dessa forma, o apóstolo está comparando a
vida do cristão a uma árvore bem enraizada e a uma casa bem edificada. Nos dois
casos, a causa da estabilidade é a mesma: o amor. Ambas as metáforas enfatizam
profundidade em contraste com superficialidade. Devemos estar tão firmes como
uma árvore e tão sólidos como um edifício.
“O amor há de ser o solo em que a vida deles deverá
ser plantada; o amor há de ser o fundamento em que a vida deles será edificada”
(Stott).
Uma árvore precisa ter suas raízes profundas no
solo se ela quiser encontrar provisão e estabilidade. Assim também é o crente.
Precisamos estar enraizados no amor de Cristo.
A parte mais importante num edifício é sua
fundação; se ele não cresce com solidez para baixo, ele não pode crescer com
segurança para cima. As tempestades da vida provam se as nossas raízes e a
fundação da nossa vida são profundas (Mt.7:24-27).
“O amor é a principal virtude cristã (1Co.13:1-3;
Gl.5:22). O amor é a evidência do nosso discipulado (João 13:34,35). O amor é a
condição para realizarmos a obra de Deus (João 21:15-17). O amor é o
cumprimento da lei (1Co.10:4). O conhecimento incha, mas o amor edifica
(1Co.8:2)” (Hernandes Dias Lopes).
3. A
intensidade do amor de Cristo
“Poderdes perfeitamente compreender, com todos os
santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e
conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios
de toda a plenitude de Deus” (Ef.3:18,19).
Esta é uma oração pela compreensão do amor de
Cristo. Paulo orou para que o firme arraigamento do amor (Ef.3:17)
proporcionasse a todos os crentes a possibilidade de compreenderem
perfeitamente a intensidade do amor de Cristo. O amor de Cristo é total,
completo, eterno e abrangente; ele alcança todos os aspectos da nossa vida.
Efésios 3:18 mostra que mesmo quando procuramos
obter uma compreensão do amor de Cristo, nunca o entenderemos completamente,
pois ele está além da nossa compreensão.
- Ele é “largo”
– cobrindo a extensão da nossa própria vida e alcançando o mundo todo.
- Ele é
“comprido” – indo alem da duração das nossas vidas e atingindo a
eternidade.
- Ele é “alto” –
atingindo as alturas das nossas comemorações e alegrias.
- Ele é
“profundo” – alcançando a profundidade do desencorajamento, do desespero,
e até da morte.
Nas palavras do Rev. Hernandes Dias Lopes, “o amor
de Cristo é suficientemente largo para abranger a totalidade da humanidade
(Ap.5:9,11; 7:9; Cl.3:11), suficientemente comprido para durar por toda a
eternidade (Jr.31:3; Ap.13:8; João 13:1), suficientemente profundo para
alcançar o pecador mais degradado (Is.53:6,7) e suficientemente alto para
levá-lo ao céu (João 17:24)”.
O apóstolo continua: "...e conhecer o amor de
Cristo, que excede todo o entendimento". O amor de Cristo tem quatro dimensões, mas elas não podem
ser medidas. O amor de Cristo é por demais largo, comprido, profundo e alto até
mesmo para todos os santos entenderem. O amor de Cristo é tão inescrutável
quanto suas riquezas são insondáveis (Ef.3:8). Nós somos tão ricos em Cristo
que as nossas riquezas não podem ser calculadas nem mesmo pelo mais hábil
contabilista. Sem dúvida, passaremos a eternidade explorando as riquezas
inesgotáveis da graça e do amor de Cristo; passaremos a eternidade contemplando
o amor de Cristo, maravilhando-nos e extasiando-nos com isso. Entretanto, o que
nos cabe é começar nisso aqui e agora, nesta vida.
O clímax dessa magnifica oração é atingido quando
Paulo pede que sejam “cheios de toda a plenitude de Deus”
(Ef.3:19). Toda plenitude da divindade reside no Senhor Jesus (Cl.2:9). Quanto
mais Ele habita no nosso coração pela fé, mais cheios ficamos de “toda
plenitude de Deus”.
Na Epístola aos Efésios, Paulo fala-nos que devemos
ser cheios da plenitude do Filho (Ef.1:23), do Pai (Ef.3:19) e do Espírito
Santo (Ef.5:18). Devemos ser cheios da própria Trindade. Embora Deus seja
transcendente e nem os céus dos céus possam contê-lo (2Cr.6:18), Ele habita em
nós de forma plena. Deus está presente em cada célula, em cada membro do corpo,
em cada área da vida; tudo é tragado pela presença e pelo domínio de Deus.
Não é possível ficarmos absolutamente cheios de
toda a plenitude de Deus; porém, é esse o alvo que temos diante de nós. No Céu
atingiremos a plenitude do amor, do qual Paulo acabara de falar em sua oração.
Então, se cumprirá a oração do próprio Jesus: "Para que o amor com que me
amaste esteja neles, e eu também neles esteja" (João 17:26).
IV.
A BÊNÇÃO DE DEUS EXCEDE O PENSAMENTO HUMANO
A oração intercessória de Paulo termina com uma
doxologia que inspira a alma:
“Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito
mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que
em nós opera, a ele seja glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as
gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef.3:20,21).
1. A
dimensão das bênçãos divinas
“Ora, àquele
que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que
pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” (Ef.3:20). Os pedidos precedentes foram vastos, ousados e
aparentemente impossíveis; porém, Deus é “poderoso para fazer” mais do que
“pedimos ou pensamos”.
Em nossas orações, nossos pensamentos incluem mais
do que ousamos pedir; nossos sonhos excedem aquilo que desejamos
conscientemente. Deus responde às orações; Ele responde até mesmo as orações
não pronunciadas. Deus pode agir além da nossa capacidade de pedir ou mesmo
imaginar.
Paulo usa superlativos para se fazer entender: Deus
é capaz de “fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou
pensamos”. Deus está muito acima e além das nossas mentes finitas. Deus é capaz
porque é Todo-Poderoso. À incomensurável profundidade do amor de Cristo é
acrescentada a extraordinária abundância do seu poder. Os crentes podem
reivindicar o grande amor de Cristo (Ef.3:19) e saber que o seu poder está
operando dentro de nós através do Espírito Santo.
John Stott diz que a capacidade de Deus de
responder às orações é declarada pelo apóstolo de modo dinâmico numa expressão
composta de sete etapas:
Ø Deus é poderoso para fazer, pois Ele não está
ocioso, inativo nem morto.
Ø Deus é poderoso para fazer o que pedimos, pois
escuta a oração e a responde.
Ø Deus é poderoso para fazer o que pedimos ou
pensamos, pois lê nossos pensamentos.
Ø Deus é poderoso para fazer tudo quanto pedimos ou
pensamos, pois sabe de tudo e tudo pode realizar.
Ø Deus é poderoso para fazer mais do que tudo que
pedimos ou pensamos, pois suas expectativas são mais altas do que as nossas.
Ø Deus é poderoso para fazer muito mais do que tudo
quanto pedimos ou pensamos, pois sua graça não é dada por medidas racionadas.
Ø Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do
que tudo quanto pedimos ou pensamos conforme o seu poder que opera em nós, pois
é o Deus da superabundância.
Os meios que Deus utiliza para responder às nossas
orações são mencionados na expressão “segundo o poder que em nós opera”.
Trata-se de uma referência ao Espírito Santo, o qual trabalha constantemente na
nossa vida procurando produzir um caráter semelhante ao de Cristo,
repreendendo-nos por causa do nosso pecado, dirigindo-nos em oração,
inspirando-nos em adoração e guiando-nos no serviço. Quanto mais nos rendemos a
Ele, maior é a Sua eficácia em nos conformar com Cristo.
2. O convite
para adoração
Paulo encerra o capítulo 3 de Efésios com uma
doxologia ao Deus que responde às orações:
“a ele seja glória na igreja, por Jesus
Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém!”(Ef.3:21).
Nada poderia ser acrescentado a essa oração de
Paulo senão a doxologia: "a ele seja a glória". Somente
Deus merece a glória, pois somente Ele é glorioso. A palavra “glória” refere-se
à presença do próprio Deus, que é maravilhoso, imponente, e que inspira temor
(embora a sua presença seja indescritível).
Somente Deus é o alvo da adoração eterna. A Sua
sabedoria e o Seu poder são manifestos nas hostes angelicais, no sol, na lua,
nas estrelas, nos animais, nos passarinhos, nos peixes, no fogo, na saraiva, na
neve, no nevoeiro, no vento, nas montanhas, nas colinas, nas árvores, nos reis,
no povo, nos velhos, nos jovens, em Israel e nas nações. Todos devem louvar o
nome do Senhor (Sl.148).
Porém, há outro grupo de pessoas que dará “glória”
eterna a Deus: a Igreja. A Igreja é
a esfera em que a glória de Deus se manifesta. A Igreja, eleita de Deus, existe
para glorificá-lo. A Igreja é o campo onde o plano de Deus se exterioriza aqui
na terra (Ef.3:10). A capacidade de dar glória a Deus ocorre somente “por Jesus
Cristo”, pois Ele trouxe a Igreja à existência, através do seu sacrifício pelo
pecado e sua ressurreição dos mortos. A Igreja deve dar glória a Deus nos
cultos de louvor, na vida pura dos seus membros, na proclamação do evangelho a
todo o mundo e no seu ministério de ajuda aos necessitados.
A duração
do louvor e adoração a Deus é para “todas as gerações, para todo o sempre”
(Ef.3:21), o que significa que deve ser praticada por todos os crentes. A Deus
seja a glória por todas as gerações (na história) e para todo o sempre (na
eternidade). Ouvindo Paulo rogar que haja louvor eterno a Deus na Igreja e em
Jesus Cristo, a resposta do nosso coração é um vivo “Amém!”.
“Ora, ao
Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para
todo o sempre. Amém” (1Tm1:17).
CONCLUSÃO
Nunca
devemos nos cansar de orar por algo ou alguém. Paulo diz que devemos
“perseverar” na oração e “vigiar”. A nossa persistência é uma expressão da fé
que temos de que Deus responde às nossas orações. A fé não deve morrer, mesmo
que as respostas venham lentamente, porque a demora pode ser o modo de Deus
realizar a sua vontade em nossa vida. Quando nos sentirmos cansados de orar,
saibamos que Deus está presente, sempre ouvindo, sempre respondendo – talvez
não do modo que esperamos, mas do modo que Ele julga ser o melhor para cada um
de nós. Tem você cultivado a oração? É chegado o momento de buscarmos, ainda
mais, a presença de Deus (Is.55:6).
---------------
Luciano de
Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) -
William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação
Pessoal. CPAD.
Pr. Douglas Baptista. A Igreja Eleita.
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STOTT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo:
ABU Editora, 2007.
STOTT, John. Lendo Efésios.