2º
Trimestre/2017
Texto Base:
Gênesis 14.18-20; Hebreus 7.1-7,17
"Porque
dele assim se testifica: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de
Melquisedeque" (Hb.7:17).
Trataremos nesta Aula a respeito do caráter do enigmático personagem
bíblico Melquisedeque. Não sabemos muito a respeito da sua história, mas os
relatos bíblicos que temos são suficientes para extrair importantes lições a
respeito do seu perfil justo e santo. Se nome significa “rei de justiça”. Foi
um verdadeiro adorador, servo do Deus altíssimo, no meio de um povo idólatra e
corrompido, os cananeus. Exerceu o papel de rei e sacerdote, sem fazer parte da
linhagem de Israel (Gn.14:18). Sua ordem sacerdotal, com aspectos peculiares,
tornou-se um tipo do sacerdócio de Cristo, que em tudo é superior a todas as
ordens sacerdotais. Abraão recebeu a bênção dele quando voltava de um conflito
para libertar o seu sobrinho Ló, e a aceitação da bênção por parte de Abraão
demonstra que o patriarca reconheceu a autoridade sacerdotal de Melquisedeque (Gn.14:19,20).
Que
possamos melhorar a nossa vida cristã com o exemplo do caráter santo e justo
desse homem de Deus, Melquisedeque.
I. QUEM ERA
MELQUISEDEQUE
1. Um personagem misterioso. Melquisedeque é, no
texto sagrado, alguém que não tinha genealogia, ou seja, não tinha estabelecido
a sua etnia, a sua origem, sendo apresentado tão somente como rei de Salém. O
autor aos Hebreus diz que ele era "sem pai, sem mãe, sem genealogia, não
tendo princípio de dias nem fim de vida..." (Hb.7:3). Isto não quer dizer
que não fosse uma pessoa que tivesse uma origem, uma família. Não merecem
guarida as interpretações que fazem de Melquisedeque um anjo, ou, mesmo, o
próprio Jesus numa “aparição teofônica”, porquanto o sacerdote era, antes de
tudo, um ser humano e a apresentação de Jesus como “sacerdote segundo a ordem
de Melquisedeque” enfatiza esta humanidade.
2. Onde ele
aparece na Bíblia. Melquisedeque aparece na história bíblica quando Abrão retornou de uma guerra,
a primeira registada na Bíblia, na qual salvara seu sobrinho Ló e sua família,
que haviam sido levados cativos, quando os reis de Sodoma e Gomorra, onde o
patriarca habitava, foram derrotados por uma confederação de quatro reis,
liderados por Quedorlaomer, rei de Elão (Gn.14:1-13). Depois da vitória
espetacular, Abraão, já nas imediações de Salém, foi recepcionado por
Melquisedeque, o sacerdote do Deus Altíssimo (Gn.4:18); Melquisedeque celebra a
Abraão como guerreiro de Deus e o abençoa. Abraão reconhece Melquisedeque como
o legítimo sacerdote e rei de seu Deus.
3.
Características de Melquisedeque. A apresentação de Melquisedeque não só enfatiza que ele era um rei, mas
também um sacerdote. Desta forma, ele é um tipo de Cristo, o nosso Profeta,
Sacerdote e Rei.
a) Ele era rei
da Paz (Gn.4:18). Melquisedeque é apresentado como rei de Salém, ou seja, rei de paz, pois
este é o significado do nome da cidade por ele governada. Jesus, enquanto rei,
também é assim apresentado: Ele é profetizado como o Príncipe da Paz (Is.9:6);
ao nascer é apresentado como Aquele que traz paz aos homens (Lc.2:14); antes de
ser separado dos Seus discípulos para sofrer e morrer por nós, deixa a eles a
paz (João 14:27); quando se reencontra com os seus discípulos, concede-lhes esta
mesma paz (João 20:19). Como disse o apóstolo Paulo, Ele é a nossa paz (Ef.2:14).
b) Ele
"era sacerdote do Deus Altíssimo" (Gn.14.18b). Melquisedeque
é a primeira pessoa que foi chamada de “sacerdote” nas Escrituras Sagradas,
sendo um gentio, denominado de “sacerdote do Deus Altíssimo”. A Bíblia não nos
diz como e porque Melquisedeque, que também era rei de Salém, era sacerdote do
Deus Altíssimo, Deus este que era o mesmo Deus de Abrão, pois assim foi
identificado pelo próprio sacerdote, quando o abençoou. Melquisedeque,
portanto, era um sacerdote que servia a Deus, entre as nações, apesar da
idolatria reinante, da rejeição a Deus por parte dos gentios.
c) Ele abençoou
Abrão. Melquisedeque
celebra a Abraão como guerreiro de Deus e o abençoa. Diz o texto sagrado:
“Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo,
e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o
abençoou” (Hb.7:1); "E abençoou-o e disse: Bendito seja Abrão do Deus
Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; e bendito seja o Deus Altíssimo,
que entregou os teus inimigos nas tuas mãos [...]" (Gn.14:19,20a). Abrão
aceitou ser abençoado por Melquisedeque, inclusive reconhecendo a sua
supremacia (Gn.14:20).
d) Abrão deu o
dízimo a Melquisedeque. Abraão
reverencia Melquisedeque, o sacerdote do Deus Altíssimo, com o dízimo do
despojo (cf. Hb.7:4). A prática de se pagar o dízimo ao rei ou a um deus era
comum no antigo Oriente Próximo (Gn.28:22; Lv.27:30-33; Nm.18:21-32). O
presente de Abraão a Melquisedeque não era, provavelmente, o pagamento do
“dízimo do rei” (cf 1Sm.8:15,17), porém, uma oferta que refletia o respeito de
Abraão para com Melquisedeque como sacerdote do Deus verdadeiro. O tributo de Quedorlaomer (o rei-líder invasor) é
pago como um dízimo ao Senhor.
Observe que Abrão dá o dízimo de tudo, porém
recusa a oferta do rei de Sodoma, nada tomando dos sodomitas como despojo pela
sua vitória militar (Gn.14:21-24). Com esta atitude, Abrão mostra que quem vive
pela fé é desprendido das coisas materiais, dá prioridade às coisas espirituais
e põe o material a serviço do espiritual. Também nos mostra que somente seremos
justos se vivermos pela fé e que a fé exige que tenhamos comunhão com Deus, por
meio do Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, e que tal comunhão nos
abençoa e nos permite manter separados do mundo e de tudo que ele possa vir a
oferecer. Temos vivido assim?
II. LIÇÕES DO CARÁTER DE MELQUISEDEQUE
1. Um caráter
justo. Enquanto
rei, Melquisedeque é apresentado como rei de justiça, pois este é o significado
de seu nome, como afirma Hb.7:2: “... e
primeiramente é, por interpretação, rei de justiça...”. Portanto, seu nome identifica-se
com o seu caráter; suas atitudes decorriam de seu caráter ilibado e santo; daí,
a sua grandeza moral e espiritual. Como bem diz o pr. Elinaldo Renovato, “no
meio de uma sociedade idólatra e corrompida, com costumes estranhos e até mesmo
bárbaros, como sacrificar seus filhos a falsos deuses, Melquisedeque
destacou-se por ser um homem justo e praticamente da justiça”.
2. Um caráter
pacífico. Conforme o texto sagrado, além de ser "rei de justiça",
Melquisedeque também era "rei de Salem, ou seja, rei de paz, pois este é o
significado do nome da cidade por ele governada. Salém é aparentemente um nome
antigo para Jerusalém (Sl.76:2).
Melquisedeque era rei, logo era uma autoridade, porém, não uma autoridade
opressora, e sim pacificadora. A autoridade de Melquisedeque não residia
propriamente em sua realeza; fundamentava-se no ofício que exercia. Todos
sabiam que, ali, na cidade da paz, achava-se um homem de Deus, um homem de
caráter pacífico. Por seu intermédio, os peregrinos consultavam o Eterno; até
Abraão foi à sua procura, pois sabia que, espiritualmente, havia alguém
superior a si. Por intermédio de Abraão, toda a nação hebreia reverenciou
Melquisedeque, até mesmo os sacerdotes da tribo de Levi, que sequer haviam
nascido (cf.Hb.7:9).
Não resta dúvida de que o sacerdócio de Melquisedeque era diferente do
levítico. Este sobressaía-se pelas oferendas cruentas; aquele tinha como
essência o sacrifício único e suficiente de Jesus que, na presciência divina, havia
vicariamente morto desde a fundação do mundo (Ap.13:8). Hoje, através de
Cristo, é-nos facultada a entrada ao trono da graça. E, agora, podemos adentrar
não a Salém terrena, mas a Jerusalém Celeste, cujo arquiteto e construtor é o
próprio Deus.
O caráter pacífico de Melquisedeque nos inspira a sermos promotores da
paz em todos os ambientes que estivermos, inclusive no meio da comunidade
cristã.
III. SEGUNDO A ORDEM DE MELQUISEDEQUE
O escritor aos Hebreus é
o primeiro a mostrar que Melquisedeque é um tipo de Cristo, pois, a exemplo de
nosso Senhor, era rei e sacerdote. Ao longo da história judaica, somente Jesus
Cristo reuniu em Si essas duas figuras.
1. Um novo
sacerdócio. A lei de Moisés nada dizia sobre homens da tribo de Judá se tornarem
sacerdotes; para aquela época isto era proibido, pois os homens não devem ir
além do que a Bíblia autoriza. Nem a Jesus era permitido ser sacerdote segundo
a ordem de Levi. Tendo em vista que o sacerdócio e a lei de Moisés estavam
intimamente ligados, se o sacerdócio fosse mudado, então a lei, primeiramente,
precisaria ser mudada (Hb.7:12,18,19). O sacerdócio de Jesus é, então, uma
garantia de que uma lei (ou aliança) melhor foi estabelecida (Hb.7:20-22), e
mediante esta Nova Aliança a Bíblia nos afirma que o véu do templo se rasgou e
nós escapamos.
Na condição humana, os sacerdotes araônicos ou
levíticos eram fracos. O próprio Arão permitiu que os homens levantassem um
bezerro de ouro no deserto para poderem adorá-lo, e ainda incitou o povo
dizendo que aquele bezerro era o deus que os havia tirado da terra do Egito,
demonstrando, assim, fraquezas (cf. Êxodo 32). Por isso, foi necessário um novo
sacerdócio por causa da fragilidade do sacerdócio levítico, conforme diz o
texto sagrado: “De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico
(porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro
sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado
segundo a ordem de Arão?” (Hb.7:11). Vê-se que houve necessidade de mudança do
sacerdócio levítico por outro que lhe era superior. Dessa forma, nós os
cristãos, estamos debaixo do sacerdócio de Cristo, no qual, todos somos considerados
sacerdotes reais com missão muito elevada (1Pd.2:9). Por isso, em nosso
comportamento, devemos nos conduzir de maneira que o nome do Senhor seja
glorificado.
Hebreus 7 apresenta-nos o sacerdócio de Melquisedeque como sendo o
sacerdócio que se aplica aos cristãos hodiernos, pois tanto o sacerdócio quanto
o templo são representados pelos crentes. Os crentes são o templo - “Pois nós
somos santuário de Deus vivo” (2Co.6:16); os crentes são os sacerdotes - “Mas
vós sois a geração eleita, o sacerdócio real” (1Pd.2:9). Aqui fica claro que a
característica do sacerdócio de Melquisedeque é a consolidação da autoridade
sacerdotal e do poder real. Jesus é rei e sumo-sacerdote, e nele também fazemos
parte deste sacerdócio e reinaremos com Ele - “Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira
ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes
de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante os mil anos” (Ap.20:6).
Assim é possível entender com clareza a superioridade do novo sacerdócio e
acima de tudo o projeto de Deus, pois em Cristo (nosso Melquisedeque) somos
mais que vencedores.
2. Jesus
Cristo, o sacerdócio superior e perfeito. Jesus é um Sumo Sacerdote superior. Ele foi
feito sacerdote pelo poder de uma vida infindável, e não através de um
mandamento carnal (a Lei de Moisés). Jesus vive sempre para fazer intercessão
por nós; Ele nos conduz a Deus e reina sobre nós.
Como Sacerdote, Jesus intercede por nós; como Rei, governa sobre nós.
Como Sacerdote, ele foi o ofertante e também o sacrifício; como Rei, ele
se fez servo e se humilhou até a morte de cruz para nos salvar e nos fazer
assentar com ele nas regiões celestes, acima de todo principado e potestade.
Como Sacerdote, Ele não oferece sacrifícios a Deus, mas sim ofereceu-se
em sacrifício, e mediante este sacrifício vicário é que podemos ser chamados de
filhos de Deus. Jesus é verdadeiramente o Sumo Sacerdote superior e perfeito.
3. A ordem de
Melquisedeque. Em toda narrativa a respeito de Melquisedeque, a que mais nos chama
atenção é sem duvida a narrativa do escritor aos Hebreus, pois ele identificou
Jesus como Sacerdote “de acordo com a ordem de Melquisedeque” (Hb.7:15,17). É
uma linhagem sacerdotal diferente da levítica. Jesus não pertencia à tribo de
Levi, ele pertencia à tribo de Judá (cf.Hb.7:14), por isso, não seria
consagrado sacerdote segundo à ordem levítico, pois infringiria a lei mosaica. Jesus
é o Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, em vez da ordem levítica,
denotando assim a superioridade do sacerdócio de Jesus sobre o de Arão.
- Como
sacerdote,
Melquisedeque trouxe pão e vinho seus para o ritual da bênção; Jesus, como
sacerdote, ofereceu-se a Si mesmo como oferta para satisfação da justiça de
Deus, corpo e sangue que são representados, em comemoração, exatamente pelo pão
e pelo vinho na anta Ceia até o dia da Sua vinda (1Co.11:26).
- Como
sacerdote,
Melquisedeque intercedeu por Abrão perante Deus, abençoando-o e reconhecendo
sua fidelidade ao Senhor. Jesus, como sacerdote, intercede pelos transgressores
(Is.53:12; 1João 2:1,2), obtém para nós a bênção e aguarda o momento em que nos
levará para que com Ele estejamos para sempre (João 14:1-3).
O sacerdócio de
Melquisedeque era diferente do araônico quanto ao princípio da continuidade, pois após
a morte do sacerdote, este já não podia exercer o oficio, enquanto Cristo o
exercerá eternamente, por isto a analogia ou o paradigma entre Cristo e
Melquisedeque seja tão intrínseco.
CONCLUSÃO
Diante do que vimos nesta Aula, percebe-se que Melquisedeque teve um
caráter exemplar, digno de imitação por todos os cristãos. Seu sacerdócio
tornou-se tipo do sacerdócio de Cristo: santo, perfeito e eterno - "Porque
dele assim se testifica: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de
Melquisedeque" (Hb.7:17). Melquisedeque morreu, ainda que não se saiba
quando e como; Cristo também morreu, mas ao terceiro dia ressuscitou e vive
eternamente. Desejosos, aguardamos a sua vinda para nos levar e vivermos com Ele
e O servirmos por toda a eternidade (João 14:1-3). Vem, Senhor Jesus!
--------
Luciano de
Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William
Macdonald.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Revista Ensinador Cristão – nº 70. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. Novo Testamento. CPAD.
O Sacerdócio Eterno de Cristo. Caramuru
Afonso Francisco. PORTALEBD_2008.
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