4º
Trimestre/2017
Texto Base:
Joao 3:1-7
Nesta Aula trataremos a
respeito do Processo da Salvação. A salvação, ao contrário do que muitos
pensam, não é um ato único, um instante isolado, mas envolve todo um processo,
ou seja, uma sequência de atos, com origem em Deus. Tanto a salvação é um
processo, que o próprio Jesus nos ensina que é preciso “perseverar até o fim”
para que seja salvo (Mt.24:13), isto é, é preciso uma continuidade, uma
constância até o instante final da nossa permanência nesta dimensão terrena,
onde fomos postos pelo Senhor, por Sua misericórdia, para termos a chance e
oportunidade de sermos salvos.
O
processo de salvação na vida do crente se dá na seguinte sequência de atos:
- Primeiro, a deliberação divina. Decisão de Deus de salvar o ser humano,
tomada ainda antes da fundação do mundo. Se Deus não tivesse querido salvar o
homem, jamais o homem poderia ter a oportunidade da salvação.
- Segundo, a Fé salvadora. Disposição de caráter que não nasce no homem, mas
que também vem de Deus, um dom de Deus (Ef.2:8).
- Terceiro, o arrependimento. O reconhecimento de que se é pecador e que é
preciso mudar seu comportamento diante de Deus. Jesus, ao iniciar a pregação do
Evangelho, não tinha outra mensagem senão “Arrependei-vos e crede no Evangelho”
(Mc.1:15).
- Quarto, a Conversão. É a mudança de direção na vida. O homem, quando se
arrepende, muda a sua concepção a respeito da vida, modifica seus desejos, seus
sentimentos e seus pensamentos; reconhece que Deus deve governar a sua vida e
que deve, a partir daquele momento, passar a agradar a Deus. A atuação do
Espírito Santo é indispensável para que o homem seja convencido do pecado, da
morte e do juízo e, assim, resolva se arrepender dos seus pecados e mudar a
direção da sua vida, que é o que denominamos de "conversão".
- Quinto, o Perdão dos pecados. Quando nos arrependemos e cremos que Jesus é
o nosso único e suficiente Senhor e Salvador, temos os nossos pecados perdoados
(At.10:43).
- Sexto, a Regeneração ou Novo Nascimento. É um ato divino através
do qual a criatura humana experimenta uma mudança radical no seu interior. É a
única maneira pela qual o “homem velho”, morto em ofensas e pecados pode voltar
a viver para Deus.
- Sétimo, a Justificação. Após ser regenerado ou
nascido de novo, o homem é declarado justo por Deus, ou seja, o castigo que
merecia receber pelos seus pecados é atribuído a Cristo e, por causa disto, o
homem fica sem pecado algum, é absolvido, ou seja, é declarado justo diante de Deus.
- Oitavo, a Adoção de filhos. A Regeneração e a Justificação tornam-nos
filhos de Deus (João 1:12). Como deixamos de ter pecados, como passamos a ser
considerados justos, como passamos a ter comunhão com Deus, recebemos o poder
de sermos filhos de Deus, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm.8:17).
- Nono, a Santificação. A palavra santificação apresenta uma gama muito
variada de significados. Relacionada com os pertences do culto do santuário
“pôr à parte para uso santo”, “tornado livre do pecado”, “purificado”. Em nosso
contexto, a palavra é empregada no processo pelo qual, depois da justificação, o
cristão deve desenvolver um caráter que o qualifique para o céu. A santificação
começa por ocasião da conversão, e continua através de toda a vida do crente. É
o gradual desenvolvimento de um caráter semelhante a Cristo, produzido pela
submissão do crente à graça de Deus. Abrange todo o momento da vida, e é de
importância progressiva. Significa perfeito amor, obediência e perfeita
conformidade à vontade de Deus.
- Décimo, a Glorificação. Este ato divino ocorrerá quando Jesus voltar para
arrebatar a Sua Igreja. Quando do arrebatamento da Igreja, o Senhor Jesus
completará o processo da salvação. Aqueles que dormiram no Senhor, ou seja,
mantiveram-se em santidade até o instante de sua morte física, ressuscitarão
primeiro e receberão um corpo glorioso. Os que estiverem vivos naquela
oportunidade, serão transformados e, assim, todos atingirão o estágio final da
salvação: a glorificação (1Co.15:51-57). Por isso as Escrituras nos dizem que
Cristo é as primícias dos salvos (1Co.15:20), pois foi o primeiro a ressuscitar
e a receber a glorificação que nós também receberemos naquele grande dia (1Co.15:23).
Por espaço nesta Aula,
estudaremos apenas três aspectos do processo da salvação, a saber: a
Regeneração operada pelo Espírito Santo, a Justificação outorgada por Deus e a Santificação
como consequência de uma vida com Cristo.
I. REGENERADOS
PELO ESPÍRITO SANTO
1. A natureza da Regeneração. A Regeneração é a ação
decisiva e instantânea do Espírito Santo, mediante a qual Ele cria de novo a
natureza interior; é a transformação do pecador numa nova criatura pelo poder
de Deus (2Co.5:17), como resultado do sacrifício de Jesus na cruz do Calvário.
Trata-se de uma operação do Espírito Santo na salvação do pecador. Neste ato
sobrenatural o ser humano é gerado por Deus para ser filho (João 1:12) e
participante da natureza divina (2Pd.1:4). Essa Regeneração é essencial para
que o homem entre no Reino de Deus. A Regeneração é tão séria diante de Deus,
que a Bíblia chama-a de “batismo em Jesus”(1Co.12:13; Gl.3:27; Rm.6:3).
Trata-se de um ato interior, dentro do indivíduo, abrangendo também todo o seu
ser. É somente o Espírito Santo quem pode operar no homem o milagre da
Regeneração. Foi o que afirmou Paulo: “Não pelas obras de justiça que
houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia nos salvou pela lavagem da
regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tito 3:5).
Regeneração, portanto,
significa:
- Vida renovada (1João 3:13,14) – “Meus irmãos, não vos maravilheis, se o mundo vos
odeia. Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos.
Quem não ama a seu irmão permanece na morte”.
- Mente renovada (Rm.12:2) – “E não sede conformados com este mundo, mas sede
transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual
seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”.
- Velho homem transformado numa nova criatura (2Co.5:17) – “Assim que,
se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis
que tudo se fez novo”.
- Despir-se do velho homem (1Co.6:20) – “Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a
Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus”.
2. A necessidade de Regeneração. A Regeneração é a mais
importante e a mais urgente necessidade da vida de um ser humano. Regeneração
significa Novo Nascimento. Para fazermos parte do Reino de Deus é preciso nos
tornar nova criatura e nascermos do Espírito (João 3:5). Sem o Novo Nascimento,
a vida é vã, a esperança é vã e a religião é vã. Sem o Novo Nascimento, Deus
estará contra a pessoa no dia do juízo. Sem o Novo Nascimento, a Palavra de
Deus condenará a pessoa no Dia final. Sem o Novo Nascimento, o Céu estará de
portas fechadas para aqueles que rejeitarem essa importante decisão. Jesus
disse que, se alguém não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus (Joao
3:3). Se alguém não nascer da água e do Espirito, não poderá entrar no reino de
Deus (João 3:5). Jesus é enfático: “Necessário vos é nascer de novo” (João
3:7).
Você pode ser uma pessoa
rica, culta, respeitável e religiosa como Nicodemos, mas, se não nascer de
novo, estará perdido. Você pode ser uma pessoa zelosa, conservadora e
observadora dos preceitos religiosos, como Nicodemos, mas, se não nascer de
novo, não haverá esperança para sua alma. Você pode praticar muitas boas obras,
dar esmolas, ter uma vida bonita e até fazer orações que são ouvidas no céu,
como Cornélio fazia, mas, se não nascer de novo, não poderá entrar no reino de
Deus.
Negar a realidade e a
necessidade da Regeneração, ou interpretá-la de outra forma que não seja
bíblica, tem características não apenas humanísticas, mas sobretudo satânicas,
pois o Diabo é o maior interessado em que o homem não veja a luz do Evangelho e
não seja regenerado.
3. Consequências da Regeneração. A Regeneração não é algo
superficial; não é uma mera reforma moral; é uma mudança completa do coração,
do caráter e da vontade; é uma ressurreição, uma nova criação; é passar da
morte para a vida. O homem regenerado recebe de Deus coração e espírito novos
(Ez.36:26), podendo assim ter comunhão com Deus e a garantia de viver com Ele
na eternidade.
É possível verificar se
uma pessoa é regenerada por meio de algumas mudanças que passam a fazer parte
do seu viver: o amor intenso a Deus (1João 4:19; 5.1); o amor pelos irmãos (1João
3:14); a rejeição das coisas mundanas (1João 2:15,16); o amor à Palavra de Deus
(Sl.119:103; 1Pd.2:2); o amor pelas almas perdidas (Rm.9:1-3); o desejo de
estar em comunhão com Deus e adorá-lo (Sl.42:1,2; 63:1; Ef.5:19,20); a vitória
sobre o pecado, a carnalidade e as práticas contrárias ao Evangelho (1João 5:18;
Cl.5:16; 2Co.5:17); o conhecimento da vontade de Deus (1Co.2:12); o testemunho
interior do Espírito Santo atestando nossa filiação ao Pai (Rm.8:16); o intenso
interesse de praticar a justiça (1João 2:29). É uma mudança tão radical que a
pessoa passa a ter uma nova natureza, novos hábitos, novos gostos, novos
desejos, novos apetites, novos julgamentos, novas opiniões, nova esperança,
novos temores.
II. JUSTIFICADOS
POR DEUS
A Justificação é feita
mediante a redenção que há em Cristo Jesus. Na Cruz do Calvário, quando ele
declarou “está consumado”(João 19:30), o preço da redenção estava pago, a
Justiça de Deus estava satisfeita. A punição exigida pela Justiça de Deus
estava concretizada sobre Jesus. Agora, nEle o homem podia ser justificado. O
apóstolo Paulo, em Romanos 3:24, assim se expressa: “sendo justificados
gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”. Ao morrer
por nós, Cristo abre a oportunidade de nos libertar do pecado. Jesus pagou o
preço da nossa salvação e, por isso, nos comprou a liberdade; este ato é
conhecido por “redenção”, ou seja, “o ato de remir”, o “resgate”, ou seja, “o ato
de livrar (algo) de ônus por meio do pagamento”, o “ato de comprar para
libertar”. Por isso, o apóstolo Pedro nos lembra que não fomos comprados com
ouro, mas com o precioso sangue de Jesus (1Pd.1:18,19). Como fomos comprados
por Cristo, libertamo-nos do jugo do pecado e, por isso, não mais estamos sob
condenação, alcançamos a justificação.
1. A natureza da Justificação. Após ser regenerado ou
nascido de novo, o homem é declarado justo por Deus, ou seja, o castigo que
merecia receber pelos seus pecados é atribuído a Cristo e, por causa disto, o
homem fica sem pecado algum. Não tendo pecado, é declarado justo pelo Senhor. É
a justificação que nos permite entrar em comunhão com Deus (Rm.5:1), que faz
com que as nossas vestes sejam vestes de justiça (Is.61:10), vestes que nos
permitirão entrar na cidade celeste pelas portas (Ap.22:14).
John Stott diz que a
palavra “justificação” é um termo legal que foi tomado emprestado dos
tribunais. É exatamente o oposto de “condenação”. Condenar é declarar uma
pessoa culpada; “justificar” é declará-la sem culpa, inocente ou justa. Na
Bíblia, essa palavra significa o ato imerecido do favor de Deus por meio do
qual ele coloca diante si o pecador, não apenas perdoando ou isentando-o da
culpa, mas também aceitando-o e tratando-o como justo. Paulo diz em Romanos
3:21: “Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o
testemunho da Lei e dos Profetas”. O termo “justiça”,
neste texto, traduz a palavra grega dikaiosyne,
muito comum no contexto de um tribunal. A imagem é de alguém que é inocentado
por um juiz, mesmo sendo culpado pelos seus atos. Podemos concluir, então, que,
mesmo culpados, Deus quis nos justificar e perdoar. Assim, somos declarados
inocentes, pois nossa condenação foi substituída pela pena paga por Cristo na
cruz (2Co.5:21). É um ato gracioso e amoroso de Deus para nós, sem
interferência dos méritos humanos, cabendo ao homem somente crer mediante a fé
na obra que Jesus operou (Rm.5:1).
Justificação, portanto, é
como que uma declaração legal de que estamos isentos de culpa, ou seja, que nos
tornamos justos diante de Deus. Para o homem justificado não há mais culpa, não
há mais condenação – a Redenção foi consumada: “... nenhuma condenação há para
os que estão em Cristo Jesus...”(Rm.8:1). Antes, o homem era culpado, agora não
há mais nenhuma culpa: “quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É
Deus quem os justifica”(Rm.8:33). Antes, o homem estava condenado, agora “quem
os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os
mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós”(Rm.8:34).
Antes, morto espiritualmente, o homem estava separado de Deus, agora “quem nos
separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angustia, ou a perseguição, ou a
fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? (Rm.8:35).
Portanto, para o homem
Justificado não há mais culpa, não há mais condenação. Isento da culpa do
pecado, o homem readquiriu a vida eterna, conforme afirmou Jesus: “E dou-lhes a
vida eterna, e nunca hão de perecer...”(João 10:28).
2. A necessidade da Justificação. A maior necessidade do
ser humano não é a saúde, o prazer, a riqueza ou o poder, mas a salvação, a
justificação. Por que a Justificação é a maior necessidade do ser humano?
Ø Porque o ser humano é
pecador e não pode salvar a si mesmo. Como pode o ser humano pecador ter
comunhão com o Deus santo? Como pode aquele que está arruinado e falido moral e
espiritualmente ter sua dívida quitada diante de Deus? Como pode o transgressor
ser justificado diante do reto e justo juiz? Afirma o apóstolo Paulo: “Sabendo
que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo,
temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo
e não pelas obras da lei, porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será
justificada” (Gl.2:16).
Ø Porque o ser humano é
impuro e não pode purificar a si mesmo. O pecado é uma mácula que contamina. O
ser humano está sujo e não pode lavar a si mesmo. Todo o seu ser está
contaminado e poluído pelo pecado e ele não pode purificar a si mesmo. Sua
justiça não passa de trapos de imundícia aos olhos de Deus.
Ø Porque o ser humano é
filho da ira e não pode alcançar o favor de Deus por si mesmo. O pecado é
maligníssimo aos olhos de Deus. Por isso o pecador morto em seus delitos e
pecados, escravo do mundo, da carne e do diabo, é filho da ira e está debaixo
da ira de Deus. Como tal, não pode alcançar por si mesmo o favor de Deus.
Ø Porque a Justificação é a
condição-mor para participarmos das bênçãos da salvação e para que o Diabo não tenha
nenhum poder de acusar o crente dos pecados que Cristo perdoou. O crente
justificado pode dizer como Paulo disse: “Quem intentará acusação contra os
escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Pois é Cristo
quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita
de Deus, e também intercede por nós” (Rm.8:33,34).
O homem é justificado
pela fé em Cristo Jesus, graciosamente, mas essa justificação não se dá de
forma automática nem por mérito. O homem precisa tomar posse de sua bênção,
conforme afirmou Paulo: “Porque pela graça dois salvos, por meio da
fé...”(Ef.2:8). Assim é que, no processo que envolve a Justificação, o Pai
proveu a fonte, que é a Sua Graça; o Filho proveu a base da Justificação, que é
o Seu Sangue; o Espírito Santo move o homem ao exercício da fé para alcançar
sua bênção. É preciso entender, porém, que a base da Justificação não é a fé,
mas é o sangue do Cordeiro de Deus. A fé é o meio, e não o fim. A fé, em si
mesma, não salva, quem salva é Jesus. A fé é o meio, é o mover do homem, é como
uma mão que se estende para tomar posse da bênção. Se essa mão não se estender
a bênção não é entregue, automaticamente.
3. A impossibilidade da autojustificação. Ninguém tem capacidade
de se autojustificar, mas existem muitas pessoas que querem se autojustificarem
por meio de suas religiões, por meio de seus sacrifícios físicos, por meio de
filantropia, pelo uso de suas roupas, pelos seus comportamentos… São diversos
os métodos e meios que o ser humano, através dos séculos, tem empregado para
justificar a si mesmo (Lc.10:29). Mas, tanto judeus como gentios são
justificados pela fé, e não pelas obras. Se a justificação pelas obras fosse o
caminho da salvação, o homem receberia a glória por essa salvação. Para
ilustrar essa realidade espiritual, o Senhor Jesus apresentou a história de um
fariseu que se justificava orgulhosamente por evitar certos pecados, mas não
alcançou a justificação; enquanto o publicano, que reconhecia a sua miséria
diante de Deus, teve os seus pecados perdoados e sua vida justificada (cf. Lc.18:9-14).
O fariseu, figura do religioso, cheio de orgulho, cheio de vanglória, dar
graças a Deus por não ser como os outros homens, como quem diz: os outros são
ladrões, são pecadores, eu não! O pior de tudo é que ele além de se considerar
o santarrão, o justo, ainda enquadra todos os demais como pecadores, ladrões,
fazendo uma generalização, julgando sem nenhum fundamento a outra pessoa. Como
se observa no texto de Lucas, o fariseu não saiu justificado, mas o publicano
que reconheceu a sua pobreza espiritual diante de Deus, sim. Desta feita, a
justificação não se refere ao esforço humano por pureza ou santidade, mas ao
estado de retidão diante de Deus por meio de Jesus, o Justo, que morreu tomando
sobre si todas as acusações contra nós. Portanto, a pessoa é justificada pela
graça de Deus somente, jamais por méritos pessoais – “Concluímos, pois, que o
homem é justificado pela fé, sem as obras da lei” (Rm.3:28).
Aquele que se reconhece
pecador, e que se arrepende e pede por perdão da parte de Deus, alcança
misericórdia e graça. E é isso que o Senhor Jesus está disposto a fazer, e por
isso Ele veio e pagou o preço, um preço muito alto, o preço de sua morte. Por
isso, toda honra, toda glória, todo louvor são dadas a Ele; Ele é digno, não eu
e nem você. Pense nisso!
04. Os benefícios da Justificação. No capítulo 5 da
Epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo mostra os benefícios que a justificação
traz para a vida do cristão. Paulo mostra os benefícios que emanam da
justificação quanto ao passado, presente e futuro. Todos os que têm esta nova
vida em Cristo estão livres da ira vindoura, livres do pecado e livres da morte
eterna. Para Paulo, a justificação não significa somente perdão e absolvição da
culpa do pecado, também traz dentro de si a esperança da glória de Deus
(Rm.5:2) e a promessa da salvação final (Rm.5:9,10) - a nossa glorificação -,
que é a plenitude da nossa salvação.
III.
SANTIFICADOS EM CRISTO
A Santificação é um
processo de desenvolvimento espiritual, auxiliado pelo Espírito Santo, para que
o homem possa prestar verdadeiro culto (serviço) ao Pai (ler Rm.12:1). Segundo
a Bíblia, o propósito da santificação é que o velho homem deixe de viver e
Cristo viva nele.
1. Uma consequência da Salvação. A Santificação é o ato
do processo da salvação que mais nos dá a ideia de que a salvação se desenvolve
num intervalo de tempo de nossa vida debaixo do sol. É por isso que a Bíblia
nos manda perseverar até o fim e que devemos ser fiéis a Deus até a morte
(Ap.2:10). Esta realidade da santificação, aliás, é um dos pontos que nos
permitem entender que a salvação não é algo que já esteja conquistado de
antemão pelo ser humano, como defendem os adeptos da “doutrina da
predestinação”, pois seria totalmente inexplicável tal recomendação divina,
tantas vezes repetida no texto bíblico, se fosse impossível alguém perder a
salvação uma vez obtida. A Santificação depende da atitude, da decisão de cada
ser humano. Por isso, alguns, não vigiando, desviam-se da fé (Sl.119:118;
Jr.5:5; Ez.18:26; 33:18; Lc.8:13; 1Tm.6:10; Tt.1:14; 2Tm.2:3,4,10).
No processo da salvação, a
Santificação ocorre após a Justificação. A Justificação acontece fora de nós, e
a Santificação ocorre dentro de nós. A Santificação é um processo de cooperação
entre o crente e o Espírito Santo que se inicia no momento da Justificação do
salvo, isto é, Deus vê o crente como santo, ainda que a santidade dele precise
ser aperfeiçoada (Ef.4:12). Por este processo, o crente se afasta (separa) do
pecado para viver uma vida inteiramente consagrada a Deus, desenvolvendo nele a
imagem de Cristo (Rm.8:29).
A Bíblia Sagrada deixa
claro que ser santo é uma exigência de Deus para aqueles que querem servi-lo. Veja
algumas razões pelas quais devemos ser santos.
a) Porque somos filhos de Deus -
“Amados, agora somos filhos de Deus...”(1João 3:2). Quando um filho ama seu pai
ele se orgulha quando alguém diz que ele se parece com o pai. O mesmo
sentimento compartilha o pai quando alguém diz que seu filho é a “sua
cara”.
b) Porque queremos fazer a
vontade do Pai - “Porque esta é a vontade de Deus, a vossa
santificação...”(1Tes.4:3). Todo bom filho sente prazer e se esforça para fazer
a vontade de seu pai. Todo pai fica feliz quando seu filho procura ser-lhe
agradável. A Bíblia diz que Deus quer que seus filhos sejam santos.
c) Porque queremos ser
morada de Deus e um Templo para o seu Espírito - “Jesus respondeu, e disse-lhe:
se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu pai o amará, e viremos para
ele, e faremos nele morada”(João 14:23); “Ou não sabeis que o vosso corpo é o
templo do Espírito Santo, que habita em vós...”(1Co.6:9). A Bíblia diz que Deus
é Santo, na sua essência, ou seja, é absolutamente santo. Nós com todas nossas
impurezas não sentimos bem habitando, ou convivendo num lugar sujo, imundo.
Quanto mais Deus. Daí, se eu quero que ele habite em mim, então, preciso não
apenas estar limpo, preciso estar purificado.
d) Porque queremos ser um
vaso nas mãos de Deus. Santificação significa ser separado para uso de
Deus. Daí, qualquer que desejar ser um vaso nas mãos de Deus, tem que ser um
vaso separado para seu uso. Isto significa ser santo. Esta é a condição exigida
pela Palavra de Deus, conforme escreveu Paulo: “Ora, numa grande casa não
somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para
honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purifica destas
coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor e
preparado para toda boa obra”(2Tm.2:20,21).
e) Porque somos peregrinos a
caminho da Canaã Celestial - “...Andai em temor, durante o tempo da vossa
peregrinação”(1Pd.1:17). Os que não conhecem a Bíblia pensam que para ser santo
é preciso estar morando no céu. Pensam que é lá que vivem os santos. Porém,
pela Palavra de Deus sabemos que Deus exigiu que Israel fosse santo durante a
peregrinação através do deserto. Foi lá no Monte Sinai que Deus disse:
“...Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo”(Lv.19:2).
Naquele deserto, Israel teria que andar com Deus. Porém, o profeta Amós
pergunta: “Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?”(Amós 3:3). Deus é
Santo, e só existe uma maneira de poder andar com ele: sendo santo.
f) Porque queremos morar no Céu
- “Senhor, quem habitarás no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo Monte? Aquele
que anda sinceramente, e pratica a justiça, e fala a verdade no seu coração” (Salmo
15:1,2). O Senhor Deus diz: “Os meus olhos procurarão os fiéis da terra, para
que estejam comigo; o que anda num caminho reto, esse me servirá”(Salmo 101:6).
Somente os santos é que podem ser fiéis; só os santos morarão no Céu.
2. Um esforço pessoal. A Santificação é
processo contínuo e progressivo, ou seja, o salvo vai se santificando a cada
dia, isto é, a cada instante, e a cada momento de sua vida vai se distanciando
do pecado e se aproximando do Senhor; é o que as Escrituras denominam de
“aperfeiçoamento dos santos” (Ef.4:12). Santificamo-nos a cada dia; a cada
instante devemos buscar mais da glória do Senhor, brilhar mais e mais, pois
ainda não é dia perfeito. Por isso, não podemos jamais pensar em parar a nossa
jornada, nem “estacionar” do ponto-de-vista espiritual, pois a nossa vida é uma
carreira, que só terminará na volta do Senhor. “Parar”, “estacionar”, nada mais
é que “regredir”, é “recuar”, é “retirar-se para a perdição”, e a Bíblia é
clara ao dizer que quem assim procede desagrada a Deus (Hb.10:38,39) – “Ora,
amados, pois, que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundície da
carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus”(2Co.7:1).
É bom ressaltar que a
santificação não se confunde com o isolamento da sociedade, mas isto também não
pode dar guarida àqueles que, em nome de uma atividade evangelizadora,
misturam-se com os pecadores e, o que não é correto, com o pecado dos
pecadores. Quantos, na atualidade, sob pretexto de evangelizar, não pecam
juntamente com os pecadores ou consentem com o pecado dos ímpios, que deveriam
denunciar? Quantos, a pretexto de evangelizar, não praticam as mesmas coisas
que os que deveriam ser evangelizados? Se toda e qualquer “evangelização”,
levar as pessoas a praticar as obras da carne, descritas pelo apóstolo em
Gl.5:19-21, estaremos diante de um engano, de uma mentira satânica, pois, em
vez de “evangelização”, estaremos, mesmo, diante daqueles que pertencem à sinagoga
de Satanás (cf. Ap.2:9; 3:9), que se dizem crentes, mas mentem, pois não o são.
3. O desafio de sermos santos. A Santificação importa
em revestimento da plenitude de Cristo, ou seja, quanto mais santificados
formos, menos apareceremos, mas refletiremos a imagem do Senhor. Um dos grandes
erros tem sido o de confundir a santificação neste sentido de crescimento
espiritual com a exaltação do salvo e não do Salvador. A verdadeira
santificação faz com que tenhamos o mesmo sentimento de João Batista, ou seja, do
de diminuirmos para que Cristo cresça (João 3:30), tanto que Paulo diz que, no
nosso crescimento espiritual, há a formação de Cristo em nós (Gl.4:19).
Portanto, quando crescemos espiritualmente, assumimos a forma de Cristo, ou
seja, o jeito de Cristo, a ponto de as pessoas não nos verem, mas, sim, a
Cristo. É por isto que é dito que a santificação nos faz participantes da
natureza divina. Passamos a não ter mais pecado, em virtude do perdão recebido
pelo sacrifício de Cristo no Calvário, e a cada dia mais termos semelhança da
imagem de Deus, que é a própria imagem de Cristo, Deus feito homem. Em razão
disto, o salvo externa a própria natureza divina, daí porque ser chamado de
“filho de Deus” (Rm.8:16), filho por adoção, já que não o era por natureza, vez
que possuía a natureza pecaminosa, agora crucificada com Cristo. Esta filiação
divina mostra que somos herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo(Rm.8:17), que
temos a mesma natureza do Pai e do Filho, fazendo jus à vida eterna, a morar na
casa do Pai (Jo.14:1-3).
Sem dúvida é um grande
desafio para o cristão manter uma vida de santidade num mundo tão depravado e
corrupto como este em que vivemos; certamente, é preciso um esforço pessoal e
dependência continua do Espirito Santo. Deus anela pela santificação dos seus
filhos, não por capricho divino, mas porque o pecado nos fere de morte e o
nosso Pai de amor não quer ver os seus filhos feridos, mortos no pecado, pois
isso contraria sua natureza amorosa.
CONCLUSÃO
Convêm que os crentes,
como pessoas regeneradas, justificadas e santificadas, demonstrem ao mundo
perdido, com suas atitudes, que somente Jesus pode salvar e transformar o
pecador. Se todos os crentes tivessem uma plena visão da salvação, se pudessem
ver plenamente ao longe a tão grande salvação que receberam, com certeza teriam
atitudes diferentes no seu dia-a-dia. Teríamos tanto regozijo, tanta motivação,
tanto entusiasmo, tanta convicção, tanto anseio e enlevo pelo céu, que não
haveria na Terra um só salvo descontente, descuidado, negligente e embaraçado
com as coisas desta vida e deste mundo. Ademais, teríamos uma tão profunda
compreensão do que é o céu – e, por isso, teríamos tanto desejo de ir para lá
-, que o Diabo não teria na igreja um só fã, um só admirador de suas coisas, um
só aliado. Mas, há crentes que admiram e gostam das coisas do Maligno e se
aliam a ele. Por mais que não admitam, pelo fato de não atentarem para a “tão
grande salvação”, tornam-se vulneráveis às investidas do tentador.
-----------
Luciano
de Paula Lourenço
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) -
William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 72. CPAD.
Wayne Grudem. Teologia Sistemática Atual e
exaustiva.
Claiton Ivan Pommerening. Obra da Salvação. CPAD.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. As Doutrinas da Graça
de Deus. Portal EBD.2006.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. A corrupção da doutrina
da regeneração. PortalEBD_2005.
Comentário Bíblico Pentecostal. Novo Testamento.
CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Gálatas, a Carta da
liberdade cristã. Hagnos.