segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Aula 09 – A VERDADEIRA SABEDORIA SE MANIFESTA NA PRÁTICA


3º Trimestre_2014

 
Texto Base: Tiago 3:13-18

“Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre, pelo seu bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria” (Tg 3:13).

 

INTRODUÇÃO


Dando continuidade ao estudo da Epístola de Tiago, estudaremos nesta Aula “a sabedoria como a habilidade de exercer uma ética correta com vistas a praticar o que é certo. Veremos a pessoa sábia como alguém que se mostra madura em todas as circunstâncias da vida, pois é no cotidiano que a sabedoria do crente deve se mostrar”. A Carta de Tiago é um conjunto de sermões que trata de modo muito prático a forma como um servo de Deus deve viver, e isso inclui agir com sabedoria em todos os momentos. Na vida cristã não vale a máxima faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Na visão de Tiago, as atitudes corretas têm mais sentido do que palavras vazias e sem exemplo de vida.

I. A CONDUTA PESSOAL DEMONSTRA SE A NOSSA SABEDORIA É DIVINA OU DEMONÍACA (Tg 3:13-15)

1. Sabedoria não se mostra com discurso (Tg 3:13).Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre, pelo seu bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria”.

Um cristão desejoso de crescer na vida cristã certamente privilegia a palavra falada e escrita. Lemos a Bíblia e ouvimos as pregações em nossas igrejas, e cremos que os discursos são elementos de comunicação que atingem sua finalidade: convencer pessoas e motivá-las a que tenham atitudes que agradem a Deus. Entretanto, devemos nos lembrar de que a sabedoria não é demonstrada apenas em nossos discursos, mas também em nossas atitudes. Palavras, como diz a sabedoria popular, o vento leva. Entretanto, atitudes falam mais alto do que nossas próprias palavras, e ficam marcadas em nossas vidas.

Discursos, por mais elaborados que sejam, tornam-se inócuos se desprovidos de atitudes que os espelhem. Deus espera ver em nós atitudes condizentes com o que ensinamos e pregamos, para que a mensagem do evangelho seja não apenas um conjunto de palavras bem apresentadas, mas acima de tudo, o poder de Deus manifesto em nossas vidas, moldando-nos de acordo com a sua vontade e mostrando ao mundo a diferença que Deus faz. (1)

2. A inveja e facção (Tg 3:14). “Mas, se tendes amarga inveja e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade”. Inveja e facção são dois sentimentos que andam muito próximos de nós.

A inveja é caracterizada pelo desgosto que uma pessoa tem em relação a outra pessoa e contra o que  essa outra pessoa possui. Diferente da arrogância, que faz com que o arrogante veja outras pessoas como se ele estivesse em uma posição superior, o invejoso vê a si próprio como uma pessoa que está em posição inferior. Ele imagina que a pessoa alvo de seu sentimento não é digna de ter o que tem, e se imagina como merecedora daqueles talentos, dons ou bens que a pessoa tem. (2)

O sentimento facccioso. É outra característica de quem alega ter a sabedoria e não consegue demonstrá-la na prática. A falsa sabedoria manifesta-se através de um sentimento faccioso. Há grandes feridas nos relacionamentos dentro das famílias e das igrejas. A palavra que Tiago usa, erithia, significa espírito de partidarismo. Subentende a inclinação por usar meios indignos e divisórios para promover os próprios interesses. Era a palavra usada por um político à cata de votos. As pessoas estão a seu favor ou estão contra você. Tiago, então, propõe à igreja um desafio àqueles que afirmavam ter a verdadeira sabedoria: eles precisavam observar a verdadeira sabedoria que vem do Céu.

Paulo alertou os crentes de Filipos sobre o perigo de estarem envolvidos na obra de Deus com motivações erradas: vanglória e partidarismo (cf Fp 2:3). Essa exortação é bastante atual!

3. Sabedoria do alto e sabedoria diabólica (Tg 3:15). “Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica”.

De modo meio irônico, Tiago agora compara a sabedoria possuída por aquelas pessoas invejosas e facciosas com a sabedoria que desce lá do alto. A verdadeira sabedoria, e as Escrituras deixam isso claro, procede somente de Deus: “... o Senhor dá a sabedoria” (Pv 2:6). É por isso que ela pode ser obtida apenas se a pedirmos a Deus (Tg 1:5).

A sabedoria que não produz um bom estilo de vida (Tg 3:13) é, em suma, caracterizada “pelo mundo, pela carne e pelo demônio”. Em cada uma destas formas, ela é a antítese direta da “sabedoria que desce lá do alto” – celestial em natureza, espiritual em essência e divina em sua origem.

II. ONDE PREVALECEM A INVEJA E SENTIMENTO FACCIOSO, PREVALECE TAMBÉM O MAL (Tg 3:16)

“Porque, onde há inveja e espírito faccioso, aí há perturbação e toda obra perversa”.

1. A maldade do coração humano. Uma das questões mais difíceis com que temos de lidar é a capacidade de o coração humano ser mal. Há muitos gestos de bondade, generosidade e altruísmo ao longo da história em todas as culturas, mas há muito mais registros da capacidade má do homem agindo tanto em grupo quanto individualmente.

A maldade humana se desenvolve na mais tenra idade, e não são poucos os atos maldosos cometidos por crianças e adolescentes. Veja o que está escrito em Gênesis 8:21: “... disse o SENHOR em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice...”. Assim sendo, a igreja deve investir com muita dedicação na apresentação do evangelho também para as crianças, a fim de que ainda pequenas tenham a oportunidade de conhecer a Jesus Cristo e receberem a salvação.

A maldade do coração humano é vista não apenas entre as pessoas que não conheciam ao Senhor, mas igualmente entre o povo de Deus houve manifestação de maldades e de pensamentos ruins. Jeremias, usado por Deus, reclamou com os habitantes de Jerusalém sobre suas atitudes: "Lava o teu coração da malicia, ó Jerusalém, para que sejas salva; até quando permanecerão no meio de ti os teus maus pensamentos?" (Jr 4:14). Jeremias ainda reitera a capacidade má que o coração humano possui: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jr 17:9). Isso não ocorreu somente com Israel, mas também dentro da própria igreja (Tg 3:12; 4:1-3; 2Co 12:20).

A maldade do coração humano, certamente, terá resultados terríveis. Veja estas palavras do Senhor através do Jeremias: "Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isso para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações" (Jr 17:10).

2. A inveja e a facção instauram a desordem. “... aí há perturbação...”. Inveja e sentimento faccioso são evidências da falsa sabedoria. São atitudes a serem evitadas pelos salvos em Cristo, pois, inevitavelmente, trazem desordem no meio do povo de Deus.

A facção é o desejo de divisão. É aquele sentimento que não se contenta em presenciar a unidade de um grupo. Pessoas unidas tendem a ser mais exitosas em seus intentos, mas grupos divididos não costumam ter força suficiente para alcançar desafios. Por isso o sentimento faccioso é tão importante para Satanás. Ele sabe que quando há unidade na igreja local, as pessoas oram mais umas pelas outras, são mais misericordiosas, ajudam-se e buscam sempre a solução de possíveis conflitos, de forma que a igreja fica fortalecida. Mas se uma igreja é dominada pelo espírito faccioso, não poderá crescer, mesmo que seja rica em dons e manifestações espirituais.

A igreja de Corinto é um exemplo clássico de comunidade que foi atingida pela desordem, fruto de facções. Nessa igreja encontravam-se cristãos que haviam recebido dons espirituais de poder, elocução e de revelação. Mas, desconhecia a forma correta de utilização desses dons. Por causa disso, passou por diversos problemas, até que fosse orientada pelo apóstolo Paulo não apenas em relação ao uso correto dos dons, mas igualmente quanto à prática da comunhão.

O problema não estava nos dons espirituais, pois eles foram dados por Deus para a edificação da igreja. O problema estava no partidarismo daquela congregação. Aqueles crentes eram muito divididos. Uns eram de Paulo, outros de Apolo, outros de Pedro e outros, de Jesus. Como pode uma igreja ser sadia se seus membros competem entre si, e trabalham em prol de grupos internos? O problema não eram os dons espirituais, e sim a desunião do grupo.

E o que dizer da inveja? De acordo com Tiago, a inveja colabora com a perturbação e toda obra perversa. Pessoas dominadas pela inveja não conseguem contribuir nem com sua própria vida nem com as pessoas que a cercam. A inveja faz a pessoa perder o foco em si mesma e em Deus, além de fazer com que ela se concentre em outras pessoas, como se elas tivessem tudo e o invejoso, nada. Os talentos e bens dos outros são o alvo dos invejosos, que buscam ter justamente aquilo que outras pessoas têm. Não raro, pessoas dominadas pela inveja não desejam apenas ter o que o outro tem, mas se possível, desejam ver aquela pessoa sem aquilo que tem. Quer dizer, não basta para o invejoso ter alguma coisa; ele precisa ver o outro sem nada.

Pessoas invejosas não conseguem ser agradecidas, pois estão em busca do que ainda não possuem e não conseguem agradecer a Deus por aquilo que já conquistaram e receberam. Elas só enxergam o que ainda lhes falta.

Não há possibilidade de crescimento espiritual para pessoas cheias de inveja e facciosas, a menos que elas renunciem esses sentimentos e sejam cheias do Espírito Santo, a fim de que sejam controladas por Ele. (3)

3. Obras perversas. ”... e toda obra perversa”. Tiago trata em sua Carta sobre boas obras, mas ele também fala sobre obras perversas. Enquanto as boas obras são um fruto da sabedoria divina e demonstração da nossa fé em Cristo, as obras perversas são uma extensão da malignidade humana. Pode haver pessoas que se consideram corretas com essas coisas, mas aos olhos de Deus, precisam agir de forma a renunciar tudo isso e abandonar tais práticas, e não ocultá-las. (4)

III. AS QUALIDADES DA VERDADEIRA SABEDORIA (Tg 3:17,18)

“Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia “(Tg 3:17).

1. Características da verdadeira sabedoria. A sabedoria que vem de Deus tem características específicas, e pela forma como estão descritas, entendemos que são demonstradas na prática do dia a dia. Lembremo-nos de que Deus é a fonte dessa sabedoria, e, portanto, suas características estão estampadas na Palavra de Deus.

a) A sabedoria que vem de Deus é pura. Isto quer dizer que é limpa em pensamentos, palavras e atos. É incontaminada de espírito e corpo, na doutrina e na pratica, na fé e na moralidade.

b) A sabedoria que vem de Deus é pacífica. O homem sábio ama a paz e faz todo o possível para mantê-la sem sacrificar a pureza. Esse fato é ilustrado por uma história contada por Lutero. Dois homens se encontraram numa ponte estreita sobre um rio profundo. Não podiam voltar e não desejavam brigar. Depois de uma curta negociação, um deles se deitou e deixou que o outro passasse sobre ele. A “moral”, dizia Lutero, “é simples: fique contente se precisar ser pisado para manter a paz; refiro-me, porém, à sua pessoa, e não à sua consciência”.

c) A sabedoria que vem de Deus é moderada (indulgente –ARA). É tranquila, e não tirana; gentil, e não grosseira. Um homem sábio é um cavaleiro que respeita os sentimentos dos outros.

d) A sabedoria que vem de Deus é tratável. Ou seja, é conciliatória, acessível, pronta a ouvir e ceder quando a verdade assim o requer. Não é, portanto, obstinada e inflexível.

e) A sabedoria que vem de Deus é cheia de misericórdia e de bons frutos. É cheia de misericórdia para com aqueles que trilham o caminho errado e desejosa de ajuda-los a encontrar o caminho certo. É compassiva e bondosa. Em vez de ser vingativa, retribui a indelicadeza com benevolência.

f) A sabedoria que vem de Deus é imparcial. Ou seja, não gera favoritismo. Trata os outros com imparcialidade.

g) A sabedoria que vem de Deus é sem hipocrisia (sem fingimento-ARA). É sincera e genuína. Não simula ser o que não é.

2. O fruto da justiça (Tg 3:18). “Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz”.

Descobrimos aqui que a verdadeira vida cristã é uma semeadura e uma colheita. Nós colhemos o que semeamos. O sábio semeia justiça e não pecado. Ele semeia paz e não guerra. O que nós somos, nós vivemos e o que nós vivemos, nós semeamos. O que nós semeamos determina o que nós colhemos. Temos que semear a paz e não problemas no meio da família de Deus.

Entendendo melhor, a vida cristã é como o processo de plantio, que envolve o agricultor (o sábio pacífico), as condições do tempo (paz) e a colheita (justiça). O agricultor deseja produzir uma colheita de justiça, mas seu objetivo não pode ser alcançado num ambiente de brigas e desavenças. A semeadura deve ocorrer em condições de paz – “para os que exercitam a paz” -, e os semeadores precisam ter disposição pacífica. O resultado é uma colheita de justiça na vida dos semeadores e na vida daqueles a quem ministram.

CONCLUSÃO


A sabedoria que é pura, pacifica, moderada, tratável, cheia de misericórdia, de bons frutos, imparcial e sem hipocrisia, é o padrão de Deus na demonstração de sua sabedoria. Que assim possamos ser, para realmente fazer um diferencial no Reino de Deus neste mundo.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 59 – CPAD.

William Macdonald - Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. Mundo Cristão.

 Rev. Hernandes Dias Lopes – Tiago (Transformando Provas em Triunfo). Hagnos.

Douglas J. Môo. Tiago. Introdução e Comentário. Vida Nova.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

(1) Silas Daniel & Alexandre Coelho – Tiago – Fé e Obras. CPAD.

(2) ibidem

(3) Ibidem

(4) Ibidem

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Aula 08 – O CUIDADO COM A LÍNGUA


3º Trimestre/2014

 
Texto Base: Tiago 3:1-12

 
“Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo” (Tg 3:2).

INTRODUÇÃO

Nesta Aula, veremos o quanto o cristão precisa ser cuidadoso com a língua, pois ela pode ser um instrumento de bênção ou de destruição. Teremos como texto base Tiago 3:1-12. Tiago já demonstrou sua preocupação com os pecados da língua em outros textos: Tg 1:19,26; 2:12; 4:11; 5:12. Em Tiago 1:19, ele encorajou seus leitores a serem “tardios para falar”, enquanto em Tg 1:26, a ação de refrear a língua é destacada como um dos principais ingredientes de uma “religião pura”. Agora, ele ataca o problema com certa minuciosidade. Assim como os médicos de antigamente examinavam a língua para conhecer o estado de saúde do paciente, Tiago avalia a saúde espiritual da pessoa por meio de suas palavras. A primeira etapa do autodiagnóstico são os pecados da fala, que já tratamos sobre isso na Aula 05. Tiago concordaria com a pessoa espirituosa que disse: “Cuide de sua língua. Ela fica num ambiente molhado, onde é fácil escorregar!”.

Como vimos na Aula 05, ninguém pode se dizer religioso sem primeiro refrear sua língua (Tg 1:27). Tiago está dizendo que podemos ter um conhecimento colossal das Escrituras, podemos ter um invejável cabedal teológico, mas se não dominamos a nossa língua, a nossa religião é vã. Para Tiago, para ser um cristão verdadeiro não basta apenas a teologia ortodoxa, é preciso também uma língua controlada.

I. A SERIEDADE DOS MESTRES (Tg 3:1,2)

1. O rigor com os mestres. Os mestres levam sobre si grandes responsabilidades e serão julgados com especial rigor em virtude da influência exercida sobre os outros. Ao referir-se aos “mestres”, Tiago tem em mente exatamente todos aqueles crentes que exercem a atividade de ensino na Igreja. Trazendo para os dias de hoje, aqui estão incluídos os obreiros em geral, professores da Escola Dominical, dirigentes de igreja, ou qualquer irmão em Cristo que exerça, reconhecidamente, um ministério de ensino entre o povo de Deus. Ora, uma vez que só pode dar quem tem para dar, isto é, só pode ensinar quem tem realmente recebido e aprendido o bastante para poder ensinar, e uma vez também que Jesus afirmou que “a quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido” (Lc 12:48), é óbvio que ninguém tem uma responsabilidade maior do que aqueles que ensinam a Palavra de Deus. Trata-se de uma atividade extremamente honrosa e para a qual existe uma promessa extraordinária de Deus: “... os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas, sempre e eternamente” (Dn 12:3 - ARC). Entretanto, por outro lado, como toda benção, toda dádiva, todo dom - e o ensinar é um dom (Rm 12:6,7; Ef 4:8,11,12) – traz consigo uma responsabilidade, e essa responsabilidade é ainda maior no caso do dom do ensino, então o juízo será mais severo para os mestres. É o que assevera Tiago, inclusive incluindo-se entre os mestres, entre aqueles que passarão por esse julgamento diante de Deus: “... receberemos mais duro juízo” (Tg 3:1).

2. A seriedade com os mestres (Tg 3:1). Ensinar é coisa séria. Logo, os mestres devem exercer esta missão com muita seriedade. Jesus foi muito enfático e contundente ao advertir os discípulos sobre isso: “Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no Reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus” (Mt 5:19). Na igreja do primeiro século da era cristã, o ministério de mestre incluía não só o ensino aos discípulos, mas também a defesa da Palavra diante dos adversários da fé cristã. Estas duas esferas de atuação faziam parte do ministério da liderança didática, objetivando o cumprimento da Grande Comissão: “Ide... pregai o evangelho... fazei discípulos... ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei...” (Mt 28:19,20).

3. Perfeição que domina o corpo (Tg 3:2). Usando como gancho o fato de que mesmo os mestres são passíveis de erro, Tiago insere o tema da língua, ao falar do “tropeço na palavra”, isto é, o tropeço na fala: “... Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo”.

O maior perigo daquele que ensina está no falar desenfreado, que leva a declarações irrefletidas. Tiago não diz que todo mundo usa deliberadamente mau a língua, mas que, às vezes, ela é mal empregada por todas as pessoas, involuntariamente. Tiago diz que, quem nunca é culpado de um deslize cometido com a língua, quem nunca profere uma palavra ociosa ou vã, esse é perfeito, isto é, plenamente instruído, bem equilibrado e bem aparelhado para aceitar a responsabilidade de ensinar a outros e de frear toda a inclinação menos digna. Quem tem o domínio sobre a língua, tem igualmente o coração preservado, pois a boca fala do que o coração está cheio.

Todos nós batalhamos contra a tentação de falar antes de pensar, talvez uma palavra áspera ou crítica usada desnecessariamente, talvez uma expressão de raiva ou ódio. Uma simples palavra mal empregada pode levar uma nação à beira da guerra, destruir uma amizade de toda a vida, desfazer uma família ou arruinar um casamento. Por isso, a advertência de Tiago: "Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar" (Tiago 1:19).

Salomão, em Provérbios 6:16-19, elenca seis pecados que Deus aborrece e um pecado que a alma de Deus abomina. Dos sete pecados, três estão ligados ao pecado da língua: a língua mentirosa, a testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos.

O maior problema da igreja em Corinto era os pecados sociais da língua. Foi necessário que Paulo tratasse este problema com muita firmeza. "Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer"(1Co 1:10).

Portanto, amados irmãos, discipline-se! Faça um propósito com Deus e consigo mesmo: não empreste os seus lábios para fazer o mal. "Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã"(Tg 1:26). "Porque quem quer amar a vida e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal e os seus lábios não falem engano"(1Pe 3:10). "Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado" (Mt 12:37).

II. A CAPACIDADE DA LÍNGUA (Tg 3:3-9).

1.  As pequenas coisas no governo do todo (Tg 3:3-5).3 - Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo. 4 - Vede também as naus que, sendo tão grandes e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade daquele que as governa. 5 - Assim também a língua é um pequeno membro e gloria-se de grandes coisas”.

Aqui, Tiago faz uma analogia acerca da nossa capacidade de usarmos a língua. A língua tem o poder de dirigir tanto para o bem como para o mal. Tiago usa duas figuras para mostrar o poder da língua: o freio na boca do cavalo e a do leme do navio (Tg 3:3,4). As duas ilustrações evidenciam como esses dois objetos menores, essas pequenas partes de um todo, tem o poder de influenciar completamente o todo, de direcionar e dirigir todo o conjunto – o freio dirige as ações do cavalo e o leme conduz o imenso navio na direção que o capitão deseja.

Para que serve um cavalo indomável e selvagem? Um animal indócil não pode ser útil, antes, é perigoso. Mas, se você coloca freio nesse cavalo, você o conduz para onde você quer. Através do freio a inclinação selvagem é subjugada, e ele se torna dócil e útil. Tiago diz que a língua é do mesmo jeito. Se você consegue controlar a sua língua, também conseguirá dominar os seus impulsos, a sua natureza e canalizar toda a sua vida para um fim proveitoso.

A figura do leme. Um navio transatlântico é dirigido para lá ou para cá, pelo timoneiro, por meio de um pequeno leme. Imagine o que seria um navio sem o leme. Colocaria em risco a vida dos tripulantes, a vida dos passageiros e a carga que transporta. Isso seria um grande desastre. Sem leme, um navio seria um instrumento de morte, de naufrágio, de loucura. O leme, porém, pode conduzir esse grande transatlântico, fugindo dos rochedos, das rochas submersas e pode transportar em paz e segurança os passageiros, os tripulantes e a carga que nele está. O que Tiago está dizendo é que se nós não controlarmos a nossa língua, nós seremos como um transatlântico sem leme e sem direção. Se não controlarmos nossa língua, vamos nos arrebentar nos rochedos, vamos nos destruir e vamos ainda destruir quem está perto de nós, porque a língua tem poder de dirigir para bem ou para o mal.

2. “A língua também é um fogo” (Tg 3:6).A língua também é um fogo; como mundo de iniquidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno”.

Aqui, também, Tiago usa outra metáfora da língua: o fogo. Ele diz que uma fagulha pequena incendeia toda uma floresta. Você já parou para perceber que um incêndio de proporções tremendas pode ser causado por uma simples ponta de cigarro ou por um mero palito de fósforo? Aquela chama inicial é tão pequena que, se você der um sopro, ela se apaga. Mas o que adianta você soprar um fogo que se alastra por uma floresta? Aí não adianta mais. O fogo, depois que se agiganta e alastra torna-se indomável e deixa atrás de si grande devastação. Assim é o poder da língua. Onde um comentário maledicente se espalha, onde a boataria cresce e onde a fofoca se infiltra, como labaredas de fogo, vai se alastrando e provocando destruição. Assim como o fogo cresce, espalha, fere, destrói e provoca sofrimento, prejuízo e destruição, assim também é o poder da língua.

Uma pessoa pode corromper toda a personalidade ao usar a língua para maldizer, insultar, mentir, blasfemar e praguejar. Você já parou para pensar quantas pessoas não frequentam mais as nossas reuniões porque foram feridas com palavras?

É preciso usar nossa língua sabiamente, pois “a morte e a vida estão no poder da língua” (Pv 18:21).

3. Para dominar a língua.Porque toda a natureza, tanto de bestas-feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana; mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal” (Tg 3:7,8).

Tiago mostra que a natureza humana conseguiu domar e adestrar as bestas-feras, as aves, os répteis e os animais do mar, mas a língua do ser humano até hoje não houve quem fosse capaz de dominar.

O pr. Josué Gonçalves - em seu livro “A LINGUA (Domando essa fera)” – conta que “três jovens foram orar em um monte. Em determinado momento, pararam de orar e resolveram confessar um ao outro ‘o seu ponto fraco’. O primeiro disse: — O meu ponto fraco, é que não posso olhar para as meninas da igreja que eu logo penso bobagem. O segundo disse: — O meu ponto fraco é pior do que o seu, não posso olhar para os rapazes da igreja, porque tenho tendência para o homossexualismo. O terceiro disse: — O meu ponto fraco eu não vou contar, porque é pior do que o de vocês. Mas de tanto insistirem, ele contou. — O meu ponto fraco está na língua. Eu estou com uma vontade incontrolável de descer lá na igreja, e contar para toda a comunidade o que vocês acabaram de contar para mim. Os rapazes então disseram: — vamos orar primeiro por ele, caso contrário estaremos perdidos... Não seria este o ponto mais fraco de algumas pessoas?”.

Por esforço próprio o homem não terá forças para domar o seu desejo e as suas vontades. O próprio Tiago afirma isso: “mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal” (Tg 3:8). Domar a língua é um processo diário e que exige muito autocontrole, disciplina e compromisso com a prática dos princípios bíblicos que devem nortear nossa vida. Quando o cristão mostra equilíbrio no falar, significa que o Espírito Santo está construindo nele o caráter de Cristo. Pedro disse que Jesus nos deixou o exemplo, para que seguíssemos as suas pegadas. Ter a mente de Cristo (1Co 2:16) também é falar como Cristo falou e agir como Ele agiu. Nós falamos aquilo que pensamos. Disse Jesus, o Mestre por excelência: "A boca fala do que está cheio o coração" (Mt 12:34 - ARA). Quando Deus passa a nos governar, a língua do crente deixa de ser um órgão de destruição e passa a ser um instrumento poderoso e abençoador, usado para o louvor da glória do Eterno. "O que guarda a sua boca e sua língua, guarda das angústias a sua alma" (Pv 21:23).

III. NÃO PODEMOS AGIR DE DUPLA MANEIRA (Tg 3:10-12)

1. Bênção e maldição (Tg 3:10).de uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim”.

Tiago está enfatizando o mesmo que Jesus Cristo disse, que a boca fala daquilo que o coração está cheio. Se o seu coração é mau, a palavra que vai sair da sua boca é má. A incoerência da língua está no fato de que com ela você bendiz a Deus e também amaldiçoa a seu irmão, criado à imagem e semelhança de Deus.

Como é estranho que a língua consiga bendizer a Deus e Pai, em um momento, e, a seguir, amaldiçoar as pessoas. Devemos ter, pelos seres humanos, a mesma atitude de respeito que temos por Deus, porque eles foram criados à sua imagem. Mas temos esta língua horrível de duas faces, de modo que de uma mesma boca procede benção e maldição. A mesma língua que usamos para falar dos outros é a mesma língua que usamos para louvar a Deus no culto. A mesma língua que usamos para glorificar ao Senhor com nossos cânticos e orações, usamos também para ferir de morte uma pessoa criada à imagem de Deus. A língua não apenas é incoerente, mas também contraditória.

Algumas pessoas pensam que o único limite para os palavrões e a linguagem grosseira é a desaprovação social. Mas a Palavra de Deus condena isto. Tiago diz que a razão pela qual nós não devemos amaldiçoar as pessoas é porque elas foram criadas à semelhança de Deus. Nós não devemos usar nenhuma palavra que as reduza a qualquer coisa inferior à sua estatura plena de seres criados por Deus.

2. Exemplos da natureza (Tg 3:12). “Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Assim, tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce”.

Os exemplos da natureza têm por objetivo lembrar-nos de que nossas palavras devem ser sempre boas. Tiago compara a língua com uma árvore e seu fruto. A árvore fala de fruto e fruto é alimento. Fruto renova as energias, a força, a saúde e dá capacidade para viver. Nós podemos alimentar as pessoas com uma palavra boa, uma palavra vinda do coração de Deus, uma palavra de consolo. Fruto também fala de um sabor especial. Nós podemos dar sabor à vida das pessoas pela maneira como nos comunicamos.

A figueira não pode produzir azeitonas, e a videira não pode dar figos. Na natureza, cada árvore produz somente um tipo de fruto. Como é possível, então, a língua produzir frutos bons e maus?

3. Uma única fonte.Porventura, deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa? (Tg 3:11).

Nenhuma fonte jorra água doce e amarga ao mesmo tempo. As duas são mutuamente excludentes. O mesmo princípio deve ser aplicado à língua. O fluxo de palavras tem de ser uniformemente bom. É incoerente e completamente contrário à natureza usar a língua para o bem e para o mal. Num momento a pessoa bendiz ao Senhor e, logo em seguida, amaldiçoa aqueles que são feitos à semelhança de Deus. Que incongruência a mesma fonte produzir resultados opostos! Isso não deve acontecer. A língua que bendiz ao Senhor deve ajudar os outros, e não prejudicá-los. Tudo o que dizemos deve ser testado com três perguntas: “É verdadeiro?” “É amável?”, “É necessário?”.

Que bênção você poder usar sua língua como uma fonte de refrigério para as pessoas, para abençoá-las, encorajá-las e consolá-las. Como é precioso trazer uma palavra boa, animadora e restauradora para uma alma aflita. A principal marca do cristão maduro é ser parecido com Jesus, o varão perfeito. Uma das principais características de Jesus era que sempre que uma pessoa chegava aflita perto dele saía animada, restaurada, com novo entusiasmo pela vida.

Quando as pessoas chegam perto de você, elas saem mais animadas e encantadas com a vida? Elas saem cheias de entusiasmo, dizendo que valeu a pena conversar com você? Você tem sido uma fonte de vida para as pessoas? Sua família é abençoada pelas suas palavras? Seus colegas de escola e de trabalho são encorajados com a maneira de você falar? Pense nisso!

CONCLUSÃO

Devemos pedir constantemente ao Senhor que nos ajude a guardar nossos lábios (Sl 141:3) e orar para que as palavras de nossa boca e a meditação de nosso coração sejam agradáveis na presença dEle, que é nossa força e nosso Redentor (Sl 19:14). Não podemos esquecer que nosso corpo, mencionado em Romanos 12:1, inclui a língua. Em Mateus 12:36 somos avisados de que "de toda palavra ociosa que os homens falarem, dela darão conta no dia do juízo". Tenhamos sempre em mente a admoestação do apóstolo Paulo: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem” (Ef 4:29). Amém?

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 59 – CPAD.

William Macdonald - Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. Mundo Cristão.

 Rev. Hernandes Dias Lopes – Tiago (Transformando Provas em Triunfo). Hagnos.

Douglas J. Môo. Tiago. Introdução e Comentário. Vida Nova.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Silas Daniel & Alexandre Coelho – Tiago – Fé e Obras. CPAD.

 

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Aula 07 – A FÉ SE MANIFESTA EM OBRAS


3º Trimestre/2014

 
Texto Básico: Tiago 2:14-26

 
“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5:16).

 

INTRODUÇÃO

A fé é uma doutrina chave no cristianismo. O pecador é salvo pela fé (Ef 2:8,9). O justo vive pela fé (Rm 1:17). Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11:6). Tudo o que é feito sem fé é pecado (Rm 14:23). Em Hebreus 11 encontramos a galeria da fé, em que homens e mulheres creram em Deus, viveram e morreram pela fé. Fé é a confiança de que a Palavra de Deus é verdadeira, não importam as circunstâncias.

Nesta Aula, veremos a importância de manifestar nossa fé por meio de nossas obras. Para que a ortodoxia gere frutos é necessário que ela seja encarnada na vida, se manifeste nas ações; é necessário que seja algo mais do que mero conhecimento; é necessário que se materialize em ortopraxia.

Não basta falar bonito ou saber o que falar, se não houver ação. Não raro, muito do que é falado nos púlpitos raramente é praticado, e isso tem colocado o testemunho de muitos em desvantagem. A verdadeira fé salvífica é tão vital que não poderá deixar de se expressar por ações, e pela devoção a Jesus Cristo; Tiago chama isso de “religião pura e imaculada para com Deus” (Tg 1:27). Portanto, as obras sem a fé são obras mortas; a fé sem obras é fé morta.

I. DIANTE DO NECESSITADO, A NOSSA FÉ SEM OBRAS É MORTA (Tg 2:14-17)

1. Fé e Obras. A julgar pela dedicação da Epístola no capitulo 1:1 – “aos irmãos da dispersão” -, o local da dispersão era o local onde Paulo pregou muito, para os judeus que estavam fora da palestina. Não é impossível que estes crentes tenham escutado o que Paulo tinha falado a respeito da doutrina da justificação, e que desenvolveram uma implicação errada acerca da justificação. Ou seja, para eles, se você é justificado pela fé em Cristo Jesus, o que você faz ou como você vive isso não vai ter muito impacto em seu relacionamento com Deus. Isto é o que em Teologia nós chamamos de antinomianismo, ou seja, a ideia de que a fé e a graça excluem as obras, atitude, comportamento e o andar diante de Deus. Tiago, porém, no capítulo 2:14-26, confronta essa compreensão errada, e afirma que a fé salvadora sempre vem acompanhada da evidência. Então neste sentido, fé e obras são dois lados de uma mesma moeda: a fé sendo a raiz da salvação e as obras sendo fruto dela. Onde tem uma vai ter a outra. Onde falta uma a outra também falta.

Alguém pode aparentar que tem fé, mas não vai ter obras se essa fé não é verdadeira. Pode haver que pessoas sejam retas, morais, que tenham obras, todavia lhe falta fé, que é a raiz de toda obra verdadeira.  Então fé e obras são dois lados de uma mesma moeda. São duas coisas que andam juntas. Então não há nem a necessidade de jogar Tiago contra Paulo, porque a fé que Tiago condena não é a fé que Paulo recomenda em Romanos; e as obras que Paulo condena, dizendo que nós não somos salvos pelas obras, não são as obras que Tiago recomenda. Paulo estava falando contra o legalismo, por isso ele enfatizava um lado da moeda; e Tiago está falando contra o antinomianismo - a libertinagem -, por isso ele está enfatizando o outro lado da moeda. Portanto, os dois homens de Deus estão absolutamente de acordo.

Em nossa vida cristã, o equilíbrio deve sempre ser uma busca incessante: uma fé que seja pura, centrada somente em nosso Senhor Jesus; e, por outro lado, uma vida que demonstre a realidade dessa fé através da prática das obras.

2. A “morte” da fé. “Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg 2:17). Tiago é claro em afirmar que a fé sem as obras está morta (Tg 2:17; 2:26), e uma fé morta não salva ninguém. Ortodoxia sem piedade produz morte. Quando, então, se constata a “morte” da fé? Responde o Rev. Hernandes Dias Lopes: (1)

a) quando a fé não desemboca em vida santa. A fé morta está divorciada da prática da piedade. Há um hiato, um abismo entre o que a pessoa professa e o que a pessoa vive. Ela crê na verdade, mas não é transformada por essa verdade. A verdade chegou à sua mente, mas não desceu a seu coração. É um erro pensar que apenas recitar ou defender um credo ortodoxo faz de uma pessoa um cristão. Aceitação intelectual, apenas, não é fé salvadora. A fé que não produz vida, que não gera transformação, é uma fé espúria (Mt 7:21).

Certo pastor, ao ser confrontado em razão de seu adultério, respondeu: "E daí se eu estou cometendo adultério? Eu prego melhores sermões do que antes". Esse homem estava dizendo que enquanto ele acreditasse e pregasse doutrinas ortodoxas, não importava a vida que ele levava. Mas Tiago ataca esse tipo de pensamento. Isso é fé morta.

b) quando a fé é meramente intelectual. Constata-se a “morte” da fé quando ela atinge apenas o intelecto. A pessoa consente com certas verdades, mas não é transformada por elas. No versículo 14, Tiago pergunta: "Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?". Quando Tiago usa a palavra semelhante, ele está falando de um certo tipo de fé, ou seja, a fé apenas verbal em oposição à fé verdadeira. Ainda no versículo 14, ele pergunta: "Que proveito há, meus irmãos, se alguém disser que tem fé e não tiver obras?". A fé aqui descrita existe apenas na base da pretensão. A pessoa diz que tem fé, mas na verdade não tem.

As pessoas com uma fé morta substituem obras por palavras. Elas conhecem as doutrinas, mas elas não praticam a doutrina. Elas têm discurso, mas não têm vida. A fé está apenas na mente, mas não na ponta dos dedos.

c) quando a fé não produz frutos dignos de arrependimento. Essa fé é ineficiente, inoperante e não produz nenhum resultado. Ela tem sentimento, mas não ação. Tiago dá dois exemplos para ilustrar a fé morta (Tg 2:15,16): um crente vem para a igreja sem roupas próprias e sem comida. Uma pessoa com uma fé morta vê essa situação e não faz nada para resolver o problema do irmão necessitado. Tudo o que ele faz é falar algumas palavras piedosas (Tg 2:16). Comida e roupa são necessidades básicas (1Tm 6:8; Gn 28:20). Como crentes, devemos ajudar a todos e, principalmente, aos que professam a mesma fé (Gl 6:10). Deixar de ajudar o necessitado é fechar o coração ao amor de Deus (1João 3:17,18). O sacerdote e o levita podiam pregar sobre sua fé, mas não demonstraram a sua fé (Lc 10:31,32).

II. EXEMPLOS VETEROTESTAMENTÁRIOS DE FÉ COM OBRAS (Tg 2:18-25)

1. Não basta “crer”.Tu crês que há um só Deus? Fazes bem; também os demônios o creem e estremecem” (Tg 2:19). Somente crer não é uma experiência salvadora. Você não conhece uma pessoa salva pelo conhecimento que adquire nem pelas emoções que demonstra, mas pela vida que vive (Tg 2:18). A fé dos demônios tem um estágio mais avançado de fé que muitos crentes, porque a fé dos demônios não é apenas intelectual, mas também emocional - eles creem e tremem. No que os demônios creem? O Rev. Hernandes Dias, citando Warren Wiersbe, responde a essa pergunta: (1)

Em primeiro lugar, os demônios creem que Deus é um só. Os demônios creem na existência de Deus. Eles não são nem ateístas nem agnósticos. Eles creem na "shemma" judaica: "Ouve ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor". Mas essa crença dos demônios não pode salvá-los.

Em segundo lugar, os demônios creem na divindade de Cristo. Os demônios corriam para ajoelhar-se diante de Cristo para adorá-lo (Mc 3:11,12). Eles sabiam quem era Jesus. Eles se prostravam aos pés do Senhor Jesus.

Em terceiro lugar, os demônios creem na existência de um lugar de penalidades eternas. Eles sabem que o inferno foi criado para o diabo e seus anjos. Eles sabem que o inferno é destinado para todos aqueles cujos nomes não forem encontrados no Livro da Vida. Eles não negam a existência do inferno (Mt 8:29; Lc 8:31). Eles creem nas penalidades eternas.

Em quarto lugar, os demônios creem que Cristo é o supremo Juiz que os julgará. Os demônios sabem que terão de comparecer diante de Cristo, o supremo juiz. Eles creem no julgamento final. Eles creem que todo joelho se dobrará diante de Cristo.

Entretanto, os demônios estão perdidos, eternamente perdidos. Uma fé meramente intelectual e emocional coloca-nos apenas no patamar dos demônios.

Portanto, irmãos, não basta somente “crer”. É necessário que a fé seja compromissada com ação. Tiago demonstra que a fé não consiste em um discurso, mas em convicção autêntica, seguida da prática de obras de amor. Em Tiago 2:18 é mostrado que a única maneira de os outros saberem que você tem fé é por uma vida que a comprove - “...mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. Neste versículo a palavra-chave é “mostrar”. É impossível mostrar fé sem obras. A verdadeira fé e as obras são inseparáveis.

Tiago apresenta dois exemplos de fé operante encontrados no Antigo Testamento: Abrão, um hebreu, e Raabe, uma gentia. Vejamos mais detalhes nos itens seguintes.

2.  Abraão.Porventura Abraão, o nosso pai, não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?” (Tg 2:21). Abraão ouviu a voz de Deus e o obedeceu quando Ele ordenou que o patriarca oferecesse seu filho em holocausto. Abraão foi obediente à ordem de Deus porque cria que Ele era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar (Hb 11:18 - ARC). Foi sem dúvida uma prova difícil, mas Abraão confiou que Deus iria fazer o melhor, pois Ele mesmo havia prometido que faria de Abraão uma grande nação.

Para entendermos corretamente a afirmativa de Tg 2:21 devemos ler Gênesis 15:6. Nesta passagem, observamos que Abraão creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça. Abraão foi justificado por crer, ou seja, pela fé. Só mais adiante, em Gênesis 22, vemos Abraão oferecer seu filho e ser justificado por obras. Assim que creu no Senhor, Abraão foi justificado. Mas, no capítulo 22, Deus provou essa fé. O patriarca demonstrou a autenticidade de sua fé por meio da disposição de oferecer Isaque. Com a obediência, deixou claro que sua fé não era apenas uma crença intelectual, mas um compromisso do coração. A disposição de oferecer Isaque foi uma demonstração prática de fé do patriarca Abraão. Suas boas obras o levaram a ser chamado amigo de Deus (Tg 2:23).

3. Raabe. “E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários e os despediu por outro caminho?” (Tg 2:25). Aqui, também, Tiago menciona o exemplo de Raabe. Essa mulher, que era meretriz, ouviu a Palavra de Deus e reconheceu que estava em uma cidade condenada. Ela não somente entendeu a mensagem, mas seu coração foi tocado (Js 2:11), e assim fez alguma coisa: protegeu os espias (Hb 11:31). Ela arriscou sua própria vida para proteger os espias. Mais tarde ela fez parte do povo de Deus (Mt 1:5) e tornou-se membro da genealogia de Cristo. Raabe não foi salva porque acolheu os espias, mas porque esse ato de hospitalidade comprovou que ela era, verdadeiramente, fiel ao Senhor.

Pergunta-se: Acaso essas obras de Abraão e Raabe, por si só, foram boas? Certamente não! No caso de Abraão, foi a disposição de matar o filho; no caso de Raabe, foi traição. Se removêssemos a fé dessas obras, elas seriam más, e não boas. Alguém disse que “sem a fé, essas obras seriam não apenas imorais e insensíveis, mas pecaminosas”. Se subtrairmos a fé de Abraão e Raabe, o resultado são obras do mal. Se as considerarmos frutos da fé, são obras da vida.

Conclui-se, então, que uma pessoa é também justificada por obras, e não somente por fé (Tg 2:24). Isso não significa que o cristão é justificado por fé acrescida de obras. A justificação se dá por fé em relação a Deus e por obras em relação aos homens. Deus justifica o cristão no momento em que ele crê. Alguém poderá dizer: “Mostra-me a realidade da tua fé”. A única maneira de fazer isso é por meio de boas obras.

III. A METÁFORA DO CORPO SEM O ESPÍRITO PARA EXEMPLIFICAR A FÉ SEM OBRAS (Tg 2:26)

1. Uma analogia do corpo sem espírito. Tiago termina a sua mensagem sobre fé e obras fazendo uma analogia do corpo sem espírito:Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tg 2:26).

Eis um excelente resumo da questão: Tiago compara a fé ao corpo humano, e as obras, ao espirito. O corpo sem espirito é morto, inútil e sem valor. De modo semelhante, a fé sem obras é morta, ineficaz e imprestável. Trata-se, obviamente, de uma fé espúria, e não da verdadeira fé salvadora.

Em síntese, Tiago testa nossa fé de acordo com a resposta que damos à seguinte pergunta: Estou disposto, como Abraão, a oferecer a Deus o que tenho de mais precioso? Estou disposto, como Raabe, a trair o mundo a fim de ser leal a Cristo? Ninguém é levado a agir se não tiver fé; a fé de uma pessoa não será real a menos que a leve à ação. A ação é a obediência a Deus.

2. Da mesma maneira: fé sem obras é morta. Tiago conclui a sua exortação, reafirmando seu tema central: a fé sem obras é morta. Do mesmo modo que o corpo sem seu espírito vivificante - “sem fôlego de vida” (Gn 2:7) -, não passa de um cadáver, assim também a fé, sem as obras que lhe dão vitalidade, é morta. Percebemos que Tiago está preocupado não com que as obras sejam “acrescentadas” à fé, mas, sim, com que se possua o tipo certo de fé, uma fé operante. Sem este tipo de fé, o cristianismo torna-se uma ortodoxia estéril e perde todo o direito de ser chamado de fé. (2)

CONCLUSÃO

A fé deve nos mover em prol de boas ações, não para sermos salvos, mas para demonstrar que somos salvos, que nossa fé não é estática, e que Deus pode usar nossas ações para fazer apresentar a fé pura e imaculada.

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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Revista Ensinador Cristão – nº 59 – CPAD.

William Macdonald - Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. Mundo Cristão.

(1) Rev. Hernandes Dias Lopes – Tiago (Transformando Provas em Triunfo). Hagnos.

(2) Douglas J. Môo. Tiago. Introdução e Comentário. Vida Nova.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Silas Daniel & Alexandre Coelho – Tiago – Fé e Obras. CPAD.