3º Trimestre/2019
Texto Base: Atos 4:32-35; Lucas 10:30,36,37
“Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele
que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg.2:13).
Atos 4
32-E
era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa
alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.
33-E
os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor
Jesus, e em todos eles havia abundante graça.
34-Não
havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam
herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o
depositavam aos pés dos apóstolos.
35-E
repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha.
Lucas 10
30-E,
respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas
mãos dos salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram,
deixando-o meio morto.
36-Qual,
pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos
salteadores?
37-E
ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai e
faze da mesma maneira.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos da
Mordomia das obras de Misericórdia. Misericórdia é o amor posto em ação, é a
bondade tornada em ação concreta. Como diz o apóstolo Tiago, como podemos dizer
que amamos alguém se não suprimos as suas necessidades (Tg.2:14-17), pois o
amor não é amor de palavras, mas amor de obras (1João 3:16-18).
Jesus, num espírito
humanitário de misericórdia e compaixão voltado a todos, sempre procurou
socorrer os necessitados e tinha Sua atenção voltada para as pessoas, colocando
sempre as necessidades espirituais acima das necessidades materiais. A Igreja,
portadora do mesmo sentimento de amor, sempre foi voltada para o social,
procurando suprir as necessidades e socorrer aqueles que, realmente, são
necessitados. Valorizar a alma humana, com um valor maior que o mundo inteiro,
sempre foi a filosofia do Divino Mestre, mas não esquecendo das necessidades
físicas.
É perturbador para uma
igreja local, que enfatiza a justificação pela fé e tem perdido de vista o fato
de que aquilo que praticamos também se reveste de grande importância. A
ausência de obras de misericórdia é prova de ausência de fé. A fé sem obras é
morta (Tg.2:20). E a melhor caridade é aquela que é feita com seus próprios
recursos, dentro das suas possibilidades, pois fazer caridade com riqueza dos
outros não é caridade.
Fazer obras de misericórdias
era uma prática levada a sério no princípio da Igreja; o seu altruísmo era uma
característica marcante. O livro de Atos mostra isso ao narrar a ressurreição
de uma mulher chamada Dorcas, que era conhecida pelas suas “boas obras e
esmolas que fazia” (Atos 9:36).
O exercício da
misericórdia deve ser feito com alegria. De nada adianta gastarmos todas as
nossas finanças em benefício dos pobres ou necessitados ou, mesmo, horas a fio
de nosso tempo, para ouvir as pessoas, dar-lhes companhia e conforto, se o
fizermos por obrigação, por necessidade, sem alegria. Qualquer doação material
feita por necessidade é apenas um gasto, uma despesa, sem qualquer valor na
dimensão espiritual, como também o uso de horas numa “obra de misericórdia
espiritual” nada mais será que perda de tempo. Se, porém, fizermos com alegria,
seremos agradáveis ao Senhor, porque Ele ama a quem dá com alegria (2Co.9:7).
I. SIGNIFICADO DE MISERICÓRDIA
1. Definição
Misericórdia é lançar o coração na miséria do outro e estar pronto em qualquer
tempo para aliviar a sua dor; é ver uma pessoa sem alimento e lhe dar comida; é
ver uma pessoa solitária e lhe fazer companhia; é atender às necessidades e não
apenas senti-las. Enfim, misericórdia é mais do que sentir piedade por alguém,
é a capacidade de entrar em outra pessoa até que praticamente podemos ver com
os seus olhos, pensar com sua mente e sentir com o seu coração.
“SENHOR, tem misericórdia de nós! Por ti temos
esperado; sê tu o nosso braço cada manhã, como também a nossa salvação em tempos
de tribulação” (Is.33:2).
As obras de misericórdia,
ou obras de caridade, nos mostram a disponibilidade de desprendermo-nos do
egoísmo e servir o próximo deliberadamente como fruto do amor cristão. Essa é a
vontade de Deus.
2. Misericordioso
É alguém que demonstra
misericórdia; que é compassivo, bondoso, misericordioso para seus semelhantes.
Essa expressão indica o sentimento que vem do íntimo, “das entranhas”, do
“coração”. Por ser um atributo de Deus (Sl.103:8), e por sermos seus filhos,
devemos ser também misericordiosos, haja vista que temos o Fruto do Espírito
(Gl.5:22). Disse Jesus:
“bem-aventurados os misericordiosos, porque
eles alcançarão misericórdia” (Mt.5:7).
“Sede, pois,
misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso” (Lc.6:36).
Quem exerce a
misericórdia revela que serve a um Deus misericordioso, longânimo e benigno -
“Misericordioso e piedoso é o SENHOR; longânimo e grande em benignidade”
(Sl.103:8).
II. A MORDOMIA DA MISERICÓRDIA CRISTÃ
A misericórdia é o dom de
transformar em ações, em atitudes concretas, o bem que desejamos a alguém; é a
bondade tornada em ação concreta. Como diz o apóstolo Tiago, “como podemos
dizer que amamos alguém se não suprimos as suas necessidades?” (Tg.2:14-17),
pois o amor não é amor de palavras, mas amor de obras (1João 3:16-18).
1. Obras de misericórdia na prática
As “obras de
misericórdia” são definidas como sendo ações caritativas mediante as quais
ajudamos a nosso próximo em suas necessidades físicas e espirituais (cf.
Is.58:6,7; Hb.13:3). No Cristianismo, o ser vem antes do fazer. Quem é, faz. A
fé sem obras é morta (Tg.2:17). Veja um exemplo bíblico de misericórdia: a
Parábola do bom Samaritano (Lc.10:29-37). Um certo doutor da Lei perguntou a
Jesus:
“29. ...E quem é o meu
próximo?
30. E, respondendo Jesus,
disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos
salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o
meio morto.
31. E, ocasionalmente,
descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
32. E, de igual modo,
também um levita, chegando àquele lugar e vendo-o, passou de largo.
33. Mas um samaritano que
ia de viagem chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão.
34. E, aproximando-se,
atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua
cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele;
35. E, partindo ao outro
dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele, e
tudo o que de mais gastares eu to pagarei, quando voltar”.
36.Qual, pois, destes
três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
37.E ele disse: O que
usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai e faze da mesma
maneira.
A Parábola descreve tudo
o que o samaritano fez para salientar que a prática da misericórdia não tem
fronteiras; é a necessidade do outro que diz o que precisa ser feito. Esse
samaritano, mesmo sendo odiado pelos judeus, interrompe a sua viagem, chega
perto, aplica óleo e vinho nas feridas do semimorto, tira-o do lugar de perigo,
leva-o a uma hospedaria segura e ainda paga o seu tratamento. Isto é o que
chamamos de misericórdia.
Para os religiosos da
parábola (o sacerdote e o levita), era um incômodo a ser evitado, mas, para o
Samaritano, era alguém que necessitava de amor e de ajuda, de modo que ele lhe
ofereceu cuidado. Esse samaritano quis transmitir a seguinte mensagem: "o
que é seu, é seu; mas o que é meu pode ser seu também".
Contudo, exercitar a
misericórdia ao próximo não é apenas ajudar alguém do ponto-de-vista material,
mas, sobretudo, levar esse alguém a Cristo, a uma vida de comunhão com Deus.
Portanto, o que Jesus disse ao doutor da Lei, ele diz também a nós: “Vai e faz
da mesma maneira”.
Se a Parábola do Bom
Samaritano fosse compreendia e praticada, removeria o preconceito racial, o
ódio e a inveja entre classes, e o mundo seria extraordinariamente maravilhoso
para se viver. Pense nisso!
-A prática de Jesus. Jesus estabeleceu uma
comunidade de discípulos cujo relacionamento se baseava no amor e na partilha.
Ele foi o maior exemplo de misericórdia: Ele curou os doentes, alimentou os
famintos, abraçou as crianças, foi amigo dos pecadores, tocou nos leprosos; fez
que os solitários se sentissem amados; consolou os aflitos, perdoou os
pecadores e restaurou os que haviam caído em opróbrio. Ao multiplicar os pães e
peixes (Mc.6:30-44), Jesus se utiliza do pouco que alguém se dispôs a
partilhar. Partilhar o que se tem mexe com o nosso egoísmo. A grande lição que Jesus ensinou é que a
disposição para repartir o que se tem promove o suprimento de todos.
“O que oprime ao pobre
insulta ao seu Criador; mas honra-o aquele que se compadece do
necessitado”(Pv.14:31).
“Bem-aventurado é aquele
que atende ao pobre; o Senhor o livrará no dia do mal”(Sl.41:1).
2. Bem-Aventurados são os misericordiosos
No célebre sermão do
monte, Jesus disse: “bem-aventurados
os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt.5:7). Nessa
bem-aventurança, Jesus falou que a misericórdia é tanto um dever como uma
recompensa. Os misericordiosos alcançarão misericórdia.
Os romanos não
consideravam a misericórdia uma virtude, mas uma enfermidade da alma. Vivemos
num tempo em que a misericórdia parece ter desaparecido da terra. Mas essa não
é uma constatação nova. À época de Jesus, os judeus eram tão cruéis quanto os
romanos: eram orgulhosos, egocêntricos, hipócritas e acusadores. Hoje, se
formos misericordiosos, as pessoas vão nos explorar ou nos perturbar de forma
contumaz.
Na verdade, a
misericórdia não é uma virtude natural. Por natureza, o homem é mau, cruel,
insensível, egoísta, incapaz de exercer a misericórdia. A pessoa precisa de um
novo coração, antes de ter um coração misericordioso.
Deus é o Pai de
misericórdias (2Co.1:3); dele procede toda misericórdia. Quando a exercemos,
nós o fazemos em seu nome, e por sua força e para a sua glória.
3. Somos criados para as boas obras
Misericórdia não é
sentimento nem palavras, mas ação; é atender às necessidades, e não apenas
senti-las. O apóstolo Paulo escrevendo à igreja em Éfeso disse: “somos [...]
criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que
andássemos nelas” (Ef.2:10). Escrevendo ao seu cooperador Tito, disse: “[...]
os que creem em Deus procurem aplicar-se às boas obras...” (Tt.3:8). Assim, devemos
praticar as boas obras porque somos salvos, e fomos alcançados pela graça de
Deus. Diante do exposto:
a) Devemos acudir ao
necessitado. Davi disse: “Bem-aventurado o que
acode ao necessitado; o Senhor o livra no dia do mal. O Senhor o protege,
preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra; não o entrega à discrição dos seus
inimigos. O Senhor o assiste no leito da enfermidade; na doença, tu lhe afofas
a cama” (Sl.4:1-3).
Isaias, inspirado pelo
Espírito Santo, disse: “e, se abrires a
tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas
trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia” (Is.58:10).
b) Devemos ser liberais na
contribuição. Deus diz: ”Quando entre ti houver
algum pobre de teus irmãos, em alguma das tuas portas, na tua terra que o
SENHOR, teu Deus, te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão
a teu irmão que for pobre; antes, lhe abrirás de todo a tua mão e livremente
lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade”
(Dt.15:7,8).
Deus providenciou várias
leis para cuidar dos pobres: nas colheitas, não se podia apanhar o que caía no
chão, era dos pobres. Paulo exorta os ricos: “façam o bem, enriqueçam em boas obras, generosos em dar e pronto em
repartir” (1Tm.6:18).
Ajudando aos
necessitados, estaremos rompendo com nossos próprios interesses egoístas, para
acumular “tesouros no Céu” (Mt.6:19-21; Lc.12:33-34). O maior tesouro é, sem
dúvida, a salvação eterna, pela graça de Cristo (Ef.2:8-10), daqueles que são
levados a glorificar a Deus por nossas boas obras de generosidade (ver
Mt.5:16).
Lembramos novamente que
ter misericórdia é sentir a infelicidade, a miséria do outro e tentar retirá-la
ou, pelo menos, minorá-la. Deus não se agrada de quem se alegra no mal do
outro, ainda que seja do inimigo, do perverso(Pv.24:17), porque isto é falta de
misericórdia - “… o que se alegra da calamidade não ficará impune” (Pv.17:5b) -,
enquanto que o que se compadece do necessitado, honra a Deus – “O que oprime ao
pobre insulta ao seu Criador; mas honra-o aquele que se compadece do
necessitado”(Pv.14:31).
“Bem-aventurado é aquele
que atende ao pobre; o Senhor o livrará no dia do mal”(Sl.41:1).
c) Devemos ter o coração
aberto para área da evangelização e das missões. Evangelizar é exercer
misericórdia, pois somente o Evangelho tem poder de libertar a pessoa,
destituída de Deus, das iguarias de Satanás e levá-la aos pastos verdejantes do
redil do Senhor Jesus.
É muito clara a
necessidade espiritual do mundo. Infelizmente, o investimento na obra
missionária ainda é muito pequeno. De um modo geral, gastamos mais com outros
empreendimentos e objetos pessoais do que investimos em missões e na
evangelização das almas perdidas.
Jesus, após ter passado
quarenta dias dando prova da Sua ressurreição aos discípulos e falado a respeito
do reino de Deus (At.1:3), explicitamente determinou qual seria a tarefa
principal da Igreja: Evangelizar e ensinar - “Ide por todo o mundo, pregai o
evangelho a toda criatura” (Mc.16:15). Aqui, o verbo está no modo imperativo,
ou seja, trata-se de uma ordem, não de uma recomendação ou de um conselho da
parte do Senhor.
Nota-se que Jesus ordenou
que o evangelho fosse pregado por todo o mundo, a toda a criatura; uma ordem
que estabeleceu um verdadeiro dever a todo cristão, a ponto de o apóstolo Paulo
ter exclamado: “Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar,
pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o
evangelho!”(2Co.9:16).
A ordem do Senhor de ir
por todo o mundo lembra-nos de que a evangelização é feita sem qualquer
discriminação, sem qualquer parcialidade ou preferência deste ou daquele lugar,
desta ou daquela nacionalidade.
- Ir: proclamar o Evangelho em palavras e ações a
toda criatura.
- Ensinar: tanto aos novos convertidos como aos maturados
na fé, tornando-os fiéis seguidores de Cristo.
- Batizar: integrar os novos convertidos na igreja local,
a fim de que cresçam na graça e no conhecimento por intermédio da ação do
Espírito Santo em sua vida, e desfrute sempre da comunhão dos santos.
A Igreja pode fazer tudo
aqui na terra, mas se não fizer missões e evangelismo, não fez nada. Missões é
urgente e imprescindível. Sem sombra de dúvidas, é a suprema tarefa da Igreja.
4. Por que devemos ser misericordiosos?
O Rev. Hernandes Dias
Lopes, em seu livro “Mateus – Jesus, o Rei dos reis”, elenca algumas razões
para sermos misericordiosos, como veremos a seguir.
a) porque a prática das boas obras é o grande fim para o qual fomos
criados. O apóstolo Paulo diz: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus
para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”
(Ef.2:10). Todas as criaturas cumprem o papel para o qual foram criadas: as
estrelas brilham, os pássaros cantam, as plantas produzem segundo a sua
espécie. O propósito da vida é servir. Aquele que não cumpre a missão para a
qual foi criado é inútil. Diz o adágio: ”quem não vive para servir, não serve
para viver”.
b) porque pela prática da misericórdia nós resplandecemos o caráter de
Deus, que é misericordioso. Adverte o Senhor Jesus: “Sede misericordiosos, como também é
misericordioso vosso Pai celestial” (Lc.6:36). Deus é o Pai de toda
misericórdia (2Co.1:3). Deus se deleita na misericórdia (Mq.7:18). As suas
ternas misericórdias estão sobre todas as suas obras (Sl.145:9). Quando você
demonstra misericórdia, reflete Deus em sua vida.
c) porque a demonstração de misericórdia é um sacrifício agradável a
Deus. A Bíblia diz: “Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua
cooperação; pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz (Hb.13:16).
Quando você abre a mão
para ajudar o necessitado, é como se estivesse adorando a Deus. O anjo do
Senhor disse a Cornélio: “Cornélio [...] as tuas orações e as tuas esmolas
subiram para memória diante de Deus (Atos 10:4).
A prática da misericórdia
é uma liturgia que agrada o coração de Deus. Dar pão ao que tem fome, vestir o
nu, ajudar aqueles que estão enfermos e que são necessitados, é servir ao
próprio Senhor Jesus (Mt.25:31-46). Segundo João Batista, repartir pão e vestes
é uma maneira concreta de demonstrar o verdadeiro arrependimento – “E, respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver
duas túnicas, que reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, que faça
da mesma maneira” (Lc.3:11).
d) porque um Dia daremos conta da nossa Mordomia. A Bíblia diz que somos mordomos
e vamos um Dia comparecer perante o Tribunal de Cristo para prestar contas de
nossa administração (Lc.16:2). É um grande perigo fechar as mãos aos
necessitados. No Dia do Julgamento das nações, as pessoas serão julgadas pelo
que deixaram de fazer aos necessitados: “Então,
dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos,
para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive fome, e
não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo estrangeiro,
não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e estando enfermo e na
prisão, não me visitastes” (Mt.25:41-43).
5. As recompensas prometidas ao misericordioso
A Palavra de Deus nos
fala sobre algumas recompensas que o misericordioso receberá.
a) Ele receberá
de Deus o que deu aos outros
Ø Ele será feliz. Jesus disse que “mais
bem-aventurado é dar do que receber” (At 20:35). A pessoa feliz não é aquela
que quer tudo para si, mas é aquela que distribui e dá aos pobres e
necessitados.
Ø Ele receberá de Deus a recompensa. A recompensa da
misericórdia não virá daqueles a quem ela foi ministrada, mas de Deus. Jesus
Cristo foi a Pessoa mais misericordiosa que já existiu, mas o povo pediu para
Ele ser crucificado. Jesus não recebeu misericórdia alguma das pessoas a quem
dispensou misericórdia; dois sistemas impiedosos - o romano e o judeu -,
uniram-se para matá-lo.
A misericórdia sobre a
qual Jesus fala em Mateus 5:7 não é uma virtude humana que traz sua própria
recompensa. Não é essa ideia. Então, o que o Senhor está querendo dizer?
Simplesmente o seguinte: “Sejam misericordiosos com os outros, e Deus será
misericordioso com vocês” (Mt.5:7). Deus é o sujeito da segunda parte da frase.
Portanto, não são as
pessoas que recompensarão o misericordioso com misericórdia, mas Deus. O Deus
misericordioso abre as torneiras celestiais sobre a sua cabeça; Ele abre os
celeiros da Céu para abastecer a própria alma.
Ser misericordioso,
portanto, não é o meio de ser salvo, mas o meio de demonstrar que se está salvo
pela graça. O seu coração é misericordioso? Você sente a dor do outro? Abre-lhe
o coração, a mão e o bolso? Você se importa com as almas que perecem? Você tem
usado o que Deus lhe deu para abençoar as pessoas? O mundo tem sido melhor
porque você existe? Pense nisso!
b) Ele será
recompensado nesta vida
Ø Ele
será abençoado em sua pessoa –
“Bem-aventurado aquele que acode ao necessitado” (Sl.41:1).
Ø Ele
será abençoado em seu nome – “Ditoso é o
homem que se compadece e empresta…não será jamais abalado; será tido em memória
eterna” (Sl.112:5,6).
Ø Ele
será abençoado em sua prosperidade – “A alma
generosa prosperará e a quem dá a beber será dessedentado” (Pv.11:25).
Ø Ele
será abençoado em sua posteridade – “...a sua
descendência será uma bênção” (Sl.37:26). Não apenas ele é abençoado, mas seus
filhos também serão abençoados.
Ø Ele
será abençoado com vida longa –
“Bem-aventurado o que acode ao necessitado. O Senhor o livra no dia do mal. O
Senhor o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra” (Sl.41:1,2). Ele
ajuda os outros a viver e Deus lhe preserva e lhe dilata a vida.
c) Ele será
recompensado na vida por vir
Ø Não são as nossas boas obras que nos levam ao Céu,
mas nós as levamos para o Céu (Ap.14:13). A salvação é pela fé sem as obras,
mas a fé salvadora nunca vem só. A fé nos justifica diante de Deus, e as obras
diante dos homens.
Ø Receberemos galardão no Céu até por um copo de água
fria que dermos a alguém em nome de Jesus (Mt.10:42).
Ø A Bíblia diz: “Quem se compadece do pobre ao Senhor
empresta, e este lhe paga o seu benefício” (Pv.19:17).
Ø Jesus diz: “Daí, e dar-se-vos-á; boa medida,
recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão…” (Lc.6:38).
Ø No dia do julgamento das nações, no final da Grande
Tribulação, Jesus dirá aos que estiverem à sua direta: “Vinde benditos de meu
Pai, entrai na posse do Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo,
porque eu tive fome e me deste de comer…” (Mt.25:34-40).
III. CUIDADOS NA PRÁTICA DAS BOAS OBRAS
A prática da bondade é um
elemento indispensável na vida do crente, que deverá fazê-lo não só
individualmente, como mostra o testemunho eloquente de Barnabé no livro de Atos
dos Apóstolos, como também coletivamente, como dão exemplo robusto as igrejas
locais dos tempos apostólicos - seja a igreja de Jerusalém, sejam as igrejas em
Corinto, na Acaia, ou na Macedônia. O próprio Jesus, em Seu ministério, tinha
um grupo de pessoas que cuidavam dos pobres, tanto que havia uma bolsa, que
ficava a cargo de Judas Iscariotes, para esta finalidade (João 12:4-8).
-Temos uma bolsa para os pobres, ou seja, há, no nosso
orçamento doméstico, uma verba para fazermos o bem, ajudarmos os necessitados,
ou o consumismo desenfreado, os gastos supérfluos, as vaidades humanas têm
devorado esta quantia e, tal como Judas Iscariotes, lançamos mão daquilo que
deveria ajudar a quem precisa?
-Nossa igreja local tem uma bolsa para os pobres, ou, também, tem se
envolvido em tantas atividades e tantas obras que não resta qualquer ajuda aos
necessitados, até mesmo para os crentes, que dirá para os não-crentes da área
abrangida por nossa igreja local?
-Temos ajudado as iniciativas de irmãos valorosos e
abnegados,
que têm procurado minorar a crescente miséria da população que nos cerca, ou
temos nos comportado como aqueles descritos em Tg.2:16? - “e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e
lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?”.
1. As boas obras devem glorificar a Deus
No Sermão do Monte, Jesus
disse: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” (Mt.5:16).
Quando a luz da Igreja brilha, as pessoas devem ver não sua pujança, mas suas
boas obras. Essas obras não devem ser apenas boas, mas também belas e
atraentes. Mas, a Igreja não faz boas obras a fim de atrair a atenção das
pessoas para si; ela o faz para levá-las a conhecerem a bondade de Deus e
glorificá-lo. Portanto, quando um cristão faz boas obras, ele as realiza pelo
poder de Deus e para a glória de Deus.
2. As boas obras não podem ser corrompidas pelas
motivações egoístas
Disse Jesus: “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como
fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos
homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão” (Mt.6:2).
Mesmo as coisas mais sagradas, como a misericórdia, podem ser corrompidas pelas
motivações egoístas. Com base nesta advertência de Jesus aos judeus de sua
época, podemos afirmar que:
a) A misericórdia é uma
expressão legítima da espiritualidade cristã. Em Israel, à época de Jesus, dar dinheiro aos
pobres era um dos mais sagrados deveres no judaísmo. O socorro aos necessitados
é uma expressão da verdadeira fé. Quem ama a Deus, prova isso amando o próximo.
Quem foi alvo da misericórdia divina, é instrumento da misericórdia ao próximo.
A pessoa não é salva pelas obras de caridade, mas evidencia sua salvação por
meio delas. A salvação não é pelas obras, mas para as boas obras. A graça é a
causa da salvação, a fé é o instrumento, e as boas obras, o resultado.
b) A misericórdia é uma
prática esperada pelo cristão. Jesus não diz “se deres
esmola”, mas “quando deres esmola”. Com isso, Jesus afirma que se espera que o
cristão exerça a caridade. Um coração regenerado prova sua transformação em
atos de misericórdia. O cristão tem um coração aberto, o bolso aberto, as mãos
abertas e a casa aberta.
c) A misericórdia não pode
ser ostentatória. A prática da misericórdia não pode ser ostentatória. Não é suficiente
fazer a coisa certa: dar esmolas; é preciso também fazer com a motivação certa.
Dar esmolas e depois tocar trombeta, chamando atenção para si, é uma
espiritualidade farisaica, e não cristã.
d) A misericórdia
ostentatória só tem recompensa das pessoas, e não de Deus. O hipócrita é a pessoa
que desempenha um papel no palco como se fosse outra pessoa. Alguém disse, e
concordo com ela: “é mais fácil alguém fazer de conta que é reto, do que ser
reto de verdade”. A recompensa do hipócrita, que faz propaganda de seus
próprios feitos, é receber o aplauso das pessoas e nada mais. Jesus disse que o
hipócrita já recebeu o recibo de quitação plena de toda recompensa que tinha de
receber - “...Em verdade vos digo que já
receberam o seu galardão”.
e) A misericórdia precisa
vir de mãos dadas com a discrição (Mt.6:3) – “Mas, quando tu deres
esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita”. O cristão não dá ao
pobre para ser visto nem para ser exaltado pelas pessoas, nem para receber uma
recompensa em alguma dimensão espiritual, mas dá para que o necessitado seja
suprido e Deus seja glorificado.
f) A misericórdia exercida
com a motivação certa recebe de Deus a recompensa (Mt.6:4) – “para que a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em
secreto, te recompensará publicamente”. Aquilo que é feito ao próximo em
secreto, longe dos holofotes, recebe de Deus, que vê em secreto, a verdadeira
recompensa.
3. As obras de misericórdia são obras de amor ao
próximo
Na parábola do bom
samaritano (Lc.10:25-27), Jesus mostrou que próximo é qualquer um que esteja em
nosso caminho e, em algumas oportunidades, o apóstolo Paulo ensinou que fazer o
bem a outrem é uma qualidade que não pode faltar àqueles que dizem servir a
Deus (Rm.12:13-21; Cl.3:12-14; 1Ts.4:9-12). O salvo não pode se isentar de toda
e qualquer ação que venha promover o bem-estar da coletividade, que venha
mitigar o sofrimento daquele que está ao nosso redor.
Portanto, as obras de
misericórdia são parte da prática do amor cristão, que, segundo Jesus, deve ser
estendido até mesmo ao inimigo (Mt.5:44) – “ Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos
maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos
perseguem”. Obedecendo esta mesma linha de ensino de Jesus, o apóstolo
Paulo assim se expressa: “Portanto, se o
teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber;
porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça”
(Rm.12:20). Isto é fácil? Claro que não! Somente com a graça de Deus, e na
força do Espírito Santo, o cristão pode cumprir o mandamento de amar o inimigo.
4. As obras de misericórdia são atos de benignidade
"Que o teu coração não seja maligno, quando
lhe deres"(Dt.15:10a). Pobreza não é maldição, é consequência do
sistema controlado por homens gananciosos. Os pobres estão no nosso meio para
que tenhamos oportunidade de exercitar amor.
“Livremente lhe darás, e não fique pesaroso o teu coração quando lhe
deres; pois por esta causa te abençoará o Senhor teu Deus em toda a tua obra, e
em tudo no que puseres a mão"(Dt.15:10).
Não se arrependa de haver
dado, nem sinta dor no coração. O apóstolo João é enfático: quem vir a seu
irmão padecer necessidade e não suprir essa necessidade não é cristão - “Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o
seu irmão necessitado, lhe fechar o seu coração, como permanece nele o amor de
Deus?”(1João 3:17).
5. As obras de misericórdia são um mandamento
divino
Este mandamento é dito
tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, ou seja, ele foi dado para
Israel e para Igreja.
Deus reconheceu a
existência dos pobres no meio do seu povo e ordenou providência a respeito
deles - “Pois nunca cessará o pobre do meio da terra”(Dt.15:11a). Esta é a
frase que mais contraria a pregação contemporânea da teologia da prosperidade.
Pretende-se exterminar a pobreza no meio da igreja, no entanto, o texto
declara: "Pois nunca cessará o pobre do meio da terra". E Jesus
ratifica: "Porque os pobres sempre os tendes convosco"(João 12:8). O
sábio Salomão enfatiza que o pobre foi feito por Deus – “O rico e o pobre se
encontram; a um e a outro faz o SENHOR” (Pv.22:2).
Compete àqueles que tem
recursos, minimizar a situação dos pobres. Deus não prometeu riquezas para
todos, porém, daqueles a quem ele deu e dá riqueza, no exercício da Mordomia
Cristã das obras de misericórdia, Ele quer que os pobres não sejam esquecidos,
tal como aconteceu na Igreja de Jerusalém - “Não havia entre eles necessitado
algum...”(Atos 4:34). Pobres, sim; necessitados, não. Esta é a regra a ser
seguida pela Igreja, hoje.
CONCLUSÃO
É mister que a Igreja dê
o exemplo, que tenha, a partir de sua membresia, ações efetivas que mostrem ao
mundo que somos diferentes e que cremos num Deus poderoso, justo e
misericordioso. Enquanto nós mesmos nos mantivermos alheios ao sofrimento do irmão,
egoístas e sem compaixão, seremos totalmente impotentes com relação ao
lamentável estado de coisas que vive a nossa sociedade e, pior do que isto,
cúmplices e envolvidos em toda a sorte de desatinos, desvios e corrupções,
como, lamentavelmente, têm ocorrido em escândalos cada vez mais frequentes no
nosso meio. Que Deus nos desperte e que tenhamos misericórdia, benignidade e
bondade em nossas obras. As obras de misericórdias são o testemunho bíblico da
nossa fé.
----------
Luciano de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo
Pentecostal.
Bíblia de estudo –
Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico
popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão
– nº 79. CPAD.
Comentário Bíblico
Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo
Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Elinaldo Renovato.
Tempo, Bens e Talentos – Sendo mordomo fiel e prudente com as coisas que Deus
nos tem dado. CPAD.
Ev.
Caramuru Afonso Francisco. Benignidade e Bondade, o fruto gêmeo.PortalEBD_2005.
Rev.
Hernandes Dias Lopes. Mateus – Jesus, o Rei dos reis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário