domingo, 25 de agosto de 2019

Aula 09 – A MORDOMIA DO TRABALHO – Subsídio


3º Trimestre/2019
Texto Base: 2Tessalonicenses 3:6-13
01/09/2019
''Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto: que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também" (2Ts.3:10).
2Tessalonicenses 3
6-Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós,
7-Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós,
8-nem, de graça, comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós;
9-não porque não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes.
10-Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto: que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também.
11-Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes, fazendo coisas vãs.
12-4 esses tais, porém, mandamos e exortamos, por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão.
13-E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem.

INTRODUÇÃO

Trataremos nesta Aula da Mordomia do Trabalho. A pessoa se revela através do seu trabalho. O Salmo 19 diz que Deus Se revela ao mundo através da Sua obra. Por meio da revelação natural, a existência de Deus é conhecida por todas as pessoas na Terra. Assim, o trabalho revela algo sobre aquele que o realiza; ele expõe o caráter subjacente, motivações, habilidades e traços da personalidade. Jesus repetiu este princípio em Mateus 7:15-20 quando declarou que as árvores ruins produzem apenas frutos ruins e boas árvores somente bons frutos. Isaías 43:7 indica que Deus criou o homem para a Sua própria glória. Em 1Coríntios 10:31, lemos que tudo o que fazemos deve ser para a Sua glória. O termo glória significa "dar uma representação precisa". Por isso, o trabalho feito por cristãos deve dar ao mundo uma imagem fiel de Deus em sua justiça, fidelidade e excelência. Podemos, então, e devemos, glorificar a Deus com o nosso trabalho.

I. O TRABALHO DE DEUS NA BÍBLIA

É fundamental que se compreenda que a origem do trabalho não começa conosco, começa com Deus. A Bíblia Sagrada é o compêndio apropriado para quem quer saber sobre a origem do Trabalho. O livro de Gênesis inicia a história da salvação revelando o trabalho de Deus na criação do Universo - “No princípio, Deus criou os céus e a terra” (Gn.1:1). Deus é o mais dedicado trabalhador.
Geralmente, nós consideramos que a história do trabalho tem começo a partir da Queda e termina quando Jesus voltar. De fato, essa história começou no Jardim do Éden, muito antes da Queda, e continuará no Novo Céu e na Nova Terra.

1. O Trabalho de Deus na criação do Universo

Na passagem de abertura das Escrituras Sagradas, Deus é o trabalhador primário, ocupado com a criação do Universo (Gn.1:1-15) - “No princípio, Deus criou os céus e a terra” (Gn.1:1). A Bíblia diz que Deus trabalhou por seis dias e descansou no sétimo (Êx.20:11; Ne.9:6). Nos primeiros dois capítulos de Gênesis, somos informados sete vezes que Deus criou algo e doze vezes que ele fez alguma coisa. Os atos de criar e de fazer são resumidos como seu trabalho - “No sétimo dia, Deus havia terminado sua obra de criação e descansou de todo o seu trabalho” (Gn.2.2).
Deus foi o primeiro a trabalhar sobre a terra; portanto, o legítimo trabalho reflete a atividade de Deus. Porque Deus é inerentemente bom, o trabalho também é inerentemente bom (Salmos 25:8, Ef.4:28). Além disso, Gênesis 1:31 declara que quando Deus viu o fruto do Seu trabalho, Ele disse que era tudo "muito bom", alegrando-se com o resultado. Por este exemplo é evidente que o trabalho deve ser produtivo e deve ser conduzido de uma maneira que produza um resultado da mais alta qualidade. A sua recompensa é a honra e a satisfação que vêm de um trabalho bem feito.

2. O Trabalho de Deus na criação do homem

O momento supremo do trabalho criativo de Deus não foi a criação de galáxias distantes, da fauna e da flora, mas a criação do homem e da mulher (Gn.1:27). Assim como o resto da criação, somos o produto do trabalho de Deus. No entanto, de forma singular e distinta de todos os outros seres criados, somos feitos à imagem de Deus. De todas as implicações desse fato, isso significa, principalmente, que fomos criados para ser um reflexo de Deus para o mundo, uma reapresentação dele na Terra. Vemos isso, primeiro, em Gênesis 1:28, que diz: 
“Sejam férteis e multipliquem-se. Encham e governem a terra. Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que rastejam pelo chão”.
Até esse ponto da narrativa, tudo o que Deus disse aos pássaros, aos peixes e aos outros animais foi dito também a Adão. Como todas as outras criaturas, estamos destinados a reproduzir. Mas Deus afirma que nós não fomos criados apenas para encher a terra, como os demais animais; nós devemos “governá-la” e “dominá-la” sobre tudo e sobre todos.
Temos trabalho a fazer, e não é qualquer trabalho. Trata-se de refletirmos, através do trabalho, a própria natureza de Deus. Deus é claramente Rei sobre a criação. Ele diz aos seres humanos: governem o mundo como meus representantes, os portadores da minha imagem. E foi só nesse ponto da narrativa que Deus declarou ser sua obra muito boa e depois descansou (confira Gênesis 1:27 – 2:3).

3. O Trabalho continua

Após criar o Universo, todas as criaturas viventes, a natureza, o ser humano, Deus continuou a trabalhar; Ele não se aposentou; não se isolou, fechando-se num céu muito distante e entregando a Terra e o ser humano à sua sorte, como afirmaram, e ainda afirmam alguns adeptos de heresias inspiradas por Satanás. Não! Deus nunca ficou alheio a tudo que acontece na Terra, conforme afirmou o Profeta Hanani: “Porque, quanto ao Senhor, os seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é perfeito para com ele...” (2Cr.16:9).
“Os olhos do SENHOR estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons” (Pv.15:3).
Deus, nas Pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo, da mesma forma que havia trabalhado na criação de todas as coisas e na reconstrução da Terra, continuou trabalhando, agora, num novo projeto.
O capítulo 2 de Gênesis inicia com Deus trabalhando novamente; só que, agora, não é o trabalho de criar, mas o trabalho de governar e de ordenar tudo o que Ele fez. Deus plantou um Jardim; literalmente, um Paraíso. Você pode imaginar como se fosse uma propriedade rural bem organizada, e lá Ele colocou o primeiro homem. Surge, então, uma pergunta: como Deus criou um Paraíso dentro de um mundo já perfeito? Resposta: Deus criou um lugar perfeitamente adaptado para o florescimento humano. Lá, ele colocou Adão. Está escrito: 
“O SENHOR Deus colocou o homem no jardim do Éden para cultivá-lo e tomar conta dele”(Gn.2:15).
Deus não é inerte, parado; Deus é vida, é ação. Ele trabalhou e continua trabalhando no Seu plano elaborado “desde a fundação do mundo” (Ap.13:8). Sobre o trabalhar contínuo de Deus, declarou o Senhor Jesus, em resposta a alguns acusadores: "Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também" (João 5:17). O Deus revelado nas Escrituras, o Criador dos céus e da terra, continua trabalhando em prol de sua criação.
“Tu visitas a terra e a refrescas; tu a enriqueces grandemente com o rio de Deus, que está cheio de água; tu lhe dás o trigo, quando assim a tens preparada; tu enches de água os seus sulcos, regulando a sua altura; tu a amoleces com a muita chuva; tu abençoas as suas novidades” (Sl.65:9,10).
“Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti, que trabalhe para aquele que nele espera” (Is.64:4).
Deus continua trabalhando e o homem deve trabalhar também. O papel dos seres humanos é trabalhar a Terra, tornando-a aquilo que pode sustentar a vida; e o papel de Deus é provê-la de tudo o que é necessária (Gn.8:22).
“Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e noite não Cessarão”.
Esses dois papéis da humanidade e de Deus são os fatores mais fundamentais da existência, cuja ausência significaria o estado do mundo antes da criação: sem forma e vazio.
É claro que, nesta Dispensação, o trabalho prioritário de Deus é, sem dúvidas, a preparação da Igreja. Porém, mesmo depois do Arrebatamento da Igreja, Deus não cessará de trabalhar, e nem nós, conforme nos advertem as Escrituras Sagradas.
“E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos o servirão” (Ap.22:3).

II. A BÍBLIA E A MORDOMIA DO TRABALHO

1. O homem foi criado para o Trabalho

O trabalho é dom de Deus, não um castigo pelo pecado. Mesmo anterior à Queda, o homem tinha deveres a cumprir. Deus estabeleceu atividades laborais que fizessem parte de sua vida (Gn.2:5,7,8,15).
5.Toda planta do campo ainda não estava na terra, e toda erva do campo ainda não brotava; porque ainda o SENHOR Deus não tinha feito chover sobre a terra, e não havia homem para lavrar a terra.
7.E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.
8.E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, da banda do Oriente, e pôs ali o homem que tinha formado.
15.E tomou o SENHOR Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar.
“Deus organizou deliberadamente a vida de tal maneira que ele precisa da cooperação dos seres humanos para o cumprimento dos seus propósitos. Ele não criou o planeta Terra para ser produtivo por si mesmo; os seres humanos têm que subjugá-lo e desenvolvê-lo. Ele não fez um jardim cujas flores se abririam e os frutos amadureceriam por conta própria; Ele designou um jardineiro para cultivar a terra. Chamamos isso de “mandato cultural”, que Deus deu à raça humana. “Natureza” é o que Deus nos dá; “cultura” é o que nós fazemos com ela. Sem um agricultor humano, todo jardim ou campo se degeneraria rapidamente, transformando-se num deserto.
Na verdade, Deus fornece o solo, a semente, o sol e a chuva, mas nós temos que arar, plantar e colher. Deus fornece as árvores frutíferas, mas nós temos que podá-las e apanhar os frutos. Como Lutero disse certa vez num sermão sobre Gênesis, ‘Pois por seu intermédio Deus trabalhará todas as coisas; ele vai ordenhar as vacas e desempenhar as tarefas mais humildes por meio de você, e todas as tarefas, da maior até a menor, serão agradáveis a ele’. De que valeria a provisão que Deus faz para nós de uma vaca cheia de leite se nós não estivéssemos lá para ordenhá-la?
Assim, há cooperação, na qual nós realmente dependemos de Deus, mas na qual ele também depende de nós. Deus é o Criador; o homem é o agricultor. Cada um necessita do outro. No bom propósito de Deus, criação e cultivo, natureza e criação, matéria-prima e perícia profissional humana são indissociáveis. Esse conceito de colaboração divino-humana é aplicável a todas as tarefas honrosas” (John Stott. Os cristãos e os desafios contemporâneos).
Devemos administrar com eficiência os bens do nosso Criador e Senhor. Ele se humilhou e nos honrou ao fazer-se dependente da nossa cooperação. Qualquer que seja nosso trabalho – no ensino, na medicina, nas leis, nos serviços sociais, na arquitetura ou construção, nas políticas nacional ou local, ou no serviço civil, na indústria, no comércio, no cultivo do solo ou na mídia, em pesquisa, na administração, no serviço público, nas artes, em casa, na área de tecnologia, na Igreja – devemos fazê-lo como sendo cooperação com Deus.

2. O Trabalho antes da Queda

Antes da Queda, Deus criou um lindo Jardim para que Adão trabalhasse, cuidasse dele e fosse sua morada. As duas primeiras atividades laborais de Adão, o primeiro homem, foram "lavrar" e "guardar" a terra. A mulher, Eva, é criada como sua ajudante e companheira (Gn.2:18). Assim, Adão e Eva deveriam, literalmente, cultivar o Jardim, fazê-lo crescer e florescer; eles também foram colocados lá para guardá-lo e para protegê-lo de qualquer coisa que pudesse danificá-lo ou prejudicá-lo.
Tudo isso é muito importante porque o trabalho que Deus deu a Adão e Eva é o paradigma para todo trabalho humano. Para entendermos melhor, pense por um momento sobre o Jardim do Éden. Aquele era o lugar que Deus projetou para o florescimento humano. Não há mais nada na Terra para eles fora daquele lugar.
  • O Éden era a casa, onde eles viviam o casamento e criavam a sua família.
  • O Éden era o templo, onde eles se encontravam com Deus.
  • O Éden era o local de trabalho, onde se empregavam produtivamente naquilo que Deus lhes deu para fazer.
Você e eu nunca experimentamos o que eles experimentaram: um mundo no qual as divisões e os conflitos de interesse entre igreja, local de trabalho e família não existiam. Naquele mundo incrível, o trabalho deles era tomar aquele Jardim-Casa-Templo-Local-de-trabalho e protegê-lo, cultivá-lo, fazê-lo florescer e crescer, até que o mundo inteiro, e não apenas aquele pequeno cantinho, tornasse um paraíso. Por que eles deveriam fazer tudo isso? Porque eles foram criados à imagem de Deus.
  • Assim como Deus criou, eles deveriam criar.
  • Assim como Deus governou e tomou conta, eles deveriam governar e cuidar.
  • Assim como Deus criou um mundo frutífero e florescente, eles deveriam proteger e promover esse florescimento e fecundidade.
O trabalho desse primeiro casal, como representante de Deus, era pegar o que Deus tinha começado e levar adiante – para revelar a glória do Criador. O propósito do trabalho não era revelar quem eles eram ou poderiam se tornar através do que faziam; o objetivo era revelar, através do trabalho deles, quem Deus realmente é: Criador, Governador, Protetor e Provedor de todas as coisas. Tendo sido criados à imagem do Criador, o trabalho de Adão e Eva testificaria dEle.
O propósito original do trabalho humano era o avanço do florescimento humano para a glória de Deus. Nosso trabalho, em qualquer esfera que operemos – em casa, na igreja, no local de trabalho – é mostrar a bondade e a magnificência do caráter divino como portadores que somos da imagem de Deus. Fazemos isso enquanto cultivamos o “jardim” que nos foi confiado, para o florescimento dos seres humanos ao nosso redor, para o louvor da glória de Deus.

3. O Trabalho depois da Queda

Antes da Queda, a verdadeira felicidade preenchia todo o Jardim do Éden. Mas, depois da Queda, veio o caos. Não sabemos quanto tempo decorreu entre o dia em que Adão conseguiu seu primeiro emprego e o dia em que tudo deu errado. O que está claro, porém, é que uma maneira de entender o que os teólogos chamam de Queda é entender que Adão e Eva caíram no trabalho. Lembre-se: eles foram colocados no Jardim para cuidar dele; eles eram os mordomos de confiança do Criador e dono da Terra; eles deveriam cuidar dele e guardá-lo. Contudo, em ambos os casos – cuidar e guardar o Jardim -, eles falharam.
Satanás, o inimigo de Deus e dos homens, apareceu no Éden. O primeiro casal, em vez de proteger o Jardim, expulsando de lá o adversário, estenderam-se com ele numa trágica conversa (Gn.3:1-5). Depois, no final da conversa, em vez de administrarem o Jardim, eles tentaram usá-lo para si mesmos (Gn.3:6), abusando de sua própria autoridade e arruinando-a para toda a posteridade. Logo após, Adão e Eva perceberam que puseram tudo a perder (Gn.3:7).
O Senhor do Jardim, Deus, apareceu para inspecionar o trabalho, mas Adão e Eva estavam escondidos em um local qualquer - “entre as árvores do Jardim” (Gn.3:8-9). Todos sabemos como é obter uma avaliação negativa de desempenho no trabalho. Alguns de nós sabem inclusive o que é ser demitido, mas o que Adão e Eva experimentaram foi pior do que qualquer uma das situações que citei. Eles foram expulsos do Jardim, mas eles não foram aliviados de suas responsabilidades; eles ainda eram responsáveis por representar a Deus; eles ainda deviam trabalhar. Mas, as condições de seu trabalho mudaram radicalmente: o mundo onde agora trabalhariam estava amaldiçoado por causa de seus pecados. Em Gênesis 3:17-19 está assim escrito:
“E a Adão disse: Porquanto destes ouvidos à voz de tua mulher e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás”.
Observe que, por causa da Queda, tudo foi distorcido na vida do ser humano. Três coisas aconteceram com o trabalho de Adão e Eva, e também aconteceriam com a sua posteridade, chegando até nós.
3.1. O trabalho tornou-se infrutuoso e com fadiga. Mesmo que Adão trabalhasse penosamente no solo, durante toda a sua vida, o solo estava amaldiçoado sob seus pés.
“Maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também te produzirá; e comerás a erva do campo” (Gn.3:17,18).
Há quem pense que o trabalho é parte da maldição, porém a Bíblia não ensina tal coisa; ensina, sim, que a maldição transformou o trabalho bom em algo infrutuoso e com fadiga (Gn.3:17). A maldição está mais ligada à tristeza, à frustração, ao cansaço que acompanham o trabalho.
Por causa da Queda, aspirações vão constantemente ser vencidas pela realidade, e por mais duro que se tente, a realidade nunca vai mudar, pois a Terra foi amaldiçoada. Por mais que se trabalhe duro, por vezes, o que se experimenta é futilidade, penúria, inutilidade, insignificância.
Toda a raça humana e a própria natureza ainda continuam sofrendo como consequência do juízo pronunciado sobre o primeiro pecado. O apóstolo Paulo fala poeticamente de uma criação que "geme e está juntamente com dores de parto até agora" (Rm.8:22). O que era leve, suave e agradável, por causa do pecado, tornou-se pesado, brutal e desagradável.
Mas, Deus faz uma promessa de um juízo redentivo (Gn.3:15). Ao invés de lançar apenas juízos inclementes e condenatórios sobre o casal, Deus, o Justo Juiz, abriu um espaço para a redenção - “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. É a mais gloriosa promessa de redenção, de soerguimento do homem da condenação e da maldição da Terra.
3.2. O trabalho tornou-se penoso, desgastante - “No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn.3:19). Isso é tão básico para a nossa experiência com o trabalho que é difícil imaginar como o trabalho deve ter sido antes da Queda. Afinal, até mesmo um trabalho que amamos tem pelo menos algum aspecto que é cansativo, tedioso e mesmo doloroso.
No mundo caído, o trabalho é penoso, desgastante. Inúmeras são as pessoas que se encontram mentalmente esgotadas e cansadas por causa de suas atividades profissionais. Os consultórios médicos estão lotados de pessoas com estafa e estresse. Muitos suicídios acontecem por causa do trabalho estafante, penoso. Há textos na Bíblia que nos lembram dessa realidade: "Tenho visto o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os afligir" (Ec.3:10). Jó também declarou: "...o homem nasce para o trabalho, como as faíscas das brasas se levantam para voar" (Jó 5:6,7).
3.3. O trabalho tornou-se um ato compulsório de sobrevivência. O que era um ato livre de adoração agora é um ato compulsório de sobrevivência. Disse Deus: “No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn.3:19). No Jardim, Adão não tinha de trabalhar para comer. Deus tinha plantado um pomar, e tudo o que Adão precisava estava lá para pegar e comer. Mas, agora há uma urgência, uma compulsão, uma ordem para trabalhar. Como Paulo disse: “Quem não quiser trabalhar não deve comer” (2Ts.3:10). Não é que o trabalho tenha, agora, se tornado ruim; não é que o trabalho seja punição pelo pecado; é que, num mundo caído, o trabalho penoso e infrutuoso é também implacável. Gostemos ou não, devemos trabalhar. Nós não podemos escapar dele, exceto na morte.

III. PRINCÍPIOS CRISTÃOS PARA O TRABALHO

1. O homem deve trabalhar "com o suor de seu rosto"

Após a Queda, o trabalho tornou-se difícil. Por causa do pecado as pessoas têm de trabalhar muito para conseguir alcançar os resultados que antes da Queda eram bem mais tranquilos. Lendo o texto de Gênesis 3:19 podemos entender isso: “Terá de trabalhar no pesado e suar para fazer com que a terra pro­duza algum alimento”.
Por causa do pecado do primeiro homem, Adão, temos que trabalhar pesado para conseguirmos os resultados desejados. Apesar disso, Deus é bom o suficiente para fazer com que o nosso trabalho tenha significado e ajude outras pessoas, principalmente quando nós estivermos fazendo a coisa certa, que é aquilo que está ligado à sua missão aqui na terra.
Portanto, todas as pessoas precisam trabalhar, a não ser aquelas que tenham algum impedimento físico ou mental.
O apóstolo Paulo foi enfático com os cristãos da igreja em Tessalônica: “Quando estávamos aí, demos esta regra: Quem não quer trabalhar, que não coma” (2Ts.3:10). Por que ele disse isso? Será que tinha raiva do pessoal de lá? Claro que não. Ele sabia que, segundo o plano de Deus, deve­mos ganhar o nosso pão de cada dia por meio do trabalho.

2. Trabalhar sem ansiedade

Ansiedade é desejo veemente e impaciente, é aflição, agonia, é falta de tranquilidade, é receio. É possível trabalhar sem ansiedades quando se tem Fé e quando se tem Paz. A Fé funciona como antídoto, ou agente neutralizador da ansiedade. Quem tem Fé não se desespera. Davi tinha Fé, por isto afirmou: “Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor” (Salmos 40:1). Quem tem Fé para esperar com paciência não pode padecer de ansiedades. Você é uma pessoa de Fé? Se sua resposta for afirmativa, então, a ansiedade não poderá nunca encontrar guarida em seu coração, pois, pela fé, você tem “a prova das coisas que se não veem”. Consola-nos o apóstolo Pedro: “lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1Pd.5:7).
Ansiedade contrasta, também, com a Paz; são duas virtudes antagônicas. Onde existe uma, não pode existir a outra. No coração do homem que tem paz, não pode haver ansiedade. A paz é uma herança que o Senhor Jesus deixou aos seus discípulos (João 14:27). Você é um discípulo de Jesus? Se sua resposta for afirmativa, então, descanse na sua Paz!
2.1. É possível trabalhar sem ansiedade quando se sabe estar realizando a vontade de Deus.  Para o homem sem Deus, ou até para aquele que se diz “crente”, mas não conhece a Palavra de Deus, trabalhar se torna uma obrigação, um agente gerador de ansiedade. Trabalham, mas, trabalham de mal com o trabalho, vendo na pessoa do patrão, um agente escravizador. Isto não pode acontecer com aquele que conhece a Palavra de Deus.
O trabalho foi instituído por Deus, mesmo antes da Queda do homem; trabalhar, portanto, significa cumprir a vontade de Deus. Para um filho de Deus ter um trabalho e poder tirar dele sua subsistência, deve ser considerado como uma bênção, não como um sacrifício. Você já agradeceu a Deus, hoje, pelo seu emprego, ou pela sua profissão?
2.2. É possível trabalhar sem ansiedade quando aprendemos a contentar com o que temos. A ganância, o desejo incontido de ter aquilo que não se pode ter em consequência do pouco que ganha, é motivo que leva a pessoa a trabalhar com ansiedade. Paulo não tinha este problema, pois, podia dizer: “já aprendi a contentar-me com o que tenho” (Fp.4:11). Esta é uma receita capaz de neutralizar o desejo incontido, a cobiça, a ambição, que são agentes geradores de ansiedades.
  • É por não saber contentar com o que tem, que alguns, crentes e não crentes, afundam no crediário, contraindo dívidas sem planejamentos.
  • É por não saber contentar com o que tem que muitos abusam dos cartões de crédito e dos cheques pré-datados.
  • É por não saber contentar com o que tem que muitos insistem em viver de aparência, tentando manter um “status” artificial, não concordando em ser o que realmente são. Um homem de Deus não pode viver de aparência, precisa ser o que realmente é.
Uma má administração financeira, pessoal, ou familiar, leva ao desequilíbrio entre receita e despesa, ou entre o que se ganha e o que se gasta. Isto acontece, muitas vezes, por não saber contentar-se com o que tem.
Trabalhar sabendo que não terá o suficiente para cobrir os compromissos assumidos, pode ser motivo para trabalhar com ansiedades.

3. Trabalhar para não ser pesado a ninguém

Este é um princípio ensinado pelo apóstolo Paulo aos cristãos de Tessalônica, e que se aplica a todos nós. Ele mesmo se dispôs a trabalhar, “noite e dia”, para não dar despesas aos cristãos daquela igreja, para não se aproveitar da bondade deles (cf. 2Ts.3:8).
O apóstolo Paulo é enfático na sua advertência quanto ao dever de trabalhar (2Ts.3:10), e que o trabalho é a forma corriqueira de aquisição de bens materiais de acordo com a Palavra de Deus. Mas, também, nos mostra que deve ser privado de ajuda aquele que não quer trabalhar, ou seja, aquele que, deliberadamente, prefere o ócio ao trabalho, sendo, assim, rebelde à ordenança do Senhor.
Há muitas pessoas, nos nossos dias, que passam por sérias necessidades econômico-financeiras, estão na miséria, mas não em razão da desigualdade social ou do desemprego, mas por não quererem trabalhar, por recusarem seguir a ordem divina do trabalho. Muitos dizem: para que trabalhar, se a vida é tão efêmera, passageira, e que Jesus já está às portas? A consciência da transitoriedade da “figura deste mundo” (cf. 1Co.7:31) não isenta ninguém de trabalhar (cf. 2Ts.3:7-15), pois o trabalho é parte integrante do ser humano, mesmo não sendo a única razão desta vida.
Nenhum cristão deve sentir-se no direito de não trabalhar e de viver às custas dos outros (cf. 2Ts.3:6-12); todos são exortados pelo apóstolo Paulo a tomar como um ponto de “honra” o trabalhar com as próprias mãos de modo a não ter “necessidade de ninguém” (1Ts.4:11,12), e a praticar uma solidariedade também material, compartilhando os frutos do trabalho com “os necessitados” (Ef.4:28).
“e procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos, como já vo-lo temos mandado; para que andeis honestamente para com os que estão de fora e não necessiteis de coisa alguma” (1Ts.4:11,12).
“Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade” (Ef.4:28).

4. A Bíblia condena expressamente a preguiça (Pv.6:6,9; 13:4; 19:24)

Conhecida é a passagem em que Salomão manda o preguiçoso observar a formiga, e manda que observe os caminhos dela e seja sábio, passando a trabalhar (Pv.6:6); como também o provérbio em que considera o preguiçoso como o filho que envergonha (Pv.10:5), o falta de juízo (Pv.12:11) e um candidato à pobreza (Pv.20:13). Uma das características da mulher virtuosa é o fato de não ser preguiçosa, mas trabalhadora (Pv.31:13). Assim, como podemos ter alguém que se diz servo de Deus e é preguiçoso?
As palavras do apóstolo Paulo foram muito claras e incisivas: “se alguém não quiser trabalhar, que não coma também” (2Ts.3:10b). Lamentavelmente, muitas igrejas locais têm deixado de lado este ensino bíblico, o que tem gerado um sem-número de distorções, em prejuízo dos mais necessitados.
Porém, se o problema não for preguiça, mas uma involuntária causa que impeça a pessoa de trabalhar, como é o caso dos inválidos, dos idosos e demais incapacitados para o trabalho, aí, sim, deve atuar um serviço de ação social, de assistência social, a fim de suprir as necessidades básicas dessa pessoa, que não pode trabalhar, embora o queira. Aliás, é este o limite que deve discernir quem deve e quem não deve ser ajudado pela assistência social de uma Igreja Local.
Mesmo no caso de estarmos desempregados, não temos desculpa para ficar ociosos. Enquanto estivermos sem trabalho remunerado devemos: gastar tempo à procura do trabalho digno; trabalhar no que vier à mão para fazer, pois todo trabalho dignifica a pessoa. A prática da parábola dos talentos (Mt.25:14-30), como ensino sobre nosso empenho no reino de Deus, também pode ser aplicado no cotidiano: fiéis no pouco, sobre muito serão colocados. Não comamos o pão da preguiça, jamais!

5. A relação de empregados e empregadores

Nas relações de trabalho, os empregadores e os empregados cristãos devem manifestar os valores da Palavra de Deus. A visão bíblica com relação a este aspecto é que deve haver responsabilidades entre o empregador e o empregado.
O empregador deve glorificar a Deus honrando os seus empregados, e o empregado deve honrar o seu patrão sendo honesto com ele e dedicado nas tarefas e atividades. Quando uma das partes quebra esse compromisso cristão está instalado a desonra a Deus (Ef.6:5-9).
Os empregados cristãos não devem fugir ao seu compromisso de trabalho; antes, devem executá-lo como se fosse ao Senhor.
“Vós, servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo, não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade como ao Senhor e não como aos homens, sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre”(Ef.6:5-8).
Os patrões cristãos têm o dever de zelar pelos direitos trabalhistas de seus empregados, sob pena de serem condenados por Deus (Tg.5:4).
“Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras e que por vós foi diminuído clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos” (Tg.6:5-8).
“E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu e que para com ele não há acepção de pessoas” (Ef.6:9).

CONCLUSÃO

O Trabalho não é fruto do pecado, mas da Criação e é dádiva de Deus; é uma vocação de Deus para o ser humano, que, em sua natureza, não pode viver sem o trabalho. Quando isso ocorre, ele viola a sua própria natureza e a diretriz que o Criador lhe deu. É vergonhoso que, em nome de qualquer coisa, o ser humano venha a recusar-se de trabalhar. Deus espera que seus filhos trabalhem, glorificando a Deus e abençoando o próximo. É dessa perspectiva que devemos exercer a nossa Mordomia no Trabalho.
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 79. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. Trabalhando sem ansiedade. Portal-EBD_2005.
Pr. Elinaldo Renovato. Tempo, Bens e Talentos – Sendo mordomo fiel e prudente com as coisas que Deus nos tem dado. CPAD.
John Stott. Os cristãos e os desafios contemporâneos.


domingo, 18 de agosto de 2019

Aula 08 – A MORDOMIA DO TEMPO – Subsídio


3º Trimestre/2019
Texto Base: Eclesiastes 3:1-8
"Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus" (Ef.5:15,16).
Eclesiastes 3.1-8
1-Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu:
2-há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;
3-tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar;
4-tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar;
5-tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar;
6-tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora;
7-tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar;
8-tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos da Mordomia do Tempo. O Tempo é um fator fundamental da vida. Saber administrá-lo é imprescindível, porém, é um grande desafio. Como criaturas, somos submetidas ao tempo, mormente depois que entrou o pecado na humanidade, de modo que a administração do tempo é um dos importantes desafios que o crente tem para poder servir fielmente ao Senhor.
Uma das grandes armas de nosso adversário está, precisamente, na tarefa de roubar o nosso tempo. Muitas pessoas têm usado o seu tempo disponível de forma desordenada e sem disciplina, e por isso tem a sensação de que o tempo é curto para tudo o que realiza. Em qualquer cidade grande o que se observa é: pessoas correndo, nervosas, atrasadas; motoristas avançando sinal, buzinando, desesperados; pessoas que não conseguem cumprir os horários, pessoas que não comparecem para cumprir compromissos assumidos, pessoas impontuais...escravos “nas mãos” do tempo. A causa de tudo isto está na má administração do tempo. O homem tem que ser senhor, e não escravo do tempo; precisa dominá-lo, e não ser dominado por ele. 
O tempo é precioso e devemos remi-lo, como nos recomendam as Escrituras Sagradas (Ef.5:16; Cl.4:5). Que possamos orar como o salmista: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio” (Salmos 90:12).

I. CONCEITOS IMPORTANTES

1. A palavra Tempo

A expressão tempo deriva-se do latim, “tempus”, significando um período contínuo e indefinido no qual os eventos se sucedem. No grego, língua na qual foi escrito o Novo Testamento, tempo deriva-se “chronos”; de “chronos” temos duas expressões bem populares: Cronologia e Cronômetro. Cronologia é a ciência que cuida da medição do tempo, ou é a ciência das divisões do tempo e da determinação da ordem e sucessão dos acontecimentos. Cronômetro é um instrumento de precisão capaz de medir o tempo em frações de segundos.
Literalmente, o tempo é uma sucessão de dias, meses, anos, horas, minutos e segundos, que dá ao indivíduo uma noção de passado, presente e futuro. Enquanto o tempo é dividido em milênios, séculos, anos, meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos, milésimos de segundos, a nossa vida é construída de incontáveis momentos. O momento é uma unidade indivisível de tempo que ninguém pode calcular.

2. O Tempo na Bíblia e na Teologia

O Tempo na Bíblia e na Teologia relaciona-se com os aspectos temporais e eternos da vida humana.
a) No princípio - a Eternidade. Só Deus tem o atributo da eternidade. Ele não tem princípio e nem fim. Está escrito: “... de eternidade a eternidade, tu és Deus’’(Sl.90:12). De Jesus, o texto sagrado diz que Ele é o “... Pai da eternidade...”(Is.9:6).
Por definição, eterno é o que não tem princípio e não terá fim; é diferente de imortal. O imortal teve um princípio, só não terá fim. O eterno está acima do tempo; o imortal está limitado dentro dele. O homem, bem como todas as criaturas que compõem o mundo espiritual, incluindo Satanás, são imortais, mas não são eternas, visto que tiveram um princípio de existência, o que os vincula ao tempo.
Na eternidade, onde Deus habita (Is.57:15), não se mede o tempo como nós medimos. O Senhor pode, simultaneamente, responder as orações de milhões de pessoas (Jr.33:3), dar comida aos corvos (Lc.12:24), fazer maravilhas (Sl.72:18), e ainda compadecer-se e abençoar o parto das cabras monteses, bem como das gazelas nas savanas africanas (Jó 39:1-3), dentre muitas outras tarefas espalhadas por todo o imenso universo de aproximadamente trezentos bilhões de galáxias. Isso não é nada para o Todo-Poderoso, o qual é o Pai da eternidade (Is.9:6).
b) A vida humana é temporal (Sl.90:10; Sl.103:15,16; Tg.4:14). Estes textos, dentre outros, afirmam que vida física do ser humano é passageira, é temporal, por isso o tempo de sua vida é precioso e precisa ser administrado de forma a aproveitá-lo bem.
“A duração da nossa vida é de setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o melhor deles é canseira e enfado, pois passa rapidamente, e nós voamos” (Sl.90:10).
“Porque o homem, são seus dias como a erva; como a flor do campo, assim floresce; pois, passando por ela o vento, logo se vai, e o seu lugar não conhece mais” (Sl.103:15,16).
c) O Tempo da vida do ser humano após a morte. Neste mundo terrenal, a vida do ser humano é temporal. Todavia, após a morte, ele vai viver eternamente, com Deus ou sem Deus. A escolha é do ser humano. A garantia de uma eternidade ditosa está na mordomia, sábia e piedosa, do tempo em que vivermos nesta vida. Aqui, no mundo terrenal, a vida é mais que respirar, comer, beber, dormir, trabalhar e se mover sobre a terra. Há algo além dessa vida física e material que deve estar na nossa consciência. Jesus disse: “Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do o vestido?” (Mt.6:25). Disse o apóstolo Paulo: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1Co.15:19).

3. Deus é o Criador e o Senhor do Tempo

Foi Deus quem criou o tempo; ele foi criado para que pudéssemos estabelecer uma ordem nas tarefas que nos foram determinadas para fazer. Deus é um Deus de ordem e quer que o homem, como Sua imagem e semelhança, seja, também, ordenado como Ele. Para tanto, criou o tempo.
Deus estabeleceu um tempo para todas as coisas debaixo do sol (Ec.3:1), e tem um propósito para todas as suas obras, pois não faz nada ao acaso. Ele criou o mecanismo para contar e dividir o tempo.
 “E disse Deus: haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre dia e noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos”(Gn.1:14).
Isto Deus fez não porque ele precisasse do tempo; Ele é o Senhor do Tempo e não pode ser limitado por ele - “um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia” (2Pd.3:8). Quando Deus criou todas as coisas, fê-lo sobre a perspectiva do tempo. Com efeito, as Escrituras indicam, logo no seu início, que "no princípio, criou Deus os céus e a terra"(Gn.1:1), revelando, portanto, que o tempo é algo próprio e adequado para as criaturas. A maioria dos estudiosos da Bíblia concorda que esse "princípio" é indefinido, pois é o "tempo de Deus", ou o seu kairós. João 1:1,2 expressa esse mesmo princípio – “No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus”.
3.1. A origem do Tempo - Chronos. A partir do século XX, com o surgimento da teoria do Big Bang, a maioria dos cientistas passou a defender que o universo teve um marco inicial há mais de 13 bilhões de anos, quando um "átomo primordial" teria explodido, dando origem a tudo.
Porém, inexistem dados aferíveis cientificamente que comprovem a hipótese do Big Bang, como também não há revelação bíblica que indique a ocorrência de uma grande explosão no passado remoto, que tivesse liberado energia criadora. Aliás, uma explosão tem como resultado uma desorganização, e o universo é perfeitamente organizado e equilibrado, regido por leis impressionantemente e intencionalmente definidas.
Tanto a Bíblia como a ciência concordam que o universo teve um início. Assim, se houve um início para o universo, é inegável admitir que existiu uma época - antes de Génesis 1:1 - em que não havia matéria, nem espaço para a conter, como também não havia tempo a ser contado (chronos). Era apenas a eternidade. Então, Deus decidiu criar todas as coisas, submetendo-as às regras do tempo.
Portanto, o “chronos” - termo grego para "tempo", que pode ser medido, contado e definido -, teve um princípio, foi criado por Deus; ele pode ser medido, dividido, analisado ou estudado. Além de incluir o "dia" de 24 horas, também refere-se a semanas, meses, anos, décadas, etc.
A importância do “chronos” se dá, dentre outras coisas, pela necessidade do estabelecimento de ciclos para todas as obras formadas, bem como para que o homem, a obra prima da criação, pudesse conhecer e buscar a Deus.
3.2. O tempo de Deus - Kairós. “Kairós” é uma palavra de origem grega, que significa "momento certo", "tempo oportuno", em oposição a “chronos”, que traz a ideia de tempo sequencial, cronológico, quantitativo.
-O salmista sabia disso, por isso se expressou: “Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite”(Sl.90:4).
-O apóstolo Pedro revelou que, para Deus, o tempo não pode ser avaliado com as mesmas categorias humanas de medição: "Mas, amados, não ignoreis uma coisa: que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos, como um dia" (2Pd.3:8).
-Jesus também ensinou que não se pode definir o tempo de Deus, o “Kairós” - "E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder" (At.1:7).
3.3. Chronos x Kairós. O nosso tempo é o “Chronos”, que significa o tempo medido em semanas, horas e minutos, o tempo que corre; nós o usamos para alcançar um fim. Queremos o máximo de chronos para fazer o máximo de coisas. Por isso é que andamos fisicamente fatigados e emocionalmente estressados.
O Tempo de Deus é o “Kairós”, o tempo indeterminado em que algo especial acontece. Não pode ser medido e sim vivido. Dificilmente, Chronos coincidirá com Kairós. Portanto, estabelecer prazo para Deus cumprir o desejo de alguém, por mais piedosa que ele seja, é atentar contra a soberania de Deus.
Muitas vezes queremos que as coisas aconteçam na nossa hora, mas Deus sabe o momento certo para agir na nossa vida. A grande lição é saber esperar o tempo certo, pois é assim que o livro de Eclesiastes 3:1-10 nos ensina – “tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu” (Ec.3:1).
Todavia, esperar não é uma tarefa fácil, principalmente na atualidade, onde as pessoas vivem sob a pressão do imediatismo. Hoje, tudo tem que ser instantâneo, imediato; até mesmo as bênçãos de Deus ninguém quer esperar. Contudo, saber aguardar o momento certo, o Kairós de Deus, é uma virtude que toda pessoa de Deus precisa apreender.
Em determinadas situações, não podemos fazer absolutamente nada, a não ser esperar e confiar que os planos do Eterno jamais poderão ser frustrados. Essa certeza faz com que os servos de Deus esperem, com paciência e sem amargura ou dor, naquele que pode todas as coisas.

II. A MORDOMIA DO TEMPO

A Doutrina da Mordomia se assenta em dois pilares: na existência de um Senhor, o dono dos bens, e na existência de um servo a quem o Senhor confia os seus bens para serem administrados, ou cuidados. Pela Bíblia sabemos que Deus é o Senhor, o dono de todas as coisas que por Ele foram feitas ou criadas. Entre todas estas coisas está o Tempo. Assim, o tempo não apenas pertence como também está sob o controle de Deus. As coisas, as mais variadas, como salientou Salomão em Eclesiastes 3:1-8, só acontecem por sua vontade e determinação, e de acordo com o tempo que Ele estabelecer.

1. Remindo o Tempo

O tempo é um bem precioso e devemos remi-lo, como nos recomendam as Escrituras (Ef.5:16; Cl.4:5).  Remir o tempo significa usá-lo com sabedoria para as coisas que são verdadeiramente importantes.
“Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus" (Ef.5:15,16).
O Tempo é irreversível, é o único bem que não podemos recuperar. As Escrituras ensinam que nem todo tempo é igual e que, passado este tempo, não haverá mais o que se fazer (Dn.5:26; Mt.25:10-13). Um provérbio chinês muito conhecido diz que quatro coisas não voltam atrás, e uma delas é o tempo perdido. Quando vemos a narrativa da criação, verificamos que, quando um dia terminava, ele não podia voltar mais. Ao dia primeiro, seguiu-se o segundo, ao segundo, o terceiro, e assim por diante, precisamente porque o tempo é irreversível. Várias passagens das Escrituras mostram-nos esta realidade.
Se há um tempo determinado para cada coisa, este tempo, também, é único. Não se pode perder a oportunidade.
-Salomão deixou bem claro que há um tempo para cada ação e que, passado este tempo, ele é irreversível (Ec.3:1-8).
-O salmista afirma que fazia a sua oração num tempo aceitável (Sl.69:13).
-O profeta diz que Deus ouviu o Seu servo no tempo favorável (Is.49:8) e que devemos buscar ao Senhor enquanto se pode achá-lo (Is.55:6).
-O poeta, por sua vez, afirma que o inverno passou, assim como a chuva cessou e que o tempo de cantar chegou (Ct.2:11,12).
-O próprio Deus, ao informar a Noé o Seu compromisso com o homem em não mais mandar um dilúvio sobre a terra, fez questão de lembrar o patriarca a respeito da sucessão irreversível do tempo (Gn.8:22).
Portanto, “remir o tempo”, é a palavra de ordem bíblica que deve ser atendido por todos os crentes. Infelizmente, milhares de pessoas que se dizem crentes, não estão remindo o seu tempo, mas desperdiçando-o com coisas inúteis e fofocas nas redes sociais. Certamente, Deus requererá de cada um de nós a devida prestação de contas.

2. Contar o Tempo

Moisés, certa vez, orou a Deus pedindo: "Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio" (Sl.90.12). O grande problema de muitas pessoas é que deixam para pensar sobre o fim da existência terrena somente quando lhes resta bem pouco tempo.
Contar os dias é uma atitude de sabedoria, pois significa ter em perspectiva a iminência da morte, o que garante um melhor entendimento sobre como aproveitar os dias de vida. É preciso nos conscientizar de que a vida é passageira, “e um vapor que aparece por um pouco, e depois desaparece” (Tg.4:14).
Muitos dizem, principalmente nestes tempos pós-modernos: “não tenho tempo”. Mas, a questão toda não é a falta de tempo, e, sim, nosso critério de prioridades no tempo que dispomos. Algumas ocasiões podem causar a expressão “não tenho tempo”: primeiro, a sobrecarga de atividades; segundo, as coisas que fazemos dentro desse tempo, são elas prioritárias, ou são secundárias?; terceiro, qual é o critério de prioridades que usamos na escolha das coisas que vamos fazer? Está escrito que na vida do serviço cristão devemos dar prioridades ao “reino e Deus” (Mt.6:33).
Um homem normal possui muitos sonhos; é natural que possua; sonhar é preciso. Um homem normal possui muitos projetos de vida. Porém, o tempo de vida nunca será suficiente para a realização de todos os nossos sonhos e para a concretização de todos os nossos projetos. Daí, se esse homem normal for um homem de Deus, conhecedor da Bíblia Sagrada, uma vez consciente da brevidade desta vida presente e da eternidade da vida futura, ele terá, então, que eleger prioridades para o uso do seu tempo.
Deus quer, portanto, que aprendamos a contar os nossos dias, isto é, que administremos o nosso tempo, de tal forma que nos faça bem e que glorifique a Deus.

3. A prestação de contas

Deus deu o tempo (chronos) exclusivamente para o ser humano. Ele é nosso, é próprio da humanidade, é um dom de Deus a cada ser humano. Ora, se o tempo é um dom que Deus nos concedeu, concluímos que, como dom, devemos saber como administrá-lo. Um Dia nos apresentaremos diante de Deus, e Ele nos cobrará por tudo que fazemos, inclusive a má administração do nosso tempo.
Tudo o que administramos com relação ao nosso corpo, alma e espírito - as faculdades físicas, emocionais e espirituais -, daremos conta a Deus. Sim, o Criador nos cobrará acerca do que fizemos com o nosso tempo. Está escrito: “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal” (2Co.5:10).

III. COMO APROVEITAR BEM O TEMPO

Dentro dos princípios da Mordomia do Tempo, devemos aproveitar o tempo de forma sábia, equilibrada e abalizada nas Escrituras Sagradas.

1. Prioridades para aproveitar o Tempo

Pela ordem crescente, estas são as principais prioridades para o servo de Deus aproveitar o seu Tempo: o Tempo deve ser dedicado a Deus; o Tempo deve ser dedicado à Família; o Tempo deve ser dedicado à Igreja; o Tempo deve ser dedicado a si mesmo.
a) Tempo para ser dedicado a Deus. Entre os que não conhecem a Palavra de Deus há quem deixe Deus para o fim da fila de suas prioridades. Porém, para o verdadeiro cristão, Deus tem que ser uma prioridade ímpar. O Senhor Jesus disse: “Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e sua justiça...”(Mt.6:33). 
Por mais ocupados que sejamos, o tempo de Deus tem que ser encontrado, separado e dedicado a Ele. Deus não pode ficar na dependência do “se houver tempo”. Moisés exortou Israel neste sentido: “Guarda-te, e que te não esqueças do Senhor, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão”(Dt.6:12). Não encontrar tempo para Deus, esquecer-se dele é tão grave que o Salmista declarou: “Os ímpios serão lançados no inferno e todas as gentes que se esquecem de Deus”(Salmo 9:17).
No exercício da Mordomia Cristã do tempo, o bom Mordomo tem que dar prioridade a Deus no tempo de sua vida. Davi entendeu isto, face à sua declaração no Salmo 27:4: “Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor, e aprender no seu Templo”. Sem esta prioridade dedicada a Deus as demais coisas podem não existir.
Portanto, todo cristão autêntico precisa reservar tempo para Deus. Devocional diário, oração e estudo da Palavra não podem faltar em nossa vida piedosa.
b) Tempo para ser dedicado à Família. Na ordem das prioridades, segundo a Bíblia, a Família deve ocupar o segundo lugar na vida de um homem de Deus – em primeiro lugar, Deus; em segundo lugar, a Família.
No exercício da Mordomia Cristã do Tempo qualquer homem que não encontrar tempo para sua família, será um mau Mordomo do Tempo. Exorta o apóstolo Paulo: "Mas, se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel" (1Tm.5:8).
Qualquer pessoa, homem ou mulher, que ocupar todo o seu tempo, mesmo que seja em causas nobres e meritórias, como o estudar e trabalhar visando dar condições melhores à própria família, estará falhando no exercício da Mordomia do Tempo, porque a Família poderá não subsistir para desfrutar desse futuro melhor. Isto tem ocorrido, com frequência.
O homem precisa ter tempo para sua esposa; a esposa precisa ter tempo para seu marido. Qualquer atividade, incluindo aquela desenvolvida na Obra do Senhor que vier tirar o tempo de convivência do casal, será uma atividade indevida no exercício da Mordomia do Tempo.
É claro que não estamos afirmando que marido e esposa devam dedicar todo tempo disponível um ao outro, em prejuízo da Igreja ou da Obra do Senhor. Estamos afirmando que parte desse tempo disponível tem que ser dedicado, com prioridade à família, porque são as famílias que formam a Igreja. Famílias bem estruturadas formam Igrejas bem estruturadas. 
Ouve-se falar de jovens que se casam e continuam dedicando todo o tempo disponível às atividades da Igreja, contrariando o ensino de Paulo, em 1Corintios 7:33; ouve-se falar em Obreiros, principalmente evangelistas e irmãs missionárias que dedicam todo o tempo à Obra do Senhor, relegando a família a um plano terciário, visitando-a quando possível. Deus não separa casais. Quem age desta forma está falhando no exercício da Mordomia do Tempo e quebrando a prioridade estabelecida pela Palavra de Deus. Para estas pessoas, talvez Paulo diria: “Não vos defraudeis um ao outro...”(1Co.7:5).
Os pais, no exercício da Mordomia do Tempo, se forem bons Mordomos, terão que encontrar tempo para o convívio com os filhos, principalmente, se menores.
Os filhos, mesmo os casados, terão que encontrar tempo para o convívio com os pais. Os pais serão sempre pais e como tal precisam ser tratados.
A Bíblia diz a todos os filhos, de todas as idades, casados ou não, seja qual for a posição social, financeira, ou econômica: “honra a teu pai e a tua mãe...”(Ef.6:2). Não haverá bom crente, sendo mau pai; não haverá bom crente, sendo mau filho.
c) Tempo para ser dedicado à Igreja. No exercício da Mordomia do Tempo o bom Mordomo tem que encontrar tempo para a Igreja, para se dedicar à Obra do Senhor. Tem que, na vocação em que foi chamado, dar a sua contribuição. Ninguém que conhece a Palavra de Deus poderá alegar ser desnecessário na Obra do Senhor.
A Igreja é comparada a um corpo. Paulo diz que o corpo “é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo”(1Co.12:12). Nenhum dos muitos membros foi colocado no corpo, sem função. Toda vez que um membro, por mais insignificante que possa parecer, não cumpre a sua função, prejudica todo o funcionamento do corpo. Assim é, também, na Igreja.
É necessário, pois, que cada crente encontre tempo para cumprir a sua função na Igreja, do contrário, estará falhando no exercício da Mordomia Cristã do Tempo.
d) Tempo para ser dedicado a si mesmo. O apóstolo Paulo exortou a Timóteo a cuidar de si mesmo (1Tm.4:16) – “Tem cuidado de ti mesmo...”. 
O apóstolo João desejou ao destinatário de sua terceira Carta que tudo fosse bem em toda as coisas (3Jão 1:2) – “Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma”.
Assim, além de cuidar da vida espiritual, a Palavra de Deus mostra que é importante cuidar da parte física, emocional, buscando o equilíbrio interior, que tanto beneficia a mente e o corpo.

2. Usar o Tempo sabiamente

Deus dá ao indivíduo 24 (vinte quatro horas): 08(oito) horas para trabalhar, 08(oito) para descansar, e ainda sobra 08(oito) horas. Mesmo assim, por falta de um bom planejamento do tempo, ou por causa do mau uso dele, o indivíduo, muitas vezes, se queixa da falta de tempo. Para aproveitar bem o tempo, sabiamente, devemos:
a) não desperdiçar o Tempo disponível. Não há banco de acumulação de tempo; ele não é como o dinheiro que podemos acumular e utilizar depois. O tempo tem que ser usado à medida que ele é disponibilizado em nossa vida. Uma vez que se deixe de utilizá-lo, não se pode mais recuperá-lo definitivamente. Por isso, cada momento em nossa vida é precioso.
Quantas vezes perdemos tempo em atitudes fúteis e inúteis, e em atividades que prejudicam a alma e o corpo! Muitas dessas atividades inúteis afetam a consciência e entristecem o Espírito Santo (Ef.4:30,31). Davi, quase que perde o trono, e bem pior, a presença do Espírito Santo de forma definitiva em sua vida, por causa de atitudes inúteis. Infelizmente, milhões se perdem por que desperdiçam o seu tempo com coisas inúteis, fúteis, que resultam em perdição eterna.
b) planejar bem o Tempo disponível. Devemos planejar todas as nossas atividades de forma a preencher o tempo disponível. Qualquer atividade nossa sem planejamento, corre o risco de não ser executada. A Mordomia do Tempo requer inteligência, por isso nesse planejamento deve haver precisão, objetivos e programação. A previsão visa estimar o futuro de nossas atividades. Com os objetivos estabelecidos podemos determinar os resultados a serem alcançados.
c) manter-se equilibrado no uso do Tempo disponível. A palavra “equilíbrio” leva-nos a pensar numa balança de dois pratos. O desiquilíbrio do tempo está em dar mais peso para um lado da balança que o necessário. A Bíblia fala de equilíbrio quando diz: “Andeis como é digno da vocação com que fostes chamados” (Ef.4:1). A palavra “digno” tem na sua raiz o sentido de equilíbrio.
Ter equilíbrio não é algo que se conquista ou cai do céu. Equilíbrio se aprende, e aprende muitas vezes errando, outras vezes estudando, meditando, praticando e sendo provado.
Muitas pessoas dentro das igrejas, hoje, encontram-se desequilibradas, pois não foram transformadas pelo evangelho; são pessoas montanha russa: hoje está lá em cima, amanhã lá em baixo; hoje crê em Deus, amanhã já não sabe mais se Deus existe e ouve suas orações; vive de emoções e moveres espirituais sem fundamento bíblico.
Para encontrar equilíbrio o cristão deve: conhecer a Deus e obedecer aos seus mandamentos (João 17:3); renunciar a si mesmo (Mt.16:24); seguir o exemplo de Cristo (1João 2:6); viver em humildade (Gl.5:26); ter domínio próprio (Gl.5:22); exercitar o amor, que é o fruto excelente do Espírito (João 13:34; Gl.5:22; 1Co.cap.13).

CONCLUSÃO

Aprendemos que no exercício da Mordomia Cristã do Tempo o indivíduo tem que ser senhor e não escravo do tempo. Não podendo realizar todos os seus sonhos e concretizar todos os seus projetos, precisa, então, remir o tempo e eleger as prioridades, de acordo com a Palavra de Deus. Assim é que:
§  Se o indivíduo tiver tempo para tudo, mas não encontrar tempo para Deus, será um mau mordomo do tempo.
§  Se o indivíduo tiver tempo para tudo, mas não encontrar tempo para sua Família, será um mau mordomo do tempo.
§  Se o indivíduo tiver tempo para tudo, mas não encontrar tempo para a Igreja, será um mau mordomo do tempo.
§  Se o indivíduo gastar o seu tempo em coisas fúteis, ou sem valor, terá que prestar conta desse tempo perdido, porque o tempo pertence a Deus. 
Devemos remir o tempo, aproveitando-o de modo a glorificar a Deus e a honrá-lo enquanto estivermos neste mundo terreno, com os nossos olhos voltados para "Sião celeste". Ali, junto ao Senhor Jesus, desfrutaremos plenamente da vida eterna. A morte não terá poder sobre nós. Amém!
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 79. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Louis Berkhof. Teologia Sistemática.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. A Mordomia Cristã do Tempo. Portal-EBD_2003.
Pr. Elienai Cabral. LBM_CPAD.1987.