3º Trimestre/2019
Texto Base: 2Tessalonicenses 3:6-13
01/09/2019
''Porque, quando ainda estávamos convosco, vos
mandamos isto: que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também"
(2Ts.3:10).
2Tessalonicenses
3
6-Porque vós mesmos
sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre
vós,
7-Porque vós mesmos
sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre
vós,
8-nem, de graça, comemos
o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para
não sermos pesados a nenhum de vós;
9-não porque não
tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos
imitardes.
10-Porque, quando ainda
estávamos convosco, vos mandamos isto: que, se alguém não quiser trabalhar, não
coma também.
11-Porquanto ouvimos que
alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes, fazendo coisas
vãs.
12-4 esses tais, porém,
mandamos e exortamos, por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com
sossego, comam o seu próprio pão.
13-E vós, irmãos, não vos
canseis de fazer o bem.
INTRODUÇÃO
Trataremos nesta Aula da
Mordomia do Trabalho. A pessoa se revela através do seu trabalho. O Salmo 19
diz que Deus Se revela ao mundo através da Sua obra. Por meio da revelação
natural, a existência de Deus é conhecida por todas as pessoas na Terra. Assim,
o trabalho revela algo sobre aquele que o realiza; ele expõe o caráter
subjacente, motivações, habilidades e traços da personalidade. Jesus repetiu
este princípio em Mateus 7:15-20 quando declarou que as árvores ruins produzem
apenas frutos ruins e boas árvores somente bons frutos. Isaías 43:7 indica que
Deus criou o homem para a Sua própria glória. Em 1Coríntios 10:31, lemos que
tudo o que fazemos deve ser para a Sua glória. O
termo glória significa "dar uma representação precisa". Por
isso, o trabalho feito por cristãos deve dar ao mundo uma imagem fiel de Deus
em sua justiça, fidelidade e excelência. Podemos, então, e devemos, glorificar
a Deus com o nosso trabalho.
I. O TRABALHO DE DEUS NA BÍBLIA
É fundamental que se
compreenda que a origem do trabalho não começa conosco, começa com Deus. A
Bíblia Sagrada é o compêndio apropriado para quem quer saber sobre a origem do
Trabalho. O livro de Gênesis inicia a história da salvação revelando o trabalho
de Deus na criação do Universo - “No princípio, Deus criou os céus e a
terra” (Gn.1:1). Deus é o mais dedicado trabalhador.
Geralmente, nós
consideramos que a história do trabalho tem começo a partir da Queda e termina
quando Jesus voltar. De fato, essa história começou no Jardim do Éden, muito
antes da Queda, e continuará no Novo Céu e na Nova Terra.
1. O Trabalho de Deus na criação do Universo
Na passagem de abertura
das Escrituras Sagradas, Deus é o trabalhador primário, ocupado com a criação
do Universo (Gn.1:1-15) - “No princípio, Deus criou os céus e a terra”
(Gn.1:1). A Bíblia diz que Deus trabalhou por seis dias e descansou no sétimo
(Êx.20:11; Ne.9:6). Nos primeiros dois capítulos de Gênesis, somos informados
sete vezes que Deus criou algo e doze vezes que ele fez alguma coisa. Os atos
de criar e de fazer são resumidos como seu trabalho - “No sétimo dia, Deus
havia terminado sua obra de criação e descansou de todo o seu trabalho” (Gn.2.2).
Deus foi o primeiro a
trabalhar sobre a terra; portanto, o legítimo trabalho reflete a atividade de
Deus. Porque Deus é inerentemente bom, o trabalho também é inerentemente bom
(Salmos 25:8, Ef.4:28). Além disso, Gênesis 1:31 declara que quando Deus viu o
fruto do Seu trabalho, Ele disse que era tudo "muito bom",
alegrando-se com o resultado. Por este exemplo é evidente que o trabalho deve
ser produtivo e deve ser conduzido de uma maneira que produza um resultado da
mais alta qualidade. A sua recompensa é a honra e a satisfação que vêm de um
trabalho bem feito.
2. O Trabalho de Deus na criação do homem
O momento supremo do
trabalho criativo de Deus não foi a criação de galáxias distantes, da fauna e
da flora, mas a criação do homem e da mulher (Gn.1:27). Assim como o resto da
criação, somos o produto do trabalho de Deus. No entanto, de forma singular e
distinta de todos os outros seres criados, somos feitos à imagem de Deus. De
todas as implicações desse fato, isso significa, principalmente, que fomos
criados para ser um reflexo de Deus para o mundo, uma reapresentação dele na
Terra. Vemos isso, primeiro, em Gênesis 1:28, que diz:
“Sejam férteis e multipliquem-se. Encham e governem a terra. Dominem
sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que
rastejam pelo chão”.
Até esse ponto da
narrativa, tudo o que Deus disse aos pássaros, aos peixes e aos outros animais
foi dito também a Adão. Como todas as outras criaturas, estamos destinados a
reproduzir. Mas Deus afirma que nós não fomos criados apenas para encher a
terra, como os demais animais; nós devemos “governá-la” e “dominá-la” sobre
tudo e sobre todos.
Temos trabalho a fazer, e
não é qualquer trabalho. Trata-se de refletirmos, através do trabalho, a
própria natureza de Deus. Deus é claramente Rei sobre a criação. Ele diz aos
seres humanos: governem o mundo como meus representantes, os portadores da
minha imagem. E foi só nesse ponto da narrativa que Deus declarou ser sua obra
muito boa e depois descansou (confira Gênesis 1:27 – 2:3).
3. O Trabalho continua
Após criar o Universo,
todas as criaturas viventes, a natureza, o ser humano, Deus continuou a
trabalhar; Ele não se aposentou; não se isolou, fechando-se num céu muito
distante e entregando a Terra e o ser humano à sua sorte, como afirmaram, e
ainda afirmam alguns adeptos de heresias inspiradas por Satanás. Não! Deus
nunca ficou alheio a tudo que acontece na Terra, conforme afirmou o Profeta
Hanani: “Porque, quanto ao Senhor, os
seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo
coração é perfeito para com ele...” (2Cr.16:9).
“Os olhos do SENHOR estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons”
(Pv.15:3).
Deus, nas Pessoas do Pai,
do Filho e do Espírito Santo, da mesma forma que havia trabalhado na criação de
todas as coisas e na reconstrução da Terra, continuou trabalhando, agora, num
novo projeto.
O capítulo 2 de Gênesis
inicia com Deus trabalhando novamente; só que, agora, não é o trabalho de
criar, mas o trabalho de governar e de ordenar tudo o que Ele fez. Deus plantou
um Jardim; literalmente, um Paraíso. Você pode imaginar como se fosse uma
propriedade rural bem organizada, e lá Ele colocou o primeiro homem. Surge,
então, uma pergunta: como Deus criou um Paraíso dentro de um mundo já perfeito?
Resposta: Deus criou um lugar perfeitamente adaptado para o florescimento
humano. Lá, ele colocou Adão. Está escrito:
“O SENHOR Deus colocou o homem no jardim do Éden para cultivá-lo e tomar
conta dele”(Gn.2:15).
Deus não é inerte,
parado; Deus é vida, é ação. Ele trabalhou e continua trabalhando no Seu plano
elaborado “desde a fundação do mundo” (Ap.13:8). Sobre o trabalhar contínuo de
Deus, declarou o Senhor Jesus, em resposta a alguns acusadores: "Meu Pai
trabalha até agora, e eu trabalho também" (João 5:17). O Deus revelado nas
Escrituras, o Criador dos céus e da terra, continua trabalhando em prol de sua
criação.
“Tu visitas a terra e a refrescas; tu a enriqueces grandemente com o rio
de Deus, que está cheio de água; tu lhe dás o trigo, quando assim a tens preparada;
tu enches de água os seus sulcos, regulando a sua altura; tu a amoleces com a
muita chuva; tu abençoas as suas novidades” (Sl.65:9,10).
“Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu,
nem com os olhos se viu um Deus além de ti, que trabalhe para aquele que nele
espera” (Is.64:4).
Deus continua trabalhando
e o homem deve trabalhar também. O papel dos seres humanos é trabalhar a Terra,
tornando-a aquilo que pode sustentar a vida; e o papel de Deus é provê-la de
tudo o que é necessária (Gn.8:22).
“Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e verão e
inverno, e dia e noite não Cessarão”.
Esses dois papéis da
humanidade e de Deus são os fatores mais fundamentais da existência, cuja
ausência significaria o estado do mundo antes da criação: sem forma e vazio.
É claro que, nesta
Dispensação, o trabalho prioritário de Deus é, sem dúvidas, a preparação da
Igreja. Porém, mesmo depois do Arrebatamento da Igreja, Deus não cessará de
trabalhar, e nem nós, conforme nos advertem as Escrituras Sagradas.
“E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e nela estará o trono de
Deus e do Cordeiro, e os seus servos o servirão” (Ap.22:3).
II. A BÍBLIA E A MORDOMIA DO TRABALHO
1. O homem foi criado para o Trabalho
O trabalho é dom de Deus,
não um castigo pelo pecado. Mesmo anterior à Queda, o homem tinha deveres a
cumprir. Deus estabeleceu atividades laborais que fizessem parte de sua vida
(Gn.2:5,7,8,15).
5.Toda planta do campo ainda não estava na terra, e toda erva do campo
ainda não brotava; porque ainda o SENHOR Deus não tinha feito chover sobre a
terra, e não havia homem para lavrar a terra.
7.E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes
o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.
8.E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, da banda do Oriente, e pôs
ali o homem que tinha formado.
15.E tomou o SENHOR Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar
e o guardar.
“Deus organizou deliberadamente a vida de tal maneira que ele precisa da
cooperação dos seres humanos para o cumprimento dos seus propósitos. Ele não
criou o planeta Terra para ser produtivo por si mesmo; os seres humanos têm que
subjugá-lo e desenvolvê-lo. Ele não fez um jardim cujas flores se abririam e os
frutos amadureceriam por conta própria; Ele designou um jardineiro para
cultivar a terra. Chamamos isso de “mandato cultural”, que Deus deu à raça
humana. “Natureza” é o que Deus nos dá; “cultura” é o que nós fazemos com ela.
Sem um agricultor humano, todo jardim ou campo se degeneraria rapidamente,
transformando-se num deserto.
Na verdade, Deus fornece o solo, a semente, o sol e a chuva, mas nós
temos que arar, plantar e colher. Deus fornece as árvores frutíferas, mas nós
temos que podá-las e apanhar os frutos. Como Lutero disse certa vez num sermão
sobre Gênesis, ‘Pois por seu intermédio Deus trabalhará todas as coisas; ele
vai ordenhar as vacas e desempenhar as tarefas mais humildes por meio de você,
e todas as tarefas, da maior até a menor, serão agradáveis a ele’. De que
valeria a provisão que Deus faz para nós de uma vaca cheia de leite se nós não
estivéssemos lá para ordenhá-la?
Assim, há cooperação, na qual nós realmente dependemos de Deus, mas na
qual ele também depende de nós. Deus é o Criador; o homem é o agricultor. Cada
um necessita do outro. No bom propósito de Deus, criação e cultivo, natureza e
criação, matéria-prima e perícia profissional humana são indissociáveis. Esse
conceito de colaboração divino-humana é aplicável a todas as tarefas honrosas” (John Stott. Os cristãos e os desafios
contemporâneos).
Devemos administrar com
eficiência os bens do nosso Criador e Senhor. Ele se humilhou e nos honrou ao
fazer-se dependente da nossa cooperação. Qualquer que seja nosso trabalho – no
ensino, na medicina, nas leis, nos serviços sociais, na arquitetura ou
construção, nas políticas nacional ou local, ou no serviço civil, na indústria,
no comércio, no cultivo do solo ou na mídia, em pesquisa, na administração, no
serviço público, nas artes, em casa, na área de tecnologia, na Igreja – devemos
fazê-lo como sendo cooperação com Deus.
2. O Trabalho antes da Queda
Antes da Queda, Deus
criou um lindo Jardim para que Adão trabalhasse, cuidasse dele e fosse sua
morada. As duas primeiras atividades laborais de Adão, o primeiro homem, foram
"lavrar" e "guardar" a terra. A mulher, Eva, é criada como
sua ajudante e companheira (Gn.2:18). Assim, Adão e Eva deveriam,
literalmente, cultivar o Jardim, fazê-lo crescer e florescer; eles
também foram colocados lá para guardá-lo e para protegê-lo de qualquer coisa
que pudesse danificá-lo ou prejudicá-lo.
Tudo isso é muito
importante porque o trabalho que Deus deu a Adão e Eva é o paradigma para todo
trabalho humano. Para entendermos melhor, pense por um momento sobre o Jardim
do Éden. Aquele era o lugar que Deus projetou para o florescimento humano. Não
há mais nada na Terra para eles fora daquele lugar.
- O Éden era a casa,
onde eles viviam o casamento e criavam a sua família.
- O Éden era o templo,
onde eles se encontravam com Deus.
- O Éden era o local
de trabalho, onde se empregavam produtivamente naquilo que Deus lhes deu
para fazer.
Você e eu nunca
experimentamos o que eles experimentaram: um mundo no qual as divisões e os
conflitos de interesse entre igreja, local de trabalho e família não existiam.
Naquele mundo incrível, o trabalho deles era tomar aquele
Jardim-Casa-Templo-Local-de-trabalho e protegê-lo, cultivá-lo, fazê-lo
florescer e crescer, até que o mundo inteiro, e não apenas aquele pequeno
cantinho, tornasse um paraíso. Por que eles deveriam fazer tudo isso? Porque
eles foram criados à imagem de Deus.
- Assim como Deus
criou, eles deveriam criar.
- Assim como Deus
governou e tomou conta, eles deveriam governar e cuidar.
- Assim como Deus
criou um mundo frutífero e florescente, eles deveriam proteger e promover
esse florescimento e fecundidade.
O trabalho desse primeiro
casal, como representante de Deus, era pegar o que Deus tinha começado e levar
adiante – para revelar a glória do Criador. O propósito do trabalho não era
revelar quem eles eram ou poderiam se tornar através do que faziam; o objetivo
era revelar, através do trabalho deles, quem Deus realmente é: Criador,
Governador, Protetor e Provedor de todas as coisas. Tendo sido criados à imagem
do Criador, o trabalho de Adão e Eva testificaria dEle.
O propósito original do
trabalho humano era o avanço do florescimento humano para a glória de
Deus. Nosso trabalho, em qualquer esfera que operemos – em casa, na
igreja, no local de trabalho – é mostrar a bondade e a magnificência do caráter
divino como portadores que somos da imagem de Deus. Fazemos isso enquanto
cultivamos o “jardim” que nos foi confiado, para o florescimento dos seres
humanos ao nosso redor, para o louvor da glória de Deus.
3. O Trabalho depois da Queda
Antes da Queda, a
verdadeira felicidade preenchia todo o Jardim do Éden. Mas, depois da Queda,
veio o caos. Não sabemos quanto tempo decorreu entre o dia em que Adão
conseguiu seu primeiro emprego e o dia em que tudo deu errado. O que está
claro, porém, é que uma maneira de entender o que os teólogos chamam de Queda é
entender que Adão e Eva caíram no trabalho. Lembre-se: eles foram colocados no
Jardim para cuidar dele; eles eram os mordomos de confiança do Criador e dono
da Terra; eles deveriam cuidar dele e guardá-lo. Contudo, em ambos os casos –
cuidar e guardar o Jardim -, eles falharam.
Satanás, o inimigo de
Deus e dos homens, apareceu no Éden. O primeiro casal, em vez de proteger o
Jardim, expulsando de lá o adversário, estenderam-se com ele numa trágica
conversa (Gn.3:1-5). Depois, no final da conversa, em vez de administrarem o
Jardim, eles tentaram usá-lo para si mesmos (Gn.3:6), abusando de sua própria
autoridade e arruinando-a para toda a posteridade. Logo após, Adão e Eva
perceberam que puseram tudo a perder (Gn.3:7).
O Senhor do Jardim, Deus,
apareceu para inspecionar o trabalho, mas Adão e Eva estavam escondidos em um
local qualquer - “entre as árvores do Jardim” (Gn.3:8-9). Todos sabemos como é
obter uma avaliação negativa de desempenho no trabalho. Alguns de nós sabem inclusive
o que é ser demitido, mas o que Adão e Eva experimentaram foi pior do que
qualquer uma das situações que citei. Eles foram expulsos do Jardim, mas eles
não foram aliviados de suas responsabilidades; eles ainda eram responsáveis por
representar a Deus; eles ainda deviam trabalhar. Mas, as condições de seu
trabalho mudaram radicalmente: o mundo onde agora trabalhariam estava
amaldiçoado por causa de seus pecados. Em Gênesis 3:17-19 está assim escrito:
“E a Adão disse: Porquanto destes ouvidos à voz de tua mulher e comeste
da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por
causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos
também te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto, comerás o
teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e
em pó te tornarás”.
Observe que, por causa da
Queda, tudo foi distorcido na vida do ser humano. Três coisas aconteceram com o
trabalho de Adão e Eva, e também aconteceriam com a sua posteridade, chegando
até nós.
3.1. O trabalho tornou-se
infrutuoso e com fadiga. Mesmo que Adão trabalhasse penosamente no solo, durante toda a sua vida,
o solo estava amaldiçoado sob seus pés.
“Maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da
tua vida. Espinhos e cardos também te produzirá; e comerás a erva do
campo” (Gn.3:17,18).
Há quem pense que o
trabalho é parte da maldição, porém a Bíblia não ensina tal coisa; ensina, sim,
que a maldição transformou o trabalho bom em algo infrutuoso e com fadiga
(Gn.3:17). A maldição está mais ligada à tristeza, à frustração, ao cansaço que
acompanham o trabalho.
Por causa da Queda,
aspirações vão constantemente ser vencidas pela realidade, e por mais duro que
se tente, a realidade nunca vai mudar, pois a Terra foi amaldiçoada. Por mais
que se trabalhe duro, por vezes, o que se experimenta é futilidade, penúria,
inutilidade, insignificância.
Toda a raça humana e a
própria natureza ainda continuam sofrendo como consequência do juízo pronunciado
sobre o primeiro pecado. O apóstolo Paulo fala poeticamente de uma criação que
"geme e está juntamente com dores de parto até agora" (Rm.8:22). O
que era leve, suave e agradável, por causa do pecado, tornou-se pesado, brutal
e desagradável.
Mas, Deus faz uma
promessa de um juízo redentivo (Gn.3:15). Ao invés de lançar apenas juízos
inclementes e condenatórios sobre o casal, Deus, o Justo Juiz, abriu um
espaço para a redenção - “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua
semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar”. É a mais gloriosa promessa de redenção, de soerguimento do homem da
condenação e da maldição da Terra.
3.2. O trabalho tornou-se
penoso, desgastante - “No suor do teu rosto,
comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado,
porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn.3:19). Isso é tão básico para
a nossa experiência com o trabalho que é difícil imaginar como o trabalho deve
ter sido antes da Queda. Afinal, até mesmo um trabalho que amamos tem pelo
menos algum aspecto que é cansativo, tedioso e mesmo doloroso.
No mundo caído, o
trabalho é penoso, desgastante. Inúmeras são as pessoas que se encontram
mentalmente esgotadas e cansadas por causa de suas atividades profissionais. Os
consultórios médicos estão lotados de pessoas com estafa e estresse. Muitos
suicídios acontecem por causa do trabalho estafante, penoso. Há textos na
Bíblia que nos lembram dessa realidade: "Tenho visto o trabalho que Deus
deu aos filhos dos homens, para com ele os afligir" (Ec.3:10). Jó também
declarou: "...o homem nasce para o trabalho, como as faíscas das brasas se
levantam para voar" (Jó 5:6,7).
3.3. O trabalho tornou-se
um ato compulsório de sobrevivência. O que era um ato livre de adoração agora é um ato compulsório de
sobrevivência. Disse Deus: “No suor do
teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste
tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn.3:19). No Jardim, Adão não
tinha de trabalhar para comer. Deus tinha plantado um pomar, e tudo o que Adão
precisava estava lá para pegar e comer. Mas, agora há uma urgência, uma
compulsão, uma ordem para trabalhar. Como Paulo disse: “Quem não quiser
trabalhar não deve comer” (2Ts.3:10). Não é que o trabalho tenha, agora,
se tornado ruim; não é que o trabalho seja punição pelo pecado; é que, num
mundo caído, o trabalho penoso e infrutuoso é também implacável. Gostemos ou
não, devemos trabalhar. Nós não podemos escapar dele, exceto na morte.
III. PRINCÍPIOS CRISTÃOS PARA O TRABALHO
1. O homem deve trabalhar "com o suor de seu
rosto"
Após a Queda, o trabalho
tornou-se difícil. Por causa do pecado as pessoas têm de trabalhar muito para
conseguir alcançar os resultados que antes da Queda eram bem mais tranquilos.
Lendo o texto de Gênesis 3:19 podemos entender isso: “Terá de trabalhar no
pesado e suar para fazer com que a terra produza algum alimento”.
Por causa do pecado do
primeiro homem, Adão, temos que trabalhar pesado para conseguirmos os
resultados desejados. Apesar disso, Deus é bom o suficiente para fazer com que
o nosso trabalho tenha significado e ajude outras pessoas, principalmente
quando nós estivermos fazendo a coisa certa, que é aquilo que está ligado à sua
missão aqui na terra.
Portanto, todas as
pessoas precisam trabalhar, a não ser aquelas que tenham algum impedimento
físico ou mental.
O apóstolo Paulo foi
enfático com os cristãos da igreja em Tessalônica: “Quando estávamos aí, demos
esta regra: Quem não quer trabalhar, que não coma” (2Ts.3:10). Por que
ele disse isso? Será que tinha raiva do pessoal de lá? Claro que não. Ele sabia
que, segundo o plano de Deus, devemos ganhar o nosso pão de cada dia por meio
do trabalho.
2. Trabalhar sem ansiedade
Ansiedade é desejo
veemente e impaciente, é aflição, agonia, é falta de tranquilidade, é receio. É
possível trabalhar sem ansiedades quando se tem Fé e quando se tem Paz. A Fé
funciona como antídoto, ou agente neutralizador da ansiedade. Quem tem Fé não
se desespera. Davi tinha Fé, por isto afirmou: “Esperei com paciência no
Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor” (Salmos 40:1). Quem
tem Fé para esperar com paciência não pode padecer de ansiedades. Você é uma
pessoa de Fé? Se sua resposta for afirmativa, então, a ansiedade não poderá
nunca encontrar guarida em seu coração, pois, pela fé, você tem “a prova das
coisas que se não veem”. Consola-nos o apóstolo Pedro: “lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de
vós” (1Pd.5:7).
Ansiedade contrasta, também, com a Paz; são duas virtudes antagônicas.
Onde existe uma, não pode existir a outra. No coração do homem que tem paz, não
pode haver ansiedade. A paz é uma herança que o Senhor Jesus deixou aos seus
discípulos (João 14:27). Você é um discípulo de Jesus? Se sua resposta for
afirmativa, então, descanse na sua Paz!
2.1. É possível trabalhar
sem ansiedade quando se sabe estar realizando a vontade de Deus. Para o homem sem Deus, ou até para aquele que se diz “crente”, mas
não conhece a Palavra de Deus, trabalhar se torna uma obrigação, um agente
gerador de ansiedade. Trabalham, mas, trabalham de mal com o trabalho, vendo na
pessoa do patrão, um agente escravizador. Isto não pode acontecer com aquele
que conhece a Palavra de Deus.
O trabalho foi instituído
por Deus, mesmo antes da Queda do homem; trabalhar, portanto, significa cumprir
a vontade de Deus. Para um filho de Deus ter um trabalho e poder tirar dele sua
subsistência, deve ser considerado como uma bênção, não como um sacrifício.
Você já agradeceu a Deus, hoje, pelo seu emprego, ou pela sua profissão?
2.2. É possível trabalhar
sem ansiedade quando aprendemos a contentar com o que temos. A ganância, o desejo
incontido de ter aquilo que não se pode ter em consequência do pouco que ganha,
é motivo que leva a pessoa a trabalhar com ansiedade. Paulo não tinha este
problema, pois, podia dizer: “já aprendi a contentar-me com o que tenho”
(Fp.4:11). Esta é uma receita capaz de neutralizar o desejo incontido, a
cobiça, a ambição, que são agentes geradores de ansiedades.
- É por não saber
contentar com o que tem, que alguns, crentes e não crentes, afundam no
crediário, contraindo dívidas sem planejamentos.
- É por não saber
contentar com o que tem que muitos abusam dos cartões de crédito e dos
cheques pré-datados.
- É por não saber
contentar com o que tem que muitos insistem em viver de aparência,
tentando manter um “status” artificial, não concordando em ser o que
realmente são. Um homem de Deus não pode viver de aparência, precisa ser o
que realmente é.
Uma má administração
financeira, pessoal, ou familiar, leva ao desequilíbrio entre receita e
despesa, ou entre o que se ganha e o que se gasta. Isto acontece, muitas vezes,
por não saber contentar-se com o que tem.
Trabalhar sabendo que não
terá o suficiente para cobrir os compromissos assumidos, pode ser motivo para
trabalhar com ansiedades.
3. Trabalhar para não ser pesado a ninguém
Este é um princípio
ensinado pelo apóstolo Paulo aos cristãos de Tessalônica, e que se aplica a
todos nós. Ele mesmo se dispôs a trabalhar, “noite e dia”, para não dar despesas
aos cristãos daquela igreja, para não se aproveitar da bondade deles (cf.
2Ts.3:8).
O apóstolo Paulo é
enfático na sua advertência quanto ao dever de trabalhar (2Ts.3:10), e que o
trabalho é a forma corriqueira de aquisição de bens materiais de acordo com a
Palavra de Deus. Mas, também, nos mostra que deve ser privado de ajuda aquele
que não quer trabalhar, ou seja, aquele que, deliberadamente, prefere o ócio ao
trabalho, sendo, assim, rebelde à ordenança do Senhor.
Há muitas pessoas, nos
nossos dias, que passam por sérias necessidades econômico-financeiras, estão na
miséria, mas não em razão da desigualdade social ou do desemprego, mas por não
quererem trabalhar, por recusarem seguir a ordem divina do trabalho. Muitos
dizem: para que trabalhar, se a vida é tão efêmera, passageira, e que Jesus já
está às portas? A consciência da transitoriedade da “figura deste mundo” (cf.
1Co.7:31) não isenta ninguém de trabalhar (cf. 2Ts.3:7-15), pois o trabalho é
parte integrante do ser humano, mesmo não sendo a única razão desta vida.
Nenhum cristão deve
sentir-se no direito de não trabalhar e de viver às custas dos outros (cf.
2Ts.3:6-12); todos são exortados pelo apóstolo Paulo a tomar como um ponto de
“honra” o trabalhar com as próprias mãos de modo a não ter “necessidade de
ninguém” (1Ts.4:11,12), e a praticar uma solidariedade também material,
compartilhando os frutos do trabalho com “os necessitados” (Ef.4:28).
“e procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios, e
trabalhar com vossas próprias mãos, como já vo-lo temos mandado; para que
andeis honestamente para com os que estão de fora e não necessiteis de coisa
alguma” (1Ts.4:11,12).
“Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as mãos
o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade”
(Ef.4:28).
4. A Bíblia condena expressamente a preguiça
(Pv.6:6,9; 13:4; 19:24)
Conhecida é a passagem em
que Salomão manda o preguiçoso observar a formiga, e manda que observe os
caminhos dela e seja sábio, passando a trabalhar (Pv.6:6); como também o
provérbio em que considera o preguiçoso como o filho que envergonha (Pv.10:5),
o falta de juízo (Pv.12:11) e um candidato à pobreza (Pv.20:13). Uma das
características da mulher virtuosa é o fato de não ser preguiçosa, mas trabalhadora
(Pv.31:13). Assim, como podemos ter alguém que se diz servo de Deus e é
preguiçoso?
As palavras do apóstolo
Paulo foram muito claras e incisivas: “se alguém não quiser trabalhar, que não
coma também” (2Ts.3:10b). Lamentavelmente, muitas igrejas locais têm deixado de
lado este ensino bíblico, o que tem gerado um sem-número de distorções, em
prejuízo dos mais necessitados.
Porém, se o problema não
for preguiça, mas uma involuntária causa que impeça a pessoa de trabalhar, como
é o caso dos inválidos, dos idosos e demais incapacitados para o trabalho, aí,
sim, deve atuar um serviço de ação social, de assistência social, a fim de
suprir as necessidades básicas dessa pessoa, que não pode trabalhar, embora o
queira. Aliás, é este o limite que deve discernir quem deve e quem não deve ser
ajudado pela assistência social de uma Igreja Local.
Mesmo no caso de estarmos
desempregados, não temos desculpa para ficar ociosos. Enquanto estivermos sem
trabalho remunerado devemos: gastar tempo à procura do trabalho digno;
trabalhar no que vier à mão para fazer, pois todo trabalho dignifica a pessoa.
A prática da parábola dos talentos (Mt.25:14-30), como ensino sobre nosso
empenho no reino de Deus, também pode ser aplicado no cotidiano: fiéis no
pouco, sobre muito serão colocados. Não comamos o pão da preguiça, jamais!
5. A relação de empregados e empregadores
Nas relações de trabalho,
os empregadores e os empregados cristãos devem manifestar os valores da Palavra
de Deus. A visão bíblica com relação a este aspecto é que deve haver
responsabilidades entre o empregador e o empregado.
O empregador deve
glorificar a Deus honrando os seus empregados, e o empregado deve honrar o seu
patrão sendo honesto com ele e dedicado nas tarefas e atividades. Quando uma
das partes quebra esse compromisso cristão está instalado a desonra a Deus
(Ef.6:5-9).
Os empregados cristãos não devem fugir ao seu
compromisso de trabalho; antes, devem executá-lo como se fosse ao Senhor.
“Vós, servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne, com temor e tremor,
na sinceridade de vosso coração, como a Cristo, não servindo à vista, como para
agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de
Deus; servindo de boa vontade como ao Senhor e não como aos homens, sabendo que
cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja
livre”(Ef.6:5-8).
Os patrões cristãos têm o dever de zelar
pelos direitos trabalhistas de seus empregados, sob pena de serem condenados
por Deus (Tg.5:4).
“Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras e que
por vós foi diminuído clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos
ouvidos do Senhor dos Exércitos” (Tg.6:5-8).
“E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças,
sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu e que para com ele não há
acepção de pessoas” (Ef.6:9).
CONCLUSÃO
O Trabalho não é fruto do
pecado, mas da Criação e é dádiva de Deus; é uma vocação de Deus para o ser
humano, que, em sua natureza, não pode viver sem o trabalho. Quando isso ocorre,
ele viola a sua própria natureza e a diretriz que o Criador lhe deu. É
vergonhoso que, em nome de qualquer coisa, o ser humano venha a recusar-se de
trabalhar. Deus espera que seus filhos trabalhem, glorificando a Deus e
abençoando o próximo. É dessa perspectiva que devemos exercer a nossa Mordomia
no Trabalho.
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo
Pentecostal.
Bíblia de estudo –
Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico
popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão
– nº 79. CPAD.
Comentário Bíblico
Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo
Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Dr. Caramuru Afonso
Francisco. Trabalhando sem ansiedade. Portal-EBD_2005.
Pr. Elinaldo Renovato.
Tempo, Bens e Talentos – Sendo mordomo fiel e prudente com as coisas que Deus
nos tem dado. CPAD.
John Stott. Os cristãos e
os desafios contemporâneos.
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