2º
Trimestre/2018
Texto Base:
Romanos 13:1-7
Nesta Aula trataremos da “Ética cristã e
Política”, um tema que em geral divide opiniões e que, erroneamente, se
acredita que não deve ser discutido. O cristão, ao aceitar a Cristo, torna-se
cidadão dos céus, com direito a morar na santa Cidade, na Jerusalém celestial;
entretanto, enquanto Jesus não vem, continua vivendo no mundo e, enquanto aqui
está, é um cidadão da terra e, como tal, inevitavelmente, acaba se inserindo no
contexto político. A política é um fator intrínseco em nossas vidas, seja em
casa, na Igreja, no trabalho. O que precisamos é desvincular a política de
fatores partidários maléficos e diabólicos. A política é boa, necessária,
saudável e, acima de tudo, rege nossos padrões sociais.
Estamos nos aproximando de mais uma eleição em
nossa nação. Como sempre, as promessas são muitas, os valores morais são poucos
e os riscos são enormes. Precisamos de políticos que tenham vocação, preparo e
ética. Não podemos concordar com esquemas de corrupção nem com roubalheira. Não
podemos aplaudir aqueles que se abastecem do poder em vez de instrumentalizar o
poder para servir ao povo. Não podemos apoiar aqueles que defendem leis
contrárias aos princípios estabelecidos por Deus em Sua Palavra, pois governar
contra Deus é laborar em erro e atrair sobre a nação o juízo divino.
I. UMA PERSPECTIVA BÍBLICA DA POLÍTICA
1. Deus governa todos os aspectos da vida humana, inclusive o político. O governo de Deus é baseado em princípios de
verdade e justiça sólidos, bons, santos, perfeitos e eternos, revelados em Sua lei
(Sl.89:14; 119:142,172; 19:7; 111:7,8; Rm.7:12,16; 1Tm.1:8). Portanto, tudo que
for contrário a esses princípios é pecado (cf. Tg.4:17); 1João 3:4). Durante o
período que Israel caminhou pelo deserto, o povo aprendeu a depender de Deus
sob uma liderança teocrática através de Moisés. Quando Moisés morreu, Deus
levantou Josué para substituí-lo e, sob o seu comando, Israel conquista a terra
de Canaã. O período seguinte corresponde o dos juízes que dura aproximadamente
trezentos anos, quando o governo teocrático continua. O período dos juízes foi
um período difícil porque Israel afastou-se da direção divina preferindo a
Monarquia. Mesmo os homens preferindo o governo humano, Deus ainda é quem
manda, pois é Ele que "remove os reis e estabelece os reis"
(Dn.2:21), "porque não há autoridade que não venha de Deus; e as
autoridades que há foram ordenadas por Deus" (Rm.13:1). Sim, o Deus
Altíssimo governa o aspecto político da vida no mundo.
2. Deus levanta homens que o glorifiquem na política. Aristóteles afirmou que o homem é um ser
político. O homem pode ser apartidário, mas nunca apolítico. Tentar ser
apolítico é cair no escapismo. Ao longo da história, homens e mulheres de Deus
exerceram o papel político em momentos críticos e foram divisores de água.
Desde o Antigo Testamento, grandes lideranças foram orientadas por Deus e
exerceram o poder público com lisura, honradez e sabedoria.
Moisés. Foi o maior legislador de Israel, aceitou o
desafio de estar diante de Faraó e, sob o comando de Deus, conseguiu que aquela
autoridade egípcia concedesse plena liberdade ao seu povo. Deus também o
orientou quando lhe deu os mandamentos e as leis complementares para reger o
povo hebreu e que até hoje servem de exemplo para todas as constituições do
mundo.
José, filho de Jacó. Foi vendido como escravo para o Egito, mas
Deus estava com ele (Atos 7:9). Embora tenha passado por muitas provas, dava
sinais de íntima comunhão com Deus e de profunda vocação para a vida política,
a ponto de aconselhar Faraó a adotar um plano de governo que pôde salvar o
mundo de sua época (Gn.41:33-37). O plano foi tão importante que o rei
maravilhou-se e disse: “Acharíamos um varão como este, em quem haja o Espírito
de Deus?” (Gn.41:38-40).
Neemias. Foi um político que fez
diferença em sua nação; na verdade, ele restaurou sua nação. Ele foi um
político que motivou e mobilizou o povo para o trabalho. A cidade de
Jerusalém já estava a mais de cem anos debaixo de escombros. Reinava a pobreza
interna e a zombaria externa. Neemias diagnostica o problema, incentiva o povo,
põe a mão na obra e nomeia cada pessoa para o lugar certo, para fazer a obra
certa e com a motivação certa. O resultado foi que, mesmo diante dos percalços
da obra, em cinquenta e dois dias, os muros foram reconstruídos, as portas
levantadas e a nação restaurada. Precisamos de políticos que conheçam a Deus,
amem o povo e façam a obra; políticos que vivam na presença de Deus e estejam
junto com o povo na reconstrução da nação.
Poderíamos citar tantos outros que
desenvolveram trabalhos na vida pública, foram do agrado de Deus e bem-vistos
pelos homens: Daniel e seus três companheiros; e Ester, a rainha
da Pérsia e da Média (Et.5:2); e Débora, a “abelha-rainha”, juíza
(Jz.4:4,6).
Ao longo da história da Igreja, homens e
mulheres também desempenharam com louvor atividades políticas que glorificaram
a Deus com suas ações. Citamos, como exemplo, William Wilberforce (1759 -
1833), que por influência do Evangelho e impactado pelo ministério de John
Wesley, foi quem liderou o fim do tráfico de escravos no reino britânico. Sim,
Deus usa pessoas para glorificar o seu nome na política. Entendo que a Igreja
deve fazer parte de todos os segmentos da sociedade a partir do que o próprio
Jesus disse: “Vós sois o sal da terra... a luz do mundo” (Mt.5:13,14).
Como cristãos precisamos fazer a diferença em
nossa sociedade e para isso, precisamos estar bem informados a respeito do que
aqueles que foram eleitos estão fazendo. Não podemos também nos esquecer de que
a Palavra de Deus nos exorta a orarmos por aqueles que estão exercendo cargos políticos
e autoridades governamentais.
3. O Estado e a Política. O Estado é um conjunto de pessoas que se organiza através de uma
estrutura e que exerce o poder de modo supremo sobre um determinado território;
é a sociedade política, a organização de um grupo social em termos de relação
de poder. Não haverá nação sem uma sociedade organizada política, jurídica e
administrativamente, sobre uma base territorial definida. Ora, como o Estado é
resultado da existência da política, que está inserida na própria criação do
homem, não há como deixar de reconhecer que a sua existência é algo divinamente
constituído, algo que não atenta contra a Palavra de Deus e que, portanto, não
é um mal em si. O que Deus não concorda é com o mau exercício do poder.
A organização da sociedade é uma exigência da
natureza do homem, pois o homem é um ser social. Foi assim que Deus o fez. Um
homem que, voluntariamente, vive isolado de tudo e de todos, por certo não é um
homem normal. O próprio Deus entendeu que não era bom para o homem viver só
(Gn.2:18). Todavia, para se processar uma organização social não se fará com
simples distribuição de flores, de sorrisos, de conselhos, isto porque
interesses terão que ser contrariados. Daí a necessidade do agente organizador,
que, no caso de uma nação, é o Estado, que necessita da força coercitiva
necessária, e esta vem do poder. Não haverá o Estado sem que haja o poder. O
Estado no uso do poder constitui o governo, e este é que vai gerir os
interesses da sociedade.
Com bem diz o Pr. Douglas Baptista, como
vivemos num estado democrático de direito, onde tanto cidadãos quanto
autoridades instituídas têm direitos e deveres mediante a carta constitucional
do país, isto é, vivemos no império das leis, por isso, devemos exercer o mesmo
princípio de submissão ao Estado esposado pelo apóstolo Paulo em Romanos 13:1,2:
“Toda alma esteja sujeita às autoridades
superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades
que há foram ordenadas por Deus. Por isso, quem resiste à autoridade resiste à
ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação”.
4. O Estado e a Bíblia. A Bíblia Sagrada retrata o Estado como instrumento ordenado por Deus
(Rm.13:1); assim, os que resistem ao Estado afrontam a Deus (Rm.13:2). O pacto
que Deus fez com Noé, ainda está em vigência, pelo qual Deus entregou aos
homens o governo da Terra. Este pacto, ou aliança durará até a implantação do
Governo de Cristo, o que só ocorrerá no Milênio. Até lá a terra estará sob o
governo humano. Contudo, o poder para o exercício do governo só pode vir de
Deus. Então, a autoridade nada mais é do que um preposto de Deus. É como se
seus atos estivessem sendo realizados pelo próprio Deus. Eles são referendados
por Deus. Esta é a razão de Paulo afirmar que “...quem resiste à autoridade
resiste à ordenação de Deus...” (Rm.13:2).
Em 1Pd.2:14 está escrito que as autoridades
foram ordenadas por Deus para castigo dos malfeitores e para louvor dos que
fazem o bem. Em Rm.13:4 está escrito: “Porque ela é ministro de Deus para teu
bem...”. Cada autoridade tem o dever de promover o bem e coibir o mal, e um
sistema político mostra toda a sua imperfeição e insuficiência a partir do
instante em que o mal não é mais punido e o bem deixa de ser louvado ou de
“valer a pena”.
A ordem do apóstolo Pedro é: “Toda a alma
esteja sujeita...” (1Pd.2:13). É uma ordem dirigida a todos sem qualquer
exceção. Aqui, sujeitar-se significa “colocar-se debaixo de”, ”submeter-se”.
Significa ainda que devemos, voluntariamente, obedecer às autoridades constituídas.
Todavia, essa sujeição não implica obediência cega, tem limites; é simplesmente
uma atitude de reconhecimento das pessoas que ocupam posição de comando numa
sociedade juridicamente organizada. Obediência não se confunde com concordância
ou consentimento. Devemos obedecer às autoridades, cumprir o que elas
determinam, mas isto não significa que devamos concordar cegamente com elas em
suas atitudes.
A obediência dá-se à autoridade, não ao homem
que a exerce. Isto faz diferença? Sim, faz toda a diferença. Autoridade é
palavra cuja origem vem de autorizar, ou seja, é a autoridade quem está
autorizado a fazer algo. As autoridades, portanto, não têm poder por si mesmas,
mas recebem este poder de outrem. Assim, por exemplo, o Presidente da República
é a nossa autoridade máxima no Brasil, porque foi autorizado pelo povo, que o
elegeu a dirigir o governo e o Estado brasileiro pelo período de seu mandato. É
por isso que, para ser empossado, deve apresentar ao Congresso Nacional o seu
diploma, que é o documento pelo qual a Justiça Eleitoral mostra que ele está
autorizado pelo povo a assumir o cargo de Presidente da República.
A obediência à autoridade é devida enquanto
esta autoridade estiver dentro dos limites traçados, limites estes que são
fixados pelo próprio Deus e que foram muito bem definidos pelo Senhor Jesus.
- À época do profeta Elias, sete mil fiéis não serviram a Baal, ainda
que isto significasse afronta às determinações do rei Acabe, vez que este
rei, também, não tinha autorização alguma de Deus para infringir a lei de
Moisés.
- Os amigos de Daniel não estavam obrigados a adorar a estátua, apesar
da ordem do rei Nabucodonosor, porque Deus não havia autorizado o rei de
Babilônia a impor a idolatria a seus súditos.
- Os apóstolos não estavam obrigados a obedecer ao Sinédrio quando
este mandou que eles não mais pregassem o Evangelho em Jerusalém, pois a
autoridade política, mesmo a político-religiosa, não tinha recebido de
Deus qualquer autorização para imiscuir-se no assunto da evangelização,
matéria em que o próprio Jesus havia dado a ordem, a “Grande Comissão”,
aos seus discípulos.
Assim, enquanto a autoridade estiver dentro da
sua autorização, devemos-lhe obediência e submissão. Se, porém, houver abuso
por parte dela, inserindo-se em assuntos para os quais não foi chamada nem
autorizada a atuar, como, por exemplo, no que concerne à evangelização e ao
ensino das Escrituras Sagradas, temas delegados por Deus somente à igreja,
então não estamos sujeitos às suas determinações, pois ela estará atuando
ilegitimamente, sem qualquer autorização divina.
II. A SEPARAÇÃO DO ESTADO DA IGREJA: UMA HERANÇA
PROTESTANTE
O Estado não deve ter uma religião favorita,
do mesmo modo que a Igreja não pode se misturar com o Estado (Mt.22:21). A
relação entre Igreja e Estado deve ser marcada pelo equilíbrio, de modo que
aquela não venha a interferir diretamente nas decisões deste. O objetivo
central da Igreja é viver de acordo com os parâmetros do reino de Deus, tendo
ciência de que, antes de sermos cidadãos da terra, somos cidadãos dos céus
(Fp.3:20).
1. A união entre a Igreja e o Estado. Nos primórdios do século
IV, Constantino terminara com a clandestinidade dos cristãos,
outorgando-lhes certos privilégios e permitindo a construção de grandes
templos. Em 313 d.C., através do Édito de Milão, o imperador decretara a
liberdade de culto religioso a toda manifestação de crença, inclusive cristã, e
o fim do paganismo como religião oficial do Império Romano. O
imperador Constantino foi o primeiro governante do Império Romano de credo cristão,
embora não fosse batizado até pouco antes de falecer. Com ele começava uma nova
época para a igreja, e em transcurso do século IV a sua influência nas esferas
do poder aumentaria, apesar do parêntese de três anos que implicou o governo
de Juliano, durante o qual o paganismo foi restaurado, até tornar-se,
em 380 d.C., através do Édito de Tessalônica, na religião oficial tanto no
Oriente quanto no Ocidente.
O Édito de Tessalônica foi decretado
pelo imperador romano Teodósio I, a 27 de fevereiro de 380 d.C.,
pelo qual estabeleceu que o cristianismo tornar-se-ia, exclusivamente,
a religião de estado, no Império Romano, abolindo todas as
práticas politeístas dentro do império e fechando templos pagãos. A
24 de novembro de 380 d.C., fazia-se público o édito nos seguintes termos:
"Queremos que todos os povos governados
pela administração da nossa clemência professem a religião que o divino
apóstolo Pedro deu aos romanos, que até hoje foi pregada como a pregou ele
próprio, e que é evidente que professam o pontífice Dámaso e o bispo de Alexandria, Pedro, homem de santidade apostólica. Isto é, segundo a doutrina
apostólica e a doutrina evangélica cremos na divindade única do Pai, do Filho e
do Espírito Santo sob o conceito de igual majestade e da piedosa Trindade. Ordenamos que tenham o nome de cristãos
católicos quem sigam esta norma, enquanto os demais os julgamos dementes e
loucos sobre os quais pesará a infâmia da heresia. Os seus locais de reunião não receberão o
nome de igrejas e serão objeto, primeiro da vingança divina, e depois serão
castigados pela nossa própria iniciativa que adotaremos seguindo a vontade
celestial. Dado o terceiro dia das Kalendas de março em Tessalônica,
no quinto consulado de Graciano Augusto e primeiro de Teodósio Augusto”.
Com este Édito, o Império Romano na íntegra
passava a ter uma nova religião oficial depois de 67 anos de liberdade de
culto. O Panteão Romano fora complementado ao longo de muitos séculos
com os deuses, deidades e lares domésticos, com o culto aos próprios
antepassados e até mesmo com divindades pré-romanas que foram assimiladas
durante o processo de romanização em muitos lugares do império. Tudo
isto devia ser agora abandonado no culto a uma religião monoteísta e as normas
morais que a acompanhavam.
Contudo, essa oficialização do culto não
beneficiou totalmente a Igreja. Como máxima autoridade do império, Teodósio
incluiu o sacerdócio nos funcionários públicos, o que na prática os situava sob
a sua autoridade. No ano seguinte da promulgação do Édito de Tessalônica, o
mesmo imperador Teodósio convocava o Primeiro Concilio Ecumênico de
Constantinopla. O seu objetivo era conciliar a ortodoxia cristã com os
simpatizantes do arianismo e tratar a problemática da heresia
macedônica. Também confirmar o credo Niceno como a doutrina oficial
da igreja. Na realidade, as teses arianas foram de novo recusadas, e
posteriormente foi emitido um novo édito imperial que dava caráter legal às
conclusões do concílio.
Amostra das fortes tensões geradas neste
período entre Igreja e Estado é a excomunhão que o mesmo imperador
sofreria em 390 d.C., decretada por Ambrósio após a revolta e
posterior matança em Tessalônica, onde teriam sido mortas cerca de seis
mil pessoas. O imperador foi escarnecido em público pelo bispo de Milão,
negando este a entrada na igreja. Após uma longa penitência e como compensação,
o imperador decretou em 392 d.C. a proibição dos
sacrifícios pagãos, e uma imensa massa da população viu-se obrigada a
professar uma religião não muito acorde com os costumes sociais e morais da sua
civilização. Ao amparo desta nova proibição começou uma forte repressão contra
a população pagã, que teve a sua culminação na segunda destruição
da biblioteca de Alexandria e do grande templo de
Serapis por uma multidão encabeçada pelo patriarca da
cidade, Teófilo.
(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Édito_de_Tessalônica).
Cremos que o governo civil é uma instituição
fundada por Deus para conservar a ordem e promover o bem da sociedade humana; os
crentes devem ter por ele o máximo respeito. A única exceção é o caso das leis
que proíbem reuniões e a propagação da Palavra de Deus. Então reconhecemos como
instituições de origem divina: a família, o governo civil, e a igreja de Jesus
Cristo. Essas três instituições deverão servir de apoio mútuo umas às outras,
sem, porém, interferir no funcionamento uma da outra, vivendo uma completa
independência entre Igreja e Estado.
2. A separação entre a Igreja e o Estado. A separação entre Igreja e Estado é uma
doutrina política e legal que estabelece que o governo e as instituições
religiosas devem ser mantidos separados e independentes uns dos outros. A
expressão se refere mais frequentemente à combinação de dois
princípios: secularismo do governo e liberdade religiosa.
A separação entre o Estado e a Igreja é uma
das heranças do protestantismo. Foi a partir da Reforma Protestante, tendo como
principal protagonista o Monge Martinho Lutero, que, paulatinamente, os
conceitos de liberdade, de tolerância religiosa, de democracia e de separação
entre Igreja e Estado foram alçados ao status de direitos fundamentais.
No decorrer da Reforma, cada vez se buscava
esse intento, de separar a Igreja do Estado, e os anabatistas (“rebatizadores”)
tiveram um papel influenciador neste intento; eles queriam fazer mais do que
reformar a Igreja: pretendiam levá-la de volta ao modelo inicial, retratado nas
Escrituras Sagradas. Em vez de uma instituição poderosa, queriam uma irmandade,
uma família de fé, criada por Deus, que trabalhava no coração das pessoas. Os
anabatistas propuseram a separação entre a Igreja e o Estado, pois viam a
Igreja como algo distinto da sociedade - até mesmo da sociedade denominada
"cristã". Eles não queriam, sob hipótese alguma, a presença de
poderes políticos que coagissem a consciência do crente em qualquer aspecto de
sua vida.
Entende-se que o Estado não deve interferir na
Igreja nem a Igreja no Estado. Aliás, a Palavra de Deus mostra que a ideia de
Estado e Igreja não dá bons resultados (cf. At.4:1-7); neste texto vê-se o
poder político querendo controlar a vida espiritual da Igreja.
No entanto, cegado pelo inimigo, o homem vê,
no poder político, uma forma de se divinizar, de se tornar um verdadeiro deus,
como se isto fosse possível. Todas as civilizações dominadas pelo pecado foram
enebriadas pela ilusão do “poder político” que, assim, desvirtuado, somente
fomentou o aumento do pecado e da rebelião contra Deus. Este desejo de poder,
de se igualar a Deus resulta num poder político que, além de opressor do
próximo, tem atuado sempre dentro dos propósitos do adversário que o domina, ou
seja, tem servido para que os postulados contrários às Escrituras venham a ter
guarida e, até mesmo, a conivência e o estímulo dos governantes.
A ideia de que a política deve ser exercida
sem qualquer conotação religiosa e bíblica faz com que, a cada instante, os
governantes defendam iniciativas que sejam contrárias e contraditórias a
princípios de fé, exatamente para confirmar a orientação de que o poder
político não tem qualquer vinculação a religiões ou movimentos religiosos, a
princípios bíblicos, a Igreja. Assim, por exemplo, devem ser entendidos os atos
de diversos governos no sentido de se aprovarem leis que aprovem condutas que
são repudiadas pela Igreja, como o aborto, a eutanásia, a prostituição, as
uniões homossexuais.
O adversário de nossas almas, assim, prossegue
oferecendo “os reinos do mundo e a glória deles” a muitos homens e mulheres
vocacionados para a vida pública, homens e mulheres preparados e com grande
capacidade de articulação e de contágio das massas e que, assim fazendo, ante o
predomínio dos regimes democráticos no mundo, atingem o poder e, nele
instalados, põem em prática esta plataforma de rebelião contra Deus, já que se
trata de uma ação de quem se acha acima de Deus, de quem quer se tornar um
deus, de quem não enxerga o poder supremo do Senhor e, tal como Nabucodonosor,
tem a ilusão de que “é o tal” (cf. Dn.4:30-32); pessoas que se deixaram levar
pela “soberba da vida”(1João 2:16), um dos elementos que existem neste mundo
pecaminoso, distanciado de Deus.
3. O Modelo de Estado Laico Brasileiro. No Brasil, a separação entre a Igreja e o
Estado foi efetivada em 7 de janeiro de 1890, pelo Decreto nº 119-A, e
constitucionalmente consagrada desde a Constituição de 1891. Até 1890, o
catolicismo era a religião oficial do Estado e as demais religiões eram
proibidas, em decorrência da norma do art. 5º da Constituição de 1824. O
catolicismo era subvencionado pelo Estado e gozava de enormes privilégios. A
atual Constituição brasileira, de 1988, em seu art.19, proíbe, à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, "estabelecer cultos
religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento, ou
manter com eles, ou seus representantes, relações de dependência ou aliança,
ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público".
Portanto, neste artigo está definida a separação entre o Estado e Igreja, mas
ressalva na forma da lei, a colaboração de interesse público.
Em suma, o Estado é
laico, mas a liberdade religiosa deve ser garantida, e o poder público deve se
manter independente em relação aos cultos religiosos ou igrejas. Deve proteger
e garantir o livre exercício de todas as religiões, e com elas colaborar,
sempre no interesse público, o que não significa, evidentemente, colaborar nas
despesas com a construção de obras religiosas, porque está terminantemente
proibido de subvencionar qualquer religião.
Portanto, embora o Estado
brasileiro seja laico, ele não é laicista (laicismo
denota a ausência de envolvimento religioso em assuntos governamentais). A liberdade religiosa não é um abstrato, mas,
sim, um concreto, onde o seu direito não se presa pela retenção do pensamento,
mas na sua manifestação. Desde os primórdios, o ser humano tem a necessidade de
cultuar a Deus (Sl.42:1). Portanto, o Estado não pode negar a natureza
religiosa do indivíduo.
III. COMO O CRISTÃO DEVE LIDAR COM A POLÍTICA
Muito se tem falado sobre
o crente e a política, havendo desde posições que consideram o envolvimento do
cristão com a política como o próprio desvio espiritual. Todavia, a política é
algo que está presente em qualquer grupo humano. O próprio Deus, quando criou o
homem, afirmou que ele deveria dominar sobre o restante da criação (Gn.1:26),
bem como, no jardim onde o colocou, disse que ele deveria guardá-lo (Gn.2:15),
numa clara demonstração que a natureza humana envolvia o exercício do poder,
consequência do próprio livre-arbítrio de que ele foi dotado. Ora, toda relação
de poder é uma relação política e, neste sentido, certíssimo estava
Aristóteles, o grande filósofo grego, ao afirmar que o homem é um animal
político. O que o cristão precisa ter cuidado é com a politicagem, ou seja, com
a prática distorcida e corrupta da atividade política.
1. O perigo da politicagem. Politicagem são atos antiéticos, que
visam o benefício próprio e não a sociedade, são ações de politiqueiros que
querem se dar bem às custas do povo. Muitas são as corrupções que estão
acontecendo no meio político (veja os exemplos da Lava-Jato, aqui no
Brasil) que não está de acordo com a responsabilidade que é dada aos
representantes do povo. O maior perigo dos atos politiqueiros envolvendo os
cristãos é colocar em descrédito as Escrituras Sagradas e a Igreja.
Existe constantes corrupção
acontecendo no meio político que
não está de acordo com a responsabilidade que é dada aos representantes do
povo. Acontecem muitos escândalos envolvendo políticos corruptos, que
aproveitam a oportunidade de estarem no poder e desviam dinheiro público para
suas contas bancárias, cometem crime de favorecimento de parentes, fazem
esquemas de compras ou obras superfaturadas. Os políticos com esse perfil, contrários
às convicções cristãs, não podem receber o apoio da Igreja. A exortação do
apóstolo Paulo aos crentes da Igreja em Corinto ainda ecoa neste presente
século: "Não vos prendais a um jugo
desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E
que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial?
Ou que parte tem o fiel com o infiel?" (2Co.6:14,15).
2. Como delimitar a atuação
da Igreja. É necessário que os
princípios éticos cristãos sejam estritamente observados. O púlpito da Igreja não
pode dar lugar ao "palanque eleitoreiro". Mas, em tempo de eleição,
algumas igrejas se vendem, fazendo tudo o que os candidatos a cargos públicos
querem. Até mesmo os preletores das festividades são escolhidos pelos
políticos. Infelizmente, a cada dia, vemos pastores perdendo a visão espiritual
e distanciando-se da Palavra de Deus, e se conformando com o mundo e suas filosofias
(Rm.12:1,2).
À época de pleito
eleitoral, muitos candidatos a cargos políticos gostam de levar para os eventos
das igrejas pregadores comprados, que fazem menções honrosas aos seus nomes e
induzem o povo a votar neles. Eles definem quem serão os pregadores, cantores,
etc., porque são pessoas conhecidas deles, as quais falarão bem deles,
induzindo os crentes a votarem neles. Isso é vergonhoso!
É lamentável que muitos
líderes de igrejas estejam nas mãos de políticos com segundas intenções, que
escolhem até os pregadores e cantores para ocuparem os púlpitos das igrejas e
fazer deles o seu palanque eleitoral. O que a igreja pode esperar de pregadores
e cantores comprados por políticos? Falarão eles a verdade da parte de Deus?
Serão eles profetas do Altíssimo? Ou terão como prioridade massagear os egos do
público e principalmente dos políticos que os compraram?
Os líderes das igrejas
locais não deviam negociar o inegociável. Não deviam permitir que os
enganadores façam dos congregados negócios com palavras fingidas, conforme
adverte o apóstolo Pedro: ”... e, por avareza, farão de vós negócio com
palavras fingidas...” (2Pd.2.3). “É verdade que a igreja precisa de
conscientização política, mas isso não significa ocupar o espaço de adoração e
pregação da Palavra com campanhas políticas”. É preciso estabelecer limites.
3. O cristão, enquanto
eleitor, deve exercer seu dever cívico. Sendo
um país governado por um regime democrático é dever de todo cidadão cumprir o
seu papel, exercendo o direito de escolha de seus representantes e governantes.
É através do exercício do
voto que são escolhidos os governantes e os legisladores num país democrático,
como é o Brasil, não podendo, pois, os servos de Deus omitirem-se dessa
obrigação, porquanto tal gesto será fazer sempre triunfar pessoas
descompromissadas com a Palavra de Deus. Se os cristãos se omitirem, certamente
que os candidatos aos cargos públicos serão sempre pessoas que não farão a
mínima questão de apresentarem programas e planos de governo que tenham pontos
e premissas concordantes com os ditames da Palavra de Deus, pois, diante da
omissão dos cristãos, tal observância não se fará necessária. A consequência
será, sempre, a subida ao poder de governantes e representantes que farão o que
não é agradável a Deus, e a história de Israel está repleta de exemplos do que
acontece com a nação que é governada por este tipo de gente. O cristão deve
fazer o bem, como o seu Senhor (At.10:38), e, neste bem, está o de participar
da escolha de pessoas que, ao governarem nossa sociedade, tenham, pelo menos,
temor a Palavra de Deus ou a seus preceitos. A democracia é isto, como deixou
claro o presidente norte-americano Abraham Lincoln que definiu a democracia
como o "governo do povo, pelo povo e para o povo".
O cristão, enquanto eleitor,
deve analisar as propostas e as condutas dos candidatos, de modo a verificar se
são pessoas que demonstram ter respeito e observância por preceitos bíblicos. O
cristão deve examinar tudo o que se passou na vida do candidato, suas palavras,
seus gestos e atitudes ao longo de sua história, bem como verificar se suas
promessas têm fundamento e são factíveis, ou se somente são manifestações
demagógicas e conversas levianas, que buscam engodar e enganar o eleitor.
Devemos examinar tudo e reter o bem (1Ts.5:21). Se se tratar de um candidato
que se diz servo de Deus, esta análise deve ser ainda mais cuidadosa, devendo
ser destacada o seu caráter, a sua reputação e a vida espiritual do candidato.
CONCLUSÃO
A Bíblia valoriza a
política e os políticos. Quanto à política, ela faz parte da própria essência
administrativa de Deus. Quanto aos políticos, eles são considerados agentes de
Deus (quer estejam conscientes ou não disso; quer acreditem ou não nisso) a fim
de governarem com seriedade para que Deus seja glorificado e o povo respeitado.
Cabe a Igreja do Senhor adquirir maturidade espiritual para votar e ser votada,
e fazer deste país, o Brasil, uma grande nação, pois não há autoridade que não
seja constituída por Deus, e bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor. A
Igreja precisa ocupar o seu espaço e influenciar positivamente a sociedade (cf.
Mt.5:13-16). Lembre-se: “quando o ímpio reina o povo chora, mas quando o Justo
governa o povo se alegra” (Pv.29:2).
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Luciano de Paula
Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 74. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Dinheiro, a prosperidade que vem de Deus.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. O Cristão e a Politica. PortalEBD_2002.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. O Cristão e o Estado. PortalEBD_2002.
Elinaldo Renovato de Lima. Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais
do Nosso Tempo. 9.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2015).
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