4º Trimestre/2012
Texto Básico: Jonas 1:1-3,15,17;
3:8-10; 4:1,2
"E Deus viu as obras deles, como se converteram
do seu mau caminho; e Jesus se arrependeu do mal que tinha Isto lhes faria e
não o fez"(Jn 3:10).
INTRODUÇÃO
O livro de Jonas conta a história
da fuga deste profeta e como Deus o deteve e o fez retomar. Porém esta é mais
do que a história de um homem e de um grande peixe; na verdade, é uma profunda
ilustração da graça e da misericórdia de Deus. Ninguém era menos merecedor do
favor de Deus que o povo de Ninive, a capital da Assiria. E Jonas sabia disso.
Mas compreendia também que Deus os perdoaria e abençoaria, se abandonassem o
pecado e o adorassem. Jonas conhecia o poder da mensagem divina e que, mesmo
através de sua humilde pregação, eles responderiam e seriam poupados do juízo
de Deus. Porém Jonas odiava os assírios e desejava a vingança, não a
misericórdia. Por esta razão fugiu. Finalmente Jonas obedeceu e pregou nas ruas
de Ninive; o povo arrependeu-se e livrou-se do juízo de Deus.
I.
O LIVRO DE JONAS
1. Contexto histórico. O
reinado de Jeroboão II (793-753 a.C) estabelece o contexto histórico da
história de Jonas. Esse monarca foi um dos grande líderes militares da história
de Israel. De acordo com 2Rs 14:25-28, ele impôs sua autoridade sobre os
territórios de Damasco e Hamate, restaurando assim a fronteira ao norte de
Israel dentro dos limites que possuía nos tempos de Salomão (1Rs 8:65). É claro
que o reinado de Jeroboão II, assim como o do seu contemporâneo judeu Azarias
(também chamado de Uzias, 792-740 a.C), introduziu um período de notável paz e
prosperidade. Como Eliseu e Jonas haviam profetizado (2Rs 13:19-25; 14:25), o
reino do Norte desfrutou de uma expansão territorial às custas da Síria. Pelas
aparências externas do crescimento populacional, da expansão territorial e da
atividade comercial, Israel foi realmente abençoado por Deus. É bem provável
que, nesse período, Jonas tenha se tornado um profeta ideologizado. Ele tinha
consciência, por exemplo, de que nos seus dias a grande ameaça para Israel era
a Assíria, cuja capital era Nínive (2Rs 15:39). Esse é o pano de fundo que
revela o sentimento de Jonas e as suas motivações para fugir da missão divina
em vez de cumpri-la. Jonas deseja ver a total destruição de Nínive, a capital
da Assíria, e não a sua salvação.
Apesar do foco narrativo fixar-se
no profeta, o Livro de Jonas é uma história sobre a misericórdia e o amor de
Deus. O Senhor era o Deus de Israel, e aquela nação tinha especialmente
recebido a misericórdia e a salvação da aliança de Deus. Mas Jonas, juntamente
com muitos dos seus compatriotas, reagiu com tamanho orgulho nacional e
particularismo ético que não conseguiu ver o sublime alcance da graça de Deus.
Jonas haveria de aprender junto com a nação, que Israel não possuía o monopólio
do amor redentor de Deus (At 10:34-35; Rm 3:29). A história confirma as
palavras do Salmo 145:8: “Benigno e misericordioso é o Senhor. Tardio em
irar-se e de grande clemência”.
O arrependimento de Nínive, diante
da pregação de Jonas, ocorreu no reinado de um destes dois monarcas assírios: Adade-Nirari
III (810-783 a.C), cujo governo foi marcado por uma tendência para o
monoteísmo; ou Assurda III (783-755 a.C), em cuja administração houve
duas grandes pragas (765 e 759 a.C) e um eclipse do sol (763 a.C). Estas
ocorrências podem ter sido interpretadas como sinais do juízo divino,
preparando a capital da Assíria à mensagem de Jonas.
Não podemos negar a historicidade
de Jonas sem atingir a credibilidade do Senhor Jesus (Mt 12:39-41;
Lc 11:29-32). Foi Ele quem citou Jonas como um personagem histórico, fazendo
referência aos três dias e três noites que passou no ventre do grande peixe
como um símbolo do seu sepultamento e ressurreição.
2. Vida
Pessoal de Jonas. Jonas foi um profeta de Israel, o Reino do Norte,
durante o reinado de Jeroboão II (793-753 a.C). O seu ministério teve lugar
pouco depois do de Eliseu (cf 2Rs 13:14-19), coincidiu parcialmente com o de
Amós (Am 1:1) e foi seguido pelo de Oséias (cf Os 1:1). Embora o livro não
declare o nome do autor, seguramente foi o próprio Jonas quem o escreveu.
Em 2Reis 14:25, ficamos cientes
que “Jonas, filho de Amitai”, era um profeta experiente e de confiança, a quem
“veio a Palavra do SENHOR”(Jn 1:1). Tratava-se de um homem a quem Deus falava e
revelava sua vontade. A passagem de 2Reis também nos informa que era um nativo
de Gate-Hefer, da Galiléia, local mais tarde conhecido por Caná. É bem
possível que esta cidade, situada quase sete quilômetros ao norte de Nazaré,
tenha sido visitada muitas vezes por Jesus durante os 30 anos de obscuridade em
Nazaré. No entanto, sabemos com certeza que foi aqui que Cristo compareceu a
uma festa de casamento e fez seu primeiro milagre registrado (João 2:1-11;
cf.tb. João 4:46; 21:2). Os fariseus que disseram a Nicodemos: “Da Galiléia
nenhum profeta surgiu”(João 7:52), devem ter se esquecido de Jonas ou não
conhecia bem as Escrituras.
A tradição considera que Jonas é
o jovem profeta tímido mencionado em 2Reis 9:1-11. Os
estudiosos creem que ele era um dos alunos da escola de profetas de Eliseu. Ele
cresceu sob a influência espiritual desses grandes gigantes de Deus. Reputa-se
tradicionalmente que estava entre os 7.000 mencionados em 1Reis 19:18 que não
se curvaram a Baal.
O nome do seu pai, “Amitai”,
significa “verdadeiro”. Certamente o nome do seu pai demonstra o
compromisso de sua família com a Palavra de Deus. Jonas cresceu num lar onde a
verdade foi ensinada pela instrução e pelo exemplo.
O nome Jonas,
"Yonah" no hebraico, significa "pomba" (Jn 1:1). Seu nome
está bem de acordo com sua atitude em três aspectos: Primeiro, na Bíblia
a pomba é vista como uma ave que busca a fuga na hora do perigo: "Estremece-me
no peito o coração, terrores de morte me salteiam; temor e tremor me sobrevêm,
e o horror se apodera de mim. Então, disse eu: quem me dera asas como de pombal
Voaria e acharia pouso. Eis que fugiria para longe e ficaria no deserto"
(Sl 55:4-7). Segundo, a pomba também é símbolo de alguém que chora e
geme. "Todos nós [...] gememos como pombas; esperamos o juízo, e não o
há; a salvação, e ela está longe de nós" (Is 59:11). Jonas fugiu e
também gemeu a ponto de pedir a morte duas vezes. Terceiro, a pomba é
símbolo de passividade. O caráter passivo de Jonas é contrastado com o caráter
ativo de Deus. Enquanto Jonas foge de Deus, Deus busca Jonas. Enquanto Jonas
desce, Deus o levanta. Jonas é contrastado com os marinheiros e com os
ninivitas. Enquanto Jonas dorme, os marinheiros clamam e oram. Enquanto Jonas
passivamente encontra-se forçado a fazer a vontade de Deus, o povo de Nínive
ativamente pede a Deus que suspenda o castigo e lhe envie misericórdia. No
entanto, o significado do nome de Jonas está em descompasso com o seu
significado. Pomba também é um símbolo da "paz". Todavia, Jonas está
em conflito com Deus, consigo e com os ninivitas. Ele prefere fugir a obedecer
a Deus. Prefere ser jogado no mar a arrepender-se. Prefere a morte a ver seus
inimigos salvos.
3. Estrutura e mensagem.
a) Estrutura. O Livro
contém 48 versículos distribuídos em quatro breves capítulos.
· O
capítulo 1 descreve a desobediência inicial de Jonas, e o
castigo divino subsequente. Ao invés de rumar para nordeste, em direção a
Nínive, Jonas embarca num navio que velejava para o oeste, cujo destino era
Társis, na atual Espanha, o ponto mais distante possível da direção apontada
por Deus. O profeta, porém, não demorou a sentir o peso da impugnação divina:
uma violenta tempestade no mar Mediterrâneo, que o levou a revelar-se aos
marinheiros. Estes, por sua vez, são obrigados a jogá-lo ao mar.
Providencialmente, Deus prepara “um grande peixe” para salvar-lhe a
vida.
· O
capítulo 2 revela a oração que Jonas fez em seu cômodo excepcional.
Ele agradece a Deus por ter-lhe poupado a vida, e promete obedecer à sua chamada.
Então é vomitado pelo peixe em terra seca.
· O
capítulo 3 registra a segunda oportunidade que Jonas recebe de ir a
Nínive, e ali pregar a mensagem divina àquela gente ímpia. Num dos
despertamentos espirituais mais notáveis da história, o rei conclama a todos ao
jejum e à oração. E, assim, o juízo divino não recai sobre eles.
· O
capítulo 4 contém o ressentimento do profeta contra Deus, por ter o
Senhor poupado a cidade inimiga de Israel. Fazendo uso de uma planta, de um
verme e do vento oriental, Deus ensina ao profeta contrariado, que Ele se
deleita em colocar sua graça à disposição de todos, e não apenas de Israel e
Judá.
b)
Mensagem. “Misericordioso e piedoso é o Senhor; longânimo e
grande em benignidade”(Sl 103:8). De forma pungente e sucinta,
esta é a mensagem de Jonas.
Ao ler o Livro de Jonas vemos o
mundo pelos olhos de Deus. Todos os indivíduos de todas as nações, de todas as
raças são pessoas, almas, cada uma com um destino eterno. Cada pessoa é
preciosa à vista de Deus; uma, tão preciosa quanta a outra. O tema central é
que Deus está interessado em todas as pessoas de qualquer nacionalidade ou raça
e espera que aqueles que o conheçam se dediquem a compartilhar esse
conhecimento.
Entendemos a mensagem à medida
que observamos Jonas – insensível, vingativo e nacionalista – que prende sua fé
no peito, enquanto Deus procura fazer com que ele a compartilhe de acordo com o
seu propósito mais amplo de redenção.
A mensagem de Jonas foi de
condenação incondicional e irrevogável. Avisava aos ninivitas que num período
de quarenta dias a grande cidade seria varrida pelo fogo do juízo. A mensagem
de Jonas foi pregada sem compaixão. Jonas queria ver a cidade de Nínive sendo
devorada pelo fogo do juízo e virando de cabeça para baixo. Jonas foi alvo da
graça, mas quer ser apenas canal do juízo.
O efeito da mensagem de Jonas,
todavia, alcançou os resultados mais esplêndidos. Ele não queria ver nenhum
ninivita salvo, mas todos eles se converteram a Deus. Ele pregou juízo, mas o
povo clamou por misericórdia. Ele pregou condenação, mas Deus ofereceu perdão.
Seus sentimentos foram suplantados pela misericórdia divina e suas motivações
vencidas pela graça de Deus.
Nossas motivações não
podem frustrar os planos de Deus. Ele age por nosso intermédio, sem nós e
apesar de nós. Se dependesse de Jonas, nenhum ninivita se converteria, mas para
seu desgosto, todos passam a crer em Deus e se arrependem de seus maus caminhos
e da violência de suas mãos. Jonas é o único pregador que fica irado por causa
da bondade de Deus e quer morrer, pois seus ouvintes se converteram ao Senhor.
O grande ensinamento do livro de
Jonas é que Deus aceita também os gentios. Os gentios que
estavam separados da comunidade de Israel foram também chamados para fazer
parte do povo de Deus vivo. Essa concepção só foi completamente mudada no Novo
Testamento, como vemos em Atos 10:34: "Então Pedro, tomando a palavra,
disse: Na verdade reconheço que Deus não faz acepção de pessoas".
Nunca na história o livro
de Jonas teve maior relevância que hoje. Há tremenda urgência que todo cristão
sinta e considere esta mensagem, a fim de se envolver na missão mundial da
igreja. O pecado é livremente praticado pela sociedade - as manchetes diárias e
as prisões lotadas são um dramático testemunho deste fato. Com pedofilia, pornografia,
assassinatos em série, terrorismo, anarquia e cruéis ditadores, o mundo parece
transbordar de violência, ódio e corrupção. Ao ler e ouvir sobre essas
tragédias - e talvez até sofrendo alguma delas - começamos a entender a
necessidade do juízo de Deus. Podemos até descobrir que desejamos vingança,
qualquer que seja ela, contra os autores destes tipos de violência. Mas suponha
que em meio a essas conjecturas Deus lhe peça que leve o evangelho ao pior dos
criminosos, o que você responderia? Jonas recebeu essa incumbência.
II.
O GRANDE PEIXE
“Deparou, pois, o SENHOR um
grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do
peixe” (Jn 1:17). Alguns estudiosos, dando rédeas à imaginação,
fazem do grande peixe que engoliu Jonas o centro deste livro. Todavia, o peixe
não é a personagem principal do livro, nem mesmo Jonas. A personagem principal
é Deus. Deus é o Senhor não apenas de Israel, mas da natureza, da História
e de todas as nações. Sua vontade se
cumpre, sempre, no final. Os homens não podem criar-lhe obstáculos nem
frustrá-lo. Sua graça é para todo o mundo. O peixe só é citado duas vezes no
livro, enquanto Deus é quem ordena a Jonas ir a Nínive, é quem envia uma
tempestade atrás de Jonas, é quem envia o peixe para engolir Jonas e depois
vomitá-lo, é quem novamente comissiona Jonas a pregar em Nínive, é quem perdoa
os habitantes de Nínive e exorta o profeta emburrado.
1. Baleia ou grande peixe?
·
Jonas foi engolido por um “grande peixe” - Jonas 1:17: “Deparou,
pois, o SENHOR um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve
Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe”.
·
Jonas foi engolido por uma “baleia” (ARC) - Mateus 12:40: “pois,
como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim
estará o Filho do Homem três dias e três noites no seio da terra”.
Em ato de
grande misericórdia, Jeová deparou um “grande peixe” para que tragasse Jonas. O
texto não nos informa que tipo de peixe era. Nem o fato de Mateus 12:40 falar
de uma “baleia” (versão ARC) nos ajuda muito, pois a palavra grega usada
ali (ketos) significa, literalmente, um “grande peixe" ou um
“monstro marinho”. Analisando o texto de Mateus 12:40, as versões mais usadas
(ARA, NVI e NTLH) diz "grande peixe", apenas a versão ARC diz baleia.
Em Mateus
12:40, na versão ARC, temos uma interpretação e não uma tradução. Na
tradução você dar o sentido que corresponde ao texto original e na
interpretação você procura transmitir a mensagem ou a forma como você entende
aquela passagem ou aquela palavra ou expressão. Neste caso, o original diz apenas
“ketos”, que é traduzido literalmente por mostro marinho ou
grande peixe. Em nenhum momento a Bíblia diz que Jonas foi engolido por uma
baleia. A Bíblia diz que Jonas foi engolido por um “monstro marinho” ou um
“grande peixe”. Todavia, Almeida, baseado na fenomenologia das coisas, isto é,
como as coisas se manifestam, interpretou o grande peixe como sendo uma baleia.
Veja como ainda dizemos hoje: “o sol nasceu”, mas sabemos que o sol não nasce.
Mas, voltado para a maneira como a natureza se revela dizemos que o sol nasceu.
Outro exemplo, nós costumamos dizer que morcego é pássaro, e na verdade morcego
é mamífero e não pássaro; falamos assim baseado na fenomenologia das coisas,
isto é, no modo como as coisas se apresentam. No caso de Jonas, o texto
original “ketos” diz que ele foi engolido por um grande peixe, mas
Almeida entendeu que o grande peixe fosse uma baleia; por isso, em vez de
traduzir por grande peixe ele interpretou por uma baleia. A tradução Almeida
Revista e Atualizada corrige essa consideração da Almeida Revista e
Corrigida, colocando “grande peixe”, em vez de “baleia”.
2.
Interpretação. O “grande peixe” não é uma lenda. Jesus
referiu-se a Jonas no ventre do peixe três dias como um símbolo da Sua morte e
ressurreição (Mt 12:38-40). Assim como a morte e a ressurreição de Cristo foram
reais, também o foram as milagrosas experiências vividas por Jonas. O grande
peixe não tragou Jonas por acaso. Jonas foi apanhado por ordem expressa de Deus.
O “grande peixe” apenas obedeceu a uma ordem divina, porque Deus escolhera a
Jonas para uma missão e o Senhor estava pronto a mover céu e terra para levar o
profeta a cumprir seu desiderato.
Deus, de modo milagroso,
conservou Jonas vivo por três dias no ventre do peixe. Os incrédulos e os
falsos mestres rejeitam o milagre, colocando-o na categoria de obra de ficção.
Jesus, no entanto, considerou-o um fato histórico, chegando a citar o incidente
para ilustrar sua própria morte, sepultamento e ressurreição (ver Mt 12:40).
Noutras palavras, Jesus pôs a experiência de Jonas na mesma categoria de sua
morte e ressurreição. Ele aceitou-a como milagre de Deus, operado de
conformidade com o seu propósito na história da redenção. Para todos os crentes
genuínos, portanto, fica confirmada a autenticidade do milagre.
III.
A MISERICÓRDIA DIVINA
1. A
conversão dos ninivitas (Jn 3:8,9). A Palavra de Deus é poderosa.
Ela produz frutos mesmo quando os pecadores são os mais pervertidos e quando os
pregadores são os mais desmotivados. O sermão de Jonas, embora desprovido de
misericórdia, produziu o maior resultado de que se tem notícia na História. A
resposta à pregação de Jonas foi imediata e retumbante. A cidade inteira se
converteu, embora Jonas não a tenha percorrido toda, e mesmo que a Palavra não
tenha chegado a todos os ouvintes. Mesmo ouvindo a mensagem indiretamente,
todos, sem exceção, se humilharam em extremo debaixo da mão de Deus.
Quais são os sinais da conversão
dos ninivitas?
a) O
arrependimento sincero (Jn 3:5). Não há conversão genuína sem
arrependimento. A conversão produz verdadeira mudança. Os ninivitas externaram
sua tristeza interior pelo pecado através do jejum e da humilhação com pano de
saco. No mundo antigo, esse era um meio comum de expressar tristeza, humildade
e penitência - as marcas do verdadeiro arrependimento. O arrependimento dos
ninivitas foi unânime: desde o maior até o menor. Começou de cima para baixo.
Desde o rei até as crianças. Desde os homens até os animais. Toda prepotência e
arrogância acabaram. Nenhuma justificativa e desculpa foi dada. Eles todos se
prostraram em total humilhação diante de Deus. O próprio rei trocou seus mantos
reais por pano de saco e se sentou no chão em meio ao pó e à cinza. A
verdadeira conversão é evidenciada pelo arrependimento.
b) A confiança profunda em Deus
(3:5). Se o arrependimento é o lado negativo da conversão, a fé
em Deus é o seu lado positivo. O arrependimento nos afasta do pecado e a fé nos
faz correr para Deus. Pelo arrependimento o homem foge da ira; através da fé
corre para a graça de Deus. A fé sempre conduz às obras. O povo ninívita creu
em Deus e imediatamente se humilhou!
c) O abandono das práticas
pecaminosas (Jn 3:8). A conversão toca o ponto nevrálgico da vida. Quando
o rico Zaqueu, que vivera extorquindo o povo, cobrando impostos abusivos, se
converteu, ele resolveu dar a metade dos seus bens aos pobres e restituir
quatro vezes mais a quem havia defraudado. Quando o truculento carcereiro de
Filipos se converteu, passou a lavar os vergões de Paulo e Silas. A conversão
dos ninivitas foi demonstrada pelo abandono imediato de seus maus caminhos e
pela renúncia imediata e definitiva da violência. Essas práticas abomináveis
que provocavam a ira de Deus foram abandonadas. Onde o pecado não é abandonado,
não há evidência de conversão. Onde não há evidência de santificação, não há
prova de conversão.
d) Uma posição de humildade
diante de Deus (Jn 3:9). A ordem do rei ao seu povo foi que todos deveriam
se humilhar. Nenhuma exigência foi feita. Deus não tem obrigação de ser
misericordioso. Ele tem o compromisso de ser justo. Se Deus aplicasse Sua
justiça, os ninivitas teriam sido destruídos. O pecador merece o castigo, o
juízo e a condenação. O pecador não tem nada a exigir, mas a suplicar. Uma
pessoa convertida é revestida de humildade e não de arrogância.
2. O
“arrependimento” de Deus - “E Deus viu as obras deles,
como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha
dito lhes faria e não o fez”(Jn 3:10). Arrependimento é tristeza pelo
pecado, é mudança de mente e coração, mudança de comportamento de pior para
melhor. Uma mudança que não faça diferença, que não mude uma situação melhor ou
pior, não é uma mudança.
Um dos atributos de Deus é Sua imutabilidade, e isso
significa que Ele não muda e nem altera a sua mente (Ml 3:6). Mas, se o
arrependimento é mudança de mente e o texto supra diz que Deus se “arrependeu”,
o que isso significa? Será que Deus mudou a Sua mente? Será que Deus comete
enganos? Absolutamente não! A linguagem empregada nesta passagem é chamada antropomórfica.
É semelhante a uma pessoa que, movendo-se de um lado para outro, diga: “Agora a
casa está à minha direita”, e depois: “Agora a casa está à minha esquerda”.
Essas afirmações não querem dizer que a casa se moveu. É que a linguagem, sob a
perspectiva de alguém, está descrevendo que a pessoa mudou a sua posição em
relação àquela casa. Quando o texto diz que “Deus se arrependeu”, essa
foi uma forma figurativa de descrever que a mensagem de Jonas teve pleno êxito
em mudar o relacionamento do povo de Nínive com Deus: Nínive se converteu. A
mensagem de Jonas tirou a nação do juízo de Deus e a trouxe para a misericórdia
de sua graça.
A cidade de Nínive tinha duas opções quando Jonas pregou
sua mensagem de juízo: Eles poderiam rejeitar a mensagem de Deus e então seriam
inapelavelmente destruídos; ou eles poderiam aceitar a mensagem de Deus,
voltando-se para Deus em arrependimento, então, Deus os perdoaria e os
salvaria, como de fato aconteceu.
Portanto, Deus não muda, nem muda de ideia, nem de vontade;
sua natureza é imutável. Ele é o " [ . . . ] Pai das luzes, em quem não
há mudança nem sombra de variação" (Tg 1:17). “E também aquele que
é a Força de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é um
homem, para que se arrependa “ (1Sm 15:29). Quando Sua Palavra é
rejeitada e as pessoas se afastam dEle, elas perecem. Todavia, quando elas se
voltam para Deus em arrependimento e fé, Ele sempre as salva, por Sua graça.
Portanto, quem mudou? Deus mudou? Não! Os ninivitas mudaram. Deus salvará o
pecador sempre que este se voltar para Ele! Foi essa maneira de Deus agir que
possibilitou ao blasfemo ladrão da cruz, uma vez arrependido, receber as
palavras de conforto de Jesus: "Em verdade te digo que hoje estarás
comigo no paraíso" (Lc 23:43) .
IV.
A JUSTIÇA HUMANA
1. Descontentamento de
Jonas (Jn 4:1). Jonas fica frustrado não com seu fracasso, mas com
seu sucesso. Ele foi o único pregador que ficou profundamente frustrado com o
seu sucesso. Ele chora de tristeza porque os ninivitas recebem misericórdia em
vez de juízo, perdão em vez de destruição. A conversão dos ninivitas produz
festa no céu e tristeza no coração de Jonas. Enquanto os anjos celebram a
conversão dos ninivitas, Jonas pede para morrer. Jonas quer morrer, pois os ninivitas
receberam o dom da vida eterna. Jonas tem piedade de uma planta que ele não
cultivou, mas nenhuma compaixão para mais de 120 mil pessoas " [ . . .
] que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda" (Jn
4:11). Jonas queria misericórdia para si e justiça para os seus inimigos.
Porém, Deus é soberano. Sua justiça é totalmente imparcial e Sua misericórdia
pode alcançar qualquer pessoa.
A grande verdade do livro de
Jonas é que Deus se recusa a odiar os nossos inimigos. Ele salva até mesmo aqueles
a quem nós queremos condenar. A salvação é uma dádiva oferecida a todos os
povos e não apenas aos judeus.
2. Jonas
esperava vingança? Sim. Jonas
queria a condenação irremediável de seus ouvintes e não a salvação deles. Seu
coração estava sintonizado com a mensagem de condenação, mas não com a
possibilidade da salvação. Ele sentiu certo prazer mórbido de pregar uma
mensagem de condenação em Nínive. Jonas pregou um sermão de juízo sem abrir a
janela da esperança. Ele encurralou seus ouvintes no corredor da morte e não
lhes abriu a porta do arrependimento. Ele pregou uma mensagem apenas pela
metade. Ele trovejou a lei, mas não ofereceu a chuva restauradora da graça. Ele
falou da ira de Deus, mas não da Sua misericórdia. Ele pregou um sermão com
apenas cinco palavras e nessas poucas palavras havia toneladas de condenação e
nenhum grama de misericórdia. Seu firme desejo era ver cumprir-se a ameaça da
subversão de Nínive. Agradava-lhe o fato de Nínive ser uma candidata ao fogo do
juízo como Sodoma e Gomorra. A motivação de Jonas não estava alinhada com a
motivação de Deus de salvar os ninivitas. Os sentimentos de Jonas são
mesquinhos e indignos de um homem que foi arrancado das entranhas da morte. Ele
sabia se alegrar no favor de Deus, mas não queria ser instrumento da graça de
Deus na vida de outros. Contudo, apesar de tudo isso, Deus realizou o maior
milagre evangelístico da história na cidade de Nínive, não por causa do
evangelista, mas apesar dele.
3.
Compreendendo a misericórdia divina. A misericórdia divina é um
dos atributos que revela a natureza de Deus (Ex 34:6; Jr 31:3). Ela triunfa
sobre Sua ira. Nínive foi uma cidade marcada pela malícia (Jn 1:2), pela
corrupção moral (Jn 3:8) e pela violência (Jn 3:8). Os ninivitas eram
truculentos, sanguinários e cruéis. Eles despedaçavam suas vítimas sem qualquer
piedade. O profeta Naum assim descreveu a cidade: "Ai da cidade
sanguinária, toda cheia de mentiras e de roubo e que não solta a sua presa!"
(Na 3:1). Os assírios eram conhecidos por todos os vizinhos por sua violência e
crueldade com os inimigos. Espetavam suas vítimas com estacas pontiagudas,
deixando-as assar até a morte no calor do deserto. Decapitavam pessoas aos
milhares e empilhavam seus crânios perto das portas da cidade e até esfolavam
pessoas vivas. Não respeitavam sexo nem idade e seguiam a política de matar
bebês e crianças para não ter de cuidar deles (Na 3:10). Apesar de suas
terríveis transgressões, Deus teve misericórdia do povo de Nínive (Jn 4:11). Dá
pra compreender esse grande amor de Deus?
A causa do amor de Deus está nEle
mesmo. Deus nos ama não por causa das nossas virtudes, mas apesar dos nossos
pecados (Rm 5:8). Ele nos ama não por nossa causa, mas apesar de nós. Os
ninivitas mereciam o juízo de Deus, mas Ele derramou sobre eles a Sua
misericórdia. Eles mereciam a condenação, mas receberam a salvação. Aonde chega
o arrependimento, a graça desfila embandeirada. Aonde as lágrimas do
quebrantamento são derramadas, o perdão de Deus é oferecido. Aonde há evidência
de arrependimento, Deus suspende o juízo e derrama a Sua graça. Deus não tem
prazer na morte do ímpio, mas em que ele se converta e viva (Ez 33:11) .
O mesmo Deus que se irou contra
os pecados da cidade também demonstrou a ela sua compaixão, pois moveu o céu e
a terra para enviar-lhe um profeta. O método de Deus alcançar os perdidos é
pela pregação. Deus não usou nenhum método místico ou inusitado, mas lhes
enviou um profeta com a ordem de anunciar-lhes Sua Palavra. O mesmo Deus que
enviou uma palavra de juízo e condenação contra a cidade maligna, é o mesmo
Deus que tem compaixão quando esse povo se arrepende e se humilha (Jn 3:10;
4:11). Se o pecado provoca a ira de Deus, o arrependimento desperta Sua
compaixão. Se o pecado é a causa do juízo, o arrependimento abre caminho para a
salvação. Onde o pecado é vencido pelo choro do arrependimento, ouve-se a
música suave do perdão e os brados de júbilo da salvação.
CONCLUSÃO
Ao lermos o livro de Jonas,
procuremos visualizar o quadro completo do amor e da misericórdia de Deus, e
entendermos que ninguém está fora do alcance da redenção. O evangelho é para
todos e a misericórdia de Deus aos que se arrependem e se convertem dos seus
maus caminhos. A graça perdoadora de Deus pelos ninvitas penitentes nos mostra
que o Senhor chama todos os homens ao arrependimento e promete sua graça a
todos os que se arrependerem: “Vinde, então, e argui-me, diz o SENHOR; ainda
que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a
neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã”(Is
1:18). Esta chamada ao arrependimento e certeza de perdão está no centro da
mensagem cristã. Jesus declarou: “Eu não vim chamar os justos, mas sim os
pecadores, ao arrependimento” (Lc 5:32).
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus
– Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Antigo
Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.
Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.
Revista Ensinador Cristão – nº 52 – CPAD.
A Teologia do Antigo Testamento – Roy B.Zuck.
Comentário Bíblico Beacon, v.5 – CPAD.
Jonas( um homem que preferiu morrer a obedecer a Deus ) –
Rev.Hernandes Dias Lopes.
Adorei a aula,muito boa.
ResponderExcluirMe tirou muitas dúvidas.
Muito obrigado.