terça-feira, 1 de julho de 2025

A IGREJA QUE NASCEU NO PENTECOSTES

         3° Trimestre/2025

SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO 01

Texto Base: Atos 2:1-14

“E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (Atos 2:4).

Atos 2:

1.Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;

2.e, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados.

3.E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles.

4.E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.

5.E em Jerusalém estavam habitando judeus, varões religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu.

6.E, correndo aquela voz, ajuntou-se uma multidão e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua.

7.E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê!

8.Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?

9.Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, e Judeia, e Capadócia, e Ponto, e Ásia,

10.e Frigia, e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos (tanto judeus como prosélitos),

11.e cretenses, e árabes, todos os temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus.

12.E todos se maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto dizer?

13.E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto.

14.Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a voz e disse-lhes: Varões judeus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras.

INTRODUÇÃO

Nesta primeira lição, voltamos nossa percepção ao ponto inaugural da Igreja de Cristo: o evento do Pentecostes, registrado em Atos 2. Esse episódio histórico não apenas marcou o cumprimento da promessa do derramamento do Espírito Santo, conforme Joel profetizara (Jl.2:28-32), mas inaugurou a era da Igreja como um novo povo de Deus, agora selado e capacitado pelo Espírito Santo para cumprir sua missão no mundo.

O Pentecostes, uma das três principais festas judaicas, reunia peregrinos de várias nações em Jerusalém. Deus, em sua soberania, escolheu esse momento estratégico para manifestar publicamente o cumprimento da promessa de Cristo sobre o batismo com o Espírito Santo (Lc.24:49; Atos 1:8; Atos 2:1-14). Assim, a Igreja nasceu como uma comunidade marcada pela ação sobrenatural do Espírito Santo, pelo compromisso com a Palavra, pela comunhão fraterna e por um testemunho ousado e transformador.

Mais do que um evento isolado, o Pentecostes representou o início de uma nova realidade escatológica: a comunidade messiânica dos últimos dias, composta por homens e mulheres cheios do Espírito, vocacionados a proclamar o Evangelho “até aos confins da terra” (Atos 1:8).

Nesta lição, veremos como a Igreja de Jerusalém emergiu como um modelo de vivência espiritual, missão, adoração e comunhão — elementos fundamentais para a identidade e o crescimento saudável da Igreja em todos os tempos.

I-A NATUREZA DO PENTECOSTES BÍBLICO

1. De natureza divina

O evento do Pentecostes, conforme descrito por Lucas em Atos 2:2,3, não foi apenas um fenômeno extraordinário, mas uma manifestação teofânica, ou seja, uma autocomunicação visível e audível da presença de Deus. O som “como de um vento veemente e impetuoso” e as “línguas repartidas, como que de fogo” não são meramente efeitos naturais ou psicológicos, mas sinais que acompanham uma intervenção sobrenatural. Esses elementos reforçam que o Pentecostes tem uma origem e natureza divina: não foi produzido por iniciativa humana, mas foi um ato soberano de Deus.

O paralelo com a teofania do Sinai é intencional e significativo. Assim como no Êxodo a Lei foi dada em meio a trovões, fogo e uma voz poderosa (Êx.19:16-19; Dt.4:36), agora, no Pentecostes, o Espírito é derramado com sinais igualmente impactantes. No Sinai, Deus estabeleceu Israel como sua nação santa; em Atos 2, Ele inaugura a Igreja como o novo povo da aliança, selado e guiado pelo Espírito Santo. A presença do fogo e do som celeste, portanto, indica a continuidade do agir divino, agora em um novo contexto: a era do Espírito Santo.

Além disso, essa manifestação revela que a presença de Deus não está mais confinada ao templo ou ao tabernáculo. O Espírito desce sobre pessoas comuns — homens e mulheres, judeus e, mais tarde, gentios — fazendo delas morada de Deus. O Pentecostes bíblico, portanto, é a confirmação visível de que o Deus que desceu no Sinai agora habita no meio e dentro do seu povo, por meio do Espírito Santo.

2. Um evento paralelo ao Sinai

Como já disse no item anterior, o Pentecostes, conforme descrito em Atos 2, pode ser compreendido como um evento paralelo e, ao mesmo tempo, superior ao que ocorreu no Monte Sinai. No Sinai, Deus se revelou ao povo de Israel após tirá-lo do Egito, estabelecendo uma aliança por meio da entrega da Lei. Esse foi um momento de profunda manifestação divina: trovões, relâmpagos, som de trombeta, fogo e uma nuvem espessa cobriam o monte (Êx.19:16-19). No Pentecostes, o mesmo Deus se manifestou novamente, agora não para entregar tábuas de pedra, mas para inscrever Sua vontade nos corações, por meio do Espírito Santo.

Essa relação entre os dois eventos não é meramente simbólica, mas teológica e escatológica. No Sinai, Deus formou Israel como uma nação teocrática; no Pentecostes, Ele dá início à Igreja, o novo povo da aliança, composto por todos os que creem em Cristo. Enquanto no Sinai a Lei foi escrita em pedra (Dt.9:10,11), agora, no Pentecostes, cumpre-se a promessa de Jeremias: "porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração" (Jr.31:33), algo que Paulo também reafirma em 2Coríntios 3:3.

Portanto, o Pentecostes não apenas ecoa o Sinai, mas o supera em glória (cf. 2Co.3:7-11). A Lei que antes condenava, agora é vivificada pelo Espírito; o fogo que antes causava temor, agora purifica e capacita; o Deus que falava do alto do monte, agora habita em cada crente. O Sinai foi o nascimento de uma nação; o Pentecostes, o nascimento da Igreja universal — um povo espiritual, regenerado, capacitado e comissionado para proclamar o Evangelho até os confins da terra.

3. Centrada em Cristo e nos tempos finais

O evento do Pentecostes, embora caracterizado pelo derramamento do Espírito Santo, não pode ser corretamente compreendido fora da centralidade da obra redentora de Cristo. Na pregação de Pedro, logo após a descida do Espírito, é evidente que o foco não está nos fenômenos em si, mas na pessoa e na obra de Jesus de Nazaré. Pedro conecta diretamente o Pentecostes à morte, ressurreição e exaltação de Cristo (Atos 2:23-24,32-33), afirmando que foi o próprio Jesus exaltado que “derramou isto que agora vedes e ouvis” (v.33). Isso significa que o Pentecostes é tanto pneumatológico quanto cristológico: é o Espírito de Cristo sendo enviado por Cristo, como cumprimento de Suas promessas (João 14:16,17; 16:7).

Assim, o Pentecostes não é um fenômeno autônomo, desvinculado da cruz e da ressurreição, mas o fruto direto da obra consumada de Cristo. Sem a cruz, não haveria perdão; sem a ressurreição, não haveria exaltação; sem a exaltação, não haveria envio do Espírito. O Espírito Santo vem como selo da nova aliança, agora ratificada pelo sangue do Cordeiro.

Além disso, Pedro interpreta o Pentecostes como o cumprimento imediato da profecia de Joel (Jl.2:28-32), identificando-o como o início dos “últimos dias” (Atos 2:17). Essa expressão tem implicações escatológicas profundas: significa que, com a vinda do Espírito, os tempos finais foram inaugurados. A Igreja, portanto, vive entre dois tempos — o “já” do Pentecostes e o “ainda não” da plenitude futura. O Espírito Santo é a garantia da herança futura (Ef.1:13,14), e sua presença contínua na Igreja é o sinal de que o Reino de Deus já começou, embora ainda não tenha se consumado plenamente.

Desse modo, o Pentecostes aponta para o Cristo glorificado e nos posiciona no horizonte escatológico do agir de Deus na história. Ele nos lembra que a missão da Igreja se dá no poder do Espírito, mas sob a autoridade de Cristo, e com os olhos voltados para a esperança do Seu retorno.

Sinopse I: A NATUREZA DO PENTECOSTES BÍBLICO

O Pentecostes, conforme descrito em Atos 2, é um evento de profunda significância teológica, revelando-se em três dimensões principais:

  1. De natureza divina. O Pentecostes não foi um simples fenômeno extraordinário, mas uma manifestação teofânica — uma autocomunicação visível e audível da presença de Deus. Os sinais sobrenaturais, como o som de um vento impetuoso e as línguas como de fogo, indicam que o evento teve origem divina, não humana. Assim como Deus se revelou no Sinai com trovões e fogo ao entregar a Lei, agora Ele se manifesta para inaugurar a era do Espírito Santo, habitando não mais em templos, mas em pessoas comuns, selando a Igreja como Seu novo povo.
  2. Um evento paralelo ao Sinai. O Pentecostes é apresentado como um paralelo e, ao mesmo tempo, um cumprimento superior ao evento do Sinai. Enquanto no Sinai Deus formou Israel como nação ao entregar a Lei escrita em pedra, no Pentecostes Ele forma a Igreja, inscrevendo Sua vontade nos corações por meio do Espírito. Essa transição marca a passagem da antiga para a nova aliança, onde o Espírito vivifica a Lei e capacita os crentes para a missão. O nascimento da Igreja universal, portanto, supera em glória o nascimento da nação israelita.
  3. Centrada em Cristo e nos tempos finais. O Pentecostes está intrinsecamente ligado à obra redentora de Cristo. Pedro, em sua pregação, destaca que o derramamento do Espírito é resultado direto da morte, ressurreição e exaltação de Jesus. O evento é tanto cristológico quanto escatológico: cumpre a promessa de Joel e inaugura os “últimos dias”, marcando o início da era da Igreja. O Espírito é o selo da nova aliança e a garantia da herança futura, posicionando os crentes entre o “já” da redenção e o “ainda não” da consumação final.

II-O PROPÓSITO DO PENTECOSTES BÍBLICO

1. Promover a verdadeira adoração

Um dos frutos imediatos e evidentes do derramamento do Espírito Santo no Pentecostes foi a expressão espontânea de louvor e exaltação ao nome de Deus. Conforme registrado por Lucas, os que estavam presentes no cenáculo “começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem” (Atos 2:4), e os que ouviam diziam maravilhados: “os ouvimos falar das grandezas de Deus” (Atos 2:11). Isso mostra que a primeira resposta da Igreja cheia do Espírito foi uma adoração autêntica, glorificadora e inspirada — uma adoração centrada em Deus, e não em manifestações humanas.

O Pentecostes, portanto, tem como um de seus propósitos centrais a restauração da verdadeira adoração. Enquanto muitos associam a plenitude do Espírito apenas com poder para evangelizar (o que é bíblico e importante), não se pode negligenciar que esse poder é, primeiramente, voltado para glorificar a Deus em espírito e em verdade (João 4:23,24). O culto pentecostal, conforme Atos 2 e Atos 10:46, é marcado pela exaltação fervorosa das “grandezas de Deus”, e não por exibições emocionais vazias ou desordem.

Além disso, o apóstolo Paulo, ao orientar os crentes sobre o uso dos dons espirituais na adoração, declara que aquele que fala em línguas “dá bem as graças” (1Co.14:17). Ou seja, o falar em línguas, quando inspirado pelo Espírito, também é uma forma elevada de adoração, ainda que incompreensível ao público sem interpretação. Isso reforça que o Pentecostes não apenas inaugura um novo tempo para a missão da Igreja, mas também para a sua espiritualidade e culto: o Espírito forma adoradores cuja boca está cheia do louvor a Deus e cujo coração está inflamado pelo fogo do céu.

Portanto, um Pentecostes que não resulta em adoração genuína e centrada em Deus não é o Pentecostes bíblico. A verdadeira espiritualidade pentecostal é marcada, antes de tudo, por reverência, gratidão e exaltação ao Senhor — seja por meio de línguas, salmos, hinos ou cânticos espirituais (Ef.5:18,19). Onde o Espírito é derramado, o nome de Deus é engrandecido.

2. Poder para testemunhar

O derramamento do Espírito Santo no Pentecostes não foi um fim em si mesmo, mas parte essencial do plano redentivo de Deus para a história. A experiência do Pentecostes tem um claro vínculo escatológico, como observa Pedro ao citar Joel: “antes de chegar o grande e glorioso Dia do Senhor” (Atos 2:20). Ou seja, trata-se de um evento que inaugura os “últimos dias” e posiciona a Igreja dentro de uma realidade escatológica que aguarda a manifestação final do Reino de Deus. Porém, essa expectativa não deve gerar uma espiritualidade alienada ou escapista.

Ao contrário, o Pentecostes comissiona a Igreja para um engajamento ativo e poderoso na missão de Deus no mundo. Conforme a promessa de Jesus, o Espírito Santo é concedido para que os crentes recebam “poder” (gr. dýnamis) para serem Suas testemunhas (Atos 1:8). Esse poder não é meramente entusiasmo emocional ou êxtase espiritual, mas capacitação sobrenatural para anunciar, viver e sofrer pelo Evangelho de Cristo, com ousadia, sabedoria e perseverança (cf. Atos 4:31,33; 5:29-32).

Nesse contexto, o Pentecostes revela o caráter missionário e público da fé cristã. O Espírito Santo foi derramado na cidade, durante uma festa com peregrinos de todas as nações, e sua primeira consequência foi uma proclamação clara e corajosa do Evangelho. Não há espaço para uma espiritualidade individualista ou enclausurada. A plenitude do Espírito leva os discípulos das casas às ruas, do segredo à pregação, da espera à ação.

Sinopse II: O PROPÓSITO DO PENTECOSTES BÍBLICO

O Pentecostes, conforme registrado em Atos 2, não foi apenas um marco histórico, mas um evento com propósitos espirituais profundos e transformadores para a Igreja. Dois desses propósitos se destacam:

  1. Promover a verdadeira adoração. O derramamento do Espírito Santo resultou imediatamente em uma adoração espontânea e autêntica. Os discípulos, cheios do Espírito, proclamaram “as grandezas de Deus” em diversas línguas, revelando que a plenitude espiritual leva, antes de tudo, à exaltação do Senhor. Essa adoração não é centrada em manifestações humanas, mas em glorificar a Deus com reverência e verdade. O Pentecostes inaugura uma nova dimensão de culto, onde o Espírito forma adoradores fervorosos, cuja expressão de fé é marcada por gratidão, louvor e santidade — seja por meio de línguas, salmos ou cânticos espirituais.
  2. Conceder poder para testemunhar. Além da adoração, o Pentecostes tem um propósito missionário claro: capacitar os crentes com poder (gr. dýnamis) para serem testemunhas de Cristo. O Espírito Santo não é dado para experiências isoladas, mas para impulsionar a Igreja à proclamação do Evangelho com ousadia e perseverança. O evento ocorre em um contexto público e multicultural, sinalizando que a fé cristã é essencialmente missionária e voltada ao mundo. A plenitude do Espírito leva os discípulos da espera à ação, do recolhimento à evangelização, posicionando a Igreja como agente ativo no plano redentor de Deus até a consumação dos tempos.

III-CARACTERÍSTICAS DO PENTECOSTES BÍBLICO

1. Uma experiência específica

O Pentecostes, conforme relatado em Atos 2, apresenta-se como uma experiência espiritual distinta e subsequente à salvação. Os discípulos que receberam o batismo no Espírito Santo naquele dia já haviam crido em Cristo, recebido o perdão dos pecados e tinham os nomes escritos nos céus (Lc.10:20). Jesus mesmo atestou que eles já estavam limpos pela Palavra (João 15:3), o que indica sua regeneração espiritual. Portanto, os cerca de 120 reunidos no cenáculo não estavam buscando salvação, mas sim a promessa do Pai (Lc.24:49), a qual Jesus identificou como sendo o batismo no Espírito Santo (Atos 1:5,8).

Esta experiência não deve ser confundida com o novo nascimento, pois o próprio Cristo faz distinção entre nascer do Espírito (João 3:5,6) e ser revestido de poder do alto (Lc.24:49). O nascimento espiritual insere o crente no Corpo de Cristo, ao passo que o batismo no Espírito capacita o crente para o serviço cristão e o testemunho poderoso. Em Atos, esta capacitação é sempre acompanhada de evidências visíveis, sendo a glossolalia (falar em outras línguas) o sinal físico inicial dessa experiência (Atos 2:4; 10:44-46; 19:6).

O apóstolo Pedro, em sua pregação no dia de Pentecostes, ligou diretamente essa manifestação ao Cristo exaltado: “Exaltado, pois, à destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis” (Atos 2:33). Ou seja, o Pentecostes é fruto direto da glorificação de Cristo, que, tendo completado a obra da redenção, envia o Espírito à Igreja como um novo e poderoso agir de Deus nos crentes.

Assim, o Pentecostes bíblico não é apenas um símbolo, nem uma metáfora da vida cristã em geral. Ele é uma experiência real, específica, sobrenatural e atual, oferecida por Cristo ressurreto aos seus discípulos como um revestimento de poder para que sejam Suas testemunhas até os confins da terra (Atos 1:8). Negar ou minimizar essa dimensão específica do Pentecostes é reduzir o impacto e o propósito da promessa feita por Jesus.

2. Uma experiência definida e contínua

O relato de Atos 2:4 deixa claro que o batismo no Espírito Santo é uma experiência espiritual definida, marcada por um sinal sobrenatural identificável: o falar em outras línguas “conforme o Espírito lhes concedia que falassem”. A natureza objetiva dessa experiência impede qualquer interpretação puramente subjetiva ou emocional. O texto bíblico não diz que os discípulos apenas sentiram algo, mas que algo visível e audível ocorreu — a glossolalia (do grego glossa = língua e lalein = falar). Esse padrão se repete em outras ocorrências no livro de Atos (Atos 10:44-46; 19:6), deixando evidente que falar em línguas foi a evidência física inicial do batismo no Espírito Santo.

No episódio com Cornélio e sua casa (Atos 10), Pedro e os demais judeus que o acompanhavam reconheceram que o Espírito Santo havia sido derramado sobre os gentios porque os ouviram falar em línguas (Atos 10:46). Isso prova que, mesmo para os apóstolos, o sinal das línguas era indispensável para atestar que alguém havia sido batizado no Espírito. O critério não foi um sentimento subjetivo, nem mesmo a manifestação de virtudes como amor, fé ou alegria, mas um sinal claro, sobrenatural e observável.

Essa experiência, embora definida, não é isolada. Trata-se de uma vivência contínua na vida espiritual do crente. O mesmo grupo que foi cheio do Espírito em Atos 2 volta a ser renovado em Atos 4:31. O enchimento do Espírito é, portanto, uma realidade que pode e deve se repetir, levando o crente a uma vida de constante dependência, renovação e capacitação espiritual.

O falar em línguas, como evidência inicial, não substitui a maturidade cristã nem é a finalidade do batismo, mas é o sinal de que o crente foi revestido de poder do alto (Lc.24:49). A partir dessa experiência, ele é chamado a viver sob a plenitude do Espírito (Ef.5:18), permitindo que o Espírito produza frutos em sua vida (Gl.5:22,23) e o capacite com dons espirituais (1Co.12:7-11).

Dessa forma, o Pentecostes bíblico não é uma experiência vaga, emocional ou apenas simbólica, mas uma intervenção real, definida e transformadora do Espírito de Deus, que inaugura uma nova dimensão de vida e ministério para o cristão.

3. As línguas e o amor

Como já foi explicado anteriormente, no contexto do batismo no Espírito Santo, conforme narrado em Atos dos Apóstolos, o falar em outras línguas aparece como a evidência física inicial e inconfundível desse revestimento de poder (Atos 2:4; 10:44-46; 19:6). Essa manifestação sobrenatural é o sinal que distingue essa experiência espiritual de outras operações do Espírito na vida do crente, como a regeneração ou a santificação. Importante destacar que, segundo o padrão neotestamentário, essa evidência não é substituída por sentimentos ou virtudes cristãs.

Embora o amor seja um elemento essencial da vida cristã, ele não é apresentado nas Escrituras como o sinal inicial do batismo no Espírito Santo. Em Romanos 5:5, Paulo afirma que “o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”, mas aqui o apóstolo está falando da obra do Espírito na regeneração e no processo de santificação, não do batismo com o Espírito Santo como experiência distinta. O amor, nesse contexto, é fruto da presença do Espírito no crente desde a conversão, e não uma evidência do revestimento pentecostal.

É importante distinguir entre o sinal inicial do batismo com o Espírito (as línguas) e as virtudes do Fruto do Espírito (como o amor), que são resultado de um relacionamento contínuo com Deus e de crescimento na graça (Gl.5:22,23). O amor não é sinal inicial do batismo, mas é o marco da maturidade espiritual e da plena submissão ao Espírito Santo.

Por isso, o falar em línguas no batismo com o Espírito Santo não é um fim em si mesmo, mas o ponto de partida para uma vida cheia do Espírito, marcada por uma crescente expressão do amor de Deus, da comunhão fraterna e do serviço cristão. A Igreja de Corinto, apesar de ter recebido dons espirituais em abundância (1Co.1:7), foi exortada por Paulo a buscar um caminho mais excelente: o amor (1Co.13:1-13). Isso mostra que dons espirituais e maturidade cristã não são sinônimos, embora devam caminhar juntos.

Assim, um Pentecostes autêntico começa com línguas como sinal inicial, mas se aprofunda no amor como expressão do caráter de Cristo na vida do crente. O crente cheio do Espírito fala em línguas, mas também aprende a andar em amor — sinal de que está amadurecendo espiritualmente à medida que caminha com Deus.

Sinopse III: CARACTERÍSTICAS DO PENTECOSTES BÍBLICO

O Pentecostes, conforme descrito em Atos 2, é uma experiência espiritual marcante e transformadora, com três características fundamentais que definem sua natureza e propósito na vida da Igreja:

  1. Uma experiência específica. O Pentecostes é apresentado como uma experiência distinta e subsequente à salvação. Os discípulos já eram regenerados quando receberam o batismo no Espírito Santo, o qual não deve ser confundido com o novo nascimento. Trata-se de um revestimento de poder prometido por Jesus, com o propósito de capacitar os crentes para o serviço e o testemunho. Essa experiência é sobrenatural, real e visível, tendo como sinal inicial o falar em outras línguas, conforme o Espírito concedia. É fruto direto da exaltação de Cristo, que envia o Espírito à Igreja como cumprimento da promessa do Pai.
  2. Uma experiência definida e contínua. O batismo no Espírito Santo é uma experiência objetiva e identificável, marcada por um sinal sobrenatural: a glossolalia. Esse padrão se repete em diversas ocasiões no livro de Atos, confirmando que o falar em línguas era a evidência física inicial do revestimento espiritual. No entanto, essa experiência não é isolada: ela inaugura uma vida de constante renovação e plenitude no Espírito. O crente é chamado a viver sob essa influência contínua, permitindo que o Espírito produza frutos e distribua dons para edificação da Igreja.
  3. As línguas e o amor. Embora o falar em línguas seja o sinal inicial do batismo no Espírito, ele não substitui o amor cristão, que é o verdadeiro sinal de maturidade espiritual. O amor é fruto do Espírito e se desenvolve ao longo da caminhada cristã, sendo essencial para a vida e o testemunho do crente. Um Pentecostes autêntico começa com línguas, mas se aprofunda no amor, refletindo o caráter de Cristo. Assim, dons espirituais e virtudes cristãs devem caminhar juntos, com o amor como o caminho mais excelente.

CONCLUSÃO

A Igreja de Cristo nasceu no Pentecostes como uma comunidade marcada pela presença poderosa do Espírito Santo, inaugurando um novo tempo no plano redentor de Deus. Aquilo que foi vivenciado pelos cerca de 120 discípulos no cenáculo, em Jerusalém, não foi um fenômeno isolado, mas o cumprimento de promessas proféticas e o ponto de partida de uma obra que alcançaria “até aos confins da terra” (Atos 1:8).

O Pentecostes bíblico é, portanto, um evento cristocêntrico, escatológico e eclesiológico. Está fundamentado na obra redentora de Cristo e se manifesta como uma capacitação sobrenatural para a adoração, o testemunho e a missão. O Espírito que foi derramado no início da Igreja é o mesmo que ainda hoje reveste o povo de Deus com poder, conduzindo-o a uma vida de comunhão, santidade, serviço e proclamação.

Mais do que uma recordação histórica, o Pentecostes continua sendo uma realidade espiritual atual e indispensável para a Igreja contemporânea. Ele nos desafia a buscar não apenas a experiência inicial do batismo no Espírito, com a evidência de falar em línguas, mas também a viver continuamente cheios do Espírito (Ef.5:18), manifestando o amor de Deus e cumprindo nossa missão neste mundo até a volta gloriosa de Jesus Cristo.

 

Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.

Dicionário VINE.CPAD.

O Novo Dicionário da Bíblia. VIDA NOVA.

Rev. Hernandes Dias Lopes. Atos. Hagnos.

Ralph Earle. Livro dos Atos do Apóstolos.

Myer Pearlman. Atos: Estudo do Livro de Atos e o Crescimento da Igreja Primitiva.

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