3º Trimestre/2018
Texto Base: Levítico 10:8-11; 1Timóteo 3:1-3
“E não vos embriagueis com vinho,
em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Ef.5:18).
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos da Sobriedade na Obra de Deus. Sóbrio é aquele que
está sem nenhum distúrbio físico ou mental por uso de qualquer substância
inebriante. É aquela pessoa que não se encontra sob o efeito do álcool, que não
é alcoólatra. Sóbrio, portanto, é estar no pleno controle de si mesmo. Se não
nos dominarmos a nós mesmos, o que só é possível mediante a ação do Espírito
Santo em nossas vidas, seremos dominados pelo pecado da ebriedade.
Na Aula anterior, estudamos a respeito do juízo de Deus sobre Nadabe e
Abiú, os quais foram irreverentes ao apresentarem “fogo estranho” no altar do
Incenso” (Lv.10:1,2). Possivelmente, esses dois sacerdotes não estavam sóbrios
quando do cumprimento de suas obrigações no Tabernáculo Santo. Tal afirmação
tem como fundamento o fato de que, logo após o juízo divino, Moisés tratou a
respeito da proibição do vinho para os sacerdotes, quando estivessem
ministrando no Santo Tabernáculo (Lv.10:8-11). O sacerdote precisava julgar com
equidade, e para isso era necessário que ele estivesse sóbrio; ele não deveria
fazer uso de vinho, pois o álcool afetaria os seus sentidos e o seu raciocínio
lógico. Está escrito: "O vinho é
escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; todo aquele que por eles é
vencido não é sábio”(Pv.20:1). Na Nova Aliança, um dos pré-requisitos
bíblicos para o ministério é, precisamente, o da sobriedade (cf. 1Tm.3:3;
Tt.1:7).
O apóstolo Paulo adverte: “Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras,
nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os
avarentos, nem os bêbados...herdarão o Reino de Deus” (1Co.6:10).
O apóstolo Pedro exorta: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso
adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para
devorar” (2Pd.5:8).
O apóstolo Paulo exorta: “E não vos embriagueis com vinho [...]”
(Ef.5:18). “Sê sóbrio em tudo [...] (2Tm.4:5).
Portanto, na Obra de Deus, o ministro tem de ser um exemplo de
temperança, sobriedade e domínio próprio.
I. O VINHO NA HISTÓRIA SAGRADA
A cultura dos hebreus tinha o vinho como bebida principal, tanto que Jesus
transformou a água em vinho em uma festa de casamento; contudo, a Palavra de
Deus tem várias advertências contra o excesso que leva a embriaguez. O seu
mau uso levou homens santos a cometerem escândalos, torpezas e até crimes, haja
vista os casos de Noé, Ló e Davi. As nações pagãs ao redor de Israel tinham o
costume da embriaguez, mas o povo de Deus deveria ser santo, distinto, separado
a fim de que fosse exemplo e manifestasse a grandeza e a santidade do Senhor.
1. A embriaguez de Noé. “E bebeu do vinho e embebedou-se;
e descobriu-se no meio de sua tenda” (Gn.9:21). É a primeira vez que a
bebida alcoólica é falada na Bíblia e é coisa ruim, e continua sendo ruim na
Bíblia toda. Noé, além de um excelente marceneiro, era lavrador. Ele plantou
uma vinha (Gn.9:20): “E começou Noé a ser lavrador da terra e plantou uma
vinha”. Esta é a primeira vez que a produção de vinho é aludida na Bíblia.
Juntamente com a vinha, o patriarca constrói uma adega. E, com a ciência que
trouxera da primeira civilização, põe-se a vinificar suas uvas. Desenvolvendo a
enologia, produz a primeira safra de vinho da nova civilização. Mas essa sua
nova atividade trar-lhe-ia constrangimento e desintegração espiritual ao lar.
Noé, o grande herói da fé, caiu no pecado de embriaguez em seu próprio
lar; ficou nu dentro de sua tenda. Este ato foi um mau exemplo para sua
família; trouxe desgraças para um dos seus netos, Canaã. Isto nos alerta que os
longos anos de fidelidade não garantem que o homem seja imune a tentações
novas.
Segundo George Herbert Livingston, Noé pode ter sido inocente, não
conhecendo o efeito que a fermentação causa no suco de uva nem o efeito que o
vinho fermentado exerce no cérebro humano. Isto, porém, não impediu que a
vergonha entrasse no círculo familiar. Perdendo os sentidos, Noé tirou a roupa
e se deitou nu. A nudez era detestada pelos primitivos povos semíticos,
sobretudo pelos hebreus que a associavam com a libertinagem sexual (cf. Lv.18:5-19;
20:17-21).
As consequências da embriaguez de Noé foram terríveis para a sua vida
(Gn.9:21). Perdeu a sua dignidade de pai de família, perdeu o respeito do seu
filho mais novo, Cão; de bênção para todos os homens, passou a ser instrumento
de maldição para seu próprio neto. Esta é a degradação trazida pela bebida
alcoólica, pelas substâncias entorpecentes em geral; devemos não só evitar
usá-las, como também ter uma participação mais ativa na sociedade para a
diminuição dos seus efeitos deletérios na comunidade.
Martyn Lloyd-Jones, médico e pastor, disse: “O vinho e o álcool, farmacologicamente
falando, não são estimulantes, mas
depressivos. O álcool sempre está classificado na farmacologia entre os
depressivos. O álcool é um ladrão de cérebros. A embriaguez, deprimindo o
cérebro, tira do homem o autocontrole, a sabedoria, o entendimento, o
julgamento, o equilíbrio e o poder para avaliar as coisas. Ou seja, a
embriaguez impede o homem de agir de maneira sensata”.
O Rev. Hernandes Dias Lopes disse: “O resultado da embriaguez é a
dissolução. As pessoas que estão bêbadas entregam-se a ações desenfreadas,
dissolutas e descontroladas. Perdem o pudor e a vergonha, profanam a vida e
envergonham o lar. Trazem desgraças, lágrimas, pobreza, separação e opróbrio à
família. Buscam uma fuga para seus problemas no fundo de uma garrafa, mas o que
encontram é apenas um substituto barato, falso, maldito e artificial para a
verdadeira alegria. A embriaguez leva à ruina”.
A orientação bíblica é de abstinência de toda imundícia, inclusive de
substâncias entorpecentes - “... renunciando à impiedade e às concupiscências
mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente” (Tt.2:12).
2. A devassidão das filhas de Ló. “Vem, demos a beber vinho a nosso
pai e deitemo-nos com ele, para que em vida conservemos semente de nosso pai”
(Gn.19:32). Nos tempos de Abraão, o vinho embriagante contribuiu para o incesto
que resultou em gravidez nas filhas de Ló.
Ló era homem justo (2Pd.2:8) que teve um fim trágico e deprimente. Ele
perdeu tudo o que tinha por causa da concupiscência. Ele perdeu filhos, esposa,
reputação, caráter; no fim, se acabou na desgraça. A última vez que vemos Ló no
Velho Testamento é numa situação deprimente: ele está morando numa caverna
depois de ficar bêbado e ter cometido incesto com as suas próprias filhas. A
vida de Ló se tornou em um desastre após o outro. Ele saiu de Betel com a
esposa, filhos, gado, ovelhas, tendas, empregados, riqueza; mas se acabou sem
nada, numa caverna, embriagado, e vítima de conspiração pecaminosa empreendida
pelas próprias filhas.
As filhas de Ló tinham muitas desculpas para a conspiração pecaminosa que
empreenderam. Elas não tinham nenhuma esperança de maridos. Os filhos eram uma
proteção para os velhos e sem eles o nome da família desapareceria, pois não
haveria descendentes. O pecado delas teve prosseguimento, e foi motivado pela
falta de fé de que Deus iria suprir suas necessidades, e também pela ausência
de padrões morais. Os filhos desse incesto foram os ancestrais de duas nações (Moabe,
pai dos Moabitas; e Ben-Ami, pai dos Amonitas – Gn.19:37,38) que se tornaram um
problema habitual para Israel.
As filhas de Ló foram culpadas do pecado do incesto; e Ló, do pecado de
embriaguez. Sem dúvida, o convívio achegado dessas jovens com os ímpios
habitantes de Sodoma, tolerado por seu pai (Gn.19:14), fê-las adotar baixos
padrões morais de conduta. Por Ló ser indulgente com a impiedade, ele perdeu a
família e teve uma descendência ímpia. Ló tornou-se um exemplo de pai crente,
cuja fé e perseverança bastaram para ele se salvar, mas não para salvar a sua
família. Aprendeu, tarde demais, que o verdadeiro caminho da fé é ensinar nossa
família a separar-se do mal, e não amar o mundo (1João 2:15,17; ver 2Co.6:14). Há
muitas lições em tudo isso:
·
A vida que não é vivida
de acordo com a direção de Deus é como desmoronar montanha abaixo.
·
Se nós criamos nossos
filhos da mesma maneira que o mundo cria, não devemos nos surpreender se eles
aprenderem os caminhos do mundo.
·
A embriaguez é um grande
pecado que abre a porta para pecados ainda maiores.
Destaques interessantes
- As filhas
de Ló, embora já estivessem
noivas, ou prometidas em casamento, não estavam grávidas e nem eram mães
solteiras. Na declaração feita por Ló, ficou claro que elas eram virgens – “E
disse: meus irmãos, rogo-vos que não façais mal. Eis aqui, duas filhas tenho,
que ainda não conhecem varão...” (Gn.19:8).
- Lá em
Sodoma, ao que parece, havia um
considerável resquício de moralidade entre o povo, e a família era uma
instituição séria. A autoridade paterna era respeitada. Na “Sodoma” destes
“últimos dias” os pais nem mesmo podem, caso quisessem, exercer a autoridade
bíblica sobre seus filhos.
- Lá em
Sodoma, os filhos obedeciam e
acreditavam em seus pais. Vemos isto no episódio que envolveu os futuros genros
de Ló. Eles não acreditaram que a cidade seria destruída – “Então, saiu Ló, e falou a seus genros, aos
que haviam de tomar as suas filhas, e disse: levantai-vos; sai deste lugar,
porque o Senhor há de destruir a cidade. Foi tido, porém, por zombador aos
olhos de seus genros”(Gn.19:14). Contudo, as filhas de Ló,
certamente duas jovens de tenra idade, deixaram seus noivos e acompanharam seus
pais. Não sabemos se por pura obediência, ou por confiança de que o pai sabia o
que estava fazendo. É até possível que elas não estivessem entendendo nada
daquilo que Deus ia fazer, mas, a obediência, ou a confiança no velho pai,
garantiu a sobrevivência delas. Na “Sodoma” destes “últimos dias”, ao
que parece, o relacionamento entre pais e filhos está pior do que na Sodoma de
Ló. Hoje os pais são tidos como “quadrados” e os filhos pensam estar sempre com
a razão.
- Os fatos
sociais dos últimos dias,
em temos do declínio espiritual, em termos da degeneração moral dos costumes,
em termos de decadência social, com certeza, não encontram paralelos na
história de qualquer época. Por certo estamos vivendo naqueles dias preditos
por Paulo: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobreviverão tempos
trabalhosos”(2Tm.3:1). Por certo que estamos também naqueles dias da
multiplicação da iniquidade, referidos por Jesus: ”E, por se multiplicar a
iniquidade, o amor de muitos se esfriará”(Mt.24:12).
3. O vinho como instrumento de corrupção. Temos um exemplo emblemático na Bíblia
Sagrada: o do rei Davi. Este, certa feita, ao invés de ir adiante do seu
exército na batalha, conforme fizera antes, ficou em Jerusalém; foi tomado de
uma indolência que não demorou a levá-lo ao colapso moral e espiritual. Sua
vida de conforto e luxo como rei desenvolveu nele a autoconfiança e o tornou
uma pessoa descomedida.
Quando deixamos de fazer aquilo que nos é incumbido fazer, notadamente
quando servimos a Deus, armamos uma arapuca para nós mesmos. Ao ficar no
palácio em vez de sair à guerra, Davi ficou à mercê do adversário do povo de
Deus que, sabedor da fraqueza de Davi para com as mulheres, armou-lhe uma
astuta cilada. Davi caiu nos ardis do Diabo. Adulterou. Não podemos ignorar os
ardis do inimigo (2Co.2:11).
Quando soube que Bate-Seba estava grávida, ele chamou Urias para dar
noticias da guerra, e em seguida ofereceu-lhe um presente e deu-lhe licença
para ir a sua própria casa (2Sm.11:6-8). Tudo era mentira, engano, logro. Ele
achou possível esconder seu pecado, enganando o próprio marido traído. Urias
não facilitou o plano de Davi. Por ser um soldado dedicado, ele recusou tirar
férias quando os colegas estavam na batalha.
Não dando certo a tática anterior, Davi parte para agressão moral de
Urias: embriaga o seu fiel soldado; Davi usou o vinho para
corromper um de seus heróis mais notáveis. Ele ofereceu um banquete a Urias
com vinho embriagante (2Sm.11:12,13). Foi uma armadilha enganadora para que ele
fosse a sua casa para se deitar com Bate-Seba e, assim, encontrar justificativa
para Davi encobrir o seu pecado. O texto sagrado, porém, afirma que Urias “não
desceu à sua casa” (2Sm.11:13). Se o seu plano houvesse dado certo, aquela
criança ficaria na conta de Urias, o heteu.
Frustrado, Davi avançou das mentiras ao homicídio (2Sm.11:14,15). O
próprio Urias levou a carta que selou a morte dele e de mais alguns soldados.
Um assassinato covarde de um leal soldado, planejado pelo rei da nação escolhida
(2Sm.11:16,17). Neste plano sinistro, o rei envolveu mais uma pessoa, Joabe.
Ele era o comandante do exército e serviu de cúmplice sem saber os motivos de
Davi.
As tentativas de esconder o pecado geralmente levam o pecador ao fundo do
poço. Davi, cujo coração costumava ser dedicado ao Senhor, se entregou ao
pecado e à vontade do diabo. Quando o crente procede dessa forma, o julgamento
divino o aguarda, pois "Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o
homem semear, isso também ceifará" (Gl.6:7).
O pecado de Davi demonstra até onde pode cair uma pessoa que se desvia de
Deus e da orientação do Espírito Santo. Quando Deus inicialmente chamou Davi
para ser rei, este era um homem segundo o próprio coração de Deus (1Sm.13:14;
At.13:22); ao mandar eliminar Urias e tomar a sua esposa, Davi estava
desprezando a Deus e a sua Palavra(2Sm.12:9,10; cf.1Co.10:12). Desprezar
significa tratar com menosprezo, fazer pouco caso. Portanto, mediante seus
atos, Davi estava declarando que Deus não era tão importante, nem digno de amor
e consagração.
Semelhantemente, na igreja local de hoje, obreiros que venham a cometer
adultério revelam assim que não têm apreço por Deus e sua santa Palavra. Tratam
com desprezo o evangelho e o sangue de Cristo, como se fossem coisas vulgares,
e que não merecem sua fidelidade. As Escrituras mostram que obreiros que se
comportam assim não são qualificados para o ministério(1Tm.3:2).
O adultério de Davi com Bate-Seba e o consequente homicídio de Urias, nos
ensina, em primeiro lugar, que o servo de Deus nunca pode ficar ocioso na
missão que lhe foi confiada pelo Senhor.
II. O VINHO NO OFÍCIO DIVINO
No Antigo Testamento, em Israel, era prática habitual o uso de vinho
alcoólico e outras bebidas fermentadas naturalmente. Por não dispor das
modernas técnicas de engarrafamento de sucos, sem geladeiras, sem conservantes
como temos hoje, e sem embalagens apropriadas, toda uma produção de sucos e
sumos estavam sujeitas ao processo natural de fermentação. Os odres
(recipientes de couro costurado), vasos de barro, madeira ou metal não impediam
a ação das bactérias, tendo os antigos que conviver com as condições que
dispunham nesta parte. Bebiam, pois, vinho sem fermentar quando ainda novo,
recém espremido das uvas, chamado no Antigo Testamento de TIROSH ou vinho novo; esta palavra
aparece 38 vezes no Antigo Testamento. A bebida consumida tempos depois e já
fermentada naturalmente, ou que foi fabricada em processo de fermentação era
denominada normalmente de SHEKAR (usada
23 vezes no Antigo Testamento). Para bebidas em geral, fermentadas ou não, era
usado o termo YAIM indistintamente, e
que aparece 140 vezes no Antigo Testamento.
Portanto, a própria necessidade alimentar de uma bebida nutritiva e a
carência de técnicas e recursos de conservação modernos, obrigava as pessoas a
terem na fermentação natural da bebida uma necessidade e mal necessário, uma
vez que, o grau alcoólico nestas bebidas, trazia embutido o problema do vício
do alcoolismo, embriaguez e suas consequências morais, físicas e espirituais.
Por isso o ideal era não usá-las a exemplo dos recabitas, povo abstêmio que
vivia entre os israelitas, e cuja virtude e lealdade foi ressaltada pelo
próprio Deus (Jr.35:2-5).
É válido também ressaltar que o mais alcoólico dos vinhos da Palestina
tinha cerca de 8% de álcool, segundo estudiosos do assunto. Pela lei, esses
vinhos eram diluídos em água, normalmente três ou quatro partes de água para
uma parte de vinho. Esses vinhos fracos, enfraquecidos mais ainda pela adição
de enormes quantidades de água, passaram a ser usados como bebidas para
acompanhar as refeições. Não eram usados como bebidas, mas apenas como se usa
um copo de água ou uma xícara de café que se bebe com a refeição. Vários textos
bíblicos parecem apontar para esse uso do vinho como uma bebida para acompanhar
as refeições (cf.1Tm.3:3,8; Tito 1:7; Mt.11:18,19).
1. No Antigo Testamento. O vinho, por simbolizar a alegria e as bênçãos de Deus, foi usado no
Antigo Testamento como oferenda ao Senhor. Em sua oferta de manjares ao Senhor,
os israelitas faziam-lhe também a libação de um quarto de him.
“E falou o Senhor a Moisés, dizendo: Fala aos
filhos de Israel e dize-lhes: Quando houverdes entrado na terra, que vos hei de
dar, e segardes a sua sega, então, trareis um molho das primícias da vossa sega
ao sacerdote; e ele moverá o molho perante o Senhor, para que sejais aceitos;
ao seguinte dia do sábado, o moverá o sacerdote. E, no dia em que moverdes o
molho, preparareis um cordeiro sem mancha, de um ano, em holocausto ao Senhor.
E sua oferta de manjares serão duas dízimas de flor de farinha, amassada com
azeite, para oferta queimada em cheiro suave ao Senhor, e a sua libação de
vinho, o quarto de um him” (Lv.23:9-13).
“E de vinho para libação preparareis a
quarta parte de um him, para holocausto ou para sacrifício por cordeiro”
(Nm.15:5).
Observação: Um quarto de um him
correspondia mais ou menos a 1,3 litros. Duas
dízimas seriam cerca de 7,2 litros.
Nessa oferenda, o adorador reconhecia que tudo quanto ele possuía
provinha do Senhor e, em última análise, pertencia a Ele. Em razão disso,
deveria usar de forma santa e responsável tudo quanto Ele deixou-nos.
Devido ao potencial das bebidas alcoólicas para corromper, Deus ordenou
que todos os sacerdotes de Israel se abstivessem do vinho e doutras bebidas
fermentadas, durante a sua vida ministerial. Deus considerava a violação desse
mandamento suficientemente grave para motivar a pena capital ao sacerdote
(cf.Lv.10:9-11). Foi o que aconteceu com Nadabe e Abiú. Estes dois sacerdotes
julgando-se acima de recomendações e preceitos, vinham abusando do álcool. E,
como bem diz o Pr. Claudionor de Andrade, “de abuso em abuso, e já
desconsiderando a santidade de Jeová, entraram no Tabernáculo do Senhor sem o
fogo apropriado à queimação do incenso. Já imaginou dois obreiros embriagados,
trôpegos e resmungando com voz pastosa as fórmulas e credos sagrados? Imagine
ambos, agora, cambaleando entre o candelabro e a mesa dos pães da apresentação.
Se tropeçassem diante do altar do incenso, cairiam no Santo dos Santos”.
Observações
importantes
Observação
1
Libação era o derramamento de algum liquido,
geralmente era vinho, óleo e até mesmo leite, como um ato de culto a Deus. Na
Bíblia encontramos, mesmo antes da Lei dada a Moisés, a prática da libação,
mas, claro, em adoração a Deus. Vejamos: “Então, Jacó erigiu uma coluna de
pedra no lugar onde Deus falara com ele; e derramou sobre ela uma libação e lhe
deitou óleo” (Gn.35:14).
Mais tarde, temos a libação presente nas leis dadas por Deus ao povo
de Israel. Em Êxodo 29:40 há a ordem para que houvesse libação juntamente com
ofertas de sacrifício: “Com um
cordeiro, a décima parte de um efa de flor de farinha, amassada com a quarta
parte de um him de azeite batido; e, para libação, a quarta parte de um
him de vinho”. Dessa forma essa prática se tornou parte do código de
leis cerimoniais dadas por Deus aos israelitas.
Temos também o uso dessa expressão de forma figurada no Novo
Testamento. O apóstolo Paulo pegou emprestado essa figura do Antigo Testamento
para falar a respeito da sua iminente morte: “Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha
partida é chegado” (2Tm.4:6). Paulo estava querendo dizer que, da
mesma forma que a libação era uma oferta derramada e oferecida a Deus, a vida
dele também em breve seria derramada e oferecida a Deus, ou seja, Paulo via a
sua morte como um sacrífico agradável a Deus, que estava muito próximo de
acontecer.
Observação 2
A libação era uma prática realizada na festa das
Primícias. A colheita não podia ser tocada antes de terem sido oferecidas as
primícias e com elas um holocausto e uma oferta de manjares. Diz o texto
sagrado: "E sua oferta de manjares
serão duas dízimas de flor de farinha, amassada com azeite, para oferta
queimada em cheiro suave ao SENHOR, e a sua libação de vinho, o quarto
de um him. E não comereis pão, nem
trigo tostado, nem espigas verdes, até àquele mesmo dia em que trouxerdes a
oferta do vosso Deus" (Lv.23:13,14).
A formosa ordenação da apresentação do molho das primícias (Lv.23:10,11),
que ocorria no segundo dia da Festa dos Pães Asmos (no dia imediato ao sábado,
isto é, o primeiro dia da semana) tipificava a ressurreição de Cristo, que,
"no fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana",
saiu triunfante do túmulo, tendo cumprido a obra gloriosa da redenção. A Sua
ressurreição foi "de entre os mortos"; e nela temos a garantia e o
tipo da ressurreição do Seu povo. "Cristo, as primícias; depois os que são
de Cristo, na sua vinda". Quando Cristo vier, o Seu povo será
"ressuscitado de entre os mortos"; quer dizer, aqueles de entre eles
que dormem em Jesus. "Mas os outros mortos não reviveram até que os mil
anos se acabaram" (Ap.20:5).
A ressurreição de Cristo é a garantia de que todos aqueles que nasceram
do novo, que são salvos em Cristo, que permaneceram fiéis a Ele até o fim,
receberão a imortalidade por meio da ressureição.
2. No Novo Testamento. No Novo Testamento, existem dois casos clássicos sobre o vinho.
- Primeiro, o milagre da transformação de água em vinho
(João 2:1-11). Nessa festa de casamento, segundo estudiosos, Jesus transformou
perto de 600 litros de água em vinho. Fez isso depois que os convidados da
festa "beberam fartamente".
Que tipo de vinho Jesus fez? Vinho não-alcoólico - suco de uva - ou vinho
alcoólico? Lembre-se que as duas coisas são possíveis tendo em vista a própria
definição do termo vinho. Mas há duas considerações que nos levam a crer
firmemente que se tratava de suco e não de bebida alcoólica. Em primeiro lugar,
Jesus o fez o vinho na hora. No primeiro momento em que o vinho daquela época
era produzido, ele era suco. Somente após um processo de envelhecimento e de
fermentação é que se tornava alcoólico. Em segundo lugar, o que é mais
importante, se Jesus tivesse feito vinho alcoólico, ele teria estado
incentivando a embriaguez. A questão aqui não é um ou dois copos de vinho.
Essas pessoas, após já terem bebido muito, receberam mais umas centenas de
litros. Jesus jamais incentivou os pecados do homem, tampouco contribuiu para
eles. Portanto, parece claro que esse vinho era do tipo não-alcoólico.
- Segundo, a Ceia do Senhor. Ao instituir a Ceia, o
Senhor Jesus fez uso desse mesmo produto, a fim de simbolizar o seu sangue
redentor (Mt.26:26-30). Desde então, a Igreja de Cristo vem utilizando o fruto
da vide para oficiar a sua maior celebração: a Ceia do Senhor (1Co.11:23-32).
Identificado na Bíblia como "fruto da vide" e "cálice do
Senhor" (Mt.26:29; 1Co.11:27), o vinho na Ceia simboliza o sangue de
Cristo vertido na cruz para redimir a todos as pessoas que o aceitarem com
Senhor e Salvador, e ratificar a “Nova Aliança” ou “Novo Testamento” (1Co.11:25).
Segundo estudiosos da Bíblia, as evidências bíblicas apoiam a posição de
que o suco de uva não estava fermentado na Ceia do Senhor. Nem Lucas nem
qualquer outro escritor bíblico emprega a palavra “vinho” (gr. oinos) no tocante à Ceia do Senhor. Os
escritores dos três primeiros Evangelhos empregam a expressão “fruto da vide” (Mt.26:29; Mc.14:25;
Lc.22:18). O vinho não fermentado é o único “fruto da vide” verdadeiramente
natural, contendo aproximadamente 20% de açúcar e nenhum álcool. A fermentação
destrói boa parte do açúcar e altera aquilo que a videira produz. O vinho
fermentado não é produzido pela videira.
Jesus instituiu a Santa Ceia quando Ele e seus discípulos estavam
celebrando a Páscoa. A lei da Páscoa em Êxodo 12:14-20 proibia, durante a
semana daquele evento, a presença de fermento ou qualquer agente fermentador.
Deus dera essa lei porque a fermentação simbolizava a corrupção e o pecado (cf.
Mt.16:6,12; 1Co.5:7,8). Jesus, o Filho de Deus, cumpriu a lei em todas as suas
exigências (Mt.5:17). Logo, teria cumprido a lei de Deus para a Páscoa, e não
teria usado vinho fermentado. Isto é fato.
3. Advertência quanto ao uso do vinho. O uso de bebida alcoólica ativa a ação da
carne, por isso é necessária a abstinência em qualquer circunstância. O efeito
do vinho é excitar a natureza humana, e todo o sentimento natural prejudica
aquela condição tranquila e equilibrada da alma que é essencial ao desempenho
das funções sacerdotais. A embriaguez é ruim para qualquer pessoa, mas é
especialmente escandalosa e perniciosa nos ministros, que, dentre todos os
homens, devem ter as mentes mais esclarecidas e os corações puros.
O apóstolo Paulo exorta aos ministros do Evangelho que não sejam dados ao
vinho (1Tm.3:3). Sob o efeito do álcool o servo de Deus não tem condição moral
para servir no santuário e para formar um juízo imparcial entre o que é imundo
e o que é puro, e para explicar e transmitir a Palavra de Deus. É bem possível
que Nadabe e Abiú tenham entrado no lugar santo do Tabernáculo sob o efeito do
álcool. Sem qualquer temor ou reverência a Deus, apresentaram “fogo estranho”
no altar divino. Sob o efeito do álcool, Nadabe e Abiú, na sua adoração,
afastaram-se da Palavra de Deus que os havia claramente instruído acerca do
modo do seu culto. Por causa de sua atitude irreverente diante do altar do
Senhor, eles foram mortos. Logo após a morte de ambos, o Senhor fez séria
advertência a Arão:
“Vinho ou bebida forte tu e teus filhos
contigo não bebereis, quando entrardes na tenda da congregação, para que não
morrais; estatuto perpétuo será isso, entre as vossas gerações, para fazer
diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo e para ensinar
aos filhos de Israel todos os estatutos que o Senhor lhes tem falado pela mão
de Moisés" (Lv.10:8-11).
Esta incisiva proibição de ingestão de vinho e de bebidas fortes no
ofício sagrado serviu para que, no futuro, tragédias como a de Nadabe e Abiú
não viessem a ocorrer. Aos desobedientes, a punição seria a morte.
Desnecessário é dizer que o crente deve ser propriamente zeloso quanto ao
uso do vinho ou bebida forte. O seu caminho é um caminho de santa separação e
dedicação ao serviço do Senhor. A alegria dos “sacerdotes” de Deus não é a
alegria terreal, mas a celestial, a do santuário. "A alegria do Senhor é a
vossa força" (Ne.8:10).
Se não conservamos as nossas “vestes” sacerdotais e se não nos guardamos
de tudo quanto possa excitar a nossa natureza, certamente cairemos. O crente
deve guardar cuidadosamente o seu coração, do contrário, como levita falhará, e
como guerreiro será derrotado. A comunhão particular com Deus deve ser mantida,
do contrário seremos inúteis, como servos; e como guerreiros, seremos vencidos.
Timóteo, como sabemos, precisou de uma recomendação apostólica para se
convencer até mesmo a tocar no vinho, por amor da sua saúde (1Tm.5:23). Uma
agradável prova da abstinência habitual de Timóteo e do amor solícito do Espírito
por intermédio do apóstolo. Devo dizer que o nosso sentido moral sente-se
ofendido por ver crentes (crentes?) fazendo uso de bebida forte em casos que,
seguramente, não necessitam dela como remédio. Trememos ao ver um crente
tornar-se um simples escravo de um mau hábito, seja o que for esse hábito. É
uma prova de que não mantém o seu corpo em sujeição e corre o perigo de ser
"reprovado" (1Co.9:27).
III. MINISTROS CHEIOS DO ESPÍRITO SANTO
A Obra de Deus foi e sempre será realizado por pessoas guiadas e
capacitadas pelo Espírito Santo. Logo, é clarividente que ao escolher alguém
para ser líder na Sua Obra, Deus o adorna com algo a mais, a fim de que o Seu
propósito seja o mais amplamente alcançado.
Em algumas situações especificas, para execução de seu plano, Deus
escolhe diretamente os seus líderes e lhes diz o que devem fazer, e faz severas
advertências; dentre essas advertências está o uso do vinho. A exortação é
imperativa: “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas
enchei-vos do Espírito” (Ef.5:18).
Veja, a seguir, algumas severas advertências quanto ao uso do vinho no
Novo Testamento.
1. Recomendações aos ministros. No princípio da Igreja, o candidato ao Santo Ministério não podia ser um
homem escravizado pelo vinho (1Tm.3:3,8; Tt.1:7) - “Convém, pois, que o bispo
seja irrepreensível [...] não dado ao vinho...”(1Tm.3:2,3). A embriaguez não
combina com o ministério do pastoreio. O mesmo apóstolo que orientou Timóteo a
beber um pouco de vinho por motivos terapêuticos (1Tm.5:23) agora declara que
um pastor dado ao vinho não está apto para a liderança da igreja de Deus.
Aliás, o obreiro deve ser pessoa que não se deixe dominar por qualquer vício,
seja ele qual for, pois não pode, como qualquer crente, deixar-se dominar por
coisa alguma (cf. 1Co.6:12).
Imaginem a imagem de um pastor embriagado dirigindo o culto ao Senhor ou
a batizar ou a ministrar a Santa Ceia! O que os membros e congregados não
diriam? Que escândalo esse ministro embriagado não causaria? Que o Senhor Jesus
nos guarde das intemperanças e desregramentos.
2. Recomendações à Igreja. A recomendação quanto aos prejuízos decorrentes do vinho não se limita
aos ministros do Evangelho. Ela diz respeito, também, a toda a Igreja. O
apóstolo Paulo, escrevendo à igreja da cidade de Éfeso, exorta: “E não vos
embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito”
(Ef.5:18).
Embriagar-se com vinho alcoólico era associado com o antigo modo de vida
e seus desejos egoístas, terminando, por fim, em contenda. Isto não tem lugar
na vida dos crentes. Além do mais, de acordo com Paulo, nós não precisamos do
álcool, pois podemos nos encher do Espírito Santo, deixando que Ele nos
controle. Na embriaguez, o homem perde o controle de si mesmo; no enchimento do
Espirito, ele ganha o controle de si, pois o domínio próprio é fruto do
Espirito Santo.
Concordo com o Rev. Hernandes Dias Lopes, quando diz que “a embriaguez,
deprimindo o cérebro, tira do homem o autocontrole, a sabedoria, o
entendimento, o julgamento, o equilíbrio e o poder para avaliar as coisas. Ou
seja, a embriaguez impede o homem de agir de maneira sensata. O que o Espirito
Santo faz é exatamente o oposto. Ele não pode ser posto num manual de
farmacologia, mas Ele é estimulante, antidepressivo. Ele estimula a mente, o
coração e a vontade”.
“As pessoas que estão bêbadas entregam-se a ações desenfreadas,
dissolutas e descontroladas. Perdem o pudor, perdem a vergonha, conspurcam a
vida, envergonham o lar. Trazem desgraças, lágrimas, pobreza, separação e
opróbrio sobre a família. Buscam uma fuga para os seus problemas no fundo de
uma garrafa, mas o que encontram é apenas um substituto barato, falso, maldito
e artificial para a verdadeira alegria. A embriaguez leva à ruína. Todavia, os
resultados de estar cheio do Espírito são totalmente diferentes. Em vez de nos
aviltarmos, embrutecermos, o Espírito nos enobrece, nos enleva e eleva.
Torna-nos mais humanos, mais parecidos com Jesus”.
No dia de Pentecostes, os discípulos foram cheios do Espírito Santo
(At.2:1-4), de tal forma que eles foram tidos como bêbados (At 2:13). Mas, após
o sermão de Pedro, todos vieram a conscientizar-se de que eles falavam e
operavam no poder de Deus (At.2:40,41). Para proclamar o evangelho, para
liderar o povo de Deus é preciso sempre ser cheio do Espirito Santo. Nos Atos
dos apóstolos deparamo-nos com os apóstolos e discípulos proclamando o
Evangelho sempre no poder do Espírito Santo (At.4:8,31; 7:55; 13:9,10).
Portanto, “não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas
enchei-vos do Espírito”.
CONCLUSÃO
Na Obra de Deus, faz-se necessário a sobriedade plena. O mesmo princípio
que regia os sacerdotes da Antiga Aliança, que ministravam perante o Senhor a
favor do povo (Lv.10:8-11), os quais não podiam ingerir bebidas embriagantes,
aplica-se também ao povo de Deus da Nova Aliança, que é constituído de reis e
sacerdotes de Deus, pertencentes ao reino espiritual de Deus (1Pd.2:9;
Ef.5:18). Portanto, devem todos os crentes em Cristo seguir o exemplo dos
recabitas. Estes, voluntariamente, abstinham-se de qualquer bebida forte para
que a aliança de seus ancestrais permanecesse firme (Jr.35:6-10). E, por causa
de sua fidelidade, foram honrados pelo Senhor. Que assim possamos proceder.
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Luciano de Paula Lourenço
Disponível no
Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo
Pentecostal.
Bíblia de estudo
– Aplicação Pessoal.
Comentário
Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Comentário
Bíblico popular (Antigo Testamento) - William Macdonald.
Revista
Ensinador Cristão – nº 75. CPAD.
Comentário
Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do
Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Comentário
Bíblico Bacon.
C.H. Mackintosh.
Estudo sobre o Livro de Levítico.
Pr. Claudionor de
Andrade. Adoração, Santificação e Serviço – Os princípios de Deus para sua
Igreja em Levítico. CPAD.
Paul
Hoff – O Pentateuco. Ed. Vida.
Comentário
Bíblico Beacon. CPAD.
Victor P.
Hamilton - Manual do Pentateuco. CPAD.
Rev. Hernandes
Dias Lopes. Como ser cheio do Espírito Santo.
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