domingo, 25 de outubro de 2020

Aula 05 – O LAMENTO DE JÓ

 

4º Trimestre/2020

Texto Base: Jó 3:1-26


 “Porque antes do meu pão vem o meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água” (Jó 3:24).

Jó 3:

1.Depois disto, abriu Jó a boca e amaldiçoou o seu dia.

2.E Jó, falando, disse:

3.Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem!

4.Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele, nem resplandeça sobre ele a luz!

5.Contaminem-no as trevas e a sombra da morte; habitem sobre ele nuvens; negros vapores do dia o espantem!

6.A escuridão tome aquela noite, e não se goze entre os dias do ano, e não entre no número dos meses!

7.Ah! Que solitária seja aquela noite e suave música não entre nela!

8.Amaldiçoem-na aqueles que amaldiçoam o dia, que estão prontos para fazer correr o seu pranto.

9.Escureçam-se as estrelas do seu crepúsculo; que espere a luz, e não venha; e não veja as pestanas dos olhos da alva!

10.Porquanto não fechou as portas do ventre, nem escondeu dos meus olhos a canseira.

11.Por que não morri eu desde a madre e, em saindo do ventre, não expirei?

12.Por que me receberam os joelhos? E por que os peitos, para que mamasse?

13.Porque já agora jazeria e repousaria; dormiria, e, então, haveria repouso para mim,

14.com os reis e conselheiros da terra que para si edificavam casas nos lugares assolados,

15.ou com os príncipes que tinham ouro, que enchiam as suas casas de prata;

16.ou, como aborto oculto, não existiria; como as crianças que nunca viram a luz.

17.Ali, os maus cessam de perturbar; e, ali, repousam os cansados.

18.Ali, os presos juntamente repousam e não ouvem a voz do exator.

19.Ali, está o pequeno e o grande, e o servo fica livre de seu senhor.

20.Por que se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo,

21.que esperam a morte, e ela não vem; e cavam em procura dela mais do que de tesouros ocultos;

22.que de alegria saltam, e exultam, achando a sepultura?

23.Por que se dá luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu?

24.Porque antes do meu pão vem o meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água.

25.Porque o que eu temia me veio, e o que receava me aconteceu.

26.Nunca estive descansado, nem sosseguei, nem repousei, mas veio sobre mim a perturbação.

INTRODUÇÃO

Na Aula anterior tratamos da situação dramática de Jó, com base nos textos de Jó 1:13-22; 2:6-8. Vimos que o homem mais rico do Oriente, tornou-se o mais pobre da região; o homem de uma família unida e bem educada moralmente e espiritualmente, contemplou, resignado, o funeral de seus filhos amados, o seu bem mais precioso; o homem que tinha muita saúde física e mental, tornou-se o maior doente de sua época. Tudo isto lhe proporcionou extrema desonra, infligida por um julgamento público. Seus amigos foram para consolá-lo, mas ficaram sem palavras ao contemplarem seu debilitado estado de saúde. Após sete dias silente, Jó irrompeu o silêncio com um lamento que veio do fundo da alma; nesse lamento, Jó mirou o dia de seu nascimento e, através de dezesseis perguntas, desabafou tudo o que sentia naquele momento. Nesta Aula, estudaremos três das indagações de Jó: Por que nasci? Por que não nasci morto? Por que ainda continuo vivendo? Temos como base o capítulo 3 do Livro, onde é registrado que o patriarca desejou intensamente a morte (Jó 3:1-5); ao desejá-la, ele teve como objetivo dar fim ao ciclo de sofrimento que imperava sobre a sua vida. Contudo, apesar de ele desejar morrer, não buscou o suicídio; mesmo diante do mais terrível sofrimento, Jó não ousou entrar numa "jurisdição" que pertence somente a Deus. Ele, indiretamente, nos transmite a importante mensagem de que o único que pode decidir acerca do início e do fim da vida é o Deus Altíssimo. No seu ponto de vista, se Deus era a causa de sua vida, deveria também ser a causa de sua morte, pois se dEle vinha o bem, também deveria vir a provação (Jó 2:10).

I. PRIMEIRO LAMENTO DE JÓ: POR QUE NASCI? (3:1-10)

1. “Por que nasci?”

Jó 3:1-10 trata a respeito do primeiro questionamento de Jó: “Por que nasci?” Jó ficou solitário, humilhado, silente e sofrendo dores; seu sofrimento maior era o sentimento de que Deus o abandonara. Após prantear por sete dias com seus amigos, ele quebra o silencio. Ele “amaldiçoou o seu dia”, isto é, o dia do seu nascimento. Começou maldizendo o dia em que nasceu e o porquê de sua vida de sofrimento. Suas palavras denunciavam o seu desespero – “Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem!” (Jó 3:3). Observe os termos “dia” e “noite” – referem-se o dia do seu nascimento e a noite da sua concepção. Aqui ele deseja que estes turnos nunca tivessem existido.

Note-se, porém, que em tudo isso Jó não blasfemou contra Deus. Seu lamento era uma expressão de dor e desolação, mas não uma expressão de revolta contra Deus. Sempre é melhor para o crente levar ao Senhor em oração suas dúvidas e sentimentos sinceros. Nunca é errado levarmos a Deus nossas aflições e angústias, a fim de invocarmos a sua compaixão. O profeta Jeremias, também, expôs os seus sentimentos diante de seus conflitos (cf.Jr.20:14-18; cf. Lm.3:1-18). O próprio Jesus Cristo indagou ao Pai: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt.27:46). Se estivéssemos numa situação parecida, como reagiríamos? Pense nisso!

2. Que em lugar da memória viesse o esquecimento

A reação de Jó diante de seu sofrimento físico contrasta em muito com a sua atitude após a primeira prova, a saber, a perda de seu poder econômica e de seus filhos (cf. Jó 1:20-22). Mesmo assim, Jó não amaldiçoa a Deus, e sim o dia de seu nascimento. Ele achava melhor nunca ter nascido que ser abandonado por Deus. Para Jó, esse dia teria de ser apagado do calendário. Veja que Jó estava lutando emocional, física e espiritualmente; sua miséria era profunda e lancinante. Não é assim que muitas vezes nos sentimos? O dia em que as tempestades da vida desabam sobre nós com fúria e intensidade, temos desejo de nunca mais lembrar desse dia! Nunca subestimemos a vulnerabilidade do ser humano durante os momentos de sofrimento e dor. Precisamos persistir em nossa fé mesmo que não haja alívio.

É bom estarmos cônscios de que a fidelidade a Deus não é garantia de que o crente não passará por aflições, dores e sofrimentos nesta vida (João 13:33). Na realidade, Jesus ensinou que tais coisas poderão acontecer ao crente. A Bíblia contém numerosos exemplos de  santos que passaram por grandes sofrimentos, por diversas razões - além de Jó, José, Davi, Jeremias, Paulo...

3. Que em vez da ordem viesse o caos

4.Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele, nem resplandeça sobre ele a luz!

5.Contaminem-no as trevas e a sombra da morte; habitem sobre ele nuvens; negros vapores do dia o espantem!

6.A escuridão tome aquela noite, e não se goze entre os dias do ano, e não entre no número dos meses!

7.Ah! Que solitária seja aquela noite e suave música não entre nela!

8.Amaldiçoem-na aqueles que amaldiçoam o dia, que estão prontos para fazer correr o seu pranto.

9.Escureçam-se as estrelas do seu crepúsculo; que espere a luz, e não venha; e não veja as pestanas dos olhos da alva!

10.Porquanto não fechou as portas do ventre, nem escondeu dos meus olhos a canseira.

Jó, completamente desfigurado e sentindo-se abandonado por todos, inclusive por Deus, embora reconhecesse Sua soberania, passou a desejar que a sua existência fosse eliminada do universo, pois Deus, poderoso como é, bem poderia apagar o dia da sua concepção ou de seu nascimento. Jó não via sentido algum na sua existência, pois, apesar de ter tido um bom testemunho diante de Deus, estava, agora, em situação extremamente lamentável e, certamente, os seus amigos, que ali estavam, iam questionar a sua própria situação.

Note que nos textos acima Jó amaldiçoou seu dia natalício, exaltou a morte e ainda reclamou que não conseguia morrer. Pediu que o dia em que se disse “foi concebido um homem” (isto é, ele mesmo) se transformasse em “trevas”, que em vez de ordem viesse o caos.

Em Jó 3:5, “trevas” e “mortes” são usados como sendo simbolicamente equivalentes. Na maldição “negros vapores do dia seguinte” (Jó 3:5), o plural dá a entender que todos os meios de fazer a escuridão aparecer durante o dia eram considerados, como um elipse solar, tempestades sombrias amedrontadoras e, talvez, formas mágicas e sobrenaturais de esconder o sol. A noite da concepção de Jó deveria ter um destino semelhante (Comentário Bíblico Beacon):

-E não se goze entre os dias do ano” (Jó 3:6), seria melhor traduzido por: “não se regozije ela entre os dias do ano” (veja ARA), nem configure “no número dos meses.

-“Que solitária seja aquela noite” (Jó 3:7), significa literalmente: “seja estéril ou infecunda”. -E suave música não entre nela”, é a consequência exata descrita em Jó 3:3, em que a concepção e o nascimento de um filho homem são desaprovados.

-“Amaldiçoem-na” (Jó 3:8), refere-se a uma crença popular de que mágicos ou feiticeiros tinham a habilidade de colocar em pratica uma maldição ou um feitiço (veja a história de Balaão – Nm.22:6,12).

-“Para fazer correr o seu pranto” , é uma alusão obscura. Na NVI, este texto é traduzido da seguinte forma:“…amaldiçoam os dias e são capazes de atiçar o leviatã...". Provavelmente o autor tinha em mente a mitologia popular da sua época. Leviatã pertence ao mundo de caos. Acreditava-se que ele era capaz de criar um eclipse ao cobrir ou engolir o sol e a lua. Esse versículo então se referia àqueles que são capazes de amaldiçoar dias e despertar Leviatã para provocar escuridão e, portanto, destruir efetivamente o dia.

-“Porquanto não fechou as portas do ventre (Jó 3:10) - na concepção de Jó, teria sido melhor que tudo tivesse parado, em vez de ele ter nascido e vivido para ver tamanha angústia e destruição em sua vida.

"…Jó era como um homem que tinha perdido seu caminho e que não tinha perspectiva alguma de escape, esperança de tempos melhores. Mas, certamente que ele estava de posse de um mau quadro para a morte já que se encontrava tão desgostoso para a vida. Que seja nosso cuidado constante estarmos prontos para um outro mundo, e então deixe para o Senhor ordenar nossa remoção para lá quando Ele tiver vontade. A graça ensina-nos no meio dos maiores confortos da vida a desejar a morte e no meio das maiores cruzes a desejar a vida. O caminho de Jó estava escondido; ele não sabia o porquê de Deus ter contendido com ele. O aflito e tentado cristão sabe algo desta aflição; quando ele tem estado olhando demasiadamente para as coisas que se veem, algum castigo do Seu Pai celestial lhe dará o gosto deste desgosto da vida, e um relance das regiões escuras do desespero. Nem há alguma ajuda até que Deus lhe restaure as alegrias da salvação. Abençoado seja Deus, a terra está cheia da Sua bondade, embora cheia da maldade do homem. Esta vida pode ser feita tolerável se nós cumprimos nosso dever. Nós esperamos por misericórdia eterna, se de boa vontade recebemos Cristo como nosso Salvador.…" (Matthew HENRY. Comentário Bíblico Conciso - Jó 3 - www.goodrules.net/samericano.htm)

II. SEGUNDO LAMENTO DE JÓ: POR QUE NÃO NASCI MORTO? (Jó 3:11-19)

Em Jó 3:11-19, o patriarca questiona por que não morreu ao nascer. Aqui, Jó exalta a morte como um estado em que os cansados repousam e no qual “estão tanto o pequeno como o grande e o servo livre de seu senhor” (Jó 3:19). Porém, é interessante observar que, apesar da angústia e da dor terrível que sentia, em momento algum apoiou o aborto ou o infanticídio, crimes comuns no mundo antigo e que ainda, de forma intensa e cruel, são praticados nos dias de hoje, em todo o mundo.

1. Descansando em paz

"Por que não morri ao nascer, e não pereci quando saí do ventre? Por que houve joelhos para me receberem e seios para me amamentarem? Agora eu bem poderia estar deitado em paz e achar repouso” (Jó 3:11-13 – N.V.I).

Estas palavras de Jó mostram que ele reclamava por descanso de todo aquele sofrimento; era a única maneira de ele ficar livre daquela tribulação. Por não haver a possibilidade de voltar atrás no tempo e cancelar os acontecimentos que levaram ao seu nascimento, Jó voltou-se para outro lamento: “Por que não morri eu desde a madre e, em saindo do ventre, não expirei?” (Jó 3:11). Muitos bebês nascem morto, por que ele não teve a sorte de seu um deles? Reclamou Jó. Os “joelhos” da parteira e “peitos” (Jó 3:12) da sua mãe deveriam ter falhado em preservar a criança recém nascida. Segundo Jó, se a morte tivesse sido o seu destino logo no início, então suas maiores esperanças teriam sido alcançadas havia muito tempo – “então, haveria descanso para mim” (Jó 3:13). Em seu lamento, Jó observa a morte como um repouso, um descanso, algo que nivela a todos os homens, indistintamente, independentemente de sua riqueza ou posição social.

A expressão de Jó pode dar a entender que a morte seria um estado de inconsciência, um sono profundo, uma suspensão da existência, já que o patriarca fala em "repouso". Contudo, aqui também, o patriarca traz-nos importantes lições sobre a verdade bíblica da morte. A morte é um repouso, sim, é um descanso, mas não uma suspensão da existência.

O patriarca deseja a morte porque ela lhe será o fim do seu sofrimento (Jó 3:17). Como se não bastasse isso, o patriarca afirma que, ao ser achada a morte, há alegria, exultação e saltos (Jó 3:22). Como entender, então, que, com a morte, a alma ficaria inconsciente até o dia da ressurreição, como defendem algumas seitas e heresias, já que seu encontro é motivo para alegria de quem a buscava?

Sem dúvida, a morte é um fator que demonstra a intrínseca igualdade de todos os seres humanos, uma das provas de que, para Deus, não há acepção de pessoas. Como diz o escritor aos Hebreus, "…aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo."(Hb.9:27). Se os seres humanos apercebessem dessa realidade, certamente que suas condutas seriam bem diferentes com relação a Deus e à eternidade.

Diante da morte, tanto um príncipe como um natimorto são iguais, diz o patriarca. Jó, no desânimo, não vê outra saída para o término de seu sofrimento senão a morte (Jó 3:20-22). É esta a nítida posição de quem perdeu perspectiva nesta existência. Todavia, ao contrário de muitos que não adoram a Deus, que não estão dispostos a obedecê-lo, que, quando chegam a este ponto, suicidam-se; o patriarca deseja a morte, mas a pede a Quem de direito, ao único e Todo-Poderoso, o Senhor exclusivo da vida humana. Esta é mais uma expressão que revela que o verdadeiro e sincero servo de Deus, mesmo queixoso, prima pela excelência da vida.

2. Livre de tribulações (Jó 3:16-19)

“ou, como aborto oculto, não existiria; como as crianças que nunca viram a luz. Ali, os maus cessam de perturbar; e, ali, repousam os cansados. Ali, os presos juntamente repousam e não ouvem a voz do exator. Ali, está o pequeno e o grande, e o servo fica livre de seu senhor”.

Nestes termos, Jó continuava com seu lamento da “não-existência”, à medida que o seu sofrimento ganha intensidade. Ele estava cônscio de que se não tivesse se tornado um “ser”, nada disso estaria acontecendo com ele.

Veja a intensidade do seu lamento, no verso 16: “ou, como aborto oculto, não existiria; como as crianças que nunca viram a luz”. Aqui, Jó desejava ter nascido morto (aborto espontâneo), um feto que nunca viu a luz.  “Aborto oculto“ tem o mesmo sentido de “aborto espontâneo”, e é assim traduzido em Eclesiastes 6:3 e em Salmos 58:8. É bom enfatizar que em nenhum momento Jó faz uma apologia ao aborto criminoso,  mas usa-o no sentido metafórico de “descanso do sofrimento”. No lugar de ter sido abortado, ele nasceu e foi lançado no mundo da tribulação. O raciocino é simples: “Para os que morreram cessaram as angústias e tribulações da vida presente”.

Em sua intensa tribulação, Jó pode apenas esperar pelo alívio que a morte poderia lhe trazer. Mesmo com expressões tão fortes como estas desejando a sua morte, Jó nunca fez apologia ao  suicídio nem ao feticídio nem ao infanticídio. Deus é o Doador e o Sustentador da vida, e o homem é impotente para agir contra a providência divina nessa questão.

3. Uma realidade para o cristão

O cristão deve estar consciente de que a fidelidade a Deus não é garantia de que ele não passará por aflições, dores e sofrimentos nesta vida (Fp.4:11,12). Como diz o Rev. Hernandes Dias Lopes, “a vida cristã não é um parque de diversões nem uma colônia de férias. Não vivemos numa redoma de vidro nem numa estufa espiritual. Ao contrário, vivemos num campo minado pelo inimigo, uma arena de lutas renhidas, de combates sem trégua e sem acordo de paz. Nesta guerra, existem só duas categorias: aqueles que estão alistados no exército de Deus e aqueles que pertencem ao exército de Satanás”. A guerra contra o nosso arqui-inimigo perdurará até a derrota final dele, quando o Senhor Jesus, o nosso glorioso general, esmagará Satanás debaixo de nossos pés (Rm.16:20). Uma coisa é certa, o nosso General, Jesus Cristo, está à frente desta batalha, e com suas mãos estendidas possibilita que os seus corajosos soldados prevaleçam sobre o inimigo.

III. TERCEIRO LAMENTO DE JÓ: POR QUE CONTINUO VIVO? (Jó 3:20-26)

20.Por que se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo,

21.que esperam a morte, e ela não vem; e cavam em procura dela mais do que de tesouros ocultos;

22.que de alegria saltam, e exultam, achando a sepultura?

23.Por que se dá luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu?

24.Porque antes do meu pão vem o meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água.

25.Porque o que eu temia me veio, e o que receava me aconteceu.

26.Nunca estive descansado, nem sosseguei, nem repousei, mas veio sobre mim a perturbação.

Em seu terceiro lamento, Jó questionou por que se concede “luz” àqueles que vivem na miséria (como ele) e procura a morte como quem procura tesouros ocultos. O desejo de morrer ainda continuava vivo na mente de Jó. Ele queria que Deus lhe tirasse a vida e aliviasse o seu sofrimento.

Desejar a morte como solução para os problemas que surgem na nossa vida é, simultaneamente, colocar em xeque a própria ordem divina sobre todas as coisas. Pedir a Deus a morte é o mesmo que dizer que Deus agiu sem motivo e sem razão ao nos dar a vida; é algo que não faz sentido na mente de alguém que considera a Deus como o Senhor de todo o universo. 

Devemos entender que a realidade da morte e da pequena duração de nossa vida é um fator importante para que sejamos fiéis servos do Senhor, sabendo que a vida neste mundo é uma ilusão e que está reservada a morte e uma dimensão eterna aos homens. Esta realidade faz que sejamos humildes e, assim, aceitemos o senhorio de Deus sobre nossa vida. Esta compreensão da morte faz-nos vigorosos e ativos na obediência ao Senhor, uma reação totalmente contrária ao pessimismo, que gera uma paralisia no ser humano, uma inércia que, em tudo, não convém ao servo do Senhor. Não é por outro motivo que Jesus recomenda-nos a termos "bom ânimo" (João 16:33), pois, sem ânimo, não poderemos vencer o mal. O desânimo é uma grande cilada do adversário, pois, se pararmos na vida espiritual, certamente retrocederemos e, talvez, se não vigiarmos, podemos até perder a salvação.

1. Vale a pena viver?

Em Jó 3:20, o patriarca faz a seguinte indagação: “Por que se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo?”. Miserável, aqui, é usado no sentido de alguém cuja vida é atribulada pela miséria e que, por isso, torna-se incapaz de exercer suas funções. Para Jó, a vida havia se tornado intolerável; logo, não valia a pena viver.

Numa situação, qual a de Jó, vale a pena viver? Depende como a pessoa vive e para que vive. Veja a situação do apóstolo Paulo, que sofreu as piores agruras, sofrimentos, dores e perdas por causa do Evangelho. Apesar de tudo, ele disse: “...com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fp.1:20,21)

A pessoa deve estar consciente de que a vida não é dada meramente para a felicidade e satisfação pessoal, mas para que possamos servir e honrar a Deus. O valor e o significado da vida não se baseiam no que sentimos, mas naquilo que ninguém pode tomar, a saber, o amor de Deus por nós. Não pense que, porque Deus realmente nos ama, Ele sempre impedirá que não soframos; o oposto pode acontecer. O amor de Deus não pode ser medido ou limitado pela intensidade de nosso sofrimento. Romanos 8:38,39 ensina-nos que nada pode nos separar do amor de Deus.

2. Sem o favor de Deus?

Em seus contínuos queixumes, novamente, Jó volta a indagar:

"Por que se dá a luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu ?" (Jó 3:23).

"Por que antes do meu pão vem o meu suspiro, e os meus gemidos se derramam, como água ?" (Jó 3:24).

Em sua queixa, Jó não entendia porque Deus ocultara todo o seu sofrimento e para que estava sofrendo tanto. Ter servido a Deus fielmente havia-lhe levado a este estado miserável. Por que, então, Deus o tinha feito existir? Por que Deus havia decidido ter um servo chamado Jó? É este o questionamento do patriarca que se achava no direito de ter acesso a todos os segredos e propósitos de Deus.

Em sua miséria, Jó esperava a morte, que seria como tesouro oculto a ser procurado ou algo de que ele poderia se alegrar sobremaneira (Jó 3:21,22). Mas, mesmo isso foi negado a Jó. A miséria de Jó se tornou tão desmedida que seus gemidos (expressões de agonia) “se derramavam como água” (Jó 3:24) em uma corrente vasta e ininterrupta. A sua vida tornou-se tão difícil que tudo que ele precisava fazer era temer por mais agonia, e isso, de fato, aconteceu (Jó 3:25). O sofrimento de Jó não tinha fim; a perturbação veio sobre ele continuamente (Jó 3:26). Ele não teve qualquer oportunidade para experimentar descanso, sossego ou repouso.

Apesar da terrível miséria sobre a sua vida, o seu questionamento era-lhe absolutamente impertinente, como Deus haveria de comprovar quando tivesse cumprido totalmente o Seu propósito na vida desse patriarca. Apesar de sincero, reto, temente a Deus e de se desviar do mal, apesar de ser o homem mais excelente da Terra em seu tempo (e de todos os tempos, um dos mais excelentes, como se verifica de Ez.14:14), Jó continuava sendo um simples homem, era apenas servo.

Será que o(a) irmão(ã) também tem recheado a sua vida de porquês? Será que suas indagações têm sido tais que não há quem possa lhe consolar ou lhe trazer palavras do Senhor? Veja o exemplo do patriarca em comento, cuja estatura espiritual é bem maior que a nossa, e não obteve a resposta tão almejada; os céus ficaram em profundo silêncio; antes, porém, foi conduzido ao redemoinho, para ali entender que não se deve saber o porquê, mas tão somente adorar e obedecer ao Senhor.

3. Nem sempre Deus explica as razões pelas quais sofremos

Jó levanta aos céus dezesseis vezes a mesma pergunta: Por quê? Por quê? Por quê?  - Por que eu perdi os meus filhos? Por que a minha dor não cessa? Por que eu não morri no ventre de minha mãe? Por que eu não morri ao nascer? Por que os seios da minha mãe não estavam murchos de leite para eu morrer de fome? Por que o Senhor não me mata de uma vez?

Diante desse bombardeio de Jó, os céus ficaram em silêncio. Deus não deu sequer uma resposta aos seus questionamentos. Nenhuma palavra em resposta ao seu interrogatório. Conforme afirma o rev. Hernandes Dias Lopes, mesmo diante da avassaladora tempestade que se abateu impiedosamente sobre ele, não houve sequer uma  explicação; Deus ficou em total silêncio; os céus tornaram-se de bronze. A única voz que Jó ouvia era o barulho da dor gritando em seus ouvidos, pulsando em sua alma, latejando em seu corpo.

O silêncio de Deus grita mais alto em nossos ouvidos do que o barulho mais ruidoso das circunstâncias mais adversas. Mais difícil do que sofrer é sofrer sem compreender por que sofremos. Mais difícil do que lidar com a dor é passar pelo vale do sofrimento sem saber por que estamos sendo provados. Que providência carrancuda é o silêncio de Deus! Terrível dor das dores é quando os céus silenciam diante dos nossos queixumes! Mistério insondável é quando  nossas perguntas ficam sem resposta e quando nossa dor fica sem alívio!

Além de sua dor atroz, Jó precisou lidar ainda com o silêncio de Deus; e, pasmem, nós também passaremos por isso ao longo de nossa vida. Talvez alguns de nós estejamos passando por terríveis dramas neste momento. Talvez alguém esteja passando pelo vale da sombra da morte. Talvez alguns de nós estejamos enfrentando dramas pessoais e familiares. Talvez alguns de nós estejamos passando por perdas financeiras. Muitos, talvez, têm chorado a dor do luto (como eu chorei no mês de julho de 2020 pela morte do meu pai). Nesse torvelinho de dor, nessa tempestade de provas, alçamos aos céus a nossa voz, mas nenhuma resposta chega, nenhuma explicação atenua a nossa angústia. Os céus continuam em silêncio apesar de nosso grito por socorro.

Como bem diz Hernandes Dias Lopes, nem sempre temos uma clara percepção dos propósitos divinos. Nem sempre a voz de Deus vem ao nosso encontro para nos consolar. Nem sempre temos uma luz no fim do túnel para nos dar uma direção. Há dias em que Deus se cala. Há momentos em que os céus parecem estar fechados e as nuvens parecem ser de bronze.

Jó não apenas fez perguntas, mas também fez queixas. Ele levantou aos céus 34 vezes as suas queixas. Pensou que Deus estava cravando nele suas setas. Pensou que a mão de Deus estava esmagando sua vida. É claro que Jó não conhecia todas as implicações de sua saga, não sabia todos os detalhes daquela acesa batalha espiritual.

O apóstolo Paulo disse que a nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso e forças espirituais do mal (Ef.6:10-13). Esses inimigos são perigosos, violentos e malignos. Eles não descansam nem tiram férias. Estão sempre buscando uma oportunidade para nos atacar e nos ferir. Aqueles, porém, que foram arrancados da potestade de Satanás, resgatados da casa do valente e trasladados do império das trevas para o reino da luz estão assentados com Cristo nas regiões celestes, escondidos nEle, protegidos por Ele, cobertos com toda a armadura de Deus, seguros nas mãos de Cristo. Isso não significa, porém, ausência de luta. Enquanto estivermos neste mundo, viveremos num campo minado, num território encharcado de profundas tensões espirituais. Por isso, Jó, mesmo sendo um homem piedoso e o mais devoto de sua geração, não ficou imune a essa batalha.

Diante de tudo isto que vimos aqui, é preciso caminhar com equilíbrio o caminho da sabedoria e maturidade, olhando para o alto onde Cristo vive (Cl.3:1-4), e de onde vem o nosso socorro na hora da angústia. É somente nEle que podemos mantermos equilibrados e confiantes durante as tempestades e as vicissitudes da vida.

CONCLUSÃO

Satanás causou todo esse sofrimento terrível em Jó; o seu propósito era macular o caráter santo de Deus e destruir a reputação de Jó. O que, porém, ele conseguiu? Apenas colocar Jó mais perto de Deus e fazer dele um homem mais quebrantado e fiel. Na verdade, nenhum dos planos de Deus pode ser frustrado. Vale destacar, porém, que Satanás e suas hostes não podem agir à revelia de Deus. Não podem atuar sem a permissão divina. O diabo é um ser limitado quanto ao tempo, ao poder e à área de atuação. Ele só pode ir até onde Deus lhe permite ir; só pode fazer o que Deus permite que ele faça. Até Satanás está a serviço de Deus!

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Hernandes Dias Lopes. Neemias – As teses de Satanás.

Comentário Bíblico Beacon. CPAD.

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

Pr. Caramuru Afonso Francisco.  UM HOMEM CHAMADO JÓ. PortalEBD.2003.

Pr. Caramuru Afonso Francisco. JÓ amaldiçoa o dia do seu nascimento. portalebd_2003.

domingo, 18 de outubro de 2020

Aula 04 – O DRAMA DE JÓ

 

4º Trimestre/2020


Texto Base: Jó 1:13-22; 2:6-8

 

 “E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR” (Jó 2:21).

Jó 1:

13.E sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comiam e bebiam vinho na casa de seu irmão primogênito,

14.que veio um mensageiro a Jó e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pasciam junto a eles;

15.e eis que deram sobre eles os sabeus, e os tomaram, e aos moços feriram ao fio da espada; e eu somente escapei, para te trazer a nova.

16.Estando este ainda falando, veio outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os moços, e os consumiu; e só eu escapei, para te trazer a nova.

17.Estando ainda este falando, veio outro e disse: Ordenando os caldeus três bandos, deram sobre os camelos, e os tomaram, e aos moços feriram ao fio da espada; e só eu escapei, para te trazer a nova.

18.Estando ainda este falando veio outro e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho, em casa de seu irmão primogênito,

19.eis que um grande vento sobreveio dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu sobre os jovens, e morreram; e só eu escapei, para te trazer a nova.

20.Então, Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou,

21.e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR.

22.Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.

Jó 2:

6.E disse o SENHOR a Satanás: Eis que ele está na tua mão; poupa, porém, a sua vida.

7.Então, saiu Satanás da presença do SENHOR e feriu a Jó de uma chaga maligna, desde a planta do pé até ao alto da cabeça. 8 E Jó, tomando um pedaço de telha para raspar com ele as feridas, assentou-se no meio da cinza.  

8.E Jó, tomando um pedaço de telha para raspar com ele as feridas, assentou-se no meio da cinza.

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo sobre a vida de Jó trataremos nesta Aula da calamidade que se abateu sobre a vida deste icônico patriarca. De uma vida abastada, piedosa e fraternalmente estruturada, Jó mergulhou em um mar de calamidades. Esse homem foi elevado às alturas excelsas e despencou de lá. Sofreu os golpes mais duros. Perdeu seus bens, seus filhos, a saúde, o apoio de sua mulher e de seus amigos. Caiu não apenas ao chão, mas desceu aos vales mais tenebrosos. Foi nocauteado e jogado na lona sem nenhuma força para se levantar. Sua vida tornou-se um verdadeiro drama. Contudo, o drama de Jó nos ensina que, por pior que seja a situação, pôr mais sombria que seja a realidade, Deus é poderoso para reverter o quadro e trazer-nos à tona para respirar. A partir desse drama temos a oportunidade de refletir a respeito do sofrimento e o modelo de comportamento que o cristão deve ter para a própria vida diante das adversidades. Com Deus, nossas noites escuras e frias podem converter-se em manhãs cheias de luz e calor.

I. TRAGÉDIA DE NATUREZA ECONÔMICA

1. Jó, um homem financeiramente realizado

O texto sagrado afirma que Jó era o homem mais rico de sua geração no Oriente, era o maior empresário rural de seu tempo - “possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; tinha também muitos servos que trabalhavam para ele, de modo que era o homem mais rico de todos os do Oriente” (Jó 1:3). Muitos igualam Jó a grandes industriais e empresários da atualidade.

A vida de Jó refuta a ideia de que pessoas ricas não podem ser piedosas. A riqueza não é um pecado, nem a pobreza é uma virtude. A riqueza quando honestamente adquirida é uma bênção. É Deus quem fortalece as nossas mãos para adquirirmos riquezas. Riquezas e glórias vêm do próprio Deus.

À sua época, Jó superava todos os seus concorrentes. Ninguém se comparava a ele no que concernia à prosperidade financeira e à piedade pessoal. Jó era um homem realizado em sua vida financeira, em sua vida familiar e em seu relacionamento com Deus; sua prosperidade não era fundamentada somente no “ter”, mas, principalmente, no “ser”.

Jó sabia que a sua riqueza vinha de Deus, e sabia que seu amor deveria ser endereçado a Deus, e não às dádivas de Deus. Ele tinha convicção plena de que o abençoador é melhor do que a bênção e que o doador é melhor do que suas dádivas. Quando o homem entende que tudo vem de Deus e tudo pertence a Deus, não tem dificuldade de colocar esse tudo nas mãos de Deus. O homem não trouxe nada para este mundo, nem vai levar nada dele.

2. O colapso do patrimônio de Jó

Satanás não aceitou que um homem ultra milionário como Jó permanecesse íntegro, justo e temente a Deus, e que se desviava do mal. Por isso, ele intentou afastar Jó de Deus, procurando fazer com que ele acreditasse que o governo de Deus sobre o mundo não é bom ou justo. De repetente, Satanás, o acusador, compareceu perante Deus alegando que Jó só confiava nEle porque era rico, e tudo lhe corria bem. Com a permissão de Deus, Satanás saiu da sua presença e, de forma implacável, atacou os bens de Jó. Num único dia, ele arregimentou os caldeus, os sabeus e fez o fogo descer, e, num rastilho de pólvora, todos os bens desse rico patriarca foram saqueados e destruídos. O relato bíblico é comovente:

Certo dia, quando os filhos e filhas de Jó comiam e bebiam vinho na casa do irmão mais velho, um mensageiro foi até Jó e lhe disse: Os bois estavam lavrando e as jumentas pastavam perto deles; então os sabeus os atacaram e os levaram. Eles ainda mataram os servos ao fio da espada, e só eu escapei para trazer-te essa notícia. Enquanto o mensageiro ainda falava, veio outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, queimou as ovelhas e os servos e os consumiu; só eu escapei para trazer-te essa notícia. Enquanto ele ainda falava, veio outro e disse: Os caldeus dividiram-se em três grupos, atacaram os camelos e os levaram, e ainda mataram os servos ao fio da espada; só eu escapei para trazer-te essa notícia (Jó 1:13-17).

E assim, o homem mais rico do mundo foi à falência. O grande empresário rural perdeu tudo e foi à bancarrota. Seu império econômico entrou em colapso. Como uma avalanche, as notícias foram chegando a Jó, informando-lhe que seus bens estavam sendo dissipados. As coisas aconteciam com uma celeridade incomum. Não dava tempo sequer para respirar. Jó não conseguia elaborar um plano para estancar essa hemorragia que sangrava sua economia. Não teve tempo para debelar o fogo nem mesmo para resistir ao ataque fulminante dos caldeus e sabeus. Jó, o homem mais rico do Oriente, faliu. Sua fortuna, como um castelo de areia, ruiu. Seus rebanhos ficaram nas mãos de ladrões impiedosos. Seus campos foram lambidos pelo fogo. Nada sobrou de toda a riqueza que ostentava. Tudo estava perdido!

Diante de tão grande tragédia, será que Jó blasfemaria de Deus? Será que Jó ergueria seus punhos contra Deus? Será que da boca de Jó sairiam torrentes de blasfêmias? Será que Jó negaria seu Deus no vale da prova? Será que a fidelidade de Jó estava fundamentada apenas nas benesses recebidas das mãos divinas? Será que a crença de Jó era apenas uma barganha, um negócio lucrativo ou uma troca de favores? Qual foi a atitude desse patriarca ao perder todo o seu patrimônio – indústrias, comércio e agronegócio?

Muitos indivíduos quando são atingidos pelos terremotos financeiros, desesperam-se; outros insurgem-se contra Deus; outros cometem suicídio e dão cabo da própria vida. O que fez, então, Jó? O texto sagrado afirma que no exato momento que sofreu o golpe, o patriarca prostrou-se não para blasfemar contra Deus, mas para adorá-lo. Longe de atribuir a Deus qualquer culpa ou revoltar-se contra o Altíssimo, afirmou: “Eu sai nu do ventre de minha mãe, e nu voltarei para lá” (Jó 1:21). Assim, Jó estava dizendo que a razão de sua vida não tinha como fundamento os bens que granjeara nem a riqueza que ostentava. Jó tinha plena consciência de que não havia trazido nada para este mundo nem levaria nada dele. Jó sabia que os bens são dádivas de Deus, que riqueza e glória vêm de Deus, mas que a vida de um homem não consiste na abundância de bens que ele possui (Lc.12:15). Jó definitivamente triunfou sobre a investida de Satanás. O relato bíblico é enfático: “Em tudo isso Jó não pecou, nem culpou a Deus coisa alguma” (Jó 1:22).

II. TRAGÉDIA DE NATUREZA FAMILIAR

1. Os Filhos

A maior riqueza de Jó não eram suas propriedades nem seus rebanhos, mas sua família. Ele tinha dez filhos. Não obstante serem muitos, abastados e ricos, conservavam estreita amizade. Eram unidos. Celebravam juntos. Essa unidade familiar não foi costurada sem esforço - Jó era o grande arquiteto dela.

Ele era um pai piedoso e também um pai intercessor. Jó dedicava o melhor do seu tempo para orar pelos filhos, para colocar-se na brecha em favor deles. Chamava os filhos e exortava-os a não pecar contra Deus. A preocupação principal de Jó não era com a reputação dos filhos, mas com a glória de Deus. Ele tinha preocupação de que seus filhos pecassem contra Deus em seu coração. Apenas aparência de piedade não servia para Jó. Tomava cuidado para que seus filhos não caíssem nas malhas da hipocrisia.

Mesmo sendo um pai tão zeloso, a tragédia um dia bateu à porta de sua casa. Mesmo sendo um pai intercessor, um dia a crise se instalou em sua família. Mesmo cumprindo cabalmente seu papel de sacerdote do lar, um dia a tempestade desabou sobre sua cabeça. No mesmo dia em que perdeu todos os seus bens, chegou-lhe a amarga notícia de que seus filhos, reunidos na casa do primogênito, sofreram um trágico acidente, e a casa desabou sobre todos eles, vindo todos a óbito. Eis o dramático relato:

“Enquanto ele ainda falava, veio outro e disse: Teus filhos e tuas filhas estavam comendo e bebendo vinho na casa do irmão mais velho; veio um forte vento do deserto, atingiu os quatro cantos da casa. que caiu sobre os jovens, e eles morreram. Só eu escapei para trazer-te essa notícia” (Jó 1:18,19).

Depois de sofrer o golpe da falência patrimonial, agora Jó sofre a dor do luto - o luto pelos dez filhos. Esse pai, arruinado financeiramente, agora precisou sepultar seus dez filhos num único dia. Como esse homem voltou do cemitério? Como recomeçou a vida? Como encontrou alento para dar os primeiros passos? O que fazer nessas horas? Jó havia perdido coisas e pessoas; havia perdido os bens e os filhos; estava despojado de suas riquezas e de sua família. Parecia que esse homem só tinha passado e mais nenhum futuro. O presente havia mostrado a ele sua carranca. Os golpes tinham sido profundos demais, e ele estava sem fôlego para prosseguir.

“Esta foi a maior das perdas de Jó, e que o atingiu mais de perto; e por isso o Diabo a reservou para o final, para que se outras contrariedades falhassem, esta pudesse fazê-lo amaldiçoar a Deus. Nossos filhos são partes de nós mesmos; é muito difícil separar-nos deles, e isso fere um bom homem de maneira mais profunda possível. Mas separar-se de todos eles de uma vez, e o fato de estarem todos mortos, sim, aqueles que haviam sido por tantos anos a sua preocupação e a sua esperança, era algo que o atingia realmente no âmago do seu ser” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.10).

2. A reação de Jó

Qual foi a reação de Jó diante de tão fatídica tragédia? O mesmo Jó que já havia prevalecido no primeiro round da luta se manteria de pé nessa nova investida de Satanás? Ergueria Jó seus punhos contra Deus? Será que Jó pecaria contra Deus ao sofrer tão amarga perda? Será que Satanás ganharia esse round da luta? Será que Satanás estava certo em dizer que ninguém ama mais a Deus do que à família? Será que a devoção do homem a Deus fica sempre aquém de seu amor aos filhos?

Para desespero de Satanás, Jó não blasfemou contra Deus, mas adorou-o com o coração quebrantado. A reação de Jó, ao receber a notícia fatídica da morte de seus filhos, foi prostrar-se, cobrir-se de pó e adorar a Deus. Ele se levantou, rasgou o manto, rapou a cabeça, prostrou-se no chão, adorou e orou:

“Eu sai nu do ventre de minha mãe, e nu voltarei para lá. O SENHOR o deu, e o SENHOR o tirou; bendito seja o nome do SENHOR. Em tudo isso Jó não pecou, nem culpou a Deus por coisa alguma” (Jó 1:20-22).

Diante de tão admirável atitude, destacamos três verdades (Adaptado do livro “As teses de Satanás, de Hernandes Dias Lopes):

-Primeiro, Jó tinha plena convicção de que os filhos eram presentes de Deus. Foi Deus quem os deu, e só Ele podia tirá-los dele. Jó sabia que os seus filhos tinham vindo de Deus, pertenciam a Ele e deviam ser entregues e consagrados a Deus.

-Segundo, Jó tinha plena convicção de que Deus é soberano para tomar os filhos conforme o seu perfeito propósito. Não importa se os agentes que ceifam a vida dos filhos são perversos; só Deus tem o poder de dar a vida e de tirá-la (1Sm.2:6). Até mesmo nas maiores tragédias é Deus quem está no controle. Até mesmo quando Satanás está agindo, é a mão da providência de Deus que está governando. Mesmo que a providência seja carrancuda, a face benevolente de Deus está voltada para nós. Os dramas da nossa vida não apanham Deus de surpresa nem desafiam sua providência. Mesmo quando cruzamos os vales mais escuros, é a mão de Deus que dirige o nosso destino.

-Terceiro, Jó tinha plena convicção de que devemos adorar a Deus pelos nossos filhos, seja na vida, seja na morte. Nem sempre a providência divina vem a nós com largos sorrisos. Às vezes, a providência se torna carrancuda. Às vezes, sofremos golpes profundos e aprendemos pelas coisas que sofremos. Deus não é Deus apenas das horas alegres, mas também das horas tristes. Deus é digno de ser adorado não apenas na hora do nascimento, mas também na hora da morte. Nossa adoração a Deus é incondicional e ultracircunstancial.

3. A reação da esposa de Jó

A reação da mulher de Jó diante das tragédias acometidas - sobre o seu marido, o patrimônio da família, seus filhos -, deixou-a em estado de choque e falou coisas típicas de pessoas desesperadas, descontroladas, e revoltadas com tudo e com todos. Seu desespero foi tão forte que quis empurrar Jó para o abismo, sugerindo a ele pisotear seus valores, abandonar sua fé e lançar-se nos braços da morte.

Muitos casamentos não suportam uma tragédia financeira no lar como esta. A mulher de Jó ordenou-lhe a abrir mão de seus absolutos, amaldiçoar a Deus e morrer. Ela disse a Jó: “... Tu  ainda te manténs íntegro? Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2:9). Ela não suportou a sucessão de tantas perdas. Decepcionada com Deus, estava disposta a virar a mesa e abandonar todos os valores e princípios que haviam regido até então sua vida. Nota-se que sua fidelidade a Deus era condicional; ela mantinha sua devoção apenas nos dias áureos. Sua fé era circunstancial, e sua ética, situacional.

Mesmo mergulhado num caudal de sofrimento e dor, Jó respondeu à sua mulher com firmeza granítica: “Tu falas como uma louca. Por acaso receberemos de Deus apenas o bem e não também a desgraça?” (Jó 2:10). Muitos exegetas procuram atribuir um sentido a este texto o qual ele não tem. Para esses, a esposa de Jó não estava mandando amaldiçoar a Deus, mas orientando Jó a louvá-lo e morrer em paz. No entanto, as evidências do texto depõem contra esse entendimento. A reação de Jó, ao dizer que sua esposa falava “como louca”, confirma esse fato. 

Como entender a reação da  mulher de Jó diante da situação caótica de seu marido? É difícil compreender, num só ângulo, a sua reação. Ao ver o seu marido no meio da cinza com um pedaço de cerâmica raspando as feridas, no monturo da cidade, como um pária, um sentimento amargo lhe invade a alma aflita. Ela perdeu definitivamente a esperança; achava que já havia chegado ao limite da vida. Aproximou-se do marido moribundo, sentiu pena dele, fechou os olhos, apertou-os e a seguir disparou: “Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2:9). Nenhum sofrimento pode ser maior do que a confiança e fidelidade a Deus. O Senhor jamais permitirá que sejamos tentados acima de nossas forças (1Co.10:13).

Assim como os servos de Jó foram preservados da morte para levarem a notícia calamitosa ao patriarca, a esposa parece que fora guardada todo esse tempo para soltar esse último chicote. Sem o saber, pensando que a morte seria a melhor solução para o marido, a mulher emprestou sua boca ao Tentador incitando Jó a se rebelar e amaldiçoar a Deus.

A mulher em vez de confiar em Deus acima de todas as coisas, em vez de amar ao Senhor pelo que Ele é, deixou-se levar pelas circunstâncias atrozes, fundamentada em um relacionamento de barganha com Deus. Para muitos a morte é a solução para uma vida de infortúnios e desajustes domésticos; contudo, sempre há uma esperança para aqueles que confiam em Deus.

Jó olha para sua esposa, e a mira com ternura e carinho. A mulher sente o tempo parar por alguns instantes. Embora o tabernáculo terrestre de Jó estivesse se desfazendo, seu edifício eterno estava preparado por Deus (2Co.5:1). Os olhos de Jó traziam um brilho vivaz, contagiante, embora todo o restante dissesse o contrário. Podemos ver nesse olhar de Jó, o olhar de Jesus quando Pedro o negou; e, carinhosamente, Jó fala para a sua mulher:

“Como fala qualquer doida, assim falas tu; receberemos o bem de Deus e não receberíamos o mal?” (Jó 2:10).

O sábio Jó afirmara que sua esposa, em seu desespero e dor, falava como uma pessoa sem entendimento, como alguém que ele não conhecia. A mulher ficou desconcertada diante da afirmação do marido; refletiu a respeito do assunto; lembrou das muitas orações de Jó feitas em gratidão ao Senhor. E ali mesmo, reconsiderou, calou-se e desapareceu do cenário até o final do livro de Jó quando Deus restitui-lhe todas as coisas. Embora não seja mencionada no final do livro, não há razões para se duvidar de sua presença; certamente, ela é a esposa incansável que esteve com o marido nos piores momentos e circunstâncias, mas que, em certo momento, perdeu as esperanças, contudo, a recobrou através da piedade e devoção de seu marido.          

III. TRAGÉDIA DE NATUREZA FÍSICA E PSICOLÓGICA

Satanás pode causar dor e sofrimento nas pessoas. Seu desejo é ver as pessoas sofrerem. Sua missão é causar dor. Ele impôs ao patriarca Jó um sofrimento, até então, sem precedentes, pois ninguém sofreu como ele no Antigo Testamento. O sofrimento de Jó pode ser analisado em dois aspectos principais: físico e psicológico.

1. O Diabo tocou na saúde de Jó

Em outra ocasião, Deus estava reunido com seus filhos (muito provavelmente os anjos), e também muito provavelmente nas regiões celestes, quando mais uma vez apareceu por lá Satanás. Veja o registro bíblico:

“Outro dia, em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, Satanás também veio com eles para igualmente se apresentar perante o SENHOR. Então o SENHOR perguntou a Satanás: De onde vens? Satanás respondeu ao SENHOR: De rodear a terra e de passear por ela (Jó 2:1,2).

Veja aqui a resposta de Satanás: “De rodear a terra e de passear por ela”. Em outras palavras, isto quer dizer: "Eu não mudei minha agenda. Continuo fazendo o que sempre quis fazer. Estou por aí, vivo e ativo no planeta Terra, investigando pessoas, buscando uma brecha, colocando armadilhas no caminho dos incautos, cegando o entendimento dos incrédulos, controlando os filhos da ira, induzindo-os ao erro, criando doutrinas falsas, tentando e seduzindo pessoas a caírem em tentação".

Na ocasião, Deus novamente perguntou a Satanás: ”Observaste o meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele. É um homem íntegro e correto, que teme a Deus e se desvia do mal. Ele ainda se mantém íntegro, embora tu me houvesses incitado contra ele, para destruí-lo sem motivo” (Jó 2:3).

Deus joga na cara de Satanás que Jó havia prevalecido sobre suas acusações deletérias nas investidas anteriores. Jó provara que seu amor a Deus era superior ao seu amor ao dinheiro e à família. Jó provara que sua devoção a Deus não era uma barganha. Sua adoração era verdadeira, e sua devoção era sincera. Mesmo diante das perdas mais profundas, falência financeira e luto pelos filhos, Jó continuava sendo o homem mais piedoso do mundo. Sua piedade e sua reputação estavam intactas. Nenhum arranhão existia em seu relacionamento com Deus. Jó não servia a Deus por aquilo que recebia dEle, mas por quem Deus é.

Satanás não gostou do testemunho de Deus em favor de Jó; então, contra-atacou lançando seu torpedo mortífero. Eis o registro bíblico:

Então Satanás respondeu ao SENHOR: Pele por pele! Tudo quanto um homem tem ele dará por sua vida. Estende a mão agora e toca-lhe nos ossos e na carne, e ele blasfemará contra ti na tua face!” (Jó 2:4,5).

O argumento de Satanás é que ninguém ama mais a Deus do que a si mesmo. O amor-próprio é um sentimento inato e uma defesa natural. Protegemo-nos instantaneamente, naturalmente, constantemente. Tocar na pele, nos ossos e na carne é a forma mais profunda de atingir alguém; não é apenas atingir sua saúde, mas atingi-la da forma mais aguda e dolorosa. Satanás estava insinuando que, na dor, ninguém consegue ser fiel a Deus. Satanás estava afirmando que, no sofrimento, os valores do homem mudam. Satanás estava duvidando da firmeza de Jó, quando as baterias do sofrimento atingirem não apenas seu bolso e suas emoções, mas também seu corpo. Deus refutou a posição de Satanás e abriu caminho para que ele atingisse a saúde de Jó, em seus ossos e em sua carne. O Senhor disse a Satanás: “Ele está sob teu poder; somente lhe poupa a vida” (Jó 2:6). Satanás só pode agir na vida dos filhos de Deus quando este o permite. Deus traça um limite: “... somente lhe poupa a vida”. Satanás é um ser limitado; ele só pode ir até aonde Deus permite que vá; nem um centímetro a mais.

2. Saúde física

Debaixo de uma limitação imposta por Deus, Satanás saiu para cumprir o seu intento maléfico. Diz o texto bíblico:

“Satanás saiu da presença do SENHOR e feriu Jó com feridas malignas, da sola dos pés até o alto da cabeça (Jó 2:7).

Segundo Hernandes Dias Lopes, Satanás é um ser mórbido; seu desejo é ver as pessoas sofrerem; sua missão é causar dor. Ele colocou uma enfermidade muito dolorosa em Jó. Tumores malignos cobriram todo o seu corpo. O mesmo Jó que acabara de perder todos os seus bens e sepultar todos os seus filhos, imaginando que sua dor já era grande demais, agora enfrentava uma doença avassaladora, que deixara chagado todo o seu corpo.

Bolhas de pus arrebentaram em seu corpo. Sua pele ficou enegrecida e necrosada. A dor lancinante o atormentava de dia e de noite. Não havia pausa nem descanso. Não havia alívio sequer um minuto. O  homem mais rico do Oriente, agora falido e enlutado, estava também desolado e atormentado por uma dor que castigava com rigor desmesurado o seu corpo. Jó se assentou na cinza e começou a raspar suas feridas putrefatas com cacos de telha. Diz o texto: “Sentando-se em cinzas, Jó pegou um caco para se raspar” (Jó 2:8).

O corpo de Jó foi surrado pela doença. A dor cruel latejava em todo o seu corpo sem pausa nem descanso. Jó não conseguia comer, apenas chorar. Sua dor não cessava. Seu corpo ficou imundo. Seus ossos quase à mostra revelavam a tragédia que devastava sua saúde. Sua pele ficou cheia de feridas e pus. Disse Jó: “Meu corpo está coberto de vermes e de crostas de sujeira; a minha pele se resseca, e as feridas voltam a se abrir” (Jó 7:5). Suas dores o apavoravam (Jó 9:27,28). Seu corpo apodrecia como uma roupa comida de traça (Jó 13:28), encarquilhado e magérrimo (Jó 16:8). Seus ossos se deslocaram. Sua dor não tinha pausa (Jó 30:17). Sua pele enegreceu e começou a descamar. Seus ossos queimavam de febre (Jó 30:30).

Muitos blasfemam contra Deus na dor. Outros se revoltam e erguem os punhos contra os céus. Não poucos se afastam de Deus, decepcionados e amargurados. Porém Jó, no espiral da dor, no epicentro da tempestade, ele respondeu à sua mulher:

“... Por acaso receberemos de Deus apenas o bem e não também a desgraça? Em tudo isso Jó não pecou com os lábios (Jó 2:10).

Com estas palavras resolutas, Jó provou amar mais a Deus do que a si mesmo; deixou patente que amava mais a Deus do que à própria pele. Jó demonstrou que não servia a Deus pelos favores recebidos dEle, mas servia-lhe pelo seu caráter. Deus é melhor do que as dádivas dEle.

Satanás tirou tudo de Jó - seus bens, seus filhos, sua saúde e o apoio de sua mulher.
Mesmo assim, sob a mais densa tormenta, no epicentro da crise, Jó manteve sua fidelidade a Deus.

O homem mais cercado de respeito e admiração esteve na cinza, coberto de chagas, sentindo dores atrozes. Mesmo coberto de desventuras, mesmo surrado pelo chicote da dor, mesmo com os olhos molhados de lágrimas, mesmo perdendo todas as conexões da terra, Jó não perdeu seu amor a Deus nem sua esperança no Redentor. Do mais profundo dos vales, ele gritou: “Eu sei que o meu redentor vive” (Jó 19:25). Mais uma vez, Satanás foi vergonhosamente derrotado. Glórias a Deus!

3. Saúde emocional e psicológica

Além da saúde física, Jó experimentou o sofrimento emocional, que o levou a uma tendência de distúrbio psicológico. Não há uma clareza no texto sagrado que nos permita auferir com certeza que Jó entrou em depressão; todavia, há vários textos no corpo do livro que nos levam a fazer essa inferência (cf. Jó 3:1-14). Jó chegou amaldiçoar o dia de seu nascimento, não vendo mais razão para que fosse comemorado. Somente debaixo de forte pressão psicológica é que pessoas chegam a tal ponto.

Jó ficou angustiado e amargurado (Jó 7:11). À noite, seus sonhos e visões só lhe traziam mais terror (Jó 7:14). Ele chegou a ficar cansado de viver (Jó 10:1). Seu rosto afogueou de tanto chorar (Jó 16:16). Ele estava cercado de pessoas que o provocavam (Jó 17:2). As pessoas cuspiam em seu rosto (Jó 17:6; 30:10). Seus sonhos e esperanças fracassaram (Jó 17:11). Os irmãos e conhecidos fugiram dele na sua dor (Jó 19:13). Os parentes o desampararam (Jó 19:14). As pessoas que receberam sua ajuda no passado o tratavam com desprezo (Jó 19:15). O mau hálito e o mau cheiro que exalavam do seu corpo expulsaram a esposa e os irmãos de perto dele (Jó 19:17). Até as crianças o desprezavam e dele zombavam (Jó 19:18). Todos os seus amigos íntimos o abandonaram (Jó 37:2). Sua honra e felicidade foram arrancadas (Jó 30:15). Aconteceu o contrário de tudo de bom que ele desejou (Jó 30:26,27).

Jó era um modelo de confiança e obediência a Deus, mesmo assim Deus permitiu que Satanás o atacasse de forma especial e cruel. Embora Deus nos ame, crer nEle e obedecê-lo não nos isenta de calamidades na vida. Reveses, tragédias e tristezas atingem tantos os não crentes como os crentes. Contudo, Deus espera que, durante nossas provas e sofrimentos, expressemos nossa fé diante do mundo.

CONCLUSÃO

Como reagimos às intempéries e vicissitudes da vida? Perguntamos a Deus: “Por que eu?” Ou dizemos: “usa-me, Senhor!”. Devemos aprender a reconhecer, mas não temer, os ataques de Satanás, pois ele não pode exceder os limites estabelecidos por Deus. Embora não possamos controlar os ataques do Diabo, podemos sempre escolher como reagir a eles.

O Senhor Jesus ensinou os seus discípulos a reagir diante das dificuldades da vida. Em nenhum momento nosso Senhor negou que teríamos sofrimento na vida. Nesse aspecto, a grande diferença entre quem tem confiança em Cristo está na forma que se passa pelo caminho do sofrimento. Jó foi constrangido a suportar as dores mais terríveis e os piores desconfortos a que um ser humano jamais fora submetido, entretanto, reteve a sua integridade. Assim, Jó é um grande exemplo de fé e paciência para o povo de Deus do Novo Testamento.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Hernandes Dias Lopes. Neemias – As teses de Satanás.

Comentário Bíblico Beacon. CPAD.

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

Pr. Caramuru Afonso Francisco.  Um homem chamado Jó. PortalEBD.2003.