domingo, 29 de novembro de 2020

Aula 10 – A ÚLTIMA DEFESA DE JÓ

 

4º Trimestre/2020

Texto Base: Jó 29:1-5; 30:1-5; 31:1-5

“Ou não vê ele os meus caminhos e não conta todos os meus passos?” (Jó 31:4).

Jó 29

1.E, prosseguindo Jó em sua parábola, disse:

2.Ah! Quem me dera ser como eu fui nos meses passados, como nos dias em que Deus me guardava!

3.Quando fazia resplandecer a sua candeia sobre a minha cabeça, e eu, com a sua luz, caminhava pelas trevas;

4.como era nos dias da minha mocidade, quando o segredo de Deus estava sobre a minha tenda;

5.quando o Todo-Poderoso ainda estava comigo, e os meus meninos, em redor de mim;

 Jó 30

1.Mas agora se riem de mim os de menos idade do que eu, e cujos pais eu teria desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho.

2.De que também me serviria a força das suas mãos, força de homens cuja velhice esgotou-lhes o vigor?

3.De míngua e fome se debilitaram; e recolhiam-se para os lugares secos, tenebrosos, assolados e desertos.

4.Apanhavam malvas junto aos arbustos, e o seu mantimento eram raízes dos zimbros.

5.Do meio dos homens eram expulsos (gritava-se contra eles como contra um ladrão),

Jó 31

1.Fiz concerto com os meus olhos; como, pois, os fixaria numa virgem?

2.Porque qual seria a parte de Deus vinda de cima, ou a herança do Todo-Poderoso desde as alturas?

3.Porventura, não é a perdição para o perverso, e o desastre, para os que praticam iniquidade?

4.Ou não vê ele os meus caminhos e não conta todos os meus passos?

5.Se andei com vaidade, e se o meu pé se apressou para o engano.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos do último discurso de Jó em defesa de sua inocência. Os capítulos 29–31 apresentam um monólogo que pode ser dividido em três partes: em primeiro lugar, ele lançou um olhar retrospectivo para um passado abençoado, para os dias de seus primeiros anos, quando a amizade de Deus pairava sobre sua casa (Jó 29); a seguir, ele voltou o olhar para o seu horrendo presente, quando seu interior fervia, seus ossos ardiam em febre (Jó 30); e, em terceiro lugar, ele dirigiu seu olhar para frente, para um futuro que ainda se mostrava aberto e incerto (Jó 31). Porventura Deus atenderia o clamor de Jó (Jó 31:35)? Por causa de seu sofrimento atroz, que não tinha explicação clara para ele, haja vista que ele sempre manteve plena comunhão com Deus, e por falta de respostas às diversas indagações, Jó estava perdendo as esperanças de em vida ter um restabelecimento do que ele era antes. Mas Jó não aceitou que as coisas terminassem assim e, então, mostrou ousadia de se apresentar diante de Deus para defender a sua causa. Jó desafiou o Todo-Poderoso a uma resposta decisiva (Jó 31:35-40). Do ponto de vista humano é impossível recuperar a esperança diante da tragédia, todavia, se confiarmos em Deus, e permanecermos fiéis a Ele, com temor e tremor, e se desviarmos do mal, podemos recuperá-la, na força do Espírito Santo. Isto aconteceu com Jó, como veremos nas duas últimas lições, e também pode acontecer com qualquer servo de Deus.

I. JÓ RELEMBRA SEU PASSADO DE GLÓRIA

1. Prosperidade material e espiritual (29:1-11)

Neste último discurso Jó passou a relatar, de forma nostálgica, os velhos tempos em que desfrutava prosperidade e honra, além de proteção e orientação de Deus. Era uma época em que vivia no luxo e seus filhos andavam ao seu redor; ele era um homem domesticamente feliz (Jó 29:5). Além disso, era respeitado na cidade pelos moços e idosos e até mesmo pelos príncipes e nobres, por causa de sua justiça e equidade. Ele lembrou como de forma estrondosa tinha sido abençoado por Deus. Naqueles tempos de prosperidade, Jó imaginava que teria uma vida longa e morreria em paz em seu “ninho” (Jó 29:18), com conforto e vitalidade - ideias contidas nas ilustrações do “orvalho [...] sobre os meus ramos” (Jó 29:19); “minha honra se renovava em mim” (Jó 29:20) e o “meu arco se reforçava na minha mão” (Jó 29:20). Nesse seu monólogo retrospectivo, Jó pôde ver o quanto foi abençoado, embora o momento presente contrariasse todo o seu passado.

1.E prosseguindo Jó em sua parábola, disse:

2.Ah! Quem me dera ser como eu fui nos meses passados, como nos dias em que Deus me guardava!

3.Quando fazia resplandecer a sua candeia sobre a minha cabeça, e eu, com a sua luz, caminhava pelas trevas;

4.como era nos dias da minha mocidade, quando o segredo de Deus estava sobre a minha tenda;

5.quando o Todo-poderoso ainda estava comigo, e os meus meninos, em redor de mim;

6.quando lavava os meus passos em manteiga, e da rocha me corriam ribeiros de azeite;

7.quando saía para a porta da cidade e na praça fazia preparar a minha cadeira.

8.Os moços me viam e se escondiam; e os idosos se levantavam e se punham em pé;

9.os príncipes continham as suas palavras e punham a mão sobre a boca;

10.a voz dos chefes se escondia, e a sua língua se pegava ao seu paladar;

11.ouvindo-me algum ouvido, me tinha por bem-aventurado; vendo-me algum olho, dava testemunho de mim;

Além de abençoado, Jó era um homem protegido por Deus (Jó 29:2-4). Note a segunda parte de Jó 29:2: “como nos dias em que Deus me guardava!”. Bem no centro da sua felicidade passada existia a convicção de que Deus velava por ele. A miséria do momento presente denotava a sensação de que Deus o tinha abandonado ou, se ainda olhava para ele, o fazia com olhos inexplicavelmente condenatórios. Esta era a percepção de Jó. Porém, Deus estava provando a sua fé e fidelidade a Ele.

2. Reconhecimento social (29.14-25)

Jó também se lembrou de sua antiga condição social, quando exercia a função de um respeitado conselheiro de sua cidade (Jó 29:7).

“Quando saía para a porta da cidade e na praça fazia preparar a minha cadeira”.

Jó era um homem respeitado por todos (Jó 29:7-10; 21-25). Quando ocupava o lugar de conselheiro da cidade, todas as classes da comunidade lhe rendiam homenagem e o reverenciavam (Jó 29:8-10). A sua opinião era respeitosamente esperada. Quando a exprimia, escutavam-no em silêncio e nada mais tinham a dizer (Jó 29:21-22). As suas palavras eram como chuva refrescante para os espíritos abatidos (Jó 29:23). O seu sorriso era um tônico para os irresolutos – “sorria-me para eles quando não tinha confiança” (Jó 29:24).

Jó 29:11-17 mostra-nos como as ações de Jó eram invariavelmente aprovadas pelas pessoas. O homem, por quem Deus velava (Jó 29:2), olhava escrupulosamente pelos interesses dos necessitados. Até os estranhos podiam esperar que ele defendesse ardorosamente a sua causa – “As causas daquele que eu não conhecia inquiria com diligência” (Jó 29:16). Em todas estas atividades a retidão era a sua túnica e a justiça o seu turbante (Jó 29:14). Dir-se-ia que Jó era a própria encarnação da justiça. Seu amor e defesa pela justiça eram-lhe como uma vestimenta e adorno (Jó 29:14). Tendo agido com justiça e equidade, nada mais natural que esperasse que seus dias terminassem em paz ao lado de sua esposa e filhos (Jó 29.18). Mas, a realidade presente que Jó experimentava pregava o contrário de tudo que ele almejava. Tudo tinha mudado. Jó, juntamente com o seu passado, parecia ter caído no esquecimento de Deus. Era difícil entender, à época, por que Deus provaria com rigor um homem como Jó!

3. Uma ponderação importante

Não há dúvida de que Jó, conforme a Bíblia mostra, era um modelo de justiça social. O texto denota que ele era um defensor do pobre, da viúva e do órfão. Porém, é preciso certo grau de cautela para não transportar para dentro do texto uma ideologia social contemporânea, firmada em valores materialistas contrários aos defendidos nas Escrituras. À luz da teologia bíblica, a leitura de Jó transcende em muito o mero discurso social. Não é que ele não seja relevante, pois é relevante sim; todavia, a mensagem de Jó não pode ser resumida a essa temática. Quando o livro de Jó é visto por esse prisma, torna-se apenas uma alegoria de uma sociedade oprimida e marginalizada economicamente. Portanto, não se deve olhar para o Livro de Jó como um catálogo de ideias socialistas, o que não condiz com a rica mensagem do livro. Sem dúvida, Jó era um homem que defendia a justiça social, mas nem de longe se pode classificá-lo como um socialista nos termos hodiernos.

Embora as questões sociais possam ser discutidas a partir do livro de Jó, a questão contemplada por ele é muito mais relevante. Não pode ser visto como um conflito de classes onde a nobreza e o proletariado estão em conflito, nem tampouco um contraste entre comunismo e capitalismo. Essas são ideologias modernas que são frequentemente transportadas para dentro do texto. Jó transcende em muito a tudo isso. Sem dúvida, ele combate a barganha, fruto da lei da retribuição, mas esse combate dá-se na esfera relacional. A religião verdadeira não se firma em um sistema de troca, nem tampouco de serviços prestados, mas única e exclusivamente na relação de um Deus que ama e em um ser humano que é grato por ser fruto desse amor. Em outras palavras, a verdadeira religião firma-se na graça e na resposta que o ser humano dá a ela. (1)

II. JÓ LAMENTA SEU ESTADO PRESENTE

Teremos como texto base o capítulo 30 de Jó. Este capítulo contrasta com o capítulo 29, no qual é narrado que Jó desfrutava do respeito e honra dos anciãos da cidade e das pessoas importantes; no capítulo 30 Jó é desprezado pelas pessoas mais vis da sociedade.

1. Desprezo por parte dos jovens e das classes menos favorecidas (Jó 30:1-15)

No capítulo 29, Jó fez uma retrospectiva de sua antiga e ditosa condição social, quando era respeitado não apenas pelos mais velhos, mas também pelos mais jovens; agora, no capítulo 30, ele lamenta profundamente a situação de miséria em que havia chegado. No Antigo Oriente, os mais velhos eram objetos de grande estima (Pv.20:29), mas agora Jó era escarnecido pelos mais jovens, cujos pais viviam à margem da sociedade e não serviam nem para cuidar do rebanho ao lado de seus cães; eram exaustos, fracos e pobres; famintos a ponto de se alimentarem de raízes do deserto; viviam como nômades sem casa, expulso do meio dos homens e escorraçados da terra (cf. Jó 30:1-8). São essas escórias da sociedade que passaram a tratar Jó com enorme desprezo. Observe as expressões que descrevem o comportamento desses infames: “sou sua canção de motejo”; “não se abstém de me cuspir no rosto”; “me empurra”; “contra mim prepara o seu caminho de destruição”, etc. (cf. Jó 30:9-15). Em outras palavras, a honra e a felicidade de Jó desapareceram completamente. Jó havia chegado ao fundo do poço. Se estivéssemos numa situação como a de Jó, como reagiríamos? Permaneceríamos fiéis a Deus como Jó permaneceu ou blasfemaríamos contra Deus?

2. Abatimento físico e emocional (Jó 30:16-31)

Jó se sentia abandonado por Deus, por isso, ele se lançou numa profunda tristeza e produziu em sua vida um grande sofrimento físico, e também de natureza emocional e psicológica. Jó estava sendo atormentado pelas dores e tinha o rosto desfigurado pela agonia. Seu corpo reduzido a pó e cinza apenas aguardava a morte. O Senhor não respondia às suas orações e o tratava com truculência, jogando-o de um lado para o outro. Ele sentia que em breve Deus o mataria.

Jó não entendia como o Senhor podia tratar daquela forma um homem que o buscava em desprezo na hora da morte. Ele próprio tivera misericórdia de pessoas em situações difíceis; todavia, chegando sua vez, ninguém demonstrava compaixão. Sua dor intensa aumentava em razão da solidão e rejeição; sua condição física e emocional era assustadora. Como foi possível um homem como ele se tornar “irmão dos chacais e companheiro de avestruz?” (Jó 30:29). Jó imaginava que Deus estava por trás de todo esse sofrimento (Jó 30:19) e que, mesmo depois de clamar, o Altíssimo lhe ignorava. Pelo menos ele discernia que Deus estava por trás de todo esse sofrimento, mas, como ele o amava profundamente, não ousava blasfemar contra o seu Deus.

Nos momentos de provas como estes de Jó somos desafiados a permanecer fiéis a Deus. O apóstolo Paulo, também, foi desafiado em suas cruéis provas. Mas ele não perdeu a esperança de um maravilhoso porvir, não neste mundo, mas no Céu com certeza. Ele disse com firmeza:

“segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fp.1:20,21).

3. Deus teria abandonado Jó?

Jó além de perder todo o seu patrimônio, e filhos, e amigos, a sua saúde física e emocional, também foi desprezado pelas pessoas que sempre ele estava presente em suas necessidades; até mesmo pelos párias da sociedade da época ele foi desprezado; além disso, teve que conviver com o silêncio de Deus - ele orava, suplicava, clamava, mas Deus não o respondia, e ainda o tratava com truculência. Teria Deus abandonado Jó? Quantas pessoas não passam por esse sentimento? Muitas vezes sentimento de injustiça tem invadido a nossa alma e nos tem deixado combalido, sem ânimo para levantar e caminhar. Quando estamos numa situação semelhante a essa, sentimos a sensação de abandono – abandono das pessoas e de Deus. Mas, Deus nunca abandona os seus filhos. O seu silêncio é uma forma dolorosa de se comunicar conosco. Os seus olhos estão fitos sobre os justos (1Pd.3:12). Está escrito: “Eis que os olhos do SENHOR estão sobre os que o temem, sobre os que firmam toda a esperança em suas misericórdias” (Sl.33:18). Portanto, confiemos no SENHOR de todo o nosso coração e não nos apoiemos no nosso próprio entendimento e conjecturas (Pv.3:5).

III. O FUTURO EM ABERTO DE JÓ

Neste tópico trataremos do futuro incerto de Jó; teremos como base o capítulo 31. No capítulo 29, ele revisou as suas boas obras; aqui no capítulo 31, ele faz uma lista dos pecados que não cometera em seu coração (Jó 31:1-12), contra o próximo (Jó 31:13-23) ou contra Deus (Jó 31:24-34).

1. Jó em defesa de sua ética sexual (Jó 31:1-4)

Jó perseverou em sua inocência, afirmando que nunca olhara para uma donzela com intenção impura, pois sabia que Deus vê e pune esse pecado. Nunca agiu com falsidade e estava convencido que um exame minucioso de sua vida certamente convenceria o Senhor desse fato. Ele não se desviou do caminho da justiça; do contrário, mereceria perder seu largo patrimônio. Não cobiçou a mulher do próximo; caso tivesse feito isso, seria justo que sua esposa se tronasse mulher de outro homem e que seus bens e sua vida fossem destruídos. Disse Jó:

1.Fiz concerto com os meus olhos; como, pois, os fixaria numa virgem?

2.Porque qual seria a parte de Deus vinda de cima, ou a herança do Todo-Poderoso desde as alturas?

3.Porventura, não é a perdição para o perverso, e o desastre, para os que praticam iniquidade?

4.Ou não vê ele os meus caminhos e não conta todos os meus passos?

A nós outros, povo de Deus do Novo Testamento, o apóstolo Tiago nos exorta que a concupiscência ou os desejos ilícitos produzem pecado:

“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.
Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte. Não erreis, meus amados irmãos” (Tg.1:14-16).

 2. Jó em defesa de sua ética social (Jó 31:16-23)

Nesta sua última defesa, Jó também fez menção de sua ética social. A justiça social que ele praticara marcou sua forma de agir, como ele já tinha afirmado antes. Mas, isso só foi possível porque procurou conduzir-se sempre por princípios de uma ética social. Jó praticava a caridade para com os pobres, a viúva e o órfão, e tinha compaixão de seus servos e até mesmo de pessoas desconhecidas. Além disso, não cobiçava ouro; nunca se deixou enganar pela idolatria (venerar o sol e a lua); nunca usou de malícia para com seus inimigos; praticava a hospitalidade para com todos; não possuía pecados ocultos, e era honesto na administração de suas terras e empregados (cf. Jó 31:13-37). O comportamento ético-social de Jó o habilitou a agir como juiz dos desvalidos (Jó 31:13-23). 

Lembremos de que o cuidado dos necessitados não é somente o conteúdo do Cristianismo, mas a sua expressão. A preocupação prática da religião de uma pessoa é o cuidado pelos outros. Tiago afirmou que a verdadeira religião é “visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo” (Tg.1:27). A religião é a prática da fé, é a fé em ação. Seremos julgados com base nesse aspecto prático da religião (Mt.25:34-46). Quando nós olhamos no espelho da Palavra, nós vemos a Deus, a nós mesmos, e também o nosso próximo. Palavras não substituem obras (Tg.2:14-18; 1João 3:11-18). Pense nisso!

3. Jó busca a resposta de Deus (Jó 31:35-40)

Concluindo a sua defesa, Jó se volta mais uma vez para a urgência do clamor contínuo do seu coração durante todo o diálogo. Deus continuava silente e distante. Jó precisava desesperadamente da oportunidade de defender sua causa. Ele imaginou que as acusações que Deus tinha colocado contra ele deviam ser escritas de forma clara para Jó ver e anotar (Jó 31:35,36). Então seria possível responder e dizer a Deus como ele se comportou. Deus perceberia que ele foi um nobre em sua conduta (Jó 31:37). Jó já havia feito uma viagem retrospectiva sobre o seu passado, agora ele fez uma análise sobre sua situação presente, mas seu olhar estava no futuro.

“Tomara eu tivesse quem me ouvisse! Eis aqui a minha defesa assinada! Que o Todo-Poderoso me responda! Que o meu adversário escreva a sua acusação! Por certo que a levaria sobre o meu ombro, atá-la-ia sobre mim como coroa; mostrar-lhe-ia o número dos meus passos; como príncipe me chegaria a ele” (Jó 31:35-37).

Quanto ao povo do Novo Testamento, os seus atos foram justificados pela graça divina, por meio de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que nos justifica (Rm.8:31-33). Quando fomos justificados, fomos atingidos pela graça divina (Rm.5:18), graça que sobrepuja a nossa velha natureza, de tal sorte que o apóstolo Paulo diz que “onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm.5:20), como também que, na vida do justificado, a graça reina pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor (Rm.5:21). A graça, portanto, passa a ser o critério do nosso relacionamento com Deus. Somos, a todo momento e instante, atingidos pelo favor imerecido do Senhor. É por este motivo que o tempo em que vivemos é denominado de “dispensação da graça” (cf. Ef.3:2), ou seja, o período em que o relacionamento de Deus para com os homens é orientado pela “graça”, pelo favor divino em relação ao homem que não leva em consideração os méritos humanos.

Finalmente, Jó pediu para que a própria terra (Jó 31:38) fosse sua testemunha. Ele tratou a terra, seus produtos e seus donos (Jó 31:39) de maneira justa; caso não tivesse feito isso, ele mais uma vez pediu para que maldição caísse sobre a sua terra por meio de cardos e joio (Jó 31:40). Jó ardentemente clamava por justiça, pois tinha consciência de que não pecara contra Deus nem contra o próximo. Com esse protesto final de inocência, Jó conclui sua defesa.

“Se a minha terra clamar contra mim, e se os seus sulcos juntamente chorarem; se comi os seus frutos sem tê-la pago devidamente e causei a morte aos seus donos, por trigo me produza cardos, e por cevada, joio. Fim das palavras de Jó” (Jó 31:38-40).

CONCLUSÃO

Nesta Aula tratamos da última defesa de Jó, exarada nos capítulos 29, 30 e 31. Neles, Jó fez menção de seu próspero e abençoado passado e como ele agiu com integridade e consideração com os menos favorecidos da sociedade de sua época; não somente com essas pessoas, mas com todos ele agiu com equidade. A sua riqueza superabundante não torceu o seu caráter nem o seu relacionamento com Deus e com o próximo. Segundo ele, nunca agiu de forma injusta com ninguém nem tampouco cometeu pecados que o desonrassem moralmente. E no final de sua defesa ele ousou se apresentar diante de seu Deus e almejar receber dEle a decisão de que foi injustiçado e que seus atos apontavam como um homem inculpado.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Hernandes Dias Lopes. Neemias – As teses de Satanás.

Comentário Bíblico Beacon. CPAD.

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

(1) Pr. José Gonçalves. A fragilidade humana e a Soberania Divina. CPAD.

domingo, 22 de novembro de 2020

Aula 09 – JÓ E A INESCRUTÁVEL SABEDORIA DE DEUS

 4º Trimestre/2020

Texto Base: Jó 28:1-28

 “Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência” (Jó 28:28).

Jó 28:

1.Na verdade, há veios de onde se extrai a prata, e, para o ouro, lugar em que o derretem.

2.O ferro tira-se da terra, e da pedra se funde o metal.

3.O homem pôs fim às trevas e até à extremidade ele esquadrinha, procurando as pedras na escuridão e na sombra da morte.

4.Trasborda o ribeiro até ao que junto dele habita, de maneira que se não pode passar a pé; então, intervém o homem, e as águas se vão.

5.A terra, de onde procede o pão, embaixo é revolvida como por fogo.

6.As suas pedras são o lugar da safira e têm pós de ouro.

7.Essa vereda, a ignora a ave de rapina, e não a viram os olhos da gralha.

8.Nunca a pisaram filhos de animais altivos, nem o feroz leão passou por ela.

9.Ele estende a sua mão contra o rochedo, e revolve os montes desde as suas raízes.

10.Dos rochedos faz sair rios, e o seu olho descobre todas as coisas preciosas.

11.Os rios tapa, e nem uma gota sai deles, e tira para a luz o que estava escondido.

12.Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência?

13.O homem não lhe conhece o valor; não se acha na terra dos viventes.

14.O abismo diz: Não está em mim; e o mar diz: Ela não está comigo.

15.Não se dará por ela ouro fino, nem se pesará prata em câmbio dela.

16.Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira.

17.Com ela se não pode comparar o ouro ou o cristal; nem se trocará por joia de ouro fino.

18.Ela faz esquecer o coral e as pérolas; porque a aquisição da sabedoria é melhor que a dos rubis.

19.Não se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode comprar por ouro puro.

20.De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência?

21.Porque está encoberta aos olhos de todo vivente e oculta às aves do céu.

22.A perdição e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama.

23.Deus entende o seu caminho, e ele sabe o seu lugar.

24.Porque ele vê as extremidades da terra; e vê tudo o que há debaixo dos céus.

25.Quando deu peso ao vento e tomou a medida das águas;

26.quando prescreveu uma lei para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões,

27.então, a viu e a manifestou; estabeleceu-a e também a esquadrinhou.

28.Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência.

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo do Livro de Jó, trataremos nesta Aula a respeito da “inescrutável sabedoria de Deus”. Teremos como texto base o capítulo 28 de Jó. Neste capítulo, Jó mais uma vez questionou a fonte da sabedoria de Elifaz, Bildade e Zofar, pois suas respostas não passavam de uma exposição filosófica que nada tinha a ver com as verdades profundas de Deus.

Muitas pessoas estão em busca da verdade e outras já desistiram de buscar, há bastante tempo. O problema da humanidade é que ela tem buscado a verdade em lugares que não a apresentarão de maneira satisfatória, como a filosofia natural e a ciência sem Deus, por exemplo. O ser humano é capaz de tantas coisas, mas não de encontrar sabedoria. Jó descreveu a incrível capacidade humana de cavar a terra, remover montanhas e atravessar rochas em busca de tesouros, mas não tem habilidade alguma de encontrar a sabedoria de Deus. Jó encerra o capítulo 28 com uma afirmação muito comum no livro de Provérbios, dizendo que a sabedoria está em temer ao Senhor (Jó 28:28). Temer ao Senhor não é ter medo dEle, mas demonstrar a Ele reverência. A motivação para um filho obedecer a seu pai deve ser o respeito e o amor a ele, mais do que o medo de ser castigado. Portanto, segundo as Escrituras Sagradas, uma pessoa sábia não é aquela que domina vários idiomas e dialetos, não é a que tem mais habilidade de ler livros e absorver conhecimento, não é aquela conhecedora exímia de filosofia, não é aquela que possui profundo conhecimento de teologia, não é aquela que possui profundo conhecimento da literatura nacional e mundial, não. Segundo as Escrituras, a pessoa sábia é aquela que tem o temor do Senhor - “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Sl.111:10; Pv.9:10).

I. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM NATURAL

1. O empenho na busca da sabedoria

Em Jó 28:1-14 o autor contrasta o árduo trabalho do homem na busca por bens preciosos nas entranhas da terra com a busca pela sabedoria. Jó esquece suas feridas e todas as suas angústias, e fala como um filósofo. Neste discurso há uma grande dose de filosofia moral e, também, natural. Aqui, Jó discorre a respeito da riqueza terrena, e quão diligentemente ela é buscada e perseguida pelos filhos dos homens, os esforços que eles fazem, os planos que elaboram, e os riscos que correm para obtê-la (Jó 28:1-11). Assim como o profissional do minério usa diligentemente a tecnologia na busca de metais preciosos, também ele deve empreender um grande esforço para encontrar a Sabedoria; o seu preço é muito elevado, é de valor inestimável (Jó 28:15-19). Os tesouros existem, mas estão enterrados; a Sabedoria existe, é um bem mui precioso, mas o seu lugar é extremamente secreto (Jó 28:14,20,22); é necessário grande empenho para alcançá-la.

2. Como quem explora o minério, assim o homem faz com a Sabedoria

O narrador expõe a diligência do homem na exploração do minério nas entranhas da terra (Jó 28:3-11). O homem vai até o fundo da terra (Jó 28:2) para descobrir metais e pedras preciosas. Para colocar um “fim às trevas” (Jó 28:3), os habilidosos na mineração vão até as profundezas da terra como se fossem luz. As minas geralmente são locais de difícil acesso e de pouca iluminação, por isso, há a necessidade de se abrir caminho e colocar luz artificial. Por meio da diligência e invenção deles, podem encontrar o tesouro escondido – “as pedras na escuridão” (Jó 28:3-5).

3.O homem pôs fim às trevas e até à extremidade ele esquadrinha, procurando as pedras na escuridão e na sombra da morte.

4.Trasborda o ribeiro até ao que junto dele habita, de maneira que se não pode passar a pé; então, intervém o homem, e as águas se vão.

5.A terra, de onde procede o pão, embaixo é revolvida como por fogo.

Entende-se aqui que aqueles que trabalham nas minas procuram os limites dos lugares escuros, aventurando-se nos recônditos mais remotos para obter minério; eles cavam poços profundos nos vales, em lugares remotos, raramente visitados por alguém, e descem neles, pendurados em cordas que oscilam para frente e para trás. Da terra o homem obtém o pão de cada dia, mas debaixo da superfície a terra é revolvida como por fogo (Jó 28:5).

A atividade e a engenhosidade do homem são maravilhosas, mas em todo esse empreendimento a “sabedoria” (Jó 28:12) não é descoberta. Ter conhecimento técnico profundo para explorar pedras preciosas não significa ter Sabedoria de Deus, pois ela não se acha na terra dos viventes” (Jó 28:13); ela não se encontra no abismo nem no mar (Jó 28:14). Por mais extraordinária que a exploração e a descoberta humana possam parecer, as pessoas não conseguem nem mesmo começar a sondar a sabedoria divina. As mentes humanas mais privilegiadas não conseguem descobri-la ou explorá-la. Os amigos de Jó tentaram, diligentemente, examinar o sábio entendimento de Deus acerca da situação de Jó, mas não obtiveram êxito; a Sabedoria suprema sempre permanece elusiva e além da compreensão humana.

3. De onde vem a Sabedoria?

Jó reconhece que a sabedoria está oculta a todos os seres da terra, mesmo às aves do céu, que podem enxergar longe, do alto (Jó 28:21). Jó demonstrou que o homem tem sido exitoso no seu trabalho de exploração de minérios, porém, incapacitado na “escavação da sabedoria”; tem procurado, mas não encontrado. Por que isso? Porque a verdadeira Sabedoria está escondia em Deus, e é Ele quem a revela; ela é dádiva de Deus (Pv.2:6).

“Porque o SENHOR dá a sabedoria, e da sua boca vem o conhecimento e o entendimento”.

A verdadeira Sabedoria, portanto, não se recebe nos bancos de uma escola, universidade, nem se aprende com a leitura de bons livros. Sabedoria não é um dote natural, é um dom exclusivo de Deus; emana das alturas; procede do Céu. Existe uma sabedoria terrena, mas não é sobre essa Sabedoria que estamos aqui tratando. Estamos tratando da Sabedoria divina, a Sabedoria que vem do Céu; essa deve ser desejada e pedida; deve ser buscada como buscamos a prata e o ouro.

Aqueles que pedem a Deus sabedoria, esses a recebem (Tg.1:5). Só Deus concede esse dom. Só de Deus procede essa boa dádiva. Da boca de Deus emanam a inteligência e o entendimento. A compreensão da vida e o discernimento dos propósitos da existência são o resultado de conhecermos a Deus. Aqueles que andam com Deus são sábios. Aqueles que amam a Deus têm inteligência e compreensão para discernir entre o bem e o mal, para separar o precioso do vil. É da boca de Deus, ou seja, de Sua Palavra, que procede a verdadeira compreensão acerca de Deus e da humanidade, do tempo e da eternidade, da vida e da morte. Aqueles que se apartam dos preceitos divinos entregam-se a estultícia, mas aqueles que se dedicam a conhecê-los e ensiná-los experimentam segurança e deleite, tanto no tempo presente como na eternidade. (1)

A Sabedoria somente se manifesta de forma prática na vida dos homens através do temor do Senhor. Como já frisei, a pessoa sábia é aquela que tem o temor do Senhor - “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Sl.111:10; Pv.9:10). Portanto, a Sabedoria é relacional. Este foi um testemunho que o próprio Deus já havia dado sobre Jó. Ao contrário de seus amigos, ele vivia a sabedoria divina.

Temer a Deus, portanto, é conhecê-lo, honrá-lo, obedecer-lhe. Temer a Deus é colocar os pés na estrada da santidade e beber das torrentes da felicidade. Quando tememos a Deus, nossos dias são dilatados na terra e somos poupados de muitas aflições. O temor ao Senhor é o grande freio moral que nos protege das propostas sedutoras do enriquecimento ilícito e nos blinda da sedução perigosa das aventuras sexuais. O temor ao Senhor nos afasta dos caminhos escorregadios e firma os nossos passos nas veredas da justiça. O temor ao Senhor nos desvia de companhias erradas e de lugares errados.

II. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM COMERCIAL

1. O preço da Sabedoria

Assim como aqueles que trabalham nas minas tem um esforço hercúleo para conseguir o que quer, também os que buscam a Sabedoria que vem de Deus precisam pagar um alto preço de sacrifício e devotamento. Segundo Jó, a Sabedoria vinda de Deus não tem um preço tangível que se possa oferecer para adquiri-la, o seu valor é incalculável; é patrimônio exclusivo de Deus, por isso, não pode ser transmitida. Portanto, o caminho da Sabedoria não pode ser encontrado tão facilmente. Como afirma Jó, a Sabedoria não está na terra ou no mar e não pode ser comprada ou avaliada, pois seu valor excede o precioso ônix, a safira e até mesmo o ouro puro (Jó 28:12-19).

12.Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência?

13.O homem não lhe conhece o valor; não se acha na terra dos viventes.

14.O abismo diz: Não está em mim; e o mar diz: Ela não está comigo.

15.Não se dará por ela ouro fino, nem se pesará prata em câmbio dela.

16.Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira.

17.Com ela se não pode comparar o ouro ou o cristal; nem se trocará por joia de ouro fino.

18.Ela faz esquecer o coral e as pérolas; porque a aquisição da sabedoria é melhor que a dos rubis.

19.Não se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode comprar por ouro puro.

2. O valor da Sabedoria

“O homem não lhe conhece o valor; não se acha na terra dos viventes” (Jó 28:13).

Jó declarou que a Sabedoria não pode ser encontrada entre os viventes. É natural que as pessoas que não compreendem a importância da Palavra de Deus busquem sabedoria neste mundo. Elas procuram filósofos e outros mestres do saber que lhes forneçam direção para a vida. Por este motivo, Jó afirmou que a Sabedoria não é encontrada ali. Lamentavelmente, o homem ainda não aprendeu o verdadeiro valor da Sabedoria nem onde encontrá-la e que, por isso, acredita ser fácil adquiri-la. Nenhum mestre ou grupo de mestres pode produzir conhecimento ou percepção suficientes para explicar a totalidade da experiência humana. A interpretação definitiva da vida, de quem somos e para onde vamos, precisa vir de cima. Quando buscamos orientação, procuramos a Sabedoria de Deus como revelada na Bíblia. Para sermos elevados além dos limites da vida, precisamos conhecer e confiar no Senhor da vida.

Salomão, na sua cosmovisão, falando do valor da sabedoria, disse: “Porque melhor é a Sabedoria do que joias e, de tudo o que se deseja, nada se pode comparar com ela” (Pv.8:11). O ser humano corre sofregamente atrás de prata, ouro, joias e riquezas. Investe seu tempo, usa sua energia, devota sua inteligência e emprega seus talentos para amealhar riquezas. Muitos chegam a alcançar sucesso nessa empreitada, porém deixam para trás os destroços de sua busca insaciável. Há aqueles que destroem o casamento e a família para atingirem o topo da pirâmide social; acumulam bens, mas perdem a família; ajuntam tesouros, mas perdem a alma.

A Sabedoria divina nos adverte: o conhecimento é melhor do que o ouro escolhido; a Sabedoria é melhor do que joias. Nada neste mundo, nem as riquezas nem os prazeres, pode ser comparado à sabedoria. O néscio ajunta tesouros julgando que essa riqueza lhe dará felicidade e segurança; porém, esses tesouros acabam se transformando no combustível de sua própria destruição. Quando alguém busca conhecimento e sabedoria em vez de correr atrás de prata, ouro e joias, encontra segurança, felicidade e riqueza. (2)

Infelizmente, hoje, o mundo tem muito conhecimento, porém, pouca sabedoria. Somos considerados a sociedade do conhecimento. Avançamos em ciência, tecnologia e comunicação. Temos satélites e a internet, e sabemos que muito mais novidade vem por aí. O mesmo conhecimento que nos trouxe conquistas e conforto, trouxe-nos guerras e morte. Tanto não alcançamos felicidade pelo livre e pleno exercício da razão, como multiplicamos alternativas emocionais, hedonistas, utilitárias e egocêntricas para a vida comum. Distanciamo-nos uns dos outros; estranhamo-nos; isolamo-nos. Nossos índices de drogadição, alcoolismo, acidentes de trânsito, conflitos e dissoluções familiares aumentaram drasticamente.

Diante desse quadro, eis uma conclusão: temos muito conhecimento, mas pouca sabedoria. Conhecimento é domínio da informação que se refere ao objeto de interesse; sabedoria é a capacidade de utilizar o conhecimento em prol da vida e dos relacionamentos. O sábio não é, necessariamente, aquele que tem muito conhecimento, mas aquele que canaliza adequadamente para as ações e decisões do dia-a-dia todo o conhecimento que tem. Assim, um morador da periferia, um profissional artesanal, um administrador de negócio próprio sem formação acadêmico, uma dona de casa ou um jovem que trabalha no campo podem ser mais sábios que um doutor ou um professor universitário. Com certeza, nossa geração é a geração do conhecimento, mas carece de uma sabedoria que a ajude a encontrar veredas de vida e paz. (3)

3. A Sabedoria não é um bem comercial

Jó afirmou que a Sabedoria não é um bem comercial, e que o seu valor é inestimável e só quem pode concedê-la é Deus; portanto, não pode ser encontrada em qualquer lugar. Ela é o tesouro mais precioso do que ouro puro (Jó 28:19). Deve ser desejada mais do que a prata e o ouro refinado. Deve ser buscada mais do que o sucesso. É um bem que deve ser mais cobiçado do que a riqueza. Muitos desprezam a Sabedoria como se ela não fosse desejável; preferem os prazeres, cobiçam as riquezas, anseiam o sucesso; outros, mesmo tendo ouvido sobre o caminho excelente da sabedoria, apartam-se voluntária e afrontosamente dessa vereda; buscam caminhos mais sedutores; colocam os pés em estradas cercadas por mais aventuras; cobiçam coisas mais imediatas. O fim dessas escolhas insensatas, entretanto, é a decepção e o fracasso. É melhor ser um sábio pobre do que um rico tolo. É melhor ter Sabedoria do que ajuntar riquezas. É melhor obedecer aos preceitos de Deus do que deles se apartar.

III. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM ESPIRITUAL

1. Uma Verdade revelada

Pergunta o narrador: “De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência?” (Jó 28:20). No capítulo 28:13-19, Jó fez um contraste entre o trabalho de um minerador e o de quem procura a sabedoria. Ao contrário de Bildade, que chama o ser humano de “verme”, Jó admite a inteligência e a destreza dos homens para minerar a terra. O sucesso humano na mineração é prova de sua inteligência e habilidade; apesar disso, o homem fracassou completamente em sua busca por Sabedoria. Também as riquezas deste mundo são incapazes de comprá-la, pois ela não é um bem comercial (Jó 28:13-19). Jó afirma que a Sabedoria está escondida dos olhos de todo vivente (Jó 28:21); ela não está no centro da terra, nem com os sábios, de forma que possa ser passada pela simples via da tradição ou do conhecimento. Somente Deus é capaz de doá-la (Jó 28:21-28). O abismo e a morte apenas ouviram falar dela. Deus, o Criador da natureza, é a origem da sabedoria, pois o Senhor “lhe entende o seu caminho, e ele sabe o seu lugar. Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência” (Jó 28:23,28).

Contudo, a Sabedoria não é uma ideia abstrata, é uma Pessoa concreta. Não é uma pessoa meramente humana, mas a Pessoa divina. A Sabedoria é uma expressão eloquente do próprio Jesus, o Filho de Deus, que foi revelado na plenitude dos tempos (Gl.4:4). A Sabedoria faz soar sua voz, em tempo e fora de tempo, e em todos os lugares, a fim que todos conheçam sua mensagem. Sua mensagem é urgente e absolutamente vital. Tapar os ouvidos à voz da Sabedoria é caminhar para a morte e fazer uma viagem rumo ao desastre. Deus nos falou muitas vezes, de muitas maneiras, aos pais pelos profetas, mas agora ele nos fala pelo seu Filho, a Verdade revelada. Jesus é a Sabedoria de Deus; ouvir sua voz é viver; obedecer à sua voz é caminhar para a bem-aventurança eterna.

2. Uma Verdade prática

A Sabedoria não deve ser apenas sentida, ou contemplada, mas deve ser, principalmente, praticada. Ela deve ser uma realidade presente em nosso coração, e não apenas um vocábulo que está grafado nos dicionários. Nosso coração precisa ser a morada da Sabedoria. Ela precisa nos governar e ter todas as chaves da nossa vida. Não pode ser apenas uma inquilina sem autoridade de fazer as mudanças necessárias.

A Sabedoria precisa ser a dona da “casa”. Não pode ser apenas uma hóspede, que vem e vai embora, mas sim uma residente permanente. Quando a sabedoria é entronizada em nossa vida, então nos tornamos sábios. Salomão, ao ser entronizado rei de Israel, não pediu riqueza nem poder; pediu Sabedoria, e, com a Sabedoria vieram as demais coisas. Aqueles que são templos da Sabedoria descobrem que o conhecimento de Deus traz gozo e paz, uma fonte perene de delícias para a alma. (4)

A Sabedoria se materializa no temor do Senhor. Jó disse que a Sabedoria está no “temor do Senhor” (Jó 28:28). O temor a Deus é o princípio da Sabedoria. Quem teme a Deus afasta-se do mal, e quem se afasta do mal evita uma abundância de problemas na vida. Quem teme a Deus não desperdiça sua saúde em noitadas de aventuras. Quem tema a Deus não intoxica seu corpo com nicotina nem com outras drogas pesadas. Quem teme a Deus não se pende aos ditamos do alcoolismo. Quem teme a Deus não entrega seu corpo à impureza nem chafurda na lama da promiscuidade sexual. Quem teme a Deus não entrega sua língua à maledicência nem compra brigas desnecessárias, para depois viver amargurado. Quem teme a Deus semeia amor e colhe compreensão. Quem teme a Deus não guarda mágoa em seu coração, mas abençoa quem o maldiz. Portanto, a Sabedoria é uma verdade revelada e tem implicações práticas.

3. Cuidado com a falsa sabedoria

Nada é mais contrário à sabedoria do que a presunção. A sabedoria que se impõe pela empáfia e pela soberba é consumada tolice. O sábio é aquele que não faz propaganda de si mesmo. A sabedoria sempre anda de mãos dadas com a humildade; sempre se veste de modéstia. Salomão assim se expressou: “Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao SENHOR e aparta-te do mal” (Pv.3:7). Aqui, ele dá três conselhos:

  • Primeiro conselho - a necessidade imperativa da humildade. Só os humildes conhecem a ciência da sabedoria, e só os humildes serão exaltados.
  • Segundo conselho - a necessidade de sermos guiados na vida pelo temor ao Senhor. Só o temor a Deus nos livra de quedas e fracassos. Só o temor a Deus nos abre os portais da sabedoria.
  • O terceiro conselho - a necessidade de nos afastarmos de tudo o que é errado. Ninguém é regido pela sabedoria fazendo o mal e firmando alianças com aqueles que vivem na prática da injustiça.

Portanto, humildade de coração, temor ao Senhor e santidade de vida são os pilares da verdadeira sabedoria. Buscá-la em outras fontes é cavar cisternas rotas. Tocar trombetas para fazer apologia de si mesmo é insensatez. Nenhum engano é mais perigoso do que o autoengano. Nenhuma humilhação é mais notória do que aquela colhida pelos que exaltam a si mesmos. Não construa monumentos a si mesmo. Viva para a glória de Deus. Fuja da falsa sabedoria. (5)

CONCLUSÃO

Vimos que mesmo com empenho na busca da Sabedoria divina, os resultados não são satisfatórios. Não podemos alcançá-la, senão pela revelação divina. Ela está em Deus e somente Ele pode outorgá-la; somente Ele pode revelá-la - “O Senhor dá a sabedoria” (Pv.2:6) -, entretanto, ela não é encontrada nos segredos da natureza ou da providência, mas nas regras para o nosso próprio proceder. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Portanto, a Sabedoria se materializa no temor do Senhor. Logo, quem teme ao Senhor é sábio. Assim sendo, devemos engendrar esforços para alcançá-la. Muitos lutam bravamente para ser ricos; nesse projeto, empregam toda a sua energia e, às vezes, para alcançar seu propósito, perdem a própria alma. Outros tem como sentido da vida a busca sôfrega por preencher o vazio do coração. Salomão, que granjeou fortunas colossais e desfrutou de prazeres mil, diz que alcançar a sabedoria é o melhor de todos os projetos de vida. Quem alcança a sabedoria tem acesso à árvore da vida – come de seus frutos deliciosos e repousa debaixo de sua sombra abençoadora.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Hernandes Dias Lopes. Neemias – As teses de Satanás.

Comentário Bíblico Beacon. CPAD.

Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.

Pr. José Gonçalves. A fragilidade humana e a Soberania Divina. CPAD.

Pr. Caramuru Afonso Francisco. Zofar e o perigo do Deísmo.PortalEBD.2003.

(1) Hernandes Dias Lopes. Provérbios, manual de sabedoria para a vida.

(2) Hernandes Dias Lopes. Ibidem.

(3) Marcelo Gomes. Sabedoria para viver e ser feliz.

(4) Hernandes Dias Lopes. Provérbios, manual de sabedoria para a vida.

(5) Hernandes Dias Lopes. Ibidem.