2º Trimestre/2020
Texto Base: Efésios 2:11,12; Romanos
4:12-14
10/05/2020
“Portanto, lembrai-vos de que vós, noutro
tempo, éreis gentios na carne e chamados incircuncisão pelos que, na carne, se
chamam circuncisão feita pela mão dos homens” (Ef.2:11).
Efésios
2:
11.Portanto, lembrai-vos de que vós, noutro
tempo, éreis gentios na carne e chamados incircuncisão pelos que, na carne, se
chamam circuncisão feita pela mão dos homens;
12.que, naquele tempo, estáveis sem Cristo,
separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não
tendo esperança e sem Deus no mundo.
Romanos
4:
12.e fosse pai da circuncisão, daqueles que
não somente são da circuncisão, mas que também andam nas pisadas daquela fé de
Abraão, nosso pai, que tivera na incircuncisão.
13.Porque a promessa de que havia de ser
herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão ou à sua posteridade, mas
pela justiça da fé.
14.Pois, se os que são da lei são herdeiros,
logo a fé é vã e a promessa é aniquilada.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos da “condição dos gentios
sem Deus”. Na Aula anterior aprendemos que o ser humano sem Deus estava morto
(Ef.2:1-3), mas o grande amor de Deus deu nova vida a homens e mulheres. Nesta
Aula, aprenderemos que o propósito de Deus vai além do indivíduo, mostrando que
implica também trazer pessoas, seja qual for a etnia ou origem, para ser da
“família de Deus” (Ef.2:19). E para que isso acontecesse, uma grande
transformação teria que ser feita na situação dos gentios.
Os textos de Efésios 2:11 e Efésios 2:13 são
marcados, respectivamente, pelas palavras “noutro tempo” e “agora”, para
mostrar a situação dos gentios antes e depois da conversão a Cristo. Antes, sem
Cristo, os gentios estavam longe de Deus, separados de Israel, alienados quanto
à promessa, sem esperança e sem Deus no mundo; agora, foram aproximados
(Ef.2:13). O preço dessa reconciliação foi “o sangue de Cristo” (Ef.2:13). A
parede de separação ruiu e um novo povo nasceu: a Igreja de Jesus Cristo.
I.
CHAMADOS INCIRCUNCISÃO
“Portanto, lembrai-vos de que vós, noutro
tempo, éreis gentios na carne e chamados
incircuncisão pelos que, na carne, se chamam circuncisão feita pela mão dos
homens” (Ef.2:11).
1. O
Conceito de Circuncisão
A Circuncisão é uma pequena cirurgia feita no
prepúcio de todos os meninos judeus. Quando o menino judeu tem oito dias de
vida, é realizada uma cerimônia onde se retira um pequeno pedaço de pele,
chamado prepúcio, do órgão genital masculino. Esse procedimento não causa danos
físicos (em alguns casos é até bom para a saúde), mas serve como sinal que a
criança pertence a um povo diferente do povo gentio. Fica sempre uma marca no
seu corpo para lhe lembrar disso (Gn.17:12-13).
Deus estabeleceu a circuncisão quando fez Seu concerto
com Abraão (Gn.17:10); era um sinal estabelecido por Deus a Abraão e os seus
descendentes, o povo judeu – “E
circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal do concerto entre mim e vós” (Gn.17:11). Era um
sinal que a pessoa era descendente de Abraão e também fazia parte do Concerto
(Gn.17:9-11). Quem não era circuncidado era tido como “incircunciso” e, portanto,
excluído do concerto.
Só os homens eram circuncidados, porque o
homem era considerado o líder espiritual de sua família. Quem era circuncidado
tinha a responsabilidade de obedecer a Deus e ensinar seus filhos a obedecer
(Dt.6:6-7).
2. O
significado religioso da circuncisão
O significado religioso da circuncisão
apontava para separação do pecado e exclusividade para Deus. Era um indicativo
tangível de que os israelitas aceitaram o concerto com Deus e de ter o próprio
Deus como Senhor deles. Era um sinal de justiça que tinham mediante a fé
(Gn.15:6; Rm.4:11) – “E recebeu o sinal
da circuncisão, selo da justiça da fé...”.
Por meio deste sinal o povo judeu se lembraria
das promessas que Deus lhe dera, e das suas próprias obrigações pessoais ante o
concerto (Ex.17:14) – “E o macho com
prepúcio, cuja carne do prepúcio não estiver circuncidada, aquela alma será
extirpada dos seus povos; quebrantou o meu concerto”.
Só que com o passar do tempo, os judeus
valorizaram demasiadamente a circuncisão em detrimento do seu valor espiritual.
A circuncisão havia sido dada por Deus a Abraão como o sinal externo de que a
pessoa pertencia ao povo da Aliança. Mas, tanto o ritual físico quanto a
palavra circuncisão, haviam assumido uma importância exagerada. Eles se
apegaram tanto ao valor externo do sinal que dividiram o mundo em duas partes:
os judeus (circuncisos) e os não judeus (incircuncisos).
A circuncisão havia sido dada por Deus a
Abraão como o sinal externo de que a pessoa pertencia ao povo da aliança, mas
tanto o ritual físico quanto a palavra haviam assumido uma importância
exagerada. Com escárnio, chamavam os não judeus de “incircuncisos”, ou seja,
que eles não traziam na sua carne o sinal físico que distinguia os israelitas
como o povo com quem Deus fizera uma aliança. Era tão sério que os judeus se
recusavam até mesmo a comer com os “incircuncisos” (cf. Atos 11:3)
Segundo William Macdonald, os termos
“incircunciso” e “incircuncisão” eram termos de desprezo étnico semelhante
àqueles usados hoje em dia para se referir a nacionalidades que as pessoas
menosprezam. A força dessa palavra pode ser sentida na frase dita por Davi
sobre o gigante Golias: “Quem é, pois, esse incircunciso filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo?”
(1Sm.17:26).
Separação do pecado, exclusividade para Deus,
sim; porém, desprezar as pessoas e exclui-las por causa de sua religião ou de
um ritual que caracteriza esse povo, não é um procedimento coerente com o do
povo que se diz ser de Deus; e Deus não aceita este tipo de comportamento, pois
Ele quer que todos os povos reconciliem-se com Ele e aceitam a verdade, que é
Cristo - “que quer que todos os homens se
salvem e venham ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus e um só
mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o qual se deu a si mesmo
em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo”
(1Tm2:4-6).
3. A
circuncisão do coração
Em contraste com os “incircuncisos” os judeus
chamavam-se de os “circuncisos”. Tinham muito orgulho desse nome, pois os
identificava como um povo separado de todas as demais nações da terra.
Para os judeus, os gentios eram “cães
incircuncisos”. O mais triste é que os judeus se fiavam na marca física, em vez
de depositarem sua fé na realidade espiritual que esse sinal representava
(Dt.10:16; Jr.9:26; Ez.44:9). Paulo critica essa ostentação dizendo que a
circuncisão dos judeus era feita “na carne, por mãos humanas”, sendo meramente
física. Embora tivessem o sinal externo da aliança do povo de Deus, não
possuíam a realidade interna de uma verdadeira fé no Senhor - “Porque não é judeu o que o é exteriormente,
nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no
interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra, cujo
louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Rm.2:28,29).
O verdadeiro judeu era aquele que possuía uma
experiência espiritual interior no coração, não apenas uma cirurgia física
exterior. A circuncisão que vale não é a do prepúcio externo, mas a circuncisão
do coração.
Já no Pentateuco, ou seja, na própria lei de
Moisés, o Senhor revelara a Israel que a circuncisão mais importante, a
circuncisão que se buscava não era a retirada do prepúcio (ou seja, da pele que
reveste o órgão genital masculino) do menino de oito dias, mas, antes de tudo,
um pacto, uma aliança que se estabelecesse entre Deus e o homem, no qual o
homem abria mão do seu poder de vontade (o órgão genital masculino simboliza a
virilidade do homem, ou seja, a sua força, o seu poder, a sua capacidade, o seu
“ego”), para passar a fazer a vontade de Deus, para assumir um compromisso de
servir e de agradar a Deus dali para a frente, de ser um membro do povo do
Senhor, da nação santa, do sacerdócio real, da geração eleita do Senhor.
Não é por outro motivo que Moisés exortou o
povo a que “circuncidasse o prepúcio do
seu coração e não endurecesse a sua cerviz” (Dt.10:16), bem como deixou a
promessa ao povo de Israel de que Deus “circundaria
o seu coração e o coração de sua semente para que amassem ao Senhor seu Deus de
todo o coração e com toda a sua alma, para que vivessem” (Dt.30:6).
Pelo que podemos observar, na própria lei de
Moisés, a circuncisão é apresentada como um pacto de obediência, amor e
adoração a Deus. Paulo lembra os colossenses de que, a partir do momento em que
eles haviam aceitado a Cristo e passado a obedecê-lo, o que significa amá-lo,
pois quem ama a Jesus cumpre os Seus mandamentos (Jo.15:10,14), eles já estavam
circuncidados e, o que é mais importante, com a circuncisão desejada por Deus,
com uma circuncisão plena e permanente, uma circuncisão que não era apenas
física, mas espiritual, a circuncisão que havia sido anunciada e pregada pelo
profeta Jeremias a um povo que, embora circunciso fisicamente, estava
muitíssimo distante da vontade do Senhor (Jr.4:4).
Os judeus sentiam-se seguros acerca da sua
salvação por causa da circuncisão. Acreditavam, e penso que ainda acreditam,
que “o homem circuncidado não vai para o inferno”, e que “a circuncisão livrará
Israel do inferno”. Até mesmo no princípio da Igreja, os cristãos vindos do
judaísmo acreditavam nesta questão (cf. Atos 15:1) – “Então, alguns que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos:
Se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos”.
De igual modo, muitos crentes hoje podem
argumentar que são especiais porque possuem a Bíblia, frequentam uma igreja,
foram batizados e participam da Ceia do Senhor. O verdadeiro cristão, porém,
não é uma pessoa que meramente se submete a certos ritos, mas alguém que adotou
esses ritos porque crê que foram estabelecidos pelo Senhor e deseja desta forma
expressar-lhe amor e devotamento, buscando o louvor que procede não dos homens,
mas de Deus.
4. A
circuncisão na Nova Aliança
O povo de Deus da Nova Aliança deve ser
circuncidado? Não. O cristão não deve ser circuncidado. Jesus nunca ordenou a
circuncisão. Mesmo no Velho Testamento a circuncisão era apenas um sinal
exterior, que nunca salvou ninguém. A circuncisão não tinha significado algum
se a pessoa não obedecesse a Deus (Rm.2:25) – “Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se tu guardares a lei;
mas, se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão”.
No início da Igreja houve muito debate se os
cristãos deviam ser circuncidados. Os judeus que se tinham convertido achavam
que sim, mas os que não eram judeus achavam que não (Atos 15:1,2). Os apóstolos
discutiram sobre o assunto e chegaram ao consenso que a circuncisão não era
necessária (Atos 15:19,20).
A Bíblia explica que o mais importante é a
“circuncisão do coração”. Deus se preocupa com o interior, não com cerimônias
exteriores. Quem tem o coração marcado pela presença de Jesus Cristo faz parte
da Nova Aliança e é verdadeiramente circunciso (Fp.3:3). A aparência exterior
não afeta o interior, mas o interior afeta a vida toda. Por isso o cristão não
precisa nem deve se circuncidar.
Na Igreja de Colossos, havia um grupo de
crentes, convertidos do judaísmo, que insistiam que os novos crentes teriam que
circuncidar-se. Os judaizantes defendiam que os crentes gentios, assim que
aceitassem a Cristo, deveriam se circuncidar, para, desta forma, passar a ser
parte da descendência de Abraão, pois, na dispensação da lei, era assim que
deveria proceder quem aceitasse o Deus de Israel, tanto que não poderia
participar da páscoa o estrangeiro que não tivesse, antes, se circuncidado
(Ex.12:44,48). Em assim fazendo, os judaizantes estavam anulando o valor do
sacrifício de Cristo para que o homem entrasse em comunhão com Deus, porquanto
ensinavam que somente através da circuncisão alguém poderia passar a fazer
parte do povo de Deus, da Igreja, como se o ritual da circuncisão física fosse
uma necessidade para que alguém viesse a ser salvo.
Paulo teve que intervir neste caso da igreja
em Colossos. Ao indicar a posição espiritual dos crentes em Cristo,
aproveitando a ocasião para também desmentir os judaizantes, afirmou que o
crente que está em Jesus, que se submete a Jesus, além de ser perfeito em
Cristo, também foi circuncidado, não num ritual de circuncisão física, como a
que foi instituída por Deus a Abraão e a seus descendentes biológicos, mas uma
circuncisão de Cristo (Cl.2:11)
– “no qual também estais circuncidados
com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo da carne: a circuncisão
de Cristo”.
O problema daqueles que entendem que o crente
está ainda debaixo da lei de Moisés é exatamente este: negam a suficiência do
sacrifício de Cristo na cruz do Calvário para a salvação do homem e entendem
que o homem, para ser salvo, além de aceitar a Cristo, deve, também, cumprir a
lei. Ora, como bem nos mostra a Bíblia Sagrada, nenhum homem jamais conseguiu
cumprir a lei, com exceção de Jesus Cristo e, portanto, quem recorre à lei para
se salvar lança sobre si uma maldição, pois, pela lei, jamais alcançará a
salvação (cf. Gl.2:21,
4:1-20).
O crente, quando aceita a Cristo, faz um pacto
com o Senhor, passa da morte para a vida (João 5:24), pois estava separado de
Deus por causa dos pecados, mas, pelo sangue de Cristo, agora chega perto do
Senhor (Ef.2:13-16), sem que, para tanto, fosse preciso seguir a lei de Moisés,
uma vez que a lei foi integralmente cumprida pelo Senhor (Mt.5:17).
Cumprida a finalidade da lei, que era tão
somente a de indicar Cristo (Gl.3:24), não temos porque nos preocuparmos em
querer cumpri-la, visto que, agora, em Cristo, já estamos circuncidados, ou
seja, já fazemos parte integrante do Corpo de Cristo, da Sua Igreja, do povo de
Deus e, como tal, estamos em comunhão com Deus, aguardando a vinda do Senhor
para que nos leve a um lugar onde sempre moraremos com Ele (João 14:1-3). Veja
que linda exortação de Paulo aos crentes de gálatas:
“Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão
nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura”
(Gl.6:15).
II.
ESTRANHOS AO CONCERTO DA PROMESSA
“Que, naquele tempo, estáveis sem Cristo,
separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não
tendo esperança e sem Deus no mundo” (Ef.2:12).
Em Efésios 2:1-3 Paulo já havia descrito a
terrível condição espiritual dos gentios, mostrando que eles eram escravos da
carne, do mundo e do diabo. Agora, Paulo resume essa falência espiritual deles
em cinco frases descritivas e negativas:
eles estavam sem Cristo; eles estavam
separados da comunidade de Israel;
eles eram estranhos às alianças da
promessa; eles não tinham esperança;
e viviam sem Deus no mundo.
1.
Uma vida sem Cristo (Ef.2:12)
“Que, naquele tempo, estáveis sem
Cristo...”. Uma vida sem Cristo é o contrário de “estar
em Cristo” (Ef.2:5). Os gentios estavam espiritualmente alienados, falidos
espiritualmente; estavam sem Cristo, longe das bênçãos espirituais tratadas na Aula 02
(Ef.1:3).
Os gentios estavam separados de Cristo, sem
nenhuma relação com o Messias prometido. Enquanto os judeus aguardavam o Messias,
os gentios não o aguardavam nem sabiam nada sobre Ele. Os efésios adoravam o
ídolo Diana em vez de adorar a Cristo. Eles viviam imersos numa imensa
escuridão espiritual. Assim eram todos os gentios, e assim são todos os que
ainda não receberam o Messias, o Senhor e Salvador Jesus Cristo.
2.
Separados da Comunidade de Israel (Ef.2:12)
“...separados da comunidade de Israel...”. A
comunidade de Israel era o ambiente no qual Deus se manifestava e se tornava
conhecido. Os gentios estavam fora do círculo daqueles que adoravam o Deus
verdadeiro. Deus havia chamado a Israel e lhe dado sua lei e suas bênçãos, mas
os gentios estavam fora. A única maneira de um gentio desfrutar dessas bênçãos
era se fazer um prosélito.
A Bíblia deixa muito claro que a vontade de
Deus sempre foi que os estrangeiros participassem das bênçãos da salvação
(Gn.22:18; Êx.12:49; Lv.19:34; 1Reis 8:41-43; Ed.6:21; Salmo 72:8-17;
Is.54:2,3; 56:3-8; 60:1-3; Jr.39:15-18; Joel 2:28-32; Amós 9:11,12; Zc.8:23;
Ml.1:11). É verdade que algumas vezes havia resistência por parte de alguns à
chegada de prosélitos; alguns judeus de fato não apreciavam muito o trabalho
missionário; o profeta Jonas parece ter sido um desses, ou pelo menos
se comportou como um, mas Deus o repreendeu por isso.
Por outro lado, o próprio Antigo Testamento
registra histórias de prosélitos que foram muito fiéis a Deus; dois dos
exemplos mais conhecidos são as histórias de Raabe e Rute. Raabe era
uma cananita que habitava em Jericó; já Rute era uma moabita. Essas duas
mulheres foram recebidas na comunidade judaica, e pela vontade soberana de Deus
tiveram participação importante na história da redenção. Tanto Raabe quanto
Rute são citadas na genealogia de Jesus.
Posteriormente, no período
interbíblico e no tempo do Novo Testamento, o número de prosélitos cresceu
ainda mais. Isso também teve a ver com o contexto geopolítico daquela época.
Nesse tempo a Bíblia Judaica (Antigo Testamento) foi traduzida para o idioma
grego, as sinagogas foram abertas ao público e, consequentemente, muitos
gentios abandonaram suas práticas pagãs e se converteram ao Deus de Israel.
A atividade missionária dos judeus em busca de
prosélitos era algo comum à época de Jesus. Inclusive, certa vez Jesus
repreendeu os escribas e fariseus que dispensavam muitos
esforços para a conversão de um prosélito e faziam dele um “filho do
inferno” (Mt.23:15). Com isso, Jesus não estava se posicionando contra
os prosélitos; Ele simplesmente estava dizendo que os religiosos judeus, que
tinham distorcido a verdadeira religião com conceitos humanos, faziam mais mal
do que bem aos prosélitos, pois os contaminavam com uma religiosidade hipócrita
e uma doutrina de salvação pelas obras.
3.
Alienados aos pactos das promessas (Ef.2:12)
“... estranhos aos concertos da promessa...”. As
promessas feitas a Abraão não tinham alcançado os gentios. Eles eram estranhos
às alianças. Essas alianças foram os acordos relativos à promessa do Messias,
feitas a Abraão e aos seus descendentes. E foi pela fé nessa promessa que os
santos da Antiga Aliança obtiveram a salvação. Os gentios eram estranhos e
estrangeiros; não havia alianças com eles; não estavam debaixo do pacto que
tinha sido feito com Israel (Rm.9:4). Mas, depois que Cristo morreu na Cruz do
calvário, tudo mudou para os que não eram judeus.
Como bem diz o Pr. Douglas Baptista, “hoje,
após a revelação contida na Nova Aliança, sabemos que os gentios também estavam
inclusos na promessa no plano divino (Gl.3:29). Isso, porém, só seria possível
por meio de Cristo (Gl.3:14-16), de modo que, antes de Cristo e da revelação do
mistério oculto (Cl.1:26,27), os gentios estavam excluídos das alianças. De
qualquer maneira, Paulo ratifica que, no exclusivismo judaico, os gentios não
estavam incluídos no “pacto abraâmico” e revela que a inclusão somente foi
possível pela obra de Cristo (Ef.2:13-19). A fim de ressaltar essa perspectiva
de alienação gentílica em relação aos pactos e às promessas, transcrevo abaixo
a explanação de Francis Foulkes, na sua obra ‘Efésios -Introdução e
Comentário’:
‘A promessa para os judeus, a promessa do
Messias, estava envolvida nas alianças com Abraão e os patriarcas (Gn.17:1-4;
26:24; 28:13-15), e com a nação sob Moisés (Êx.24:1-11). As alianças trouxeram
Israel a uma relação especial de graça com Deus, e assim à esperança de uma
libertação e glória futura que seria deles. Mas até este ponto, os gentios não
tinham sido incluídos nestas alianças. De maneira que permaneciam como um povo
sem esperança’”.
“Diante desse quadro, os gentios não estavam
apenas privados das promessas divinamente conferidas a Israel, como também não
possuíam qualquer tipo de esperança. Os gentios sequer tinham noção dos pactos
e das suas promessas e, por conseguinte, estavam desassistidos de qualquer
promessa ou esperança. E aqui é revelada outra vez a grandeza do amor divino.
Esses alienados gentios, pelo sangue de Cristo, foram inseridos nos pactos e
tornaram-se herdeiros da promessa: ‘E, se
sois de Cristo, então, sois descendência de Abraão e herdeiros conforme a
promessa’ (Gl.3:29). Aleluia!” (Douglas Baptista).
III.
SEM ESPERANÇA E SEM DEUS
“...não tendo esperança e sem Deus no mundo”
(Ef.2:12. Esta era, sem dúvida, uma descrição desanimadora para os gentios.
1.
Desprovidos de esperança
Antes de Cristo, não havia esperança de que os
gentios encontrassem o único e verdadeiro Deus ou conseguissem qualquer coisa
além da vida física neste mundo. Com bem diz o Rev. Hernandes Dias Lopes, os
gentios não tinham esperança de uma vitória sobre a morte, como agora, depois
que Cristo veio morrer por todos nós, temos (1Ts.4:13-18).
O futuro dos gentios era como uma noite sem
estrelas. O mundo gentio entregava-se ao prazer exagerado, ora por não crer na
eternidade (por exemplo, os epicureus), ora por viver esmagado pelo fatalismo (por
exemplo, os estoicos). Portanto, as teorias dos filósofos pagãos sobre a vida
após a morte eram, na melhor das hipóteses, vagas e não forneciam uma maneira
de reparar o mal cometido durante a vida de uma pessoa. Eles não tinham
“promessa divina” e, dessa maneira, nenhuma base para ter esperança.
Agora, temos esperança, e esta esperança está
acima da normalidade da esperança dos seres humanos e até mesmo do povo da
Antiga Aliança que ainda não conheceu Jesus como o verdadeiro Messias.
A nossa esperança é transcendental, pois
ultrapassa o limite da experiência. Em 1Pedro 1:3-4 está escrito: “bendito seja o Deus e pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para
uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma
herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos
céus para vós”. Aqui, Pedro quis dizer que: além de termos esperança de
dias melhores; além de termos esperança de que Deus vai responder nossas
orações; além de termos esperança de que Deus vai abrir portas em vários
setores da vida, em várias questões da vida; nós temos a esperança que um dia,
todo o sofrimento, toda dor, todo mal, vai ser debelado para sempre, e sempre e
sempre.
Portanto, a nossa esperança é superlativa. O salmista
foi enfático quando disse: “agora, pois,
Senhor, que espero eu? A minha esperança está em ti” (Sl.39:7); “Ó minha alma,
espera silenciosa somente em Deus, porque dele vem a minha esperança”(Sl.62:5).
Isaias sabia muito bem o que significava esperar
no Senhor, por isso disse: ”mas os que
esperam no Senhor renovarão as suas forças; subirão com asas como águias;
correrão, e não se cansarão; andarão, e não se fatigarão”(Is.40:31).
Paulo disse perante o governador Félix: “tendo esperança em Deus, como estes mesmos
também esperam, de que há de haver ressurreição tanto dos justos como dos
injustos”. Paulo quis enfatizar que um dia todos nós morreremos, caso o
Senhor Jesus não venha antes disso, mas temos a esperança que ressuscitaremos e
viveremos com Ele para sempre; é sem dúvida a nossa mais sublime esperança; uma
condição espetacular que antes nós não tínhamos.
2.
Sem Deus no mundo
“...
e sem Deus no mundo”
(Ef.2:12). Sem o Deus vivo, o mundo era tudo o que os gentios
tinham. O Rev. Hernandes Dias Lopes afirma corretamente que quem não tem Deus
não tem esperança. Embora Paulo tenha usado a palavra grega atheoi (ateu), não devemos concluir que
os gentios eram ateus, pois eles tinham muitos deuses de pau e pedra (cf. Atos
17:16-23; 1Co.8:5), mas não conheciam o Deus vivo, único e verdadeiro, nem
tinham relação alguma com Ele (1Co.8:4-6). Seus falsos e imaginários deuses
eram vingativos e caprichosos. Eles viviam sob o tacão das ameaças e debaixo da
ditadura do medo. Eles não conheciam o Deus Criador, Sustentador, Redentor e
Consolador. Estavam assim sem Deus num mundo onde não havia Deus algum.
Olhar para o futuro sem esperança já é algo
terrível, mas não ter no coração a fé em Deus é inexprimivelmente trágico. Assim
era o mundo gentílico: sem Cristo, separados da comunidade da Israel e
estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo
(Ef.2:12). Nós estávamos nessa mesma condição; mantínhamos inimizade com Deus e
não fazíamos parte dessa nova sociedade, a Igreja de Cristo.
3.
“Mas, agora, em Cristo Jesus…” (Ef.2:13)
Agora, os gentios foram aproximados de Deus
(Ef.2:13). O preço dessa reconciliação foi “o sangue de Cristo” (Ef.2:13). A
morte de Cristo possibilitou que tanto judeus como gentios ficassem livres da
Lei judaica e se encontrassem para formar um só povo. A nação de Israel, que
outrora era a nação exclusiva de Deus (Sl.148:14; Is.43:21), agora divide essa
posição com a Igreja (1Pd.2:9).
A Paz aos que estavam longe (os gentios) e aos
que estavam perto (os judeus) (Ef.2:13), que tinha sido proclamada por Isaias
(Is.57:19), foi cumprida em Jesus Cristo. É por meio da Paz com Cristo (Rm.5:1)
que alcançamos paz com o próximo e abrimos caminho para a amizade cristã
(Ef.2:14). Precisamos fazer uso desse privilégio. Assim sendo, fica liberado o
nosso acesso a Deus, visto que a parede de separação foi derrubada (Ef.2:14;
Hb.10:22; Tg.4:8).
É bom lembrar que a união de gentios (agora
Igreja) e judeus não tem um caráter universalista, mas é somente para aqueles
que recebem a Jesus Cristo e creem em Seu maravilhoso nome (João 1:11-13).
CONCLUSÃO
Como vimos nesta Aula, a condição dos gentios
sem Deus era de total desgraça; estavam fora das promessas divina; o Céu não os
queria lá; a vida deles se resumia em somente nisto: “comamos e bebamos, porque
amanhã morreremos” (1Co.15:32-NVI). Mas, agora há uma esperança, pois Jesus,
através de Sua morte na cruz, proporcionou a reconciliação do homem com Deus, e
as promessas de um lindo porvir abrangem a todos, judeus e gentios, desde que
se reconciliem com Deus e façam parte do novo povo de Deus, a Igreja. É
impossível se considerar filho de Deus sem pertencer a Igreja de Cristo, pois
ela é a eleita de Deus (João 1:12; 1Ts.1:4; Ef.1:4), e somente os que estão
dentro dela estão predestinados para morar no Céu (Ef.1:5).
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Luciano de Paula Lourenço –
EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) -
William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação
Pessoal. CPAD.
Pr. Douglas Baptista. A IGREJA ELEITA.
Redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Efésios. Igreja, a
noiva gloriosa de Cristo.
SHEDD, Russel. Epístolas da Prisão: uma
análise. São Paulo: Edições Vida Nova,
2005, p. 15.
STOTT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo:
ABU Editora, 2007.
STOTT, John. Lendo Efésios.
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