3° Trimestre de 2024
SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 02
Texto Base: Rute 1:1-5
“E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve
uma fome na terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos
campos de Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos” (Rt.1:1).
Rute 1:
1.E
sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na terra; pelo
que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de
Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos.
2.E
era o nome deste homem Elimeleque, e o nome de sua mulher, Noemi, e os nomes de
seus dois filhos, Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de Judá; e vieram aos
campos de Moabe e ficaram ali.
3.E
morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com os seus dois filhos,
4.os
quais tomaram para si mulheres moabitas; e era o nome de uma Orfa, e o nome da
outra, Rute; e ficaram ali quase dez anos.
5.E
morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando assim esta mulher desamparada
dos seus dois filhos e de seu marido.
INTRODUÇÃO
O
livro de Rute é uma perfeita história de amizade, amor e redenção. Ele exalta o
amor e a virtude de uma mulher moabita. O livro fala da oportunidade de
reconciliação para todas as nações estrangeiras que buscam abrigo debaixo das mãos
do Deus vivo (Rute 2:12). Em Boaz e Rute, os israelitas e gentios são
personificados.
Antônio
Neves de Mesquita diz que o livro de Rute nos coloca face a face com um drama
de família. Nesse drama surgem vários problemas: o problema da crise financeira;
o problema da imigração; o problema da doença; o problema da morte; o problema
da viuvez; o problema da pobreza e; o problema da amargura contra Deus. Ao
mesmo tempo, o livro de Rute nos fala sobre: a força da amizade; a beleza da
providência; a recompensa da virtude.
O
livro de Rute é uma história cheia de emoções profundas, em que se destacam o
poder do amor e a vitoriosa providência divina. Nesse sentido, este livro, que
trata de amizade e amor, é um contraste com o livro de Juízes, que trata de
guerras e contendas.
No
livro de Juízes, o julgamento de Deus está mostrando à nação de Israel a
loucura do pecado; no livro de Rute, o amor e a virtude estão sendo
recompensados. Na verdade, o livro de Rute trata a respeito de Deus; Ele é a
personagem principal desse precioso livro.
Vale
ressaltar que em uma sociedade dominada pelos homens, as personagens centrais
desse romance são duas mulheres que desafiaram a crise e agiram com fé na
providência divina. A primeira era uma judia idosa, pobre, viúva e sem filhos;
a outra, uma gentia viúva que se apegou à sua sogra e se converteu ao Deus de
Israel.
Além
de oferecer-nos abençoadoras lições morais e espirituais, o livro de Rute é um
tributo divino às mulheres, verdadeiras heroínas em tempos de crise.
1. Na Bíblia Hebraica
Segundo pesquisa que
fiz, a Bíblia Hebraica, também conhecida como Tanakh, é dividida em três seções
principais:
a)
Torá (Lei ou
Pentateuco): Compreende os cinco
primeiros livros atribuídos a Moisés — Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio.
b)
Neviim (Profetas): Subdividida em Profetas Anteriores (Josué, Juízes, Samuel
e Reis) e Profetas Posteriores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze Profetas
Menores).
c)
Ketuvim (Escritos): A terceira e última seção, que inclui uma variedade de
livros de diferentes gêneros literários.
A seção dos Ketuvim
(Escritos) é composta por onze livros que abrangem poesias, sabedoria,
histórias e apocalípticos. Os livros incluídos são:
- Salmos
- Provérbios
- Jó
- Cântico dos Cânticos
- Rute
- Lamentações
- Eclesiastes
- Ester
- Daniel
- Esdras-Neemias
- Crônicas
Dentro dos Ketuvim,
existe um subgrupo conhecido como Megillot, ou "Cinco Rolos", que são
lidos em ocasiões específicas do calendário judaico. Esses cinco livros são:
a)
Cântico dos Cânticos: Lido durante a Páscoa.
b)
Rute: Lido durante o Shavuot (Festa das Semanas ou
Pentecostes), que celebra a colheita.
c)
Lamentações: Lido no Tisha B'Av, dia de jejum que lembra a destruição
dos Templos de Jerusalém.
d)
Eclesiastes: Lido durante o Sucot (Festa dos Tabernáculos).
e)
Ester: Lido durante o Purim.
A POSIÇÃO DO LIVRO DE
RUTE
O Livro de Rute,
embora seja uma narrativa histórica breve, está estrategicamente posicionado
entre os Megillot devido à sua
relevância litúrgica e temática.
Contexto Litúrgico e
Histórico do Livro de Rute
Shavuot (Pentecostes). Rute é tradicionalmente lido durante o Shavuot, que
celebra a colheita de trigo. A história de Rute se passa durante a época da
colheita, o que estabelece um paralelo direto com a festa. Além disso, Shavuot
é também associado à entrega da Torá, e a conversão de Rute ao judaísmo (Rute
1:16,17).
Estrutura e Conteúdo
ü Narrativa e Genealogia. O livro de Rute tem quatro capítulos que narram a
história de Rute, uma moabita que se casa com um israelita e, após sua viuvez,
demonstra lealdade à sua sogra Noemi. A história culmina com Rute casando-se
com Boaz e sendo incluída na linhagem de Davi, e, por extensão, na genealogia
de Jesus (Rute 4:13-22).
ü Temas Centrais.
O livro destaca temas de lealdade, redenção e providência divina. A inclusão de
Rute na comunidade de Israel prefigura a aceitação de gentios na fé judaica,
sublinhando a universalidade do amor e da graça de Deus.
Posição na Tanakh
Na Tanakh, a posição de Rute varia dependendo da tradição
textual, mas geralmente é encontrada entre os Escritos, refletindo sua importância
tanto histórica quanto litúrgica.
Portanto, a inclusão
do Livro de Rute na seção dos Ketuvim
(Escritos) da Bíblia Hebraica e seu lugar entre os Megillot (Cinco Rolos) sublinha sua significância não apenas como
uma narrativa histórica, mas como um texto litúrgico e teológico. A leitura de
Rute durante Shavuot (Pentecostes)
conecta a história da colheita com a história de fidelidade e redenção,
reforçando a interligação entre a vida cotidiana e a fé. Através de Rute, somos
lembrados do poder do compromisso, da inclusão e da providência divina na
trajetória do povo de Deus.
É do nosso
conhecimento que a Bíblia Cristã organiza o Antigo Testamento em quatro seções
principais:
a)
Pentateuco. Os cinco primeiros livros atribuídos a Moisés (Gênesis,
Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio).
b)
Livros Históricos. Relatam a história de Israel desde a entrada na Terra
Prometida até o período do cativeiro e o retorno. Incluem Josué, Juízes, Rute,
1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.
c)
Livros Poéticos. Contêm poesia e sabedoria, incluindo Jó, Salmos,
Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos.
d)
Livros Proféticos. Divididos em Profetas Maiores (Isaías, Jeremias,
Lamentações, Ezequiel e Daniel) e Profetas Menores (doze livros menores).
Categoria e Gênero
ü Histórico e Poético.
Na Bíblia Cristã, o Livro de Rute é categorizado como um livro histórico devido
à sua narrativa e contexto temporal. No entanto, sua escrita é também
reconhecida pela beleza poética, empregando linguagem rica e expressiva que
revela aspectos emocionais e subjetivos dos personagens.
Estrutura
- Quatro Capítulos. O livro está organizado em quatro
capítulos, totalizando 85 versículos. Cada capítulo desenvolve uma parte
crucial da história:
a) Capítulo 1: Introdução
e o retorno de Rute e Noemi a Belém.
b) Capítulo 2: Rute
encontra trabalho nos campos de Boaz.
c) Capítulo 3: Rute segue
o conselho de Noemi e busca proteção com Boaz.
d) Capítulo 4: Boaz se
torna o redentor de Rute e a genealogia que leva a Davi é estabelecida.
Narrativa e Estilo
·
Narrativa Rica. O livro utiliza um estilo narrativo que mistura diálogos
diretos e descrições vivas, proporcionando um entendimento profundo das
motivações e emoções dos personagens. Exemplos incluem as conversas entre Noemi
e Rute (Rute 1:12-21), as interações entre Rute e Boaz (Rute 2:13,20), e a
orientação estratégica de Noemi (Rute 3:1).
·
Aspectos Poéticos. A obra exibe uma beleza poética através do uso de
paralelismos, metáforas e uma estrutura literária bem definida que enriquece a
narrativa. O hebraico clássico é utilizado de maneira a dar profundidade e
elegância à história.
Temas e Mensagens
·
Fidelidade e Redenção. Os temas centrais do livro incluem a lealdade (Rute a
Noemi), a providência divina e a redenção (Boaz como redentor). A história de
Rute, uma moabita, que se torna parte da linhagem de Davi e, por extensão, da
genealogia de Jesus, sublinha a inclusão e a graça de Deus.
·
Aspectos subjetivos e humanos. O livro explora profundamente os aspectos humanos e
emocionais dos personagens, como a dor da perda, a lealdade familiar, a
esperança e a renovação.
Importância na Bíblia
Cristã
a)
Conexão com o Novo Testamento:
·
Genealogia
de Jesus. O Livro de Rute estabelece a linhagem de Davi, que é crucial para a
genealogia de Jesus Cristo (Mateus 1:5). Isso reforça a continuidade da
promessa divina desde o Antigo até o Novo Testamento.
·
Modelo
de fidelidade e obediência. Rute é frequentemente citada como exemplo de
fidelidade e obediência, refletindo virtudes que são exaltadas no Novo Testamento.
b)
Leitura e Reflexão:
·
Litúrgica
e Devocional. Embora não tenha um papel litúrgico fixo na tradição cristã como
tem no judaísmo durante o Shavuot, o Livro de Rute é frequentemente lido e
estudado por seu valor devocional e moral.
Enfim, a organização
do Livro de Rute na Bíblia Cristã destaca sua dupla natureza como um texto
histórico e poético. Composto por quatro capítulos, o livro narra a história de
fidelidade, providência divina e redenção com uma linguagem rica e expressiva.
Embora categorizado como um livro histórico, sua beleza poética e profundidade
emocional oferecem lições valiosas sobre lealdade, inclusão e a soberania de
Deus. A história de Rute não só enriquece o entendimento do Antigo Testamento,
mas também estabelece fundamentos importantes para a teologia cristã,
especialmente em relação à linhagem messiânica de Jesus Cristo.
3. Autoria e data
a)
Autoria. A
questão da autoria do Livro de Rute é objeto de debate entre os eruditos. A
tradição judaica, conforme registrado no Talmude, atribui a autoria a Samuel.
Vários fatores sustentam essa atribuição:
ü Referências a Jessé e
Davi.
O texto faz referência a Jessé e Davi de uma maneira que sugere familiaridade e
contemporaneidade com esses personagens (Rute 4:17). Samuel, como profeta e
juiz, teve um papel significativo na unção de Davi como rei, o que reforça essa
hipótese.
ü Atmosfera histórica. As características do
livro sugerem uma ambientação no início do período da monarquia de Israel, uma
época em que Samuel estava ativo.
b)
Data. Baseando-se
na atribuição tradicional a Samuel e nas referências internas do texto, a
datação do Livro de Rute pode ser estimada em torno do século X a.C.
Especificamente:
ü Contexto monárquico. O
livro parece refletir um período em que a monarquia estava se estabelecendo, um
tempo que coincide com o início do reinado de Davi.
ü Estilo literário. A
linguagem e o estilo literário utilizados no Livro de Rute são consistentes com
outras obras desse período, caracterizando o hebraico clássico e narrativas
históricas da era monárquica.
Conquanto
não haja consenso absoluto sobre a autoria e data exata do Livro de Rute, a
tradição que atribui a autoria a Samuel e a evidência interna que sugere um
ambiente do início da monarquia de Israel oferecem uma base sólida. Assim, o
livro é provavelmente datado do século X a.C., refletindo uma época de
transição e estabelecimento da monarquia em Israel, com Samuel como o autor
mais provável.
II. O CONTEXTO
HISTÓRICO
1. No tempo dos juízes
O
Livro de Rute se situa no período dos juízes, uma época de transição e
instabilidade na história de Israel, que durou aproximadamente três séculos,
desde a morte de Josué (cerca de 1375 a.C.) até a ascensão de Saul como o
primeiro rei de Israel (1050 a.C.). Este período é caracterizado por repetidos
ciclos de pecado, opressão, arrependimento e libertação, conforme registrado no
Livro dos Juízes.
Características do Período
a)
Anarquia e apostasia:
ü Desobediência e idolatria.
Após a morte de Josué, Israel frequentemente se desviava dos mandamentos de
Deus, adorando deuses estrangeiros e praticando a idolatria (Juízes 2:11-13). Uma
frase que identifica bem aquela época sombria é: “cada qual fazia o que parecia
direito aos seus olhos” (Jz.17:6).
ü Opressão estrangeira.
Como consequência da desobediência, Deus permitiu que nações estrangeiras
oprimissem Israel. Esse ciclo de opressão levava o povo a clamar por
libertação, e Deus levantava juízes para resgatá-los (Juízes 2:16-19).
b)
Desordem social e política:
ü Ausência de liderança centralizada.
A frase “cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos” (Juízes 17:6)
resume bem a desordem moral e social daquele tempo. Sem uma liderança
centralizada, Israel vivia em uma espécie de anarquia.
ü Juízes locais. Os
juízes eram líderes locais, levantados por Deus, que exerciam funções
militares, civis e espirituais. Eles não governavam a nação inteira, mas
geralmente atuavam em áreas específicas e por períodos limitados.
O
Livro de Rute, enfim, embora curto, tem um impacto profundo na história de
Israel. Ele liga a era dos juízes com a monarquia que se inicia com Saul e,
mais significativamente, com Davi. A inclusão de Rute na genealogia de Davi
(Rute 4:21,22) e, por extensão, na genealogia de Jesus (Mateus 1:5), sublinha a
importância divina da história de Rute no plano redentor de Deus. A narrativa
de Rute oferece uma contraposição esperançosa à anarquia do período, mostrando
que Deus está sempre trabalhando para cumprir Seus propósitos,
independentemente das circunstâncias externas.
2. Secularismo,
hedonismo e idolatria
Influências negativas:
Secularismo e Hedonismo
a)
Secularismo:
ü Desconexão com o
Divino. Israel se afastou dos princípios e mandamentos de Deus, adotando uma
visão de mundo centrada em valores terrenos e imediatos, ignorando a soberania
divina.
ü Sincretismo religioso.
A fusão de crenças e práticas cananeias com a fé israelita resultou na diluição
da pureza do culto a Yahweh.
b)
Hedonismo:
ü Busca pelo prazer. O
hedonismo, ou a busca incessante pelo prazer, levou Israel a práticas imorais.
O culto a Astarote, a deusa do sexo e da guerra, era um exemplo claro disso.
ü Decadência moral. A
entrega aos prazeres carnais e à satisfação dos desejos imediatos resultou em
um profundo declínio moral e espiritual.
Idolatria: adoração a
Baal e a Astarote
a)
Culto a Baal:
ü Baal, falso deus da chuva
e fertilidade. Baal era adorado como o deus da chuva, essencial para a
agricultura. A prática desse culto envolvia rituais que muitas vezes eram imorais
e degradantes.
ü Sacrifícios e ritos pagãos.
A adoração a Baal incluía sacrifícios e ritos que iam contra os mandamentos de
Deus.
b)
Culto a Astarote:
ü Falsa deusa do sexo e guerra.
Astarote era venerada através de práticas que incentivavam a licenciosidade
sexual e a violência.
ü Imoralidade ritual. Os
rituais dedicados a Astarote frequentemente envolviam atos de prostituição
sagrada e outras formas de imoralidade.
Consequências da falta
de liderança espiritual
a)
Ciclos de apostasia e opressão:
ü Rebelião e arrependimento.
A falta de líderes espirituais resultou em ciclos de pecado, opressão por
nações estrangeiras, arrependimento e temporária restauração através de juízes
levantados por Deus (Juízes 2:16-19).
ü Insegurança e anarquia.
Sem direção divina, a sociedade israelita mergulhou na anarquia, vivendo
segundo o que parecia certo a cada um (Juízes 17:6).
b)
Necessidade de caráter
na liderança:
ü Carisma versus caráter.
No Reino de Deus, não basta ter carisma para liderar; é imprescindível ter
caráter aprovado. As qualificações para liderança espiritual incluem
integridade, sabedoria e temor a Deus (1Timóteo 3:2-13; 2Timóteo 2:15; Tito 2:7,8).
Enfim, o período
pós-liderança de Josué foi marcado por secularismo, hedonismo e idolatria,
resultando em grandes tragédias morais e espirituais para Israel. A falta de
uma liderança espiritualmente madura e comprometida com Deus levou o povo a
práticas degradantes e à instabilidade social. Esse contexto sublinha a
importância de líderes com caráter sólido e um profundo compromisso com Deus,
capazes de guiar o povo na justiça e na verdade.
3. Opressão, clamor e
livramento
Durante
o período dos juízes, a apostasia tornou Israel vulnerável aos ataques de seus
inimigos. Em vários momentos, a nação sucumbiu ao pecado, afastando-se dos
mandamentos de Deus e adotando práticas pagãs. Essa infidelidade repetida levou
Israel a ser oprimido por nações estrangeiras, que saqueavam suas cidades e
terras, mantendo o povo sob domínio opressor por longos períodos. Exemplos
disso incluem:
a)
Opressão por
Cusã-Risataim:
·
Juízes 3:7-9. Israel serviu aos Baalins e Aserás, o que
provocou a ira de Deus. Ele permitiu que fossem oprimidos por Cusã-Risataim,
rei da Mesopotâmia, por oito anos. Ao clamar a Deus, Otniel foi levantado como
juiz e libertador.
b)
Opressão por Eglom, rei
de Moabe:
·
Juízes 3:12-14. Após se desviar novamente, Israel foi
entregue a Eglom, rei de Moabe, por dezoito anos. Ehud, o benjamita, foi
levantado por Deus para libertar o povo.
c)
Opressão por Jabim, rei
de Canaã:
·
Juízes 4:1-3. Após a morte de Ehud, Israel voltou a pecar
e foi oprimido por Jabim, rei de Canaã, por vinte anos. Débora e Baraque
lideraram a libertação de Israel.
d)
Opressão por Midiã:
·
Juízes 6:1-6. Israel novamente pecou e foi oprimido pelos
midianitas por sete anos. Gideão foi chamado por Deus para libertar o povo.
Os Juízes como Libertadores
Os
juízes (hebraico: shophetim) não eram meramente magistrados civis, mas
libertadores e líderes militares. Deus os levantava em resposta ao clamor de
Israel, para julgar a causa do povo e livrá-los de seus opressores. Exemplos
notáveis incluem:
a) Otniel:
·
Juízes 3:9-11. Otniel, da tribo de Judá, libertou Israel da
opressão de Cusã-Risataim e trouxe quarenta anos de paz.
b)
Baraque:
·
Juízes
4:10-15. Liderado por Débora, Baraque conduziu as forças israelitas à vitória
contra Sísera, comandante do exército de Jabim.
c)
Gideão:
·
Juízes
7:16-25. Gideão, com um pequeno exército de trezentos homens, derrotou os
midianitas, libertando Israel da opressão.
Apesar
dos repetidos ciclos de infidelidade, Deus, em Sua longanimidade e
misericórdia, ouvia o clamor do povo de Israel em seus momentos de dor e
aflição. Deus ouve os que clamam a Ele com sinceridade e arrependimento (cf.
Jeremias 29:12,13; Isaias 55:6).
III. PROPÓSITO E MENSAGEM DO LIVRO DE RUTE
1. O cetro de Judá
O Livro de Rute serve
a vários propósitos, com o principal sendo a apresentação de Davi como
descendente da tribo de Judá, a linhagem real da qual o Messias, "o Leão
da tribo de Judá, a Raiz de Davi" (Apocalipse 5:5), viria. Este propósito
é profundamente enraizado na profecia de Gênesis 49:10 que diz: "O cetro
não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló;
e a ele se congregarão os povos".
Embora Rúben fosse o
primogênito de Jacó, ele perdeu sua posição de liderança devido ao seu ato de
desonra ao se deitar com a concubina de seu pai (Gênesis 35:22; 49:4). Como
resultado, a promessa feita a Abraão continuou através da descendência de Judá.
Esta transferência de liderança sublinha a importância da linhagem de Judá na história
redentiva de Israel.
O propósito de
registrar a genealogia de Davi no Livro de Rute é significativo, especialmente
considerando que, na época da suposta autoria de Samuel, o rei de Israel era
Saul, um benjamita (1Samuel 9:1,2; 25:1). Ao destacar a ancestralidade de Davi,
o livro não apenas legitima Davi como o futuro rei de Israel, mas também
conecta a narrativa de Rute ao cumprimento das promessas messiânicas. Davi,
como descendente direto de Judá, está diretamente ligado à linhagem de onde
viria o Salvador, conforme prometido a Abraão.
Outro propósito
central do Livro de Rute é destacar o amor de Deus e Seu plano de redenção da
humanidade. Boaz e Rute, representando judeus e gentios, respectivamente,
prenunciam a derrubada da barreira de separação entre os dois grupos (Efésios
2:11-16). A redenção é vista no livro tanto de forma literal quanto tipológica.
Boaz, como o parente remidor, preserva a descendência de Elimeleque, mas ele
também é um tipo de Cristo, nosso Redentor (Isaías 59:20; Lucas 1:68; Efésios
1:7; Tito 2:14).
Boaz atua como o goel
(termo hebraico para a palavra "redimir", semelhante a
"redentor", pelo qual a Bíblia hebraica e a tradição rabínica denotam
um parente relativo apto a restaurar os direitos perdidos por uma pessoa
próxima), que resgata Rute e Noemi da desolação, garantindo-lhes segurança
e um futuro. Este ato de redenção literal é uma poderosa imagem da redenção
espiritual realizada por Cristo. Boaz, em sua disposição de redimir Rute,
reflete a obra redentora de Jesus Cristo, que resgata a humanidade do pecado e
da morte. Assim, a história de Rute e Boaz se torna uma antecipação da obra
redentora de Cristo, unindo judeus e gentios em um só Corpo pela fé.
O livro de Rute também
nos permite ver que nem tudo eram trevas nos dias dos juízes. Havia um
remanescente fiel que temia a Deus e foi usado por Ele para cumprir Seus
propósitos (Jó 42:2). Em um mundo de crescente iniquidade, o justo vive pela fé
(Habacuque 2:4; cf. Mateus 24:12,13).
Rute e Noemi são
exemplos de fidelidade em um tempo marcado pela anarquia e apostasia. Em meio à
instabilidade e infidelidade dos dias dos juízes, a história de Rute destaca a
fidelidade pessoal e a providência divina. A lealdade de Rute a Noemi, deixando
seu próprio povo e deuses para seguir o Deus de Israel (Rute 1:16,17), é um
testemunho poderoso de compromisso e fé. Esta fidelidade não só garantiu o
sustento de ambas, mas também pavimentou o caminho para o surgimento da
linhagem real de Davi, da qual viria o Messias.
Outra mensagem
eloquente do livro é o valor do altruísmo em uma época dominada pelo egoísmo.
Durante o período dos juízes, a maioria vivia segundo seus próprios padrões e
interesses (Juízes 21:25). Noemi e Rute destoam desse padrão individualista.
Noemi, apesar de sua amargura, pensa no bem-estar de suas noras e encoraja-as a
retornar às suas famílias para encontrar novos maridos (Rute 1:8,9). Rute, por
sua vez, demonstra um altruísmo notável ao insistir em ficar com Noemi, apesar
das dificuldades que ambas enfrentariam (Rute 1:16-18).
O amor altruísta de
Rute para com Noemi é um reflexo do amor descrito em 1Coríntios 13:5, que
"não busca os seus próprios interesses". Esta atitude de abnegação e
cuidado pelos outros destaca a diferença que uma vida centrada no amor pode
fazer, mesmo em tempos de escuridão moral. A bondade de Boaz para com Rute e
Noemi também exemplifica este princípio, mostrando como a fidelidade a Deus se
manifesta em atos de bondade e generosidade para com os necessitados.
CONCLUSÃO
O
Livro de Rute nos ensina que, a despeito da incredulidade e dos pecados do
homem, Deus sempre trabalha para cumprir Seus desígnios. Sem violar o princípio
do livre-arbítrio humano, o Todo-poderoso conduz a história e executa Seu plano
eterno de redenção.
A
história de Rute destaca como Deus, em Sua soberania e fidelidade, age por meio
de pessoas comuns e em circunstâncias cotidianas para realizar Seus propósitos.
Desde a dedicação de Rute a Noemi até a intervenção providencial de Boaz como
parente remidor, vemos que Deus está ativamente envolvido na vida de Seus
servos, transformando situações difíceis em oportunidades para demonstrar Sua
graça e fidelidade.
O
exemplo de Rute e Noemi ilustra que, mesmo em tempos de crise e aparente
ausência de direção divina, Deus está trabalhando nos bastidores. Ele é fiel em
todas as coisas (Isaías 64:4), e Sua presença se faz sentir nas ações de
indivíduos que, movidos pela fé e amor, se tornam instrumentos da providência
divina.
Assim,
o Livro de Rute nos encoraja a confiar em Deus, a permanecer fiéis em nossa
caminhada e a reconhecer que, em tudo, Ele é fiel. Ele continua a usar homens e
mulheres para cumprir Seus propósitos, revelando Seu amor e redenção a todos os
que O buscam com sinceridade.
-------------------------
Luciano
de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de
Estudo Pentecostal.
Bíblia de
estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de
Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD
William
Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).
Comentário
do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Comentário
Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.
Pr.
Hernandes Dias Lopes. Rute – uma perfeita história de amor.
Pr.
Elinaldo Renovato de Lima. O caráter do cristão. CPAD.
Comentário
Bíblico Beacon. Volume 2.
Vc é uma BENÇÃO, que Deus continue te usando para sua Glória.
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