4º Trimestre/2018
Mateus 21:28-32
28. Mas que vos parece? Um homem tinha dois
filhos e, dirigindo-se ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na minha
vinha.
29. Ele, porém, respondendo, disse: Não quero.
Mas, depois, arrependendo-se, foi.
30. E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de
igual modo; e, respondendo ele, disse: Eu vou, senhor; e não foi.
31. Qual dos dois fez a vontade do pai?
Disseram-lhe eles: O primeiro. Disse-lhes Jesus: Em verdade vos digo que os
publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no Reino de Deus.
32. Porque João veio a vós no caminho de
justiça, e não o crestes, mas os publicanos e as meretrizes o creram; vós,
porém, vendo isso, nem depois vos arrependestes para o crer.
Texto Áureo:
“Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu
vos mando” (João 15:14).
INTRODUÇÃO
Dando continuidade ao estudo das Parábolas de Jesus, trataremos nesta
Aula da Parábola dos dois filhos, registrada no Evangelho de Mateus. O objetivo
central da Parábola é a importância da obediência. Nesta Parábola, Jesus fez
uma clara distinção entre duas classes de ouvintes: a religiosa e aquela
abertamente discriminada pelos judeus e constituída de pecadores publicanos e
meretrizes (Mt.9:10,11). Jesus quis mostrar a verdadeira posição dos líderes
religiosos judaicos no Reino dos céus. Jesus deixa claro que os judeus perderam
sua posição em virtude de não terem feito a vontade de Deus. O Senhor mostra a
necessidade de se obedecer à sua Palavra e que a religiosidade aparente não tem
nenhum valor, desmascarando a cúpula da elite religiosa judaica, mas, também,
revelando qual será o fim daqueles que se apegam a um formalismo religioso e
vazio.
I. INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DOS DOIS FILHOS
Esta parábola não foi diretamente interpretada por Jesus, mas, tendo em
vista a Sua conclusão e o próprio contexto da Parábola, temos uma aplicação
clara por parte do Senhor (Mt.21:31,32). Nesta Parábola, Jesus afirma que o pai
tinha dois filhos e pediu ao primeiro que fosse trabalhar na sua vinha; ele,
porém, disse que não iria; mas, depois, arrependido, foi. Em seguida, pediu ao
outro filho que o fizesse e, embora tenha dito prontamente que iria, não foi.
Jesus, então, perguntou aos religiosos, que o interpelavam, quem havia feito a
vontade de Deus, e eles responderam que foi o primeiro filho. Concluindo, Jesus
disse que, por terem crido, os publicanos e meretrizes entrariam adiante deles
no reino de Deus, já que haviam crido em João Batista, que havia vindo “no
caminho de justiça” e, mesmo assim, os religiosos não haviam se arrependido
para crer.
A Parábola, portanto, deve ser entendida como uma ilustração que Jesus
faz às autoridades religiosas, para demonstrar como eles haviam perdido a
oportunidade de alcançar a salvação e o que havia motivado esta circunstância
tão deplorável, que, inclusive, fizera o Senhor chorar sobre Jerusalém pouco
antes (Lc.19:41).
1. O Pai, figura de Deus (Mt.21:28). O primeiro elemento da parábola é o Pai que
tinha dois filhos, para se utilizar da expressão do próprio texto bíblico – “um
homem que tinha dois filhos”. Este pai representa o nosso Deus. Considerar a
Deus como Pai era algo comum entre os judeus, tratava-se de um ensino
corriqueiro entre os rabinos e escribas de Israel, mas implicava, também, em
uma necessidade de honrar a Deus, pois os pais, como indicava um dos
mandamentos, deveriam sempre ser honrados para que os dias fossem prolongados
na Terra. O Senhor dá ênfase essa consideração de Deus como Pai quando fala do
relacionamento espiritual entre Deus e o homem – “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” (Mt.5:16). Assim,
se de um lado esta expressão demonstra que o relacionamento entre Deus e o
homem é pautado pelo amor, também revela a necessidade que o homem tem de
respeitar, reverenciar e obedecer a Deus.
2. A Vinha (Mt.21:28). A Vinha é uma plantação de uvas, e em Israel, era um lugar bem protegido
e cuidado. Na Parábola, o pai, além de ser merecedor de honra por parte dos
filhos, tinha uma vinha. Era, portanto, proprietário, era dono do campo. Nas
Escrituras Sagradas, a Vinha frequentemente serve como figura para retratar o
Reino de Deus na Terra. O capítulo 5 de Isaias assemelha a casa de Israel e os
homens de Judá a uma vinha, à Sua planta dileta. O plano de Deus exigia que Sua
Vinha recebesse os cuidados de viticultores. Embora o mundo em que vivemos, a
Terra, tenha sido criado por Deus, e embora Ele não possa ser enriquecido por quaisquer
meios ou esforços dos homens, Ele organizou de tal maneira os negócios do Seu
Reino que Ele depende de trabalhadores.
Na Parábola, a vinha era do pai, pertencia a ele, apesar de os filhos se
mostrarem rebeldes em um determinado instante da parábola. A rebeldia dos
filhos não eliminou o fato de a vinha ser do pai, como a mostrar que a
existência do pecado e do mal em momento algum retiraram a soberania de Deus, o
senhorio de Deus sobre este mundo físico (cf.Sl.24:1). Não há, portanto,
qualquer possibilidade de ter respaldo bíblico a falsa doutrina de que, com o
pecado, o diabo tornou-se senhor deste planeta. Também, não há respaldo bíblico
a concepção deísta de que Deus tão somente criou o Universo e o abandonou à
própria sorte.
3. Os Filhos (Mt.21:28). O Pai tinha dois filhos. Isto nos mostra, claramente, que, diante de
Deus, os homens estão divididos em apenas dois grupos: os que fazem a vontade
de Deus e os que não fazem a vontade de Deus. Jesus está tratando na Parábola a
respeito do problema da rejeição do evangelho, da rejeição da Palavra de Deus,
diante das autoridades religiosas judaicas e, portanto, não faz sentido
entendermos por “filhos”, aqui, apenas aqueles que aceitaram a Cristo como
Senhor e Salvador. Na verdade, temos que entender, aqui, como “filhos” toda a
humanidade, todos os seres humanos que, por terem sido criados por Deus, são,
neste sentido, seus “filhos, como dá entender o texto de Malaquias 2:10: ” – “Não temos nós todos um mesmo Pai? Não nos
criou um mesmo Deus?”.
Portanto, aqui, os filhos representam as criaturas humanas. É certo que,
depois da obra vicária de Cristo, com a edificação da Igreja, não podemos mais
considerar, como costumam dizer por aí, que “todos os homens são filhos de
Deus”. O ensino bíblico afirma que somente são filhos de Deus aqueles que
creram em Jesus (João 1:12), que andam segundo o espírito, porque estão em
Cristo Jesus (Rm.8:1,16). As demais pessoas são apenas “criaturas de Deus”
(Tg.1:18). Entretanto, no contexto da Parábola, estes filhos envolvem todos os
seres humanos.
Na Parábola, o Pai chamou os filhos e pediu-lhes que fossem trabalhar na
sua vinha. No desdobrar desta história, percebemos que esses dois filhos
equivalem ao filho pródigo e ao seu irmão mais velho (vide Lc.15:11-32);
equivale, também, às personagens da Parábola do Fariseu e do Publicano
(cf.18:9-17). No caso do filho pródigo, ele lamentou o fato de ter transgredido
e, com arrependimento sincero, voltou para o seu pai e disse que queria
servi-lo. Por outro lado, o filho mais velho alegava que sempre tinha servido
ao seu pai; mas, na hora de “vamos ver”, não concordava e nem simpatizava com o
ponto de vista do pai. Assim, também, é o contraste entre o fariseu e o
publicano. O fariseu fez grandes alegações de ser o predileto de Deus, mas
desprezava outras pessoas, tais como o publicano. Foi, porém, o publicano
(embora tivesse anteriormente se entregado a uma vida pecaminosa) quem se
arrependeu profundamente e deixou o pecado para trás.
Na presente Parábola, semelhantemente, o pai diz aos dois filhos,
individualmente: “Filho, vai hoje trabalhar na vinha”. Exigia atendimento
imediato – “hoje”. O resultado do pedido do pai foi decepcionante nos dois casos.
Um disse: “não quero”, e o outro, embora, tivesse dito que iria, “não foi”.
Estas respostas ilustram, de modo geral, a resposta imediata dos homens à
chamada de Deus. Um dos grupos recusa diretamente a obediência à chamada, ao
passo que o outro promete obediência, mas não cumpre a promessa. O primeiro
grupo desafia abertamente; o outro oferece alguma evidência da disposição de
obedecer, mas a promessa da obediência não é cumprida. O ensino claro da
história é que todos, em grau maior ou menor, deixam de presar a Deus o serviço
que deles é exigido.
4. O arrependimento nunca é tardio, pois Deus está pronto a perdoar o
pecador arrependido. O
primeiro filho depois de ter sido rude de pronto, de ter se negado a atender ao
chamado do pai, arrependeu-se e foi. Jesus interpretando a Parábola disse que
Publicanos e meretrizes eram como o primeiro filho. A princípio eles não
manifestaram o desejo de obedecer a João Batista, porém, mais tarde muitos
deles se arrependeram, e creram em Jesus. Portanto, os grandes pecadores entraram no Reino de Deus enquanto os
líderes religiosos, satisfeitos consigo mesmos, permaneceram do lado de fora.
Assim ocorreu com aqueles que não eram judeus, ou seja, os gentios.
Depois de terem orgulhosamente rejeitado o senhorio divino, aproveitaram do
tempo que o Senhor lhes deu e, arrependidos, atendendo assim ao chamado do
evangelho, resolveram servir na Vinha do Senhor, resolveram iniciar o seu
serviço ao Pai. Com este gesto, iniciado com a conversão dos samaritanos
através da pregação de Filipe (At.8:5-12)), o evangelho saiu dos domínios do
povo judeu e alcançou os gentios, que, assim, ganharam e aproveitaram esta nova
oportunidade que se lhes foi lançada, que era o grande mistério de Deus oculto
através dos séculos (Ef.3:1-6). Os gentios chegaram, assim, à frente dos judeus
no Reino de Deus.
II. QUANDO AS PALAVRAS NÃO SE COADUNAM COM A
PRÁTICA
“E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de
igual modo [ou seja, falou-lhe, dizendo: “Filho, vai
trabalhar hoje na minha Vinha]; e,
respondendo ele, disse: Eu vou, senhor; e não foi” (Mt.21:30).
A
resposta deste filho foi positiva, respeitosa, educada. A primeira impressão
pode nos levar a pensar que estamos diante de um filho exemplar, se não fora o
fato de, num segundo momento constatarmos que, na verdade, ele falou, mas não
cumpriu o que disse. Ele enganou o seu Pai. Suas palavras não se coadunaram com
a prática. Lá no seu íntimo não havia nenhuma vontade correspondente para pôr
mãos à obra. Uma voz dizia dentro dele, o tempo todo: ”não irei”.
A vontade é o tribunal de último recurso.
Ela está assentada no trono. Poderão vir mil inclinações da iniquidade, mas se
a vontade escolher o bem, ela dominará – não mediante suas próprias forças, obviamente,
mas pelo Espirito de Cristo lhe dá força e poder para prevalecer. E como
recebemos o poder de Cristo para vencer? Não através de boas resoluções em si
mesmas. O segundo filho dependia das suas boas resoluções, mas elas o traíram.
Qual é, portanto, a solução? O arrependimento. O primeiro filho, depois,
arrependido, foi servir na vinha do seu Pai. Somente o arrependimento abre o
caminho para o Espírito Santo revestir de poder a vontade, e dar-lhe forças
para vencer.
Na Parábola, o segundo filho representava os
religiosos de Israel, principalmente seus líderes - os sacerdotes, os escribas,
os fariseus -, os quais usavam a religião para encobrir seus erros, suas
falcatruas, seus estelionatos espirituais.
Quanto à desobediência ao pai, esse segundo filho foi igual ao primeiro.
O primeiro disse que não queria ir, mas foi; o outro disse que ia, mas não foi.
Ambos foram desobedientes. Porém, o segundo foi, moralmente, muito pior;
comprovou ser um homem em quem não se podia confiar, um homem que não
valorizava sua palavra. Esta é uma das piores espécies de pessoas.
Este segundo filho traz uma triste
constatação: a de que um falso líder religioso é pior do que um incrédulo. O
líder religioso é alguém que precisa ser confiável. Alguns, ou muitos, pagam
caro até descobrir que estão tratando, na verdade, com um falso líder religioso.
O segundo filho disse ao pai que ia trabalhar na vinha, mas não foi, e
não há qualquer menção de arrependimento, deixando seu pai pensar que ele
estava na Vinha, e isto o impedia de contratar outra pessoa para ocupar o seu
lugar. Enquanto isso, as uvas iam se perdendo na Vinha.
Hoje é possível pensar que esse segundo filho esteja agindo, da mesma
forma, nos meios evangélicos; ele continua sendo o pior; ele continua sendo
hipócrita. A hipocrisia é corriqueira e bastante danosa. Muitos no nosso meio
gesticulam e convencem no discurso, entretanto, o seu discurso está totalmente
desassociado da prática, como ocorreu com o segundo filho. Isto tem
decepcionado sobremaneira o orbe evangélico que preza pelo zelo da obra do
Senhor.
Assim como o primeiro filho havia demonstrado rebeldia logo de pronto,
quando lhe havia sido feito o chamado, o segundo filho também revelou rebeldia
e desobediência, uma vez que, embora tivesse falado de pronto que ir trabalhar
na vinha e até reverenciado o pai como senhor, simplesmente deu de ombros ao
mandamento, não cumprindo a promessa que havia feito.
Ambos os filhos se mostraram rebeldes, ambos os filhos se mostraram
desobedientes. Por isso, esta Parábola ilustra bem a verdade espiritual que
seria explicitada pelo apóstolo Paulo em sua carta aos romanos:
“porque todos pecaram e destituídos foram da
glória de Deus” (Rm.3:23).
“Não há ninguém que entenda, não há ninguém
que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há
quem faça o bem, não há nem um só” (Rm.3:11,12).
Jesus mostra nesta Parábola que de nada adiantam as boas intenções, a boa
vontade, se ela é desacompanhada de ações concretas, de atitudes reais. Entre
os judeus, naquela época, talvez por influência do pensamento filosófico grego,
havia a crença de que as boas intenções eram suficientes para justificar uma
determinada ação. Entretanto, como diz o famoso provérbio popular, “de bem
intencionados o inferno está cheio”.
Somente a disposição, a boa intenção não justifica uma atitude. O que
importa não é o que é dito, mas o que é feito. O segundo filho falou bonito e
até demonstrou uma reverência e submissão elogiáveis, mas não fez o que o pai
havia pedido e, por isso, era tão desobediente e rebelde quanto o primeiro
filho. Não há diferença alguma na atitude deste em relação a do outro com
respeito ao pai. Jesus enfatizava, assim, que os judeus não mereceriam nenhuma
atitude distinta da dos gentios, caso O rejeitassem como o Messias.
Vivemos dias em que as pessoas se arrogam o direito de ser chamadas filhos
de Deus, só porque pertencem a uma determinada denominação religiosa, ou,
ainda, porque vivem segundo critérios próprios de pureza e de santidade. São
“crentes ao seu modo”, que, fazendo o que querem e como querem, acham que, com
isto, terão pleno direito a serem considerados como herdeiros e merecedores da
salvação. É o predomínio do “self-service” religioso, onde cada pessoa vive uma
religiosidade própria, ditada pela sua própria vontade.
No capítulo 8 do Evangelho segundo escreveu João, entende-se pelo
discurso do Senhor, que os judeus se achavam que, por serem descendentes
biológicos de Abraão, estavam com sua salvação garantida, tinham resguardada a
sua filiação divina (João 8:33). Todavia, Jesus mostrou-lhes que não bastava a
origem étnica para que se alcançasse a salvação, mas, sim, o essencial era
saber o que estavam fazendo, a quem estavam servindo e, eles, como serviam ao
pecado, não passavam de filhos do diabo (João 8:39-44).
Portanto, a obediência ao Senhor não consiste em proferir palavras
estéreis e religiosas, mas em praticar a verdade revelada na Palavra de Deus de
forma concreta e precisa (Mt.7:21).
Os líderes religiosos confessaram a Jesus, no momento que Ele terminou de
proferir esta Parábola e indagou a eles: “Qual dos dois fez a vontade do
pai?" (Mt.21:31a). Eles responderam: “O primeiro. Disse-lhes Jesus: Em
verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no
Reino de Deus” (Mt.21:31). Ao responderem corretamente à pergunta de Jesus,
eles pronunciaram um juízo de condenação contra si próprio, pois o tipo de
resposta que eles deram a Jesus os identificou com o filho que contradisse com
um não de fato e um sim apenas dos lábios. Eles estão no grupo dos religiosos
que nada fazem além de pronunciar palavras bonitas, porém, descompromissadas.
Infelizmente, a prática de falar e não agir em conformidade é um triste
reflexo do decaído e mau caráter humano. Jesus, porém, exige honestidade e
fidelidade o tempo todo. Como discípulos dEle e cidadãos do Reino, Ele requer
uma equivalência entre aquilo que dizemos e aquilo que vivemos (Sl.15:1-5). Não
pode haver um padrão duplo na vida daqueles que cristãos dizem ser, ou seja,
dizer uma coisa e fazer outra. No Sermão do Monte, Jesus ensina aos seus
discípulos que o falar deles deve ser: "Sim, sim; não, não"
(Mt.5:37b). Tiago também adverte: “Assim falai e assim procedei...” (Tg.2:12).
III. UM CHAMADO A FAZER A VONTADE DE DEUS
“Qual dos dois fez a vontade do pai?
Disseram-lhe eles: O primeiro. Disse-lhes Jesus: Em verdade vos digo que os
publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no Reino de Deus” (Mt.7:31).
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor!
entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está
nos céus” (Mt.7:21).
O Segundo Filho, reverente e obediente nas palavras, rebelou-se
posteriormente e não cumpriu a vontade do pai, simplesmente não atendendo à sua
ordem. Ele é a figura de Israel que, tendo prometido ser a propriedade peculiar
de Deus entre os povos, desviou-se espiritualmente, não cumpriu a lei que lhe
fora dada pelo Senhor e, culminando com esta rebeldia, rejeitou o Messias.
O Primeiro Filho representa os publicanos e as meretrizes, que ouvindo o
chamado do Pai para ir trabalhar na “sua vinha” teve a coragem de dizer: “Não quero”. Declarou, de imediato, sua
rejeição. Não pretendeu enganar seu pai, não quis parecer que era um filho
obediente. O Pai respeitou o livre arbítrio do filho.
“...e, dirigindo-se ao primeiro, disse: Filho,
vai trabalhar hoje na minha vinha. Ele, porém, respondendo, disse: Não
quero...” (Mt.21:28,29).
A resposta do filho, dizendo “não quero”, caracterizava flagrante
desobediência. Desobedeceu, mas não foi hipócrita. A lei de Moisés dava aos
pais condições para exigir a obediência dos filhos. Porém, o Pai não tomou
qualquer medida para exigir o cumprimento de sua ordem, apenas transferiu a sua
oportunidade para o outro filho, que de pronto disse que atenderia à ordem do
pai, o que não aconteceu; foi um hipócrita.
O Primeiro Filho ao receber a ordem do pai, surpreendentemente, foi
ríspido e expressou uma atitude de rebeldia, simplesmente dizendo: “não
quero”(Mt.15:29). Que petulância deste filho! O pai não lhe fez um pedido, lhe
deu uma ordem; como filho primogênito e, por conseguinte, o principal herdeiro
da vinha do pai, seria natural que ele, de imediato, atendesse ao pedido do
pai. Entretanto, desconsiderando que se tratava de uma ordem, onde não havia
sequer espaço para discussão ou debate, o filho tão somente disse: “não quero”.
Observe que o filho foi bem claro: “não quero”. Quando uma pessoa não
quer, não adianta insistirmos em demasia, pois Deus deu o livre arbítrio ao
homem. Deus não obriga os pecadores (representado na Parábola como as
meretrizes, os publicanos) a se converterem. Deus não obriga as suas criaturas
a fazer o que eles não querem fazer. Deus respeita o direito que ele mesmo deu
ao homem, a liberdade de escolha. Porém, a sua Obra precisa ser feita. Caso eu
rejeite o seu convite, ou não cumpra sua ordem, então ele passa a minha oportunidade
para outro.
Aprendemos, aqui, três lições importantes:
·
A primeira lição
que aprendemos é que, embora o pai tenha dado a ordem, embora seja o dono,
deixou, por sua livre e espontânea vontade, que o filho a atendesse ou não.
Isto
revela que os homens foram dotados do livre-arbítrio da parte de Deus e que,
embora Deus seja soberano e o verdadeiro dono de tudo e de todos, por Sua livre
e espontânea vontade, permite que o homem atenda, ou não, ao Seu chamado, às
Suas ordens.
·
A segunda lição
que aprendemos é a de que o fato de o filho ser o primeiro, ter vindo antes,
ser mais velho, não retira a realidade de que tudo somente se fará por
intermédio de um exercício de vontade.
Conquanto se estivesse
diante de uma ordem, que, no fundo, beneficiaria muito mais este filho do que
qualquer outro (não nos esqueçamos de que, como primogênito, seu direito à
herança era superior aos dos demais filhos – Dt.21:17), tudo não passou de uma
questão de vontade.
Aceitar, ou não, o senhorio de Deus é uma
questão de vontade e, portanto, diante do livre-arbítrio, é uma decisão
absolutamente individual, sobre a qual ninguém tem poder. Por isso, na
evangelização, não queiramos convencer as pessoas, mas nos limitemos a pregar o
Evangelho, não desanimando se as pessoas não se decidem por Cristo, pois cabe
tão somente a elas este exercício da vontade.
·
A terceira lição
que aprendemos é a de que, por ser a aceitação a Cristo um mero exercício de
vontade, de nada adiantam e nada significam as justificativas e desculpas.
Muitos
perdem muito tempo tentando justificar ou se desculpar porque não estão vivendo
de acordo com a Palavra de Deus. Não percamos tempos com isto. Sejamos,
naturalmente, polidos e tentemos, ante os argumentos apresentados, encontrar um
viés que nos permita confrontar com a verdade do Evangelho, mas saibamos que o
que importa é o exercício da vontade.
“Mas, depois, arrependendo-se, foi” (Mt.21:29).
Todavia, o Primeiro Filho, a despeito de ter sido rude de pronto, de ter
se negado a atender ao chamado do pai, arrependeu-se e foi. O tempo dado pelo
pai ao primeiro filho, que pela lei poderia ter sido punido no momento que foi
ríspido para com seu pai, gerou o seu devido efeito.
O pai partiu em busca do segundo filho, mas o primeiro filho, certamente,
passou a meditar na bondade do seu pai, na sua prestatividade em suprir-lhe
todas as necessidades, no cuidado que sempre teve para com ele, no cuidado que
sempre devotara à vinha; também relembrou a condição excelente que possuía e,
portanto, viu que havia sido ingrato e insolente para com o seu pai. Sem que o
pai o exigisse, sem que o pai o forçasse, viu que o correto era aproveitar a
oportunidade dada pelo adiamento da condenação e posterior execução da sentença
de morte e, ante a tristeza e a vergonha decorrente deste sentimento, foi
trabalhar na vinha.
E nós, povo de Deus da Nova Aliança, temos ido trabalhar na vinha do
Senhor? Temos servido ao Pai? Ou temos dito em alto e bom som “eu vou, senhor”,
e temos preferido ficar onde sempre estivemos, fazendo a nossa própria vontade,
como fez o Segundo Filho da parábola, simplesmente querendo enganar a nós
mesmos e aos outros?
Só pode ir trabalhar na vinha quem se arrepende, quem muda de vida, quem
é transformado por Jesus. A vida cristã representa uma indispensável mudança de
caráter, conforme Paulo escreveu, exortando os cristãos de Éfeso.
“… Não andeis mais como andam também
os outros gentios, na vaidade do seu sentido, entenebrecidos no entendimento,
separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração,
os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para
com avidez cometerem toda a impureza. Mas vós não aprendestes assim a Cristo,
se é que O tendes ouvido e nele fostes ensinados, como está a verdade em Jesus,
que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe
pelas concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso sentido, e
vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeira justiça
e santidade”(Ef.4:17-24).
Ser salvo, pertencer à Igreja, este novo povo, surgido da reunião dos
arrependidos, é fazer a vontade do Pai, é fazer aquilo que Jesus nos manda.
Assim mostraremos que realmente amamos a Jesus e somos Seus amigos (João
15:14). O que contará na hora da prestação de contas, no Tribunal de Cristo, é
se fizemos, ou não, a vontade de Deus (Mt.7:21).
Os próprios religiosos tiveram de assinar a própria sentença, ao
admitirem que foi o Primeiro Filho (que representa o gentio arrependido -
Mt.21:31), quem fez a vontade de Deus.
Temos feito a vontade de Deus? Não são poucos os que estão a viver
conforme suas próprias vontades, dizendo-se cristãos, dizendo-se servos de
Deus, mas que são desmascarados facilmente até mesmo por aqueles que não são
crentes.
Se somos o “zambujeiro” (Rm.11:17), enxertado na Oliveira, ante a
rejeição do Messias por Israel, não nos gloriemos, como aconselha o apóstolo
Paulo, mas nos esforcemos para nos arrepender dos nossos pecados e, perdoados
por Jesus, fazermos a Sua vontade, pois só estes poderão ingressar no Reino
celestial.
Portanto, a nossa amizade com Jesus depende de fazermos a sua vontade. Em
João 15:14, Jesus é enfático ao ensinar que nós seremos seus amigos se fizermos
o que Ele manda – “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando”.
Quem possui uma fé genuína, sem dúvida, desejará cumprir a vontade de
Deus, ou seja, escutará suas palavras (João 8:47) – “Quem é de Deus ouve as
palavras de Deus...”.
“Prá
fazer a Tua vontade, quero de Ti mais poder, dá-me a Tua santidade, quero só
pra Ti viver” (refrão do hino 339 da Harpa Cristã).
CONCLUSÃO
Por intermédio desta Parábola que estudamos compreendemos o perigo da
indiferença espiritual. Um dos maiores perigos que os seguidores de Jesus podem
correr, principalmente os líderes, ou os membros do ministério eclesiástico da
igreja, é a indiferença espiritual. Os discursos e as palavras espetaculares
têm o poder de esconder as nossas verdadeiras intenções. Muitos se disfarçam
atrás do discurso piedoso, onde no secreto se revela a miséria da vida espiritual
e a tremenda confusão do sagrado com o profano. Que o Senhor nos livre de
persistimos na indiferença espiritual, na indiferença com o próximo. Que possamos
entender que a nossa relação com Deus deve ser profunda, carregada por
experiências práticas para com Deus, em espírito e em verdade.
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) -
William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 76. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação
Pessoal. CPAD.
Gordon Lindsay. A vida e os ensinos de Cristo.
Graça editorial.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. Realizando a
Vontade do Pai. PortalEBD_2005.