3º Trimestre/2018
Texto Base: Levítico 27:28-34
"E porei o meu tabernáculo no meio de vós, e a minha alma de vós
não se enfadará" (Lv.26:11).
Neste trimestre letivo estudaremos preciosas lições
para nossa edificação e maturidade espiritual, tendo como base o Livro de
Levítico, o terceiro do Pentateuco. Levítico não relata a história de Israel,
mas as leis dadas por Deus a esta nação. As leis tratadas são relacionadas com
os ritos, sacrifícios e serviço do sacerdócio levítico.
O propósito do livro era instruir os hebreus,
e em especial os da casa de Arão, a respeito da adoração, o culto a Deus, os
sacrifícios e as ofertas. Portanto, Levítico é um manual de como cultuar a
Deus, dado aos sacerdotes e ao povo de Israel para que soubessem fazer a
adoração exigida pelo concerto de maneira eficaz e aceitável ao Deus de Israel.
Há também instruções diversas sobre como viver de forma que tal adoração seja
aceitável ao Senhor, o Deus do concerto.
Embora Levítico tenha sido escrito
principalmente como manual dos sacerdotes, nele encontramos, muitas vezes, a
ordenança de Deus: "Fala aos filhos de Israel" -, de modo que contém
muitos ensinamentos para todo o povo de Deus.
Levítico é imprescindível para compreendermos
a essência do culto divino no Antigo Testamento. Que cada lição dele extraída
possa servir de substância à nossa fé, orientação para agradarmos ao Senhor,
direção para achegarmos sem óbice ao trono da graça e conforto para os pés daqueles
que caminham sem hesitação rumo à Formosa Jerusalém.
I. SOBRE O LIVRO DE
LEVÍTICO
O Livro de Levítico é o âmago do Pentateuco.
Uma das principais funções dos cinco primeiros livros da Bíblia é dar uma
identidade ao povo de Deus. Na essência dessa identidade está o Livro de
Levítico. No centro do Livro está a santidade. A fonte de santidade é o Deus
vivo, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó; o Deus que derrotou os egípcios e
dividiu as águas; o Deus cuja presença habita no Tabernáculo. Levítico ensina o
povo de Deus como viver em segurança na presença de um Deus santo. Para
compreendermos este Livro, temos de considerar, inicialmente, sete coisas muito
importantes: sua canonicidade, gênero literário, autoria, data, tema e
mensagem.
1. Canonicidade. A palavra cânon deriva do
grego kanōn (“cana, régua”), que por sua vez vem do hebraico kaneh,
que significa vara de medir (Ez.40:3). Era usada antes do cristianismo de modo
mais amplo com o sentido de padrão ou norma. O Novo Testamento emprega o termo
em sentido figurado referindo-se a padrão ou regra de conduta (Gl.6:16).
Não há dúvida sobre a canonicidade do livro de
Levítico. Sua localização no cânon sagrado, sua relação com o restante da
Palavra de Deus, e a natureza surpreendente e variada do seu conteúdo, o tornam
um dos livros mais notáveis da Sagrada Escritura. Tudo neste livro é relevante,
didático, profundo, belo e devocional. Desde o princípio, Levítico é
reconhecido como Palavra de Deus, e posto “perante o Senhor”, junto à Arca da
Aliança, no Tabernáculo (Dt.31:26). Em várias passagens, ele é chamado,
juntamente com outros livros do Pentateuco, de "Livro do Senhor", ou
"Livro da Lei" (Is.34:16; 2Rs.22:8). Portanto, o livro de Levítico
deve ser considerado, à semelhança dos demais Livros da Bíblia Sagrada, como a
Palavra inspirada e inerrante de Deus.
2. Gênero literário. O livro de Levítico não relata a história de
Israel, mas as leis dadas por Deus a ela. É diferente dos outros livros do
Pentateuco porque relata quase exclusivamente o sistema das leis para governar
Israel na sua vida religiosa, civil, dietética e diária. Levítico recebe este
nome por ser um manual para os levitas (Lv.1:1) – “E chamou o SENHOR a Moisés e falou com ele da tenda da congregação,
dizendo: ”. Ele descreve os rituais necessários para os homens pecaminosos
da época terem comunhão com o Deus santo. O livro traz figuras e tipos do
sacrifício de Cristo. É visto também como o estatuto da purificação nacional,
social e pessoal do povo hebreu (Lv.17:1-7).
1. Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo:
2. Fala a Arão, e aos seus filhos, e a todos
os filhos de Israel e dize-lhes: Esta é a palavra que o SENHOR ordenou,
dizendo:
3. Qualquer homem da casa de Israel que
degolar boi, ou cordeiro, ou cabra, no arraial ou quem os degolar fora do
arraial,
4. e os não trouxer à porta da tenda da
congregação, para oferecer oferta ao SENHOR diante do tabernáculo do SENHOR, a
tal homem será imputado o sangue; derramou sangue; pelo que tal homem será
extirpado do seu povo;
5. para que os filhos de Israel, trazendo os
seus sacrifícios, que sacrificam sobre a face do campo, os tragam ao SENHOR, à
porta da tenda da congregação, ao sacerdote, e os ofereçam por sacrifícios
pacíficos ao SENHOR.
6. E o sacerdote espargirá o sangue sobre o
altar do SENHOR, à porta da tenda da congregação, e queimará a gordura por
cheiro suave ao SENHOR.
7. E nunca mais sacrificarão os seus sacrifícios aos demônios, após os
quais eles se prostituem: isto ser-lhes-á por estatuto perpétuo nas suas
gerações.
A denominação
"Levítico" foi dada pelos tradutores das Escrituras para o grego (a
Septuaginta), uma vez que a mensagem importante deste livro é a prescrição de
leis e regras que dizem respeito ao ministério sacerdotal, ligado à casa de
Arão, que era da tribo de Levi.
O livro de Levítico é, na verdade, um código de leis para os sacerdotes,
regras que Deus determinou a Moisés que fossem observadas em todas as
cerimônias e condutas que envolviam o ministério sacerdotal, que há pouco tinha
sido instituído com a chamada de Arão e de seus filhos.
Apesar do conteúdo cerimonial, destinado ao povo de Israel, não ter
aplicabilidade direta ao povo da Nova Aliança, o livro de Levítico
apresenta-nos a noção da santidade de Deus e, embora fosse destinado
precipuamente aos sacerdotes da Antiga Aliança, é uma prova irrefutável de que
Deus é santo e exige que Seu povo seja santo, como se vê claramente em
Lv.11:44,45 e 20:7,26.
Também é no livro de Levítico que se encontra a chamada "regra
áurea", que foi considerada um dos pilares de toda a lei pelo próprio
Jesus, ou seja, a determinação para que amemos o próximo (Lv.19:18). Por trás
deste cerimonial, portanto, temos um sentido profundo e extremamente atual: o
da necessidade de o povo de Deus separar-se do mundo e do pecado.
O livro de Levítico tem a seguinte ordem de prescrições: holocaustos;
ofertas de manjares; sacrifícios; a consagração dos sacerdotes; as leis sobre
coisas santas; as leis sobre os animais; as normas sobre a lepra; as “imundícias”
do homem e da mulher; o sacrifício anual no santo dos santos; a lei do sangue; as
regras sobre casamento e relações sexuais; as penalidades; as leis a respeito
dos sacerdotes; as festividades; o jubileu; o ano sabático; os votos e os
dízimos. Além disso, o livro também contém a narrativa da consagração de Arão e
de seus filhos, e a trágica morte de Nadabe e Abiú, porque “trouxeram fogo
estranho perante a face do SENHOR, o que lhes não ordenara” (Lv.10:1,2).
3. Autoria.
Vinte dos 27 capítulos de Levítico começam com a seguinte frase: “Disse mais o
Senhor a Moisés, dizendo”, ou expressões equivalentes. Em sua maioria, o Senhor
manda que Moisés transmita uma mensagem a Israel (cf. Lv.1:1-3:17; 4:1-5:19),
ou a Arão e seus filhos (cf. Lv.6:9,25; 8:1,2). Ocasionalmente, o texto diz que
Deus falou com Moisés e Arão (cf. Lv.11:1; 13:1; 14:33; 15:1). A maior parte do
material do Livro apresenta mensagens vindas diretamente de Deus para Moisés.
Por toda a obra, há uma interação entre Moisés e Deus (Lv.1:1; 5:14; 8.1; 15:1;
21:1; 27:1).
A perspectiva tradicional da Igreja é que Moisés deu este Livro a Israel,
e, consequentemente, a nós. O próprio Senhor Jesus dá testemunho de que a
autoria é de Moisés, por ocasião da cura de um leproso: “E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao
sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes
servir de testemunho” (Mc.1:44). Nesta passagem, Jesus estava se referindo
o texto de Levítico 13:49, que fala sobre a necessidade de o leproso se
apresentar ao sacerdote e oferecer um sacrifício.
4. Data. Uma vez que concordamos
com a autoria mosaica de Levítico, propomos que o Livro foi revelado a Moisés
durante o período de cinquenta dias após a edificação do tabernáculo e antes de
os israelitas deixarem o Monte Sinai (Nm.10:11). De acordo com a cronologia
bíblica, a saída de Israel do Egito ocorreu no ano 1445 a.C. Dois anos mais
tarde, no primeiro mês, Moisés levantou o Tabernáculo no deserto (cf.
Êx.40:17). Foi exatamente nesse ponto que o profeta e legislador, inspirado
pelo Espírito Santo, passou a registrar normas do culto hebreu - “E chamou o
SENHOR a Moisés e falou com ele da tenda da congregação, dizendo:” (Lv.1:1).
Portanto, Moisés teria escrito o livro de Levítico, aproximadamente, entre 1443
a.C. (dois anos após a saída do Egito) e 1403 a.C. (ano da morte de Moisés).
5. O tema de Levítico. A palavra chave do livro é santidade, e esta palavra em várias formas é
falada muitas vezes: santificar, santíssimo, santo, santuário, limpo e
santidade. O versículo chave é Lv.19:2: "santos sereis, porque eu, o
senhor vosso Deus, sou santo". Outro versículo que diz a mesma verdade é
Lv.11:44: “Porque eu sou o SENHOR, vosso Deus; portanto, vós vos santificareis
e sereis santos, porque eu sou santo”. Podemos ver uma grande verdade neste
tema: temos que pregar tanto a expiação pelo sangue de Cristo quanto a vida de
santidade baseada na expiação feita pelo sangue de Cristo. O salvo precisa
saber como andar em comunhão com Deus.
6. Mensagem de Levítico. A grande mensagem de Levítico é a santidade
de Deus: “... santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo”
(Lv.19:2). Ao longo do seu conteúdo, apresenta, implicitamente, as seguintes
mensagens, conforme descreveu Dennis
F.Kinlaw:
a)
Não é possível comunhão com Deus exceto com base na expiação do pecado. A comunhão com o Deus vivo é a essência da
adoração. Ela é vital, atingindo o âmago da nossa vida. Os capítulos iniciais
de Levítico descrevem várias ofertas que são necessárias para que a expiação e
a comunhão sejam realizadas.
b)
O homem não pode expiar os próprios pecados. Faz-se necessário um sistema de mediação. O papel dos sacerdotes, os
filhos de Arão, é desempenhado em cada trecho do livro. O sistema pressupõe um
mediador. Para o povo da Nova Aliança só há um mediador: Jesus Cristo (1Tm.2:5)
– “Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo,
homem”.
c)
A expiação deve ser de acordo com o plano divino. Repare o fim trágico de Nadabe e Abiú quando
cultuaram segundo padrões próprios em vez de seguir o padrão de Deus dado por
Moisés (Lv.10:1-3).
d)
Somente o bom, o limpo e o são (o perfeito) é aceitável como sacrifício a Deus. Deus faz estipulações rígidas sobre o que lhe
agrada. Abel tinha um caráter
impoluto e probo, que agradava a Deus; conduzia-se de modo correto,
demonstrando ter um relacionamento saudável com Deus e um coração bondoso, por
isso, sua oferta foi aceita pelo Senhor. A questão não era propriamente a
oferta, mas a disposição do ofertante expressa na oferta.
e)
As pessoas que andam com Deus devem ser santas, porque Ele é santo. Esta exigência é responsável pela forte
ênfase na diferença entre o limpo e o imundo, o puro e o abominável, o santo e
o profano. A santidade exigida em Levítico não é meramente cerimonial, é também
ética e social, como no capitulo 19, que em grande parte é recapitulação do
Decálogo.
f) A comunhão com Deus envolve o compromisso
da vida total. O livro deixa muito
claro que nenhuma área da existência pessoal está fora do direito do Deus de
Israel controlar. Há instruções sobre alimentos, hábitos sexuais, posse de
propriedades, ofertas a Deus, as ocasiões certas da verdadeira adoração e as
relações pessoais com o próximo e o estrangeiro. É de Levítico que temos o
mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv.19:18). O Santo de
Israel exigiu e exige que a vida inteira de quem anda com Ele seja colocada sob
seu controle soberano e sua influência santificadora.
Para quem conhece o Novo Testamento, não é difícil identificar nestas
mensagens as raízes da devoção cristã.
II. A RAZÃO DO LIVRO DE LEVÍTICO
As razões principais pelas quais o Livro de
Levítico foi escrito são: purificar Israel das abominações do Egito;
preservá-lo das iniquidades de Canaã e; transformá-lo num povo adorador, santo
e dedicado a seu serviço.
1. Purificar Israel das abominações do Egito. O caráter espiritual do povo de Israel, ao
longo dos 430 anos que estivera no Egito, foi contaminado, e no início do êxodo
possuíam apenas uma fé nominal, mesmo assim Deus tinha uma promessa a cumprir,
feita a Abraão, o pai do povo Hebreu, que era de resgatá-los do Egito e formar
um povo separado de todas as nações no aspecto de fé e prática. A um homem foi
dada a árdua tarefa de tirar o povo de Israel do Egito, e não somente isto,
mas, principalmente, tirar o Egito dos descendentes de Abraão; esta missão,
como bem diz o Pr. Claudionor de Andrade, era a mais difícil, a mais árdua.
Para arrancar Israel do Egito bastou um dia; para arrancar o Egito de Israel,
quarenta anos não foram suficientes (Nm.14:33,34).
Um dos principais pecados impregnados no
coração e na mente do povo de Israel era a idolatria. A menos de quarenta dias
depois de haver prometido solenemente que guardariam a lei, os israelitas
quebraram a aliança com o Rei divino. Enquanto Moisés estava no Monte com o
Senhor, o povo israelita cansou-se de esperar o seu líder e pediu a Arão que
lhe fizesse uma representação visível da divindade, a saber, um bezerro de ouro
(Êx.32:1-10). Assim, manifesta-se a tendência idólatra do coração humano: não
se contenta com um Deus invisível; quer ter sempre um Deus a quem se possa ver
e apalpar. Israel queria servir a Deus por meio de uma imagem e a fez
provavelmente na forma do deus egípcio, o boi Ápis. Não se sabe se Israel
queria prestar culto ao deus egípcio ou meramente representar o Senhor em forma
de um bezerro. Por sua rebelião, deixou de ser o povo de Deus; ao falar com
Moisés, o Senhor denominou a Israel "teu povo" (Êx.32:7). Este
episódio demonstra-nos que o homem precisa de um coração novo, de um novo
nascimento, precisa ser purificado das abominações do “Egito”, do mundo.
2. Preservar Israel das iniquidades de Canaã. Já na Terra Prometida, Deus agiu com
rigorosa disciplina. Deus sabia que o povo seria muito vulnerável ao
aculturamento do povo cananeu, que era má, abominável e contrária aos ditames
estabelecidos por Deus. O povo cananeu era tomado pela idolatria e por práticas
perversas que levaram o Senhor, inclusive, a determinar a destruição deles por
parte de Israel, em virtude da sua “medida de injustiça” (Gn.15:16; Dt.7:1-5).
Deus não queria que o seu povo se misturasse com os cananeus, por esse motivo,
as recomendações divinas eram tão enérgicas (Dt.18:9-13).
“Quando
entrares na terra que o SENHOR, teu Deus, te der, não aprenderás a fazer
conforme as abominações daquelas nações. Entre ti se não achará quem faça
passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem
prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador de encantamentos,
nem quem consulte um espírito adivinhante, nem mágico, nem quem consulte os
mortos, pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por estas
abominações o SENHOR, teu Deus, as lança fora de diante de ti. Perfeito serás,
como o SENHOR, teu Deus”.
Um Deus santo não pode tolerar o pecado
flagrante e desavergonhado em Seu povo, e a Sua santidade exige que essa
transgressão seja punida. Não devemos de forma alguma ser impertinentes em
nossas atitudes para com o pecado ou o ódio de Deus para com ele, nem devemos
minimizá-lo de forma alguma.
Indubitavelmente, sem os estatutos, leis e
regras do Livro de Levítico, os israelitas corriam sério risco de perder as
suas características como povo de Deus (Lv.20:24,26), o povo de onde viria o
Messias, prometido por Deus no princípio da humanidade (Gn.3:15).
3. Transformar Israel num povo santo, adorador e
obreiro. Por meio do Livro de
Levítico, Deus forneceu instruções especificas para a adoração que lhe era
agradável. Essas instruções lhes ensinaram a respeito da sua natureza e os
ajudaram a desenvolver uma atitude correta na adoração. Através dos sacrifícios,
aprenderam sobre a seriedade do pecado e a importância de pedir perdão a Deus.
Os primeiros capítulos de Levítico fornecem
instruções detalhadas para as ofertas de sacrifício, que constituíam símbolo
ativo de arrependimento e obediência. Quer fossem bois jovens, grãos, cabritos
ou ovelhas, as ofertas sacrificiais tinham de ser perfeitas, sem defeito ou
manchas, simbolizando o sacrifício perfeito e definitivo que estava por vir:
Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus. Jesus veio e abriu o caminho para Deus, dando
a sua vida como sacrifício final em nosso lugar. A verdadeira adoração e
unidade com Deus se inicia quando confessamos os nossos pecados e aceitamos a
Cristo como o único que pode nos redimir do pecado e nos aproximar de Deus.
O Livro de Levítico, também, deixa claro o
padrão de vida santa que os israelitas deveriam seguir. Eles precisavam estar
separados e distintos das nações pagãs que os cercavam. Eles teriam de
portar-se como nação messiânica, pois tinha como missão principal, embora
inconsciente, revelar Jesus Cristo ao mundo (João 4:22). A verdade é que, sem
as instruções exaradas no Livro de Levítico, os israelitas nunca teriam
cumprido a missão que o Senhor lhes designara por intermédio de Abraão: ser uma
bênção a todas as famílias da Terra (Gn.12:1-3; Dt.14:2). Da mesma forma, todos
os crentes da Nova Aliança, devem ser separados do pecado e dedicados a
Deus.
III. O MANUAL DO SACERDOTE
O Livro de Levítico é
chamado pelos judeus de "Vayikrá",
palavra que significa "e chamou", termo que inicia a narrativa
bíblica do texto de Lv.1:1 - "E
chamou o Senhor a Moisés..."; sendo que, na linguagem do Talmude (livro
sagrado do judaísmo que reúne toda a tradição oral judaica), é conhecido como
"Sefer Torah Cohanim"
(Livro da Lei dos Sacerdotes), conhecido, também, como Manual dos Sacerdotes levíticos,
objetivando orientar os sacerdotes quanto às atividades cultuais,
santificadoras e intercessoras.
1. Atividades cultuais. No Templo de Jerusalém, os levitas prestavam diversas atividades, dentre
elas destacamos:
a) eram os zeladores e porteiros do Tabernáculo/Templo. Eram responsáveis pela guarda e
conservação do tabernáculo e de todos os seus móveis e utensílios (Nm.1:50-53;
3:6-8; 4:1-33). Na época do Templo, tinham a função de guardar e manter o Templo
sempre limpo; controlavam a entrada dos diferentes círculos de santidade, que
iam ao Templo; tinham a tarefa de manter o policiamento e a guarda das entradas
do santuário.
b) auxiliavam os sacerdotes a matar e
esfolar os animais para o sacrifício.
c) examinavam
os leprosos, conforme a prescrição
da Lei.
d) recebiam os dízimos dos demais judeus,
mas também entregavam seus dízimos aos sacerdotes (descendentes de Arão).
e) sustentavam a música e os cantos na liturgia, e utilizavam instrumentos musicais. Um dos maiores levitas conhecidos na área
musical, que atuava no Templo, era Asafe; ele era o chefe do coral, no Templo.
É válido salientar que a música era apenas uma dentre muitas ocupações dos
levitas. Vale ressaltar que, primordialmente, a música não era atribuição dos
levitas, e sim o auxílio aos sacerdotes na organização do Tabernáculo ou Templo
e do culto judaico. Tocar e cantar foi uma função agregada aos levitas
tardiamente, que ocorreu na época do reinado de Davi, quando o mesmo
implementou uma reforma nas atividades cultuais (cf.1Cr.23:1-5).
Alguém poderá indagar: “atualmente, os irmãos responsáveis pelos louvores
na Igreja são considerados levitas?”. Em primeiro lugar, nenhum texto do Novo
Testamento trata os crentes como levitas, mas diz que todos os salvos, não
apenas cantores, fomos feitos “sacerdotes”; o apóstolo Pedro registra isso:
“Mas vós sois… sacerdócio real” (1Pd.2:9). Ou seja, todo crente é um sacerdote,
porque oficia diante de Deus, ministrando culto e adoração ao Senhor. Mas
levita, propriamente dito, o compêndio doutrinário da Igreja, o Novo
Testamento, não afirma isso.
f) Zelavam pela santidade, perfeição e
beleza do culto do Deus de Israel; e para que tudo fosse realizado com
perfeição, eles eram obrigados a observar rigorosamente as ordenações do Livro
de Levítico. O ofício dos levitas deveria refletir a glória de Deus (Lv.9:1-6);
por este motivo, tudo neles tinha de estar de acordo com as prescrições do
Senhor: ordenação, pureza moral, espiritual e física (Lv.8:1-36; 10:8-11).
2. Atividades santificadoras. Como foi dito acima, a principal mensagem de Levítico é a santidade de
Deus (Lv.19:2). A exigência de Deus pela santidade do Seu povo baseia-se na Sua
própria natureza santa. Deus é a essência absoluta da santidade, sendo Ele o
alvo de toda a busca por santidade, pureza e justiça. A santidade de Deus é perfeita
(1Sm.2:2) e incomparável (Êx.15:11); é exibida em seu caráter (Sl.22:3; João
17:11), em seu nome (Is.57:15), em suas obras (Sl.145:17) e em seu reino
(Sl.47:8).
Deus leva a Sua santidade muito a sério, e por isso Ele exige de forma
imperativa que seu povo seja santo - “santos
sereis”. Aos levitas, aos sacerdotes, aos líderes do povo de Deus, ao
próprio povo de Israel, a santificação era a reivindicação precípua e essencial
no Livro de Levítico. Os levitas, os sacerdotes, deveriam ser os primeiros a darem
o exemplo e cuidar de sua própria santificação para terem condições de zelar
pela santidade de todo o povo (Lv.16:1-11). Para estes, para os líderes do povo
de Deus e ao próprio povo de Israel, a santificação era a reivindicação
precípua e essencial no Livro de Levítico: "Portanto, santificai-vos e
sede santos, pois eu sou o Senhor, vosso Deus" (Lv.20:7).
Todavia, essa exigência não era somente para o povo da Antiga Aliança,
mas, também, é para o povo da Nova Aliança, como exorta o apóstolo Pedro: “como é santo aquele que vos chamou, sede vós
também santos em toda vossa maneira de viver”(1Pd.1:15); “Porquanto escrito
está: Sede santos porque eu sou santo” (1Pd.1:16).
Podemos entender, então, que a santidade não é uma opção para os filhos
de Deus, é um mandamento e deve ser a principal característica do cristão. Não
basta apenas aceitar a Jesus e reconhecê-lo como nosso Salvador, é preciso
andar como Ele andou, de forma santa e irrepreensível.
Na vida cristã, de nada adianta intitular-se cristão e não demonstrar uma
vida santa diante de Deus e dos homens. É necessário o crente separar-se
voluntariamente do mundo, passando a ser controlado pelo Espírito de Deus. Ser
santo é ser separado das concupiscências do mundo em todos os aspectos da vida.
Deus é santo, e exige de nós santidade em todos os momentos da nossa
peregrinação.
A santidade é um pré-requisito para a glória futura, e sua prática exige
um esforço humano, tanto no sentido da separação das coisas mundanas como no
empenho de conhecer a Deus de forma progressiva.
3. Atividades intercessoras. Na Antiga Aliança, conforme o Livro de Levítico, o sacerdote era o
mediador entre Deus e o homem. O sacerdote fazia a intermediação entre o
pecador arrependido e o Deus Santo, único e verdadeiro (Lv.9:7).
“E disse Moisés a Arão: Chega-te ao altar e
faze a tua expiação de pecado e o teu holocausto; e faze expiação por ti e pelo
povo; depois, faze a oferta do povo e faze expiação por ele, como ordenou o
SENHOR”.
Na Nova Aliança, só há um mediador entre Deus e o homem: Jesus Cristo
(1Tm.2:05). Jesus é o nosso sublime e perfeito Sumo Sacerdote (Hb.7:26,27).
Portanto, não mais necessitamos de intermediários humanos para nos achegarmos a
Deus; não há mais a figura humana do sacerdote; por isso é errado chamar os
pastores de sacerdotes, pois não existe mais a atividade de intermediação, como
existia no Antigo Testamento; cada crente é um sacerdote - “vós também, como
pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para
oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1Pd.2.5).
Agora, qualquer um de nós pode adentrar ao trono da graça de Deus para suplicar
e oferecer culto e sacrifício de louvor ao Senhor.
Na Nova Aliança, a principal função do pastor é apascentar as ovelhas do Senhor
(João 21:16) e prepará-las para entregar ao seu legitimo dono: Jesus Cristo
(João 10:27; 21:16). A Bíblia, porém, exige que respeitemos os nossos pastores
“porque velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas”
(Hb.13:7).
Tendo em vista que o sacerdócio é exercido por cada crente diante de Deus
(1Pd.2:9), a santidade continua a ser exigida para que possamos orar,
interceder e ser aceito por Deus. Exorta o apóstolo Paulo: “Admoesto-te, pois,
antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões e ações de
graças por todos os homens. Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar,
levantando mãos santas, sem ira nem contenda” (1Tm.2:1,8).
CONCLUSÃO
Diante do que foi exposto, concluímos que o Livro
de Levítico apresenta várias lições preciosas para o nosso crescimento
espiritual e maturidade cristã, sendo duas delas consideradas as principais
retratadas: santidade e dedicação ao serviço de Deus. A vida em Cristo
consiste viver em santidade. Está escrito que sem a santificação ninguém verá o
Senhor (Hb.12:14).
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Luciano de Paula
Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico popular (Antigo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 75. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Comentário Bíblico Bacon.
C.H. Mackintosh. Estudo sobre o Livro de Levítico.