No
1º Trimestre de 2014 estudaremos, através das Lições Bíblicas da CPAD, sobre o
tema: “Uma Jornada de Fé – A formação
do povo de Israel e sua herança espiritual”. As lições serão comentadas
pelo pastor e mestre Antônio Gilberto, e estão distribuídas sob os seguintes títulos:
Lição 1 – O livro de Êxodo e o Cativeiro de Israel
no Egito.
Lição 2 – Um Libertador para Israel.
Lição 3 – As Pragas Divinas e as Propostas
Ardilosas de Faraó.
Lição 4 – A Celebração da Primeira Páscoa.
Lição 5 – A Travessia do Mar Vermelho.
Lição 6 – A Peregrinação de Israel no Deserto até o
Sinai.
Lição 7 – Os Dez Mandamentos do SENHOR.
Lição 8 – Moisés - Sua Liderança e Seus
Auxiliares.
Lição 9 – Um Lugar de Adoração a DEUS no Deserto.
Lição 10 – As Leis Civis Entregues por Moisés aos
Israelitas.
Lição 11 – DEUS Escolheu Arão e Seus Filhos para o
Sacerdócio.
Lição 12 – A Consagração dos Sacerdotes.
Lição 13 – O Legado de Moisés.
UMA ANÁLISE PRELIMINAR
1. Introdução
Ao longo deste trimestre teremos a oportunidade ímpar de
estudar o livro de Êxodo. Segundo Eugene H. Merrill, o Êxodo é o evento
teológico mais expressivo do Antigo Testamento, porque mostra a magnificente
ação de Deus em favor de Seu povo, uma ação que os conduziu da escravidão à
liberdade, da fragmentação à unidade, de um povo com uma promessa - os hebreus
- à uma nação estabelecida – Israel.
Êxodo é uma palavra grega que significa “partida”,
“saída”. O livro descreve a libertação e saída dos israelitas do Egito, a sua
jornada até o Monte Sinai, e os eventos que ocorreram durante o tempo em que
permaneceram ali.
O patriarca Jacó havia levado a sua família para o
Egito, a fim de fugir da grande fome (Gn 46:1-27). Quando os hicsos invadiram o Egito e ganharam poder
político, os descendentes de Jacó foram forçados à escravidão (Ex 1:8,10). Os hicsos nunca foram numerosos, de modo que a
nação de Israel, em crescimento representava uma ameaça para eles (Ex 1:9).
Esta ameaça acabou fazendo com que os governantes hicsos escravizassem os hebreus. Quando, posteriormente,
os hicsos foram expulsos, todo o ódio que os
egípcios nativos sentiam pelos estrangeiros concentrou-se nos hebreus. Como os
egípcios também temiam que os israelitas se tornassem excessivamente numerosos,
tornaram a escravidão israelita mais dura (Ex 1:13), e tentaram controlar a
população matando os bebês do sexo masculino (cf Ex 1:17-20).
Apesar de tudo isso, os descendentes de Israel cresceram,
passando de uma família de setenta pessoas (cf Gn 46:26,27) a uma nação de aproximadamente
dois milhões de pessoas (com base na estimativa de seiscentos mil varões com
idade superior a 20 anos, Ex 12:37). A ênfase principal do livro de Gênesis
estava na família de Abraão, mas Êxodo concentra-se no desenvolvimento da nação
de Israel. (1)
2. O Tema principal do Livro de Êxodo (2)
O Tema principal do Livro de Êxodo é a
Redenção. A
libertação e a saída dos filhos de Israel da escravidão no Egito eram um tipo
de toda a redenção, e Moisés, que os liderou, era um tipo de Cristo.
3. Propósito e mensagem do livro (3)
O Livro de Êxodo relata como a família escolhida em
Gênesis veio a ser uma nação. Registra os dois acontecimentos transcendentes da
história de Israel: o livramento do Egito e a entrega do pacto da lei no Sinai.
O livramento do Egito possibilitava o nascimento da nação; o pacto da lei
modelava o caráter da nação a fim de que fosse um povo santo.
O Livro descreve, em parte, o desenvolvimento do antigo
concerto com Abraão. As promessas que este recebeu de Deus incluíam um
território próprio, uma descendência numerosa que chegaria a ser uma nação e
bênção para todos os povos por meio de Abraão e sua descendência. Primeiro,
Deus multiplica seu povo no Egito, depois, o livra da escravidão, e a seguir, o
constitui uma nação.
Êxodo é um Livro de redenção. O Redentor Javé não somente livra seu
povo da servidão egípcia mediante seu poder manifesto nas pragas, mas também o
redime por sangue, simbolizado no cordeiro pascoal. A Páscoa ocupa lugar
central na revelação de Deus a seu povo, tanto no Antigo Pacto como no Novo,
pois o cordeiro pascal é símbolo profético do sacrifício de Cristo. Por isso a
festa da páscoa converteu-se na comemoração de nossa redenção (Lc 22:7-20).
O Senhor provê para seu povo redimido tudo de que ele
necessita espiritualmente: os israelitas precisam de uma revelação do caráter
de Deus e da norma de conduta que ele exige; Ele lhes dá a lei, mas também faz
aliança com eles, estabelecendo uma relação incomparável e fazendo-os seu
especial tesouro. Os hebreus, acusados de pecado pela lei, necessitam de
purificação, e o Senhor lhes proporciona um sistema de sacrifícios. Necessitam
aproximar-se de Deus e prestar-lhe culto, e Deus lhes dá o tabernáculo e ordena
um sacerdócio. Tudo isso tem a finalidade divina de que sejam uma nação santa e
um reino de sacerdotes.
Êxodo lança luz sobre o caráter de Deus. No
livramento de seu povo, vê-se que Ele é misericordioso e poderoso. A lei revela
que ele é Santo; o Tabernáculo revela que Ele é acessível mediante sacrifício
aceitável.
É evidente o paralelo entre o livramento dos
escravos israelitas e um maior êxodo espiritual efetuado pela obra e Pessoa de
Jesus Cristo. O Egito vem a ser um símbolo do mundo pecaminoso; os egípcios,
símbolo de pecadores escravizados; Moisés simboliza o redentor divino que livra
seu povo mediante poder e Sangue e o conduz à Terra Prometida.
4. Estrutura do Livro de Êxodo (4)
Na história hebraica, o conteúdo do Livro de Êxodo
é representado por meio de três montanhas altas e um vale: o livramento do
Egito, a concessão da lei e a revelação do plano do Tabernáculo; o vale sombrio
é o episódio do bezerro de ouro. A estrutura do Livro é disposta assim:
I.
Israel é libertado (Ex 1.1—15.21)
a)
Deus suscita um líder (Ex 1—4).
b)
O conflito com Faraó (Ex 5 — 11).
c)
Israel sai do Egito (Ex 12.1—15.21).
II.
Israel vai para o Sinai (Ex 15.22—18.27)
a)
Provações no deserto (Ex 15.22—17.16).
b)
Jetro visita Moisés (Ex 18).
III.
Israel no Sinai (Ex 19 — 40)
a)
O pacto da lei (Ex 19 — 24).
b)
O pacto violado c renovado (Ex 31.18—34.35).
c)
O Tabernáculo (Ex 25.1—31.17; 35.1—40.38).
5. Uma análise superficial da 18ª
Dinastia do Egito (5)
Dinastias
do Egito
|
|
18ª
Dinastia (a.C.)
|
|
Amósis
|
1570-1546
|
Amenotepe
I
|
1546-1526
|
Tutmose
I
|
1526-1512
|
Ttmose
II
|
1512-1504
|
Hatchepsute
|
1503-1483
|
Tutmose
III
|
1504-1450
|
Amenotepe
II
|
1450-1425
|
Tutmose
IV
|
1425-1417
|
Amenotepe
III
|
1417-1370
|
Amenotepe
IV (Akhenaten)
|
1379-1362
|
Semenca
|
1364-1361
|
Tutankamon
|
1361-1352
|
Ai
|
1352-1348
|
Horembeb
|
1348-1320
|
19ª
Dinastia (a.C.)
|
|
Ramsés
I
|
1320-1318
|
Setos
I
|
1318-1304
|
Ramsés
II
|
1304-1236
|
Merneptah
|
1236-1223
|
Fonte: Eugene H.
Merrill – História de Israel no Antigo Testamento.CPAD
|
Eugene H. Merrill diz que, de acordo com a data
tradicional, a 18ª Dinastia forma o quadro da época em que o êxodo aconteceu.
A décima oitava dinastia foi fundada
por Amósis, o
responsável pela expulsão dos hicsos.
É bem provável ter sido ele o que está descrito em Êxodo como o novo rei que
não conhecia José (Êx 1:8). Isto não sugere que ele não tenha conhecido José
pessoalmente, mas apenas que sua benevolência não mais se estendia aos
descendentes de José - os hebreus. Ele havia, afinal, expulsado os hicsos, um povo bastante aparentado aos
hebreus, e pode ter ficado receoso de que a rápida multiplicação destes pudesse
se constituir numa séria ameaça ao seu recente governo e autoridade.
Ele ou seu sucessor, Amenotepe I (1546 - 1526), foi o
responsável pela política repressiva que se seguiu naqueles dias. Isto incluía
a redução dos hebreus à escravidão com trabalhos forçados em projetos de
construções públicas (Ex 1:11-14), um plano que foi igualmente implementado por
Amósis. Quando tal projeto fracassou, seguiu-se um decreto promulgando o
genocídio de todos os machos hebreus que nascessem (Êx 1:15,16). Esse decreto
pode ter sido emitido por Amenotepe ou, o que é mais provável, por Tutmose I.
Amenotepe foi sucedido por Tutmose I
(1526-1512), um plebeu que tinha se casado com a irmã do rei. Provavelmente foi
ele o autor do decreto que ordenou o infanticídio, pois enquanto Moisés estava
em iminente perigo de morrer, Arão, que havia nascido três anos antes (Ex 7:7),
parece ter estado isento. Não seria difícil admitir que o Faraó que promulgou
essa política deve ter subido ao trono após o nascimento de Arão e antes do
nascimento de Moisés. Nesse caso, a evidência bíblica aponta diretamente para
Tutmose I.
Tutmose II (1512-1504) casou-se com Hatchepsute, sua
meia-irmã mais velha. Ele morreu jovem sob circunstâncias bastante misteriosas.
Sentindo que se aproximava da morte, ordenou a nomeação de Tutmose III
(1504-1450) como seu co-regente e herdeiro. Esse governante que, sem dúvida,
foi o mais ilustre e poderoso dentre os que viveram no Novo Reino,
distinguiu-se de várias maneiras. Seus primeiros anos não foram muito
promissores - era filho de uma concubina e tinha se casado com sua meia-irmã,
filha de Hatchepsute e Tutmose II - mas por fim veio a obter notáveis vitórias
nas terras ao seu redor, que incluíram nada menos que 16 campanhas à Palestina.
Porém, os primeiros 20 anos de seu reino foram dominados por sua poderosa
madrasta, Hatchepsute. Embora proibida pela cultura de se tornar Faraó, ela de
fato agia como tal e, em todos os critérios, pode ser considerada a pessoa de
maior fascínio e influência da história egípcia. Sem dúvida, nos primeiros anos
de Tutmose III, foi Hatchepsute quem ditou as resoluções, um relacionamento que
decerto ele detestava, mas encontrava-se impotente para se opor. Somente após a
morte da madrasta, Tutmose III demonstrou toda repugnância que sentia por ela,
mandando extinguir toda e quaisquer inscrições ou monumentos em sua homenagem.
O quadro geral de Hatchepsute leva-nos a identificá-la como a ousada
filha do Faraó que resgatou Moisés. Somente ela dentre todas as demais mulheres
de sua época seria capaz de ir contra uma ordem do Faraó, bem diante dele.
Embora a data de seu nascimento seja desconhecida, ela provavelmente era vários
anos mais velha do que seu marido, Tutmose II, que morrera em 1504, bem próximo
de seus 30 anos. Ela devia estar no início de sua adolescência, por volta de
1526, data do nascimento de Moisés e, portanto, com condições de agir em favor
de sua libertação.
Tutmose III era menor de idade quando assumiu o
poder em 1504 e mais novo que Moisés. Se, de fato, Moisés foi filho de criação
de Hatchepsute, há probabilidade de haver ele sido uma forte ameaça ao jovem
Tutmose III, visto que Hatchepsute não tinha filhos naturais. Isso significa
que Moisés era um candidato a ser Faraó, tendo apenas como obstáculo sua origem
semítica. Parece-nos que houve uma real animosidade entre Moisés e o Faraó.
Isto fica claro em virtude de Moisés, após matar um egípcio, ter sido forçado a
fugir para salvar a vida. O fato de ter o próprio Faraó considerado a questão -
que, em outra situação, seria pouco relevante - sugere que este Faraó especificamente
tinha interesses pessoais em se livrar de Moisés. O exílio auto-imposto por
Moisés ocorreu em 1486, quando ele tinha 40 anos de idade (At 7:23). Tutmose
III já estava no poder havia 18 anos; e a idosa Hatchepsute, que faleceria três
anos mais tarde, não tinha mais condições de interditar a vontade de seu enteado/sobrinho.
Durante longos quarenta anos, Moisés permaneceu fugitivo do Egito,
tendo se abrigado entre os midianitas do Sinai e da Arábia. Uma das razões para
tão longo exílio foi justamente o fato de continuar a viver e reinar o Faraó de
quem Moisés havia escapado. Somente após sua morte, Moisés sentiu-se livre para
retornar ao Egito (Êx 2:23; 4:19). Tutmose III morreu em 1450 e foi sucedido
por seu filho Amenotepe II (1450-1425). Segundo os padrões cronológicos
aceitáveis nesta discussão, era este Amenotepe quem reinava na ocasião do Êxodo.
Antes de deixarmos Tutmose III, é essencial notarmos que o relato
bíblico requer um reinado de quase 40 anos para o Faraó que perseguiu a vida de
Moisés, porquanto o rei que morreu no fim dos anos do exílio de Moisés em Midiã
era claramente o mesmo que o havia ameaçado quase 40 anos antes. Dentre todos
os reis da 18ª Dinastia, somente Tutmose III teve um reino tão longo. De fato,
ele é o único governante que, em todo período durante o qual o Êxodo poderia
ter ocorrido, reinou tanto tempo - com exceção de Ramsés II (1304-1236). Mas
Ramsés, o Faraó preferido pela maioria dos estudiosos, é geralmente associado
ao Faraó do Êxodo, não ao Faraó cuja morte possibilitou o retorno de Moisés ao
Egito. Caso a morte de Ramsés houvesse trazido Moisés de volta ao Egito, o Êxodo
deveria ter ocorrido após 1236, uma data muito tarde para ser satisfatória.
6. Data do Êxodo
Não há dúvida alguma de que os israelitas saíram do
Egito no lapso compreendido entre 1450 e 1220 a.C. Israel já estava radicado em
Canaã no ano de 1220 a.C., pois um monumento levantado pelo Faraó Mereptá faz
alusão ao combate entre egípcios e
israelitas na Palestina, naquela data.
Evidência bíblica interna (6)
O ano de 1446 já foi proposto como a data do Êxodo.
Sobre esta base cronológica desenvolvemos nossa discussão a respeito dos reis hicsos, do Novo Império, e das narrativas de
José. Visto que a integridade de nossa posição depende exclusivamente de uma data
mais anterior, em vez de uma outra mais recente que tem sido defendida pela
maioria dos estudiosos, torna-se então vital que apresentemos uma defesa
contundente em favor da data mais antiga.
Há duas datas bíblicas principais que tocam diretamente a questão do Êxodo:
- A primeira delas se encontra em 1Reis 6:1, onde está escrito
que o Êxodo precedeu a fundação do Templo de Salomão em 480 anos. Levando em
consideração que Salomão deu início à construção do Templo em 966 a.C., podemos
concluir que o Êxodo aconteceu em 1446. Mas, por uma série de razões, essa data
é quase universalmente rejeitada em favor de uma data mais recente, mais ou
menos por volta do século XIII (1260). Para conciliar o fato a uma data mais
recente, a cifra 480 não deve ser considerada literalmente, mas deve ser vista
como uma forma misteriosa de descrever 12 gerações (sendo quarenta anos, como
dizem, uma geração ideal). Entretanto, visto que uma geração na verdade está
mais perto dos 25 anos, o período entre o Êxodo e as obras iniciais do Templo é
estimado em 300 (25 x 12) anos, o que sugere aproximadamente o ano 1266 para o Êxodo.
Se fosse possível comprovar que a antiga cronologia israelita (ou qualquer
outra) assim fazia os cálculos, e que 1Reis 6:1 é um exemplo da aplicação de tal
método, o caso pareceria estar solucionado. Infelizmente não há provas. A
inevitável conclusão é que uma redução de 480 para 300 anos, a fim de
satisfazer algumas conclusões subjetivas, torna-se um exemplo de apelação
indigno de qualquer historiador ou estudioso da Bíblia. Certamente o ônus da
prova recairá sobre os críticos que preterirem considerar os dados dos
historiadores bíblicos de forma não literal.
- A segunda prova em defesa do ano 1446 aparece em
uma mensagem do juiz Jefté aos seus inimigos amonitas. Jefté afirmou não
ter eles razão para qualquer hostilidade contra Israel, uma vez que durante os
300 anos após a vitória de Israel sobre Seom, os amonitas nunca haviam
contestado os direitos de Israel sobre a Transjordânia. Uma simples leitura
desse longo memorando (Jz 11:15-27) deixa claro que Jefté se referia ao período
da história de Israel pouco antes da conquista, que ocorreu cerca de 40 anos
após o Êxodo. A vitória de Israel sobre os amonitas ocorreu por volta de 1100
a.C., uma data largamente reconhecida. Neste caso, Jefté se referia a
acontecimentos que haviam ocorrido perto de 1400 a.C.
Está claro que o número 300 não pode representar gerações ideais,
com resultados satisfatórios (isto é, 300 não é divisível por 40). Logo, os
proponentes de uma data mais recente para o Êxodo são forçados a utilizar novos
métodos de cálculo. Tipicamente eles postulam a conquista em duas etapas,
afirmando que Jefté não se referia à conquista israelita como uma confederação
das 12 tribos, mas a uma anterior, uma ocupação "pré-êxodo" da
Transjordânia por uma tribo, ou tribos, que somente mais tarde associou-se
àquelas poucas tribos de Israel que possuíam a tradição do Êxodo. A conquista
da Transjordânia, segundo esta recriação da história do Antigo Testamento, precedeu
a conquista de Canaã por mais ou menos um século. Além disso, Jefté
inequivocamente referia-se aos conquistadores de Seom como os israelitas que
tinham saído do Egito (Jz 11:13,16). Portanto, a menos que se desconsidere a
própria evidência interna, a data de 1446 para o Êxodo permanece de pé.
Além dos dados cronológicos bastante específicos, o Antigo
Testamento fornece uma descrição suficiente do Êxodo e seu período antecedente,
confirmando uma data mais antiga para o evento. Já foi exposto que a história
de Moisés melhor se adapta às datas e circunstâncias da 18ª Dinastia do Egito.
Se aceitarmos a data mais recente para o Êxodo, a qual sempre está associada a
Ramsés II, será preciso desconsiderar todo o testemunho bíblico. Moisés não
voltou ao Egito até que aquele Faraó - que antes tentou tirar-lhe a vida -
estivesse morto. O retorno de Moisés da terra de Midiã foi postergado por
aproximadamente 40 anos; logo, o rei em questão deve ser alguém que reinou, no
mínimo, por este período de tempo. Na 19ª Dinastia, somente Ramsés II - que
reinou de 1304 a 1236 - satisfaz este requisito, porém ele não pode ser o Faraó
do Êxodo, porque este foi sucessor de um outro que havia tido um reinado de
longa duração.
A data mais recente exige
que Merneptah (1236-1223) tenha sido o rei durante a humilhação no Êxodo.
Porém, ainda que tal evento tivesse ocorrido em seu primeiro ano como Faraó, a
jornada de 40 anos no deserto dataria o início da conquista em 1196. Os juízes
de Israel devem então ser reunidos no período desde o início de sua
administração (cerca de 40 anos após do início da conquista - 1156) até a morte
de Sansão, o último juiz (com exceção de Samuel, que viveu também sob a
monarquia), por volta de 1084. Nenhuma manipulação das evidências consegue
espremer os longos anos do governo dos juízes em 70 ou 100 anos. Além disso, o
próprio Merneptah liderou uma campanha em Canaã no seu quinto ano (1231),
durante a qual ele afirmou ter encontrado e vencido Israel. Obviamente é
impossível que Israel, num espaço de apenas cinco anos, tivesse escapado do
Egito, parado no monte Sinai, peregrinado no deserto, conquistado Seom e Ogue,
entrado em Canaã e, finalmente, por lá ter se estabelecido. Os que advogam uma
data mais recente precisam desconsiderar todo método historiográfico, e
reinterpretar o único documento genuíno - o Antigo Testamento.
6. Data do Nascimento de Moisés (7)
Admitindo a data de 1446 a.C. para o Êxodo, podemos determinar a
data do nascimento de Moisés, um fato de elevada importância nesta conjuntura.
O Antigo Testamento informa que Moisés tinha a idade de 80 anos pouco antes do Êxodo
(Êx 7:7), e 120 anos na sua morte (Dt 34:7). Visto que sua morte ocorreu bem no
fim do período do deserto, podemos datá-la em 1406. Um simples cálculo então
fornece o ano 1526 para o seu nascimento. Por conseguinte, Moisés nasceu
no mesmo ano da morte do Faraó Amenotepe. É preciso enfatizar que não se pode
esperar uma absoluta precisão, mas nossas datas para a cronologia do Novo
Reinado, assim como todas as datas que usamos, são as mesmas utilizadas pelo Cambridge Ancient
History, uma
publicação lançada por estudiosos imparciais, reconhecidos academicamente como
autoridades da mais alta confiabilidade. Quaisquer ajustes nas datas que
aumentem ou diminuam alguns anos em nada afetarão as conclusões aqui propostas.
7. O Faraó do Êxodo (8)
Quando finalmente Moisés retornou ao Egito, ele e
seu irmão Arão começaram a negociar com o novo rei, Amenotepe II, a respeito de
uma permissão para Israel deixar o Egito com o propósito de adorar a Jeová e,
enfim, deixar o país definitivamente. Este poderoso rei conduziu uma campanha
em Canaã em seu terceiro ano (aprox. 1450) e uma outra em seu sétimo ano,
provavelmente em 1446, coincidindo com a tradicional data do Êxodo. Não é
difícil imaginar que a dizimação do exército de Faraó no mar de Juncos pode ter
ocorrido após essa sétima campanha e que, após tamanha desmoralização, um total
desinteresse por uma aventura imediata se abateu sobre o reino, especialmente
para o norte.
Nossa identificação de Amenotepe II como
o Faraó do Êxodo está baseada em duas outras considerações. Em primeiro
lugar, embora a maioria dos reis da 18ª Dinastia tenha estabelecido sua
principal residência em Tebas, bem ao sul dos israelitas no Delta, Amenotepe
morava em Mênfis e, aparentemente, reinou daquele local por um bom tempo. Isto
o colocava em grande proximidade com a terra de Gósen, fazendo-o bastante
acessível a Moisés e Arão. Em segundo lugar, evidências sugerem que o
governo de Amenotepe não passou para seu filho mais velho, mas para o caçula
Tutmose IV. Esta é uma informação subentendida na chamada "estela do
sonho", que foi encontrada na base da Grande Esfinge perto de Mênfis.
O texto, que
registra um sonho no qual Tutmose IV recebeu a promessa de que um dia viria a
ser rei, sugere, como diz um historiador, que o seu reino sucedeu
"mediante uma imprevista mudança no destino, como a morte prematura do
irmão mais velho". É claro que isto é praticamente impossível de se
provar, mas também não há como deixar de especular se tal morte prematura não
tenha ocorrido por intermédio do juízo de Jeová que, na décima praga, matou
todos os primogênitos do Egito que estavam sem a proteção do sangue da Páscoa, “...
desde o primogênito de Faraó, que se sentava em seu trono, até o primogênito do
cativo que estava no cárcere..." (Êx 12.29).
CONCLUSÃO
Deus não chamou o povo de Israel para
exercer um papel hegemônico e imperialista sobre as demais nações. A promessa
dEle a Abraão foi de que através da descendência do patriarca todas as famílias
da Terra seriam benditas (Gn 12:3). Justamente por isso, Deus disse a Moisés
que, uma vez que toda, a Terra era propriedade dEle, se os israelitas ouvissem
a sua divina voz e guardassem a sua aliança, eles seriam um reino de sacerdotes
e uma nação santa (Ex 19:5,6). Como se sabe, Israel não entendeu esse papel a
ser desempenhado e confundiu responsabilidade com privilégio,
representatividade com regalia e bondade divina com mérito pessoal. O resultado
foi o cativeiro e o desterro.
Não obstante a
falha do povo escolhido, Paulo diz que "tendo a Escritura previsto que
Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a
Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti”(Gl 3:8). Todos os
que, pela fé, creem no Evangelho, são filhos de Deus e descendentes do crente
Abraão: “Não há mais diferença entre judeus e grego, entre escravo e homem
livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo. E se
vocês pertencem a Cristo, então vocês são de fato a descendência de Abraão e
herdeiros conforme a promessa" (Gl 3:28,29). Contudo é preciso
advertir, não significa privilégios, mas responsabilidades; não visa uma
teologia da substituição, mas um dever sacerdotal. Como afirma o apóstolo
Pedro: "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação
santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou
das trevas para a sua maravilhosa luz; vós que, em outro tempo, não éreis povo,
mas, agora, sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas,
agora, alcançastes misericórdia" (1Pe 2:9,10). (9)
-----
(1) Eugene H.
Merrill – História de Israel no Antigo Testamento. CPAD.
(2) ibid
(3) Paul Hoff – O
Pentateuco. Ed. Vida.
(4) Ibid
(5) Eugene H. Merrill – História de Israel no Antigo
Testamento. CPAD.
(6) Ibid
(7) Ibid
(8) Ibid
(9)
Pr. César Moisés Carvalho - Ensinador Cristão. CPAD.