4º Trimestre_2012
Texto Básico: 1:1-6; 2:1-4
“Tu és
tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a vexação não podes contemplar;
por que, pois, olhas para os que procedem aleivosamente e te calas quando o
ímpio devora aquele que é mais justo do que ele?” (HC 1:13)
INTRODUÇÃO
O Livro de Habacuque, embora
esteja distante de nós há mais de 2.500 anos, sua mensagem é atual, e sua
pertinência, insofismável. Os tempos mudaram, mas o homem é o mesmo. Ele ainda
é prisioneiro das mesmas ambições, dos mesmos descalabros morais, da mesma
loucura. O profeta Habacuque começa seu livro questionando o caráter de Deus,
mas o conclui orando a Deus por uma intervenção na vida do Seu povo. A crise,
em vez de nos levar a correr de Deus, deve nos induzir a correr para Deus. A
crise é uma oportunidade para nos voltarmos para Deus (ler Jl 2:12-16). Deus
ainda continua transformando vales em mananciais. Ele ainda continua
voltando-se da Sua ira para a Sua misericórdia.
Ao longo do livro de Habacuque,
deparamo-nos com uma das mais notáveis declarações doutrinárias: “O justo, pela
sua fé, viverá” (Hc 2:4). Poucos versículos da Bíblia têm participado com tão
profundo efeito no desenvolvimento da teologia e da proclamação da fé. A
doutrina da justificação pela fé é a pedra de esquina da nossa salvação. Essa
foi a base da teologia do apóstolo Paulo (Rm 1:17; cf Gl 3:8). Essa foi a
bandeira da Reforma Protestante no século 16. Somos salvos não pelo que
fazemos, mas pelo que Deus fez por nós. O alicerce da salvação não são nossas
obras para Deus, mas a obra de Deus por nós. A única boa obra perfeita,
totalmente agradável a Deus, que nos leva para o céu é aquela feita por Cristo
na cruz do Calvário, ao derramar Seu sangue para nos resgatar e nos purificar
de todo pecado.
I.
O LIVRO DE HABACUQUE
O livro de Habacuque é único no seu gênero por não ser uma profecia
dirigida diretamente a Israel, mas sim um diálogo entre o profeta e Deus.
Habacuque queria saber por que Deus não fazia algo a respeito da iniquidade que
predominava em Judá. Deus lhe responde, então, que enviaria os babilônios para
castigar a Judá. Esta resposta deixou o profeta ainda mais confuso: “Por que
Deus castigaria seu povo através de uma nação mais ímpia do que ele”? No fim,
Habacuque aprende a confiar em Deus, e a viver pela fé de maneira como Deus o
requer: independentemente das circunstâncias.
1.
Contexto histórico. Habacuque profetizou no final do período do reino de
Judá. O Reino do Norte, por não ouvir os profetas de Deus, sucumbira ao poderio
militar da Assíria havia mais de cem anos, pois em 722 a.C. a orgulhosa cidade
de Samaria fora entrincheirada durante três anos e, por fim, caiu impotente
diante da supremacia militar dessa poderosa potência estrangeira. O Reino do
Norte durou apenas 209 anos. Durante todo esse tempo, endureceu sua cerviz e
andou longe dos caminhos de Deus. O cativeiro sem volta foi sua herança. A
ferida sem cura foi seu legado.
O Reino do Sul alternou entre
caminhadas na direção de Deus e escapadas perigosas para distanciar-se do
Eterno. Quando reis piedosos ascendiam ao poder, havia conserto, e o povo dava
ouvidos aos profetas e se arrependia de seus pecados, mas, quando reis ímpios e
idólatras governavam, o povo era oprimido e ainda se desviava da presença de
Deus.
As lições da queda do Reino do
Norte não foram suficientes para abrir os olhos de Judá, nem as reformas
religiosas realizadas pelo rei Josias no ano 621 a.C. tiveram profundidade
suficiente para evitar a tragédia do cativeiro. Logo após a morte de Josias,
Jeoaquim resistiu fortemente à pregação do profeta Jeremias, queimou os rolos
do Livro e lançou o profeta na prisão (Jr 36:5,22,23). Nesse mesmo tempo, o
mapa da política internacional estava passando por grandes mudanças. A poderosa
Assíria tinha caído nas mãos dos babilônios em 612 a.C. O Egito, outra
superpotência da época, marchou com seus carros blindados para o norte da
Síria, em Carquemis, atravessando o território de Judá para enfrentar o
exército caldeu. Nessa encarniçada peleja, Faraó Neco sucumbe também ao poderio
militar da Babilônia em 605 a.C. Nesse mesmo ano, Nabucodonosor, o opulento rei
da Babilônia, que governou esse majestoso império e construiu a gloriosa cidade
com seus muros inexpugnáveis e seus jardins suspensos, cercou a cidade de
Jerusalém. Estava lavrada a sorte desse reino que desprezava a Palavra de Deus,
oprimia os fracos e aviltava a justiça. Foi nesse tempo de ascensão galopante
da Babilônia, da queda repentina da Assíria e do Egito, do encurralamento de
Jerusalém, que Habacuque aparece.
2. Vida
pessoal de Habacuque. Nada sabemos acerca da família, da procedência e da
posição social de Habacuque. Apenas temos a declaração de que ele era profeta.
Seu nome só é citado duas vezes e apenas no seu próprio livro (Hc 1:1;3:1).
O nome Habacuque, segundo os
estudiosos, significa "abraço ardente". Habacuque tanto se agarrou a
Deus buscando resposta para suas íntimas e profundas indagações quanto abraçou
o povo, levando-lhe a consoladora verdade de que o inimigo opressor seria
exemplarmente julgado por Deus. Enquanto o povo da aliança triunfaria sobre a
crise e viveria pela fé, os soberbos caldeus seriam eliminados sem jamais serem
restaurados.
Habacuque foi contemporâneo de
Jeremias. Ele sofreu as mesmas pressões, as mesmas angústias e viu os mesmos
perigos. Habacuque viveu durante os últimos dias de Judá. A maior parte dos
estudiosos situa o seu ministério antes de 605 a.C, quando a Babilônia, sob o
governo de Nabucodonosor, tornou-se uma potência Mundial (cf Hc 2:6-20).
3. Estrutura e mensagem.
a) Estrutura. O livro
de Habacuque pode ser dividido em três partes distintas:
O
capítulo primeiro fala de uma sentença, um peso, uma mensagem difícil
de ser entendida e mais difícil ainda de ser engolida. Nesse capítulo, o
profeta escancara as tensões da sua alma e expressa sem rodeios os dilemas que
assaltam seu coração. Dois grandes conflitos são vividos por Habacuque. O
primeiro é o prevalecimento do mal e a aparente inação e demora de Deus. Suas
orações não são respondidas com a urgência que as endereçou ao céu. O segundo
conflito é a resposta surpreendente da sua oração. A resposta de Deus deixou o
profeta mais alarmado e esmagado que o seu silêncio. Deus disse a Habacuque que
os caldeus sanguinários, truculentos e expansionistas estavam vindo contra Judá
não ao arrepio da sua vontade, mas em obediência ao seu chamado.
O segundo
capítulo fala de uma visão. O profeta deveria escrever a visão num
outdoor para todos lerem. A visão que Deus revela anuncia que o soberbo vai
perecer, mas o justo vai sobreviver à crise, pois ele viverá pela fé. Os
caldeus, por pensarem que seu poder emanava de suas próprias mãos e de seus
ídolos mudos, cairiam, sem jamais serem levantados, mas o povo de Deus, que
vive pela fé, seria restaurado.
O
terceiro capítulo fala de um cântico. O profeta, que começa o livro
chorando, termina-o cantando. Seu cântico não é em virtude da mudança
circunstancial. As circunstâncias continuavam cinzentas, mas a verdade de Deus
enchera sua alma de esperança. Deus descortinara para o Seu profeta o Seu
propósito, mostrara a ele Sua soberania, e agora, em vez de questionar a Deus,
Habacuque clama por avivamento e se alegra em Deus, a despeito da situação.
b)
Mensagem. Habacuque é um profeta suigeneris em seu estilo. Ele
difere de todos os outros na sua abordagem. Todos os outros profetas ergueram a
voz, em nome de Deus, para confrontar o povo e chamá-lo ao arrependimento. O
profeta Amós convocou as nações estrangeiras e, sobretudo, o povo de Deus a
arrepender-se de suas atrocidades. O profeta Jonas foi à
capital da Assíria, à impiedosa cidade de Nínive, e pregou em suas ruas sobre a
subversão que desabaria sobre ela. O profeta Naum profetizou a queda da
Assíria, e o profeta Obadias, a queda de Edom. Contudo, Habacuque não
confrontou o povo, mas a Deus. Em vez de falar à nação da parte de Deus, ele
falou a Deus da parte da nação; em vez de chamar a rebelde Jerusalém ao
arrependimento, ele cobrou de Deus Sua inação diante das calamidades que
saltavam aos seus olhos. Ao contrário dos outros profetas, Habacuque não se
dirige nem a seus patrícios nem a um povo estrangeiro: seu discurso é feito
apenas para Deus. O maior problema de Habacuque não era fazer um diagnóstico da doença de sua nação, mas um
estudo do comportamento de Deus. O que mais lhe causou espanto não foi a
derrocada moral da sua gente, mas a demora e o silêncio de Deus diante da
calamidade do Seu povo. As queixas de Habacuque não são dirigidas contra os
pecadores, mas contra o Santo. Habacuque teve dificuldade de compatibilizar o
caráter santo de Deus com a sua aparente inação diante do prevalecimento do
mal.
O profeta, com grande confiança e coragem, levou suas reclamações
diretamente a Deus. Por que existe o mal no mundo? Por que os ímpios parecem
ser vitoriosos? Habacuque declara que esperará para ouvir as respostas de
Deus às suas reclamações. E o Senhor lhe respondeu com uma avalanche de provas
e predições. O Senhor começa a falar e diz ao profeta que escreva sua resposta
claramente para que todos tomem conhecimento e compreendam. Pode transparecer,
Deus diz, que os ímpios triunfam, mas no final serão julgados, e a justiça
prevalecerá. O juízo pode não surgir rapidamente, mas virá. As respostas de
Deus preenchem o capitulo 2 de Habacuque. Com perguntas respondidas e uma nova
compreensão do poder e do amor de Deus, ele se regozija em quem Deus é e
naquilo que Ele fará - "Todavia, eu me alegrarei no Senhor, exultarei
no Deus da minha salvação. Jeová, o Senhor, é minha força, e fará os meus pés
como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas" (Hc 3:18,19).
O exemplo de Habacuque deve nos encorajar quando lutamos para
passar da dúvida para a fé. Não devemos ter medo de formular nossas perguntas a
Deus. O problema não está no Senhor ou em seus caminhos, mas em nossa limitada
compreensão a seu respeito. Ele quer que venhamos à sua presença com nossas
lutas e dúvidas, porém, suas respostas podem não ser o que esperamos. Ele é a nossa força e o nosso refúgio.
Podemos ter a confiança de que o Senhor nos amará e guardará para sempre a
comunhão que desfrutamos com Ele. Vivemos por meio de nossa confiança nEle, não
pelos benefícios, felicidade ou sucesso que possamos experimentar nesta vida.
Nossa esperança vem do Senhor.
II.
HABACUQUE E A SITUAÇÃO DO PAÍS
1. O clamor de Habacuque. O que
ocorria em Judá ia de encontro ao conhecimento que Habacuque possuía a respeito
do Deus de Israel. Mas como é possível Aquele que é Justo e Santo tolerar
tamanha maldade? (cf 1:13). O profeta expressa sua perplexidade na forma de
lamentos: “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás?.."
(Hc 1:2). Habacuque via a sua própria terra, Judá, sem lei e cheia de tirania.
Os justos eram oprimidos (Hc 1:4,13). O povo vivia em pecado aberto (Hc
1:3;2:4,5,15,16). Adoravam ídolos (Hc 2:18,19). Oprimiam os pobres (Hc
1:4,14,15). Habacuque sabia que esses pecados estavam levando Jerusalém a
sofrer uma invasão por um inimigo forte. O profeta não ficou estático diante do
descalabro moral da nação. Ele não só gritou aos ouvidos do povo da parte de
Deus, mas também ergueu sua voz ao céu a favor do povo. O profeta não podia
ficar passivo diante da corrida desenfreada do mal em sua nação. Ele não se
contentava em ser um pregador; ele precisava também ser um intercessor. Ele não
apenas bombardeava o povo com sua voz, mas também bombardeava os céus com suas
orações.
Mas, a oração de Habacuque se
esbarra no silêncio de Deus (Hc 1:2a). O profeta, então, clama: "Até
quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás?..". A voz do
profeta parece não alcançar os céus. Os ouvidos de Deus parecem fechados ao
clamor do profeta. Os céus continuam em silêncio diante do seu grito
desesperador. Muitas vezes, o silêncio de Deus é mais perturbador do que as
circunstâncias mais ruidosas. É bom esclarecer que não são apenas os homens
ímpios como Saul (1Sm 28:6) e os rebeldes filhos de Judá nos dias de Isaías (Is
1:15) e de Jeremias (Jr 11:14) que têm suas orações não respondidas por Deus,
mas, também, homens piedosos como Jó (Jó 30:20) e Davi (Sl 22:2) não encontram
resposta para suas orações. Como a mulher siro-fenícia clamou a Jesus (Mt
15:23) e nenhuma palavra lhe foi dada a princípio, assim muitas orações
ascendem do coração do povo de Deus sem encontrarem resposta imediata. Ainda
hoje, o silêncio de Deus perturba a nossa alma inquieta.
A demora de Deus em responder à
sua oração aflige mais o profeta do que o avanço do mal entre seu povo. Não é
fácil lidar com a demora de Deus. Marta e Maria enviaram uma mensagem a Jesus,
informando-lhe que Lázaro estava enfermo. Jesus, em vez de partir imediatamente
em direção ao seu amigo, na aldeia a Betânia, demorou-se ainda mais dois dias
para sair do local onde estava (João 11:6). Quando Jesus chegou em Betânia,
Lázaro já estava morto e sepultado havia quatro dias. Marta ficou engasgada com
a demora de Jesus e expressou a ele toda a sua dor e frustração (João 11:21).
Ainda hoje, deixamos vazar do nosso peito, cheio de dor, os gemidos da nossa
alma, dizendo: "Até quando, Senhor?".
2. A
descrição do pecado. Assim o profeta Habacuque resume o quadro desolador
do seu povo: “iniquidade e vexação: destruição e violência; contenda e
litígio” (Hc 1:3). Habacuque viu sua nação cavando a própria sepultura. Ele
viu seu povo atolado num pântano de corrupção, violência e impunidade. Ele faz
um diagnóstico da sociedade, e o resultado que vê é sombrio. Não se tratava de
uma doença qualquer, mas de uma enfermidade mortal. A violência vista por
Habacuque era tão vasta quanto aquela descrita por Moisés nos dias que
precederam o dilúvio (Gn 6:11).
O pecado é o opróbrio das nações. Uma
nação nunca é forte se está entregue à iniquidade. O homem é apanhado pelas
próprias cordas do seu pecado. O que derruba uma nação não é tanto o inimigo
externo, mas a corrupção interna. Os historiadores dizem que o Império Romano
só caiu nas mãos dos bárbaros porque já estava podre por dentro. Jerusalém não
caiu nas mãos dos caldeus; ela foi entregue (Dn 1:1,2). Billy Graham
corretamente afirma: "Nenhuma grande nação jamais foi vencida, até se
haver destruído a si própria”.
Hoje, não raro, a igreja
confronta com rigor os pecados daqueles que estão fora dela, enquanto tolera em
seu meio aquilo que é explicitamente ofensivo à santidade de Deus e contrário
às Escrituras. A falta de confrontação do mal dentro da própria igreja,
tacitamente, dá permissão aos transgressores para continuarem na prática do seu
pecado (1Co 5:1-13).
3. O
colapso da justiça nacional. Os problemas de Judá eram
causados por líderes que não obedeciam à lei. Os ricos exploravam os pobres e
escapavam do castigo subornando os oficiais. A lei era ignorada ou distorcida,
e ninguém parecia se importar. Os tribunais eram corruptos, os oficiais só se
interessavam em ganhar dinheiro, e a admoestação de Êxodo 23:6-8 era
completamente desconsiderada.
- Habacuque diz: " [
. . . ] a justiça nunca se manifesta..." (Hc 1:4). A
justiça nos tribunais era uma piada, porquanto o dinheiro, e não a justiça,
determinava o resultado dos julgamentos e os decretos dos reis. A justiça não
se manifestava por duas razões: por fraqueza dos magistrados ou por conivência
deles com os esquemas de opressão. Naquele tempo, Judá estava sendo governada
por homens maus. A liderança da nação estava rendida aos crimes mais
execráveis. Quando a liderança se corrompe, o povo geme (Pv 29:2).
- Habacuque prossegue no
seu diagnóstico do colapso da justiça e da decadente sociedade de Judá, e diz:
"[...] porque o perverso cerca o justo..." (Hc 1:4). O justo
estava nas mãos dos bandidos, e nada podia fazer para livrar-se dessa situação
opressora. Havia um esquema criminoso em curso sob a omissão de uns e a
aprovação de outros para violar o direito do justo, para oprimir o fraco e
explorar o necessitado. Não havia a quem recorrer. Os poderes constituídos
estavam infiltrados pelo mal e blindados contra toda sorte de resistência dos
justos. A justiça não podia prevalecer porque os maus sabiam como cercar o
justo por todos os lados, de modo que não pudesse receber o que lhe era devido.
O erro judicial era a ordem do dia. Mediante processos fraudulentos, os ímpios
enganavam o justo, pervertendo todo o direito e toda a honestidade.
Considerando que Deus não punia o pecado de imediato, os homens pensavam que
poderiam continuar nele impunemente (cf. Ec 8:11). A corrupção da justiça é o
caos em qualquer nação; é o mergulho na desordem total e o ponto final nas
esperanças dos pobres.
- Habacuque termina sua
análise, dizendo: "[...] a justiça é torcida" (Hc 3:4). As
decisões eram dadas contrárias ao direito. Observe que a justiça não era torta;
ela era torcida. E, se era torcida, era torcida por alguém. Os juízes estavam
de mãos dadas com os poderosos para oprimir os fracos. Esse foi o pecado que
levou o Reino do Norte ao colapso. Judá não aprendeu a lição, por isso estava
cometendo o mesmo erro fatal e enfrentaria o mesmo destino amargo.
Nos dias de Habacuque, como nos
dias de hoje, grandes problemas de injustiça podem ser encontrados entre o povo
de Deus. As grandes nações da nossa época, no mundo em geral, estão
também marcadas por profunda decadência moral, espiritual e legal. A justiça é
exigida com rigor para com os pobres e indefesos, mas torcida pelos poderosos a
seu favor.
III.
A RESPOSTA DIVINA
O profeta estava inquieto com o silêncio de Deus; mas ficou
mais desesperado quando Deus começou a falar. A resposta de Deus não era
exatamente o que Habacuque queria, mas Deus não subordina Seus projetos ao
querer humano. Deus cumpre a Sua Palavra não apenas quando esta é a nosso
favor, mas também quando ela é contra nós.
1. O
juízo divino é anunciado. Habacuque estava
inconformado com o silêncio de Deus ao seu clamor (Hc 1:2). Ele apresentou a
Deus em oração uma causa urgente, mas a resposta imediata não veio. Às vezes,
temos pressa de ouvir uma resposta, mas nenhuma voz ecoa do trono de Deus para
acalmar o nosso coração. Mas, Deus que está no controle de todas as coisas,
apenas aguardava o tempo oportuno para agir e mostrar a razão de sua
intervenção.
Quando Deus respondeu à oração de
Habacuque, ele ficou bastante aflito, pois a resposta veio de forma jamais
imaginada pelo profeta. Deus não está sujeito ao nosso programa. Ele não
obedece às nossas agendas. Seus caminhos são mais elevados do que os nossos (cf
Is 55:8). Quando Deus estendeu Seu braço para agir, trouxe não a restauração de
imediato, mas a disciplina. A ação de Deus veio na contramão da expectativa e
da vontade do profeta. Deus trouxe os caldeus para serem a vara da Sua
disciplina sobre Judá. Habacuque se queixava da apatia de Jeová e do Seu
silêncio nos negócios de Judá. Porém, se o que o profeta queria era ação
divina, ele a teve. O Deus que trabalha em silêncio nunca deixou de agir.
Todavia, a ação de Deus trouxe desvanecimento, e não alento
imediato ao profeta. Habacuque ficou mais chocado com a ação de Deus do que com
Sua inação. Deus vai usar os pagãos para julgar o Seu próprio povo. Os
contemporâneos de Habacuque presumiam que Jeová protegesse os Seus e castigasse
os incrédulos. Hoje, ainda, há muitos cristãos que pensam que Deus é sempre bom
para os crentes e sempre punidor dos não-crentes. Pensam também que Ele dá
conseguimento aos Seus planos somente por meio dos crentes.
Ninguém poderia crer que Deus entregaria Jerusalém nas mãos
de um povo idólatra. Ninguém poderia crer que Deus entregaria os vasos sagrados
do Templo para serem profanados nos templos pagãos da Babilônia (Dn 1:1,2).
Deus usa quem quer para aplicar a disciplina a seu povo. Deus usa até mesmo os
pagãos. Ele usa gente fora da igreja. Ele não está limitado às pessoas. Ele usa
quem quer e quando quer e não deve nada a ninguém por isso.
2. Deus não permanece silencioso; Ele responde às
orações (Hc 1:5,6). A marcha tenebrosa dos caldeus contra Judá era a
resposta divina às orações de Habacuque. Quando a lei de Deus é violada, é
tempo de clamar pela intervenção de
Deus (Sl 119:162). Habacuque pedira a intervenção divina. Ela veio. Quando o
povo se arrepende, Deus envia a restauração; quando endurece a cerviz, Deus
envia o juízo. Quem não escuta a voz da graça, recebe o chicote da disciplina.
Habacuque queria ver a justiça, e ela chegou, só que por meio da disciplina de
Deus.
IV.
DEUS RESPONDE PELA SEGUNDA VEZ
1. A espera de Habacuque
(Hc 2:1). No item anterior, à luz de Hc 1:1-6, vimos que
Habacuque colocou diante de Deus sua
causa e cobrou dEle uma posição compatível com Seu caráter santo e Seus
atributos majestosos. Agora, o profeta conversa consigo mesmo e encoraja a si
mesmo para esperar a resposta de Deus. Ele resolve se colocar no seu
observatório e esperar pela revelação que Deus haveria de dar à sua questão.
Ele não apenas ora, como também aguarda uma resposta. Suas orações são
específicas, e ele aguarda uma resposta específica. Ele não apenas fala com
Deus, mas também espera ouvir a voz de Deus. Oração não é um monólogo, mas um
diálogo. Quem fala, precisa ter os ouvidos atentos para ouvir. Pela oração, os
olhos da nossa alma são abertos. Nunca nos tornamos tão lúcidos como quando nos
colocamos de joelhos diante do Pai. Deus deu resposta às grandes queixas de
Habacuque. Quanto ao seu povo, Deus o disciplinaria pelas mãos dos caldeus.
Quanto à Babilônia, Deus a julgaria pelo seu orgulho.
2. A
visão. Em resposta à sua oração, Habacuque recebe uma visão de
Deus acerca da condenação inexorável do ímpio e da salvação miraculosa do
justo. Habacuque chegou a pensar que Deus estivesse passivo e inativo diante da
violência entre o Seu povo e contra o Seu povo, mas Deus estava trabalhando
para julgar os ímpios e salvar os justos. Quando Deus parece estar inativo, Ele
está trabalhando; quando Deus parece silencioso, Ele está nos preparando uma
resposta eloquente que acalma os vendavais da nossa alma.
Eis algumas características dessa visão:
a) É uma visão recebida (Hc 2:2). A visão
vem a Habacuque como resposta à sua oração. Ele não gerou nem concebeu essa
visão nos refolhos da sua alma nem na subjetividade do seu coração. Essa visão
veio do céu, veio de Deus. Ela foi revelada ao profeta. Hoje, muitos pregadores
trazem ao povo visões subjetivas, engendradas no sacrário do seu próprio
coração enganoso, e fazem errar o povo de Deus, furtando-lhes a Palavra.
b) É uma visão para ser
perpetuada (Hc 2:2). Deus manda Habacuque escrever a visão e gravá-la
sobre tábuas. Deus estava trazendo uma revelação permanente. A visão deveria
ser bem legível e acessível a todos. Essa visão não era destinada apenas ao
profeta, mas também às gerações futuras. Era uma mensagem universal que todos
deveriam conhecê-la.
c) É uma visão para ser divulgada
(Hc 2:2). Essa visão deveria ser lida pelos transeuntes. Deveria
estar disponível e com acesso facilitado até para aqueles que passassem
correndo. Essa visão deveria estar nos outdoors de Jerusalém, ao longo de todas
as ruas, avenidas e estradas da vida. Habacuque deveria tornar-se agora o
publicitário do céu, o marqueteiro de Deus, o propagandista do céu. Hoje,
devemos usar todos os recursos mais rápidos, mais amplos e mais eficazes, para
que mais pessoas possam receber a mensagem divina. Não podemos prescindir da
página impressa, dos recursos da tecnologia eletrônica. Precisamos pregar a
Palavra por meio da televisão, do rádio, da internet, da literatura. A mensagem
que recebemos é a mais importante e urgente do mundo. Proclamemo-la a todos os
povos!
3. O justo viverá da fé
(Hc 2:4). Este texto tornou-se o lema da cristandade. Ele é a chave de
todo o livro de Habacuque e o tema central de todas as Escrituras. Martyn
Lloyd-Jones diz que há somente duas atitudes para a vida neste mundo: a
da fé e a da incredulidade. Ou vemos nossa vida mediante a crença que temos
em Deus, e as conclusões que daí deduzimos, ou nossa perspectiva se baseia numa
rejeição de Deus e das negações correspondentes. Podemos afastar-nos do caminho
da fé em Deus, ou viver pela fé em Deus. Conforme o homem crê, assim ele é. A
crença da pessoa determina seu procedimento. O justo viverá pela fé, enquanto o
ímpio vive confiante em si mesmo. O ímpio aqui representa os caldeus arrogantes
(Hc 2:4,5). Eles estavam inchados de orgulho pela sua força, pelo seu poderio
militar, pela sua capacidade de guerrear, vencer e escravizar. Os caldeus que
Deus os suscitara para disciplinar Judá seriam completamente extirpados e
destruídos. Fora Deus quem, para um propósito especial, os suscitara; mas eles
receberam a glória e se ensoberbeceram como sendo de seu próprio poder. Então,
Deus suscitou o Império Medo-Persa, que destruiu por completo os caldeus. O
relato do colapso irremediável da Babilônia está muito bem descrito em Isaías
14:3-23.
O soberbo confia em si; o
justo coloca sua confiança em Deus. O soberbo espera na sua força; o justo
vive pela fé. O soberbo está destinado à morte; o justo é liberto dela pela fé.
A grande e poderosa Babilônia esmagaria o pequeno Judá, mas Judá permaneceria
para sempre, e Babilônia seria riscada do mapa.
Em fim, viver peia fé significa crer na Palavra de
Deus e ser-lhe obediente, independentemente de como nos sentimos, do que vemos
ou de quais possam ser as consequências. Alguém disse muito bem que ter fé não
é crer apesar das evidências, mas sim obedecer apesar das consequências,
descansando na fidelidade de Deus.
CONCLUSÃO
Habacuque nos ensina que as
rédeas da História estão nas mãos de Deus. Ele nos adverte que o mesmo Deus que
está assentando no alto e sublime trono governa a vida do seu povo e, não
somente do seu povo, mas de todas as nações. Deus é o Senhor da história,
precisamos nos conscientizar desta verdade. Ele pune quando quer, usando quem
quer. E não é apenas o seu tempo que não é o nosso tempo, os seus instrumentos
também não são os nossos instrumentos. Todos nós somos cientes do desmonte do
maior império mundial de todos os tempos, o bloco soviético. Mais de um terço
da população mundial estava subjugado ao poder comunista. Parecia um regime
inabalável, um bloco sem fissuras. De repente, desabou. Em alguns países levou
anos. Em outros, meses. Em outros, semanas. Em alguns, apenas dias. Mas o que
parecia impossível sucedeu em pouco tempo. O império soviético acabou quando
chegou o momento de Deus. Somente Deus tem a soberania sobre as nações.
O cálice da ira de Deus pode
demorar a encher-se, mas, quando transborda, o juízo é iminente e inevitável. É
impossível escapar das mãos de Deus. O homem pode burlar as leis e corromper os
tribunais da Terra, mas jamais engana Aquele que se assenta no alto e sublime
trono. O homem pode esconder seus crimes e sair ileso dos julgamentos humanos,
porém jamais o culpado será inocentado diante dAquele que sonda os corações (Ex
34:7). O princípio de Deus é: “Arrepender e viver” ou : “Não se arrepender e
sofrer”.
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof.
EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.
Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.
Revista Ensinador Cristão – nº 52 – CPAD.
A Teologia do Antigo Testamento – Roy B.Zuck.
Comentário Bíblico Beacon, v.5 – CPAD.
Habacuque (Como transformar o desespero em cântico de
vitória) – Rev. Hernandes Dias Lopes