4º Trimestre/2017
Texto Base: João 3.14-21
“Qual é o homem que teme ao Senhor? Ele o ensinará no caminho que deve
escolher” (Sl.25:12).
INTRODUÇÃO
Nesta
Aula trataremos a respeito da Salvação e o livre-arbítrio. Deus elaborou o
plano perfeito para a salvação do ser humano, mas o ser humano precisa fazer a
sua parte, que é crer e aceitar o sacrifício de Jesus. No plano perfeito da
salvação, Cristo deu a sua vida por todos, mas somente aqueles que decidem crer
serão salvos (At.16:31). Deus criou o ser humano com autonomia, inteligência e
permite que ele escolha entre o bem e o mal.
I. A ELEIÇÃO BÍBLICA É SEGUNDO A PRESCIÊNCIA DIVINA
1. A eleição de Israel. Após o dilúvio, o Senhor estabeleceu com Noé
um novo pacto, denominado pelos estudiosos da Bíblia de “pacto noaico”
(Gn.9:1-17). Com essa família Deus começo a repovoar a terra, tratando com
todos indistintamente. No entanto, cerca de mais de 400 anos depois, tal como
antes do Dilúvio, toda as pessoas estavam, novamente, corrompidas, até mesmo a
família de Abraão, conforme afirmou Josué: “... dalém do Rio, antigamente,
habitavam vossos pais, Terá, pai de Abraão e pai de Naor; e serviram a outros
deuses”(Josué 24:2). Não creram nas promessas divinas que lhe foram
transmitidas por Noé e seus descendentes e, por isso, acabaram rejeitando a
palavra do Senhor. Ficaram imersos no pecado, sendo por ele dominados, como, a
propósito, bem descreveu o apóstolo Paulo no capítulo 2 da Epístola aos
romanos. Aqui vemos nitidamente que a soberania divina não se confunde com o
livre arbítrio humano, mas que o pecado impede que o pecador desfrute das
bênçãos divinas que, entretanto, não são impedidas de serem oferecidas aos
homens. A rebelião dos gentios contra Deus impedia o Senhor de promover a
salvação por intermédio destas nações, vez que o pecado faz separação entre
Deus e o homem (Is.59:2).
No
episódio de Babel, houve a rebelião de toda aquela comunidade contra Deus
(Gn.11:1-9) e, por causa desta rejeição, o Senhor, a fim de manter o seu
compromisso com a humanidade, teria de formar um novo povo, uma nova nação, a
fim de que, através dela, propiciasse o perdão dos pecados e a salvação da
humanidade. Dentro do seu propósito de salvar o homem, ante a rebeldia
gentílica, Deus, então, promoveu a formação de uma nação, de um povo que, a
exemplo dos demais, teria população(Gn.12:2; 15:4,5; 17:1,2), território(Gn.15:7;
17:8) e governo(Êx.19:6), a fim de que
pudesse ser vista e observada por toda a humanidade. Deus, assim, mostra seu
intento em cumprir a promessa feita no jardim do Éden.
Abrão,
tornado posteriormente em Abraão (cujo significado é “pai de multidões”),
atende ao chamado divino e, mediante a obediência e fidelidade dele, é retomado
o propósito divino para a realização do seu objetivo de salvação da humanidade.
Deus estava escolhendo Abraão, mas ele precisava aceitar e concordar com a
escolha de Deus; certamente, Deus não iria tirá-lo à força de sua terra; ele podia
rejeitar o chamado de Deus, caso quisesse. A eleição se completa quando a
vontade do eleitor se encontra com a vontade do eleito. Abraão aceitou a
escolha - “Assim, partiu Abraão, como o Senhor lhe tinha dito...”(Gn.12:4).
Perceba que está escrito que “partiu Abraão”, e não que “tirou Deus Abraão”.
Ele partiu, em obediência, porém, fazendo uso do seu livre arbítrio.
A
partir do instante em que Abrão creu em Deus e isto lhe foi imputado por
justiça (Gn.15:6), o plano de Deus começou a se cumprir integralmente na vida
deste patriarca, que é chamado pelos judeus de “o primeiro judeu”, e reconhecido
na Bíblia Sagrada como “o nosso pai segundo a fé” (Lc.1:73; Rm.54:12; Tg.2:21).
Notamos,
pois, que, assim como a comunidade pós-diluviana fora constituída mediante a fé
de Noé, também Israel teve, em seu nascedouro, a fé do patriarca Abrão que
correspondeu ao chamado e à escolha da parte de Deus.
Não
resta dúvida de que Deus usou de sua soberania para escolher Abrão e a nenhum
outro dos habitantes da Terra do seu tempo para dar início à formação de
Israel, mas, também, não há qualquer dúvida que o plano não se realizou a não
ser a partir do instante em que Abrão respondeu com a sua fé, com a confiança
nas promessas divinas que o levaram a abandonar a sua casa e a sua parentela,
atendendo o chamado do Senhor.
Deus
usou da sua soberania para escolher Abrão e o povo que formou a partir dele,
mas a formação de Israel só foi possível diante da intervenção divina, pois
Sara era estéril (Gn.16:1,2), assim como Rebeca (Gn.25:21) e, também, Raquel
(Gn.29:31).
Deus
elegeu Israel com um tríplice propósito para a humanidade:
Ø Revelar o Poder de Deus.
Deus mostrou ao mundo a sua grandeza, poder e glória através de Israel (Rm.9:17),
haja vista que Ele suscitou a Faraó para, através da intolerância deste com os
israelitas, abater o monarca e dar liberdade ao povo da promessa, e assim
mostrar ao mundo o seu grande e eterno poder.
Ø Dar a Bíblia ao mundo. A
Bíblia foi dada às nações através de Israel. O apóstolo Paulo pergunta aos
irmãos de Roma: "Qual é logo a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da
circuncisão? Muita, em toda a maneira, porque, primeiramente, as palavras de
Deus lhes foram confiadas" (Rm.3:1,2). Então, através de Israel, Deus
entrega a Bíblia ao mundo.
Ø Dar ao mundo o Salvador. A
terceira razão da eleição de Israel por Deus foi para dar o Salvador ao mundo.
Deus prometeu a Abraão: "...em ti serão benditas todas as famílias da
Terra” (Gn.12:3). Jesus disse para a mulher samaritana: “...porque a salvação
vem dos judeus” (João 4:22).
Embora
escolhido por Deus e, de livre e espontânea vontade, tenha aceitado viver
conforme os preceitos provenientes do Senhor, Israel cedo fracassou neste seu
propósito, tendo, a partir da primeira geração adulta do Êxodo, aquela mesma
que havia firmado o compromisso com o Senhor no monte Sinai, deixado de
observar o pacto, endurecendo o seu coração continuadamente; ao longo da
história se mostrara um povo obstinado (Ex.32:9; Dt.9:6; Ez.3:7); e por causa
dessa obstinação, Israel sofreu progressivas sanções da parte do Senhor, pois
Deus corrige a quem ama e castiga a quem quer bem (Hb.12:5,6), numa escalada já
prevista na lei de Moisés (Dt.28:15-68), escalada esta que foi rigorosamente
cumprida por Deus que chegou a tirar o povo da própria Terra Prometida para
Babilônia (2Cr.36:15-21), sem falar na integral destruição das dez tribos do
Norte (Efraim, Manasses, Ruben, Gade, Issacar, Zebulom, Naftali, Aser, Simeão e
Dã – cf. 2Rs.17).
O
apóstolo Paulo adverte que, o que ocorrera com Israel, nos serve de exemplo a
fim de não repetirmos os mesmos erros do povo de Deus do Antigo Testamento – “E essas coisas foram-nos feitas em figura,
para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Ora, tudo isso lhes
sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são
chegados os fins dos séculos” (1Co.10:6,11).
2. A eleição para a
salvação. A eleição divina para a salvação do homem deve
ser entendida como o ato pelo qual Deus chama os pecadores perdidos à salvação
em Cristo, e “todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus: aos que creem no seu nome” (João 1:12). Mas a quem Deus chama à
salvação? A Bíblia responde-nos:
“Deus
quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1Tm.2:4).
“Desejaria Eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? Diz o Senhor Jeová: não
desejo, antes, que se converta dos seus caminhos e viva?” (Ez.18:23). “Porque a
graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens”
(Tt.2:11).
A
chamada é universal, ou seja, Deus chama todas as pessoas à salvação. Deus
oferece uma real oportunidade de salvação a todas as pessoas, indistintamente.
Mas, alguém poderá dizer que não são todas as pessoas que se salvam, e o dizem
com razão, visto que as Escrituras assim o declaram, quando afirmam que “a fé
não é de todos” (2Ts.3:2). No entanto, isto é apenas reflexo do fato de que o
chamado para a salvação está inserido na ordem estabelecida por Deus de que as
pessoas foram criadas com livre-arbítrio, ou seja, a graça salvadora de Deus é
estendida a todas as pessoas, mas Ele requer que as pessoas estendam a sua mão
para receber – “por meio da fé” (Ef.2:8).
Portanto,
a chamada para a salvação parte de Deus, e tem caráter universal, pois o
caráter divino é imparcial, Deus não faz acepção de pessoas (Dt.10:17; 2Cr.19:7;
Jó 34:19; Is.47:3; At.10:34; Ef.6:9; 1Pd.1:17).
Assim,
sendo proveniente de Deus, a chamada é para todas as pessoas, que, segundo
afirmou Paulo, “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”(Rm.3:23). O
Senhor Jesus também pensava assim quando lançou o seu convite a todos, sem
qualquer exceção: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu
vos aliviarei”(Mt.11:28). Também na Grande Comissão: “... ide por todo o mundo,
pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas
quem não crer será condenado”(Mc 16:15,16).
Ao
que parece, o Senhor Jesus Cristo não excluiu ninguém da grande chamada universal
para a Salvação. O Apóstolo Paulo também pensava assim, quando, em Atenas, na
Grécia, pregou no Areópago, onde declarou: “Mas Deus, não tendo em conta os
tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que se
arrependam, porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o
mundo, por meio do varão que destinou; e disso deu certeza a todos,
ressuscitando-o dos mortos”(Atos 17:30,31).
Na
hipótese remota de que uma parte dos seres humanos estivesse excluída desta chamada
para a Salvação, qual seria a base desse julgamento referido por Paulo? O que
Deus, na pessoa do Justo Juiz, que “com justiça há de julgar o mundo”, dirá
àqueles que não foram salvos pelo fato de estarem excluídos pelo próprio Deus,
do chamado para a Salvação? Será que eu posso imaginar que o Senhor Jesus, como
justo Juiz, dirá aos que estiverem ali, diante de seu Trono: “Vocês que não
foram salvos, serão condenados, eternamente, no inferno; e saibam mais: vocês
não foram salvos porque eu mesmo, como Deus, os excluí do chamado para a Salvação;
Eu os elegi para a perdição. Portanto, mesmo que vocês não quisessem ir para o
inferno, teriam que ir, pois, foi para isto que eu os destinei”. Como Paulo
fala “que com justiça [Cristo] há de julgar o mundo”, então se pode deduzir que
a chamada universal para a Salvação de todos os pecadores não exclui ninguém,
pois, segundo está escrito, “para com Deus, não há acepção de
pessoas”(Rm.2:11).
Certamente
a chamada universal para a Salvação é para todos, porque está escrito: “Porque
isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os
homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade”(1Tm.2:3-4). Pedro
acrescenta: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia;
mas é longânime para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que
todos venham a arrepender-se”(2Pd.3:9). Não se trata, pois, de uma passagem
isolada, mas de todo um contexto bíblico apontando no sentido de que, de fato “...
a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens”(Tito
2:11).
3. A presciência divina. Presciência
é a capacidade de Deus saber todas as coisas de antemão (At.22:14; Rm.9:23) e
de interferir na história humana (Ne.9:21; Sl.3:5; 9:4; Hb.1:1-3). A
onisciência de Deus, aliada à sua eternidade, faz-nos conceber a presciência de
Deus, ou seja, Deus já sabe, de antemão, o que irá acontecer, porque, para
Deus, não há tempo, sempre é presente, um eterno presente. Assim, Deus conhece
o futuro, pois, para Ele, passado, presente e futuro são uma só coisa. Por
isso, pode nos revelar, como nos revelou, as coisas que ainda iriam acontecer,
na dimensão dos homens. No Plano da Salvação, Ele quer que todos os homens se
salvem e venham ao conhecimento da verdade (1Tm.2:4), mas Ele sabe quem
responderá positivamente ao convite de salvação (Rm.8:30; Ef.1:5). O desejo do
Pai é tão grande por incluir-nos em seus domínios eternos que imolou o Cordeiro
antes da fundação do mundo. Em Apocalipse, o Espírito Santo revelou a João que
o Senhor Jesus, para redimir-nos, não morreu apenas no tempo. Na presciência
divina, o Cordeiro de Deus já estava morto antes mesmo dos eventos registrados
em Gênesis (Ap.13:8). Nossa redenção, por esse motivo, transcende o tempo e os
eventos da criação; é eterna (Hb.9:12). Portanto, quando ainda não havia
pecado, ou pecadores, o amoroso Deus já tinha estabelecido as bases da nossa
salvação. A morte do Cordeiro, na presciência de Deus, foi a primeira nota
evangélica da história sagrada. Na sentença sobre o pecado, o Deus Pai anuncia
a redenção do pecador (Gn.3:15). Antecipadamente, pregou o evangelho do
Unigênito à humanidade, representada, ali, no primeiro ser humano. Antes mesmo
que houvesse tempo, proclamou a salvação eterna. Era como se Deus, num
tabernáculo vazio, chamasse os pecadores, que ainda não existiam, ao
arrependimento. Infelizmente, a maior parte da humanidade não atenderia ao
convite de Deus para a salvação.
II. ARMÍNIO E O LIVRE-ARBÍTRIO
1. Breve histórico de Jacó Armínio. Jacó
Armínio (1560-1609) nasceu na Holanda, foi pastor de uma igreja em Amsterdã e
recebeu o título de doutor em teologia pela Universidade de Leiden. Tendo sido
envolvido numa disputa calvinista, desenvolveu uma tese bíblica a partir dos
primeiros pais da Igreja, que foi denominada de Arminianismo; sua principal
característica é a defesa do livre-arbítrio humano. No arminianismo é ensinado
que a vontade de Deus é que todos os homens sejam salvos, porque Cristo morreu
por todos; por essa finalidade ele oferece sua graça a todos. Estes são os
cinco pontos básicos do arminianismo (extraídos do Dicionário Teológico. CPAD):
·
A predestinação
depende da forma de o pecador corresponder ao chamado da salvação. Logo,
acha-se fundamentada na presciência divina; não é um ato arbitrário de Deus.
·
Cristo morreu,
indistintamente, por toda a humanidade, mas somente serão salvos os que crerem.
·
Como o ser humano
não tem a capacidade de crer precisa da assistência da graça divina.
·
Apesar de sua
infinitude, a graça pode ser resistida.
·
Nem todos os que
aceitaram a Cristo perseverarão.
Após
a morte de Armínio (19 de outubro de 1609), alguns seguidores redigiram uma
declaração de fé em cinco artigos que continham as principais ideias de
Armínio, chamada de “Os Remonstrantes”. Eles criaram o acrônimo FACTS, grafado em inglês, que traduzido
é: Livre pela Graça para crer; Expiação para todos; Eleição Condicional;
Depravação total e; Segurança em Cristo. Estes cinco pontos de são uma forma de
combater os cinco pontos do calvinismo conhecidos como TULIP, acróstico da língua inglesa que significa: Depravação total;
Eleição incondicional; Expiação limitada; Graça irresistível e; Perseverança
dos santos.
Concordamos
que, embora a salvação seja obra de Deus, absolutamente livre e independente de
nossas boas obras ou méritos, o homem tem certas condições a cumprir. Ele pode
escolher aceitar a graça de Deus, ou pode resistir-lhe e rejeitá-la. Seu
direito de livre arbítrio sempre permanece.
As
Escrituras certamente ensinam a predestinação, mas não que Deus predestinou
alguns para a vida eterna e outros para o sofrimento eterno. Ele predestina
todos os que querem ser salvos, e esse plano é bastante amplo para incluir
todos que realmente desejam ser salvos. Essa verdade é explicada da seguinte
maneira: na parte de fora da porta da salvação, lemos as palavras: “quem
quiser, pode vir”; quando entramos por essa porta e somos salvos, lemos as
palavras no outro lado da porta: “eleitos segundo a presciência de Deus”. Deus,
em razão de seu conhecimento, previu que essas pessoas aceitariam o evangelho e
permaneceriam salvas, assim predestinou para essas pessoas uma herança
celestial. Ele previu o destino delas, mas não o predeterminou nem interferiu.
Diante das duas correntes teológicas
(calvinismo e arminianismo), com relação à salvação, o cristão deve atentar
para o equilíbrio, deve evitar os extremos. As respectivas posições
fundamentais, tanto do calvinismo quanto do arminianismo, são ensinadas nas Escrituras.
O calvinismo exalta a graça de Deus como única fonte de salvação, e a Bíblia
Sagrada concorda. O arminianismo acentua o livre-arbítrio e a responsabilidade
do homem, a Bíblia também concorda. A solução prática consiste tanto em evitar
os extremos antibíblicos de um e de outro ponto de vista quanto em evitar pôr
uma ideia em aberto antagonismo com a outra. Quando duas doutrinas bíblicas são
postas em posições antagônicas, uma contra a outra, o resultado é uma reação
que conduz ao erro. Por exemplo: a ênfase demasiada na soberania e na graça de
Deus em relação à salvação pode conduzir a uma vida descuidada, porque se a
pessoa é ensinada a crer que a conduta dela nada tem a ver com sua salvação,
pode tornar-se negligente. Por outro lado, a ênfase demasiada no livre-arbítrio
e responsabilidade do homem, como reação contra o calvinismo, pode deixar as
pessoas sob o jugo do legalismo religioso de algumas igrejas e despojá-las de
toda a confiança de sua salvação. Os dois extremos, portanto, devem ser evitados.
Pense nisso!
2. O Livre Arbítrio. O
Livre Arbítrio é a faculdade mediante a qual o homem é dotado de poder para
agir sem coações externas, e de acordo com sua própria vontade ou escolha. Como
um livre agente, o ser humano tem a capacidade e a liberdade de escolha,
inclusive a de desobedecer a Deus (Dt.30:11-20 e Js.24:15). Isso, por si só, é
suficiente para que ele seja responsável pelas consequências de seus atos. Esta
corrente teológica é contrária ao determinismo, e que tem como seu
expoente maior o teólogo holandês Jacó Armínio.
O que é o determinismo?
É a corrente doutrinária que ensina que os homens já nascem predestinados por
Deus para serem salvos ou para serem condenados. Assim, o homem já nasce com
seu destino definido – o que nasceu para ser salvo será salvo; e, uma vez
salvo, estará salvo para sempre. Por outro lado, o que nasceu para a
condenação, será condenado. Os seguidores dessa doutrina creem na predestinação
no sentido de que, segundo eles, Deus, no início, já determinou ou
“predestinou” quem seria salvo e quem seria condenado. A escolha, para eles, é
um ato unilateral de Deus, sem qualquer participação do homem. Segundo essa
doutrina, quando uma pessoa se arrepende, é inteiramente pelo poder atrativo do
Espírito Santo.
Para
os adeptos do determinismo, a predestinação é o "decreto" de Deus,
através do qual Ele decidiu quem seria ou não salvo. O homem não tem condições
de, por si só, desprender-se do domínio do pecado, que somente uma intervenção
divina é capaz de fazer com que os homens atendam ao chamado para a salvação. O
atendimento ao chamado para a salvação só seria possível àqueles que, de
antemão, Deus tenha destinado à salvação, ou seja, Deus somente chama à
salvação àqueles que, por sua soberana vontade, quiser que sejam salvos.
Ora,
se Deus dá a salvação para quem Ele quer, se o homem nada tem a ver com a
salvação, ou seja, se não depende da vontade do ser humano, por que Deus não
salva a todos os homens? A Bíblia diz que Deus deseja que todos os homens se salvem
- “O qual deseja que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da
verdade” (1Tm.2:4). Se a Bíblia diz que Deus quer que todos os
homens sejam salvos, e se Deus é Onipotente, por que não salva a todos os
homens? Se a salvação é um "decreto" de Deus, por que Ele não decretou que todos fossem salvos, se a Bíblia
diz que essa é a sua vontade? Fica subentendido, então, que se Deus não salva a
todos, é porque nem todos creem.
Ao
contrário do que ensina o determinismo, no Livre-Arbítrio a Salvação é bilateral.
Ela inclui a vontade de Deus em oferecer uma Salvação gratuita – “pela graça
sois salvos”; mas esta Salvação precisa ser aceita pelo homem – “por meio da
fé”. Assim, na verdade, Deus elegeu todos os homens para a Salvação, porém, o
homem tem o livre arbítrio, ou a liberdade de escolha. É fazendo uso desta
liberdade que o homem tomará posse, ou não, da Salvação, em Cristo. Em função
do Livre Arbítrio que o próprio Deus deu ao homem, ele não pode forçá-lo a
aceitar sua graça. Aceitar, ou rejeitar – a escolha é do homem. Isto confere
com as palavras ditas por Jesus: “quem crer e for batizado será salvo; mas quem
não crer será condenado”; ou, conforme o que consta em João 3:16, “para que
todos aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna”. A vontade de
Deus é que “todos” os homens sejam salvos, porque Cristo morreu por todos os
homens: “O qual deseja que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento
da verdade” (1Tm.2:4); “Pois a graça de Deus se manifestou trazendo salvação a
todos os homens” (1Tt.2:11); “E todo aquele que invocar o nome do Senhor, será
salvo” (At.2:21).
3. O livre-arbítrio na
Bíblia. A Bíblia contém uma série de textos em que o
direito humano de escolha fica claro: Adão e Eva, no jardim do Éden, podiam
escolher o fruto que comeriam. Escolheram a desobediência e foram castigados
por causa dela. Se estivessem predestinados a pecar, Deus não os condenaria.
Depois vieram Caim e Abel. Deus deixou claro para Caim que, se ele mudasse sua
atitude, sua oferta poderia ser aceita (Gn.4:7); por outro lado, havia a opção
pelo pecado; se tudo estivesse predestinado e predeterminado por Deus, por quê
o Senhor haveria de alertá-lo? É bom observarmos que Caim estava morto
espiritualmente, mas isso não significava incapacidade de ouvir a voz de Deus, de
crer e decidir.
Outras
passagens interessantes: “Mas, se vos parece mal o servirdes ao Senhor,
escolhei hoje a quem haveis de servir; se aos deuses a quem serviram vossos
pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra
habitais. Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js.24:15); “O céu e a terra tomo hoje por testemunhas
contra ti de que te pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição;
escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” (Dt.30:19).
Portanto,
a liberdade humana, o livre-arbítrio, é uma manifestação da vontade divina.
Deus quis que o homem tivesse esta liberdade e, por isso, não cabe a nós querer
estabelecer limites ou objeções ao Senhor por causa desta liberdade. Deus fez o
homem com poder de servi-lo ou não e, por isso, nós, simples seres humanos, não
podemos querer obrigar os homens a servir a Deus. Quem cerceia, pois, a
liberdade de opção do homem em servir, ou não, a Deus, algo que, infelizmente,
muitas vezes foi praticado em nome do Senhor, atenta, antes de tudo, contra a
própria ordem estabelecida por Deus, que foi quem criou o homem com esta
faculdade.
Mas,
a liberdade que Deus deu ao ser humano, tem uma correspondência: a
responsabilidade. Ao verificarmos o texto sagrado de Gn.2:16,17, notamos que
Deus deu uma ordem ao homem no sentido de que ele comesse livremente de todas
as árvores do jardim do Éden, com exceção da árvore da ciência do bem e do mal,
porque, no dia em que ele dela comesse, certamente morreria. O homem poderia
escolher entre o bem e o mal, mas, no dia em que desobedecesse a Deus, em que escolhesse
o mal, adviria uma penalidade, a saber, a morte, a separação entre o homem e
Deus (“certamente morrereis”). A contrapartida do poder dado ao homem para
escolher entre o bem e o mal era a de que deveria responder diante de Deus pela
escolha feita, arcando com as consequências de sua opção.
III. ELEIÇÃO DIVINA E LIVRE-ARBÍTRIO
1. A Eleição divina. Afirma o apóstolo Paulo: “Como também nos
elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e
irrepreensíveis diante dEle em caridade, e nos predestinou para filhos de
adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito da sua vontade”
(Ef.1:4,5).
A
Eleição divina refere-se a escolha feita por Deus, em Cristo, de um povo para
si mesmo, a fim de que sejam santos e inculpáveis diante dEle (cf. 2Ts.2:13).
Essa Eleição é uma expressão do amor de Deus, que recebe, como seus, todos os
que recebem o seu Filho Jesus (João 1:12). Segundo Donald C. Stamps, a eleição
abarca as seguintes verdades:
a) É
cristocêntrica, isto é, a Eleição de pessoas ocorre somente em união com Jesus
Cristo. Deus nos elegeu em Cristo para a salvação (Ef.1:4). Ninguém é eleito
sem estar unido a Cristo pela fé.
b) A
Eleição é feita em Cristo, pelo seu sangue - “em quem [Cristo]... pelo seu
sangue” (Ef.1:7). O propósito de Deus, já antes da criação (Ef.1:4), era ter um
povo para si mediante a morte redentora de Cristo na cruz. Sendo assim, a Eleição
é fundamentada na morte sacrificial de Cristo, no Calvário, para nos salvar dos
nossos pecados (At.20:28; Rm.3:24-26).
c) A
Eleição em Cristo é em primeiro lugar coletiva, isto é, a eleição de um povo
(Ef.1:4,5,7,7; 1Pd.1:1; 2:9). Os eleitos são chamados “o seu [Cristo] corpo”
(Ef.1:23; 4:12), “minha igreja” (Mt.16:18), o “povo adquirido” por Deus (1Pd.2:9)
e a “noiva” de Cristo (Ap.21:9). Logo, a Eleição é coletiva, e abrange o ser
humano como indivíduo somente à medida em que este se identifica e se une ao
corpo de Cristo, a igreja verdadeira (Ef.1:22,23). É uma Eleição como a de
Israel no Antigo Testamento (vide item 1, do tópico I, desta Aula).
“No
tocante à Eleição e Predestinação, podemos aplicar a analogia de um grande
Navio viajando para o Céu. Deus escolhe o Navio(a Igreja) para ser sua própria
nau. Cristo é o Capitão e Piloto desse Navio. Todos os que desejam estar nesse
Navio eleito, podem fazê-lo mediante a fé viva em Cristo. Enquanto permanecerem
no Navio, acompanhando o seu Capitão, estarão entre os eleitos. Caso alguém
abandone o navio e o seu Capitão, deixará de ser um dos eleitos. A
predestinação concerne ao destino do Navio e ao que Deus preparou para quem
nele permanece. Deus convida a todos a entrar a bordo do Navio eleito mediante
Jesus Cristo”(Bíblia de Estudo Pentecostal).
2. Escolha humana e
fatalismo. A graça salvadora (Rm.5:18) é estendida a
todos os seres humanos, abrindo-lhes a oportunidade para crerem no Evangelho,
o que descarta a possibilidade de a eleição ser uma ação fatalista de Deus. Não
encontramos na Bíblia uma predestinação fatalista, em que uns são destinados à
vida eterna e outros, à perdição eterna. Isto contradiz dois atributos divinos:
Primeiro, porque torce a justiça divina, pois, nesse caso, Deus destinaria as
pessoas antes mesmo de seu nascimento à perdição eterna; Segundo, porque põe em
dúvida o ilimitado amor de Deus, por ensinar que o Senhor destinou os pecadores
ao inferno sem lhes dar o direito à oportunidade de arrepender-se.
O
Senhor quer que todos se arrependam (At.17:30) e a todos dá tempo para o
arrependimento. Se todos já estivessem predestinados ao céu ou ao inferno, por
que Deus haveria de dar oportunidades? Veja o caso da personagem descrito em
Ap.2:20-21: “Mas tenho contra ti que
toleras a mulher Jezabel, que se diz profetisa; ela ensina e seduz os meus
servos a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas a ídolos; e
dei-lhe tempo para que se arrependesse; e ela não quer arrepender-se da sua
prostituição”. Se essa misteriosa Jezabel estivesse predestinada ao
inferno, Deus não lhe daria tempo para se arrepender. Se ela estivesse
predestinada ao céu, teria se arrependido no tempo que Deus lhe deu. Se sua
condição de morte espiritual significasse incapacidade absoluta, Deus não lhe
daria tempo para se arrepender, pois isto seria inútil.
O
Texto sagrado é claro: “Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação
a todos os homens”(Tt.2:11); “O qual deseja que todos os homens sejam salvos e
cheguem ao pleno conhecimento da verdade”(1Tm.2:4); “Porque Deus amou o mundo
de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna”. Portanto, Deus dá a oportunidade para que
todos se salvem (At.17:30), pois Ele não faz acepção de pessoas (At.10:34).
3. A possibilidade da
escolha humana. Ao ser humano foi dada a capacidade e a
liberdade de escolha, inclusive a de desobedecer a Deus (vide Dt.30:11-20 e Js.24:15).
Tendo em vista essa possibilidade, ele é responsável pelas consequências dos
seus atos; não existe liberdade sem responsabilidade. O ser humano não faz o
que quer sem qualquer consequência, uma vez que a sua liberdade não é o direito
de ditar as regras para si, mas de optar entre seguir, ou não, as regras
estabelecidas por Deus. Liberdade não se confunde, pois, com libertinagem,
como, infelizmente, tem sido propagandeado pelo mundo ao longo dos séculos e,
muito intensamente, nos dias em que vivemos. O uso da liberdade pelo homem
deverá ser objeto de prestação de contas diante de Deus, que é o soberano, a
máxima autoridade. O plano da salvação, pois, não elide nem sequer diminui a
soberania divina.
Deus
fez o homem com o poder de escolher entre o bem e o mal, sendo real a
possibilidade da escolha do mal, só que, uma vez feita a escolha pelo mal, o
homem sofrerá a penalidade da morte, ou seja, da separação eterna de Deus,
arcando com as consequências de sua opção. Ao criar o homem com liberdade, Deus
também estabeleceu que o homem responderia diante dEle sobre o uso desta
liberdade.
Uma
das coisas mais belas da Palavra de Deus é que, embora o Altíssimo seja
soberano, Ele não criou seus filhos como robôs autômatos milimetricamente
controlados, mas, na sua soberania, quis que fossem criados seres que, assim
como Ele, pudessem saber o que é o bem e o que é o mal, e, portanto, tivessem
liberdade para escolher fazer o bem, seguindo, assim, as determinações divinas,
ou de fazer o mal, ou seja, escolherem ter uma vida em que estivessem distantes
de Deus. Essa liberdade de escolha aparece já nos primórdios de Gênesis, na
aurora da raça humana, quando o primeiro casal dá ouvidos à serpente e comete
por sua livre vontade a primeira transgressão contra Deus(Gn.3:1-13).
É
importante salientar que o fato de haver seres com liberdade (anjos e homens),
isto em nada diminui a soberania de Deus; pelo contrário, a existência de seres
com liberdade é a maior prova de que Deus é soberano, pois está tão acima dos
seres criados que lhes permite, inclusive, dar as costas para Ele. O fato de
Deus permitir que alguns dos seres criados possam não lhe obedecer não é
qualquer fragilidade ou diminuição na autoridade de Deus; antes, porém, é a
reafirmação dessa autoridade, pois o fato de seres criados poderem desobedecer
a Deus não retira o fato de que Deus mantém o controle sobre todas as coisas,
tanto que tais seres serão responsabilizados pela desobediência, no tempo, modo
e lugar já previamente determinado pelo Senhor.
Portanto,
a liberdade do homem construiu-se debaixo da soberania divina, não havendo,
pois, qualquer incompatibilidade, qualquer conflito entre o fato de Deus ser
soberano e o homem, livre para escolher entre o bem e o mal. Essa liberdade
está sujeita à vontade e às determinações de Deus.
CONCLUSÃO
A
Salvação provém de Deus, é um presente incomensurável do Deus Altíssimo para o
homem, sendo a Sua graça a causa meritória dessa Salvação. Entretanto, segundo
as Escrituras Sagradas, a maior parte da humanidade resiste ao Espírito Santo e
rejeita a salvação em Cristo Jesus que é oferecida a todas as pessoas
indistintamente. Todavia, os que aceitam o convite de Deus estão predestinados
a "serem conforme a imagem de seu filho", Jesus Cristo (Rm.8:29).
Deus deseja que todo ser humano seja salvo. Creia nisso!
------------
Luciano
de Paula Lourenço
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) -
William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 72. CPAD.
Wayne Grudem. Teologia Sistemática Atual e
exaustiva.
Claiton Ivan Pommerening. Obra da Salvação. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. 1,2,3 João.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. A chamada divina e o
Livre Arbítrio. PortalEBD_2006.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. As Doutrinas da Graça
de Deus. Portal EBD.2006.
Comentário Bíblico Pentecostal. Novo Testamento.
CPAD.
A Mensagem de Romanos. John Stott. ABU.
Maravilhosa Graça. José Gonçalves. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Gálatas, a carta da
liberdade cristã. Hagnos.
Uma benção,sabedoria todos podemos ter para entende tudo isso,pois tudo pertence a Deus e Ele dá se pedirmos.Mas,reescrever e passar isso é maravilhoso.Que lindo,Deus seja louvado,que distribui gratuitamente dons aos homens.
ResponderExcluir