3º
Trimestre/2017
Texto
Base: Atos 2:1-6; 2Coríntios 12:1-7
"Porque
a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão
longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar" (At.2:39).
INTRODUÇÃO
Nesta Aula, estudaremos sobre os seguintes
temas da doutrina pentecostal: o batismo no Espírito Santo e a manifestações
dos Dons Espirituais. Estas manifestações do Espírito Santo têm sido amplamente
reafirmadas ao longo da história do Movimento Pentecostal. Todavia, a
manifestação sobrenatural do Espírito Santo jamais abriu mão da racionalidade
ou da consciência do culto devido a Deus. A presença do poder de Deus como havia
no princípio da Igreja, a plenitude do Espírito, jamais significou o
emocionalismo, o irracionalismo, que hoje são, por muitos, considerado como
“sinal da presença de Deus”. A Palavra de Deus é a verdade e o poder de Deus
não se confunde com desatinos e espetáculos lamentáveis. O culto racional é
incompatível com meninices e com práticas como o “reteté” e emocionalismo
delirante.
I. A
DESCIDA DO ESPÍRITO SANTO
1. A experiência do Pentecostes. A
maior experiência do Pentecostes foi o Batismo no Espírito Santo, que ocorreu
50 dias após a Páscoa. O Pentecostes era uma festa em ações de graças pela
recente colheita de grãos. Nessa ocasião, ofertas e sacrifícios eram feitos, e
de acordo com a opinião dos rabinos, o Pentecostes marcava a ocasião em que a
Lei foi dada a Moisés. Foi nessa ocasião, em que judeus de diversas nações
dirigiam-se para Jerusalém para participar dessa festa, que Deus encheu seus
servos com seu Santo Espírito. O próprio Senhor Jesus se referiu a esse Batismo
como a promessa do Pai (At.1:4), e acrescentou: "Porque, na verdade, João
batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito
depois destes dias" (At.1:5). Este derramamento se iniciou num dia de
Pentecostes, para que, através do que está escrito sobre esta festa judaica,
entendêssemos o significado desta operação espiritual, que é fundamental para a
nossa vida cristã. A própria festa de Pentecostes, também chamada de “festa da
sega dos primeiros frutos” (Ex.23:16), “festa das semanas” (Dt.16:16) ou “festa
das primícias (Ex.34:22), já era uma figura que apontava para o próprio derramamento
do Espírito Santo
No dia seguinte ao sábado da páscoa era
oferecido um molho das primícias da colheita ao sacerdote (Lv.23:10), que seria
movido perante o Senhor, primícias estas que eram figuras do Primogênito dentre
os mortos, aquele que ressuscitou no primeiro dia da semana, Cristo Jesus (1Co.15:20,23;
Cl.1:18). Cinquenta dias depois, vinha o Pentecostes, a festa que indica o
início da colheita no ano, ou seja, a ocasião que demonstra o início da
salvação da humanidade através da Igreja, o início do movimento do Espírito
Santo, baseado no sacrifício de Cristo, com poder e eficácia, em prol da
colheita das almas para o reino celestial, algo que perdurará até a festa da
colheita final, que se dará com a terceira festa, a festa das trombetas ou festa
dos tabernáculos, que representa a volta de Cristo e o Arrebatamento da Igreja.
Assim, a descida do Espírito Santo somente
poderia ocorrer na festa das primícias, na festa das semanas, que indica o
início da colheita, o início da manifestação plena do Espírito Santo no meio da
humanidade com vistas à salvação das almas. Era o começo do movimento do
Espírito Santo, e o Espírito Santo sempre esteve relacionado com o mover, como
vemos desde a Sua primeira aparição no texto sagrado (Gn.1:2).
2.
Batismo "no" Espírito Santo ou "com o" Espírito Santo? As
duas traduções são legítimas à luz da gramática grega e aceitáveis de acordo
com o contexto. A ideia de batismo no Novo Testamento é de imersão, submersão
(Rm.6:3,4; Cl.2:12). Logo, a expressão “batismo no Espírito Santo” é o mais
apropriado, pois o termo "com" pode parecer aspersão, o que contradiz
a ideia de imersão. Mas, o que é o Batismo no Espírito Santo? É uma promessa de
Deus, feita no Antigo Testamento (Jl.2:28-32) e cumprida no Novo Testamento
(At.2:1-4), que permanece em nossos dias. É um revestimento de poder, com a
evidência física inicial das línguas “estranhas” para o ingresso do crente numa
vida de profunda adoração e eficiente serviço a Deus (Lc.24:49; At.1:8; 10:46;
1Co.14:15,26). Essa promessa é concedida a todos os que creem em Cristo, e não
há qualquer versículo no Novo Testamento que comprove que essa experiência
ficou restrita à época dos discípulos. Portanto, é algo a ser vivenciado pela
Igreja em nossos dias. Inúmeros exemplos ao longo da história da Igreja corroboram
que essa experiência é atemporal, pelo menos enquanto perdurar a Dispensação do
Espírito Santo.
3. A
evidencia inicial e física do Batismo no Espírito Santo. O
falar noutras línguas, ou “glossolalia” (gr.glossais
lalo) foi a evidência inicial do batismo no Espírito Santo, que os
primeiros 120 crentes no dia de Pentecostes tiveram. Entre os crentes do Novo
Testamento, essa manifestação sobrenatural foi considerada como um sinal da
parte de Deus para evidenciar o Batismo no Espírito Santo (ver At.2:4;
10:45-47; 19:6). Segundo o livro de Atos, esse fenômeno deve ser espontâneo e
resultado do derramamento inicial do Espírito Santo. Portanto, não é algo
aprendido, nem ensinado, como, por exemplo, instruir crentes a pronunciar
sílabas sem nexo.
Todavia, o simples fato de alguém falar
“noutras línguas”, ou exercitar outra manifestação sobrenatural não é evidência
irrefutável da obra e da presença do Espírito Santo. O ser humano pode imitar
as línguas estranhas como o fazem os demônios. A Bíblia nos adverte a não
crermos em todo espírito, e averiguarmos se nossas experiências espirituais
procedem realmente de Deus (ver 1João 4:1).
O Espírito Santo nos adverte claramente que nos
últimos dias surgiriam apostasia dentro da igreja (1Tm.4:1,2), sinais e
maravilhas operados por Satanás (Mt.7:22,23; cf. 2Ts.2:9) e obreiros
fraudulentos que fingem ser servos de Deus (2Pd.2:1,2). Portanto, se alguém
afirma que fala noutras línguas, mas não é dedicado a Jesus Cristo, nem aceita
a autoridade das Escrituras, nem obedece à Palavra de Deus, qualquer
manifestação sobrenatural que nele ocorra não provém do Espírito Santo (cf. 1João
3:6-10; Gl.1:9).
4. Os
sinais sobrenaturais. “Há três sinais que mostram a ação
sobrenatural do Espírito Santo por ocasião de sua descida no dia de
Pentecostes: o som como de um vento (At 2:2), a visão das línguas
repartidas como que de fogo (At.2:3) e o falar
em línguas (At.2:4). Os dois primeiros sinais jamais se repetirão,
pois foram manifestações exclusivas que tiveram como objetivo anunciar a
chegada do Espírito Santo. Além de marcar a chegada do Espírito Santo, no dia
de Pentecostes, as manifestações sobrenaturais também inauguraram a Igreja.
Assim, o som soava como vento, mas não era vento, e da mesma forma a visão não
era fogo, mas lembrava o fogo de Deus (Êx.3:2; 1Rs.18:38). Foi um acontecimento
singular, algo que ocorreu uma única vez” (LBM-CPAD).
O Batismo no Espírito Santo é atemporal; as
experiências ao longo da história da Igreja comprovam esse fato, e o falar em “línguas
estranhas” é o sinal característico e identificador dessa experiência
pentecostal, não havendo qualquer outro sinal que tenha sido indicado nas
Escrituras como sendo a prova de que alguém foi batizado no Espírito Santo.
Alguns, entretanto, sem qualquer respaldo bíblico, procuram identificar outros
sinais (como alegria, amor, conhecimento bíblico, santificação) para o batismo
no Espírito Santo, mas as Escrituras são bem claras ao apontar como único sinal
do revestimento de poder as línguas estranhas. Essa experiência tem se repetido
ao longo da história da Igreja. A Base Bíblica para esta afirmação está no
Livro de Atos dos Apóstolos, onde dos cinco casos registrados, em que houve
Batismo no Espírito Santo, três deixam bem claro que os que foram batizados
falaram em “línguas estranhas”. Os três lugares onde se afirma claramente ter
havido “línguas estranhas”, quando os crentes foram batizados no Espírito
Santo: Jerusalém, em Judá (At.1:14,15), no dia de Pentecostes; Cesaréia, na
casa de Cornélio (At.10:44-46); Éfeso, na Ásia Menor, durante a Terceira Viagem
Missionária de Paulo (At.19:5,6). Nestes três lugares estavam reunidas pessoas
diferentes umas das outras, diferentes do ponto de vista social, econômico e
cultural.
II. A
NATUREZA DAS LÍNGUAS
1.
Glossolalia. Glossolalia é a manifestação física do
enchimento do Espírito Santo. É a manifestação das línguas, de origem divina e
sobrenatural, por ocasião do Batismo no Espírito Santo bem como das línguas
como um dos dons espirituais. É popularmente conhecida como “línguas
estranhas”. As línguas do Pentecostes eram sobrenaturais, pois foram
caracterizadas como "outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes
concedia que falassem" (At.2:4). Sua fonte é o Espírito Santo.
Na “glossolalia” as palavras não são ditas pela
mente do homem, mas são inspiradas pelo Espírito Santo. É o falar não movido
pela vontade, e, sim, é o falar sob a unção do Espírito. Esse falar pode ser em
línguas conhecidas e faladas pelo homem, como aconteceu em Jerusalém no dia de
Pentecostes – “... cada um os ouvia falar na sua própria língua” -, como também
pode ser em línguas não faladas pelo homem, e só entendidas por Deus – “... o
que fala língua estranha não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o
entende, e em espírito fala em mistérios”(1Co.14:2). Todavia, quer sejam
línguas humanas, ou espirituais, é certo que o homem não está falando numa
língua que tenha aprendido.
A “glossolalia” nada tem a ver com a
capacidade de aprender e falar noutros idiomas, que chamamos de “poliglotismo”.
Esta capacidade trata-se de línguas, ou idiomas aprendidos por aquele que fala;
é um Dom Natural concedido por Deus através de sua Graça Comum. Com este dom a
pessoa possui facilidade para aprender e falar muitos idiomas. É o que chamamos
de poliglota.
2.
Xenolalia. Ocorre quando uma pessoa fala ou faz uma
oração em línguas que expressam uma linguagem humana real, tal como espanhol,
francês ou alemão, que era até então desconhecida para o indivíduo. No dia de
Pentecostes, os crentes cheios do Espírito Santo falaram num idioma
desconhecido para eles, mas, como a cidade de Jerusalém estava repleta de
estrangeiros, estes puderam tomar conhecimento da mensagem do Evangelho em sua
própria língua. O que vemos em Atos 2 foi uma concessão divina, afim de que muitos
pudessem crer em Jesus e receber a salvação. Foi um sinal para os incrédulos.
Foi o batismo no Espírito Santo acompanhado, simultaneamente, de uma mensagem
de salvação.
"[...] Emílio Conde relatou, na obra
História das Assembleias de Deus no Brasil, p.67, que no primeiro batismo nas
águas na cidade de Macapá (AP), em 25 de dezembro 1917, a nova convertida
Raimunda Paula de Araújo, ao sair das águas foi batizada com o Espírito Santo.
Ela falou em línguas estranhas com tanto poder que os assistentes encheram-se
de temor de Deus. Os judeus comerciantes da cidade haviam comparecido ao
batismo. Um deles, Leão Zagury, ficou tão emocionado e maravilhado com a
mensagem que ouvira que não se conteve e clamou em alta voz no meio da
multidão: 'Eis que vejo a glória do Deus de Israel, pois esta mulher está
falando a minha língua'. O judeu não era crente. Porém, Deus, através da crente
Raimunda, falou-lhe em hebraico" (ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p.332).
A experiência do batismo no Espírito Santo,
portanto, está atrelada à obra de evangelismo, de proclamar a Jesus como único
Salvador, e o livro de Atos nos aponta que o sinal evidente desse enchimento é
o falar em outras línguas.
3.
Sua continuação. A experiência pentecostal é para os nossos
dias. O testemunho de incontáveis cristãos, em todas as épocas e lugares, é
evidência de que a experiência do Pentecostes ainda continua, pois, como disse
o apóstolo Pedro, “a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos
os que estão longe, a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar”(Atos 2:39). Não
há qualquer texto nas Escrituras que diga que o batismo com o Espírito Santo e
os Dons espirituais foram apenas para a época dos discípulos, como reza a
corrente teológica chamada cesassionista. O derramamento do Espírito Santo é
para os nossos dias e não é de "propriedade" dos pentecostais, pois é
estendido a todos. Pentecostal é quem crê na contemporaneidade do batismo com o
Espírito Santo e dos dons espirituais. O Batismo no Espirito Santo, as línguas
e os Dons Espirituais são válidos para os nossos dias, mas vão cessar por
ocasião da vinda de Jesus (1Co.13:8-10).
III.
SIGNIFICADO E PROPÓSITO
1. O
Significado do Batismo no Espírito Santo. O Batismo no Espírito
Santo é uma demonstração do poder de Deus, é uma exuberante oportunidade em que
o Espírito Santo usa um servo de Deus para magnificar o nome do Senhor e levar
o mundo a conhecer as grandezas de Deus, por intermédio da sobrenaturalidade.
No instante em que as pessoas regeneradas recebem o Batismo no Espírito Santo,
começam a falar com Deus, a exaltá-lo, a louvá-lo, a glorificá-lo de uma forma
evidente e que pode ser notada e contemplada por muitas pessoas, como aconteceu
no Pentecostes.
a) o
Batismo no Espírito Santo não é o batismo no Corpo de Cristo. Não
podemos confundir o batismo no Espírito Santo com o batismo descrito em
1Co.12:13; Gl.3.27; Ef.4.5. Nestes textos sagrados, trata-se de um batismo
figurado, apesar de real. Todos aqueles que experimentaram o novo nascimento
(João 3:5) são imersos no corpo místico de Cristo (Hb.12:23; 1Co.12:13). Nesse
sentido, todos os salvos são batizados pelo Espírito Santo, mas nem todos são
batizados no Espírito Santo. Portanto, o Batismo no Corpo de Cristo não é o
Batismo no Espírito Santo. É possível ser Batizado no Corpo de Cristo e não ser
Batizado no Espírito Santo. Mas, não é possível ser Batizado no Espírito Santo
sem ter sido Batizado no Corpo de Cristo. O Batismo no Espírito Santo é um ato
espiritual, invisível e é realizado somente por Jesus, conforme afirmou João
Batista: “...ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo”(Mt.3:11).
Portanto, a experiência do Novo Nascimento e
do Batismo no Espírito Santo são distintas, sendo que esta última deve ser,
necessariamente, antecedida da primeira, ou seja, o Batismo no Espírito Santo é
uma experiência que se segue à conversão na vida espiritual do crente. Após ter
nascido de novo, o homem tem à sua disposição a possibilidade de ser revestido
de poder, de receber poder divino para que, assim, possa, de uma forma plena e
eficaz, ser testemunha de Jesus Cristo neste mundo.
b) o
Batismo no Espírito Santo não é uma experiência exclusiva dos dias apostólicos. A
Bíblia diz que no dia de Pentecostes, Pedro já dá a amplitude desta operação do
Espírito Santo, ao invocar a profecia de Joel a respeito do derramamento do
Espírito. O texto sagrado deixa-nos bem claro que a promessa estava reservada
para os últimos dias, até o grande e glorioso dia do Senhor (At.2:16-20),
reforçando, ao término da pregação, que a promessa dizia respeito tanto a
judeus quanto a gentios, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar (At.2:39).
2. Propósitos. O
Batismo no Espírito Santo cumpre alguns propósitos na vida do crente. Muitos o
confundem como algo mágico, manipulado, um objeto sobrenatural para produzir
fenômenos que glorifiquem o homem ou lhe traga algum tipo de vantagem, como
pensava o mágico Simão, duramente repreendido pelos apóstolos Pedro e João
(At.8:9-24). No entanto, Deus não dá dons aos homens para produzir espetáculos,
para glorificação humana, mas com finalidades bem específicas na sua obra. Veja
alguns propósitos:
a)
Poder para proclamar o Evangelho. O propósito principal do Batismo
no Espírito Santo é conceder ao crente poder para testemunhar a sua fé em
Cristo, algo que é próprio e característico da dispensação da graça (Lc.24:49;
At.1:8). Não eram apenas os discípulos da geração apostólica que deveriam
pregar o Evangelho, mas a Grande Comissão é tarefa de toda a igreja, como nos
deixam claro as expressões de Jesus, que são dirigidas a toda a Igreja (cf. Mc.16:15
e At.1:8), assim como os ensinamentos de Paulo a este respeito (cf. 1Co.9:16;
2Tm.4:1,2). Ora, diante disto, temos que o Batismo no Espírito Santo é uma
operação que deve perdurar enquanto a igreja estiver pregando o evangelho, o
que acontecerá até o final desta dispensação (Mt.24:14; Ap.22:17).
b)
Criar um ambiente de maior intimidade entre o crente e o Espírito Santo. O Batismo
no Espírito Santo é um "mergulho", uma "imersão" no
Espírito. A pessoa passa a estar envolvida pelo Espírito Santo, a estar
integralmente sob a Sua influência, a desfrutar de uma intimidade tal que
dispensa até mesmo a intermediação de nossa alma neste relacionamento
espiritual, como ocorre quando falamos em línguas estranhas (cf. 1Co.14:2). Em
consequência desta intimidade, o crente pode ser usado mais eficazmente pelo
Espírito Santo e lhe compreende os desígnios com muito mais facilidade, o que
não ocorre com o que não é batizado no Espírito Santo. Enquanto Apolo teve de
ser orientado por Priscila e Áquila, Paulo não teve dificuldade em discernir
onde o Espírito Santo queria que ele pregasse o Evangelho.
c)
Proporcionar ao crente a alegria do Espírito Santo. A
Bíblia fala-nos que, uma vez cheios do poder do Espírito, os discípulos
passaram a falar das grandezas de Deus (cf. At.2:11). Estavam todos alegres,
glorificando a Deus e exaltando o nome do Senhor. A alegria é resultado da ação
do poder de Deus nas nossas vidas (cf. Lc.10:17) e, como bem afirmou Neemias,
quando o povo chorava enquanto ouvia a Palavra de Deus, "a alegria do
Senhor é a nossa força" (Ne.8:10). Quando somos salvos, recebemos a
alegria da salvação (Sl.51:12), mas se trata de uma alegria introspectiva,
interna, enquanto que o gozo advindo da experiência pentecostal faz com que ela
jorre para os outros, se expresse com ousadia e seja capaz de compungir os
corações dos que nos ouvem.
IV. OS DONS ESPIRITUAIS
1. Os Dons Espirituais. Os Dons
Espirituais são chamados, no original grego, de "charismata", palavra
que significa "graças", ou seja, os Dons Espirituais são dádivas, são
favores imerecidos que Deus concede às pessoas que estão dispostas a servi-lo e
que, por obediência, já alcançaram o Batismo no Espírito Santo. A verificação
do significado da palavra "charismata" é muito importante, pois
demonstra, de forma cabal, que os dons espirituais são concessões divinas,
decorrem do exercício da sua infinita misericórdia, não havendo, portanto,
qualquer merecimento, qualquer mérito por parte daqueles que são batizados no
Espírito Santo.
A manifestação dos dons ocorre por meio das
três Pessoas da Trindade: pelo Espírito, na "diversidade de dons"
(1Co.12:4); pelo Senhor, na "diversidade de ministérios" (1Co.12:5);
e pelo Deus Pai, na "diversidade de operações (1Co.12:6). Mas a fonte dos
dons é o Espírito Santo e, por isso, essa manifestação é dada por Ele "a
cada um para o que for útil" (1Co.12:7), e não para exibição ou ostentação
do crente, porque o mérito é do Senhor Jesus (At.3:12). Bem se vê, portanto,
como é diferente a manifestação do Espírito Santo das “novas unções” e as
estranhas manifestações “espirituais” que têm surgido no meio das igrejas
locais nos últimos tempos, verdadeiras inovações que não têm qualquer propósito
e que contrariam a Palavra de Deus.
2. O
Dom é dado ao crente individualmente. O Dom Espiritual é
concedido não porque alguém seja mais espiritual ou melhor do que outro, mas em
virtude da soberana vontade do Senhor. Quem o diz não somos nós, mas a própria
Palavra de Deus: "Mas um só mesmo Espírito opera todas estas coisas,
repartindo particularmente a cada um como quer" (1Co.12:11).
A posse dos Dons Espirituais é, sem dúvida,
uma grande bênção que Deus nos dá, é mais um talento concedido pelo Senhor aos
seus servos, é mais uma ferramenta que é colocada à disposição da Igreja
através de um vaso escolhido
Há quem afirme que os Dons Espirituais são
presentes que o Espírito Santo dá à Igreja. Não se pode concordar com este
pensamento. Presentes nós recebemos, tal como os Dons, gratuitamente, porém, o
presente uma vez recebido torna-se propriedade nossa. A pessoa que dá, perde o
controle sobre ele. O que recebe pode fazer do presente o que ele quiser. Se
gostar, pode usar; não gostando, pode dar-lhe o fim que pretender, pois, ele é
o dono da coisa recebida. Há até presentes que aquele que o recebe nem sabe
qual sua finalidade; há ainda os que, na verdade, não servem para nada, mesmo.
Com os Dons Espirituais é diferente, conforme afirma o apóstolo Paulo: “Mas a
manifestação do Espírito, é dada a cada um para o que for útil”. Não há nenhum
Dom Espiritual inútil, e o Espírito Santo dá a quem tenha condições de usá-lo,
e, usá-lo em benefício da Obra do Senhor, nunca em benefício pessoal.
O Dom não é uma joia para ser usada como
adorno, ou enfeite; não é, também, uma medalha para ser exibida no peito, e que
só serve para chamar a atenção para a pessoa que a usa. Usar, ou não usar o
Dom, não é uma questão de querer; o Espírito Santo dá para ser usado. Aquele
que receber um Dom e não usá-lo na Obra de Deus, pode ser responsabilizado.
Vemos a comprovação desta verdade exposta, por Jesus, nas Parábolas dos
Talentos (Mt.25:14-30) e das Minas(Lc.19:11-27). Nem os talentos, nem as minas
foram dadas como presente aos seus amigos; foram, na verdade, dados aos servos
para que fossem usados de acordo com o interesse do Senhor, o legítimo dono dos
talentos e das minas. Contudo, um dos servos, ou não entendeu, ou foi
negligente, pois, resolveu não trabalhar com o valor recebido – “...cavou na
terra, e escondeu o dinheiro do seu senhor”(Mt.25:18). Perceba a expressão “ o
dinheiro do seu senhor”. Da mesma forma o Dom Espiritual não se torna
propriedade daquele que o recebe. É dado para ser usado na Obra de Deus. A
negligência por parte de quem o recebe acarretará prejuízo, quando o dono
voltar – “Lançai o servo inútil nas travas exteriores; ali, haverá pranto e
ranger de dentes”(Mt.25:30).
Assim, meu irmão, se você recebeu um, ou mais
Dons, eles não lhes foram dados para você exibir sua espiritualidade, mas, para
você mostrar serviços na Obra de Deus. Tampouco, você não pode enterrá-los.
Portanto, os Dons Espirituais não são dados como presentes, mas, como
instrumentos de trabalho para serem usados. O Espírito Santo é quem distribui
os Dons Espirituais “a cada um para que for útil”(1Co.12:7). Sendo “para o que
for útil”, então Ele dá a quem Ele sabe que terá condições de usá-lo.
O Espírito Santo conhece a capacidade de cada
um. Ele não dará um instrumento certo para pessoa errada. Um estetoscópio é um
instrumento de trabalho de grande utilidade nas mãos de um médico; porém, não
terá nenhuma utilidade nas mãos de um pedreiro. Da mesma forma um prumo é um
instrumento de grande utilidade nas mãos de um pedreiro, porém não terá nenhuma
utilidade nas mãos de um médico. O Espírito Santo dá o “instrumento” certo à
pessoa certa. Assim, se nós recebemos um Dom Espiritual é porque nós podemos, e
devemos usá-lo em benefício da Obra de Deus, nunca em benefício pessoal, porque
nós somos servos. Paulo, conhecendo a importância dos Dons Espirituais e a
responsabilidade daquele que os recebe, disse: “Acerca dos dons espirituais,
não quero, irmãos, que sejais ignorantes” (1Co.12:1).
3. Categorias dos Dons Espirituais. Há
pelo menos três categorias dos dons Espirituais (Rm.12:6-8; 1Co.12:8-10,28-30),
embora não ousamos dizer que sejam apenas esses, pois não existe uma lista
exaustiva deles no Novo Testamento.
a) Dons
de Poder. São eles: fé, dons de curar, operação de
maravilhas. Estes são Dons dados pelo Espírito Santo para que as pessoas
efetuem demonstrações sobrenaturais do poder divino, com a realização de
milagres, de maravilhas e de coisas extraordinárias, que confirmem a soberania
de Deus sobre todas as coisas e a sua presença no meio da igreja. São
evidências da onipotência divina no meio do seu povo.
b) Dons
de Ciência. São eles: palavra da sabedoria, palavra da
ciência, dom de discernir os espíritos. Estes são dons dados pelo Espírito
Santo para que as pessoas revelem mistérios ocultos aos homens, com a tomada de
atitudes e condutas que evidenciem que Deus sabe todas as coisas e que nada lhe
fica oculto. São evidências da onisciência divina no meio do seu povo.
c) Dons
de Elocução ou de Fala. São eles: variedade de
línguas, interpretação de línguas e profecia. Estes são dons dados pelo
Espírito Santo para que as pessoas sejam instrumentos da voz do Senhor, para
que o Espírito Santo demonstre que se comunica com o seu povo. São evidências
da onipresença divina no meio do seu povo, uma presença que nos faz descansar e
que nos traz edificação.
Não se deve, ainda, confundir os Dons
Espirituais, que são recursos extraordinários que o Senhor colocou à disposição
da Igreja, através do Espírito Santo, com os Dons Naturais, que são virtudes,
ou aptidões, que uma pessoa nasce com elas. Tomando apenas um exemplo, diríamos
que ninguém será um grande músico, se não tiver nascido com o Dom Natural para
a música. Uma vez convertida, a pessoa não perderá esse Dom, e, ele será de
grande valia, se colocado à disposição do Senhor.
CONCLUSÃO
As manifestações do Espírito Santo não são de
"propriedade" dos pentecostais, mas são estendidas a todos aqueles
que as buscam. O Batismo no Espirito Santo e os Dons Espirituais continuam sendo
instrumentos indispensáveis e necessários para que possamos enfrentar o nosso
adversário e ganhar almas para o Reino do Senhor, a começar da nossa própria
alma, pois de nada adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua
própria alma (Mt.16:26). Jesus determinou aos discípulos que aguardassem o
revestimento de poder para que, com êxito, cumprissem a Sua vontade, e se é Seu
desejo que todos os crentes sejam batizados no Espírito Santo e recebam os Dons
Espirituais, não haveria de, agora, às vésperas de Sua volta, alterar os Seus
desígnios, modificar a Sua vontade.
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Luciano
de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) -
William Macdonald.
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