domingo, 30 de janeiro de 2022

Aula 06 – A BÍBLIA COMO UM GUIA PARA A VIDA

 

1º Trimestre/2022


Texto Base: Salmos 119:97-105


“Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho” (Sl.119:105).

 

Salmos 119:

97.Oh! Quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia.

98.Tu, pelos teus mandamentos, me fazes mais sábio que os meus inimigos, pois estão sempre comigo.

99.Tenho mais entendimento do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos.

100.Sou mais prudente do que os velhos, porque guardo os teus preceitos.

101.Desviei os meus pés de todo caminho mau, para observar a tua palavra.

102.Não me apartei dos teus juízos, porque tu me ensinaste.

103.Oh! Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais doces do que o mel à minha boca.

104.Pelos teus mandamentos, alcancei entendimento; pelo que aborreço todo falso caminho.

105.Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos da Bíblia como um verdadeiro guia para a nossa vida. Ela é o livro divino que nos ensina a sabedoria de todas as áreas da vida. Ela é lâmpada para os nossos pés e luz que clareia o nosso caminho (Sl.119:105). Quando atentamos para os seus ditames, ela transforma a nossa natureza e nos conduz pela vereda da salvação (Tg.1:21). Quem põe em prática seus ensinamentos será considerado um verdadeiro sábio. Cristo nos adverte a examinarmos as Escrituras porque nelas estão reveladas as palavras de vida eterna (João 5:39).

I. A BÍBLIA É UM ALICERCE PARA A VIDA

1. A Palavra de Deus é alicerce

A Palavra de Deus é um alicerce para aqueles que obedecem e praticam os seus ditames. Jesus disse:

“Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante. É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra aquela casa e não a pôde abalar, por ter sido bem-construída. Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, e, arrojando-se o rio contra ela, logo desabou; e aconteceu que foi grande a ruína daquela casa” (Lc.6:47-49).

Nessa ilustração de Jesus, a casa simboliza a vida. A vida deve ser edificada nos ensinos de Cristo a fim de alcançar a virtude e um destino glorioso (João 5:24). Nesse texto, Jesus usa a figura do construtor sábio que investiu na fundação de sua casa, cavando, abrindo profunda vala e lançando o alicerce sobre a rocha, e a figura do construtor insensato que construiu sua casa sobre a terra sem alicerces. As duas casas, aos olhos desatentos, eram iguais. A diferença não estava naquilo que era visto pelos homens, mas naquilo que só podia ser visto por Deus. Sobre ambas as casas aconteceu a mesma coisa: a enchente chegou e arrojou o rio contra elas. A casa construída sobre a rocha (que simboliza o próprio Cristo - 1Co.10:4) não se abalou, por ter sido bem construída; porém, a outra casa logo desabou e foi grande a sua ruína. Ouvir a Palavra sem obedecer é insensatez. Falar a Palavra sem praticar é tolice. Não é suficiente conhecer a Palavra, é preciso praticar a Palavra. Não é suficiente ter boa teologia, é preciso ter uma ética consistente. Não é suficiente ter uma fé ortodoxa, é preciso ter piedade. Não podemos separar o que Deus uniu: teologia e ética, doutrina e vida, ortodoxia e piedade. Portanto, o construtor sábio edifica a sua casa – isto é, sua vida – sobre Cristo, a Rocha sólida. Ele empenha-se, em oração, para regular sua vida em harmonia com as palavras de Jesus, reveladas nas Escrituras Sagradas. Portanto, o cristão que edifica sua vida na Palavra de Deus e que espera a vinda do Salvador, dificilmente será enganado por falsos mestres. Como bem diz o pr. Douglas, “a síntese desse grande ensinamento de Jesus é que nem as crises dessa vida e nem a eternidade poderá abalar quem está firmado em Cristo e na sua Palavra” (Mt.7:25).

2. A Palavra de Deus é luz

O apóstolo Pedro compara a Palavra de Deus a uma luz que brilha na escuridão – “E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vosso coração” (2Pd.1:19). A Palavra de Deus aponta o caminho, que é Jesus Cristo (Joao 14:6), e mostra os perigos, porque ela é “lâmpada para os nossos pés” e “luz para o caminho” (Sl.119:105); ela dissipa a escuridão espiritual e nos conduz em segurança pelo caminho da vida eterna. O caminho da vida eterna é Jesus Cristo (João 14:6).

A Palavra de Deus, portanto, tem uma dupla finalidade: revelar-nos a vontade de Deus e levar-nos a uma experiencia pessoal com Cristo, a “Estrela da alva”; Jesus é essa “estrela da alva” (Nm.24:17; Ap.22:16). Não somente Ele é a estrela da alva, mas também a Luz do mundo, e quem O segue não andará em trevas (João 8:12); trevas do pecado.

3. A Palavra de Deus é imutável

A Palavra de Deus é imutável porque a sua origem está ancorada em Deus (2Pd.1:20,21), que não muda. A Bíblia tem sua origem no Céu, e não na terra; procede de Deus, e não do homem. Ela é inspirada por Deus; é o sopro de Deus, e não o destilar dos pensamentos humanos. Os seus escritores foram instrumentos usados para escrever o seu conteúdo e as profecias. Foi o Espírito Santo quem os inspirou, revelando-lhes o conteúdo infalível e imutável. Portanto, a Palavra de Deus é imutável porque o seu autor é imutável. Está escrito: “Eu, o Senhor, não mudo” (Ml.3:6).

Em Deuteronômio, capítulo 4, versículo 2, Deus exorta o povo de Israel: “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando”. Israel recebeu a ordem de obedecer aos estatutos e juízos do Senhor quando entrasse na terra de Canaã. Não podia acrescentar nem remover nada dos mandamentos. Isto se aplica também a nós cristãos, hoje; não devemos ter a pretensão de querer alterar o que está escrito nas Escrituras Sagradas, pois elas são imutáveis. Em Apocalipse 22:18,19, Jesus advertiu que, quem fizer qualquer acréscimo ao Livro de Apocalipse, sofrerá os flagelos descritos nele. Uma vez que os temas do livro de Apocalipse encontram-se entretecidos com todas as Escrituras, então esses textos condenam a alteração da Palavra de Deus em geral. O castigo é a condenação eterna - Deus “tirará a sua parte da árvore da vida”. Essa pessoa não terá parte nas bençãos daqueles que possuem vida eterna.

 “Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro” (Ap.22:18,19).

Portanto, a Palavra de Deus nunca pode ser mudada; ela permanece para sempre (Mc.13:31). Os homens morrem, mas a Palavra vive. As experiências passam, mas a Palavra permanece. O mundo escurece, mas a luz profética resplandece cada vez mais. Sendo assim, segundo argumenta o pr. Douglas, “os princípios bíblicos têm aplicação hoje, assim como o tiveram antigamente (Is.55:11). Os padrões da ética e da moral cristã não sofrem mudanças (1Pd.1:20). Portanto, os valores cristãos são permanentes, pois a fonte de autoridade é permanente “(Mt.5:18).

II. A BÍBLIA NOS TORNA PESSOAS SÁBIAS

1. O conceito de sabedoria

O que é sabedoria? Sabedoria é olhar para a vida com os olhos de Deus; é viver regido pelo ensino da Palavra de Deus; é andar nos conselhos de Deus, e não segundo os ditames do mundo. O pr. Marcelo Gomes, em seu livro “Sabedoria – para viver e ser feliz”, argumenta que somos a sociedade do conhecimento. Nossa informação é produzida em larga escala e está disponível amplamente. Avançamos em ciência, tecnologia e comunicação. Temos satélites, e internet, e muito mais vem por aí. Somos a sociedade das especialidades. Na medicina, nas ciências humanas, nas ciências da natureza, nos esportes, na tecnologia, enfim, em todas as áreas temos especialistas em alguma questão ou campo de interesse. Apesar de tudo isso, somos também uma sociedade desigual, injusta, corrupta e violenta, sob vários aspectos. O mesmo conhecimento que nos trouxe conquista e conforto, trouxe-nos guerras e morte. Contudo, não nos trouxe redenção. O sonho da modernidade fracassou. Tanto não alcançamos felicidade pelo livre e pleno exercício da razão, como multiplicamos alternativas emocionais, hedonista, utilitárias e egocêntricas para a vida comum.

Diante desse quadro, uma conclusão: temos muito conhecimento, mas pouca sabedoria. Conhecimento é domínio da informação que se refere ao objeto de interesse; sabedoria é a capacidade de utilizar o conhecimento em prol da vida e dos relacionamentos. O sábio não é, necessariamente, aquele que tem muito conhecimento, mas aquele que canaliza adequadamente para as ações e decisões do dia-a-dia todo o conhecimento que tem. Assim, um morador da periferia, um profissional artesanal, um administrador de negócio próprio sem formação acadêmica, uma dona de casa ou um jovem que trabalha no campo, pode ser mais sábio que um doutor ou um professor universitário.

Precisamos de sabedoria, carecemos compreender sua essência e importância prática. Devemos associá-la ao conhecimento, de forma que este seja sempre usado para o bem comum. O conselho do sábio Salomão é: “porque melhor é a sabedoria do que joias e, de tudo o que se deseja, nada se pode comparar com ela” (Pv.8:11). Diz mais: “Quem procura ter sabedoria ama a sua vida, e quem age com inteligência encontra a felicidade” (Pv.19:8).

Sabedoria faz a diferença - capacita para a vida e os relacionamentos; tranquiliza o coração, valoriza os cuidados com a alma, aquieta os pensamentos; lembra que a vida não é feita só de acertos, sucessos e ascensões meteóricas, mas também de fracassos, frustrações, decepções e derrotas, com os quais sempre é possível aprender. Segue a sugestão do apóstolo Tiago: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida” (Tiago 1:5). E do aposto Paulo: “examinem todas as coisas e retenham o que é bom” (1Tes.5:21).

2. Deus é a fonte da sabedoria

Está escrito em Provérbios 2:6 que Deus é a fonte da sabedoria – “Porque o SENHOR dá a sabedoria, e da sua boca vem o conhecimento e o entendimento”. Portanto, a verdadeira sabedoria não se recebe nos bancos de uma escola nem se aprende com a leitura de bons livros. Sabedoria não é um dote natural, é um dom exclusivo de Deus; emana das alturas; procede do Céu.

Existe uma sabedoria terrena, mas não é sobre essa sabedoria que estamos falando; falamos sobre a sabedoria divina, celestial; esta deve ser desejada e pedida, deve ser buscada como o garimpeiro busca a prata e o ouro. Aqueles que pedem a Deus sabedoria, esses a recebem. Só Deus concede esse dom. Só de Deus procede essa boa dádiva. Da boca de Deus emanam a inteligência e o entendimento. A compreensão da vida e o discernimento dos propósitos da existência são o resultado de conhecermos a Deus. Aqueles que andam com Deus são sábios. Aqueles que amam a Deus tem inteligência e compreensão para discernir entre o bem e o mal, para separar o precioso do vil. É da boca de Deus, ou seja, de sua Palavra, que procede a verdadeira compreensão acerca de Deus e da humanidade, do tempo e da eternidade, da vida e da morte.

Se Deus é a fonte da sabedoria, então ousemos a pedir a Ele sabedoria, pois somente ela confere a lucidez necessária para uma autocrítica que promova mudanças de atitude. Se eu for mais sábio, pensarei melhor antes de agir, falarei com melhores intensões e palavras, prevenir-me-ei de armadilhas que minhas emoções preparam e conhecerei mais profundamente minhas motivações ou anseios íntimos. Se for mais sábio, pararei de fingir que a culpa de todas as minhas desgraças é dos outros; estarei pronto a assumir erros e mais propenso a pedir perdão – a Deus e aos que me cercam.

3. O temor é o princípio da sabedoria

Em Provérbio 9:10 está escrito: ”O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência” (Pv.9:10). Temer ao Senhor não é ter medo de Deus, mas demonstrar a Ele reverência. A motivação para um filho obedecer a seu pai deve ser o respeito e o amor a ele, mais do que o medo de ser castigado. Aqui está a gênese de toda a sabedoria e também a sua própria essência. O temor ao Senhor é o grande freio moral que nos protege das propostas sedutoras do enriquecimento ilícito e nos blinda da sedução perigosa das aventuras sexuais. Foi o temor a Deus que livrou José do adultério e Neemias da corrupção. O temor ao Senhor nos afasta dos caminhos escorregadios e firma os nossos passos nas veredas da justiça. O temor ao Senhor nos desvia de companhias erradas e de lugares errados. Temer a Deus é conhecê-lo, honrá-lo, obedecer-lhe. Temer a Deus é colocar os pés na estrada da santidade e beber das torrentes da felicidade. Quando tememos a Deus, nossos dias são dilatados na terra e somos poupados de muitas aflições. Este é o grande conselho que Deus nos dá:

“De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más” (Ec.12:13,14).

4. Os benefícios da sabedoria

Muitos são os benefícios da sabedoria. Dentre eles, citamos:

Ø  Acumula conhecimento (Pv.10:14). Como já foi dito, o sábio não é, necessariamente, aquele que tem muito conhecimento, mas aquele que canaliza adequadamente às ações e decisões do dia-a-dia todo o conhecimento que tem. Quanto mais conhecimento, maiores as chances de uma sabedoria que oriente a vida. O conhecimento, portanto, é melhor do que o ouro, é mais seguro do que a moeda mais valorizada do mercado. Os ladroes podem roubar nossos tesouros, e as traças podem corroer nossas relíquias, mas o conhecimento é uma riqueza que ninguém pode nos tirar. Os sábios entesouram o conhecimento e, com ele, vem a reboque as riquezas da terra. O conhecimento é a melhor poupança, o mais lucrativo investimento.

Ø  Ganha almas (Pv.11:30). A maior expressão da sabedoria é investir na salvação dos perdidos. Aquele que ganha almas faz um investimento eterno e ajunta tesouros que os ladrões não podem roubar nem a traça pode destruir. Investir na salvação de almas é investir numa causa de consequências eternas. Uma alma vale mais do que o mundo inteiro. De nada adianta ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma. De nada adianta ajuntar tesouros na terra se esses bens não estão a serviço de Deus para ganhar almas. O melhor e mais duradouro investimento que podemos fazer é investir na salvação de vidas.

Ø  Torna-se próspero (Pv.19:8). A sabedoria traz consigo a vitória e a realização; não porque acerte sempre ou seja um roteiro de sucesso pessoal, mas porque faz crescer com os maus resultados e levantar após a queda. Não pode ser considerada sábia uma pessoa apenas porque tudo lhe vai bem, mas porque, quando as coisas vão mal, encontra alternativas, absorve prejuízos e repara danos ocasionais. Na crise, reinventa a si mesma, escolhe com melhores critérios e avança na construção de alicerces mais sólidos. Prospera. Desenvolve-se. Chega longe. Alarga as fronteiras de sua alma e de sua mordomia neste mundo.

Ø  Exerce domínio próprio (Pv.29:11). O domínio próprio não é apenas uma virtude natural; é, sobretudo, fruto do Espírito Santo. Quando o Espírito de Deus assume o controle de nossos sentimentos - palavras, ações e reações -, então temos domino próprio. O individuo descontrolado, rixoso, briguento, explosivo é uma ameaça à sua família e à sociedade; suas palavras são incendiárias; suas ações são intempestivas; sua vida é uma tragédia. O sábio, porém, sabe lidar com seus sentimentos; ele é senhor de suas emoções, e não escravo delas. Por dominar a si mesmo, é mais forte do que aquele que conquista uma cidade. Ao reprimir sua ira, torna-se uma ponte de contato, em vez de ser um abismo de separação. Em vez de jogar uma pessoa contra a outra, torna-se um pacificador.

Precisamos de sabedoria porque ela nos faz ser diferentes e nos possibilita fazer a diferença. O salmista declara que o ato de meditar na Palavra de Deus, o tornou mais sábio do que todos à sua volta (Sl.119:98-100). Acredito que nenhuma outra virtude traz mais benefícios a seu portador do que a sabedoria. Bondade sem sabedoria, por exemplo, vira frustração. Coragem sem sabedoria, temeridade. Paciência sem sabedoria, complacência. Humildade sem sabedoria, acanhamento. Sinceridade sem sabedoria, inconveniência. Honestidade sem sabedoria, estagnação. Erudição sem sabedoria, arrogância. Assim por diante. Qualquer virtude, por mais importante que seja, precisa estar acompanhada da sabedoria que ensina a praticá-la segundo a necessidade e a correção, e não segundo as inclinações da autoestima ou da vontade de reconhecimento e valorização.  Em vista disso, somos advertidos a empregar esforços na busca da sabedoria (Pv.4:7).

III. A BÍBLIA E A PRUDÊNCIA PARA A VIDA

1. O conceito de prudência

Prudência é a virtude por excelência da vida prática. De um modo geral, essa virtude está associada à sabedoria, à introspecção e ao conhecimento. Trata-se da capacidade de julgar entre ações maliciosas e virtuosas, não só num sentido geral, mas com referência a ações apropriadas num dado tempo e lugar. Ela ajuda a razão a discernir em todas as circunstâncias o verdadeiro bem e a escolher os justos meios para o atingir. Segundo Hernandes Dias Lopes, “prudência é a percepção lúcida daqueles que compreendem o âmago das coisas e não se deixam enredar pelas meras aparências. Prudência é evitar o caminho escorregadio do erro e colocar os pés na estrada da virtude, mesmo quando instigado pela pressão da maioria. Até as pessoas mais simples, quando são governadas pela Palavra de Deus, agem com prudência”.

A sabedoria e a prudência andam juntas, é como um barco a remo, temos que remar de ambos os lados para seguirmos na direção certa. O mundo seria menos violento se as pessoas agissem com prudência e sabedoria; muitas questões seriam resolvidas pacificamente sem precisar de ir a julgamento se as pessoas fossem coerentes e usassem a prudência e sabedoria.

Em termos gerais, a prudência é a virtude que evita ações temerárias. Nesse aspecto, com cautela e bom senso, uma pessoa prudente é capaz de discernir e fazer a escolha correta. Na Parábola das dez virgens (Mt.25:1-13) as prudentes conheciam o que se passava à sua volta, conheciam o noivo, seus atributos e tinham como provável a sua demora e, portanto, a necessidade de um abastecimento de azeite até o momento de sua chegada. Jesus mostra-nos, portanto, que não há como entrar na casa do “noivo” a não ser através da prudência, ou seja, do prévio conhecimento do noivo, do prévio conhecimento das circunstâncias que nos rodeiam.

As Virgens Prudentes estavam dispostas a seguir o cerimonial estabelecido, em seguir o noivo para sua nova casa, mas queriam tanto fazê-lo que não aceitaram a hipótese de faltar azeite durante a iluminação do caminho até a casa do noivo. O dia já declinava, durante todo o dia haviam procurado preparar a noiva, e não iriam, no último instante, descuidar deste importante pormenor: o azeite. Vejamos que a única coisa que poderia dar errado, nesta altura do dia, em que todos os preparativos já haviam sido tomados, era a falta de azeite. As lâmpadas já estavam em suas mãos, e tinha apenas de esperar o noivo, que certamente viria. Assim, o que dependia das virgens era apenas tomar o cuidado de não deixar faltar o azeite até a chegada na nova moradia dos nubentes. Esta é, precisamente, a situação em que se encontra a Igreja genuína, a Igreja militante, a Igreja que está preparada para se encontrar com o Senhor. Ela percebe que se está no final do Dia, ou seja, no final da dispensação da graça. A noite está chegando, quando ninguém mais poderá trabalhar (João 9:4) e, desta forma, é hora de segurar a lâmpada, mas devemos tomar todo o cuidado para que não falte o azeite para abastecê-la.

Outro exemplo de prudência na Bíblia é a de Neemias. Ele foi um líder prudente. Quando chegou a Jerusalém, ele agiu com muita prudência e discrição. Neemias chegou discretamente a Jerusalém e passou vários dias observando e avaliando cuidadosamente o estado dos muros. Ele manteve em segredo a sua missão e inspecionou os muros sob a luz do luar para evitar comentários sobre a sua chegada e para evitar que os inimigos conhecessem os seus planos. Um anúncio prematuro poderia ter causado rivalidade entre os judeus sobre o melhor modo de começar o trabalho. Neste caso, Neemias não precisou de tediosas reuniões de planejamento; ele precisava de um plano que produzisse resultados imediatos. Está escrito: “Todo prudente procede com conhecimento, mas o insensato espraia a sua loucura” (Pv.13:16). Portanto, um líder prudente e sábio analisa os problemas discretamente antes de encorajar seus liderados publicamente. Quando o líder sabe o que precisa ser feito, e aonde quer chegar, e como chegar, seus liderados são encorajados a realizar a obra.

2. A prudência dos justos

Este termo é empregado pelo evangelista Lucas quando descreve o ministério de João Batista. A missão dele era converter o coração “dos pais aos filhos” e os rebeldes à “prudência dos justos” (Lc.1:17). Segundo o pr. Douglas Baptista, isto significa que o Evangelho tem como desígnio trazer as pessoas de volta para Deus. E, quando isso acontece, os ignorantes, desobedientes e rebeldes de outrora se tornam sábios, justos e prudentes. Essa sabedoria prática que orienta e corrige o viver diário é o resultado da verdadeira conversão a Cristo. Aqueles que experimentam o novo nascimento desenvolvem o caráter e praticam a boa conduta dos justos. Neste sentido, a mensagem da salvação em Cristo não apenas restaura o pecador, mas também o faz andar por veredas de retidão. Salomão assegura que “a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv.4:18). O pr. Hernandes Dias Lopes analisando este texto afirma que “a vereda dos justos não se trata apenas de um caminho iluminado, mas um caminho cuja luz vai crescendo como a luz do sol até ser dia perfeito. A vida do justo vai sendo aperfeiçoada de glória em glória. O brilho da face de Cristo resplandece no justo. O fulgor da glória de Deus irradia sobre ele. O justo cresce no conhecimento e na graça. Avança para o alvo. Sua história começa na conversão e avança no processo da santificação, mas seu alvo é a glorificação, o dia perfeito”. Para estarmos em tal patamar espiritual é imprescindível nos manter em oração constante, dedicação à leitura e ao estudo das Escrituras e ter comunhão inquebrável com o Espírito Santo (1Ts.5:17; 2Tm.3:14,15; Ef.5:18).

3. Os benefícios da prudência

Muitos sãos os benefícios da prudência. O pr. Douglas Baptista, em seu livro didático, destaca alguns: o autocontrole para não revidar ofensas (Pv.12:16); a humildade para exibir conhecimento (Pv.12:23); a correta tomada de decisões (Pv.13:16); o pensar antes de agir para não ser influenciado (Pv.14:15); o alcance de boa reputação e alta posição (Pv.14:35); a sujeição ao aprendizado e a correção (Pv.15:5); o desviar-se do perigo por meio de soluções antecipadas (Pv.22:3). Jesus Cristo enfatizou que a pessoa prudente tem a Palavra de Deus como regra de vida (Mt.7:24); procede com retidão e cumpre seus deveres com fidelidade (Mt.24:45); por fim, a pessoa prudente cuida com esmero da sua vida espiritual e mantém acesa a chama do Espírito (Mt.25:4). O benefício da prudência de Neemias foi o êxito da construção dos muros de Jerusalém. O benefício das virgens prudentes foi a luz permanente de suas lamparinas e, consequentemente, a entrada na casa do noivo. Myer Pearlman considera que “as virgens prudentes representam aqueles crentes que, reconhecendo possível demora do Noivo, não somente o aguardam pacientemente, como conservam-se diligentemente num estado espiritual apropriado a qualquer chamada repentina”. Em vista disso, a Bíblia nos exorta a viver prudentemente, e não como néscios (Ef.5:15).

CONCLUSÃO

A Bíblia é a revelação escrita de Deus aos seres humanos. Ela nos oferece todos os propósitos da vida; é um guia seguro para a nossa caminhada cristã. Ela é o consolo do aflito, regozijo dos fiéis, a prova irrefutável da existência do Altíssimo. Ela é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm.3:16,17). Ela nos mostra o caminho da salvação, que é Cristo Jesus (João 14:6). Nela encontramos o antídoto que afasta o inimigo de nossas almas. Como filhos de Deus, não podemos afastar-nos jamais das Sagradas Escrituras; delas, todos dependemos vitalmente. Quanto mais as estudarmos, mais íntimos seremos de seu Autor. Ela é a nossa regra de fé e prática, é o mapa do viajor, o cajado do peregrino, a bússola do piloto, a espada do soldado e o mapa do cristão. Devemos lê-la para sermos sábios, crermos nela para estarmos seguros e devemos pra­ticar o que nela está escrito para sermos santos. Ela contém luz para nos dirigir, alimento para nos suster e consolo para nos animar.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Norman L Geisler. Introdução geral à Bíblia. Vida Nova.

Pr. Douglas Baptista. A Supremacia das Escrituras – A inspirada, Inerrante e Infalível Palavra de Deus. CPAD.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Provérbios – Manuel de sabedoria para a vida. Hagnos.

Pr. Hernandes Dias Lopes. Lucas – Jesus, o homem perfeito. Hagnos.

Marcelo Gomes. Sabedoria – para viver e ser feliz.

domingo, 23 de janeiro de 2022

Aula 05 – COMO LER AS ESCRITURAS SAGRADAS

 

1º Trimestre/2022


Texto Base: Atos 8:26-30

 

“E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías e disse: Entendes tu o que lês?” (Atos 8:30).

Atos 8:

26.E o anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te e vai para a banda do Sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserto.

27.E levantou-se e foi. E eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros e tinha ido a Jerusalém para adoração,

28.regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías.

29.E disse o Espírito a Filipe: Chega-te e ajunta-te a esse carro.

30.E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías e disse: Entendes tu o que lês?

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos do tema: “Como ler as Escrituras Sagradas”. O objetivo é mostrar que a leitura e o estudo da Bíblia são fundamentais para conhecermos o Deus da Bíblia, e para crescermos espiritualmente. Há uma imperiosa necessidade de se ler a Palavra de Deus, foi por isso que Deus a mandou escrever. Deus tudo faz com propósito (Ec.3:1) e, portanto, Deus não mandaria seus servos escreverem a Palavra se isto não fosse necessário. Ora, algo que é escrito somente tem valor quando é lido, pois, se não for lido, será como se não existisse. Deste modo, o simples fato de termos a Bíblia Sagrada, de temos uma Escritura revelada por Deus é o suficiente para que entendamos que a leitura devocional da Palavra de Deus é imprescindível para o nosso relacionamento com o Senhor. Todos os cristãos, sejam leigos, sejam clérigos, têm o dever de estudar a Bíblia e buscar o seu conhecimento adequando de acordo com as normas de interpretação tecnicamente reconhecidas.

Um cristão só adquire a maturidade cristã através da leitura e estudo da Palavra de Deus. Como filhos de Deus não podemos afastar-nos jamais das Sagradas Escrituras, pois todos dependemos delas vitalmente. Quanto mais as estudarmos, mais íntimos seremos de seu Autor. A oração é necessária para que falemos com Deus, e o estudo das verdades sagradas fará com que Deus fale conosco, comunicando-nos sua vontade e sua Pessoa.

Precisamos ler e estudar a Bíblia, nos alimentar dela para crescermos fortes no Senhor. O que mais se vê nos dias de hoje são crentes que oram em línguas estranhas, profetizam na vida das pessoas, pregam com tanto entusiasmo que impressionam a muitos, mas quando as tempestades vêm, eles não resistem e caem por falta de alimento sólido, por não conhecerem as Escrituras e nem o poder de Deus que é revelado em sua própria Palavra.

I. A BÍBLIA PRECISA SER INTERPRETADA

1. A importância da exegese

Há uma diferença entre Exegese e Eisegese. Na Exegese o leitor extrai da Bíblia o sentido pretendido pelo autor; na Eisegese, o leitor injeta na Bíblia o sentido que ele considera ser o correto. O vocábulo “exegese” significa “exposição, explicação”. O sentido da exegese é extrair, conduzir para fora como um comentário crítico que analisa o texto no contexto original e o seu significado na atualidade; não é simplesmente uma exposição textual. Os princípios da exegese são conhecidos como hermenêutica - a ciência da interpretação. A interpretação correta, por conseguinte, vem de dentro da Bíblia. Ela mesma expõe aquilo que o Espírito Santo pretende dizer no seu contexto original. Dessa forma, para não fazer o texto significar aquilo que Deus não pretendeu, bem como para compreender o real significado das palavras inspiradas, é necessário um minucioso exame das Escrituras (2Tm.2:15), utilizando-se das línguas originais usadas, dos fatos históricos, da cultura e dos recursos usados no texto sagrado.

2. As limitações dos leitores

Alguns cristãos pensam que estudar a Bíblia é apenas tarefa de teólogos e pastores. Não apenas os pastores ou professores e alunos de teologia precisam estudar a Bíblia, Deus espera que todos nós nos utilizemos dos recursos necessários para o conhecimento de Sua Palavra. Todavia, assim como havia com o eunuco de Candace, há uma limitação enorme de inúmeros leitores da Bíblia em fazer uma interpretação correta da Bíblia – “E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém me não ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse” (Atos 8:30-31). Se Filipe não tivesse resolvido o problema da limitação do eunuco, certamente, ele faria interpretação muito equivocada do texto que estava lendo, como ainda ocorre hoje com os judeus, que se equivocam ao interpretá-lo. Como bem disse o pr. Douglas Baptista, “toda vez que lemos a Bíblia, estamos interpretando, isto porque todos os leitores são também intérpretes, mas nem sempre o ‘entendimento’ daquilo que lemos reproduz a verdadeira ‘intenção do Espírito Santo’”. Em virtude de nossa inclinação ao erro (Rm.8:7), precisamos usar métodos propícios que nos auxiliem na interpretação das Escrituras Sagradas, com a indispensável ajuda do Espírito Santo.

Também, por causa da natureza humana pecaminosa, é comum as pessoas introduzirem sentidos particulares (eisegese) ao conteúdo bíblico ao invés de buscarem o sentido no texto (exegese). As pressuposições humanas, isto é, as visões interesseiras podem influenciar na interpretação do texto. Por isso, não poucas vezes, existem aqueles que se aproximam da Bíblia apenas para comprovar o que já defendem, sem deixar que Deus fale, pelo Seu Espírito, através do texto. Oremos e peçamos ao Senhor que, conforme Ele fez com os discípulos no caminho de Emaús, possamos compreender, interpretar e aplicar a verdade bíblica de acordo com Sua revelação (Lc.24:44-45).

3. A natureza das Escrituras

A natureza das Escrituras Sagradas compreende dois princípios importantes: o divino e o humano.

-A natureza divina da Bíblia. Do lado divino, Deus é o seu autor; logo, ela é inspirada, inerrante e infalível. No seu todo ou em qualquer parte a Bíblia é o conjunto dos documentos de Deus para o homem. Todos esses documentos são testemunhos da vontade de Deus revelada ao longo da história do povo hebreu e do povo cristão. Com efeito, porém, apesar da diversificação de assuntos, as Escrituras são proféticas e se combinam entre si em cada detalhe. Algumas vezes, há diferença no método de apresentação; contudo, o conteúdo plenário é cronológico: cada acontecimento encontra-se perfeitamente em seu lugar. Tudo está onde devia estar. Nada está fora do lugar. De Gênesis ao Apocalipse, há uma só unidade e harmonia de entrelaçamento em cada detalhe das Escrituras. Jamais mentes puramente humanas, sem serem tocadas pelo Espírito de Deus, conseguiriam, partindo de pontos diferentes no tempo e no espaço, convergir para um mesmo lugar e chegar numa mesma conclusão. É realmente o que afirma Pedro em sua segunda Epístola, quando diz: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2Pd.1:20,21).

-A natureza humana da Bíblia. Foram cerca de 40 autores da Bíblia, durante um período de 1.500 anos, durante mais de 40 gerações. Os seus autores estavam envolvidos nas mais diferentes atividades - reis, camponeses, filósofos, pescadores, poetas, estadistas, agricultores, boiadeiros, médicos, estudiosos etc. Apesar de tudo e de todos, não houve, nenhuma sequer, contradição nas Escrituras. Tudo se harmoniza de acordo com o pensamento geral e a tese principal. Apesar da diversidade de épocas, autores, gêneros literários e tópicos tratados, há uma surpreendente unidade em seu conteúdo, cujo tema principal é Jesus Cristo, o Filho de Deus que veio a este mundo para salvar os pecadores (1Tm.1:15). Ele aparece através de figuras, profecias por todo o Antigo Testamento. Aonde quer que abramos a Bíblia, ali Ele está; seja no texto presente ou no imediato e, como realidade histórica, no Novo Testamento, consolidando todas as predições que falavam a Seu respeito no Antigo Testamento.

Tendo em vista que as Escrituras Sagradas possuem particularidades que não podem ser ignoradas, como, por exemplo, as narrativas, as poesias, as crônicas, as profecias e as parábolas, é preciso que elas sejam interpretadas, sob a orientação do Espirito Santo, observando as regras gramaticais e o contexto histórico e literário de quando foram escritos.

II. PRESSUPOSTOS PENTECOSTAIS PARA LER A BÍBLIA

1. Autoridade da Bíblia

Para nós adeptos do movimento pentecostal clássico, a Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus; ela é o produto final da causalidade divina e da agência profética. Portanto, a Bíblia é o Livro imbuído de autoridade divina. Deus moveu os profetas de tal modo que seus escritos fossem por ele expirados. Em outras palavras, Deus falou pelos profetas e está falando em seus escritos. Haja vista a sua origem divina, ao ler a Bíblia temos como pressuposto sua inerrância, infalibilidade e confiabilidade, e tudo o que está narrado em suas páginas sagradas é útil para o nosso ensino, edificação e maturidade espiritual, conforme afirma o apóstolo Paulo – “Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito...” (Rm.15:4). Portanto, a Bíblia sagrada é nossa autoridade final em questões de fé e prática; acatamos suas doutrinas, que desde o princípio da Igreja são praticadas, dentre elas o Batismo no Espírito Santo e o exercício dos dons espirituais. Como afirma o apóstolo Paulo, “toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (2Tm.3:16).

2. A iluminação do Espírito Santo

Para compreensão das Escrituras Sagradas é imprescindível a iluminação do Espírito Santo. Iluminação é a atuação do Espírito na vida da pessoa, que o capacita a discernir as verdades da Palavra de Deus. O ser humano toma conhecimento da salvação por meio das Escrituras, mas somente o estudo racional não é suficiente para o entendimento da revelação escrita de Deus, é imprescindível que haja a iluminação do coração e da mente pelo Espírito Santo. Sem a atuação do Espírito Santo na vida dos apóstolos, certamente, não teríamos as Escrituras do Novo Testamento. Por isso, Jesus prometeu enviá-lo – “o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (João 14:26).

O apóstolo Paulo argumenta que “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele; nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça; temos a redenção pelo sangue de Jesus, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça (Ef.1:3-7); enfim, temos o Céu, temos a vida eterna, a felicidade plena (João 14:2,3; Fp.3:20). Mas para o crente compreender toda esta riqueza espiritual, um estudo racional não é suficiente; todas estas bênçãos só são perceptíveis na vida do crente quando ele está sob o sobrenatural de Deus, quando ele tem a iluminação do Espírito Santo para enxergar com os olhos da fé todas estas maravilhas de Deus. Portanto, é preciso iluminação espiritual, advinda do Espírito Santo da graça, para que enxerguemos esta realidade. Devemos, pois, pedir a Deus que abra o nosso entendimento a fim de que saibamos que somos o povo mais abençoado e o mais feliz da terra, pois temos uma gloriosa e viva esperança que não deve ser abalada pelas circunstâncias adversas.

À medida que lemos e estudamos a Bíblia, o Espírito nos concede a compreensão dos ensinos sagrados. Mas é bom conscientizarmos de que a iluminação não aumenta e nem altera o conteúdo sagrado; apenas elucida o que já foi revelado pelo Espírito Santo. Não há nova verdade a ser acrescentada sobre o texto bíblico; há, sim, nova iluminação, ou seja, são-nos mostrados novos aspectos da verdade que são relevantes para a nossa situação atual. A verdade é apenas uma, as aplicações dessa verdade é que são diversas. Somos incumbidos de entender a verdade e, sob a unção do Espírito de Cristo, aplicá-la. Não fomos chamados para descobrir novas verdades, mas para ensinar as velhas e maravilhosas verdades de forma nova, pois elas são atemporais e sempre necessárias em nossa geração.

3. O valor da experiência

A chave para que tenhamos experiências com Deus é a qualidade do relacionamento que mantemos com Ele. Deus quer manifestar-se de maneira pessoal a cada um de nós. Ele deseja que nós tenhamos uma experiência própria e pessoal com Ele. O Deus do universo, de toda a terra e da Igreja, almeja ser o nosso Deus também, o nosso Pastor e Rei. Para isto, precisamos conhecê-lo, ter um relacionamento e experiências pessoais com Ele.

No movimento pentecostal várias experiências espirituais são manifestadas como, por exemplo, o batismo no Espírito Santo e o exercício dos dons espirituais. Através de uma pesquisa analítico-bibliográfica, constata-se que essas experiências têm como propósitos a divulgação do Evangelho, assumido como missão da Igreja, bem como a realização de milagres, tais como aconteciam no princípio da Igreja.

Alguns segmentos evangélicos interpretam mal o valor dessas experiências. Com frequência, os pentecostais são injustamente acusados de colocar a experiência acima da autoridade da Palavra de Deus. Porém, como bem diz o pr. Douglas, um dos princípios hermenêuticos ensina o crente a “interpretar a experiência pessoal à luz das Escrituras, e não a Escritura à luz da experiência pessoal”. Significa que, por mais importante que seja a experiência pessoal, ela não é a autoridade final da nossa fé. As experiências precisam do aval das Escrituras para ser validadas. Toda e qualquer experiência que contraria os preceitos bíblicos deve ser desconsiderada. Paulo asseverou que, se um anjo do céu vos anunciar outro evangelho, tal experiência deve ser rejeitada (Gl.1:8).

O apóstolo Paulo afirma que “toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2Tm.3:16,17). Aqui, o apóstolo mostra que “toda Escritura” é útil para o nosso ensino; isto demonstra que a Bíblia deve ser aplicada ao nosso viver diário. Explicando melhor:

ü  A Palavra de Deus é “útil para repreensão”. Quando a lemos, ela nos fala claramente de coisas em nossa vida que desagradam a Deus. Ela também é proveitosa par refutar erros e responder ao tentador.

ü  A Palavra também é “útil para a correção”. Ela não apenas destaca o errado, mas apresenta como pode ser corrigido. Por exemplo, o texto bíblico não afirma apenas: “aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom para que tenha com que acudir ao necessitado” (Ef.4:28). A primeira parte do versículo é para repreender, e a segunda, para corrigir.

ü  Enfim, a Bíblia é útil “para instruir em justiça”. A graça de Deus nos ensina a viver uma vida piedosa, mas a Palavra de Deus descreve em detalhes o que constitui uma vida piedosa. Por meio da Palavra, “o homem de Deus” pode ser “perfeito” ou experiente. Ele é plenamente preparado ou equipado com tudo o que precisa para produzir toda boa obra (2Tm3:17), que é o objetivo de sua salvação (Ef.2:8-10).

Portanto, a Bíblia sagrada é a autoridade máxima da Igreja no aspecto doutrinário e para a devida disciplina. Somente ela é que pode autenticar, e até mesmo corrigir, a experiência ou a prática da Igreja, caso seja necessário (2Tm.2:42). Logo, nem a experiência nem a tradição da Igreja podem estar acima da autoridade da Palavra de Deus.

III. REGRAS BÁSICAS DE INTERPRETAÇÃO

1. A Escritura é sua própria intérprete

Dentre as seis regras de interpretação da Bíblia, estudadas na hermenêutica, a primeira é: a Bíblia interpreta a própria Bíblia; ou seja, a Bíblia explica a si mesma. Sempre que encontramos um determinado pensamento ou conceito num determinado texto bíblico, devemos confrontá-lo com a própria Bíblia, a fim de que não sejamos induzidos a erro. É por isso que um texto isolado, solitário, jamais poderá oferecer base para uma doutrina bíblica como, por exemplo, o texto de Juízes 7:8 que fala dos trezentos homens de Gideão. Por que haveremos de passar por uma “corrente de trezentos pastores” para obter uma bênção? A simples leitura do texto em que se fala dos trezentos homens de Gedeão é suficiente para nos mostrar quais os ensinos bíblicos que se fazem a respeito e que nada têm que ver com “correntes” ou coisa parecida. Os triunfalistas sempre dão às suas pregações materialistas e megalomaníacas uma roupagem bíblica. Assim, não faltam imagens e narrativas bíblicas para ilustrarem as suas “campanhas” e os seus “movimentos”. Um dia é a “campanha da derrubada das muralhas de Jericó”; outro dia o “jejum de Moisés”; depois vem “os trezentos de Gedeão”, e não esqueçamos dos “trinta valentes de Davi”.

Uma noção ainda que superficial das regras da chamada “hermenêutica”, ou seja, da ciência da interpretação da Bíblia, é suficiente para desbaratar e desmontar todas estes besteiróis criados pelos triunfalistas, e que têm enganado a muitos. O problema é que a grande maioria dos crentes não lê a Bíblia e os poucos que a leem não têm a mesma prudência demonstrada no diálogo entre Filipe e o eunuco (At.8:26-40). Neste texto, verifica-se que, de um lado, o evangelista Filipe tinha a preocupação não só de anunciar a Palavra de Deus, mas de fazê-la entendida por quem a ouvisse, enquanto do outro lado, o eunuco também era um leitor atento, alguém que, além de querer ler, queria entender o que estava lendo e estava disposto a ouvir a explicação a respeito do que está escrito.

Meditar na Palavra de Deus, envolve, portanto, dois pontos: a leitura e o entendimento. Ora, a leitura só caminha até o entendimento se houver a explicação. Foi, por isso, que os apóstolos se dedicaram, com prioridade, ao ministério da Palavra (At.6:2,4), e que Jesus constituiu mestres para o aperfeiçoamento dos santos (Ef.4:11,12). Somente se cada crente for ensinado convenientemente na Palavra, de modo a ter uma vida devocional diária de meditação nas Escrituras, como também motivado a participar das reuniões de ensino da Igreja Local, é que poderemos escapar da armadilha do triunfalismo, como, de resto, de toda e qualquer falsa doutrina.

2. Princípios de interpretação bíblica

Do mesmo jeito que há quem defenda que o estudo da Bíblia é apenas para teólogos, há quem argumente que a Bíblia não carece de interpretação. Esse é um equívoco, pois, na verdade, todos nós interpretamos a Bíblia quando a lemos; ainda que seja uma leitura superficial, tenderemos a atribuir algum sentido ao texto. Um problema a esse respeito é que, em algumas ocasiões, não atentamos para o texto e nem para o contexto, mas apenas para versículos isolados, descontextualizados. Isso faz toda diferença no processo interpretativo e pode conduzir a falácias em relação ao texto bíblico.

Um dos grandes desafios da interpretação é cultural. A Bíblia foi escrita para pessoas de outro tempo. Quando, por exemplo, o apóstolo Paulo sentou-se para escrever a sua Carta aos efésios, ele não estava pensando nos cristãos brasileiros. Sua atenção estava voltada para pessoas do século 1, que viviam dentro da cultura greco-romana-judaica. O mesmo podemos dizer do autor do Apocalipse; quando João escreveu este Livro sagrado, utilizou uma linguagem simbólica que era comum principalmente aos cristãos judeus de seu tempo. Em sua época, eram comuns os escritos apocalípticos, que buscavam transmitir mensagens de reforço na fé em linguagem cheia de imagens e significados ocultos. Hoje, quando lemos a Epístola aos Efésios ou o Apocalipse, ficamos às vezes com dificuldades de compreender algumas expressões, mesmo utilizando dos métodos clássicos de interpretação. Daí podemos inferir que a primeira tarefa do intérprete bíblico é entender o que as Escrituras significaram para os seus primeiros destinatários. A partir desse ponto, é que podemos estabelecer qual a aplicação para hoje.

Serão válidos para hoje o ósculo santo, o véu no rosto para a oração (1Co.11:13, 16:20)? Para respondermos isso precisamos primeiro saber "o que significava o ósculo e o véu na sociedade daquele tempo". Somente a partir daí é que poderemos transpor essa barreira cultural, e fazer das Escrituras algo vivo para o homem do século vinte um. Para isso existem vários instrumentos disponíveis já em língua portuguesa: dicionários e manuais, comentários bíblicos, livros dedicados a reconstruir os tempos bíblicos e atlas que permitem-nos visualizar o arranjo político-geográfico dos tempos do Antigo e Novo Testamentos.

Ao interpretarmos um texto, fujamos da interpretação alegórica. O texto normalmente significa aquilo que está escrito mesmo. Em algumas ocasiões iremos nos defrontar com figuras de linguagem. Por exemplo, quando Jesus Cristo afirmou que é "a porta" (João 10:7), o bom senso nos diz que cabe aqui uma interpretação simbólica. Outro exemplo: “Tomai, comei, isto é o meu corpo” (Mt.26:26); este texto, proferido por Cristo, mostra que o “corpo” não está no sentido literal, mas no figurado.

Em outras situações, porém, devemos cuidar para não alegorizar aquilo que é literal. Certa feita um pregador afirmou o seguinte sobre o casamento de Isaque relatado em Genesis 24. O pregador disse que o servo de Abraão era um "tipo" do Espírito Santo, e que Rebeca é um símbolo da Igreja. Se formos utilizar tais artifícios em nossa interpretação, poderemos transformar o texto bíblico naquilo que quisermos. Devemos levar a Bíblia a sério. Os casos em que não estiver clara uma figura de linguagem, ou onde o estilo de literatura não for claramente figurativo, tais como nos Salmos e no Apocalipse, devemos sempre interpretar literalmente. O bom senso e a liderança do Espírito Santo nos garantirão bom resultado nessa empreitada. Portanto, para a interpretação do texto, devemos estar atentos à voz do Espírito Santo, e, em oração, buscar ouvir o que o Senhor tem a dizer e a obedecê-lo (Ap.2:11,17).

Outro princípio refere-se ao contexto, isto é, analisar os versículos que precedem e seguem o texto que se estuda. Quando desconsideramos o contexto, estamos sujeitos a errar a nossa interpretação. Um exemplo clássico é Ap.3:20: "Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo". Muitos mestres e pregadores usam essa passagem como uma espécie de apelo evangelístico. O convite do Senhor, no entanto, neste caso, não é dirigido aos pecadores para que eles se arrependam e creiam no evangelho. O convite de Cristo aqui dirige-se aos crentes orgulhosos; o versículo em questão faz parte da carta de Jesus à Igreja de Laodiceia (Ap.3:14).

A interpretação deve levar em conta toda a estrutura textual. Devemos levar em consideração o contexto imediato e o remoto. Chamamos de contexto imediato tudo aquilo que está próximo ao texto estudado (parágrafo e capítulo). Chamamos de contexto remoto tudo aquilo que está distante, mas ao mesmo tempo abrange o texto estudado (seção, divisões maiores da obra e o livro como um todo). Devemos sempre perguntar ao texto: qual o contexto próximo? O parágrafo está tratando de que tema? E o capítulo? E a seção? Aqui estabeleceremos uma relação entre os elementos textuais, e estaremos mais aptos a discernir o significado da passagem. Todo texto deve ser interpretado dentro do seu contexto. Como diz um ditado da interpretação bíblica, "texto tirado de contexto é pretexto". Muitos usam textos deslocados para provar as suas doutrinas preferidas. Não caiamos nesse ardil, pois a Bíblia precisa ser interpretada no seu todo, ou seja, nenhuma doutrina pode basear-se em um único texto ou em hipóteses particulares (2Pd.1:20).

É bom enfatizar que todo o trabalho de interpretação bíblica deve começar com a oração. O verdadeiro entendimento da Palavra advém, em primeiro lugar, desse contato íntimo e frequente entre o intérprete e o Deus que inspirou as Escrituras. É necessário que nos cubramos com a proteção de Deus e convidemos o Espírito Santo a ser o nosso Mestre. O Espírito Santo tem uma tarefa de ensinar-nos acerca de Cristo (João 16:13,14). Do mesmo modo, é Ele quem nos mostra as profundas revelações de Deus: "Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito, porque o Espírito a todas as cousas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus... Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim, o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente" (1Co.2:10, 12). Em outro lugar a Escritura afirma que nosso conhecimento advém do fato de possuir a unção do Espírito: "E vós possuís unção que vem do Santo, e todos tendes conhecimento" (1João 2:20).

3. Os perigos da hermenêutica pós-moderna

A hermenêutica pós-moderna é caracterizada pelo subjetivismo no processo de interpretação do texto bíblico. Ela nega que existe um sentido absoluto para a verdade bíblica, e, portanto, busca rever ou ressignificar a verdade revelada na Palavra de Deus. O maior perigo das correntes subjetivas é a falta de compromisso com critérios objetivos que orientem e deem consistência ao processo interpretativo. A interpretação pós-moderna, de modo geral, exagera a distância cultural entre o autor e o leitor, e dissocia de modo injustificável o autor do seu texto. A obra iluminadora do Espírito Santo, revelada nas próprias Escrituras, é desconsiderada. A dificuldade de interpretação se transforma em impossibilidade de interpretação.

Nenhum segmento evangélico está livre da influência da hermenêutica pós-moderna. Ela afeta não apenas a interpretação bíblica, também a prática eclesial; a vida cristã comunal e pessoal são áreas afetadas; a doutrina, a teologia, a pregação, o ensino, a música, o culto, a evangelização, a ética e a moral cristã, tudo é afetado. Portanto, concordo com o argumento do pr. Douglas, quando afirma:

Nossa ortodoxia refuta todo e qualquer método que nega a inspiração verbal e plenária da Bíblia e sua consequente autoridade (2Pd.1.21). Assim sendo, o intérprete não pode criar outro cânon dentro do cânon bíblico, ou seja, não cabe ao estudante fragmentar ou relativizar os textos inspirados. Não se pode empregar métodos subjetivos focados no leitor em prejuízo do texto e do autor bíblico. Ratificamos que as experiências devem ser submetidas ao crivo das Escrituras Sagradas (At.17:11). Por fim, reconhecemos que as técnicas hermenêuticas não são infalíveis. Durante o processo de aplicação dos métodos interpretativos necessitamos da iluminação do Espírito Santo (1Co.2:12).

Argumenta com sabedoria o Pr. Alair Germano:

No desejo de nos tornarmos aceitáveis pela erudição acadêmica universitária contemporânea, corremos o risco de nos tornarmos acríticos e seduzidos pelos aplausos da academia pós-modernizada. A busca por relevância entre os leitores e ouvintes contemporâneos, embora legítima, não pode comprometer a verdade. A ênfase exagerada nos aspectos subjetivos da interpretação bíblica (experiência, êxtase, intuição etc.), em detrimento dos aspectos objetivos histórico-gramaticais do texto, precisa ser considerada com muita prudência, inteligência e coerência. A sabedoria que vem do alto, a humildade, o temor reverente, a oração e a dependência do Espírito devem continuar fundamentando e norteando todo o nosso pensar e fazer hermenêutico (Hermenêutica Pós-Moderna: Uma Breve Introdução aos Novos Rumos e Riscos na Interpretação Bíblica Contemporânea).

CONCLUSÃO

Prezado irmão em Cristo, leia e estudo a Palavra de Deus; não seja um bebê o tempo todo. Não fique satisfeito com um simples correr de olhos pelas páginas da Bíblia. Examine-a, leia e releia as passagens para que se aproveite a verdade que se esconde nas páginas. Examine-a, faça perguntas e procure as respostas: o que isto significa para mim? Só tem isso? Procure entendimento pelas palavras diferentes que notar. Pese cada uma. Verifique outros versículos que têm a mesma palavra. Você pode atingir o significado. Forme o seu próprio pensamento sobre o assunto.

Estude a Bíblia como um viajante que deseja obter um conhecimento completo e experimental de outro país. Vá pelos vastos campos da verdade; desça a seus vales; suba suas montanhas de percepção; siga suas correntes de inspiração; visite suas maravilhosas galerias de obras de arte.

Estude a Palavra como um garimpeiro escava a terra em busca de ouro, ou como um mergulhador desce às profundezas do mar em busca de pérolas. A maioria das grandes verdades não está na superfície, e por isso só podem ser trazidas à luz mediante trabalho paciente. Trate de entender as coisas profundas de Deus.

Lembre-se: a Bíblia Sagrada é a nossa regra de fé e prática; é o mapa do viajor; é a espada do soldado e o mapa do cristão. Leia-a para ser sábio, creia nela para estar seguro e pra­tique o que nela está escrito, para ser santo. Ela contém luz para dirigi-lo, alimento para sustê-lo, e consolo para animá-lo.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Norman L Geisler. Introdução geral à Bíblia. Vida Nova.

Pr. Augustus Nicodemos Lopes. Princípios de Interpretação da Bíblia.

Pr. Altair Germano. Hermenêutica Pós-Moderna.

Pr. Caramuru Afonso Francisco. O valor do estudo da Bíblia. PortalEBD_2008.

domingo, 16 de janeiro de 2022

Aula 04 – A ESTRUTURA DA BÍBLIA

 

1º Trimestre/2022


Texto Base: Lucas 24:44-49


“E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos” (Lc.24:44).

Lucas 24:

44.E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos.

45.Então, abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras.

46.E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse e, ao terceiro dia, ressuscitasse dos mortos;

47.e, em seu nome, se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém.

48.E dessas coisas sois vós testemunhas.

49.E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos da “Estrutura da Bíblia”. O objetivo é: mostrar que a Bíblia está organizada e que ela se divide em dois testamentos; esclarecer como os livros do Antigo Testamento são classificados; expor a classificação dos livros do Novo Testamento. Conhecer a estrutura da Bíblia é importante para manejá-la bem. Paulo exortou a Timoteo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm.2:15). A Bíblia Sagrada é “a Palavra da Verdade”. No Sl.68:11a é dito textualmente que “o Senhor deu a palavra”. Em Hb.1:1, o escritor afirma que o Senhor falou antigamente aos pais pelos profetas de muitas maneiras e uma destas maneiras foram as Escrituras Sagradas, que compunham “a lei e os profetas” (Mt.7:12; 22:40), lembrando que “a lei” foi escrita por Moisés (Dt.31:24), sendo ele próprio, Moisés, um profeta (Dt.34:10). Mas o escritor aos hebreus não diz que eram divinas apenas as Escrituras do Antigo Testamento, mas, também, afirma que passou Deus a falar pelo Filho, que é o Verbo de Deus (Jo.1:1). Ora, o Filho já era revelado por intermédio das Escrituras do Antigo Testamento (Jo.5:39) e continuou a sê-lo através do Novo Testamento, que é o registro determinado pelo Espírito Santo para tudo quanto Jesus ensinou (João14:26; 2Pd.3:16,17), registro este que é a verdade e nossa fonte de santificação (Jo.17:17), pois, desde a Antiga Aliança, o Senhor utilizava do escrito para memória do que havia dito (Ex.17:14a).

I. COMO A BÍBLIA ESTÁ ORGANIZADA

1. Definição do termo Bíblia

O nome "Bíblia" vem do grego "Biblos", nome da casca de um papiro do século XI a.C. Ao rolo pequeno de papiro, os gregos chamavam "biblion", e ao plural deste chamavam "biblos". Portanto, o vocábulo Bíblia deriva da língua grega.

Os primeiros a usar a palavra "Bíblia" para designar as Escrituras Sagradas foram os discípulos do Cristo, no século II d.C. Atribui-se a João Crisóstomo (398 – 404) a disseminação desse vocábulo. O vocábulo "Bíblia" significa etimologicamente "coleção de livros pequenos", isto porque os livros da Bíblia são pequenos, formando todos um volume não muito grande como tão bem conhecemos. De fato, a Bíblia é uma coleção de livros, porém, perfeitamente harmônicos entre si. É devido a isso que a palavra Bíblia sendo plural no grego passou a ser singular nas línguas modernas.

Materiais Originais utilizados pelos escritores dos Autógrafos: Papiro e o Pergaminho

Ø  Papiro: Material extraído de uma planta aquática desse mesmo nome. Há várias menções dele na Bíblia, como por exemplo, Jó 8:11. De papiro deriva o termo papel. Seu uso na escrita vem de 3.000 a.C., no Egito.

Ø  Pergaminho: É a pele de animais, curtida e preparada para escrita. É material superior ao papiro, porém de uso mais recente do que aquele. Teve seu uso generalizado a partir do início do século I, na Ásia Menor. É também citado na Bíblia; exemplo: 2Timóteo 4:13.

Línguas Originais utilizados pelos escritores dos Autógrafos

Ø  Hebraico: Para o Antigo Testamento.

Ø  Grego: Para o Novo Testamento.

Ø  Aramaico: O Antigo Testamento foi escrito em Hebraico, uma língua da família das línguas semíticas, caracterizada pela predominância de consoantes; exceto Esdras 4:8 a 6:18; 7:12-16; Jeremias 10:11; Daniel 2:4 a 7:8, que foram lavrados em Aramaico.

Particularidades da Bíblia

Ø  Canonizados: 66 Livros, sendo 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento.

Ø  Divisão em capítulos: São 1.189, sendo 929 no Antigo Testamento e 260 no Novo Testamento.

Ø  Divisão em versículos: São 31.173, sendo 23.214 no Antigo Testamento e 7.959 no Novo Testamento.

Ø  O livro maior é o dos Salmos, com 150 capítulos.

Ø  O livro menor é 2João.

Ø  O maior capítulo é o Salmo 119.

Ø  O menor capítulo é Salmo 117.

Ø  O capítulo 37 de Isaías e o 19 de 2Reis são iguais.

Ø  O maior versículo está em Ester 8:9.

Ø  O menor versículo está em Êxodo 20:13 na ARC; em Lucas 20:30 na TRBR; em Jó 3:2 na ARA. Como se vê, depende da Versão.

Ø  O texto central é o Salmos 118:8.

O tema central da Bíblia

Jesus Cristo é o tema central da Bíblia. Podemos resumir todo o Antigo Testamento numa frase: Jesus virá; e o Novo Testamento noutra frase: Jesus já veio (é claro, como Redentor). Assim sendo, as Escrituras sem a pessoa de Jesus seriam como a física sem a matéria e a matemática sem os números. Já imaginou um cristão sem a Bíblia? E nós irmãos, o que estamos fazendo, para difundir a Bíblia, o livro que nos salvou, como mandou o Senhor Jesus? - "E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc.16:15).

Texto áureo da Bíblia

João 3:16 – “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

A divisão em capítulos

Foi introduzida pelo professor universitário parisiense Stephen Langton, em 1227 d.C, que viria a ser eleito bispo de Cantuária pouco tempo depois.

A divisão em versículos

Foi introduzida em 1551, pelo impressor parisiense Robert Stephanus. Ambas as divisões tinham por objetivo facilitar a consulta e as citações bíblicas, e foi aceita por todos, incluindo os judeus.

Escritores da Bíblia

A existência da Bíblia, abrangendo seus escritores, sua formação, composição, preservação e transmissão, só pode ser explicada como milagre de Deus, ou melhor, Deus é seu autor. Foram cerca de quarenta os escritores da Bíblia. Deste modo, a Palavra Escrita de Deus foi nos dada por canais humanos, assim como o foi a Palavra Viva – Cristo (Ap.19:13). Esses homens pertenceram às mais variadas profissões e atividades, escreveram e viveram distantes uns dos outros em época e condições diferentes. Levaram 1500 anos para escrevê-la. Apesar de todas estas dificuldades, a Bíblia não contém erros nem contradições. Há sim dificuldades na compreensão, interpretação, tradução, aplicação, mas isso do lado humano, devido a nossa incapacidade em todos os sentidos.

2. O Cânon da Bíblia

Conforme argumenta Norman L. Geisler, o significado original do termo “cânon” remete aos antigos gregos, que o usavam em sentido literal: um “kanon” era uma vara, uma régua, um cajado ou uma vara de medição. O termo grego “kanon” deriva, provavelmente, do hebraico “Kaneh” (caniço, ou vara de medir), um termo do Antigo Testamento que significa vara (Êx.40:3; 42:16). Esse conceito literal proporcionou a base para o uso estendido posteriormente da palavra “kanon”, cujo significado é “padrão”, “norma”. Já no grego pré-cristão, a palavra “kanon” tinha um sentido não literal, como ocorre no Novo Testamento. Em 2Corintios 10:13-16, o sentido é de “esfera de ação ou de influência”. Gálatas 6:16 chega mais perto do significado teológico final da palavra, quando Paulo afirma: “Que paz e misericórdia estejam sobre aqueles que andarem conforme essa norma [Kanon]”.

Teologicamente, o cânon está fechado. Deus inspirou somente um número limitado de livros, que foram, todos eles, concluídos até o final do período apostólico (séc.1 d.C.). Deus costumava falar pelos profetas do Antigo Testamento, mas nos “últimos dias” falou por meio de Cristo (Hb.1:1) e pelos apóstolos a quem capacitou para realizar “sinais” especiais (milagres). Contudo, como a era apostólica terminou com a morte dos apóstolos (Atos 1:22), e como ninguém desde os tempos apostólicos apresentou os “sinais de um verdadeiro apóstolo” (2Co.12:12) pelos quais pudesse ressuscitar os mortos (Atos 20:10-12) e realizar outros feitos sobrenaturais incomparáveis (Atos 3:1-10; 28:8,9), pode-se concluir que a revelação de Deus do “último dia” está completa (veja Atos 2:19,20). Isso não significa que as visitações de Deus tenham encerrado, visto que ainda há muitas outras coisas que precisam ser cumpridas (veja Atos 2:19,20). Tampouco significa que não haverá nenhum novo entendimento da verdade divina depois do século 1. Significa simplesmente que não há nenhuma nova revelação para a Igreja. Na verdade, isso não implica necessariamente que não tenha havido milagres desde o século 1. Atos sobrenaturais serão possíveis, pois Deus está sempre pronto a realizar segundo a sua vontade. Não se trata do fato de que milagres cessaram com os apóstolos, mas da dotação especial de realizar milagres que um profeta ou apóstolo tinha, a ponto de poder declarar, assim como Moisés, Elias, Pedro ou Paulo, que tinha uma nova revelação de Deus. Um profeta ou apóstolo como esses poderia respaldar sua declaração dividindo o mar, fazendo descer fogo do Céu ou ressuscitando os mortos. Tratava-se de dons especiais concedidos aos profetas e apóstolos, e que estão ausentes dos que não receberam uma nova revelação (Atos 2:22; Hb.2:3,4).

Historicamente, o cânon está fechado e compreende os 39 Livros do Antigo Testamento e os 27 Livros escritos do Novo Testamento, existentes nas nossas tradicionais Bíblias, os quais são necessários para a fé e prática dos crentes de todas as gerações. Nada pode ser acrescentado ou retirado das Escritura Sagradas canônicas (Ap.22:18,19).

Num sentido real, Cristo é a chave da inspiração e da canonização das Escrituras. Foi Ele quem confirmou a inspiração do cânon hebraico do Antigo Testamento, e foi Ele quem prometeu que o Espírito Santo guiaria os apóstolos a toda a verdade. O cumprimento dessa promessa resultou na redação, recepção e coleção do Novo Testamento.

3. Os dois Testamentos bíblicos

Além de a Bíblia ser um “biblos”, ou um livro, o fato mais óbvio é que ela está dividida em duas partes denominadas Testamentos: Antigo Testamento e Novo Testamento. O termo hebraico para testamento é “berith”, que significa “aliança, ou contrato, ou ainda acordo entre duas partes”. O termo grego “diatheke” é geralmente traduzido por “testamento”. A versão grega do Antigo Testamento, a Septuaginta (LXX), traduz o termo hebraico “berith” por “diatheke”, mostrando dessa forma a derivação do termo grego.

O Antigo Testamento foi chamado primeiramente de Aliança nos dias de Moisés (Êx.24:8). Mais tarde, Jeremias anunciou que Deus faria uma “nova aliança” com seu povo (Jr.31:31-34), o que Jesus afirmou estar realizando na última Ceia (Mt.26:28; cf.1Co.11:23-25; Hb.8:6-8). Portanto, para os cristãos a primeira parte da Bíblia é chamado de “Antiga Aliança” (Testamento), e a segunda parte de “Nova Aliança”. A relação entre as duas Alianças está bem sintetizada na célebre declaração de Santo Agostinho: “...o Antigo Testamento revelado no Novo; o Novo oculto no Antigo...”. Ou, como disse outro autor, “o Novo está contido no Antigo, e o Antigo está explicado no Novo”. Para o cristão, Cristo é o tema das duas alianças (cf. Hb.10:7; Lc.24:27,44; João 5:39), conforme pode ser visto no seguinte quadro:

No Antigo Testamento, Cristo está:

No Novo Testamento, Cristo está:

  • Nas sobras
  • Em essência
  • Em imagens
  • Em pessoa
  • Em tipos
  • Em verdade
  • Em rituais
  • Na realidade
  • Latente
  • Patente
  • Profetizado
  • Presente
  • Revelado implicitamente
  • Revelado explicitamente

Fonte: Livro Introdução Geral à Bíblia. Norman L., Gleisler

II. O ANTIGO TESTAMENTO

1. Os Livros do Antigo Testamento

A classificação dos livros do Antigo Testamento, tal qual conhecemos e utilizamos nos dias de hoje em nossas Bíblias, se divide em 39 livros, e obedece a forma grega. Esses livros estão divididos em 4 classes: LEI, HISTÓRIA, POESIA, PROFECIA.

Ø LEI (Torá). Corresponde aos cinco primeiros livros do Antigo Testamento; são eles: Gênesis, Êxodo, Levíticos, Números, Deuteronômio; esses cinco livros são chamados Pentateuco. Tratam da criação, da formação do povo de Israel e da Lei.

Ø HISTÓRIA. 12 livros - Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester. Contém a história do povo de Israel.

Ø POESIA: cinco livros - Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cânticos dos Cânticos (Cantares). São chamados poéticos devido ao gênero do seu conteúdo e não por outra razão.

Ø PROFECIA. 17 livros - de Isaías a Malaquias. Esses 17 livros estão subdivididos em dois grupos:

·    PROFETAS MAIORES. Cinco livros: Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel e Daniel.

·    PROFETAS MENORES. 12 livros: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

Os nomes "maiores” e “menores" referem-se ao volume de matéria dos livros e extensão do ministério profético. 

No decorrer dos séculos, a Bíblia foi subdividida em seções e seus livros foram organizados em diferentes formas. A Bíblia hebraica veio a ser dividida em três partes – Lei, Profecias e Escritos -, assim classificadas de acordo com a posição oficial do autor. Contudo, começando pela Septuaginta e passando pelas traduções em latim e inglês moderno, o Antigo Testamento passou a ser organizado em uma estrutura temática quádrupla.

As Escrituras hebraicas foram traduzidas para o grego em Alexandria, no Egito (c.250 a 150 a.C.). Essa tradução, conhecida como Septuaginta (LXX), introduziu algumas mudanças básicas no formato dos livros: alguns deles foram reclassificados, outros foram reagrupados e ainda outros foram renomeados. A tradição alexandrina organizou o Antigo Testamento de acordo com o assunto, que é a base da classificação atual dos cincos livros da Lei, doze livros de história, cinco livros de poesia e dezessete livros de profecia.

O quadro a seguir mostra essa organização, que apresenta o mesmo conteúdo, porém com um número de livros diferentes da lista hebraica.

LEI (PENTATEUCO)

POESIA

1. Gênesis

1. Jó

2. Êxodo

2. Salmos

3. Levítico

3. Provérbios

4. Números

4. Eclesiastes

5. Deuteronômio

5. Cântico dos Cânticos

HISTÓRIA

PROFETAS

Maiores

Menores

1. Josué

1. Isaías

1.Oseias

2. Juízes

2. Jeremias

2. Joel

3. Rute

3. Lamentações

3. Amós

4. 1Samuel

4. Ezequiel

4.Obadias

5. 2Samuel

5. Daniel

5. Jonas

6. 1Reis

 

6. Miqueias

7. 2Reis

7. Naum

8. 1Crônicas

8. Habacuque

9. 2Crônicas

9. Sofonias

10. Esdras

10. Ageu

11. Neemias

11. Zacarias

12. Ester

12. Malaquias

Fonte: Introdução à Bíblia – Norman L GLEISLER

Na Lei, é lançado o fundamento para Cristo; nos Livros Históricos, as nações fincam raízes em preparação para Cristo; nos Livros Poéticos, o povo olha para o alto e aspira a Cristo; nos Livros Proféticos, olham para frente na expectativa de Cristo.

A LEI contempla a vida moral de Israel. A HISTÓRIA registra sua vida nacional. A POESIA revela sua vida espiritual. A PROFECIA ilustra sua vida e expectativa proféticas ou messiânicas.

2. Canonicidade do Antigo Testamento

Segundo o teólogo Norman L. Gleisler, os critérios utilizados para a admissão dos Livros Sagrados no cânon do Antigo Testamento foram muito discutidos. O Cânon do Antigo Testamento foi concluído provavelmente em torno de 400 a.C., e talvez por volta de 200 a.C., e os Livros que haviam passado por esse processo de canonização começaram a tomar a forma alternativa de uma classificação tripartite: Lei, Profetas e Escritos. Trinta e quatro, dos 39 livros do Antigo Testamento, são aceitos por todos os cristãos como parte do cânon; são os chamados “Homologoumena” (concordância). Não houve questionamento ou dúvidas a seu respeito. Foram reconhecidos não apenas pelas primeiras gerações, mas também pelas que as sucederam. Os outros cinco Livros, chamados “Antilegomena” (falar contra) foram objeto de contestação por alguns, mas mantiveram seu lugar no cânon. Estes cinco Livros são: Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Ester, Ezequiel e Provérbios. Eles foram primeiramente incluídos no cânon e só depois contestados. Isto é, esses livros canônicos tiveram seu caráter e/ou informações questionados posteriormente por rabinos.

a) Cântico dos Cânticos. O motivo principal que levou esse livro a ser contestado é que pareceu “sensual” para alguns. A escola de Shammai (séc. 1 d.C.) tinha dúvidas de sua canonicidade, mas, por fim, foi aceito pelo rabino Akiba ben Joseph (c.50-132). Ele afirmou:

“Deus me livre! Nenhum homem em Israel jamais colocou em dúvida Cântico dos Cânticos [a ponto de dizer] que esse Livro não torna as mãos impuras [isto é, que não é canônico], porque todas as eras não valem do dia em que Cântico dos Cânticos foi dado a Israel; pois todos os Escritos são santos, mas Cântico dos Cânticos é o Santo dos Santos”.

Conforme H. H. Rowley, se as dúvidas giravam em torno de um suposto caráter sensual, elas se baseavam numa interpretação equivocada. Contudo, é perfeitamente possível que Deus tenha colocado esse Cântico no cânon para nos ensinar a pureza e a santidade do estado do matrimônio que Ele mesmo estabeleceu. Sejam quase forem as dúvidas sobre a intepretação do Cântico, não deve haver dúvida alguma sobre sua inspiração e consequente canonização.

b) Eclesiastes. Uma das principais objeções a esse Livro era que parecia “cético”. Alguns o têm chamado de o “Cântico do Ceticismo”. Contudo, não há necessidade de chegar a essa conclusão sobre o Livro. O Eclesiastes em si chega a uma conclusão espiritual: “Teme a Deus e obedece aos seus mandamentos; porque isso se aplica a todo homem” (Ec.12:12). Poderá haver alguma dúvida sobre o homem ”debaixo do sol”, mas não precisa haver dúvida alguma sobre o ensino do Livro, que vai “acima e além do sol” e vem como “palavras de verdade [...] dadas pelo único Pastor” (Ec.12:1011).

c) Ester. Em virtude da ausência notória do nome de Deus, esse Livro teve certa dificuldade de manter sua posição no cânon hebraico. Segundo Norman L. Gleisler, o ponto central do desafio era o fato de que o Livro parecia “não espiritual”. A pergunta fundamental que se fez foi a seguinte: “Como esse Livro pode ser Palavra de Deus se nem mesmo menciona o nome de Deus?”. Há duas explicações possíveis que devem ser mencionadas aqui: Alguns postularam que como os judeus do exílio persa ”não estavam mais na linha teocrática, por assim dizer, o nome do Deus da aliança não está associado a eles”; outros acharam que a omissão do nome de Deus era intencional, para proteger o Livro de plágio pelos pagãos e para evitar a substituição do nome de Deus por um deus pagão. Em apoio a essa alegação, W.G.Secroggie observa que o nome de Jeová (YHWH) pode ser encontrado quatro vezes em forma de acróstico no Livro, e de um modo e em lugares tais que o colocariam além do âmbito da mera probabilidade. Seja como for, a ausência do nome de Deus é mais do que compensada pela presença do seu poder e de sua graça na libertação do seu povo, fato que confere valor canônico ao Livro (cf. Ester 4:14; 9:20-22).

d) Ezequiel. Este Livro foi questionado por alguns por causa de seus ensinos aparentemente “antimosaicos”. A escola de Shammai achava que o ensino do Livro não estava de acordo com a Lei mosaica, e que os primeiros dez capítulos apresentavam uma tendência gnóstica. Contudo, não foram dados exemplos específicos que contradissessem efetivamente a Torá. Se houvesse contradições concretas, então é claro que o Livro não poderia ser considerado canônico. Portanto, a exemplo de outros livros contestados, os argumentos giravam em torno da interpretação histórica, conforme observa Beckwith:

As evidências em prol da canonicidade de Ezequiel são tão amplas e tão antigas que o Livro se tornou motivo de embaraço para os que defendem a perspectiva comum sobre a data de fechamento do cânon. Ezequiel certamente se apresenta como profeta comissionado por Deus e o Livro é provavelmente ou certamente reconhecido como profético, bíblico ou divino. Suas revelações e predições são endossadas, sua autoria profética é reconhecida, é citada por meio de fórmulas tradicionais de citação das Escrituras e foi incluído “na Lei e nos Profetas”.

e) Provérbios. Segundo Norman L. Gleisler, a polêmica em torno desse Livro decorre do fato de que ele é “ilógico” (contraditório em si mesmo). Essa acusação fica claro no Talmude, que diz: “Também procuraram ocultar o Livro de Provérbios, porque suas palavras contradiziam umas às outras”. A suposta contradição é encontrada em Provérbios 26:4,5, em que a exortação consiste a um só tempo em “responder ao insensato de acordo com a sua insensatez” e em não fazê-lo. Contudo, conforme os rabinos têm observado, o sentido evidente pretendido é que há ocasiões em que se deve responder ao insensato e ocasiões em que não se deve fazê-lo. Como as afirmações aparecem em versículos sucessivos em forma de dístico (máxima expressão em dois versos), parece que comportam um impacto implícito semelhante à expressão atual “por um lado, por outro lado”. Seja como for, os demais versículos apresentam razões diferentes para os dois tipos de conselho, respectivamente; e, em decorrência disso, não há contradição que impeça a canonicidade.

Segundo o pr. Douglas, “a conclusão da erudição bíblica é de que os Livros canônicos foram divinamente revelados e que, na sua boa providência, Deus fez que seu povo reconhecesse e recebesse a sua Palavra. Nessa perspectiva, existem três fatores basilares na avaliação de um Livro canônico, a saber:

a)    Inspiração por Deus, que atesta se o Livro é inspirado pelo Espírito Santo (Ne.9:30; Zc.7:12; 2Pd.1:21).

b)    Reconhecimento do povo de Deus, que atesta se o livro era aceito como autêntico por seus primeiros leitores (Êx.24:2,7; Dn9:2).

c)     Preservação pelo povo de Deus, que atesta se o Livro era conservado como Palavra de Deus (Dt.31:24-26; Dn.9:2).

A confirmação desses elementos revela que, desde o início, os livros do Antigo Testamento foram recebidos e guardados como inspirados e autorizados por Deus, dotados de veracidade e de autoridade”.

Podemos, portanto, confiar na autoridade do Antigo Testamento, pois sua canonicidade é irrefutavelmente atestada pelo Senhor Jesus e pelos apóstolos (Mt.5:17,18; Lc.24:27; Rm.5:12; 1Co.10:1-5).

3. Particularidades do Antigo Testamento

Uma das particularidades do Antigo Testamento, segundo o pr. Douglas Baptista, é que quase a totalidade dos Livros foi escrito em hebraico, chamado na Bíblia de língua de Canaã (Is.19:18). Algumas porções foram escritas em aramaico, uma espécie de dialeto que deu origem à língua árabe. Destaca-se que as descobertas dos rolos do Mar Morto (entre 1947 e 1964 d.C.) confirmam a preservação e a suficiência dos textos do Antigo Testamento. Esequias Soares narra que, com exceção ao livro de Ester, todos os demais livros estão representados e confirmados pelos mais de 800 rolos encontrados nas 11 cavernas de Qumran, muitos deles vindo da Babilônia e do Egito, e alguns desses manuscritos ainda eram escritos com grafia do hebraico arcaico.

O último Livro canônico do Antigo Testamento foi o do profeta Malaquias, que foi concluído antes do ano 430 a.C.; desde então, nada mais pode ser acrescido ao cânon do Antigo Testamento. E, conforme o teólogo Norman Gleisler, para facilitar a tarefa de citar a Bíblia, em 1.227 d.C., o Antigo Testamento foi dividido em capítulos e, por volta de 1.445 d.C., foi dividido em versículos.

III. O NOVO TESTAMENTO

1. Os Livros do Novo Testamento

Seus 27 livros estão divididos em quatro classes: BIOGRAFIA, HISTÓRIA, DOUTRINA E PROFECIA.

a) BIOGRAFIA. São os quatro Evangelhos. A palavra Evangelho significa "Boas Novas". Cada um dos quatro evangelhos do Novo Testamento narra a história da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Esses evangelhos são composições anônimas que levam o nome dos seus autores no título. Todos os quatro evangelhos foram reunidos logo após o Evangelho de João ter sido escrito. A coleção de quatro livros era conhecida como "O Evangelho" no começo do segundo século. Assim, o cristianismo primitivo sempre aceitou esses evangelhos porque conheciam seus autores. São eles:

a.1) Evangelho de Mateus. Este evangelho começa com a genealogia de Jesus e a história do seu nascimento, e termina com o comissionamento dos discípulos por Jesus depois de ressuscitado. O principal objetivo do evangelho de Mateus é mostrar para os judeus que Jesus é o Messias. Este Evangelho era considerado o manifesto da Igreja de Jerusalém e, por conseguinte, o documento fundamental do início da fé cristã.

Mateus apresenta Jesus como o cumprimento da esperança profética de Israel. Ele mostra o cumprimento das profecias do Antigo Testamento, a saber, o modo como Jesus nasceu (Mt.1:22,23), o lugar do seu nascimento (Mt.2:5,6), o seu regresso do Egito (Mt.2:15), sua residência em Nazaré (Mt.2:23), o precursor messiânico (Mt.3:1-3), o território principal do seu ministério público (Mt.4:14-16), o seu ministério de cura (Mt.8:17), a sua missão como o servo de Deus (Mt.12:17-21), os seus ensinos por parábolas (Mt.13:34,35), a sua entrada triunfal em Jerusalém (Mt.21:4,5), a sua prisão (Mt.26:50,56).

a.2) Evangelho de Marcos. Dentre os quatro Evangelhos, Marcos é o relato mais conciso do “princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc.1:1). Embora o autor não se identifique pelo nome no livro, o testemunho primitivo e unânime da Igreja é que João Marcos foi quem o escreveu. Ele foi criado em Jerusalém e pertenceu à primeira geração de cristãos (Atos 12:12). Teve a oportunidade ímpar de colaborar no ministério de três apóstolos: Paulo (Atos 13:1-13; Cl.4:10; Fm.24), Barnabé (Atos 15:39) e Pedro (1Pd.5:13). Segundo os estudiosos, Marcos escreveu o seu Evangelho em Roma e destinou-o aos crentes de Roma. É possível que seja o primeiro dos quatro Evangelhos escritos.

a.3) Evangelho de Lucas. O Evangelho segundo Lucas é o primeiro dos dois livros endereçados a uma pessoa por nome Teófilo (Lc.1:3; Atos 1:1). Embora o autor não se identifique pelo nome em nenhum dos dois livros, o testemunho unânime do cristianismo primitivo e as evidências internas indicam a autoria de Lucas nos dois casos.

Lucas escreveu este Evangelho aos gentios para proporcionar-lhes um registro completo e exato de “tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar, até ao dia em que foi recebido em cima” (Atos 1:1b, 2a).

a.4) Evangelho de João. Este Evangelho é ímpar entre os quatro Evangelhos. Relata muitos fatos do ministério de Jesus na Judéia e em Jerusalém que não se acham nos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), e revela mais a fundo o mistério da pessoa de Jesus. O autor identifica-se indiretamente como discípulo “a quem Jesus amava” (João 13:23; 19:26; 20:2; 21:7,20). Segundo testemunhos muito antigos, os presbíteros da Igreja da Ásia menor pediram ao venerável ancião e apóstolo João, residente em Éfeso, que escrevesse este “Evangelho espiritual” para contestar e refutar uma perigosa heresia concernente à natureza, pessoa e deidade de Jesus, propagada por falsos mestres. O Evangelho Segundo João continua sendo para a Igreja uma grandiosa exposição teológica da “Verdade”, como a temos personalizada em Jesus Cristo.

b)    HISTÓRICO: ATOS DOS APÓSTOLOS. Este livro é a continuação do Evangelho de Lucas (Atos 1:1,2) e conta a história de como a mensagem cristã foi anunciada em Jerusalém, Samaria e nas demais regiões do império Romano (Atos 1:8). Nesse livro, destacam-se duas pessoas: Paulo e Pedro. Pedro dirige o trabalho cristão em Jerusalém, Samaria (Atos 1:12 a 8:25), Lida, Jope e Cesaréia (Atos 9:32 a 11:18). Esse livro também trata da conversão do apóstolo Paulo (Atos 9) e de suas viagens missionárias pelo Império Romano (Atos 13-28).

Embora o livro não identifique nominalmente o autor, o testemunho unânime do cristianismo primitivo e a evidência interna confirmatória deste livro denotam que ele foi escrito por Lucas, “o médico amado” (Cl.4:14).

Atos abrange, de modo seletivo, os primeiros trinta anos da história da Igreja. Como historiador eclesiástico, Lucas descreve, em Atos, a propagação do Evangelho, partindo de Jerusalém até Roma. Ele menciona nada menos que 32 países, 54 cidades, 9 ilhas do Mediterrâneo, 95 diferentes pessoas e uma variedade de membros e funcionários do governo com seus títulos precisos. A arqueologia continua a confirmar a admirável exatidão de Lucas em todos os seus pormenores. Como teólogo, Lucas descreve com habilidade a relevância de várias experiências e eventos dos primeiros anos da Igreja. O livro mostra que o segredo do progresso da Igreja é a plenitude do Espírito Santo.

c)    DOUTRINA. Os livros doutrinários são vinte e um. A maioria dos livros compõem-se de cartas escritas para certos grupos de crentes. Com frequência abordam problemas específicos que alguns daqueles grupos estavam enfrentando, ao procurarem seguir a maneira de viver cristã. Ao escrever a esses crentes, os autores desses livros explicaram as grandes verdades a respeito de Jesus Cristo e Sua obra, se ainda não as haviam compreendido. Os autores sagrados igualmente descreveram a relação entre os crentes e Cristo, e como os crentes devem viver como resultado disso. As poderosas mensagens que Deus inspirou que escrevessem não visavam apenas aos primeiros discípulos, mas também "todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo" (1Co.1:2).

Podem ser classificados da seguinte forma:

c.1) Epístolas Paulinas. As epístolas paulinas são Cartas escritas pelo apóstolo Paulo. Essas Epístolas/Cartas tratam de pontos teológicos importantes para o desenvolvimento da doutrina cristã no princípio da Igreja. Geralmente, essas Epístolas foram escritas tanto para indivíduos, quanto para as primeiras comunidades cristãs. São elas: Romanos; 1Coríntios; 2Coríntios; Gálatas; Efésios; Filipenses; Colossenses; 1Tessalonicenses; 2Tessalonicenses; 1Timóteo; 2Timóteo; Tito e Filemon. São treze maravilhosas Cartas.

c.2) Epístolas Universais. Compreende as Epístolas escritas para a Igreja em geral. São elas:

·         Epístola de Tiago - Escrito por Tiago, irmão de Jesus e de Judas.

·         Primeira Epístola de Pedro - Escrita por Pedro.

·         Segunda Epístola de Pedro - Escrita por Pedro.

·         Primeira Epístola de João - Escrita por João.

·         Segunda Epístola de João - Escrita por João.

·         Terceira Epístola de João - Escrita por João.

·         Epístola de Judas - Escrita por Judas, o irmão de Jesus e de Tiago.

·    Hebreus. Foi escrito principalmente para os cristãos judeus que estavam sob perseguição e esmorecimento. O escritor procura fortalecê-los na fé em Cristo, demonstrando cuidadosamente a superioridade e finalidade da revelação e redenção da parte de Deus em Jesus Cristo. Sua autoria é incerta. A ciência moderna rejeita ter sido escrita por Paulo. Até mesmo entre os pais da Igreja sua autoria foi debatida. Orígenes escreveu: "Os homens dos tempos antigos afirmaram que Paulo foi o autor, mas quem escreveu essa Epístola apenas Deus sabe". O que se sabe é que ela foi escrita na segunda geração de cristãos (Hb.2:1-4) e após um intervalo considerável de tempo depois da conversão dos destinatários (Hb.5:12).

d)    PROFETICO: APOCALIPSE. O livro de Apocalipse é uma profecia (Ap.1:3; 22:7,10,18-19) que assegura a vitória de Cristo e da Igreja sobre todos os seus adversários. Embora haja profecias em quase todos os livros do Novo Testamento, somente o Apocalipse pode ser considerado um documento rigorosamente profético. Aliás, até o seu título é profético; segundo estudiosos, a palavra "Apocalipses" é composta de duas partes: “Apo”, que significa "dentro para fora"; e “kalupsis”, que significacobertura ou véu”. “Apocalupsis”, portanto, significa tirar o véu ou descobrir o que estava oculto. A ordem de Deus é: "Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo" (Ap.22:10). Quando João diz “o tempo está próximo”, está insistindo com seus leitores para que estejam prontos para o Juízo Final e o estabelecimento do Reino de Deus em sua forma plena. Não sabemos quando esses eventos ocorrerão, mas devemos estar sempre preparados, pois eles acontecerão rapidamente, e não nos será dada outra oportunidade para mudar de lado.

Os 27 livros do Novo Testamento foram escritos em diversos lugares e por autores que classificaram seus Escritos como inspirados, ao lado dos Escritos do Antigo Testamento. Entretanto, ao contrário do Antigo Testamento, o Novo foi produzido em um curto espaço de tempo, durante menos de um século. Esses livros eram respeitados, colecionados e circulavam no princípio da Igreja como Escrituras Sagradas. O fato desses livros terem sido lidos, citados, colecionados, e passados de mão em mão dentro das igrejas do início do cristianismo, assegura que a Igreja Primitiva os tinha como proféticos ou divinamente inspirados desde o começo.

2. Canonicidade do Novo Testamento

Segundo argumento do teólogo Norman L. Gleisler, o fator determinante na canonização do Novo Testamento foi a inspiração, e o teste primordial era a apostolicidade. Se era possível determinar que um livro desfrutava de autoridade apostólica, não haveria razão para questionar sua autenticidade ou veracidade. Na terminologia do Novo Testamento, a Igreja foi “edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas” (Ef.2:20), a quem Cristo havia prometido guiar a “toda a verdade” (João 16:13) por intermédio do Espírito Santo. Diz-se que a Igreja de Jerusalém perseverava no “ensino dos apóstolos” (Atos 2:42).

O termo “apostólico” conforme foi usado para o teste de canonicidade não significa necessariamente “autoria apostólica”, ou “aquilo que foi preparado sob direção dos apóstolos”, a menos que a palavra “apóstolo” seja tomada em seu sentido não técnico, significando alguém além dos doze apóstolos ou Paulo. Nesse sentido não técnico, Barnabé é chamado de apóstolo (Atos 14:14), assim como Tiago (Gl.1:19) e, aparentemente, mais alguns (Rm.16:7; 2Co.8:23; Fp.2:25).

Não parece ser necessário pensar em Marcos e Lucas como auxiliares dos apóstolos, ou dizer que o autor de Tiago era um apóstolo, para não falar de Judas ou do autor de Hebreus. Na verdade, o autor de Hebreus nega que é apóstolo observando que a mensagem de Cristo “foi anunciada a nós [leitores e autor] por aqueles [os apóstolos] que o ouviram” (Hb.2:3). É mais inteligível aceitar o argumento de alguns teólogos e da maior parte dos protestantes de que é a autoridade apostólica, ou a aprovação apostólica, o teste principal para a canonicidade, e não simplesmente a autoria apostólica.

Convém lembrar, porém, que o cânon foi concluído na realidade quando o último livro do Novo Testamento foi escrito. Contudo, antes de fechar o cânon do Novo Testamento, houve a contestação de 07 Livros. Um Livro contestado é aquele que, embora preservado, é objeto de dúvidas, e não simplesmente um Livro que não é citado ou incluído em determinada lista. Estes Livros contestados, classificados como Antilegomena, foram: Hebreus, Tiago, 2Pedro, 2 e 3João, Judas e Apocalipse (Extraído do Livro “Introdução geral à Bíblia”, de Norman L. Gleisler).

-Hebreus. Esse Livro foi questionado por se tratar de obra “anônima”. No Oriente, onde Paulo é considerado seu autor, o Livro foi acolhido imediatamente. No Ocidente, o processo foi mais lento, por causa da incerteza no tocante à sua autoria apostólica e, possivelmente, porque indivíduos da seita montanista apelaram a Hebreus para comprovar suas doutrinas errôneas. No século 4, graças à influência de Jerônimo e Agostinho, o Ocidente finalmente reconheceu a canonicidade da Epístola. Outra razão pela qual o Ocidente demorou a se decidir se deve à sua ênfase na autoria apostólica, e não na autoridade apostólica, como o teste correto para a canonicidade.

-Tiago. Esse livro teve sua veracidade questionada, embora houvesse quem duvidasse também de sua autoria. O suposto conflito com Paulo em torno da justificação pela fé deteve sua aceitação plena até a época de Eusébio. Por causa do trabalho de Orígenes, Eusébio (que era pessoalmente a favor de Tiago), Jerônimo e Agostinho, o Ocidente por fim reconheceu a natureza complementar do Livro com as cartas de Paulo e, portanto, sua canonicidade.

-2Pedro. A genuinidade de 2Pedro foi questionada. Na verdade, nenhum outro Livro do Novo Testamento tem sido questionado de forma tão persistente quanto esse. Jerônimo afirmou que a hesitação em torno da aceitação de 2Pedro se devia à diferença de estilo em comparação com 1Pedro. Se essa característica se devia a um amanuense diferente, conforme pensava Jerônimo, talvez jamais se saiba ao certo. Está claro, porém, que hoje há amplas evidências que confirmam que essa Carta é acertadamente atribuída ao apóstolo Pedro.

-2 e 3João. Esses Livros também tiveram sua genuinidade questionada. Dada à sua natureza privada e circulação limitada, não tiveram uma aceitação generalizada. O autor identifica-se não como apóstolo, mas como “presbítero”, outro fato que impediu sua aceitação. Apesar de todas essas dificuldades, as duas Cartas foram mais amplamente reconhecidas do que 2Pedro, tendo sido reconhecidas pelo Cânon Muratoriano e também por alguns pais da Igreja do século 2. Além disso, a semelhança de estilo e de pensamento com 1João e o uso de “presbítero” pelos apóstolos em outras ocasiões (1Pd.5:1), favorecem fortemente a autoria joanina.

-Judas. A contestação desse Livro se deu em torno de sua autenticidade. A maior parte dos que questionaram Judas o fizeram com base em supostas referências ao pseudoepigráfico Livro de Enoque (vv.14,15) e possivelmente também à “Assunção de Moisés” (v.9). Orígenes sugere isso, e Jerônimo afirma especificamente que essa é a razão de Judas ter sido contestado. É interessante observar que Tertuliano defendeu que Judas estava imbuído de autoridade precisamente por causa da referência a Enoque. Contudo, a explicação que mais tem favorecido o Livro é que a citação a Enoque não requer a aprovação ao Livro como um todo, estendendo-se unicamente àquelas porções que ele utiliza para o seu propósito. Essa situação não é materialmente diferente das referencias que Paulo fez aos poetas pagãos (Atos 17:28; 1Co.15:33; Tt.1:12).

-Apocalipse. O Apocalipse foi incluído nos “Antilegomena” porque teve sua autenticidade contestada. A doutrina do quiliasmo (milenarismo) foi o ponto central da controvérsia, que durou mais do que qualquer outro livro do Novo Testamento. É curioso que Apocalipse tenha sido um dos primeiros livros a ser reconhecido nos escritos dos pais apostólicos aos quais temos acesso e um dos últimos a ser questionado. São compreensíveis as evidências favoráveis à recepção imediata de Apocalipse no século 1, uma vez que as “sete igrejas” (Ap.2-3), às quais o Livro foi endereçado, naturalmente haveriam de querer que uma obra associada a elas tão diretamente fosse preservada. Por volta de meados do século 3, Dionísio, bispo de Alexandria, levantou sua voz influente contra o Apocalipse. Suas ideias prevaleceram passando pelo tempo de Eusébio de Cesareia até a época de Atanásio e do Concílio de Cartago (397 d.C.) quando essa tendência foi revertida. Parece claro que não se tratava de uma questão de inspiração, mas de interpretação e de associação com ênfases doutrinárias especificas que levaram à contestação. Logo que isso ficou claro, a autenticidade apostólica autêntica de Apocalipse foi confirmada.

Em suma, o teste principal de canonicidade nos tempos do Novo Testamento consistia na autoridade apostólica e profética. Os escritos que chegaram às Igrejas Locais (ou individuais) eram lidos, difundidos, colecionados e até citados como parte do cânon das Escrituras. Esses escritos complementavam a Palavra inspirada de Deus e constituíam parte integral dela juntamente com as Escrituras previamente reconhecidas do Antigo Testamento.

Deus é a fonte da canonicidade e em sua providência ele usou vários estímulos para concluir o reconhecimento e a ratificação de todos os 27 livros do Novo Testamento. Esses estímulos – práticos, teológicos e de natureza política – foram instrumentais na coleção e na transmissão das Escrituras do Novo Testamento.

3. Particularidades do Novo Testamento

Desde o encerramento do cânon do Novo Testamento, os cristãos só reconhecem 27 Livros. Por volta do ano 100 da Era Cristã o Novo Testamento estava completo, ou substancialmente completo, sendo que a maioria dos livros já existia de 20 a 40 anos antes dessa data. A lista mais antiga dos livros do Novo Testamento apareceu em 367 d.C., numa carta de Atanásio, bispo de Alexandria. A ordem era: Evangelhos, Atos, epístolas gerais, epístolas paulinas e Apocalipse. O cânon do Novo Testamento foi oficialmente reconhecido como escritura sagrada no Concílio de Cartago em 397. Esse concílio decretou que nada devia ser lido na Igreja com o nome de Novo Testamento, a não ser os nossos 27 livros canônicos.

Outra particularidade é que todos os 27 Livros foram escritos em grego koiné, um dialeto comum e presente por toda a cultura de fala grega e que muito auxiliou na propagação do Evangelho nos primórdios do cristianismo (Atos 19:10). Algumas expressões, mesmo redigidas no vernáculo grego, possuem significado em aramaico. Dentre elas, citamos: “Talitá cumi”, que significa: “menina, levanta-te” (Mc.5:41); “Aba Pai”, que significa: Papai, meu pai (Mc.14:36); “Eloí, Eloí, lemá sabactâni?”, que significa: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mc.15:34).

Outra particularidade que destacamos é que estes Livros, conforme se encontram em nossas Bíblias, não seguem, em sua maioria, a ordem cronológica da composição original. A maior parte das epístolas foi escrita antes mesmo dos Evangelhos. Marcos foi o primeiro dos quatro evangelhos a ser escrito e João o último. Mateus ocupa o primeiro lugar em nossas Bíblias porque, como foi destinado especialmente aos judeus, faz a transição natural do Antigo para o Novo Testamento com a genealogia de Jesus.

Contudo, uma vez que as nossas Bíblias não seguem a ordem cronológica da formação do Novo Testamento, por que o Evangelho de Lucas não vem logo após o de João, ficando ao lado de Atos, que também foi escrito por Lucas? É que Mateus, Marcos e Lucas são livros “sinóticos”, isto é, tratados com um foco semelhante ou mesma visão em relação a Cristo. O Evangelho de João é mais místico, enfatiza a divindade de Jesus; os outros o fazem, mas não com a mesma intensidade de João.

As Epístolas também não seguem uma ordem cronológica. As paulinas, por exemplo, foram organizadas diferentemente da cronologia original. A primeira Epístola de Paulo foi a de Gálatas, segundo alguns, ou 1Tessalonicenses, segundo outros; finalizando com as pastorais. A sequência adotada em nossas Bíblias para as Epístolas paulinas segue a ordem decrescente; da maior para a menor em número de capítulos. Começa, então, com a Epístola aos Romanos (dezesseis capítulos) e termina com Filemon (um capítulo). Além disso, a Epístola aos Romanos serve como transição natural de Atos para as Epístolas paulinas. O livro de Atos termina com a prisão de Paulo em Roma.

A carta aos Hebreus vem logo após as Epístolas reconhecidamente de Paulo. Como não se tem certeza da autoria da Epístola aos Hebreus, e alguns a atribuem a Paulo, ela foi deixada onde a conhecemos atualmente. Há também, em nossas Bíblias, uma ordem decrescente nas Epístolas gerais, porém, em duas etapas distintas, ou seja, de Hebreus às Cartas de Pedro; das Epístolas de João a Judas.

O livro do Apocalipse, como foi o último livro da Bíblia a ser escrito, está, cronologicamente, no lugar certo. Ele foi escrito pelo apóstolo João, por volta do ano de 96 d.C.

CONCLUSÃO

Como a Estrutura atual da Bíblia ficou sujeita a diversas variações históricas, seria um exagero supor que essa estrutura foi dada por Deus. Contudo, a ordem em que ela é apresentada não é puramente arbitrária. Na verdade, a ordem evidencia que seu direcionamento é proposital, pelo menos à medida que é organizada em categorias significativas, já que apresenta o desenrolar histórico do drama da revelação redentora. Uma vez que a redenção e a revelação convergem sobre a pessoa de Jesus Cristo, pode-se observar que as várias seções das Escrituras formam uma estrutura cristocêntrica (Lc.24:27,44; João 5:39; Hb.10:7). Em outras palavras, Cristo não é somente o tema de ambos os Testamentos, mas pode ser entendido também como o tema na sequência de cada uma das oito seções das Escrituras Sagradas.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Norman L Geisler. Introdução geral à Bíblia. Vida Nova.

Panorama do Novo Testamento – Jean-Baptiste Sawadogo.