domingo, 30 de abril de 2017

Aula 06 - JÔNATAS, UM EXEMPLO DE LEALDADE


2º Trimestre/2017

Texto Base: 1Samuel 18.3,4; 19.1,2; 20:8,16,17,31,32

"E Jônatas e Davi fizeram aliança; porque Jônatas o amava como à sua própria alma" (1Sm.18:3).
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INTRODUÇÃO

Nesta Aula, trataremos do relacionamento entre Jônatas, filho de Saul, e Davi. A amizade entre eles é uma das mais emblemáticas da Bíblia Sagrada. Jônatas seria, pela linha sucessória, o próximo rei de Israel, e poderia ver em Davi um concorrente ao trono. Entretanto, ao invés de a vitória de Davi sobre o gigante Golias suscitar em Jônatas a mesma inveja e ciúme de seu pai, ele tornou-se um grande amigo de Davi. Jônatas reconheceu nele o próximo rei (1Sm.23:17).
Construir bons relacionamentos não é fácil. Com o avanço tecnológico e a expansão de ferramentas como o celular, cada vez mais pessoas do mundo inteiro se relacionam e surgem novos tipos de “amizades” que algumas das vezes resultam em casamentos, famílias e amizades de verdade, mas, esse novo fenômeno muitas das vezes não ultrapassa a barreira dos “amigos Online” ou “virtuais”; alguns casos, infelizmente, acabam em preocupação, medo e até tragédias. Penso que a amizade verdadeira não pode ser reduzida aos chamados “amigos virtuais” que comentam, compartilham e curtem suas ideias, filosofias, pensamentos, fotos e vídeos. Os “amigos virtuais” juram que te ama e te adora, mas quando te encontra na rua não é capaz de te reconhecer; certamente, Jônatas e Davi não os representam, pois estes eram leais amigos em todas as circunstâncias. Sem lealdade não pode haver amizade, é o que nos ensina a história de Jônatas e Davi.
I. CIRCUNSTÂNCIAS QUE UNIRAM JÔNATAS E DAVI

1. Quem era Jônatas. Era o filho mais velho de Saul, o primeiro rei de Israel. Seu nome significa “dado por Deus” ou “presente de Deus”. Era um guerreiro valente e hábil no combate, temente a Deus e que inspirava lealdade aos seus comandados, bem como a todo o exército. Sua bravura fora provada, quando, em Micmás, derrotou toda uma guarnição dos filisteus, contando apenas com a ajuda de seu fiel escudeiro, colocando sua fé em ação (1Sm.14:1-14). Contudo, a sua reputação e seu caráter não eclodiu nas Escrituras Sagradas pela sua valentia, e sim pela emblemática amizade que firmara com Davi; é a mais bela história de amizade e lealdade registrada no Antigo Testamento. Jônatas desenvolveu amizade sincera a Davi, abrindo mão de seus direitos em favor do amigo. Morreu em luta contra os filisteus, ao lado do pai.

2. Uma batalha que mudou a história. A amizade de Jônatas por Davi nasceu de forma inesperada, quando assistiu, de perto, a vitória do jovem pastor de ovelhas sobre o imbatível gigante Golias, o campeão dos filisteus, que desafiava os exércitos israelitas, e afrontava o nome do Senhor. Os exércitos de Israel e dos filisteus estavam acampados em dois montes, separados por um vale, o vale do Carvalho (1Sm.17:1-3). Do acampamento dos filisteus saiu Golias, um gigante duelista, com mais de três metros de altura, usando uma armadura que pesava mais de oitenta quilos e uma lança cuja ponta pesava aproximadamente doze quilos. Esse gigante julgava-se imbatível. Era um guerreiro inveterado, assombroso, experiente, que infundia medo em todo o exército de Saul. Ele desafiou os exércitos de Israel e fez Saul e seus soldados recuarem, inchados de medo. Durante quarenta dias, duas vezes por dia, Golias afrontou os exércitos do Deus vivo e não apareceu ninguém com coragem para enfrentá-lo.

3. A presença de Davi. Em meio à orquestra do medo, ouve-se o clarinete da esperança. Entre o povo circulou a notícia de que o jovem pastor, por nome Davi, que acabara de chegar de Belém, para entregar víveres aos seus irmãos e ao chefe do exército (1Sm 17:12-21), estava disposto a enfrentar o gigante. Essa notícia espalhou-se rapidamente e foi parar nos ouvidos do rei. Mas, quando souberam que eram um jovem pastor de ovelhas e inexperiente em combate, arrefeceram a expectativa de vitória. Logo apareceu a voz dos embaixadores do caos e das críticas, e dos pessimistas. Os críticos foi o maior desafio que Davi teve que enfrentar naquele instante. Davi precisou vencer aqueles que o criticavam. Segundo o Rev. Hernandes Dias Lopes, os críticos são como erva daninha, florescem em qualquer lugar. São os inimigos de plantão, que sempre estão à nossa espreita. Estão espalhados por toda parte, esperando o momento para nos machucar sem piedade. Eles estão dentro de casa, nas ruas, no trabalho, na escola e até na igreja. Você não pode ser um vencedor de gigantes sem antes vacinar-se contra o veneno dos críticos. O objetivo deles é sempre querer nos nivelar à sua mediocridade. Eles são medrosos e covardes e não toleram ver em nós uma atitude de confiança diante dos desafios da vida.

Os críticos são movidos pelo combustível da inveja. O invejoso é aquele que se sente infeliz por não ser como você, por não ter o que você tem e por não poder fazer o que você faz. Caim matou Abel por inveja, em vez de seguir seu exemplo. Os irmãos de José tentaram se livrar dele por inveja, em vez de seguir os seus passos. Os fariseus, por inveja de Jesus, preferiram persegui-lo a seguir os seus ensinos. Os algozes de Estêvão, o primeiro mártir da Igreja, o apedrejaram porque não podiam ser o que ele era – ele era cheio do espírito santo; não podiam fazer o que ele fazia - prodígios e maravilhas.

- Eliabe, irmão de Davi, foi o seu maior crítico. Davi foi duramente criticado por ele. A raiz da crítica era a inveja (1Sm.17:28).

- Saul, rei de Israel, que não tinha mais o Espírito Santo (1Sm.18:12), e que estava morto de medo do gigante (cf.1Sm.17:11), também criticou Davi, julgando-o inepto e incapaz de enfrentar o gigante Golias (1Sm.17:33). Saul enxergou três empecilhos em Davi:

Primeiro, ele considerou Davi incapaz. Saul disse: "você não pode...”. Nunca diga para uma pessoa que ela não pode. Aquele que confia em Deus, ver o invisível, crê no incrível, crê no impossível e recebe o incrível. O apóstolo Paulo, mesmo preso, na antessala do martírio, disse: "tudo posso naquele que me fortalece" (Fp.4:13).

Segundo, Saul considerou Davi inexperiente. Saul disse: "você não tem experiência". O sucesso de uma pessoa não está na sua idade cronológica, mas na sua confiança em Deus. Davi nunca tinha estado numa guerra, mas tinha intimidade com o Senhor dos exércitos. Ele nunca tinha empunhado uma espada, mas tinha matado um urso e agarrado um leão pela barba e vencido. Davi nunca tinha usado uma armadura nem empunhado um escudo, mas manejava com perícia sua funda. Ele não tinha performance para fazer parte do exército de Saul, mas tinha determinação para enfrentar e vencer o gigante.

Terceiro, Saul considerou Davi muito jovem. Saul disse: "você é ainda muito jovem". Davi era jovem, mas corajoso; era jovem, mas confiava em Deus e possuía a fibra de um vencedor de gigantes. Se você é jovem, não permita que os críticos contaminem seu coração e deixem você desanimado por causa da sua pouca idade.

- Golias, gigante filisteu, também criticou o jovem Davi, que o desprezou, escarnecendo dele e do Deus de Israel (1Sm.17:42,43). Ao afrontar Davi, Golias estava afrontando o Deus de Davi. Quem toca nos filhos de Deus toca na menina dos olhos de Deus. Quem declara guerra contra os filhos de Deus chama o próprio Deus Todo-Poderoso para a briga. Confiando em Deus, Davi foi ao encontro de Golias, com apenas uma funda e cinco pedras do ribeiro (1Sm.17:40-47). E com uma única pedra derrubou o gigante, e o matou com a espada deste (1Sm.17:48-58). Golias morreu. Davi prevaleceu. Israel ficou livre e o nome de Deus foi glorificado. Um gigante vencido por um jovem pastor de ovelhas. Um exército inteiro posto em fuga após um combate inusitado e desigual, que desafiava a lógica humana.

Jônatas, filho de Saul, assistia aquele duelo, talvez não acreditando no que via. Ele ficou profundamente tocado pela vitória de Davi sobre Golias. Foram essas circunstâncias que levaram Jônatas e Davi a serem grandes e leais amigos, uma amizade emblemática registrada na Bíblia Sagrada. Deus tem seus caminhos, e, quando Ele quer, cria circunstâncias ou muda circunstâncias segundo seus propósitos amorosos e soberanos.

II. UMA AMIZADE APROVADA POR DEUS

A amizade entre Jônatas e Davi era uma aliança de amor divino, um exemplo de amizade que tem muito a nos ensinar sobre o real significado e importância da amizade verdadeira. Atualmente, a amizade é um bem que tem se tornado cada vez mais difícil de ser encontrado.

1. Jônatas torna-se amigo de Davi. A amizade de Jonatas e Davi aconteceu a partir do momento em que o jovem pastor de ovelhas foi apresentado ao rei Saul, após a matança do gigante Golias. Os dois jovens, um pastor de ovelhas e o outro membro do exército, tinham em comum a fé no Poderoso Deus de Israel, e de imediato se afeiçoaram de tal forma que foram impulsionados por um sentimento puro e sincero, que cresceu e foi construído com respeito, lealdade, amor e temor a Deus.

Saul ficou estupefato diante da tremenda vitória de Davi, e mandou o chefe do exército, Abner, chamar Davi, que levou como troféu da batalha inusitada a cabeça do filisteu (1Sm.17:54). Diz o texto sagrado: “Voltando, pois, Davi de ferir o filisteu, Abner o tomou consigo e o trouxe à presença de Saul, trazendo ele na mão a cabeça do filisteu. E disse-lhe Saul: De quem és filho, jovem? E disse Davi: Filho de teu servo Jessé, belemita. E sucedeu que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou como à sua própria alma. E Saul, naquele dia, o tomou e não lhe permitiu que tornasse para casa de seu pai. E Jônatas e Davi fizeram aliança; porque Jônatas o amava como à sua própria alma” (1Sm.17:57,58;18:1-3). Esta passagem nos mostra que uma amizade verdadeira é estabelecida por um vínculo muito forte, o vínculo do amor fraternal.

2. Uma amizade fiel e duradoura. Uma verdadeira amizade é marcada pela fidelidade. Eles foram leais amigos até o fim. A amizade entre eles não estava baseada no compromisso para com o outro, mas no compromisso para com Deus. Não permitiram que qualquer coisa se colocasse entre eles, nem mesmo o interesse próprio ou os problemas familiares. Nos momentos de grande tensão, de circunstâncias adversas, aproximaram-se ainda mais.

A amizade que nasceu no coração de Jônatas e Davi era algo tão profundo que levou Jônatas a arriscar-se em favor de seu amigo. Em 1Samuel 20:32,33, Saul tenta matá-lo por estar defendendo Davi - Então, respondeu Jônatas a Saul, seu pai, e lhe disse: Por que há de ele morrer? Que tem feito? Então, Saul atirou-lhe com a lança para o ferir; com isso entendeu Jônatas que, de fato, seu pai já determinara matar a Davi”. Jônatas agora sabia que se sua amizade com Davi fosse mantida ele corria risco de vida. Contudo, isso não foi razão forte o suficiente para abalar aquela aliança de amor firmada entre Jônatas e Davi. Jônatas não estava disposto a abrir mão desta amizade por coisa alguma.

Davi honrando seu compromisso e demonstrando que sua amizade por Jônatas permaneceu mesmo depois da morte dele, procurou saber se ainda havia algum descendente de Saul vivo - “Disse Davi: Resta ainda, porventura, alguém da casa de Saul, para que use eu de bondade para com ele, por amor de Jônatas?” (2Sm.9:1). Ao ser informado de que havia um filho de Jônatas vivo, Davi o levou para morar no palácio e comer da sua mesa (2Sm.9:10). O mais comum em uma situação como aquela seria procurar eliminar todos os descendentes de Saul, já que estes poderiam procurar promover um levante ou o assassinato de Davi para recuperar o trono; no entanto, Davi ao invés de temer perder o trono, e quem sabe a sua própria vida, corre o risco por amor a Jônatas. É preciso lembrar que Jônatas era amigo de Davi e o amava, mas Mefibosete não necessariamente. 

No Novo Testamento vemos também o exemplo de Epafrodito, que foi outro a não se importar em correr riscos por uma verdadeira amizade. Ele viajou cerca de 2.000Km - da Macedônia a Roma - para cuidar de Paulo, podendo com isso perder muito, inclusive sua própria vida, seja através de um acidente durante a viagem, uma enfermidade contraída, o que acabou acontecendo e quase o ceifou (cf.Fp.2:27). Além disso, Paulo era acusado de traição ao Império Romano, e esta era uma acusação grave. Ele poderia ser condenado a morte e, quando um prisioneiro era condenado a morte, quem estava com ele deveria morrer também. Mesmo sabendo disso, Epafrodito abandona sua cidade, sua casa, todos os seus e vai a Roma cuidar de Paulo. Isso é amizade fiel e verdadeira; isso é comprometimento. Que coisa maravilhosa é ter amigos assim. Felizes são aqueles que podem ser e contar com amigos deste porte.

Assim se expressou o sábio Salomão, filho de Davi: "Em todo o tempo ama o amigo, e na angustia se faz o irmão" (Pv.17:17). Amigo é aquele com o qual podemos contar em todo o tempo. É, exatamente, quando precisamos é que descobrimos quem são, ou, apenas quem é nosso amigo, porque “o amigo ama em todo o tempo”: na prosperidade, ou na escassez; na ventura, ou na desventura; para rir, ou para chorar juntos. “O homem que tem muitos amigos pode congratular-se, mas há amigo mais chegado do que um irmão” (Pv.18:24). Jesus também disse: "Nenhum amor pode ser maior que este, o de sacrificar a própria vida por seus amigos" (João 15:13). Você tem um amigo? Valorize-o!

3. Uma aliança do Senhor. O relacionamento de amizade entre Davi e Jônatas foi tão profundo e tão forte que nele se cumpre a declaração de Pedro: “...os indoutos e inconstantes torcem e igualmente, para sua própria perdição” (2Pd.3:16). Torcer a Palavra de Deus, pretender que ela diga o que ela não diz, é um perigo, e pode ter consequências eternas. Alguns profanos, diabolicamente inspirado, dizem que havia um relacionamento homossexual entre Davi e Jônatas. Para nós, que, segundo afirmou Paulo, temos “a mente de Cristo” (1Co.2:16), é certo que o que havia entre aqueles dois jovens era uma profunda e sincera amizade, um sentimento amalgamado pelo “Phileo” e pelo “Ágape”, sem qualquer concurso do “Eros”. O “Phileo” tem o sentido de amor social, ou amizade, que tanto pode existir entre pessoas do mesmo sexo, como também entre sexos diferentes. Da mesma forma acontece com o “Ágape”, que tem o sentido mais puro do amor, é o amor divino, ou amor que emana do próprio Deus, porque “Deus é amor” (1João 4:8). Estes dois sentimentos - o amor social e o amor Divino - podem unir duas pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferente sem a mínima participação do “Eros”, que é o amor carnal, o amor lascivo.

Entre Davi e Jônatas havia uma profunda comunhão e um laço inquebrantável de amizade, ou amor social. O que havia entre eles era uma união espiritual, ou uma união de almas, conforme relata a Bíblia Sagrada: E sucedeu que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou como à sua própria alma” (1Sm.18:1). É preciso ser espiritual para poder entender o significado desse amor que une as almas de pessoas do mesmo sexo, ou de sexos diferentes, sem qualquer conteúdo erótico, ou carnal.

Assim como Paulo considerou Tíquico e seus outros cooperadores como amados e fiéis amigos, da mesma forma Davi foi para Jônatas um amado e fiel amigo. Jônatas amou a Davi “...com todo o amor da sua alma” (1Sm.20:17). Assim, quando Davi soube da morte de Jônatas, no campo de batalha, Davi lamentou, e declarou:Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; quão amabilíssimo me eras! Mais maravilhoso me eras o teu amor do que o amor das mulheres” (2Sm.1:26). Aqui, este amor não tinha qualquer conotação erótica. Amor das mulheres era algo que Davi conhecia muito bem. Sua poligamia com Mical, Abigail, Ainoã, Maaca, Agita, Abigail, Eglá e seu adultério com Bate-Seba, mostram que a maior dificuldade de Davi era a atração pelo sexo oposto (1Sm.18:27; 25:42,43; 2Sm.3:2-5; 11:1-27). Jônatas, também, era casado e pai de um filho, cujo nome era Mefibosete (2Sm.4:4). Portanto, em nenhum texto da Bíblia se diz que Jônatas e Davi desobedeceram a Deus e a sua Lei, no tocante a comportamento homossexual. Eles sabiam que, se tendessem a este comportamento reprovável, estariam cometendo "abominação ao Senhor" (Lv.18:22; 20:13).

Sem sombra de dúvida, a amizade leal e perene entre Davi e Jônatas foi inspirada por Deus, haja vista que, tempos depois, Davi seria beneficiado grandiosamente por ela, quando o amigo Jônatas o livraria da fúria ciumenta e sanguinária de Saul. Eles fizeram aliança espiritual, e não uma parceria abominável aos olhos do Senhor (1Sm.18:3). Somente a má fé de quem usa a Palavra de Deus para justificar seus pecados pode afirmar tamanha incoerência e disparate.

III. O CARÁTER DE JÔNATAS E SUAS LIÇÕES

Caráter é a forma externa e visível da personalidade. Jônatas, cujo nome significa “dado por Deus”, tinha um caráter exemplar; era o oposto do seu pai; seu exemplo é prova disso. Ele entrou para a história à sombra do pai, mas pouca coisa herdou de seu genitor. Vejamos alguns aspectos do caráter de Jônatas.

1. Um homem corajoso. Jônatas era valente e hábil no combate. Sua bravura já fora provada, quando, em Micmás, derrotou toda uma guarnição dos filisteus, contando apenas com a ajuda de seu fiel escudeiro, colocando sua fé em ação (1Sm.14:1-14). Enquanto Saul estava debaixo da romeira (1Sm.14:2), Jônatas decidiu descer ao campo de batalha. Aliás, esse espirito inquieto era uma marca no seu caráter; era o tipo de líder proativo, de atitude, não esperava a coisa melhorar ou piorar para agir. Gostava de aproveitar oportunidades, sabia que as tais eram únicas e poderia não tê-las mais. Durante a batalha, Jônatas se tornou um com seu escudeiro. Foi um trabalho em equipe. Enquanto Jônatas derrubava o inimigo, seu escudeiro matava aqueles que ele derrubava (cf.1Sm.14:13). Revelou-se um comandante de tropas, um herói e um homem de fé (1Sm.14:6). Um líder que trabalha em equipe, unido, terá mais probabilidade de vencer as batalhas da vida. Isto os fez avançar e impor medo aos confiantes filisteus. Nunca caia na armadilha de pensar que, por ser o líder, poderá sozinho vencer os desafios que a liderança oferece.

“Mas a coragem de Jônatas não era apenas física e emocional. Ele tinha a grandeza espiritual que lhe dava confiança, diante das adversidades (1Sm.14:1-4). Ele revelou firmeza diante dos inimigos, e lealdade diante dos amigos”.

2. Um homem humilde. Com o passar do tempo, Jônatas descobriu que Deus havia ungido seu amigo Davi para ocupar o trono de Israel no lugar de seu pai, que pela lógica ele herdaria, conforme mostra 1Samuel 20:31 - “Pois, enquanto o filho de Jessé viver sobre a terra, nem tu estarás seguro, nem seguro o teu reino; pelo que manda buscá-lo, agora, porque deve morrer” (1Sm.20:31). Ignorando seu ego, a tradição e até a vontade do rei Saul, Jônatas abdicou do seu direito ao trono e fez de tudo para defender Davi das investidas do rei. Soube reconhecer que seu amigo tinha a direção de Deus, e as condições humanas para substituir Saul no cargo de monarca de Israel (1Sm.16:1,12,13). E por não comungar das mesmas ideias do rei, Jônatas foi forçado a tomar uma posição e novamente enfrentou a fúria de seu pai para apoiar e defender seu amigo Davi numa clara submissão à vontade do Senhor Deus (cf. 1Sm.20).

Imagina-se quanto foi difícil para Jônatas manter a amizade sólida e verdadeira com Davi num ambiente conflituoso e tumultuado por interesses e o poder. Veja que Jônatas era o sucessor naturalmente de Saul e muito em breve se tornaria o homem mais poderoso e influente do reino de Israel, no entanto, sua amizade por Davi torna-se ainda mais comovente, visto que, sua tocante renúncia ao direito de ser rei e seu devotamento pelo “rival”, constitui sem dúvidas uma das mais nobres e belas histórias de amizade.

O caráter de Jônatas é exemplar para muitos que lideram igrejas hoje. “Há muitos, em igrejas evangélicas, que brigam por cargos e posições, agindo, muitas vezes, com métodos carnais, seguindo o exemplo dos ímpios. São obreiros carnais, dominados por ‘torpe ganância’ (1Tm.3:3). A humildade é qualidade que só possuem os que têm grandeza de alma. E Deus se agrada dos humildes” (1Pd.5:6).

3. Um homem leal. Ser leal, agradável e receptível, independentemente das circunstâncias, precisa ter o caráter dominado pelo Espírito Santo, pois as pessoas são difíceis e possuem interesses, geralmente, conflitantes. Em todas as ocasiões, depois que se tornou amigo de Davi, Jônatas demonstrou sua lealdade. Poderia ter ficado ao lado do seu pai quando, injustamente, quis eliminar a vida de Davi. Pelo contrário, quando soube do plano de Saul para matar Davi, Jônatas procurou o amigo e lhe advertiu do perigo de morte (1Sm.19:1-3; 20:11-17,32,33). Na visão ímpia de Saul, Davi era uma ameaça a Jônatas e consequentemente a toda a sua posteridade já que se Davi assumisse o trono Jônatas não seria o próximo rei, seu filho não seria o príncipe herdeiro e assim por diante (cf.1Sm.20:31). No entanto, ao invés de odiar Davi e tentar eliminá-lo, ele o ama e protege. Eliminar Davi não seria difícil já que ele dispunha de informações privilegiadas a respeito de Davi e este confiava nele. Davi fugiria de Saul, mas não de Jônatas.

Pior do que um inimigo é um falso amigo. Dizem que um sábio antigo orava pedindo a Deus que cuidasse de seus amigos pois dos inimigos ele era capaz de cuidar. Se Jônatas fosse um falso amigo, se Jônatas se deixasse levar por interesses pessoais, Davi estaria correndo sério risco; e é preciso lembrar que o interesse pessoal de que estamos falando não era uma coisa qualquer, era o trono de Israel. 

Muito triste é quando se confia em alguém, quando o tem como amigo sincero, e se vê traído pelo mesmo, por ter se deixado levar por interesses, por benefícios muito menores que aquele do qual Jônatas estava abrindo mão. Infelizmente, isto não é algo incomum. Jônatas sabia que pessoas valem mais que coisas, mais que posição. Para Jônatas o trono não era mais importante que a amizade de Davi.

Jônatas teve um último encontro com Davi, onde mais uma vez selaram o pacto de lealdade diante de Deus – “E, indo-se o moço, levantou-se Davi da banda do Sul, e lançou-se sobre o seu rosto em terra, e inclinou-se três vezes; e beijaram-se um ao outro e choraram juntos, até que Davi chorou muito mais. E disse Jônatas a Davi: Vai-te em paz, porque nós temos jurado ambos em nome do SENHOR, dizendo: O SENHOR seja perpetuamente entre mim e ti e entre minha semente e a tua semente. Então, se levantou Davi e se foi; e Jônatas entrou na cidade” (1Sm.20:41-43). Jônatas veio a morrer em Gilboa ao lado de seu pai (1Sm.31:8).

CONCLUSÃO

Que o mesmo Deus que cuidou de Jônatas e Davi, nos conceda discernimento e sabedoria para reconhecer o amor nos pequenos e simples detalhes que constitui uma linda e verdadeira amizade. Que possamos confiar no melhor e maior amigo de todos, Jesus Cristo. Com ele jamais corremos o risco de nos decepcionar e se ouvirmos atentamente a sua voz, certamente saberemos selecionar os bons e verdadeiros amigos que encontraremos durante nossa jornada aqui na terra. “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (João 15:14). Lembremos que sem lealdade não pode haver verdadeira amizade, é o que nos ensina a bela história de Jônatas e Davi.

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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Revista Ensinador Cristão – nº 70. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal. Novo Testamento. CPAD.

Pr. Elinaldo Renovato de Lima. O caráter do Cristão. CPAD.

Rev. Hernandes Dias Lopes. Quatro Homens e um destino.

domingo, 23 de abril de 2017

Aula 05 – JACÓ, UM EXEMPLO DE UM CARÁTER RESTAURADO


2º Trimestre/2017

Texto Base: Gênesis 25:28-34; 32:24,28,30

"Como está escrito: Amei Jacó e aborreci Esaú" (Rm.9:13).

 INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos de Jacó, neto de Abraão. Jacó possuía um caráter oportunista e usurpador, que levou a enganar o próprio pai. Mas, Jacó teve um encontro com Deus e foi transformado por Ele (Gn.32:30). Todo encontro com Deus é transformador, ninguém sai da Sua presença da mesma maneira que entrou. Deus purificou o caráter de Jacó como o ourives faz com o ouro, restaurando-o a um padrão condizente com a Sua vontade – “O ouro e a prata são provados pelo fogo, mas é o SENHOR que revela quem as pessoas realmente são” (Pv.17:3-BKJA).

Jacó marca o fim da era patriarcal com relação à origem da nação de Israel; ele é o último dos patriarcas de onde vieram as doze tribos de Israel. Sua vida ocupa uma grande porcentagem do livro de Gênesis, e é marcada por altos e baixos, erros, enganos, sofrimento, mudança e fidelidade a Deus. Certamente, nenhum dos patriarcas que o antecederam precisou ser tão trabalhado em seu caráter como Jacó, mas, no fim de sua vida, olhamos nele um grande exemplo da graça provedora e salvadora do Senhor; da escolha baseada não em méritos próprios, mas na misericórdia e presciência divinas, além de um notável exemplo de mudança de caráter tecido no trabalhar de Deus no sofrimento.

I. QUEM ERA JACÓ

1. O filho mais novo de Isaque. O nascimento de Jacó foi um milagre. Sua mãe, Rebeca, era estéril. Isaque orou instantemente por vinte anos para que Deus abrisse a madre de sua mulher Rebeca (Gn.25:20,21,26) e Deus ouviu a sua oração. Rebeca engravidou e logo notou que havia gêmeos em seu ventre, que lutavam entre si (Gn.25:22), tendo, então, o Senhor, em resposta à oração de Rebeca, dito que havia duas nações no seu ventre e que o maior serviria o menor (Gn.25:23). No nascimento, Esaú nasceu primeiro, tendo sido chamado Esaú porque era cabeludo, sendo também chamado Edom, porque era ruivo, enquanto que o caçula foi chamado de “Jacó”, porque nasceu segurando no calcanhar de seu irmão, por isso, recebeu o nome de “Jacó”, que significa “suplantador” ou “aquele que segura pelo calcanhar”.

2. O preferido de sua mãe. Isaque e Rebeca já sabiam de antemão que Jacó era o escolhido para dar seguimento à formação da grande nação prometida a Abraão e na qual seriam benditas todas as famílias da terra (Gn.12:1-3), e as circunstâncias do nascimento que levaram, inclusive, à concessão dos nomes aos filhos gêmeos, também já mostravam que Jacó ocuparia o lugar que, por direito, seria de seu irmão primogênito, mas, infelizmente, esqueceram-se de tal afirmação divina e se deixaram inclinar por suas predileções pessoais. Isaque preferia Esaú, porque seu comportamento lhe agradava, assim como Rebeca preferia Jacó também por causa da conduta de seu filho caçula – “varão simples, habitando em tendas" (Gn.25:27,28). Estas atitudes acabaram levando à própria destruição do lar do patriarca Isaque.

Quando Isaque adoeceu e achou que iria morrer, mesmo sabendo que Jacó era o escolhido de Deus, quis dar a sua bênção para Esaú e, por isso, mandou que seu primogênito lhe preparasse uma caça. Rebeca, sabendo disto, resolveu enganar o seu marido, a fim de que a bênção fosse dada a Jacó e instigou seu filho a participar deste engodo. Jacó, mediante engano, obteve a bênção de seu pai (Gn.27:27-29).  Esaú, ao retornar da caça descobriu que seu irmão tomara sua bênção, teve que se conformar com uma bênção menor (Gn.27:39,40). Cheio de ódio, planejou matar seu irmão (Gn.27:41). Diante da ameaça de Esaú, Jacó teve que fugir. Percebendo que Deus tinha um plano na vida de Jacó, Isaque o despediu com uma bênção profética de grande significado (cf. Gn.28:1-4).

Isaque e Rebeca ficaram vinte anos sem ter filhos, e, agora, os filhos são transformados em problemas. Eles transformaram uma bênção num problema. Os filhos, em vez de unir, separam o casal. Isaque tem preferência por Esaú, e Rebeca, por Jacó. Eles fizeram dos filhos um motivo de tropeço para o casamento. Eles cometeram um grave pecado contra os filhos. Eles tiveram preferência por um filho em detrimento do outro. Jacó aprendeu esse erro com os pais e o comete mais tarde, amando mais a José que seus irmãos.

Isaque e Rebeca semearam o ciúme, a competição e o ódio no coração dos filhos (Gn.27:5-8). Eles lançaram no coração dos filhos o ciúme, a inveja, a disputa e a competição. Em vez de amigos, os filhos cresceram como concorrentes e rivais. Eles se esqueceram de que, na família, primeiro vem o cônjuge e, depois, os filhos. Rebeca ensina Jacó a mentir. Esaú passa a odiar seu irmão e a desejar sua morte (Gn.27:34,36,41). Jacó precisou fugir de casa para salvar sua vida. Esaú, para vingar-se dos pais, puniu-se a si mesmo, casando-se com mulheres filistéias, que se tornaram amargura de espírito para seus pais.

3. O preferido de Deus. Deus em seus desígnios já havia escolhido Jacó, antes do seu nascimento, e revelado aos seus pais que o primogênito serviria ao caçula (Gn.25:23). Portanto, antes mesmo do seu nascimento, Jacó já fora escolhido por Deus para ser o herdeiro da promessa de Abraão (Ml.1:2; Rm.9:13). Tal escolha, porém, não significa, em absoluto, que haja uma predestinação incondicional, que Deus seleciona previamente quem será salvo e quem não o será. Deus não tem filhos privilegiados, nem escolhe uns para a salvação e outros para a condenação, pois tal atitude contraria frontalmente o seu caráter santo, justo e bom. Seria, portanto, uma terrível discriminação por parte de Deus que condena quem faz acepção de pessoas (Tg.2:9; Pd.1:17). Aqui, a escolha dizia respeito à formação da nação de onde viria o Salvador e, como a nação era formada diretamente por Deus, tinha Ele o pleno direito de escolher quem quisesse, sem que isto representasse parcialidade ou injustiça. Já a ideia da predestinação incondicional é incompatível com a assertiva bíblica de que Deus não faz acepção de pessoas (Dt.1:17; 10:17; At.10:34).

II. A DIREÇÃO DE DEUS NA VIDA DE JACÓ

“E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra, porque te não deixarei, até que te haja feito o que te tenho dito” (Gn.28:15).

Jacó se dispôs a obedecer aos seus pais e encarou a rota de fuga rumo a Padã-Harã (Gn.28:7), onde morava seu tio, Labão, cerca de 640 quilômetros de distância. Quando ia, ele parou num certo lugar e ali passou a noite, porque já o sol era posto, e tomou uma das pedras daquele lugar e a pôs por sua cabeceira e deitou-se (cf. Gn.28:11). Ali, Deus apareceu a Jacó e disse-lhe: "Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaque..." (Gn.28:13). Observe que Deus não lhe disse: "Eu sou o teu Deus". Até aquele momento, Deus não era o Deus de Jacó. O conhecimento de Jacó acerca de Deus era apenas teórico; ele tinha apenas uma fé intelectual, que é uma fé morta.

Jacó foi escolhido por Deus, mas ainda não conhecia o Senhor pessoalmente. Jacó foi escolhido, mas não confiava na providência divina, por isso, em vez de confrontar seu pai acerca do propósito de Deus, mente para ele (cf.Gn.27:18-27). Jacó se tornou um enganador, um mentiroso, um falsário, um retrato de seu nome. Ele lidava com as coisas de Deus, mas sem o temor a Deus. Ele era um patriarca, mas não conhecia Deus pessoalmente. Uma coisa é crescer na igreja, pertencer a um lar cristão, ler a Bíblia e ser membro da igreja; outra coisa é ser nova criatura. Ninguém entra no céu por ser filho de crente, por ter nome de crente. Somente aqueles que nascem de novo, que nascem da água e do Espírito, podem entrar no Reino de Deus (João 3:3,5). Se não tivermos cuidado, Deus será apenas o Deus dos nossos pais, e não o Deus da nossa vida.

Apesar de sua fé teórica e ainda não conhecer de perto o Deus de Abraão e Isaque, o Senhor toma a iniciativa e revela-se a Jacó fazendo-lhe promessas grandiosas. Vejamos, a seguir, algumas dessas promessas.

1. Deus lhe promete proteção e direção (Gn.28:15) - “....e te guardarei por onde quer que fores...”. Jacó agora tem segurança na jornada e propósito de vida. Ele sabe que Deus é seu refúgio e também seu alvo. Jacó agora pode caminhar seguro debaixo da mão do Onipotente. Ele pode sentir-se seguro nos braços do Todo-poderoso. Ele sabe que o futuro com Deus não é mais incerto.

2. Deus Se revela a ele, dizendo-lhe que está perto dele (Gn.28:15) -  “E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra, porque te não deixarei, até que te haja feito o que te tenho dito”. Jacó caminha solitário, com as emoções amassadas, com a alma perturbada, com um passado cheio de feridas e um futuro incerto. Mas, nessa jornada, tomou conhecimento de que, a despeito dos seus erros de percurso, Deus estava perto dele.

3. Os anjos de Deus o assistem (Gn.28:12) - “E sonhou: e eis era posta na terra uma escada cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela”. Jacó pensou que estava só e desamparado, mas Deus estava perto dele, e os anjos de Deus estavam ao seu redor para o assistirem. O anjo do Senhor acampa-se ao nosso redor (Sl.34:7). Os anjos são espíritos ministradores que nos assistem na caminhada da vida (Hb.1:14). Os anjos de Deus subiam e desciam a escada mística que ligava a terra ao céu. Note que os anjos não desciam e subiam, mas subiam e desciam. Eles já estavam na Terra. Eles já estavam assistindo Jacó em sua jornada. Jacó descobriu que onde Deus está, ali é sua casa, "a porta dos céus" (Gn.28:13-17).

4. Deus lhe promete bênçãos temporais (Gn.28:14,15) - “E a tua semente será como o pó da terra; e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul; e em ti e na tua semente serão benditas todas as famílias da terra [...] e te farei tornar a esta terra, porque te não deixarei, até que te haja feito o que te tenho dito”. Deus promete a Jacó três coisas maravilhosas: prosperidade, descendência numerosa e abençoada. Jacó, aliado à sua mãe, pensou que precisava ajudar Deus cumprir Sua promessa, mas, Deus estava no controle de tudo. A aparente demora de Deus é apenas um recurso pedagógico. As promessas de Deus jamais podem cair por terra. Nenhuma força no céu, na terra ou debaixo da terra pode anular os desígnios de Deus. O que Deus promete, Ele cumpre. Mesmo quando nos tornamos infiéis, Deus permanece fiel. Jacó estava fugindo, cabisbaixo, sob o fardo da culpa, mas Deus o encontra e faz-lhe promessas gloriosas.

5. A coluna em Betel. Quando Jacó acordou de seu sono, depois de ter aquela magnífica visão da escada e dos anjos e, ao ficar aturdido pela glória da visão, exclama: "Realmente o Senhor está neste lugar; e eu não o sabia” (Gn.28:16). Jacó tem uma visão da presença manifesta de Deus. A presença manifesta de Deus nos causa profundos abalos. Jacó despejou sua admiração numa fervente exclamação: “Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos céus" (Gn.28:17). Quando Moisés percebeu a presença manifesta de Deus no arbusto fumegante, no monte Sinai, ele se prostrou. Quando Isaías entrou no templo e viu a presença manifesta de Deus, assentado num alto e sublime trono, ficou aterrado. Quando Daniel ficou sozinho diante do ser celestial, seu corpo enfraqueceu; ele cai prostrado diante do fulgor do anjo (cf.Dn.10:8). Quando João viu o Senhor glorioso na ilha de Patmos, caiu aos seus pés. Diante da manifestação da glória de Deus os homens se prostram e se humilham. A glória de Deus é demais para o frágil ser humano suportar.

Tão impactante na sua vida foi aquele episódio, que Jacó chamou aquele lugar deserto de Betel, que significa "Casa de Deus" - “Então, levantou-se Jacó pela manhã, de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por sua cabeceira, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela. E chamou o nome daquele lugar Betel...” (Gn.28:18,19).

Sem dúvida alguma, a história de Jacó se divide em dois períodos: antes de Deus encontrá-lo e depois daquele encontro especial. Ali, naquela madrugada, Jacó ouviu Deus lhe falar, sentiu a presença divina e teve uma mudança extraordinária em sua vida.

Talvez você ainda esteja nesse estágio: Você tem visões da presença de Deus; você levanta altares a Deus; você sabe que esse lugar é a casa de Deus e a porta do céu; você caminha sob a graça comum de Deus - prosperidade, família, segurança. Mas, Deus ainda não é o Deus de sua salvação; Ele é apenas o Deus de seus pais. Há pessoa que é filho de pais crentes, que nasceu num berço evangélico, que conhece a casa de Deus, mas, infelizmente, não conhece o Deus da casa de Deus. Você já conhece Deus? Ele é o Deus de sua vida e o Deus da sua salvação?

III. ASPECTOS DO CARÁTER DE JACÓ

O caráter de Jacó teve duas fases - antes do seu encontro com Deus em Betel: oportunista, mentiroso e enganador; após o seu encontro com Deus em Betel: agradecido, paciente, trabalhador e cheio de fé.

1. Antes do seu encontro com Deus. Até o encontro com Deus em Betel, Jacó tinha um comportamento reprovável. Ele enganou, mentiu, traiu. Ele praticou tudo isso porque era apenas um "homem natural", ou carnal, pois um homem carnal não compreende as coisas espirituais (1Co.2:14). Vejamos alguns aspectos negativos de seu caráter antes do seu encontro com Deus.

a) Oportunista e egoísta. Num certo dia, quando Esaú voltava do campo, cansado, Jacó estava preparando um guisado vermelho. Esaú, então, pediu o guisado a Jacó e este, ardilosamente, resolveu atendê-lo, trocando o prato de lentilhas pela primogenitura de Esaú – “vende-me hoje a tua primogenitura" (Gn.25:31). Esaú, desprezando a bênção espiritual que tinha, alienou-o, demonstrando, com isso, que era uma pessoa profana (Hb.12:16), ou seja, que desprezava as bênçãos espirituais, sendo mais guiado pelo instinto, pela carnalidade (Gn.25:30-34).

b) Interesseiro e calculista. Além de propor a troca da primogenitura ao irmão, exigiu que Esaú fizesse um juramento que lhe garantisse que a troca seria respeitada por toda a vida: "Então, disse Jacó: Jura-me hoje. E jurou-lhe e vendeu a sua primogenitura a Jacó" (Gn.25:33; Hb.12:16). Com sua atitude ardilosa, Jacó demonstrava, assim, ser realmente um “suplantador”, pois conseguira obter para si a bênção que, por direito, pertencia a Esaú, tomando-lhe o lugar.

No entanto, é preciso observar que Jacó dava valor à bênção da primogenitura, à promessa divina de constituição de uma nação que faria benditas todas as famílias da terra, enquanto que Esaú simplesmente desprezava esta bênção espiritual, sendo pessoa presa às coisas desta vida, pessoa que não tinha qualquer consideração pela eternidade, pelo relacionamento com Deus. Portanto, Jacó desde o início de sua vida, mostrava-se apto para ser um patriarca, porque dava valor às coisas espirituais, porque, como diz o escritor aos hebreus, não tinha como alvo este mundo terreno, mas, sim, a cidade celestial, a vida eterna com Deus (Hb.11:9,10,13-16). Neste sentido, aliás, temos aqui o outro significado de “suplantador”, ou seja, “aquele que se supera”, aquele que quer ir além da posição onde se encontra. Na Sua presciência, Deus amou Jacó precisamente por causa do valor que Jacó dava ao relacionamento com o Senhor.

c) Mentiroso e enganador. Duas características sumamente reprováveis. Jacó aprendeu a ser assim dentro da casa de seus pais. Jacó, movido pela vontade inflexível de sua mãe, enganou seu velho pai; mentiu, forjando sua identidade; passou-se por Esaú; blasfemou contra Deus e deu um beijo de mentira em seu pai (Gn.27:18-20,24,26,27). Ele aprendeu com a mãe e, daí para a frente, viveu como um suplantador, um enganador.

O lar é um campo de semeadura - nós colhemos o que plantamos, refletimos quem somos em nossos filhos. Porque Isaque e Rebeca plantaram a falta de diálogo, seus filhos cresceram sem amizade. Porque Isaque e Rebeca tinham preferências, seus filhos cresceram como rivais. Porque Isaque e Rebeca semearam competição entre os filhos, eles colheram o ódio de Esaú por Jacó. Porque eles não cultivaram amizade entre os filhos, passaram a velhice na solidão, longe dos filhos.

Jacó precisou fugir de casa. Saiu como mentiroso, traidor, embusteiro. Saiu com a consciência culpada, deixando um pai enganado, um irmão traído e uma mãe protetora fracassada. Jacó perdeu a casa, perdeu a mãe protetora, perdeu o amor do irmão e a consciência tranquila. Vinte anos depois, Deus restaurou a amizade de Jacó e Esaú, mas Rebeca não viu isso, e o pai estava muito velho para alegrar-se nessa restauração. Peça a Deus que faça você ver um milagre em sua família.

2. Depois do seu encontro com Deus. Após essa primeira experiência que Jacó teve com Deus em Betel, quando ia em direção a Harã, o seu caráter passou a demonstrar um perfil diferente do que era antes. A presença manifesta de Deus causa profundos abalos na vida do ser humano. Observe a transformação no caráter de Jacó após o seu primeiro encontro com Deus em Betel:

a) um caráter agradecido. Após a experiência sobrenatural da visão da escada, Jacó passou a ver as coisas numa perspectiva espiritual de um novo relacionamento com Deus e fez-lhe um voto, dizendo: "... se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer e vestes para vestir, e eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR será o meu Deus; e esta pedra, que tenho posto por coluna, será Casa de Deus; e, de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo”.

Aqui, o texto trata de um voto, ou uma obrigação que Jacó assumiu com Deus. Na Bíblia, um voto é geralmente uma oração em que o indivíduo se compromete a fazer alguma coisa quando Deus atende suas orações. Isso era realizado principalmente em tempos de intensa necessidade ou perigo. Havia dois tipos de votos: (1) o voto incondicional, no qual o povo se comprometia a fazer algo para o Senhor sem pedir nenhuma bênção específica, que era o caso do voto dos nazireus (Nm.6:2); e (2) o voto condicional, que seria cumprido se o favor solicitado fosse concedido (1Sm.1:11). A prática era baseada no princípio da reciprocidade: um favor recebido requer uma expressão de gratidão; a pessoa que recebe algo, por meio de sua oferta, transforma-se em doadora. Isso não era uma tentativa de barganhar com Deus, mas o desejo de ter intimidade e relacionamento com Ele. Deus é considerado alguém com quem se pode conversar e pedir um favor, e alguém para quem se pode fazer uma promessa de retribuir Sua bondade. As pessoas sabiam que Deus podia escolher não conceder a petição, o que tornava desnecessário o cumprimento do voto.

Jacó, em seu voto, pediu a presença divina para protegê-lo e para retornar a salvo. Se isso lhe fosse concedido, o Senhor seria o seu Deus e ele lhe daria o dízimo de tudo quanto Deus lhe desse. Observe que Deus já havia prometido a Jacó, em sonho, o que ele estava pedindo, e muito mais. Deus já havia prometido que lhe daria o lugar em que estava dormindo, que multiplicaria seus descendentes, que todos os povos seriam abençoados por meio dele e que estaria com ele para protegê-lo (Gn.28:13-15). Então, por que Jacó não confiou nas promessas de Deus sem recorrer à “garantia” do voto? Talvez porque Jacó ainda não tinha maturidade espiritual plena, ou seja, ele ainda não tinha um compromisso total com o Senhor.

O voto de Jacó foi uma experiência que o levou a assumir um compromisso pessoal com o plano de Deus para ele e seus descendentes. Deus lida conosco de acordo com nossa condição espiritual e, se desejarmos, Ele pacientemente nos conduz a um relacionamento mais profundo e pessoal com Ele como nosso Redentor.

- No voto, ele disse: “Então o Senhor será o meu Deus” (Gn.28:21). Vendo esta atitude de Jacó, Deus Se identificou como “o Deus de seu pai Abraão e o Deus de Isaque” (Gn.28:13). Ele ainda não era o Deus de Jacó; foi Seu cuidado providencial que resultou na conversão desse patriarca. Deus o abençoou tão abundantemente enquanto trabalhava para Labão que ele disse: “Foi assim que Deus tirou os rebanhos de seu pai e os deu a mim” (Gn.31:9). O Senhor também protegeu a Jacó em seus negócios com Labão (Gn.31:22-24) e durante seu encontro com Esaú (Gn.33:1-5). Finalmente, o Senhor enviou Jacó de volta à terra de Canaã com a promessa de Sua presença (Gn.31:3). Nesse momento da história, Jacó escolhe o Senhor como seu Deus; o Senhor agora era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Este já não era mais Jacó, e sim Israel (Gn.32:24-30). Em Canaã, ele construiu um altar e adorou ao Senhor (Gn.33:20).

- No voto, também, ele disse que daria o dízimo de tudo que Deus desse para ele. Até ali Jacó nunca teve renda própria, morava na casa de seu pai, não tinha salário. Agora Jacó está iniciando sua vida própria. Terá que viver e sobreviver do trabalho de suas mãos. Ao contrário do que muitos pensam, ele não disse “se eu ficar rico”, ou “se eu ganhar muito dinheiro”. Não foi esta a sua oração. Ele não usou o Dízimo como instrumento de troca. Ele pediu a Deus o básico, as condições necessárias para a sua sobrevivência: alimento e roupa. Ele prometeu dar o dízimo “de tudo quanto me deres”, ou seja, pouco ou muito. O Dízimo nunca teve o objetivo de ser um instrumento para gerar riquezas; ele deve ser exercitado como uma prova de obediência e de fé. 

b) um caráter esforçado e sofredor. Chegando a Harã, Jacó logo foi querendo saber onde morava a família de Labão, seu tio, e, nesta procura, encontrou-se com Raquel, sua prima, de quem logo se enamorou, tendo-a pedido em casamento a seu tio Labão e, como não tinha qualquer patrimônio, dispôs-se a trabalhar sete anos por ela (Gn.29:1-20). Passados os sete anos de trabalho, Jacó, então, foi enganado por seu tio Labão, pois, após a festa do casamento, acabou por dormir com Leia e não com Raquel, pois não sabia que, em Padã-Harã, não se podia casar a filha mais nova antes da mais velha. Jacó começa, assim, a sofrer as consequências de seu pecado, ao enganar seu pai, sendo, também, enganado. Teve, então, de trabalhar mais sete anos para poder casar com Raquel (Gn.29:21-27). Temos aqui a chamada “lei da ceifa”, bem descrita em Gl.6:7: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará”. Temos aqui mais uma prova de que não foi o engano, que ele cometeu junto ao seu pai, que deu a bênção a Jacó, tanto que este engano fez com que ele fosse seguidamente enganado por seu tio Labão.

Mas há, ainda, um outro fator que levou Jacó a ser enganado: a falta de vigilância e de comunhão com Deus. Deus havia Se manifestado a Jacó em Betel, havia lhe confirmado sua condição de herdeiro da promessa de Abraão, mas, desde que Jacó chegou a Harã, em momento algum vemos Jacó adorando a Deus, em momento algum vemos Jacó edificando um altar ao Senhor. Jacó passou vinte anos em Harã (cf. Gn.31:38) e, durante todo este tempo, não ofereceu qualquer sacrifício a Deus, nem sequer educou seus filhos na doutrina e admoestação do Senhor. Ora, quem não tem qualquer relacionamento com Deus, acaba por se comprometer com este mundo e, assim, acaba enganando e sendo enganado, indo de mal a pior (2Tm.3:13).

c) Um homem na direção de Deus. Jacó havia se esquecido de Deus, mas Deus não havia Se esquecido de Jacó. Apesar da indiferença demonstrada por Jacó para com as coisas relacionadas a Deus e que havia se restringido tão somente à observância da circuncisão de seus filhos (cf. Gn.34:14) durante aqueles vinte anos em que estivera em Padã-Arã, Deus vai ao encontro do patriarca e, no momento da angústia e aflição, manda-lhe voltar para Canaã. Jacó chamou, então, sua família e lhe relatou o ocorrido, dizendo que o Senhor lhe dissera que havia sido Ele quem providenciara a transferência patrimonial para Jacó em detrimento de Labão e que deveria retornar a Betel, inclusive para cumprir o voto que fez em Betel (Gn.31:4-13).

Ao saber da fuga de Jacó, Labão foi ao seu encalço e o fez principalmente por causa dos ídolos que lhe haviam sido roubados. Estes ídolos, como explicam os historiadores e arqueólogos, representavam a posse e propriedade da terra, e Labão achou que Jacó havia partido mas reivindicaria, posteriormente, todas as terras de Labão. Labão não achou os ídolos, pois Raquel simulou estar menstruada e não se levantou onde eles estavam, o que causou a ira de Jacó. No entanto, Jacó e Labão fizeram um concerto, segundo o qual Jacó não reivindicaria jamais as terras de Labão e Labão, a terra de Canaã (Gn.31:22-55). Aliás, Labão não podia praticar nenhum mal a Jacó, porque Deus entrou em ação e lhe determinou que não falasse com Jacó "nem bem nem mal" (Gn.31:24). Deus age ainda assim conosco. Deus quer que os homens se salvem e, por isso, vai ao encontro do homem querendo que ele se arrependa de seus pecados. Quão grande é o amor de Deus!

Na volta para Canaã, Jacó viu anjos de Deus (Gn.32:1), uma confirmação divina para o patriarca, uma confirmação de que estava a fazer a vontade de Deus. Assim como ocorrera com seu avô Abraão, Jacó teve uma visão das coisas espirituais depois que se desvencilhou de aspectos de sua vida que não eram agradáveis a Deus. Quando nos aproximamos de Deus, quando nos santificamos, quando eliminamos aspectos de nossa vida que não agradam ao Senhor, temos nossa visão mais nítida para as coisas dos céus. Por isso, como disse o salmista Asafe, boa coisa é nos aproximarmos do Senhor (Sl.73:28).

3. No seu encontro com Esaú. Jacó sabia que tinha uma questão pendente na sua volta para Canaã: a relação com seu irmão Esaú. Sabia que o relacionamento havia se desfeito em virtude da mentira com que obtivera a bênção de seu pai, mas Jacó estava determinado a superar esta situação e, por isso, mandou mensageiros a Esaú, que já habitava em Seir neste tempo, dizendo-se servo dele e relatando que havia obtido um patrimônio enquanto tinha estado em Padã-Arã. Os mensageiros retornaram, dizendo a Jacó que Esaú vinha ao seu encontro (Gn.32:2-6). Jacó, então teve medo e se angustiou muito, pois se lembrou da intenção homicida de seu irmão.

O pecado sempre gera terror e morte. Jacó sabia que não havia se conduzido bem. Por isso, esperando o pior, Jacó repartiu seu povo em dois bandos, a fim de que, pelo menos, metade de seu povo escapasse de Esaú. Simultaneamente, orou a Deus, pedindo-lhe ajuda, algo que jamais havia feito em Padã-Arã. Jacó, com isso, dá uma grande e profunda lição: a oração não é só clamor a Deus, mas também ação. Devemos fazer aquilo que depende de nós e confiar em Deus para que o que não podemos fazer, Ele o faça em nosso favor. Temos agido assim?

Também, com o objetivo de aplacar a ira de Esaú, Jacó enviou presentes para ele (Gn.32:7-21). Ao encontrar seu irmão, reconciliou-se com ele e o abraçou com perdão e amor.

4. A plena mudança do caráter de Jacó. Após passar o seu povo pelo vau de Jaboque, dividido em dois bandos, ele ficou sozinho ali, certamente para buscar a presença de Deus, em continuidade à sua oração por livramento (Gn.32:22-24). No vau de Jaboque, porém, apareceu um varão com quem Jacó lutou. A luta durou toda a noite e, vendo o varão que não conseguia prevalecer contra Jacó, deslocou a juntura da coxa de Jacó, deixando-o, pois, coxo. Mesmo coxo, porém, Jacó não deixou escapar aquele varão, que teve, então, de pedir que o deixasse partir, o que Jacó concordou desde que fosse abençoado por este varão. Entretanto, aquele varão, antes de o abençoar, mandou que dissesse qual era o seu nome. Jacó confessa o seu nome: suplantador. Nesta confissão, Jacó reconhece que havia vivido a enganar e a ser enganado até então. A bênção de Deus nunca vem na sua plenitude se não houver confissão e arrependimento. Como diz o proverbista: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv.28:13).

Aquele varão, então, diante de tal confissão, mudou o nome do patriarca para Israel, nome cujo significado é “aquele que luta com Deus”, porque “como príncipe lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste” (Gn.32:28). Estava retirado o último ponto que impedia Jacó de desfrutar da plenitude da promessa de Abraão.

Jacó ainda quis saber o nome daquele varão, mas este não o disse, tendo, então, partido. Com certeza, esse varão outro não é senão o Senhor Jesus em mais uma das chamadas “manifestações teofônicas”, ou seja, aparições antes de Sua encarnação. Como podemos saber que este varão é o Senhor Jesus? Pelo fato de ter abençoado Jacó (e anjo jamais abençoa), como também pela própria circunstância de lhe ter sido dado o nome de Israel, ou seja, “aquele que luta com Deus”. Ora, isto nos mostra, com clareza, que quem lutou com Jacó foi o Senhor Jesus. O próprio Jacó teve esta percepção, tanto que chamou aquele lugar de Peniel, que significa “a face de Deus”, admitindo ter visto Deus face a face e ter sido salvo (Gn.32:30). Jacó ficara coxo mas tinha tido o seu caráter completamente mudado com aquela rica experiência espiritual.

IV. ALGUMAS VERDADES IMPORTANTES QUE A VIDA DE JACÓ NOS REVELA

Adaptado do livro “Quatro homens e um destino”, do Rev. Hernandes Dias Lopes.

1. Deus amou Jacó, apesar de seus pecados (Gn.25:23). O nome de Jacó era um retrato de sua personalidade. Jacó significa enganador, mentiroso. Ele enganou seu pai e seu irmão. A despeito de quem ele era, Deus o escolheu. Mesmo Deus nos conhecendo como somos, ainda nos ama. Esse é um glorioso mistério! Não há nenhum mérito nosso que justifique o amor de Deus por nós. Nossos atos de justiça são, aos Seus olhos, como trapos de imundícia (Is.64:8). O homem sem Deus está morto, escravizado, depravado e condenado (Ef.2:1-3). O espantoso da graça de Deus é que Ele ama com amor eterno os filhos da ira. Ele aplacou Sua própria ira, satisfazendo Sua justiça no sacrifício perfeito e substitutivo do Seu Filho na cruz.

2. Jacó reconheceu sua necessidade de salvação (Gn.32:26) - “E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não te deixarei ir, se me não abençoares”. Observe que Jacó se agarrou ao Senhor e disse: "Não te deixarei ir, se não me abençoares". Os olhos da alma de Jacó foram abertos para compreender que a maior necessidade de sua vida não era de riqueza nem mesmo de ter uma família numerosa e próspera, mas de ter Deus. Deus sem Jacó é Deus, mas Jacó sem Deus não é ninguém. Deus não precisa de nós, pois sempre e eternamente subsistiu como Deus perfeito em Si mesmo. Mas nós, sem Deus, somos um ser vazio, insatisfeito, incompleto, menos do que nada.

3. Jacó chorou buscando a transformação de sua vida (Os.12:4) - “Como príncipe, lutou com o anjo e prevaleceu; chorou e lhe suplicou; em Betel o achou, e ali falou conosco”. O coração do velho Jacó agora se derrete. A resistência acaba. O homem endurecido se quebranta. Aquele que era crente apenas de nome, agora se dobra e chora diante de Deus. Quando uma criança entra no mundo, seu sinal de vida é o choro. O choro é sinal de vida. Quando um coração endurecido é quebrado, e quando os olhos da alma são abertos para a nova vida em Cristo, o choro do arrependimento sincero explode como sinal de genuína conversão.

4. Jacó confessou seu pecado a Deus (Gn.32:27) - “E disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó”. Deus lhe pergunta: qual é o seu nome? Quando seu pai lhe fez essa pergunta, Jacó mentiu dizendo que era Esaú. Agora, Deus lhe pergunta de novo. Não que o Senhor não soubesse o nome dele. Deus estava lhe dando a oportunidade para ele reconhecer o seu pecado, sua identidade. Ele, então, disse: "Jacó". Aquela não foi uma resposta, mas uma confissão. O nome Jacó significa enganador, suplantador. Ele era um retrato de seu próprio nome. Ninguém pode ser salvo antes de reconhecer que é pecador. Jesus Cristo não veio chamar justos, mas pecadores. O médico celestial não veio para os que se julgam sãos, mas para os enfermos. No céu, só entrarão os arrependidos, aqueles que reconhecem que carecem totalmente da graça de Deus.

5. Jacó viu Deus face a face, e foi salvo (Gn.32:30) - E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva”. Não basta apenas ouvir falar de Deus, é preciso ver Deus face a face, é preciso ter uma experiência com Deus. Devido essa grandiosa experiência, Jacó chamou aquele lugar de Peniel, que significa “a face de Deus”, admitindo ter visto Deus face a face e ter sido salvo (Gn.32:30). Em Peniel, Jacó encontrou-se com Deus e consigo mesmo, e sua vida foi salva. O supremo propósito da vida é ver Deus. O céu é a casa do Pai. O objetivo de Jesus é nos levar ao Pai. Quando o véu da incredulidade é removido de nosso rosto, e as escamas caem dos nossos olhos, então, pela fé, contemplamos a face sorridente de Deus. Ele corre para nos abraçar e fazer uma grande festa pela nossa volta ao lar.

CONCLUSÃO

Jacó, por causa do seu caráter deformado, foi necessário trilhar uma longa jornada até se tornar um homem transformado e apto. Apesar da sua vida de enganos e de mentiras, Jacó encontrou-se com Deus de uma forma maravilhosa no vau de Jaboque (Gn.32:22-32), quando, então, teve mudado o seu caráter. Observemos que Deus Se manifestou a Jacó em Betel, quando ele ia para a casa de seu tio Labão, em Padã-Arã, mas Jacó somente teve um encontro real e transformador com Deus muitos anos depois (cerca de vinte anos), no vau de Jaboque. Há, portanto, uma diferença crucial entre tomar conhecimento da existência e da vontade de Deus e deixar que a vontade de Deus se cumpra nas nossas vidas, e somente quem age da segunda maneira é que desfrutará da vida eterna. Ainda que alguém tenha feito maravilhas no nome do Senhor, somente alcançará a vitória se fizer a sua vontade (Mt.7:20-23).

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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Revista Ensinador Cristão – nº 70. CPAD.

Comentário Bíblico Pentecostal. Novo Testamento. CPAD.

Pr. Elinaldo Renovato de Lima. O caráter do Cristão. CPAD.

Paul Hoff. O Pentateuco.

Bruce K. Waltke. Gênesis. Editora Cultura Cristã.

Ev. Caramuru Afonso Francisco.  Jacó, o suplantador, que se torna Israel, o príncipe que luta com Deus e prevalece. PoratalEbd_2015.

Rev. Hernandes Dias Lopes. Quatro Homens e um destino.