“Disse então Maria. Eis
aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (Lc.1:38).
Por: Luciano de Paula Lourenço
- Em homenagem ao dia das mães
Apesar de circunstância tão
adversa que a humanidade está enfrentando, não podemos deixar de homenagear
aquela que de forma extraordinária e espantosa contribuiu para que tivéssemos
vida. Estou falando das mães. Infelizmente, a minha mãe não está mais comigo;
há três anos, exatamente no dia das mães, ela partiu para o Paraiso; sua
ausência foi fatídica e nos causou muita tristeza; ela era uma mãe admirável.
Hoje, dia 10 de maio de 2020, comemoramos o dia das mães. Segundo
relato histórico que li, a responsável pela inclusão desta data comemorativa no
calendário, foi Anna Jarrvis,
nascida em 1864, em Webster, Estados Unidos; ela era professora no Oeste do
Estado da Virgínia, mudando-se, depois para a cidade de Filadélfia, com a mãe,
viúva, e uma irmã cega. Anna era muito devotada à sua mãe, porém, esta veio a
falecer em 1907. Após sua morte, Anna iniciou uma campanha para criar o dia
nacional das mães. Durante os trabalhos de sua Igreja, ela persuadiu os frequentadores
a comemorar a data no aniversário da morte de sua mãe, no segundo domingo de
maio. A primeira celebração pública do
dia das mães ocorreu no dia 10 de maio de 1908.
Em
1912, no Oeste da Virgínia, a data foi decretada feriado em todo o Estado.
Seguiram o exemplo Oklahoma, Washington, Pensilvânia e, finalmente, todos os
Estados norte-americanos.
Em
09 de maio de 1914, o presidente Woodrow Wilson oficializou a data. Alguns
paises celebram o dia das mães em outras épocas do ano, porém, muitos seguem a
tradição iniciada por Anna Jarvis e homenageiam as mães no segundo domingo de
maio.
No Brasil, a Associação Cristã de Moços introduziu a
comemoração a partir de 1918. Em
5 de maio de 1932, Getulio Vargas instituiu oficialmente, o dia das mães no
segundo domingo de maio.
É
claro que, como muitos afirmam, todo dia deve ser dia das mães, porém, destacar
um dia especial como sendo o dia das mães é justo e meritório. Temos por certo
que aquele filho, ou filha, de qualquer idade, que durante todo o ano não
dedica a sua mãe o devido respeito, carinho e obediência, também, não deve, no
dia das mães, hipocritamente, pretender homenageá-la.
Estamos
certos que a homenagem que toda mãe, bem como todo o pai deseja, é o amor de
seus filhos. Em havendo amor os demais requisitos ficam fáceis de serem
observados; isto, não apenas um dia ao ano, mas em todos os dias do ano. Ninguém
que se diz cristão pode tratar seus pais sem o devido respeito, pois, a Bíblia
Sagrada diz: “Vós, filhos, sede
obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a
tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas
muito tempo sobre a terra”(Ef.6:1-3).
Às mães de todo o mundo,
as nossas sinceras homenagens neste dia, e sempre.
Quero,
por ocasião desta data, falar de uma mãe que merece estar no pedestal. É claro
que se ela estivesse aqui ela diria: “longe de mim tal merecimento”. Mas para
falar de Maria, mãe de Jesus, eu
digo como Paulo: “Dai a
cada um o que lhe é devido.... a quem honra, honra”(Rm.13:7).
Maria foi uma mulher digna de ser imitada não só pelas
mães, mas por todos os cristãos de todos os tempos: por sua humildade,
coragem, abnegação, fervor e fidelidade a Deus. Ela foi uma mulher que esteve
pronta a correr todos os riscos para realizar a vontade de Deus. Vejamos a
seguir alguns aspectos extraordinários dessa mãe maravilhosa.
1. Maria uma mulher escolhida por Deus para
ser a mãe do Senhor Jesus
Ser
a mãe do Messias era o desejo de qualquer mulher israelita. O povo esperava um
Messias da linhagem de Davi, porém um Messias ditatorial, guerreiro,
libertador, déspota, invencível, mas nunca jamais imaginaram vir o Messias de
alguma cidade da Galileia, a Galileia dos Gentios (Mt.4:15), principalmente de
uma família pobre de Nazaré. O povo de Jerusalém desdenhava os judeus da Galileia
e dizia que eles não eram puros em virtude do seu contato com os gentios. Eles
especialmente desprezavam os habitantes de Nazaré (João 1:45,46), mas Deus, em
sua graça, escolheu uma jovem pobre, da pequena cidade de Nazaré, na pobre
região da Galileia, para ser a mãe
do Messias prometido. Essa escolha teve sua origem na graça de Deus e não em
qualquer mérito dela. Deus não chama
as pessoas porque são especiais, mas elas se tornam especiais porque Deus as
chama.
Quando
o anjo apareceu a Maria, pela primeira vez, quando da escolha para ser a mãe do
Salvador ele diz: “...Salve,
agraciada; o Senhor é contigo”(Lc.1:28).
Agraciada significa favorecida, não merecedora, pois graça significa favor não merecido. Observe, também, que a mensagem do anjo
estava na criança, e não em Maria. O Filho seria grande, não ela (Lc.1:31-33).
O nome da criança resumia o propósito do seu nascimento; Ele seria o Salvador
do mundo (Lc.1:31; Mt.1:21). O anjo revela a Maria que a concepção seria um
milagre. Disse-lhe o anjo: “Virá
sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra;
por isso o que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus”(Lc.1:35).
O Deus Filho tornou-se humano por meio de uma concepção milagrosa,
operada pelo Espírito Santo no ventre
de Maria. O Deus infinito, o Criador do universo, tornou-se um pequeno
embrião humano no ventre de Maria. Dentre muitas jovens ricas daquela época e
de famílias que moravam em Jerusalém, escolheu
uma humilde e simples jovens da mais humilde e desprezível cidade dos termos de
Israel. Considero isso um privilégio - “...porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que
está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”(1Sm.16:7).
2. Maria, uma mãe disponível para Deus
“Disse então Maria.
Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (Lc.1:38).
O anjo chamou Maria de “favorecida”, porém, ela preferiu um termo
bem mais humilde: serva; não
serva de Gabriel, de José ou de homem algum, mas do próprio Senhor. Essa
atitude de Maria resume toda a sua filosofia de vida.
Maria se coloca nas mãos de Deus para a realização dos propósitos
de Deus. Ela é serva. Ela está
pronta. Ela se entrega por completo, sem reservas ao Senhor. Ela está pronta a
obedecer e oferecer sua vida, seu ventre, sua alma, seus sonhos ao Senhor. Ela
está disponível para Deus. Ela está pronta a sofrer riscos, a desistir dos seus
anseios em favor dos propósitos de Deus. Ela está pronta para ser uma sócia de Deus, não uma igual com Deus, mas
uma serva. Ela diz: “cumpra-se
em mim conforme a tua palavra”. Estes termos mostram que ela estava
disponível para Deus. De todos os úteros da terra, o seu útero foi escolhido para ser o ninho
que ternamente acalentaria o Filho de Deus feito homem. A serva de Deus, Maria, se
apresenta, bate continência ao Senhor dos Exércitos e se coloca às suas ordens.
3. Maria, uma mãe disposta a correr riscos
para fazer a vontade de Deus
“... cumpra-se em mim
segundo a tua palavra”(Lc.1:38).
Para fazer a vontade de Deus há um preço a cumprir. Sempre foi
assim ao longo da história da Igreja àqueles que ergueram a bandeira de
obediência ao Senhor Deus. Maria
arriscou tremendo reveses em sua vida quando se propôs em fazer a vontade do
Senhor: ser a mãe do Salvador do mundo, o Messias.
a) Risco de censuras do povo
Ao aparecer grávida na cidade de Nazaré Maria estava exposta às
mais aviltantes censuras, haja vista que o anjo apareceu somente a ela, e não
ao povo de um modo geral. Imagine explicar uma gravidez, não explicável, para
sua família! Maria passou um tempo da sua vida sob uma nuvem de suspeita por
parte da família e dos vizinhos.
b) Risco de ser abandonada pelo seu
noivo, José, por não acreditar em sua gravidez milagrosa
Já que assumiu o compromisso de obedecer a Deus, como enfrentar o
homem que amava e lhe dizer que estava grávida e que ele não seria o pai?
Certamente, não foi fácil! Mas ela estava disposta a sofrer o desprezo e a
solidão. Na verdade, José não acreditou em Maria, pois resolveu abandoná-la(Mt.1:19);
mas, o anjo apareceu a ele e lhe contou a verdade e ele creu na mensagem do
anjo e nas palavras de Maria(Mt.1:20). A Bíblia não registra nenhuma palavra
direta de José, ele simplesmente obedeceu.
c) Risco de ser apedrejada em público
O risco de Maria ser apedrejada era enorme, pois esse era o
castigo para uma mulher adúltera. Como ela já estava comprometida com José (Mt.1:19),
ele poderia, com base nos ditames da Lei Mosaica, mandar apedrejá-la. A Lei era
enfática: “Se houver moça virgem
desposada e um homem a achar na cidade, e se deitar com ela, trareis ambos à
porta daquela cidade, e os apedrejareis até que morram: a moça, porquanto não
gritou na cidade, e o homem, porquanto humilhou a mulher do seu próximo. Assim
exterminarás o mal do meio de ti”( Dt.22:23,24).
Percebe-se
que Maria dispôs-se a pagar um alto preço por sua obediência ao projeto de
Deus. Maria era uma jovem pobre, agora grávida, com o risco de ser abandonada
pelo noivo e apedrejada pelo povo. Mas ela não abre mão de ir até o fim, de
lutar até a morte, de sofrer todas as estigmatizações possíveis para cumprir o
projeto de Deus.
4. Maria, uma mãe que suportou tudo por amor
a Deus
Maria,
uma serva de Deus que merece ser imitada e respeitada. Nada poderia abalar sua
fé, nem mesmo as piores crises. Tudo suportou por amor a Deus.
a) Suportou a crise do desabrigo
Após
andar, aproximadamente, 130 quilômetros a pé ou de jumento, de Nazaré até Belém,
ela dar à luz uma linda criança, o seu “Primogênito”, o Filho do Altíssimo, o
Verbo que se fez carne. Bem, o Filho do Altíssimo deve ter nascido em berço de
ouro, por ser também da linhagem do rei Davi! Nada disso! Todos sabemos que Ele
nasceu numa humilde manjedoura, rodeados de animais, e num local não muito
cheiroso. Se ela duvidou de Deus? Não, claro que não! Maria, além de uma mãe
exemplar, ela era uma serva do Senhor, plenamente submissa a Ele. Ela não
duvidou de Deus, não lamentou, não murmurou, nem se exaltou; não reivindicou
seus direitos, nem exigiu tratamento especial. Ela dá à luz ao seu filho sem um
lugar propício, sem um médico ou parteira. Ela está sozinha com o seu marido,
sem luzes, sem holofotes, sem cuidados, sem proteção humana.
b) Suportou a crise do desterro
Por
força de um intento maligno do rei Herodes em matar o seu filho, Maria foge
para o Egito. A crise agora era ainda mais cruenta: era a crise de se sentir
sem lugar certo para morar. Maria está enfrentando a crise de sentir-se desterrada,
perseguida, ameaçada. Vão para um lugar onde serão ninguém, onde todos os
vínculos importantes estarão ausentes. Ela é humilde o bastante para fugir; é corajosa
o suficiente para enfrentar os perigos do deserto. Ela caminha sintonizada
pelas mãos da Providencia Divina. Ser mãe do Messias em vez de trazer-lhe status, glória e honra traz-lhe
solidão, perseguição, desterro. Ela obedece à voz do anjo que imperativamente
disse: “...permanece lá até que eu
te avise...”(Mt.2:13).
c) Suportou a crise da discriminação
social
Após
o retorno do Egito, Maria foi morar em Nazaré da Galileia, juntamente com José
e Jesus. Nazaré era considerada como subúrbio do fim do mundo; era um dos
maiores covis de ladrões e prostitutas da época. O comentário geral era que de
Nazaré não saia nada de bom (João 1:46). Era uma região sem vez, sem voz, sem
representatividade. Era um lugar de péssima reputação. Mas é lá nesse caldeirão
de terríveis iniquidades, nessa região da sombra da morte, que o Filho de Deus
vai crescer para ser o Salvador do mundo. É como se Deus estivesse armando a
sua barraca nas malocas mais perigosas da vida. O Filho de Deus, o Rei dos
reis, deveria ser chamado não de cidadão da gloriosa Jerusalém, mas de
Nazareno, termo pejorativo, sem prestigio.
5. Maria e o dia de seu maior sofrimento
Quando da apresentação de Jesus no Templo, em cumprimento aos
ditames da Lei (Lc.2:27), Simeão, um ancião de Jerusalém, disse à Maria que “uma espada transpassará a tua alma”(Lc.2:35). É claro que Maria não
entendeu nada do que se dizia de Jesus naquele momento, apenas se admirava do
que se dizia de Jesus (Lc.2:33). Mas trinta e três anos após cumpriu-se esta
profecia, lá na cruz do calvário. Foi um dia negro da história da humanidade e,
principalmente, na vida de Maria; contudo, um dia mais glorioso da história da
humanidade. Era um dia de contrastes: Jesus morria, Jesus vencia; Jesus era
humilhado, Jesus era glorificado; Ele era cercado de ódio por todos os lados,
mas transbordando de amor por todos os poros do seu corpo.
Ao pé da cruz, está Maria sofrendo indescritivelmente ao ver seu Filho
Primogênito morrendo sem sangue, exausto, sem forças. Ali, uma espada traspassou a sua alma. A espada era invisível, mas não o
seu efeito.
Na cruz, Jesus confia Sua mãe a João, seu discípulo amado; ele era
sobrinho de Maria. Diz o trecho bíblico em João 19:26,27: “Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo
amado, disse: Mulher, eis ai teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua
mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa”. Ali na
cruz, Jesus revelou seu amor cheio de cuidado por sua mãe. Ali, Jesus ensina
que os filhos precisam cuidar dos pais.
6. Maria, a discípula de Jesus
Maria só despertou-se para seguir realmente a Jesus, após a sua
morte e ressurreição, mais precisamente após a sua ressurreição. Por seus
irmãos não crerem em Jesus (João 7:5), apesar dos milagres que Ele operava na Galileia
(João 7:3), Maria, certamente, duvidava que Jesus fosse o Messias, é tanto que
ela e seus outros filhos foram prender Jesus, achando que Ele estava “fora de si”(Mc.3:20), por estar há
muito tempo sem comer. Com as multidões sempre o pressionando, Jesus não tinha
sequer tempo para alimentar-se. Maria e seus filhos estavam preocupados com
Jesus, mas não entendiam o seu ministério.
Mas, após a sua ressurreição toda a sua família, inclusive Maria,
tornou-se discípulos de Jesus. Com certeza, eles estavam dentre os quinhentos
que Jesus aparecera (1Co.15:6); é tanto que Maria e os irmãos de Jesus estavam
entre aqueles que aguardavam, em oração, a promessa do derramamento do Espírito
Santo, no cenáculo (cf. Atos 1:14); é a
última vez que Maria aparece na Bíblia.
Maria fechou sua passagem pela Bíblia com chave de ouro: recebeu o
Batismo com o Espírito Santo e tornou-se uma discípula de Jesus revestida de
poder. Observe bem que no cenáculo, Maria tomou o seu lugar com os outros
cristãos que aguardavam a promessa do Batismo com o Espírito Santo. Ela não
estava separada dos demais e nem acima deles. Ela estava na companhia daqueles
que eram seguidores do Senhor Jesus. A Bíblia não diz que Maria recebeu uma
porção especial do Espírito; Ela não foi mais cheia que os demais. Não. Na
verdade, seu lugar doravante foi discreto. Seus filhos Tiago e Judas são
mencionados; escreveram livros da Bíblia, mas Maria não é citada mais, nem
pelos apóstolos, nem pelos seus próprios filhos. O propósito dela não era estar
no centro do palco, mas trazer ao mundo Aquele que é a Luz do mundo, o único
digno de ser adorado e obedecido.
Conclusão
Maria
foi uma mulher que iniciou sua carreira como humilde serva de Deus e termina a
carreira como discípula de Jesus Cristo. Portanto, ela é uma mãe digna de ser
imitada por todos os cristãos de todos os tempos: por sua humildade, coragem,
abnegação e fervor a Deus; por abrir mão de seus sonhos, dos seus projetos para
abraçar o propósito de Deus.
Ao
longo da sua vida, por sua limitada humanidade, Maria não entendeu todos os
aspectos do ministério do seu Filho, mas, sempre soube o seu papel e o
desempenhou com discrição, jamais buscando ocupar um lugar central na vida e
ministério de Jesus.
Os
evangelhos não denunciam nenhuma posição de destaque que coloque Maria acima de
qualquer pessoa. Ela não foi, em momento algum, o centro das atenções. O realce
maior que se dá a essa mulher é a posição de serva do Senhor (Lc.1:38), tomando
como destaque o único mandamento que ela deixou: “Fazei tudo o que ele vos disser” (João 2:5).
Que
Deus nos ajude a imitar a essa bem-aventurada mulher, e jamais colocá-la num
pedestal que nunca Deus a colocou, nem ela jamais aceitaria, mas imitando seu exemplo como humilde
serva de Deus e mãe extraordinariamente exemplar. Amém!
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Luciano
de Paula Lourenço
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