quarta-feira, 29 de março de 2017

Aula 01 – A FORMAÇÃO DO CARÁTER CRISTÃO


2º Trimestre/2017
 
Texto Base: Efésios 4:17-24
 
"Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim" (Gl.15:20).

INTRODUÇÃO
Pela graça de Deus iniciamos mais um trimestre letivo. Estudaremos a respeito do Caráter. Será mais um estudo temático, quase que uma aplicação prática daquilo que estudamos no trimestre passado, quando falamos a respeito das obras da carne e do fruto do Espírito. Estudaremos 12 personagens bíblicos, para com os seus exemplos obtermos uma melhoria de nossa vida cristã. São eles: Abel; Melquisedeque; Isaque; Jacó; Jônatas; Rute; Abigail; Hulda; Maria, irmão de Lázaro; Maria, mãe de Jesus; José, pai social de Jesus e, por fim, o maior exemplo, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. O propósito é analisarmos o caráter desses personagens para que compreendamos como devem agir e viver aqueles que servem ao Senhor Jesus, que querem ser arrebatados e viver eternamente com o Senhor na Sua glória. Que ao estudarmos estas vidas possamos todos continuar a crescer espiritualmente e nos conformarmos à imagem do Senhor Jesus.
Chamo a atenção para a mensagem da capa da revista. Ela apresenta uma vasilha, que derrama o ouro em altíssima temperatura para uma fornalha, a nos lembrar o que Pedro registra em 1Pd.1:7, quando fala da “prova da vossa fé”, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo”. Nossa fé é provada para que, devidamente purificada, possa se tornar em “louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo”. A exemplo do ouro, que se torna mais puro quando submetido a altas temperaturas, quando colocado no fogo, os salvos em Jesus Cristo são submetidos a provações para que se tornem cada vez mais santos, cada vez mais puros. Somente aqueles que são provados e aprovados estarão naquela multidão descrita em Apocalipse 5, aquele belíssimo culto do qual participarão tão somente aqueles que perseverarem até o fim, aqueles que atingirão a glorificação no dia do arrebatamento da Igreja.
Antes de estudarmos os referidos personagens bíblicos, analisaremos, nesta primeira lição, a formação do caráter cristão, ou seja, precisamos, antes, saber o que é o caráter e como ele é transformado quando da nossa salvação. Que mediante o estudo de cada lição, possamos evidenciar os valores do Reino de Jesus Cristo em meio a uma geração que tem rejeitado os princípios da Palavra de Deus.
I. O CARÁTER NA REALIDADE DO HOMEM
Segundo o Pr. Elinaldo Renovato, comentarista das Lições deste trimestre, “todo ser humano tem seu caráter, seja ele bom ou mau, exemplar, ilibado ou indigno, pervertido, ímpio ou santo”. O homem salvo por Jesus é uma nova criatura e, por isso, seu caráter é completamente transformado pelo Espírito Santo, restaurando a imagem e semelhança de Deus distorcida com o pecado.
1. O que é Caráter? Segundo o Dicionário Aurélio “é o conjunto das qualidades, boas ou más, de um indivíduo, e que lhe determinam a conduta e a concepção moral”. Esta definição está em perfeita consonância com a definição que a Bíblia dá, em Filipenses 4:8 – “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”. Observe a lista apresentada por Paulo: “verdadeiro, honesto, justo, puro, amável e de boa fama”. Basta que alguém viole uma destas características, para que seja chamado de mau-caráter. Como pode uma pessoa apresentar-se como filha de Deus se ela é mentirosa ou de má fama? Portanto, Caráter é a maneira de cada pessoa agir e expressar-se; tem a ver com os princípios, valores e ética de cada um. O caráter do cristão é quem ele é, de fato, não apenas quando está diante do pastor, ou do seu líder, ou mesmo com um grupo de amigos, mas quando está sozinho, e ninguém está observando-o; é a expressão mais exata da sua pessoa, sem máscaras, sem fingimentos ou aparências - o seu verdadeiro ser interior.
2. Personalidade e caráter. Personalidade é o conjunto dos caracteres exclusivos de uma pessoa. Sabemos que cada ser humano é diferente do outro, que não existe um indivíduo idêntico a outro, porque Deus não produz homens em série, como costumamos ver nas indústrias, mas, sim, dentro de Seu supremo poder, cria cada homem individualmente, como vemos, aliás, no relato da criação do primeiro casal humano, cada um feito separadamente e com cuidado especial de Deus (Gn.2:7; 2:21,22). Por isso, cada homem deve responder individualmente perante o Senhor (Ez.18:30; Rm.14:12; Ap.20:13). Porém, como ensinam os psicólogos, esta individualidade do homem, conhecida como personalidade, deve ser dividida, basicamente, em dois elementos básicos: o temperamento e o caráter.
- Temperamento. É o conjunto de características negativas e positivas com as quais nascemos e que influenciam o nosso procedimento. É totalmente involuntário e imprevisível. Nenhum pai pode saber ou determinar com qual temperamento seu filho nascerá. O temperamento precisa ser lapidado, aperfeiçoado, por meio da disciplina e educação na infância, por meio da prática e doutrinação religiosa, visando gerar no indivíduo um bom caráter.
O temperamento é inato, ou seja, não se altera nem mesmo com a conversão. A salvação, portanto, não altera a individualidade do salvo, e não muda o seu temperamento, que é a parte da personalidade que está ligada à criação; porém, como se trata de uma mudança radical, pois, como ensina o Senhor Jesus, quem é salvo passa da morte para a vida (João 5:24), temos uma transformação completa não no temperamento, mas no caráter.
- Caráter. O caráter é distinto do temperamento, mas relacionado ao desenvolvimento da personalidade. O caráter é a marca pessoal de uma pessoa, é o sinal que a distingue dos outros e pelo qual o indivíduo define o seu estilo, a sua maneira de ser, de sentir e de reagir. Para os psicólogos, o caráter é aquilo que é adquirido ao longo da vida, aquilo que é apreendido pelo homem no seu convívio com o ambiente onde vive, ou seja, aquilo que incorpora, conscientemente ou não, ao longo da sua história.
Segundo alguns estudiosos, “conquanto intrinsecamente relacionado ao desenvolvimento da personalidade, o caráter forma-se em paralelo a ela. Assim, com o desenvolvimento físico de uma criança nos primeiros anos é paralelo ao desenvolvimento mental, o caráter é formado à medida que a personalidade vai sendo construída. Portanto, o caráter é a forma mais externa e visível da personalidade”.
O caráter depende muito das condições em que a pessoa é criada, conduzida ou educada. Diz respeito à conduta do indivíduo, resultante da formação familiar, cívica ou espiritual. Por isso, a Palavra de Deus adverte: "instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se esquecerá dele" (Pv.22:6).
Há pessoas que cursam todos os níveis de ensino formal, porém seu caráter é pervertido. Há, também, pessoas sem instrução nenhuma, cujo caráter é elevado, digno de ser imitado. Desse modo, o caráter não depende do grau de instrução, mas, sim, dos princípios e valores que são incutidos na mente de cada pessoa. Enquanto os referenciais do mundo são movediços, instáveis e mutantes, ao sabor do tempo e do lugar, o guia infalível do crente em Jesus é a Palavra de Deus, que é lâmpada para os pés e luz para o caminho (Sl.119:105).
As pessoas quando aceitam a Cristo não deixam de ser indivíduos, não perdem a sua individualidade. Cada pessoa continua a ser diferente uma da outra, porque a individualidade não pode ser destruída nem aniquilada, de tal sorte que o apóstolo Paulo, após enfatizar a unidade de caráter entre os crentes, faz questão de dizer que “…a graça de Deus é dada a cada um de nós, segundo a medida do dom de Cristo…” (Ef.4:7) e, em outra passagem, “…o corpo é um e tem muitos membros e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo […]o corpo não é um só membro, mas muitos…” (Rm.12:12,14). O caráter muda, mas não o temperamento, que passa a ser controlado pelo Espírito Santo.
II. A DEFORMAÇÃO DO CARÁTER HUMANO
A queda trouxe consequências terríveis ao ser humano, e uma dessas consequências foi a deformação do seu caráter. Por isso, todo ser humano necessita de uma transformação espiritual e moral. Somente o Deus de toda a perfeição, mediante o Seu Filho Jesus Cristo, pode transformar o caráter do ser humano, que se dá quando a pessoa nasce de novo (João 3:5).
1. A Queda e o caráter humano. A queda de Adão é apresentada, literalmente, na Bíblia, de modo explícito; não é um relato teórico ou figurativo, mas um relato histórico. O seu pecado foi uma transgressão deliberada ao limite que Deus lhe havia colocado. O homem deliberadamente pecou contra o seu Criador, e ao pecar, tornou-se escravo do pecado (João 8:34), dominado totalmente por ele (Gn.4:7), sem condição alguma de modificar esta situação. Ora, a Bíblia mostra-nos, claramente, que o homem, ao fazer opção entre servir a Deus ou não, acabou optando por conhecer o mal, o que lhe foi altamente desfavorável, pois, em assim fazendo, morreu espiritualmente, pois pecou e isto fez divisão entre ele e Deus. Em virtude deste pecado, o homem se sujeitou ao domínio do pecado (Gn.4:7; João 8:34), de tal maneira que, adquirindo a consciência, o homem, que se encontra dominado pelo pecado, cuja natureza é pecaminosa (que é a “carne” mencionada em varas passagens bíblicas, notadamente em Romanos), acaba pecando e construindo um caráter contrário à vontade de Deus.
2. Imagem e semelhança de Deus – “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança...” (G.1:26); “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou” (Gn.1:27).
Quando observamos o relato bíblico da criação, de imediato se percebe que o homem foi criado de forma distinta dos demais seres criados na Terra. Enquanto que os demais seres foram criados tão somente pela palavra do Senhor, o homem foi objeto de cuidado especial, tendo Deus deixado bem claro que o ser humano seria um ser diferente, pois seria feito à imagem e semelhança de Deus e que, além disso, seria constituído como superior em relação aos demais. Adão e Eva possuíam atributos morais tais como amor, justiça, santidade, retidão...; tudo à semelhança de Deus. A expressão divina de Gn.1:27 encerra, portanto, todos estes elementos, seja o de uma estrutura diversa e distinta dos demais seres, seja a condição de superior aos demais.
É por este motivo que não se pode considerar que a estrutura do homem seja idêntica a dos demais seres criados na Terra, como querem pretender as teorias evolucionistas que dominaram as ciências biológicas a partir do século XIX, pois há uma distinção fundamental entre o ser humano e os demais seres. Todos os seres criados na Terra, com exceção do ser humano são guiados pelo instinto e, se são dotados de alguma inteligência, esta se dá e se revela apenas por força do adestramento, da repetição, sem qualquer consciência, como ocorre com os primatas ou com outros seres, ao passo que o ser humano é totalmente diferente, tendo a capacidade de inferir, de criação, de novos conhecimentos além dos que foram aprendidos e absorvidos pela repetição e observação. Desta feita é um erro evidente querer-se confundir a alma dos animais com a alma humana, quando se aplica um texto bíblico como o de Gn.9:4 ao ser humano.
A imagem de Deus no homem revela os aspectos que o determinam como ser humano:
- Personalidade. A humanidade é o símbolo vivo de Deus na terra e foi criada para representar o Seu reino e do­mínio (Gn.1:26-28). Nenhuma criatura, além do homem, assemelha-se aos padrões de comportamento e sentimento humanos, os quais derivam do Criador. Assim como Deus é um ser pessoal (Êx.3:14; João 8:58), o homem é dotado de personalidade; por isso o homem pensa, sente e toma decisões.
- Espiritualidade. Deus é espírito e concedeu ao homem espiritualidade (João 4:24). Por tal razão, o espírito humano tem anseios por seu Criador (Sl.130:6), sem o qual se sente incompleto e angustiado (Sl.9:9).
- Moralidade. O homem é um ser moral, com plena capa­cidade de distinguir entre o certo e o errado (Gn.3:22a; Am.5:14). Tal capacidade abrange o livre-arbítrio e as responsabilidades decorrentes das suas escolhas (Js.24:15; Sl.18:20). As escolhas morais possibilitam o aperfeiçoamento constante e a aproximação de Deus (Mt.5:48).
- Racionalidade. Deus, ser supremo em conhecimento e sabedoria, transmitiu ao homem Sua própria inteligência (Ec.1:16; Jó 38:36). Somente o homem foi criado como um ser racional, que elabora teorias, desenvolve técnicas e usa o seu raciocínio para planejar, criar, inventar, fazer história e promover mudanças.
3. A deformação do caráter humano. Ao criar o homem à sua “imagem” e conforme a sua “semelhança”, Deus imprimiu nele marcas de sua personalidade e do seu caráter divinos. Foi criado como ser pessoal, tendo espírito, mente, emoções, autoconsciência e livre-arbítrio (Gn.2:19,20; 3:6,7). Vivia em comunhão pessoal com Deus, que abrangia obediência moral (Gn.2:16,17) e plena comunhão. Porém, quando o homem deu lugar ao Diabo, e desobedeceu a Deus, caiu da graça divina e o seu caráter foi deformado. A Queda levou-nos a perder a semelhança moral com o Criador.
Observe algumas consequências do pecado:
a) O pecado afetou o relacionamento com Deus. O pecado despojou a alma da pureza e do gozo da comunhão com Deus. Afirma o apóstolo Paulo: "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm.3:23); "O salário do pecado é a morte" (Rm.6:23). Deus mantinha um relacionamento de franca comunhão, amor, confiança e segurança com o homem (Gn.3:8). Assim, o homem podia cumprir seu mais elevado fim. Possivelmente, Deus tomava a forma de um anjo para andar no jardim com o primeiro casal. A essência da vida eterna consiste em conhecer pessoalmente a Deus (João 17:3), e o privilégio mais glorioso desse conhecimento é desfrutar da comunhão com Ele. Todavia, o pecado afetou drasticamente este perfeito relacionamento; ele foi trocado por isolamento, autodefesa, culpa e banimento.
b) O Pecado afetou a vida física e psíquica do homem. Paulo escreveu aos Romanos: "Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte" (Rm.5:12). A morte física se tornou, então, a consequência natural da desobediência de Adão, e a espiritual se constituiu na eterna separação de Deus. O Criador foi enfático, no Jardim: "Porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn.2:17).
c) Somos herdeiros da corrupção moral de Adão (Rm.5:12). Vários textos bíblicos indicam este fato, mas destacaremos apenas o que Paulo escreveu: "Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram" (Rm.5.12). Outro texto diz: "Pela ofensa de um só, a morte reinou" (Rm.5:17).
d) O pecado afetou o relacionamento humano. Adão e Eva, bem como o relacionamento entre eles, entram em degeneração. A intimidade e a inocência cederam lugar à acusação. Quando Deus perguntou a Adão se ele havia comido do fruto da árvore proibida, este não assumiu a culpa, mas procurou justificar seu erro, acusando a esposa. Quando Deus questionou Eva a respeito dos seus atos, ela transferiu a culpa para a serpente (Gn.3:9-13). O relacionamento de Adão e Eva foi afetado pelo pecado. A partir daí nunca mais deixou de haver conflito entre os seres humanos; logo após a saída do Éden, a família entrou em crise, houve um confronto entre o caráter mau de Caim e o caráter justo de Abel: Caim matou seu irmão, Abel (Gn.4:8). A morte e a corrupção se espalharam com o passar dos séculos. O juízo de Deus foi enviado no seu tempo, através do Dilúvio (Gn.6-8).
III. A REDENÇÃO DO CARÁTER HUMANO
A história da queda do homem não terminou com esta tragédia. Bem ao contrário, a Bíblia Sagrada nos ensina que, antes da fundação do mundo, dentro de sua presciência, Deus já havia elaborado um plano para retirar o homem desta situação tão delicada (Ef.1:4; Ap.13:8). Este plano foi revelado ao homem no dia mesmo de sua queda, quando o Senhor anunciou que haveria de surgir alguém da semente da mulher que feriria a cabeça da serpente e tornaria a criar inimizade entre o homem e o mal e, consequentemente, comunhão entre Deus e o homem (Gn.3:15) – “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Este versículo é conhecido como protoevangelho, isto é, “o primeiro evangelho”. É a mais gloriosa promessa de redenção, de soerguimento do homem da condenação. Ao invés de lançar apenas juízos inclementes e condenatórios sobre o casal, Deus, o justo Juiz, abriu um espaço para a redenção. Ele anuncia a inimizade perpétua entre Satanás e a mulher (que representa toda a humanidade), e entre a descendência de Satanás (seus representantes) e o seu descendente (o descendente da mulher, o Messias). O descendente da mulher feriria a cabeça de Satanás. Essa ferida foi infligida no Calvário, quando o Salvador triunfou sobre Satanás. Este, por sua vez, feriria o calcanhar do Messias. Essa ferida se refere ao sofrimento (incluindo morte física), mas não à derrota final. Cristo sofreu na cruz e morreu, mas ressuscitou dentre os mortos, vitorioso sobre o pecado, o inferno e Satanás.
O Plano divino para a salvação da humanidade foi plenamente cumprido no sacrifício inocente, amoroso e vicário de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. João 1:29; Cl.1:19-22; Gl.4:4,5). Só Jesus é quem pode dar a Salvação, pois “em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”(Atos 4:12). Portanto, a redenção é um dom divino. Ela é fruto da graça divina. Pela fé em Jesus o homem recebe a salvação e se torna uma nova criatura, completamente transformada: "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo" (2Co.5:17). O caráter daqueles que, pela fé, nasceram de novo, é poderosamente transformado pelo poder do Espírito Santo.
1. Na Cruz do Calvário, Deus fez cair sobre Jesus a iniquidade de nós todos. A Justiça de Deus exigia o castigo do pecado com a morte do pecador. Porém, Deus havia preparado um substituto, o qual levaria sobre si “a iniquidade de nós todos”, sofrendo o castigo em nosso lugar, conforme o profeta Isaias havia antecipado, dizendo: “Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos trás a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados”(Is.53:4,5). Na Cruz do Calvário, quando ele declarou “está consumado”(João 19:30), o preço da redenção estava pago, a Justiça de Deus estava satisfeita. A punição exigida pela Justiça de Deus estava concretizada sobre Jesus. Agora, nEle, o homem podia ser justificado.
2. Na Cruz do Calvário, Jesus pagou a dívida do homem - “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”(Cl.2:14). Porém, não basta saber que Ele pagou nossa divida para com o Justiça de Deus, mas, é necessário tomar posse do “recibo de quitação” da dívida. É a posse desse “recibo” que nos confere o direito de sermos justificados diante de Deus.
A quem foi pago esse resgate? Certamente não foi a Satanás, como pensam alguns teólogos. Não devemos nada a Satanás. O resgate (o preço ou a dívida) foi apresentado única e exclusivamente ao Deus justo, pois é a Ele que havemos ofendido com nossos pecados e delitos. Mas como não podíamos pagar semelhante resgate, Jesus apresentou-se para quitá-lo em nosso lugar. Ele pagou o preço que o caráter de Deus requeria. Podemos afirmar com segurança que Ele cancelou a nossa dívida. Glória a Deus, a nossa dívida foi paga com expressivo preço! A dívida foi paga à Pessoa certa. Que adiantaria a dívida ser paga a quem não devemos nada? Quando da criação do homem, Satanás já era um inimigo vencido, colocado debaixo dos pés do Senhor nosso Deus. O vencido nada pode exigir do vencedor. Apenas obedecer. Satanás não pode exigir nada de Deus.
3. Para o homem justificado não há mais culpa, não há mais condenação. A Redenção foi consumada - “... nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus...” (Rm.8:1).
Antes da Justificação, o homem era culpado; agora, não há mais nenhuma culpa - “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm.8:33).
Antes, o homem estava condenado; agora, “quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós”(Rm.8:34).
Antes, o homem estava morto espiritualmente, o homem estava separado de Deus; agora, “quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angustia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? (Rm.8:35).
Portanto, para o homem Justificado não há mais culpa, não há mais condenação, não há e nem haverá mais separação. Isento da culpa do pecado, o homem readquiriu a vida eterna, conforme afirmou Jesus: “E dou-lhes a Vida Eterna, e nunca hão de perecer...”(João 10:28). Glórias a Deus!!
CONCLUSÃO
Devemos analisar as pessoas pelos frutos que produzem, ou seja, devemos verificar quais são as suas atitudes, qual é o seu caráter, não simplesmente o que está aparecendo em torno delas. Não nos preocupemos com os sinais, prodígios e maravilhas que alguém venha a fazer, mas, sim, com a presença do caráter cristão na sua vida. O caráter cristão permite-nos vislumbrar quem tem, ou não, comunhão com o Senhor, e isto é que é importante, pois a comunhão com Deus representa a libertação do pecado e a consequente aceitação por Deus. O caráter do cristão é preservado mediante a comunhão com o Espírito Santo, pelo conhecimento da Palavra de Deus e através de uma vida cristã disciplinada.
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Revista Ensinador Cristão – nº 70. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal. Novo Testamento. CPAD.

Ev. Caramuru Afonso Francisco. A natureza do Caráter Cristão.PortalEBD_2007.

domingo, 26 de março de 2017

LIÇÕES BÍBLICAS DO 2° TRIMESTRE DE 2017


 
 
 
 
 



No 2º Trimestre letivo de 2017, estudaremos, através das Lições Bíblicas da CPAD, sobre o tema: “O Caráter do Cristão – Moldado pela Palavra de Deus e provado como ouro”. As lições serão comentadas pelo Pr. Elinaldo Renovato, e estão distribuídas sob os seguintes temas:

Lição 1 - A Formação do Caráter Cristão.

Lição 2 - Abel, exemplo de Caráter que agrada a Deus.

Lição 3 - Melquisedeque, o rei de justiça.

Lição 4 - Isaque, um Caráter pacífico.

Lição 5 - Jacó, um exemplo de um Caráter restaurado.

Lição 6 - Jônatas, um exemplo de lealdade.

Lição 7 - Rute, uma mulher digna de confiança.

Lição 8 - Abigail, um Caráter conciliador.

Lição 9 - Hulda, a mulher que estava no lugar certo.

Lição 10 - Maria, a irmã de Lázaro, uma devoção amorosa.

Lição 11 - Maria, mãe de Jesus – uma serva humilde.

Lição 12 - José, o pai terreno de Jesus – um homem de Caráter.

Lição 13 - Jesus Cristo, o Modelo Supremo de Caráter.

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O que é Caráter?  Eu diria que é o conjunto das qualidades, boas ou más, de um indivíduo, e que lhe determinam a conduta e a concepção moral. Esta definição, que é descrita em dicionários, está em perfeita consonância com a definição que a Bíblia dá em Filipenses 4:8 – “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”. Vejamos a lista apresentada por Paulo: “verdadeiro, honesto, justo, puro, amável e de boa fama”. Basta que alguém viole uma destas características para que seja chamado de mau-caráter. Como pode uma pessoa apresentar-se como filha de Deus, se ela é mentirosa ou de má fama?

- O caráter do cristão é um processo. As Escrituras dizem que o crente é uma nova criatura, porque ganhou uma nova natureza. Esta natureza cristã é adquirida no momento em que a pessoa confessa sua fé em Jesus Cristo, no momento em que ela se converte a Cristo. Já o caráter cristão, entretanto, é um processo. Ele é desenvolvido com o tempo, e somente surge quando respondemos apropriadamente às provações e a outras oportunidades que Deus permite acontecerem em nossa vida. Devido ao nosso livre arbítrio na escolha de como responderemos a cada situação, não há garantia de optarmos pela resposta adequada, a qual construirá em nós o caráter cristão. Algumas vezes, selecionamos exatamente o oposto; respondemos a um acontecimento de tal maneira que, ao invés de nos tornarmos mais parecidos com Jesus, distanciamo-nos ainda mais do seu padrão. Às vezes dizemos estar apaixonado por Jesus, mas nosso caráter reflete insubmissão, arrogância, mau caráter e na verdade não existe nada em nós que se parece com aliança, com convivência de intimidade e relacionamento. Se não tivermos um caráter cristão vamos continuar brincando de carrossel com o diabo, rodeando os mesmos problemas e com os mesmos pecados.

- O caráter não é genético, herança familiar, é uma questão de formação. Existem pais pobres e os filhos batalham e ficam ricos. Existem pais mal-educados e filhos atenciosos com outro caráter. Caráter é questão de escolha, você escolhe como quer se portar. Deus nos chama a ter um caráter como o dele, o caráter dele em nós. O caráter do cristão é quem ele é, de fato, não apenas quando está diante do pastor, ou do seu líder, ou mesmo com um grupo de amigos, mas quando está sozinho, e ninguém está observando-o. É a expressão mais exata da sua pessoa, sem máscaras, sem fingimentos ou aparências, o seu verdadeiro ser interior.

Muitas vezes, estamos preocupados em representar um papel, ou transmitir uma imagem, para impressionar as pessoas que estão ao nosso redor, para parecer que somos inteligentes, amáveis ou respeitados. Muitos cristãos querem que as pessoas pensem coisas boas a seu respeito e demonstram ser santos, por fora, mas a alma está cheia de engano, mentira e pecado. Foi o que Jesus afirmou sobre os líderes religiosos de sua época: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia” (Mt.23:37). Como afirmou um grande homem de Deus: “Preocupe-se mais com seu caráter do que com sua reputação. Caráter é aquilo que você é, reputação é apenas o que os outros pensam que você é“ (John Wooden).

Alguém já disse, em se tratando de alguém que está mudando de cidade, reputação é o que diziam quando ele chegou; caráter é o que estão dizendo, agora que ele se vai; ou seja, antes desta pessoa chegar, ninguém lhe conhecia de perto, mas apenas a sua “fama” o precedia. Agora que alguns tiveram a oportunidade de conviver com ele, sabem, de fato, quem ele é. Um caráter moldado pela Bíblia, portanto, é a maior necessidade de um cristão, principalmente os que lideram, na Igreja do Senhor. Como disse o general que comandou a operação “Tempestade no Deserto”: “Liderança é uma combinação de estratégia e caráter. Se você precisa ficar sem um, que seja a estratégia“(Gen. Norman Schwarzkopf). As pessoas podem até achar que você não tem grandes habilidades administrativas, técnicas, ou pedagógicas, mas elas precisam ver que você é um homem ou uma mulher temente a Deus.

- Caráter cristão: o fruto da alma. Quem é você quando ninguém está olhando? Nosso caráter está relacionado com quem somos quando ninguém está olhando. Nossa reputação, por outro lado, diz respeito à nossa conduta como é vista ou percebida por outros. Boa conduta sem caráter se torna hipocrisia; isto foi revelado à igreja em Sardo: “Ao anjo da Igreja que está em Sardo escreve: Isto diz o que tem os sete Espíritos de Deus, e as sete estrelas: Eu sei as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto!” (Ap.3:1). A mensagem de Deus para os cristãos de Sardo era que eles tinham um nome – uma boa reputação – porém, estavam mortos; eles estavam vivendo em hipocrisia. Um bom nome é importante e nós queremos tê-lo; no entanto, a base da nossa reputação deve ser a de um Caráter Cristão. Isso é o que nos ajudará a resistir a qualquer perseguição que nós tenhamos que enfrentar.

Deus está interessado em quem realmente somos. Algumas vezes nós podemos ser enganados por algumas coisas que parecem boas externamente, mas Deus nunca pode ser enganado. No Antigo Testamento, lemos que o Profeta Samuel foi instruído por Deus para ir à casa de Jessé e ungir um dos seus filhos para que fosse o rei. Quando Samuel conheceu o filho mais velho de Jessé, viu que ele era um jovem vistoso e teve certeza que ele era o ungido do Senhor. O Senhor lhe respondeu: “O homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”. Deus sabe o que está no interior do homem, e escolheu ao invés deste, o filho mais jovem, um pastor de ovelhas.

A Bíblia nos diz claramente que, como cristãos, temos que fazer certas coisas, envolve ação. No entanto, Deus está mais interessado em quem somos do que no que fazemos. Boas obras não nos salvarão. Podemos fazer todas as boas obras das quais já ouvimos, e não serão suficientes. Podemos ser bem zelosos ao contribuir para missões; podemos dar esmola a um mendigo na esquina da rua; podemos servir na cozinha ajudando a preparar comida para os outros. Mas, se ao mesmo tempo estivermos degradando as nossas esposas ou esquecendo de atender nossos filhos, alguma coisa está errada.

- Caráter é algo que vem do coração. Bom caráter produzirá bom fruto, mas apregoar boas obras quando o coração não está reto é como pendurar ornamentos em uma árvore; pode parecer ótimo, mas não é real. Nós nunca teremos Deus em nossas vidas por fazer boas obras, mas uma vez que temos Deus em nossas vidas, então haverá boas obras, bom fruto. Não importa o que dizemos, ou as boas obras que fazemos, ou o que as pessoas pensam de nós, se não temos um coração que queira fazer a coisa certa, então há algo errado. Queremos ter o fruto que vem da alma, porque isso é o que vai nos proteger em tempos perigosos. Uma máscara externa não fará nada por nós quando as provas chegarem. Muitos crentes em diversas igrejas estão envelhecendo e enfrentando dores, sofrimentos e solidão, circunstâncias que os deixariam desanimados se não tivessem algo real em seus corações. Em vez de reclamar, eles dizem: “Eu ainda temo ao Senhor!”. Algumas vezes, doenças aparecem e destroem o corpo ou a mente, mas não podem tirar do coração o que o Senhor tem feito. Isto é Caráter Cristão. Quando tudo mais se vai, nós ainda temos o que está em nossos corações.

- Quando nós temos Caráter Cristão, a evidência está em nossa conduta. Quando uma pessoa é salva existem evidências da sua salvação. Se alguém diz: “Eu sou salvo”, mas continua a mentir, roubar e viver imoralmente, é muito claro que não está salvo. Se você é salvo, sua conduta muda como evidência de que alguma coisa mudou em seu coração. Nós lemos em 2Corintios 5:17: “Se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. Se não há uma mudança de conduta, então o coração não mudou.

Deus diz: “sede santos”; Ele não disse para fazermos algo para que aparentássemos santos. Ele diz: “sede” santo. Você não pode fazer a si mesmo santo da mesma forma que não pode salvar-se a si mesmo, mas quando você recebe a santidade de Deus por dentro, sua vida e conduta serão santas e agradáveis a Deus. Pedro nos instrui no mesmo capítulo: “Acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, e à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade” (2Pd.1:5-7). Pedro não nos disse para fazer alguma coisa virtuosa ou piedosa ou boa; ele nos instrui a sermos virtuosos, piedosos e bons por dentro. Isso é caráter. Deus nos ajudará a sermos assim se orarmos e pedirmos a Ele.

Neste 2º trimestre de 2017, o tema a ser tratado é: “O Caráter do Cristão – Moldado pela Palavra de Deus e provado como ouro”. É um tema que propõe um estímulo ao crescimento espiritual de cada um, através da análise da vida de homens e mulheres de Deus. Que, ao término do trimestre, possamos todos ter a convicção de que as lições nos serviram para que tenhamos atendido ao clamor do profeta: “…melhorai os vossos caminhos e as vossas ações” (Jr.18:11).

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Ev. Luciano de Paula Lourenço

 

domingo, 19 de março de 2017

Aula 13 – UMA VIDA DE FRUTIFICAÇÃO


1º Trimestre/2017

Texto Base: João 15:1-16

“Toda vara em mim que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (João 15:2).

INTRODUÇÃO

Aqui findamos os estudos do Primeiro Trimestre letivo de 2017. Nesta última lição, estudaremos a respeito da frutificação na vida do crente. Um aspecto importante que observamos na botânica é que o fruto é o fim, o término de todo um processo fisiológico, é o resultado de todo um ciclo vital. Desde o momento que a semente germina e passa a formar um novo ser (morrendo, como nos fala Jesus), há somente um objetivo, uma finalidade: a formação do fruto. Espiritualmente falando, também vemos que o fim último da vida cristã é a produção do fruto do Espírito Santo. Todo o processo de concessão da vida espiritual tem como finalidade a formação deste fruto. Jesus foi claro ao afirmar que nos escolheu para que vamos, demos fruto e o nosso fruto permaneça (João 15:16). Quem não dá fruto do Espírito Santo não pode ser mantido no meio do povo de Deus e, por isso, é extirpado dele (João 15:2). Jesus deixou isto bem claro tanto na parábola da vinha (Lc.13:6-9), quanto no episódio da figueira infrutífera, que secou mediante a maldição do Senhor (Mt.21:18-22; Mc.11:12-14). Aliás, esta é a única oportunidade do ministério de Jesus Cristo em que O vemos lançando uma maldição, a demonstrar o quanto desagrada ao Senhor a existência de vidas infrutíferas no meio do seu povo. Para agradar a Deus em tudo é indispensável que frutifiquemos em toda a boa obra (Cl.1:10).

I. A VIDEIRA E SEUS RAMOS

Jesus é a Videira Verdadeira; os ramos são os seus discípulos (João 15:5). Ao dizer que era a Videira Verdadeira, Jesus nos indica que havia outra videira, que não seria verdadeira, que não seria frutífera. Por algumas vezes, a Bíblia registra a existência de espécies de árvores frutíferas que eram “bravas”, ou seja, por algum problema, pela própria natureza ou por uma deficiência peculiar, não produziam frutos, não serviam como fonte de alimento, como fonte de vida; é o caso da parra brava (2Rs.4:39), da figueira brava (1Rs.10:27; 1Cr.27:28; 2Cr.1:15; 2Cr.9:27; Is.9:10; Lc.19:4), bem como da uva brava (Is.5:2,4).

1. A parábola da vinha (João 15:1-11). No capítulo 15 de João Jesus trata da parábola da vinha. Nesta parábola, Jesus se descreve como a “Videira Verdadeira” e aqueles que se tornaram seus discípulos, como “os ramos”. Nesta parábola, Jesus mostra quão profundamente estamos ligados a Ele. Essa união é moral, mística e espiritual. A união mística com Cristo, ilustrada pela união entre o pastor e as ovelhas, a cabeça e o corpo, o noivo e a noiva, o fundamento e o edifício, recebe agora uma nova imagem, a videira e os ramos. Trata-se de uma união orgânica, vital, profunda. Ao permanecermos ligados nEle como a fonte da vida, frutificamos. Deus é o lavrador que cuida dos ramos, para que deem fruto (João 15:2,8). Deus espera que todo crente dê fruto.

No Antigo Testamento, a videira é um símbolo comum para Israel, o povo da aliança de Deus (Sl.80:9-16; Is.5:1-7; Jr.2:21; 12:10ss.; Ez.15:1-8; 17:1-21; 19:10-14; Is.10:1,2). Mais notável ainda é o fato de que, sempre que o Israel histórico é referido sob essa figura, enfatiza-se o fracasso da videira em produzir bom fruto, junto com a correspondente ameaça do julgamento de Deus sobre a nação. Nesse momento, em contraste a tal fracasso, Jesus declara: “Eu Sou a videira verdadeira”, isto é, aquela Videira para quem Israel apontava, aquela que produz bom fruto. Jesus, em princípio, já substituiu o templo, as festas judaicas, Moisés, vários lugares santos; nesse ponto, ele substitui Israel como o próprio local do povo de Deus. A Videira Verdadeira não é, portanto, o povo apóstata, e sim o próprio Jesus, e aqueles que são incorporados a ele.

2. Condição para ser produtivo. A condição imprescindível é: os ramos (os discípulos de Cristo) precisam estar ligados à Videira (Cristo). Jesus é a Videira, o tronco no qual os ramos precisam buscar sua seiva para frutificar. Quanto maior a conexão do ramo com o tronco, maior é a capacidade de produção desse ramo. A vida, a força, o vigor, a beleza e a fertilidade do ramo estão na sua permanência no tronco. Longe dEle não temos vida, nem força, nem poder espiritual, apenas morte. Tudo o que somos, sentimos e fazemos vem de Cristo. Ele é a fonte. Jesus disse: “[...) sem mim, nada podeis fazer” (João 15:5). Portanto, permanecer em Cristo é vital para produzir fruto (João 15:4,5). Disse mais Jesus: “(...) O ramo não pode dar fruto por si mesmo [...] porque sem mim nada podeis fazer”.

Em João 15:1-11, o verbo "permanecer" aparece dez vezes. Este é o pensamento central de Jesus. O segredo para uma vida transbordante não é fazer mais por Jesus, mas estar mais com Jesus. O desafio da permanência é passar dos deveres para um relacionamento vivo com Deus. Fora da videira, o ramo é estéril e inútil. Contudo, quando o ramo está ligado à videira, sendo podado na hora certa, ele produz muito fruto. Que fruto é esse? No contexto dos versículos 13 a 17 do capítulo 15 de João, o fruto é o amor, característica fundamental de Deus. Este amor tem de ser desenvolvido pelo processo da poda.

Portanto, permanecer em Cristo é um imperativo, e não uma opção (João 15:4). Deus está mais interessado em nossa vida do que em nosso trabalho. Deus está mais interessado em relacionamento do que em atividade. Ele quer você mais do que suas obras. Permanecer em Cristo não equivale a quanto você conhece de teologia, mas a quanto você tem sede de Deus. Ao permanecer, você busca, anseia, aguarda, ama, ouve e responde a Jesus. Permanecer significa ter mais de Jesus em sua vida, mais dele em suas atividades, seus pensamentos e desejos.

3. A poda. Podar é aparar os ramos que estão atrapalhando o desenvolvimento da planta. A poda ajuda a produzir novos ramos, fazendo com que a produção de frutos seja maior. Na vida espiritual, também somos podados e cuidados pelo Senhor.

Um viticultor usa quatro expedientes na poda: (a) remove os brotos mortos e prestes a morrer; (b) garante que o sol chegue aos galhos cheios de frutos; (c) corta a folhagem luxuriante que impede a produção de frutos; (d) corta os brotos desnecessários, independentemente de quanto pareçam viçosos. Como viticultor, Deus segue o mesmo processo conosco: ele corta as partes da nossa vida que nos roubam a vitalidade e nos impedem de frutificar. O viticultor procura tanto a quantidade quanto a qualidade.

Os cristãos mais frutíferos são aqueles que mais têm sido podados pela tesoura de Deus. Os viticultores podam as vinhas com maior frequência com o passar dos anos. Sem a poda, a planta enfraquece, a colheita diminui. Deus jamais aplicaria a poda se um método mais suave provocasse o mesmo resultado. A dor da poda vem agora, mas o fruto virá depois.

Portanto, a poda é o meio que Deus usa em nossa vida para frutificarmos mais. Deus nos disciplina para darmos frutos; ele nos poda para darmos mais frutos. Na disciplina, o que precisa ser retirado é o pecado; na poda, o que precisa ser retirado é o eu. A disciplina termina quando nos arrependemos do pecado; a poda só terminará quando Deus concluir sua obra em nós na glorificação.

II. FUNDAMENTO DA FRUTIFICAÇÃO ESPIRITUAL

O fundamento da frutificação espiritual é ser cheio do Espírito Santo, de amor ágape e estar ligado à Videira. “Em João 15:1-8, Jesus deixou claro aos seus seguidores que, para darem fruto exuberante para Deus, necessário é que antes cresçam em Cristo e nisso perseverem seguindo os ensinos da Palavra de Deus. Boas condições de crescimento e desenvolvimento da planta no reino vegetal, sem esquecer da boa saúde da semente e do meio ambiente ideal e da limpeza, são elementos indispensáveis para a boa frutificação. É também o que ocorre no reino espiritual, na vida do crente, na Igreja, para que haja em todos nós fruto abundante para Deus.

De que tipo de fruto Jesus estava falando em João 15:1-8? A resposta nos é dada em Gálatas 5:22: “O fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança”. Em outras palavras, o Fruto do Espírito é no crente a existência de um caráter semelhante a Cristo; um caráter que testemunha de Jesus e que o revela em seu viver diário; é a breve vida de Cristo manifestada no cristão. Como é que o povo à nossa volta está vendo Cristo em nós? Em família, no emprego, nas viagens, na escola, na igreja, nos relacionamentos pessoais, nos tratos, no lazer, no porte em geral, na vida cristã?" (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 1723).

1. Firmados no amor de Cristo. O Amor é a suprema virtude do Fruto do Espírito, é o Fruto excelente (Gl.5:22). O seu contínuo desenvolvimento deve ser buscado pelo cristão a cada dia, até o dia do arrebatamento da Igreja. Um amor que não é meramente teórico, que não é somente um belo discurso ou um estado mental, mas, sim, um amor prático, que faz boas obras e que faz os homens glorificarem a Deus que está nos céus (Mt.5:16).

O amor não é uma realidade que se possa atingir com o intelecto ou com a mente. Somente aqueles que se convertem e recebem o Espírito Santo em suas vidas é que podem, efetivamente, ter o amor de Cristo e, assim, desenvolver as nove qualidades apontadas nas Escrituras como sendo o fruto do Espírito. Jesus deixou-nos muito claro ao dizer que seus discípulos seriam reconhecidos pelo amor (João 15:12; 1João 2:10,11; 3:10,11).

Esta virtude é a essência da vida cristã, é a expressão do próprio Deus (1João 4:8). Como Deus, Jesus é amor; como humano, Jesus é o próprio amor encarnado. Sendo essencialmente amor, Jesus não tinha como deixar de amar o ser humano; por isso veio a este mundo para se entregar pelo ser humano. Como Ele próprio afirmou: “ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (João 15:13). Deus provou o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores (Rm.5:8), diz-nos Paulo, ele mesmo um eloquente exemplo de quão grande é o amor de Jesus. João, o apóstolo mais próximo a Cristo, a ponto de o Senhor lhe confiar o cuidado de sua própria mãe, é cabal ao dizer que Cristo “como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim” (João 13:1b).

2. Por que o amor é a base da frutificação? Porque ele é o alicerce de todas as virtudes. É o fruto excelente. Ele é extensivo nas nove virtudes do Fruto do Espírito. Vejamos:

Ø  Amor – É o amor visando o interesse dos outros (altruísmo).

Ø  Alegria – É o amor em estado de contentamento.

Ø  Paz – É o amor em estado de quietude.

Ø  Paciência – É o amor esperando.

Ø  Benignidade – É o amor agradando.

Ø  Bondade – É o amor ajudando.

Ø  Fidelidade – É o amor confiando e com Lealdade.

Ø  Mansidão – É o amor pacificando.

Ø  Temperança – É o amor equilibrando.

Paulo explica que o amor é maior que a fé e a esperança (1Co.13:13), é maior do que os dons espirituais (1Co.12:31; 13:8-10). Com efeito, o amor é eterno, enquanto que a fé e a esperança não mais existirão quando houver a glorificação dos salvos, pois a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se veem (Hb.11:1) e, com a glorificação, teremos cessado de esperar Cristo, bem como O veremos como Ele é (1João 3:2). Ora, por isso mesmo terá cessado a esperança, pois esta esperança é a esperança da glória e a glória já terá chegado - “…esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê, como o esperará?” (Rm.8:24b).

Não podemos nos esquecer que o amor não consiste apenas em palavras, não é um mero sentimento; o amor é uma ação, uma entrega, a expressão de um sacrifício. O amor precisa ser visto mediante as nossas obras. Não somos, portanto, o que falamos nem o que sentimos, mas o que fazemos. Quem ama se esquece de si mesmo e se empenha pelo outro. O empenho mais sublime é o da própria vida.

3. Cheios do Espírito e de amor. O amor é gerado em nossos corações pela ação do Espírito Santo. O Espírito Santo restaura no homem a imagem de Deus, devolvendo-lhe a capacidade de Amar – “Mas o fruto do Espírito é: amor...”(Gl.5:22). Biblicamente, a vida cristã tem que começar com o Novo Nascimento. Paulo afirmou: “assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co.5:17). Neste novo homem o Espírito Santo pode habitar – “...Porque vós sois o templo do Deus vivente...” (2Co.6:16). Assim, na medida em que o homem vai dando lugar ao Espírito Santo, ele vai moldando nesse novo homem a imagem de Deus. Na proporção em que a imagem de Deus vai sendo restaurada, mais e mais a natureza de Deus vai sendo devolvida ao homem, e, “Deus é amor”. É assim que o homem poderá chegar à capacidade plena de amar: de amar a Deus, de amar a si mesmo, de amar o próximo. Deus não pede o que o homem não tem para dar; Deus não exige o que o homem não pode fazer; Deus sabe que os seus filhos têm amor para dar; Deus sabe que seus filhos podem amar até os seus inimigos. Este era o comportamento dos cristãos no princípio da Igreja: levava os crentes a amarem, mesmo sofrendo perseguição e morte (cf. At.7:60).

III. CHAMADOS PARA FRUTIFICAR

"Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça..." (João 15:16).

Deus não está interessado em salvar o pecador simplesmente para usufruir de suas bênçãos. Ele requer de cada cristão uma vida frutífera. Fomos chamados para frutificar.

1. Propósito da frutificação. O propósito da frutificação: expressar o caráter de Cristo, evidenciar o discipulado e glorificar a Deus. Jesus disse: “Meu Pai é glorificado nisto: em que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” (João 15:8).

a) expressar o caráter de Cristo. Todo fruto revela sua árvore de origem. Da mesma maneira, como membros do corpo de Cristo, devemos refletir naturalmente o seu caráter para que o mundo o veja em nós. Quando as pessoas tomam conhecimento de nossa confissão cristã, podemos vir a ser a única Bíblia que muitas delas "lerão".

b) evidenciar o discipulado. Dar “muito fruto” é uma condição imposta por Jesus para aquele que quiser ser seu discípulo. Ele ressaltou que todo discípulo bem instruído será como seu mestre (Lc.6:40). Isto significa que não é o bastante aceitar Jesus para afirmar: "veja, sou crente!". Ele deseja que produzamos muito fruto. Se assim fizermos, estaremos demonstrando que verdadeiramente somos seus discípulos. Quem não dá fruto não pode dizer que é discípulo de Jesus. Mas, se não nos deixarmos guiar e se não formos ajudados pelo Espírito Santo, não daremos fruto, nem muito, nem pouco.

c) glorificar a Deus (João 15:8). Quando a videira natural produz muitos frutos Deus é glorificado, porque Ele diariamente envia a luz solar e a chuva para fazer a plantação crescer, e constantemente alimenta cada planta pequena, preparando-a para florescer. Que momento de glória será para o Senhor da colheita quando ela for trazida aos celeiros, madura e pronta para usar! Ele fez isto acontecer. Esta analogia agrícola mostra como Deus é glorificado quando estamos em um relacionamento correto com Ele e começamos a “dar muito fruto” em nossas vidas.

A presença de crentes frutíferos leva os ímpios a glorificarem a Deus (Mt.5:16). A Igreja em perfeita consonância com o Espírito Santo, faz com que os homens glorifiquem ao Pai que está nos céus. O trabalho do Espírito Santo é o de glorificar a Jesus (João 16:14), assim como o trabalho de Cristo na Terra foi o de glorificar o Pai (João 17:4). Nós, como corpo de Cristo, temos de prosseguir neste trabalho de glorificação do Pai e isto só será possível através das nossas boas obras.

2. O perigo de uma vida infrutífera (Lc.13:6-9). Uma vida frutífera é a melhor evidência para o nosso coração de que somos realmente discípulo de Cristo. Jesus disse que se conhece a árvore pelo fruto. Uma árvore boa precisa produzir bons frutos, mais frutos (João 15:2) e muito fruto (João 15:5,8).

Assim como a figueira, o cristão infrutífero na vida espiritual corre o risco de ser cortado; é o que Jesus mostra na parábola da figueira infrutífera (cf. Lc.13:6-9). O que contribuiu para que a figueira infrutífera não fosse cortada foi a pronta e amorosa atitude do vinhateiro (Lc.13:8,9). No entanto, nada se sabe sobre o seu fim. Mas, uma coisa é certa, ela teve a oportunidade de continuar plantada, para apresentar os frutos ao seu senhor. Aprendemos, aqui, que embora Deus dê a todos ampla oportunidade de se arrependerem, Ele não tolerará para sempre o pecado. O tempo virá quando a graça e a misericórdia de Deus serão removidas e os impenitentes castigados sem misericórdia.

Outro exemplo que podemos enfatizar é o da figueira sem fruto, em Mateus 21:18-20. Certa feita, Jesus estava indo para Jerusalém e teve fome. Olhou para uma figueira e viu muitas folhas. Foi procurar fruto e não achou. Aquela figueira anunciava fruto, mas não tinha fruto; então, Jesus a fez secar; a árvore nunca mais produziu fruto (cf. Mt.21:19,20). Fruto é o que o Senhor espera de nós, e não folhas. Ele não se contenta com aparência; Ele quer fruto.

Na metáfora da videira, exarada em João 15:1-11, Jesus se apresenta como sendo a “videira verdadeira”; seus discípulos são os ramos e só frutificam se estiverem ligados a Ele, fonte verdadeira de vida. Nesse processo divino, todo ramo que não dá fruto é cortado e lançado fora (cf. João 15:2).

CONCLUSÃO

Se entregarmos todo o controle de nossa vida ao Espírito Santo, Ele infalivelmente vai produzir o seu fruto em nós através de uma ação contínua e abundante. O povo escolhido no Antigo Testamento não correspondeu ao chamado de Deus, foi infrutífero em suas realizações como uma planta que ocupa a terra inutilmente. Muitas igrejas hoje assemelham-se ao Israel daquela época; a cada ano Deus tem procurado frutos, mas só tem encontrado folhas. Todavia, fruto é o que o Senhor espera de nós, e não folhas. Que venhamos a frutificar em todas as áreas da nossa vida, a fim de que o nome de Jesus, o nosso amado, seja glorificado e exaltado.

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Luciano de Paula Lourenço

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Revista Ensinador Cristão – nº 69. CPAD.

Rev. Hernandes Dias Lopes. Gálatas, a carta da liberdade cristã.

Antônio Gilberto. O Fruto do Espírito. CPAD.

Ev. Caramuru Afonso Francisco. Amor: o Fruto excenlente.PortalEBD_2005.

Comentário Bíblico Pentecostal. Novo Testamento. CPAD.