domingo, 26 de novembro de 2017

Aula 10 – O PROCESSO DA SALVAÇÃO


4º Trimestre/2017

Texto Base: Joao 3:1-7

 "Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espirito não pode entrar no Reino de Deus" (João 3:5).

 INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos a respeito do Processo da Salvação. A salvação, ao contrário do que muitos pensam, não é um ato único, um instante isolado, mas envolve todo um processo, ou seja, uma sequência de atos, com origem em Deus. Tanto a salvação é um processo, que o próprio Jesus nos ensina que é preciso “perseverar até o fim” para que seja salvo (Mt.24:13), isto é, é preciso uma continuidade, uma constância até o instante final da nossa permanência nesta dimensão terrena, onde fomos postos pelo Senhor, por Sua misericórdia, para termos a chance e oportunidade de sermos salvos.

O processo de salvação na vida do crente se dá na seguinte sequência de atos:

- Primeiro, a deliberação divina. Decisão de Deus de salvar o ser humano, tomada ainda antes da fundação do mundo. Se Deus não tivesse querido salvar o homem, jamais o homem poderia ter a oportunidade da salvação.

- Segundo, a Fé salvadora. Disposição de caráter que não nasce no homem, mas que também vem de Deus, um dom de Deus (Ef.2:8).

- Terceiro, o arrependimento. O reconhecimento de que se é pecador e que é preciso mudar seu comportamento diante de Deus. Jesus, ao iniciar a pregação do Evangelho, não tinha outra mensagem senão “Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc.1:15).

- Quarto, a Conversão. É a mudança de direção na vida. O homem, quando se arrepende, muda a sua concepção a respeito da vida, modifica seus desejos, seus sentimentos e seus pensamentos; reconhece que Deus deve governar a sua vida e que deve, a partir daquele momento, passar a agradar a Deus. A atuação do Espírito Santo é indispensável para que o homem seja convencido do pecado, da morte e do juízo e, assim, resolva se arrepender dos seus pecados e mudar a direção da sua vida, que é o que denominamos de "conversão".

- Quinto, o Perdão dos pecados. Quando nos arrependemos e cremos que Jesus é o nosso único e suficiente Senhor e Salvador, temos os nossos pecados perdoados (At.10:43).

- Sexto, a Regeneração ou Novo Nascimento. É um ato divino através do qual a criatura humana experimenta uma mudança radical no seu interior. É a única maneira pela qual o “homem velho”, morto em ofensas e pecados pode voltar a viver para Deus.

- Sétimo, a Justificação. Após ser regenerado ou nascido de novo, o homem é declarado justo por Deus, ou seja, o castigo que merecia receber pelos seus pecados é atribuído a Cristo e, por causa disto, o homem fica sem pecado algum, é absolvido, ou seja, é declarado justo diante de Deus.

- Oitavo, a Adoção de filhos. A Regeneração e a Justificação tornam-nos filhos de Deus (João 1:12). Como deixamos de ter pecados, como passamos a ser considerados justos, como passamos a ter comunhão com Deus, recebemos o poder de sermos filhos de Deus, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm.8:17).

- Nono, a Santificação. A palavra santificação apresenta uma gama muito variada de significados. Relacionada com os pertences do culto do santuário “pôr à parte para uso santo”, “tornado livre do pecado”, “purificado”. Em nosso contexto, a palavra é empregada no processo pelo qual, depois da justificação, o cristão deve desenvolver um caráter que o qualifique para o céu. A santificação começa por ocasião da conversão, e continua através de toda a vida do crente. É o gradual desenvolvimento de um caráter semelhante a Cristo, produzido pela submissão do crente à graça de Deus. Abrange todo o momento da vida, e é de importância progressiva. Significa perfeito amor, obediência e perfeita conformidade à vontade de Deus.

- Décimo, a Glorificação. Este ato divino ocorrerá quando Jesus voltar para arrebatar a Sua Igreja. Quando do arrebatamento da Igreja, o Senhor Jesus completará o processo da salvação. Aqueles que dormiram no Senhor, ou seja, mantiveram-se em santidade até o instante de sua morte física, ressuscitarão primeiro e receberão um corpo glorioso. Os que estiverem vivos naquela oportunidade, serão transformados e, assim, todos atingirão o estágio final da salvação: a glorificação (1Co.15:51-57). Por isso as Escrituras nos dizem que Cristo é as primícias dos salvos (1Co.15:20), pois foi o primeiro a ressuscitar e a receber a glorificação que nós também receberemos naquele grande dia (1Co.15:23).

Por espaço nesta Aula, estudaremos apenas três aspectos do processo da salvação, a saber: a Regeneração operada pelo Espírito Santo, a Justificação outorgada por Deus e a Santificação como consequência de uma vida com Cristo.

I. REGENERADOS PELO ESPÍRITO SANTO

1. A natureza da Regeneração. A Regeneração é a ação decisiva e instantânea do Espírito Santo, mediante a qual Ele cria de novo a natureza interior; é a transformação do pecador numa nova criatura pelo poder de Deus (2Co.5:17), como resultado do sacrifício de Jesus na cruz do Calvário. Trata-se de uma operação do Espírito Santo na salvação do pecador. Neste ato sobrenatural o ser humano é gerado por Deus para ser filho (João 1:12) e participante da natureza divina (2Pd.1:4). Essa Regeneração é essencial para que o homem entre no Reino de Deus. A Regeneração é tão séria diante de Deus, que a Bíblia chama-a de “batismo em Jesus”(1Co.12:13; Gl.3:27; Rm.6:3). Trata-se de um ato interior, dentro do indivíduo, abrangendo também todo o seu ser. É somente o Espírito Santo quem pode operar no homem o milagre da Regeneração. Foi o que afirmou Paulo: “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tito 3:5).

Regeneração, portanto, significa:

- Vida renovada (1João 3:13,14) – “Meus irmãos, não vos maravilheis, se o mundo vos odeia. Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama a seu irmão permanece na morte”.

- Mente renovada (Rm.12:2) – “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”.

- Velho homem transformado numa nova criatura (2Co.5:17) – “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”.

- Despir-se do velho homem (1Co.6:20) – “Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus”.

2. A necessidade de Regeneração. A Regeneração é a mais importante e a mais urgente necessidade da vida de um ser humano. Regeneração significa Novo Nascimento. Para fazermos parte do Reino de Deus é preciso nos tornar nova criatura e nascermos do Espírito (João 3:5). Sem o Novo Nascimento, a vida é vã, a esperança é vã e a religião é vã. Sem o Novo Nascimento, Deus estará contra a pessoa no dia do juízo. Sem o Novo Nascimento, a Palavra de Deus condenará a pessoa no Dia final. Sem o Novo Nascimento, o Céu estará de portas fechadas para aqueles que rejeitarem essa importante decisão. Jesus disse que, se alguém não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus (Joao 3:3). Se alguém não nascer da água e do Espirito, não poderá entrar no reino de Deus (João 3:5). Jesus é enfático: “Necessário vos é nascer de novo” (João 3:7).

Você pode ser uma pessoa rica, culta, respeitável e religiosa como Nicodemos, mas, se não nascer de novo, estará perdido. Você pode ser uma pessoa zelosa, conservadora e observadora dos preceitos religiosos, como Nicodemos, mas, se não nascer de novo, não haverá esperança para sua alma. Você pode praticar muitas boas obras, dar esmolas, ter uma vida bonita e até fazer orações que são ouvidas no céu, como Cornélio fazia, mas, se não nascer de novo, não poderá entrar no reino de Deus.

Negar a realidade e a necessidade da Regeneração, ou interpretá-la de outra forma que não seja bíblica, tem características não apenas humanísticas, mas sobretudo satânicas, pois o Diabo é o maior interessado em que o homem não veja a luz do Evangelho e não seja regenerado.

3. Consequências da Regeneração. A Regeneração não é algo superficial; não é uma mera reforma moral; é uma mudança completa do coração, do caráter e da vontade; é uma ressurreição, uma nova criação; é passar da morte para a vida. O homem regenerado recebe de Deus coração e espírito novos (Ez.36:26), podendo assim ter comunhão com Deus e a garantia de viver com Ele na eternidade.

É possível verificar se uma pessoa é regenerada por meio de algumas mudanças que passam a fazer parte do seu viver: o amor intenso a Deus (1João 4:19; 5.1); o amor pelos irmãos (1João 3:14); a rejeição das coisas mundanas (1João 2:15,16); o amor à Palavra de Deus (Sl.119:103; 1Pd.2:2); o amor pelas almas perdidas (Rm.9:1-3); o desejo de estar em comunhão com Deus e adorá-lo (Sl.42:1,2; 63:1; Ef.5:19,20); a vitória sobre o pecado, a carnalidade e as práticas contrárias ao Evangelho (1João 5:18; Cl.5:16; 2Co.5:17); o conhecimento da vontade de Deus (1Co.2:12); o testemunho interior do Espírito Santo atestando nossa filiação ao Pai (Rm.8:16); o intenso interesse de praticar a justiça (1João 2:29). É uma mudança tão radical que a pessoa passa a ter uma nova natureza, novos hábitos, novos gostos, novos desejos, novos apetites, novos julgamentos, novas opiniões, nova esperança, novos temores.

II. JUSTIFICADOS POR DEUS

A Justificação é feita mediante a redenção que há em Cristo Jesus. Na Cruz do Calvário, quando ele declarou “está consumado”(João 19:30), o preço da redenção estava pago, a Justiça de Deus estava satisfeita. A punição exigida pela Justiça de Deus estava concretizada sobre Jesus. Agora, nEle o homem podia ser justificado. O apóstolo Paulo, em Romanos 3:24, assim se expressa: “sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”. Ao morrer por nós, Cristo abre a oportunidade de nos libertar do pecado. Jesus pagou o preço da nossa salvação e, por isso, nos comprou a liberdade; este ato é conhecido por “redenção”, ou seja, “o ato de remir”, o “resgate”, ou seja, “o ato de livrar (algo) de ônus por meio do pagamento”, o “ato de comprar para libertar”. Por isso, o apóstolo Pedro nos lembra que não fomos comprados com ouro, mas com o precioso sangue de Jesus (1Pd.1:18,19). Como fomos comprados por Cristo, libertamo-nos do jugo do pecado e, por isso, não mais estamos sob condenação, alcançamos a justificação.

1. A natureza da Justificação. Após ser regenerado ou nascido de novo, o homem é declarado justo por Deus, ou seja, o castigo que merecia receber pelos seus pecados é atribuído a Cristo e, por causa disto, o homem fica sem pecado algum. Não tendo pecado, é declarado justo pelo Senhor. É a justificação que nos permite entrar em comunhão com Deus (Rm.5:1), que faz com que as nossas vestes sejam vestes de justiça (Is.61:10), vestes que nos permitirão entrar na cidade celeste pelas portas (Ap.22:14).

John Stott diz que a palavra “justificação” é um termo legal que foi tomado emprestado dos tribunais. É exatamente o oposto de “condenação”. Condenar é declarar uma pessoa culpada; “justificar” é declará-la sem culpa, inocente ou justa. Na Bíblia, essa palavra significa o ato imerecido do favor de Deus por meio do qual ele coloca diante si o pecador, não apenas perdoando ou isentando-o da culpa, mas também aceitando-o e tratando-o como justo. Paulo diz em Romanos 3:21: “Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o testemunho da Lei e dos Profetas”. O termo “justiça”, neste texto, traduz a palavra grega dikaiosyne, muito comum no contexto de um tribunal. A imagem é de alguém que é inocentado por um juiz, mesmo sendo culpado pelos seus atos. Podemos concluir, então, que, mesmo culpados, Deus quis nos justificar e perdoar. Assim, somos declarados inocentes, pois nossa condenação foi substituída pela pena paga por Cristo na cruz (2Co.5:21). É um ato gracioso e amoroso de Deus para nós, sem interferência dos méritos humanos, cabendo ao homem somente crer mediante a fé na obra que Jesus operou (Rm.5:1).

Justificação, portanto, é como que uma declaração legal de que estamos isentos de culpa, ou seja, que nos tornamos justos diante de Deus. Para o homem justificado não há mais culpa, não há mais condenação – a Redenção foi consumada: “... nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus...”(Rm.8:1). Antes, o homem era culpado, agora não há mais nenhuma culpa: “quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica”(Rm.8:33). Antes, o homem estava condenado, agora “quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós”(Rm.8:34). Antes, morto espiritualmente, o homem estava separado de Deus, agora “quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angustia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? (Rm.8:35).

Portanto, para o homem Justificado não há mais culpa, não há mais condenação. Isento da culpa do pecado, o homem readquiriu a vida eterna, conforme afirmou Jesus: “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer...”(João 10:28).

2. A necessidade da Justificação. A maior necessidade do ser humano não é a saúde, o prazer, a riqueza ou o poder, mas a salvação, a justificação. Por que a Justificação é a maior necessidade do ser humano?

Ø Porque o ser humano é pecador e não pode salvar a si mesmo. Como pode o ser humano pecador ter comunhão com o Deus santo? Como pode aquele que está arruinado e falido moral e espiritualmente ter sua dívida quitada diante de Deus? Como pode o transgressor ser justificado diante do reto e justo juiz? Afirma o apóstolo Paulo: “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo e não pelas obras da lei, porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada” (Gl.2:16).

Ø Porque o ser humano é impuro e não pode purificar a si mesmo. O pecado é uma mácula que contamina. O ser humano está sujo e não pode lavar a si mesmo. Todo o seu ser está contaminado e poluído pelo pecado e ele não pode purificar a si mesmo. Sua justiça não passa de trapos de imundícia aos olhos de Deus.

Ø Porque o ser humano é filho da ira e não pode alcançar o favor de Deus por si mesmo. O pecado é maligníssimo aos olhos de Deus. Por isso o pecador morto em seus delitos e pecados, escravo do mundo, da carne e do diabo, é filho da ira e está debaixo da ira de Deus. Como tal, não pode alcançar por si mesmo o favor de Deus.

Ø Porque a Justificação é a condição-mor para participarmos das bênçãos da salvação e para que o Diabo não tenha nenhum poder de acusar o crente dos pecados que Cristo perdoou. O crente justificado pode dizer como Paulo disse: “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Rm.8:33,34).

O homem é justificado pela fé em Cristo Jesus, graciosamente, mas essa justificação não se dá de forma automática nem por mérito. O homem precisa tomar posse de sua bênção, conforme afirmou Paulo: “Porque pela graça dois salvos, por meio da fé...”(Ef.2:8). Assim é que, no processo que envolve a Justificação, o Pai proveu a fonte, que é a Sua Graça; o Filho proveu a base da Justificação, que é o Seu Sangue; o Espírito Santo move o homem ao exercício da fé para alcançar sua bênção. É preciso entender, porém, que a base da Justificação não é a fé, mas é o sangue do Cordeiro de Deus. A fé é o meio, e não o fim. A fé, em si mesma, não salva, quem salva é Jesus. A fé é o meio, é o mover do homem, é como uma mão que se estende para tomar posse da bênção. Se essa mão não se estender a bênção não é entregue, automaticamente.

3. A impossibilidade da autojustificação. Ninguém tem capacidade de se autojustificar, mas existem muitas pessoas que querem se autojustificarem por meio de suas religiões, por meio de seus sacrifícios físicos, por meio de filantropia, pelo uso de suas roupas, pelos seus comportamentos… São diversos os métodos e meios que o ser humano, através dos séculos, tem empregado para justificar a si mesmo (Lc.10:29). Mas, tanto judeus como gentios são justificados pela fé, e não pelas obras. Se a justificação pelas obras fosse o caminho da salvação, o homem receberia a glória por essa salvação. Para ilustrar essa realidade espiritual, o Senhor Jesus apresentou a história de um fariseu que se justificava orgulhosamente por evitar certos pecados, mas não alcançou a justificação; enquanto o publicano, que reconhecia a sua miséria diante de Deus, teve os seus pecados perdoados e sua vida justificada (cf. Lc.18:9-14). O fariseu, figura do religioso, cheio de orgulho, cheio de vanglória, dar graças a Deus por não ser como os outros homens, como quem diz: os outros são ladrões, são pecadores, eu não! O pior de tudo é que ele além de se considerar o santarrão, o justo, ainda enquadra todos os demais como pecadores, ladrões, fazendo uma generalização, julgando sem nenhum fundamento a outra pessoa. Como se observa no texto de Lucas, o fariseu não saiu justificado, mas o publicano que reconheceu a sua pobreza espiritual diante de Deus, sim. Desta feita, a justificação não se refere ao esforço humano por pureza ou santidade, mas ao estado de retidão diante de Deus por meio de Jesus, o Justo, que morreu tomando sobre si todas as acusações contra nós. Portanto, a pessoa é justificada pela graça de Deus somente, jamais por méritos pessoais – “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei” (Rm.3:28).

Aquele que se reconhece pecador, e que se arrepende e pede por perdão da parte de Deus, alcança misericórdia e graça. E é isso que o Senhor Jesus está disposto a fazer, e por isso Ele veio e pagou o preço, um preço muito alto, o preço de sua morte. Por isso, toda honra, toda glória, todo louvor são dadas a Ele; Ele é digno, não eu e nem você. Pense nisso!

04. Os benefícios da Justificação. No capítulo 5 da Epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo mostra os benefícios que a justificação traz para a vida do cristão. Paulo mostra os benefícios que emanam da justificação quanto ao passado, presente e futuro. Todos os que têm esta nova vida em Cristo estão livres da ira vindoura, livres do pecado e livres da morte eterna. Para Paulo, a justificação não significa somente perdão e absolvição da culpa do pecado, também traz dentro de si a esperança da glória de Deus (Rm.5:2) e a promessa da salvação final (Rm.5:9,10) - a nossa glorificação -, que é a plenitude da nossa salvação.

III. SANTIFICADOS EM CRISTO

A Santificação é um processo de desenvolvimento espiritual, auxiliado pelo Espírito Santo, para que o homem possa prestar verdadeiro culto (serviço) ao Pai (ler Rm.12:1). Segundo a Bíblia, o propósito da santificação é que o velho homem deixe de viver e Cristo viva nele.

1. Uma consequência da Salvação. A Santificação é o ato do processo da salvação que mais nos dá a ideia de que a salvação se desenvolve num intervalo de tempo de nossa vida debaixo do sol. É por isso que a Bíblia nos manda perseverar até o fim e que devemos ser fiéis a Deus até a morte (Ap.2:10). Esta realidade da santificação, aliás, é um dos pontos que nos permitem entender que a salvação não é algo que já esteja conquistado de antemão pelo ser humano, como defendem os adeptos da “doutrina da predestinação”, pois seria totalmente inexplicável tal recomendação divina, tantas vezes repetida no texto bíblico, se fosse impossível alguém perder a salvação uma vez obtida. A Santificação depende da atitude, da decisão de cada ser humano. Por isso, alguns, não vigiando, desviam-se da fé (Sl.119:118; Jr.5:5; Ez.18:26; 33:18; Lc.8:13; 1Tm.6:10; Tt.1:14; 2Tm.2:3,4,10).

No processo da salvação, a Santificação ocorre após a Justificação. A Justificação acontece fora de nós, e a Santificação ocorre dentro de nós. A Santificação é um processo de cooperação entre o crente e o Espírito Santo que se inicia no momento da Justificação do salvo, isto é, Deus vê o crente como santo, ainda que a santidade dele precise ser aperfeiçoada (Ef.4:12). Por este processo, o crente se afasta (separa) do pecado para viver uma vida inteiramente consagrada a Deus, desenvolvendo nele a imagem de Cristo (Rm.8:29).

A Bíblia Sagrada deixa claro que ser santo é uma exigência de Deus para aqueles que querem servi-lo. Veja algumas razões pelas quais devemos ser santos.

a) Porque somos filhos de Deus - “Amados, agora somos filhos de Deus...”(1João 3:2). Quando um filho ama seu pai ele se orgulha quando alguém diz que ele se parece com o pai. O mesmo sentimento compartilha o pai quando alguém diz que seu filho é a “sua cara”. 

b) Porque queremos fazer a vontade do Pai - “Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação...”(1Tes.4:3). Todo bom filho sente prazer e se esforça para fazer a vontade de seu pai. Todo pai fica feliz quando seu filho procura ser-lhe agradável. A Bíblia diz que Deus quer que seus filhos sejam santos.

c)  Porque queremos ser morada de Deus e um Templo para o seu Espírito - “Jesus respondeu, e disse-lhe: se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada”(João 14:23); “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós...”(1Co.6:9). A Bíblia diz que Deus é Santo, na sua essência, ou seja, é absolutamente santo. Nós com todas nossas impurezas não sentimos bem habitando, ou convivendo num lugar sujo, imundo. Quanto mais Deus. Daí, se eu quero que ele habite em mim, então, preciso não apenas estar limpo, preciso estar purificado.

d) Porque queremos ser um vaso nas mãos de Deus.  Santificação significa ser separado para uso de Deus. Daí, qualquer que desejar ser um vaso nas mãos de Deus, tem que ser um vaso separado para seu uso. Isto significa ser santo. Esta é a condição exigida pela Palavra de Deus, conforme escreveu Paulo: “Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purifica destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra”(2Tm.2:20,21).

e) Porque somos peregrinos a caminho da Canaã Celestial - “...Andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação”(1Pd.1:17). Os que não conhecem a Bíblia pensam que para ser santo é preciso estar morando no céu. Pensam que é lá que vivem os santos. Porém, pela Palavra de Deus sabemos que Deus exigiu que Israel fosse santo durante a peregrinação através do deserto. Foi lá no Monte Sinai que Deus disse: “...Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo”(Lv.19:2). Naquele deserto, Israel teria que andar com Deus. Porém, o profeta Amós pergunta: “Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?”(Amós 3:3). Deus é Santo, e só existe uma maneira de poder andar com ele: sendo santo.

f)  Porque queremos morar no Céu - “Senhor, quem habitarás no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo Monte? Aquele que anda sinceramente, e pratica a justiça, e fala a verdade no seu coração” (Salmo 15:1,2). O Senhor Deus diz: “Os meus olhos procurarão os fiéis da terra, para que estejam comigo; o que anda num caminho reto, esse me servirá”(Salmo 101:6). Somente os santos é que podem ser fiéis; só os santos morarão no Céu.

2. Um esforço pessoal. A Santificação é processo contínuo e progressivo, ou seja, o salvo vai se santificando a cada dia, isto é, a cada instante, e a cada momento de sua vida vai se distanciando do pecado e se aproximando do Senhor; é o que as Escrituras denominam de “aperfeiçoamento dos santos” (Ef.4:12). Santificamo-nos a cada dia; a cada instante devemos buscar mais da glória do Senhor, brilhar mais e mais, pois ainda não é dia perfeito. Por isso, não podemos jamais pensar em parar a nossa jornada, nem “estacionar” do ponto-de-vista espiritual, pois a nossa vida é uma carreira, que só terminará na volta do Senhor. “Parar”, “estacionar”, nada mais é que “regredir”, é “recuar”, é “retirar-se para a perdição”, e a Bíblia é clara ao dizer que quem assim procede desagrada a Deus (Hb.10:38,39) – “Ora, amados, pois, que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundície da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus”(2Co.7:1).

É bom ressaltar que a santificação não se confunde com o isolamento da sociedade, mas isto também não pode dar guarida àqueles que, em nome de uma atividade evangelizadora, misturam-se com os pecadores e, o que não é correto, com o pecado dos pecadores. Quantos, na atualidade, sob pretexto de evangelizar, não pecam juntamente com os pecadores ou consentem com o pecado dos ímpios, que deveriam denunciar? Quantos, a pretexto de evangelizar, não praticam as mesmas coisas que os que deveriam ser evangelizados? Se toda e qualquer “evangelização”, levar as pessoas a praticar as obras da carne, descritas pelo apóstolo em Gl.5:19-21, estaremos diante de um engano, de uma mentira satânica, pois, em vez de “evangelização”, estaremos, mesmo, diante daqueles que pertencem à sinagoga de Satanás (cf. Ap.2:9; 3:9), que se dizem crentes, mas mentem, pois não o são.

3. O desafio de sermos santos. A Santificação importa em revestimento da plenitude de Cristo, ou seja, quanto mais santificados formos, menos apareceremos, mas refletiremos a imagem do Senhor. Um dos grandes erros tem sido o de confundir a santificação neste sentido de crescimento espiritual com a exaltação do salvo e não do Salvador. A verdadeira santificação faz com que tenhamos o mesmo sentimento de João Batista, ou seja, do de diminuirmos para que Cristo cresça (João 3:30), tanto que Paulo diz que, no nosso crescimento espiritual, há a formação de Cristo em nós (Gl.4:19). Portanto, quando crescemos espiritualmente, assumimos a forma de Cristo, ou seja, o jeito de Cristo, a ponto de as pessoas não nos verem, mas, sim, a Cristo. É por isto que é dito que a santificação nos faz participantes da natureza divina. Passamos a não ter mais pecado, em virtude do perdão recebido pelo sacrifício de Cristo no Calvário, e a cada dia mais termos semelhança da imagem de Deus, que é a própria imagem de Cristo, Deus feito homem. Em razão disto, o salvo externa a própria natureza divina, daí porque ser chamado de “filho de Deus” (Rm.8:16), filho por adoção, já que não o era por natureza, vez que possuía a natureza pecaminosa, agora crucificada com Cristo. Esta filiação divina mostra que somos herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo(Rm.8:17), que temos a mesma natureza do Pai e do Filho, fazendo jus à vida eterna, a morar na casa do Pai (Jo.14:1-3).

Sem dúvida é um grande desafio para o cristão manter uma vida de santidade num mundo tão depravado e corrupto como este em que vivemos; certamente, é preciso um esforço pessoal e dependência continua do Espirito Santo. Deus anela pela santificação dos seus filhos, não por capricho divino, mas porque o pecado nos fere de morte e o nosso Pai de amor não quer ver os seus filhos feridos, mortos no pecado, pois isso contraria sua natureza amorosa.

CONCLUSÃO

Convêm que os crentes, como pessoas regeneradas, justificadas e santificadas, demonstrem ao mundo perdido, com suas atitudes, que somente Jesus pode salvar e transformar o pecador. Se todos os crentes tivessem uma plena visão da salvação, se pudessem ver plenamente ao longe a tão grande salvação que receberam, com certeza teriam atitudes diferentes no seu dia-a-dia. Teríamos tanto regozijo, tanta motivação, tanto entusiasmo, tanta convicção, tanto anseio e enlevo pelo céu, que não haveria na Terra um só salvo descontente, descuidado, negligente e embaraçado com as coisas desta vida e deste mundo. Ademais, teríamos uma tão profunda compreensão do que é o céu – e, por isso, teríamos tanto desejo de ir para lá -, que o Diabo não teria na igreja um só fã, um só admirador de suas coisas, um só aliado. Mas, há crentes que admiram e gostam das coisas do Maligno e se aliam a ele. Por mais que não admitam, pelo fato de não atentarem para a “tão grande salvação”, tornam-se vulneráveis às investidas do tentador.

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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 72. CPAD.
Wayne Grudem. Teologia Sistemática Atual e exaustiva.
Claiton Ivan Pommerening. Obra da Salvação. CPAD.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. As Doutrinas da Graça de Deus. Portal EBD.2006.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. A corrupção da doutrina da regeneração. PortalEBD_2005.
Comentário Bíblico Pentecostal. Novo Testamento. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Gálatas, a Carta da liberdade cristã. Hagnos.

domingo, 19 de novembro de 2017

Aula 09 – ARREPENDIMENTO E FÉ PARA A SALVAÇÃO


4º Trimestre/2017

Texto Base: Atos 2:37-41

"E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo" (At.2:38).

 
INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos a respeito da fé salvífica e do arrependimento. Veremos que fé para a salvação é implantada em nossos corações pelo Espírito Santo a fim de que venhamos a receber a dádiva da salvação. Deus deseja que todos sejam salvos, contudo é necessário fé e arrependimento. Primeiramente o Espírito Santo faz nascer no coração do ser humano incrédulo a fé em Jesus e no seu sacrifício vicário; depois, o mesmo Espírito convence a pessoa dos seus pecados, do juízo e da justiça de Deus, gerando o arrependimento. Arrependido e convertido, o Espirito Santo torna essa pessoa em uma nova criatura, justificando-o e tornando-o apto a fazer parte do Reino de Deus.

I. ARREPENDIMENTO, UMA TRANSFORMAÇÃO DO ESPÍRITO

1. Definição de arrependimento. O que é arrependimento? É uma mudança de direção - conversão (ler 1Ts.1:9), mudança de mente, transformação do pensamento, da consciência, das atitudes, como afirma o apóstolo Pedro: “Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância”(1Pd.1:14). Se o homem diz que está salvo, mas, continua conformado e não procura mudar seus hábitos, ou costumes, alguma coisa deve estar errada. Quando eu recebo Jesus Cristo como meu Senhor e Salvador, eu estou dando as costas para a velha vida.

Quando se passa pelo verdadeiro arrependimento há uma tristeza sincera pelo pecado praticado (2Co.7:10) e posterior compromisso de abandoná-lo para abraçar a vontade de Deus. O verdadeiro arrependimento nada significa se produz apenas algumas lágrimas, um espasmo de pesar, um pequeno susto. Precisamos abandonar os pecados dos quais nos arrependemos e andar em um caminho novo e de santidade.

2. O arrependimento na vida cotidiana. O verdadeiro arrependimento implica na mudança de atitude e conduta daquele que pecou, e isto não acontece somente no dia da conversão, mas na vida cotidiana, de forma contínua. A orientação amorosa do Senhor Jesus é: “vai-te e não peques mais” (João 8:11). Deus restaura o pecador que verdadeiramente se arrepende e muda de atitude.

Na época de Neemias, o povo judeu estava desviado dos caminhos do Senhor. Mas, no capítulo 8 de Neemias, vemos que o povo se reuniu para ouvir a Palavra. A leitura, a explicação e a aplicação da Palavra trouxeram choro pelo pecado (Ne.8:9). Este é um dos efeitos da Palavra de Deus no coração daqueles que a ouvem; ela produz quebrantamento, arrependimento e choro pelo pecado. Arrependimento começa com choro, humilhação e quebrantamento diante de Deus (2Cr.7:14). Aliás, arrependimento é a tristeza profunda e suficiente para não repetir o erro.

Quanto mais você lê e entende a Palavra de Deus, mais perto de Deus você fica; logo, mais consciência você tem de que é pecador e mais chora pelo pecado. O emocionalismo é inútil, mas a emoção produzida pelo entendimento é parte essencial do cristianismo. É impossível compreender a verdade sem ser tocado por ela. Não podemos adorar o Rei da glória antes de contemplarmos a triste realidade do nosso pecado. O choro do povo judeu à época de Neemias não foi mero remorso, pois as atitudes e gestos que eles demonstraram pregam um sincero arrependimento; o povo jejuou e cobriu-se com pano de saco. Esses são sinais de contrição, arrependimento e profundo quebrantamento. O povo reconheceu o seu pecado. O verdadeiro arrependimento resulta em mudança de vida, uma mudança contínua.

Nestes últimos dias da Igreja, vemos muita adesão e pouca conversão, muito ajuntamento e pouco quebrantamento. Estranhamente, vemos a pregação da fé sem o arrependimento e da salvação sem a conversão. O pragmatismo com a sua numerolatria está em voga hoje. Muitos pregadores abandonaram a pregação bíblica para alcançar um número maior de pessoas; pregam o que o povo quer ouvir e não o que ele precisa ouvir; pregam sobre cura e prosperidade e não sobre salvação; pregam para agradar e não para conduzir ao arrependimento. Desta forma, multidões estão entrando para a igreja sem conversão. A Palavra de Deus tem sido deixada de lado para atrair as pessoas, e isso é muito danoso.

3. A ação do Espírito Santo no arrependimento. O Espírito Santo opera o arrependimento na conversão do ser humano. Está escrito que é o Espírito Santo quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8). É preciso, no entanto, entender que o Espírito Santo não força a vontade de ninguém. Ele só age quando alguém lhe dá oportunidade para isso. Quando o homem reconhece ser um pecador, já é uma abertura para o Espírito Santo iniciar o seu trabalho. Então, ele começa convencendo o homem do seu estado pecaminoso que desagrada a Deus e que, em tal situação, está sujeito a castigos eternos. Porém, com o arrependimento virá o perdão e consequentemente a purificação dos pecados, a justificação e, em seguida, o cumprimento das promessas divinas (cf. Rm.5:9).

As necessidades espirituais do ser humano são inúmeras. O homem vive em um mundo de pecado, contaminado com vícios, erros de todas as espécies, mentiras, prostituição, imoralidade. Rodeado por tantos males, não tem condições de livrar-se destas coisas. Ele é um escravo do pecado (Sl.109:26). Por esse motivo, precisa de um poder sobrenatural que o ajude a libertar-se de tal situação que se torna um jugo muito pesado, cada vez pior. E o Espírito Santo está pronto para atuar em favor dessa pessoa (Rm.8:26). Contudo, é preciso que ela compreenda e aceite a ajuda oferecida e também se esforce para que a recuperação seja completa.

II. A FÉ COMO UM DOM DE DEUS E COMO RESPOSTA DO SER HUMANO

“Fé” é uma das menores palavras da Bíblia Sagrada em língua portuguesa, mas seu tamanho é inversamente proporcional ao seu profundo significado. A fé é uma doutrina chave no cristianismo. O pecador é salvo pela fé (Ef.2:8,9), o justo vive pela fé (Rm.1:17). Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6). Tudo o que é feito sem fé é pecado (Rm.14:23). Em Hebreus 11 encontramos a galeria da fé, em que homens e mulheres creram em Deus, viveram e morreram pela fé. Fé é a confiança de que a Palavra de Deus é verdadeira, não importam as circunstâncias.

A palavra “fé” traduz conceitos fundamentais, essenciais na revelação de Deus ao homem através da sua Palavra, e não é de admirar, portanto, que a palavra tenha servido para expressar diferentes conceitos. É essencial que saibamos distinguir os diversos significados que a palavra “fé” traduz. Vejamos alguns.

1. A Fé natural. A Fé Natural é a chamada fé esperança, fé intelectual. Esta fé nasce com o homem, faz parte da natureza humana. Esta é a fé que dá ao homem motivação para lutar, para progredir, para superar dificuldades. Quando o homem perde a fé natural, ele cai no desânimo, perde a vontade de viver, de lutar. Aconteceu com a maioria dos chamados “moradores de rua”. É ela que faz com que o homem seja um ser religioso, faz com que ele creia sempre em algo, ou alguém superior a ele. Ouvindo falar de um Deus Criador, ele, com facilidade, crê na sua existência – “Tu crês que há um só Deus? Fazes bem...”(Tg.2:19), ou seja, nisto não há nada de excepcional; e Tiago acrescenta: “... também os demônios o creem e estremecem”; isto significa que ter uma fé apenas teórica não representa muita coisa.

A Fé natural não leva o homem a Deus e nem trás Deus ao homem. A Fé Natural não pode se transformar em Fé Espiritual, ela só atua na esfera material. Ela não pode ajudar o homem a compreender e a adquirir os bens espirituais. Ela não pode ser definida como “firme fundamento das coisas que se esperam”, porque está sujeita à falhas.

Dentre os exemplos de Fé natural podemos citar a do agricultor, ou lavrador. Se o agricultor não tiver Fé natural, ele não semeia, conforme afirmou Salomão: “Quem observa o vento, nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará”(Ec.12:4). Isto significa que ele não pode ficar na dependência do tempo, se vai chover, se vai fazer sol. O tempo passa. Ele tem que acreditar, ter fé, lançar a semente, crer que haverá uma colheita abundante e esperar. Mas, nada pode lhe garantir que haverá colheita. A Fé natural não se apoia num firme fundamento, e, pode falhar. Uma praga, a falta ou excesso de chuva pode prejudicar, e até destruir toda colheita. Isto diferencia muita da Fé espiritual, que é “o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem”(Hb.11:1). A Fé espiritual só pode ser recebida como dom de Deus, através de sua Palavra. Isto acontece no momento da Conversão, ou do Novo Nascimento. Somente o homem nascido de novo possui a Fé espiritual.

2. A Fé salvífica. É a crença de que Jesus é o único e suficiente Senhor e Salvador de nossas vidas. Quando alguém dá crédito à pregação do Evangelho, considera-se um pecador, se arrepende dos pecados, crê que Jesus pode perdoá-lo e se submete à vontade de Deus, crendo que Jesus pode dar-lhe a vida eterna e levá-lo ao céu, age com a “Fé salvadora” ou “Fé salvífica”. Esta Fé não nasce no homem, mas é dom de Deus (Ef.2:8), e se origina do ouvir a Palavra de Deus (Rm.10:17). Através da Palavra de Deus(Rm.10:17), o Espírito Santo convence o homem do pecado, da morte e do juízo (João 16:8-11) e, deste modo, o homem crê e, mediante esta Fé, é justificado (Rm.5:1), ou seja, posto numa posição de justo diante de Deus, o que lhe permite ter paz, isto é, comunhão com Deus, sendo vivificado em Cristo. Esta Fé é a que concede salvação para o homem. Embora um dom de Deus, a Fé precisa ser exercida pelo crente para confirmar a sua salvação.

3. A Fé Ativa. É a confiança absoluta em alguém ou em algo. É precisamente este o significado em que se deve entender fé enquanto “Fé ativa”. Esta Fé é exercida diariamente pelo salvo, após ter aceitado Jesus como seu Senhor e Salvador. Trata-se da atitude de confiança em Deus, de crédito à sua Palavra, às suas promessas. Somente podemos dizer que temos fé se dermos crédito à Palavra de Deus, e dar crédito à Palavra de Deus é fazer o que Ele manda ali. Esta Fé é o combustível que nos leva a caminhar em direção a Jerusalém celestial. É o elemento que nos faz superar todos os obstáculos e a enxergar as circunstâncias sob o prisma espiritual. Foi esta Fé que fez com que os antigos vencessem todas as dificuldades, como nos mostra o escritor aos Hebreus no “capítulo da fé” (o capítulo 11 da epístola aos Hebreus). É esta Fé que nos faz vencer o mundo (1João 5:4).

4. A Fé morta (Tg.2:14-17). Quais são as características de uma fé morta? O Rev. Hernandes Dias Lopes, em seu livro “Tiago – transformando provas em triunfo”, classifica as características de uma fé morta da seguinte maneira:

a) Uma fé que não desemboca em vida santa. A fé morta está divorciada da prática da piedade. Há um hiato, um abismo entre o que a pessoa professa e o que a pessoa vive. Ela crê na verdade, mas não é transformada por essa verdade. A verdade chegou à sua mente, mas não desceu ao seu coração. É um erro pensar que apenas recitar ou defender um credo ortodoxo faz de uma pessoa um cristão. Assentimento intelectual, apenas, não é fé salvadora. A fé que não produz vida, que não gera transformação, é uma fé espúria (cf. Mt.7:21). Certo pastor, ao ser confrontado em razão de seu adultério, respondeu: "E daí se eu estou cometendo adultério? Eu prego melhores sermões do que antes". Esse homem estava dizendo que enquanto ele acreditasse e pregasse doutrinas ortodoxas, não importava a vida que ele levava. Isto é fé morta, e Tiago ataca esse tipo de fé. As igrejas estão cheias de pessoas que dizem que creem, mas não vivem o que creem. Isso é fé morta.

b) Uma fé meramente intelectual. A pessoa consente com certas verdades, mas não é transformada por elas. Em Tiago 2:14, Tiago pergunta: "Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?". Quando Tiago usa a palavra semelhante, ele está falando de um certo tipo de fé, ou seja, a fé apenas verbal em oposição à fé verdadeira. Ainda neste texto, ele pergunta: "Que proveito há, meus irmãos, se alguém disser que tem fé e não tiver obras?". A fé aqui descrita existe apenas na base da pretensão. A pessoa diz que tem fé, mas na verdade não tem. As pessoas com uma fé morta substituem obras por palavras. Elas conhecem as doutrinas, mas elas não praticam a doutrina. Elas têm discurso, mas não têm vida. A fé está apenas na mente, mas não na ponta dos dedos.

c) Uma fé que não produz frutos dignos de arrependimento. Essa fé é ineficiente, inoperante e não produz nenhum resultado. Ela tem sentimento, mas não ação. Tiago dá dois exemplos para ilustrar a fé morta (Tg.2:15,16). Um crente vem para a igreja usando roupas emprestadas e sem comida. Uma pessoa com uma fé morta vê essa situação e não faz nada para resolver o problema do irmão necessitado. Tudo o que ele faz é falar algumas palavras piedosas (Tg.2:16). Deixar de ajudar o necessitado é fechar o coração ao amor de Deus (1João 3:17,18). O sacerdote e o levita podiam pregar sobre sua fé, mas não demonstraram a sua fé (cf. Lc.10:31,32). Essa fé intelectual, inútil, incompleta e morta não salva ninguém. Ortodoxia sem piedade produz morte. Não podemos ser cristãos e, ao mesmo tempo, ignorar as necessidades dos outros. Não podemos ser indiferentes às necessidades do próximo e ainda professar que somos cristãos.

5. Os benefícios da fé. Muitos são os benefícios da fé, mas o principal benefício registrado nas Escrituras Sagradas é a Salvação, a vida eterna com Cristo. Crer no Filho de Deus leva à vida eterna (João 3:16). As pessoas não são salvas pelas obras; também não são salvas pela fé adicionada às obras; somos salvos somente por meio da fé (Ef.2:8). No momento em se inclui obras de qualquer qualidade ou quantia como meio de alcançar a vida eterna, a salvação deixa de ser pela graça (Rm.11:6). A salvação é pela graça, mas a fé é o elemento indispensável para obtê-la.

Uma razão pela qual as obras são absolutamente excluídas é evitar que alguém se glorie. Se alguém pudesse ser salvo por suas obras, então teria razão de se gloriar perante Deus. Em contraste com as obras, a fé exclui a jactância (Rm.3:27), porque sendo a salvação unicamente pela fé não há nenhum lugar para méritos. Ter fé no Senhor Jesus é a coisa mais saudável, mais racional que se pode fazer. Confiar no Criador e Redentor é ser lógico e racional. Se não podemos confiar nele, em quem mais podemos confiar?

III. O ARREPENDIMENTO E A FÉ SÃO AS RESPOSTAS DO HOMEM À SALVAÇÃO

O arrependimento e a fé são os dois elementos essenciais da conversão. Embora o arrependimento por si só não possa salvar, é impossível ler o Novo Testamento sem tomar consciência da ênfase deste sobre aquele. Deus anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam (At.17:30). A mensagem inicial de João Batista (Mt.3:2), de Jesus (Mt.4:17) e dos apóstolos (At.2:38) era: “Arrependei-vos”. Todos devem arrepender-se, porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm.3:23).

1. Arrependimento - condição para a salvação. Não há salvação sem arrependimento. Ninguém entra no céu sem antes saber que é um pecador. Jesus afirmou que para fazer parte do Reino de Deus é necessário o arrependimento (Mt.4:17).

No dia de Pentecostes, tamanha foi o poder de persuasão do Espirito que, mesmo sem Pedro ter feito um convite ou apelo, seus ouvintes perguntaram: “Que faremos, irmãos?”. A pergunta foi motivada por um sentimento profundo de culpa. Perceberam que Jesus, o qual haviam crucificado, era o Filho amado de Deus. Esse Jesus havia sido ressuscitado dentre os mortos e se encontrava exaltado no céu. Como, então, seus assassinos poderiam escapar do julgamento e da condenação eterna? Pedro responde: “Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados” (At.2:37,38).

Alguns dos judeus haviam se dado conta de seu erro e, por meio do arrependimento, reconhecido seu pecado diante de Deus. Ao crer no Senhor Jesus como seu Salvador, foram regenerados e receberam o perdão dos seus pecados. Observe que Pedro se dirigiu a um grupo extremamente religioso, pois todo aquele povo tinha ido a Jerusalém para uma festa religiosa; mas, a despeito dessa religiosidade, eles precisavam arrepender-se para serem salvos.

Hoje, a pregação do arrependimento está desaparecendo dos púlpitos. Precisamos arrepender-nos da nossa falta de arrependimento. O brado de Deus que emana das Escrituras ainda é: “Arrependei-vos!”. Esta foi a mensagem mais forte de João batista, de Jesus e dos apóstolos. Zaqueu, o publicano, teve um arrependimento tão genuíno que prometeu dar aos pobres metade de seus bens e devolver quatro vezes mais caso houvesse roubado alguém (Lc.19.8). Diante desta fé e arrependimento, ele pôde ouvir do Senhor: "Hoje, veio salvação a esta casa" (Lc.19:9).

Vemos hoje uma mudança desastrosa na pregação. Tem-se pregado muito sobre libertação e quase nada sobre arrependimento. Os pregadores berram dos púlpitos/palanques, dizendo que as pessoas estão com encosto, mau-olhado e espírito maligno. Dizem que elas precisam ser libertadas. Mas essa pregação é incompleta, pois, ainda que as pessoas estejam realmente possessas e sejam libertadas dessa possessão, o seu problema não está de todo resolvido, pois a Bíblia diz que todos pecaram e carecem da glória de Deus. O ser humano é culpado diante de Deus e, por isso, precisa arrepender-se. Precisa colocar a boca no pó e depor as suas armas. Sem arrependimento, o mais virtuoso ser humano não pode ser salvo. O pecado não é tanto uma questão do que fazemos, mas de quem somos. O homem não é pecador porque peca; ele peca porque é pecador. Nossa natureza é pecaminosa.

2.  Salvação por meio da Fé - “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé...” (Ef.2:8). A salvação é pela graça, mas também “por meio da fé”. É a graça que nos salva pela instrumentalidade da fé. É bem conhecida a expressão usada por Calvino: “A fé traz a Deus uma pessoa vazia para que se possa encher das bênçãos de Cristo”. É muito importante ressaltar que Paulo não está falando de qualquer tipo de fé. A questão não é a fé, mas o objeto da fé. Não é fé na fé. Não é fé nos ídolos. Não é fé nos ancestrais. Não é fé na confissão positiva. Não é fé nos méritos. É fé em Cristo, o Salvador.

3. Arrependimento e conversão. A conversão é obra do Espírito Santo na vida do homem. É o Espírito Santo quem convence o pecador do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8), não sendo uma tarefa que se faça por força ou violência (Zc.4:6). O violento e zeloso Paulo, que, por meio de ameaças e mortes, procurava levar os cristãos judeus de volta ao judaísmo, descobriu que a transformação do homem se dá pelo Espírito Santo. Paulo é um exemplo impressionante da graça de Deus, que causou efeitos tão grandiosos, agarrando um rebelde obstinado como ele e transformando-o completamente de “lobo em cordeiro”.

A graça divina faz com que os seres humanos sejam verdadeiramente humanos. É o pecado que encarcera; a graça liberta. A graça de Deus nos liberta da escravidão do nosso orgulho, preconceito e egocentrismo, fazendo-nos capaz de nos arrepender e mudar a direção da nossa vida, ou seja, cessar antigas tradições e modos de vida abomináveis e pecaminosos, assumindo a virtude e a ética do Reino de Deus ensinadas por Cristo Jesus; ou seja, uma pessoa arrependida e convertida é uma nova criatura (2Co.5:17). Desta feita, não podemos fazer outra coisa, senão engrandecer a graça de Deus que teve misericórdia de criaturas tão orgulhosas, rebeldes e obstinadas como nós.

CONCLUSÃO

A queda do ser humano foi uma grande tragédia para toda a humanidade, e a única maneira de sermos salvos dessa tragédia é entregando-se a Cristo como único Senhor e Salvador de nossa vida e aceitando a sua obra salvífica no Calvário. Não há verdadeira conversão se não houver a fé autêntica na pessoa bendita de Jesus Cristo. Ao crente que experimentou essa conversão cabe esforçar-se para manter-se afastado de tudo aquilo que vem inibir a sua comunhão com Deus, e ser motivo de sua perdição.

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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 72. CPAD.
Wayne Grudem. Teologia Sistemática Atual e exaustiva.
Claiton Ivan Pommerening. Obra da Salvação. CPAD.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. As Doutrinas da Graça de Deus. Portal EBD.2006.
Comentário Bíblico Pentecostal. Novo Testamento. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Tiago, transformando provas em triunfo. Hagnos.