3º Trimestre/2020
EDIÇÃO ESPECIAL
Texto Base: Neemias 5:1,6-12
23/08/2020
“Oh! Quão
bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!” (Sl.133:1).
Neemias 5:1,6-12
1.Foi, porém, grande o clamor do povo e de suas mulheres contra os
judeus, seus irmãos.
6.Ouvindo eu, pois, o seu clamor e essas palavras, muito me enfadei.
7.E considerei comigo mesmo no meu coração; depois, pelejei com os nobres
e com os magistrados e disse-lhes: Usura tomais cada um de seu irmão. E ajuntei
contra eles um grande ajuntamento.
8.E disse-lhes: Nós resgatamos os judeus, nossos irmãos, que foram
vendidos às gentes, segundo nossas posses; e vós outra vez venderíeis vossos
irmãos ou vender-se-iam a nós? Então, se calaram e não acharam que responder.
9.Disse mais: Não é bom o que fazeis: Porventura, não devíeis andar no
temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos?
10.Também eu, meus irmãos e meus moços, a juro, lhes temos dado dinheiro
e trigo. Deixemos este ganho.
11.Restituí-lhes hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus
olivais e as suas casas, como também o centésimo do dinheiro, do trigo, do
mosto e do azeite, que vós exigis deles.
12.Então, disseram: Restituir-lho-emos e nada procuraremos deles; faremos
assim como dizes. Então, chamei os sacerdotes e os fiz jurar que fariam
conforme esta palavra.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos dos conflitos internos decorrentes das injustiças
sociais e desordens que levavam o povo judeu a um nível de desunião e
hostilidade. A avareza dos ricos trouxe diversos problemas internos, sendo a
principal delas a inimizade intensa entre o povo. Evidentemente, os alimentos
eram escassos e caros. A inflação, sem contar os tributos que os judeus eram
obrigados a pagar ao rei, levara muitos à pobreza, de modo que o povo foi
obrigado a pegar dinheiros emprestado dos mais abastados e hipotecar suas
propriedades. Alguns foram obrigados inclusive a vender seus filhos e filhas
como escravos. E, como suas terras pertenciam a outros, muitos ficaram sem
recursos para comprar os filhos de volta. Neemias
tinha um grande problema a tratar; não um problema externo, mas interno; não procedente
dos inimigos, mas oriundo dos irmãos. Ele agora enfrenta o
problema da usura, da injustiça social, da opressão econômica. Veja o que está
narrado em Neemias 5:1-6:
1.Foi grande, porém, o clamor do povo e de
suas mulheres contra os judeus, seus irmãos.
2.Porque havia os que diziam: Somos muitos,
nós, nossos filhos e nossas filhas; que se nos dê trigo, para que comamos e
vivamos.
3.Também houve os que diziam: As nossas
terras, as nossas vinhas e as nossas casas hipotecamos para tomarmos trigo
nesta fome.
4.Houve ainda os que diziam: Tomamos dinheiro
emprestado até para o tributo do rei, sobre as nossas terras e as nossas
vinhas.
5.No entanto, nós somos da mesma carne como
eles, e nossos filhos são tão bons como os deles; e eis que sujeitamos nossos
filhos e nossas filhas para serem escravos, algumas de nossas filhas já estão
reduzidas à escravidão. Não está em nosso poder evitá-lo; pois os nossos campos
e as nossas vinhas já são de outros.
6.Ouvindo eu, pois, o seu clamor e estas
palavras, muito me aborreci.
Este
foi
o grande clamor do povo e de suas mulheres contra os judeus, seus irmãos. O
povo não estava clamando por luxo, mas por pão; não estava clamando por
conforto, mas por sobrevivência. Esse clamor é o triste choro da humanidade ao
longo dos séculos.
Neemias
foi usado por Deus para levar os judeus a manterem-se unidos em um só
propósito. O sucesso da obra de Deus não pode ser
construído em detrimento dos obreiros. Semelhantemente,
a Igreja nestes últimos dias precisa de ministros que conduzam o rebanho do
Senhor à união e uniformidade para que a obra de Deus seja edificada e muitas
vidas possam ser salvas.
I. A UNIÃO
CARACTERIZAVA OS JUDEUS LIBERTOS DO CATIVEIRO
No
início, o povo que chegou do exílio era muito unido. Apesar da desolação que a
cidade de Jerusalém apresentava, o povo estava ousado a fazer a obra de Deus.
Apesar dos inimigos externos, que os afrontavam com grandes ameaças, eles
estavam unidos. E essa união foi a força motriz que proporcionou a renovação do
altar, da reconstrução do Templo, da restauração dos muros da cidade de
Jerusalém e da restauração do culto a Deus conforme os ritos da lei. Todos eles
experimentaram um fervoroso avivamento nacional e espiritual. Mas um obstáculo
à obra da reedificação surgiu nos relacionamentos sociais entre os judeus. Com
o decorrer do tempo, a miséria mostrou suas garras de forma impiedosa e a
injustiça social fez surgir conflitos que chegou à beira da irreconciliação.
Deus teve que levantar Neemias para trazer o povo de volta à união, à paz e à
harmonia.
1. A União do povo
de Deus, o vínculo da perfeição
Ora,
se existe um vínculo é porque existe uma ligação, algo que junta dois ou mais
seres, ou seja, não se trata de um único ser, mas de um conjunto de seres.
Somos o corpo de Cristo, mas, também, “seus membros em particular”, isto é, não
perdemos a nossa individualidade, as nossas características próprias quando nos
unimos ao Senhor e à sua Igreja.
Esta
é uma das grandes riquezas do povo de Deus que, muitas vezes, é desprezada e
até alvo de ataque por alguns menos avisados e que não conhecem bem a Palavra
de Deus. O povo de Deus tem um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus
e Pai de todos, mas é um povo formado por pessoas que são diferentes umas das
outras, que têm grupos que se distinguem por causa de sua cultura, de seu modo
de viver, de seus costumes, de sua maneira de servir a Deus.
Todos
são santos, todos têm de ser separados do pecado, todos devem servir ao mesmo
Senhor, ter a mesma fé, ter o mesmo batismo, ter o mesmo Pai. Todos são irmãos
e, portanto, devem amar-se uns aos outros, não devem promover dissensões, lutas
e pelejas entre si, porque produzem o fruto do Espírito e não as obras da
carne, mas, nem por isso, são iguais. Deus, aliás, não fez uma pessoa igual ou
idêntica a outra sobre a face da Terra e, como a Igreja é formada por seres
humanos, naturalmente que será um grupo de pessoas que diferem entre si.
2. A bênção do
Senhor depende da existência de um ambiente de união entre os irmãos
O
salmo 133 mostra com clareza esse fato:
“Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em
união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, a barba
de Arão, que desceu sobre a gola das suas vestes; como o orvalho de Hermom, que
desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordenou a bênção, a vida
para sempre”(Sl.133).
Este
salmo revela que, somente num ambiente de união, o Espírito Santo atua
plenamente. Somente num ambiente de união, cada membro em particular do corpo
de Cristo (figurado por Arão, o escolhido para o sacerdócio) se deixa envolver
plenamente pelo Espírito Santo (figurado pelo azeite).
Somente
num ambiente de união, o refrigério do Espírito Santo pode nos consolar e nos
permitir, mesmo neste mundo de sequidão e necessidade, termos a paz, a alegria
e o amor divinos (figurados pelo orvalho de Hermom).
Somente
num ambiente de união, a Igreja prossegue vitoriosa para se encontrar com o seu
Senhor nos ares, cheia de vida espiritual e abençoada nos lugares celestiais em
Cristo (João15:5,6; Ef.1:3), porque é no ambiente de união que “…o Senhor
ordena a vida e a bênção para sempre”.
3. A União reflete
a nossa concordância de propósitos
Foi
por causa da união que os judeus, numericamente inferiores aos seus inimigos,
conseguiram reconstruir o Templo, e também os muros da cidade. Esta união é
também o segredo da vitória da Igreja. Infelizmente, a união que deveria ser
encontrada na Igreja nem sempre o é. As pessoas discordam e causam divisões por
causa de assuntos sem importância. Alguns sentem prazer em causar tensão,
depreciando e desacreditando outros. A união é importante porque:
- Faz da Igreja um exemplo para o mundo e ajuda a
aproximar as pessoas do Senhor;
- Ajuda-nos a cooperar conforme a vontade de
Deus, antecipando um pouco do gozo que teremos no Céu.
Todavia,
viver em união não significa que concordaremos em tudo; haverá muitas opiniões,
da mesma maneira que existem muitas notas em um acorde musical. Mas devemos
concordar em nosso propósito na vida: trabalhar juntos para Deus. A união
reflete a nossa concordância de propósitos.
4. A Igreja é um
Corpo (1Co.12: 12-31)
A
Igreja é comparada com uma “família”, um “exército”, um “templo’, uma ‘noiva”.
Mas, a figura predileta de Paulo para descrever a Igreja é o “corpo”. Um corpo
tem interação, os órgãos se comunicam entre si. Cada parte é útil para o corpo
como um todo, e há interdependência delas (Ef.4:16; Cl.2:19). A Igreja é um
Corpo, cuja cabeça é Jesus Cristo. Ora, um corpo não pode subsistir sem que
haja união entre seus membros, bem como entre os membros e a cabeça. Antes de
existir comunhão precisa existir união. Uma é pré-requisito para a outra. Aceitar
a Cristo é também aceitar fazer parte de seu Corpo.
II. A UNIÃO ENTRE
OS JUDEUS ESTAVA AMEAÇADA
1. A causa da
ameaça
Neemias
identificou quatro causas que estavam afligindo o povo oprimido de Jerusalém e
que estavam ameaçando desfazer a união entre o povo de Deus:
a) A
usura (Ne.5:7). Usura é não se contentar com o que se tem e
querer o que é do outro. Usura é aproveitar um momento de infelicidade do outro
para apropriar-se do que ele tem. Os nobres se beneficiaram com a crise. Sempre
alguém lucra com a crise. A miséria do povo sempre beneficia os gananciosos e
usurários. Os nobres estavam agindo como penhoristas, e ainda por cima severos,
ao invés de agirem como irmãos (Ne.5:1). Estavam emprestando somente com a
melhor garantia e com os piores motivos. O povo estava desesperado e fizeram um
grande clamor contra os exploradores. O texto sagrado diz:
“Foi, porém,
grande o clamor do povo e de suas mulheres, contra os judeus, seus irmãos”
(Ne.5:1).
Por
que houve esse clamor? Porque estava ocorrendo uma desmedida exploração dos mais pobres pelos
mais ricos que, diante da fome que havia na terra, aproveitaram a ocasião para
se enriquecer ainda mais, gerando um quadro de grande servidão por causa das
dívidas contraídas pelos mais pobres para que pudessem sobreviver, alimentar-se
do necessário. A situação era de calamidade social.
Com esse clamor, Neemias
percebeu claramente que não poderia executar a obra da reedificação dos muros e
portas de Jerusalém, visto que tal obra
exigia a participação de todos, a união de todo o povo, algo imprescindível
para se realizar a vontade de Deus. Havia ele conclamado todo o povo à obra e
ali estava o povo todo a trabalhar, apesar das angústias vividas, mas esse
clamor representava um enorme fator de risco para a continuidade da obra.
De
igual maneira, não podemos fazer a obra de Deus se não houver comunhão na
Igreja. A Igreja tem de se caracterizar pela comunhão e pela união entre os
irmãos, como nos deixa claro a descrição que Lucas faz da igreja primitiva em
Jerusalém em At.2:42-47.
Não há como se realizar a
contento a obra do Senhor se os relacionamentos sociais dos salvos não forem
transformados pelo Evangelho. Por isso,
o Senhor Jesus nos ensinou que devemos amar uns aos outros como Ele nos amou,
amor esse que não envolveu apenas o aspecto da salvação, mas também a tomada de
atitudes concretas para minorar o sofrimento e a carência do povo, inclusive no
que respeita aos aspectos terrenos de nossa existência.
b) A
falta de amor (Ne.5:5,7) – “Agora, pois, a nossa carne é como a carne de nossos
irmãos, e nossos filhos, como seus filhos; e eis que sujeitamos nossos filhos e
nossas filhas para serem servos, e até algumas de nossas filhas são tão
sujeitas, que já não estão no poder de nossas mãos; e outros têm as nossas
terras e as nossas vinhas. E considerei
comigo mesmo no meu coração; depois, pelejei com os nobres e com os magistrados
e disse-lhes: Usura tomais cada um de seu irmão. E ajuntei contra eles um
grande ajuntamento”.
Os
opressores eram irmãos dos oprimidos. Os oprimidos estavam engajados na mesma
obra dos opressores - a reconstrução dos muros. Aqueles que foram injustiçados estavam
angustiados porque seus filhos eram iguais aos filhos dos exploradores (Ne.5:5):
tinham vontade, sentimento, desejos, necessidades. Neemias diz que os nobres
estavam explorando não inimigos e estranhos, mas seus "irmãos" (Ne.5:7).
A lei de Deus era clara nesse sentido: "Se emprestares dinheiro ao meu
povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como credor que impõe
juros" (Ex.22:25). Quem ama, não explora, mas dá e reparte (1João 3:17,18;
Tg.2:14-17).
Nos
dias hodiernos em que vivemos, de crescente desigualdade social apesar do
progresso da tecnologia, a Igreja não poderá realizar a obra do Senhor se
transferir para o seu interior o mesmo quadro de injustiça social que o mundo
está a viver. Muitos, a exemplo do que ocorria nos dias de Neemias, estão se
aproveitando de sua posição privilegiada na sociedade e, sem dó nem piedade,
estão a se enriquecer às custas do próximo e, o que é mais grave, às custas dos
próprios irmãos.
É
triste verificarmos que, assim como ocorre no mundo, não são
poucos os que fazem da Igreja um local para acumulação de riquezas, para o seu
próprio enriquecimento, gerando as
mesmas murmurações que foram ouvidas por Neemias junto ao povo e às suas
mulheres que, por causa do pão de cada dia, estavam em situação deplorável, com
a perda tanto de seu patrimônio quanto de seus familiares, que já se achavam
escravizados pelos mais ricos.
c) A falta de temor a Deus (Ne.5:9) – “Disse mais: Não é bom o que fazeis:
Porventura, não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos
gentios, os nossos inimigos?”.
Quem anda no temor de Deus
não explora o próximo, não se aproveita da miséria alheia para enriquecer-se. Quando
perdemos o temor de Deus, a vida perde os referenciais. A impiedade sempre
desemboca na perversão. José não adulterou com a mulher de Potifar porque
andava no temor de Deus. O que nos livra do pecado é o temor de Deus. Neemias
não se rendeu à cultura do ganho ilícito porque ele temia a Deus. Hoje, muitos
políticos e até líderes evangélicos capitulam diante do poder do dinheiro e
vendem a consciência porque perderam o temor do Senhor.
A
melhor forma pela qual a Igreja tem para debelar a extrema desigualdade social
é através de uma vida de temor a Deus, de estrita obediência à Palavra de Deus. Não é
papel da Igreja assumir filosofias, doutrinas ou pensamentos humanos para
tentar criar condições para uma melhor vida sobre a face da Terra, mas lutar e
pelejar para que, havendo temor a Deus, esta melhora se realize pela
concretização do amor ao próximo.
A presença da injustiça
social no meio da Igreja, como se tem verificada cada vez mais entre nós, é
mais uma demonstração de que está faltando o temor a Deus entre os que cristãos
se dizem ser. O temor a Deus não se apresenta apenas em uma maior devoção
individual, mas, também, num relacionamento fraterno e amoroso para com o
irmão, na ajuda aos necessitados, a começar pelos de nossa igreja local.
d) A falta de testemunho perante o mundo
(Ne.5:9). O povo de Deus estava sendo observado pelos olhos críticos do mundo.
Quando a Igreja age igual ao mundo, isso é um escândalo e o nome de Deus é
blasfemado. Infelizmente, estamos vendo a Igreja evangélica brasileira sendo
mais conhecida na mídia pelos seus escândalos do que por seu testemunho. Alguns
políticos evangélicos elegem-se em nome de Deus e depois envergonham o
evangelho, mancomunando-se com toda sorte de corrupção e roubalheira. O
apóstolo Paulo diz que não devemos nos envergonhar do evangelho (Rm.1:16), mas
há muitos crentes que são a vergonha do evangelho.
2. A natureza do
problema que atingia a vida do povo e que ameaçava a união entre os judeus
Neemias identificou seis
problemas (Adaptado do Livro Neemias, de
Hernandes Dias Lopes):
a) A
fome (Ne.5:1,2). Os judeus estavam trabalhando no muro, mas a panela estava vazia. A
fome era uma questão urgente, não dava para esperar. O povo não podia continuar
investindo na reconstrução do muro de estômago vazio.
Hoje, a fome é um problema
que atinge quase 50% da população mundial. Enquanto uns morrem de fome, outros
morrem de comer. Enquanto uns esbanjam, outros lutam desesperadamente para
sobreviver. Enquanto uns ficam inquietos por causa de coisas supérfluas, outros
se desesperam para ter pão dentro de casa. Há muitos homens, mulheres e
crianças perambulando envergonhados pelas ruas das grandes cidades, disputando
comida com os cães e porcos nos restos apodrecidos das feiras. Há milhões de crianças
abandonadas que vivem sem teto, sem dignidade, sem identidade, perdidas nas
ruas, estonteadas pela fome perversa. O problema não é só falta de amor, mas de
amor, de solidariedade, de compaixão.
b) As dívidas (Ne.5:3) – “Também havia quem dizia: As nossas terras,
as nossas vinhas e as nossas casas empenhamos, para tomarmos trigo nesta fome”.
A dívida traz desespero
mental, degradação social e ruína familiar. Algumas pessoas já tinham
hipotecado suas casas e terras para comprar trigo. Não estavam fazendo negócios
de investimento arriscado, estavam comprando o pão da sobrevivência. Os ricos
aproveitaram o momento de crise, de fome, de aperto para fazerem bons e
lucrativos negócios. Uma pessoa faminta, premida pela necessidade de
sobrevivência, acaba fazendo negócios que só beneficiam os que querem se
locupletar. Os agiotas se enriquecem aproveitando o desespero dos aflitos. Os
agiotas não hesitavam em tomar as terras e até mesmo os filhos e as filhas dos
pobres infelizes para receberem o seu dinheiro. Essa prática opressora estava
em desacordo com a lei de Deus (Dt.23:19,20; 24:10-13). ela também feria o
princípio do ano do jubileu (Lv.25:10,14-17,25-27).
A situação era tão aflitiva
que o povo e as suas mulheres começaram a clamar não somente a Deus, mas,
também, contra os judeus, seus irmãos, a nos revelar que, quando há
insensibilidade por parte dos mais aquinhoados em relação ao clamor dos pobres,
temos, também, um incentivo e estímulo ao desespero, o que poderá levar,
inclusive, os pobres a pecar, deixando de simplesmente clamar para começar a
murmurar. Este pecado não será, porém, apenas dos pobres, mas também dos que
foram responsáveis por esta situação. Temos consciência disso?
c) Os impostos (Ne.5:4) – “Também havia quem dizia: Tomamos dinheiro
emprestado até para o tributo do rei, sobre as nossas terras e as nossas vinhas”.
Além da fome e das dívidas
contraídas para terem o pão de cada dia, ainda tinham de pagar pesados tributos
à Pérsia. O pouco que tinham precisava ser repartido para manter o luxo e o
fausto dos poderosos.
No Brasil, a carga
tributária é uma das mais pesadas do mundo. Cada quilo de produto da cesta
básica que se compra no mercado é tributado, o pão que chega à nossa mesa é
tributado. O que mais agride o pobre é que os impostos que paga não retornam a
ele em benefícios. Na verdade, o pobre passa fome para manter o sistema, muitas
vezes corrupto. Cada vez que se cria mais impostos, o dinheiro que deveria vir
para ajudar os pobres, cai no ralo da corrupção. As ratazanas esfaimadas que
circulam pelos corredores do poder, mordem sem piedade, não apenas o naco que
pertence ao pobre, mas devoram os próprios pobres, porque estes, sem pão, sem
teto, sem esperança, sucumbem impotentes diante de tamanha selvageria. Como
sanguessugas, esses gananciosos insaciáveis, se alimentam do sangue do povo.
d) A perda dos bens (Ne.5:5) – “No entanto, nós somos da mesma carne como
eles, e nossos filhos são tão bons como os deles; e eis que sujeitamos nossos
filhos e nossas filhas para serem escravos, algumas de nossas filhas já estão
reduzidas à escravidão. Não está em nosso poder evitá-lo; pois os nossos campos
e as nossas vinhas já são de outros”.
Os pobres perderam suas
casas e suas terras e tornaram-se reféns dos poderosos. Eles trabalhavam, mas
não desfrutavam. Eles calejavam as mãos, mas não usufruíam. Eram vítimas de uma
injusta opressão econômica. Neemias percebeu que o âmago do problema era a
exploração, por isso contendeu com os nobres e magistrados. Os sacerdotes eram
os que deviam ter feito esse confronto, mas estavam mancomunados com a
corrupção dos ricos (Ne.6:12,14; 13:4,7-9). Uma vergonha!
e) A escravidão, a perda da liberdade
(Ne.5:5). Além de entregarem suas casas e propriedades, agora entregaram também
seus filhos e filhas para saldarem dívidas. Os ricos passaram a ver pessoas
como coisas e compraram seres humanos para serem seus escravos. O trabalho
escravo era algo que feria o projeto de Deus. Era uma injustiça clamorosa.
Observe a situação contraditória: enquanto Neemias e outros se esforçavam para
resgatar os judeus vendidos como escravos aos vizinhos pagãos, a ganância dos
ricos anulava esses esforços e forçava os judeus a voltarem à escravidão. O
comércio escravagista é uma das páginas mais sombrias da história humana, um
dos sinais mais notórios da maldade que tomou conta do homem movido pela
ganância.
f) A perda da esperança (Ne.5:5) - "Não está em nosso poder
evitá-lo...". Os poderosos subornavam os sacerdotes e os juízes;
portanto, eram inatingíveis. Os pobres não tinham vez nem voz. Estavam completamente
sem forças e sem esperança. Os oprimidos não viam uma saída da caverna das
dívidas.
A situação, entretanto, não
parece ter sido percebida por Neemias logo de início, pois foi preciso que o
povo clamasse insistentemente até o ponto em que “Neemias se enfadou” (Ne.5:6).
É preciso ter perseverança, mesmo no
clamor por causa da necessidade e da carência. Caso o povo e as suas
mulheres tivessem, diante de uma aparente indiferença inicial de Neemias,
cessado de clamar, não teria havido qualquer modificação na situação adversa
que estavam a passar.
O clamor do pobre e do
necessitado tem de ser ouvido pela Igreja que, não só no seu interior, mas
também na sociedade, deve fazer com que haja uma perseverança, uma persistência
neste clamor, até que haja o “enfado” de quem pode modificar a situação.
Espelhemo-nos no exemplo da viúva da parábola do juiz iníquo (Lc.18:1-8) que,
apesar de saber que o juiz não queria fazer justiça a pessoa alguma, não
desanimou e perseverou em sua demanda, até que conseguiu que a justiça fosse
feita.
Qual é a nossa situação
diante da grande injustiça social que existe tanto dentro da Igreja quanto na
sociedade em que vivemos? Será que somos como o juiz iníquo? Sensibilizemo-nos
com o clamor do pobre e do aflito para que possamos também ser ouvidos pelo
Senhor e pelos homens.
III. NEEMIAS
SOLUCIONOU O PROBLEMA
Neemias 5:6-12:
6.Ouvindo
eu, pois, o seu clamor e estas palavras, muito me aborreci.
7.Depois
de ter considerado comigo mesmo, repreendi os nobres e magistrados e lhes
disse: Sois usurários, cada um para com seu irmão; e convoquei contra eles um
grande ajuntamento.
8.Disse-lhes:
nós resgatamos os judeus, nossos irmãos, que foram vendidos às gentes, segundo
nossas posses; e vós outra vez negociaríeis vossos irmãos, para que sejam
vendidos a nós?
9.Então,
se calaram e não acharam o que responder. Disse mais: não é bom o que fazeis;
porventura não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos
gentios, os nossos inimigos?
10.Também
eu, meus irmãos e meus moços lhes demos dinheiro emprestado e trigo. Demos de
mão a esse empréstimo.
11.Restituí-lhes
hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus olivais e as suas
casas, como também o centésimo do dinheiro, do trigo, do vinho e do azeite, que
exigistes deles.
12.Então,
responderam: Restituir-lhes-emos e nada lhes pediremos; faremos assim como
dizes. Então, chamei os sacerdotes e os fiz jurar que fariam segundo
prometeram.
Para resolver o grave
problema da injustiça social, que estava causando insatisfação ao extremo e desunião
entre o povo, Neemias apontou cinco soluções:
1. Ele reagiu
fortemente, aborreceu-se (Ne.5:6)
Neemias era um homem de
Deus e, embora tenha resistido um pouco ao clamor do povo e de suas mulheres,
“aborreceu-se”. Este aborrecimento foi uma bênção, visto que, por primeiro, foi
uma conversão interior. O próprio Neemias afirma que “considerou consigo mesmo
no seu coração” (Ne.5:7). Coisa boa é quando nos sensibilizamos por causa do
clamor do pobre e do necessitado, quando sentimos compaixão pelo próximo,
quando nos deixamos sensibilizar pela situação de injustiça por que passa a
humanidade.
Neemias, então, não ficou
passivo diante da injustiça social que imperava naquela época. Ele reagiu
fortemente. Ele se aborreceu. Ele se encheu de ira. Neemias repreendeu os
nobres e magistrados e lhes disse: "Sois usurários, cada um para com seu
irmão" (Ne.5:7).
O conformismo com a
injustiça é um grave pecado aos olhos de Deus. A ira em si não é pecado (Ef.4:26;
Sl.7:11; Mc.3:5). A ira deve ser focada no mal e não contra quem pratica o mal.
A ira é pecaminosa quando nós a despejamos sobre nossos filhos, cônjuge, irmãos
ou quando nutrimos mágoa ou desejamos vingança. Fomos chamados de protestantes exatamente
pela inconformação com o erro e com o pecado. Os desmandos no trato da coisa
pública e a corrupção endêmica e sistêmica em nosso país deveriam fazer ferver
o sangue em nossas veias.
2. Refletiu –
“considerou consigo mesmo no seu coração” (Ne.5:7-ARC)
Neemias era um líder
prudente. Em vez de fermentar ainda mais a situação, falando irrefletidamente,
ponderou o assunto consigo mesmo, aconselhou-se consigo mesmo, ruminou a
situação antes de tomar uma decisão pública. A Bíblia diz: "Responder
antes de ouvir é estultícia e vergonha" (Pv.18:13). Diz ainda: "O
iracundo levanta contendas, e o furioso multiplica as transgressões"
(Pv.29:22). A prudência e a discrição são marcas indispensáveis na vida de um
líder. No muito falar abundam as transgressões.
Primeiramente, Neemias
verificou se as reivindicações apresentadas estavam de acordo com a Palavra do
Senhor. Sentiu, como homem de Deus que era, que o clamor era justo e legítimo e
que a forma pela qual a elite judaica estava vivendo não correspondia à vontade
de Deus. Não havendo a observância da vontade de Deus nos relacionamentos
sociais, jamais o Deus do céu faria prosperar a obra de reedificação dos muros
e portas de Jerusalém.
Neemias também ponderou que
de nada adiantaria restabelecer Jerusalém como uma cidade, com muros, portas e
segurança, caso não houvesse justiça e união entre os judeus, pois a estrutura
social não existe por si só, mas, sim, para o homem, o que, aliás, o Senhor
Jesus ensinaria ao dizer que o sábado foi feito para o homem e não o homem,
para o sábado (Mc.2:27).
3. Neemias convocou
um grande ajuntamento (Ne.5:7,8)
Neemias,
após ter entendido que o clamor era justo e legítimo, tomou uma atitude firme e corajosa: ajuntou
o povo num ajuntamento contra os nobres e os magistrados, a indicar que a
resistência era grande para que se alterasse a situação; mostrou-lhes que eles haviam praticado usura
(Ne.5:7).
Feito o ajuntamento, um ajuntamento pacífico e ordeiro, determinado por
Neemias, que era o governador, ele denunciou a injustiça cometida,
lembrando aos nobres e magistrados que todo o povo havia sido resgatado do
cativeiro, que todos haviam readquirido a liberdade, por uma operação divina,
e, portanto, como agora os próprios judeus estariam a escravizar os seus
irmãos? Como dizer que se estava lutando pela manutenção da liberdade frente
aos povos vizinhos, que queriam escravizá-los, se os próprios judeus
escravizavam seus irmãos? (Ne.5:8).
O papel do líder do povo de Deus, ou mesmo do governante político secular,
como se vê, é o de promover, de
forma ordeira, justa e legítima, a cessação das atividades que geram a
injustiça social, ficando sempre ao lado dos menos
favorecidos, sem que, para tanto, venha a destruir os mais abastados. Faz-se
preciso denunciar a injustiça e conscientizar os mais abastados a tomar medidas
efetivas para que tal situação deixe de existir, diminuindo o abismo entre os
estratos extremos da sociedade.
Neemias, em sua argumentação, não se utilizou de qualquer filosofia,
ideologia ou doutrina humanas. Como homem de Deus, mostrou claramente aos
nobres e magistrados que era necessário “andar no temor do nosso Deus, por
causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos”
(Ne.5:9). Sem o temor de Deus, não há como se realizar justiça social. Sem que
estejamos obedientes ao Senhor, não há como vivermos de acordo com a Sua
vontade no que respeita aos nossos relacionamentos sociais.
Neemias teve coragem para
repreender o erro, ainda que na vida dos nobres, dos ricos, dos poderosos. Ele
teve compromisso com a verdade e com a justiça, por isso, não se intimidou.
Neemias não amaciou a situação. Ele chamou os nobres e magistrados de usurários. Ele colocou o dedo na ferida
e desmascarou os nobres, denunciando sua conduta vergonhosa e injusta.
Neemias, em suas ponderações,
observou claramente que este enriquecimento desmedido em detrimento dos menos
favorecidos era usura, o que era expressamente vedado pela lei (Ex.22:25;
Lv.25:36,37; Dt.23:19,20). “Usura” é a cobrança de juros excessivos sobre o
empréstimo dado a alguém, uma verdadeira transferência do patrimônio para
alguém sem que tenha havido qualquer trabalho por parte daquele que enriquece.
4. A exemplificação
(Ne.5:8,10)
Neemias não era um líder que apenas tinha
coragem, ele tinha vida. Ele não apenas falava, ele dava exemplo. Ele não subiu
no palanque para ostentar elogios a si mesmo estando comprometido com os mesmos
crimes que denunciava. Ele não era hipócrita. Neemias não ocupou a liderança
para tirar vantagem. Ele era um homem que amava o povo e não o dinheiro.
Neemias resgatou judeus escravos dos
estrangeiros (Ne.5:8); agora os líderes do povo estavam fazendo essas pessoas
escravas novamente. Ele não apenas socorreu os necessitados, mas perdoou-lhes a
dívida, visto que não puderam pagar a ele (Ne.5:10). O maior líder de todos os
tempos, Jesus de Nazaré, disse que para você liderar precisa servir.
Neemias não foi um político demagogo, que
simplesmente fez discursos e promessas ao povo que clamava, sem tomar qualquer
iniciativa concreta. Não só assumiu a luta contra os nobres e magistrados, como
fez o ajuntamento de todos contra eles, mas também confessou e deixou as suas
próprias práticas usurárias, pois também ele, seus irmãos e seus moços haviam
emprestado dinheiro para os mais necessitados. Num gesto exemplar, Neemias
abandonou o ganho dos juros destes empréstimos, fazendo antes de exigir que os
outros fizessem (Ne.5:9).
A injustiça social é um reflexo do pecado que
campeia na humanidade, pois todo pecado é iniquidade, ou seja, injustiça (1João
3:4). Assim, consentir com a injustiça social, tirar proveito dela é consentir
com o pecado e é digno de juízo divino tanto quem o pratica, quanto quem
consente com a sua prática (Rm.1:32).
A injustiça social leva os homens à uma
situação tanto de miséria quanto de grandeza que compromete a sua própria
dignidade, tornando-se um fator de incentivo para a prática do pecado. O sábio
Agur já ensinava que a situação de extrema injustiça social é uma janela
escancarada para o pecado, seja para o pobre, que se tornará um furtador, seja
para o rico, que se tornará um vaidoso e soberbo (Pv.30:8,9).
5. A restituição (Ne.5:11,12,13)
Neemias, após dar o exemplo, determinou que os
nobres e magistrados restituíssem aos pobres as propriedades tomadas com usura
e também restituíssem parte dos juros cobrados sobre o empréstimo de dinheiro,
trigo, vinho e azeite. Observe que a taxa de juros que era cobrado pelo
dinheiro, trigo, mosto e azeite correspondia ao “centésimo”, ou seja, 1% (um
por cento) (cf. Ne.5:10,11), taxa bem inferior ao que vemos em nosso país, que
é conhecido como “o paraíso dos juros” em nosso planeta.
A proposta de Neemias foi acatada, e a elite
judaica também se sensibilizou com o clamor dos pobres e necessitados,
restituindo o que haviam tomado dos mais necessitados, como também deixando de
exigir os juros que estavam a cobrar, compromisso que foi solenemente firmado,
tendo, inclusive, havido juramento perante os sacerdotes (Ne.5:12), bem como o
gesto simbólico do sacudir do regaço (Ne.5:13). Por meio de um gesto, Neemias
advertiu: aqueles que quebrassem a promessa seria “sacudido” da terra como quem
sacode o pó das vestes. Assim, a paz voltou a reinar entre os judeus.
A consequência de se ter conquistado a justiça
social, com o fim da desigualdade social gritante, foi o louvor a Deus
(Ne.5:13). A justiça social é uma boa obra e, com ela, o nome do Senhor é glorificado.
Que bom será quando isto se der no interior de cada igreja local!
IV. A CONDUTA
IMPOLUTA E ÍNTEGRA DE NEEMIAS COMO LÍDER DO POVO DE DEUS (Ne.5:13-19)
No texto de Neemias 5:1-12 vimos como Neemias
teve coragem para confrontar os nobres acerca da usura. Eles haviam se
aproveitado da crise econômica para enriquecer. Eles emprestaram dinheiro com
juros altos aos seus irmãos e acabaram tomando suas casas, vinhas, terras e
filhos. Mas não bastou apenas coragem a Neemias. Ele precisou também de exemplo
e vida. As pessoas aceitam o líder, depois os seus planos. Eles têm confiança
na visão, quando têm confiança no líder. Agora, Neemias dá o seu testemunho de
conduta impoluta e íntegra como governador de Jerusalém.
Em Neemias 5:13-19 vemos algumas qualidades do
caráter de Neemias que marcaram a sua integridade como um líder do povo de Deus em Jerusalém (Adaptado do Livro Neemias de Hernandes Dias
Lopes).
1. Neemias
transformou crises em oportunidades (Ne.5:13,14)
13.Também sacudi o meu
regaço e disse: Assim o faça Deus, sacuda de sua casa e de seu trabalho a todo
homem que não cumprir esta promessa; seja sacudido e despojado. E toda a
congregação respondeu: Amém! E louvaram o Senhor; e o povo fez segundo a sua
promessa.
14.Também desde o dia
em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao
trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos
comemos o pão devido ao governador.
O líder é alguém que lida com tensão. O campo
de ação do líder é uma arena de muitas pelejas. A crise é sua agenda diária.
Mas a crise é uma encruzilhada que leva os fracos ao fracasso e os fortes a
consagradoras vitórias. A crise denuncia os covardes e descobre os heróis.
Vejamos como Neemias transformou crises em oportunidades:
-Primeiro, ele transformou clamor em louvor.
O povo começou com um clamor cheio de dor por causa da opressão e terminou
louvando a Deus cheio de alegria. A crise é uma encruzilhada que a uns abate, a
outros exalta. Uns olham o problema, outros a oportunidade. Uns veem as
dificuldades, outros a solução. O clamor tornou-se uma reunião festiva de
louvor. Por quê? Porque Neemias teve capacidade de se indignar, confrontar,
exemplificar, pedir restituição e dar exemplo.
-Segundo, ele transformou opressão em
solidariedade. Os nobres não apenas cancelaram a dívida dos pobres, mas
restituíram suas vinhas, suas terras e seus filhos.
-Terceiro, ele transformou a situação de usura
em oportunidade para confronto (Ne.5:13). Neemias pediu aos nobres para
restituir, chamou os seus sacerdotes e também pessoalmente os fez assumir um
compromisso público. O verdadeiro líder nunca foge do problema nem o adia,
antes enfrenta-o corajosa e firmemente.
-Quarto, ele transformou uma revolta humana
num ato de compromisso e adoração a Deus. O clima era de tensão, revolta, dor,
angústia. Neemias levou os nobres a um compromisso de restituição diante de
Deus e o povo celebrou com alegria louvores ao Senhor.
2. Neemias deu mais
valor ao bem público do que à remuneração pessoal (5.14,18)
14.Também desde o dia
em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao
trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos
comemos o pão devido ao governador.
18.O que se preparava
para cada dia era um boi e seis ovelhas escolhidas; também à minha custa eram
preparadas aves e, de dez em dez dias, muito vinho de todas as espécies; nem
por isso exigi o pão devido ao governador, porquanto a servidão deste povo era
grande.
Neemias abriu mão de seus direitos garantidos
e legítimos a favor do povo. Seu posto de governador é uma plataforma de
serviço e não de privilégios. Em vez de enriquecer-se e engordar sua conta
bancária, ele abriu mão do seu próprio salário para socorrer o povo em tempo de
aflição.
Hoje, vemos nossos legisladores, seja no
âmbito estadual ou nacional, buscando sofregamente aumentar seus salários de
forma abusiva. Além de majorar seus salários, muitos, ainda, se mancomunam com
perversos esquemas de corrupção, recebendo vultosas somas de fontes escusas.
Assistimos com tristeza e repúdio a multiplicação de políticos desonestos e a
escassez de exemplos dignos de serem imitados. Precisamos, com urgência, de líderes
íntegros como Neemias!
3. Neemias deu mais
valor ao trabalho do que à indolência luxuosa (Ne.5:16)
“Antes, também na obra
deste muro fiz reparação, e terra nenhuma compramos; e todos
os meus moços se
ajuntaram ali para a obra”.
Os outros governadores viram o cargo como uma
porta aberta para o benefício pessoal, para o enriquecimento rápido, para o
favorecimento dos seus aliados. Neemias não viveu na indolência,
nababescamente, às custas do povo, mas ele e seus moços trabalharam na obra.
Ele era um homem que liderava o povo, que estava junto do povo, que defendia o
povo, que trabalhava com o povo e pelo povo. Precisamos resgatar o exemplo de
políticos da fibra de Neemias, gente séria, abnegada e trabalhadora.
Quando um líder está mais interessado em si
mesmo e em seus investimentos e aventuras pessoais do que no seu trabalho, os
seus subordinados logo perceberão. Neemias realizou um trabalho pessoal e
também de equipe; um trabalho contínuo, abnegado e eficaz.
4. Neemias deu mais
valor à benevolência do que à política do levar vantagem em tudo (Ne.5:18)
18.O que se preparava
para cada dia era um boi e seis ovelhas escolhidas; também à minha custa eram
preparadas aves e, de dez em dez dias, muito vinho de todas as espécies; nem
por isso exigi o pão devido ao governador, porquanto a servidão deste povo era
grande.
Neemias em vez de explorar o povo, ajudava o
povo. Ele comprou judeus escravos para resgatá-los. Neemias demonstrou amor às
pessoas e o amor não era apenas o que ele sentia, mas sobretudo o que ele fazia.
Neemias emprestou e perdoou a dívida dos pobres. Ele abriu sua casa e sustentou
os trabalhadores na obra às suas custas para não sobrecarregar o povo já
empobrecido. Ele abriu mão de seus direitos garantidos - "Nem por isso
exigi o pão devido ao governador".
5. Neemias deu mais
valor à integridade do que a vantagens pessoais (Ne.5:14)
“Também desde o dia em
que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao
trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos
comemos o pão devido ao governador”.
Neemias foi um homem que manteve sua
integridade intocável durante todo o seu mandato de doze anos. A integridade
faz parte da vida do líder. Um líder que não é íntegro em sua vida pessoal não
é um verdadeiro líder. Para que um líder seja íntegro, ele deve ser sincero, e esta
sinceridade é verificada em seu viver diário: nas conversações, no agir, nas
finanças, no serviço.
Nenhum sacrifício era demasiado grande e
nenhuma tarefa era difícil demais para Neemias, quando tinha a certeza de qual
era a vontade de Deus. Ele estava disposto a adotar quaisquer medidas para
colocar em prática aquilo que tinha a certeza de ser a vontade de Deus. Em
alguns momentos agiu de forma austera: ele admoestou, repreendeu, protestou,
contendeu, amaldiçoou, e até mesmo arrancou os cabelos de alguns (Ne.13:25).
Enfim, tornou muito difícil a vida dos impiedosos! Era um homem corajoso e um
general astuto em sua luta contra o mal. Além disso, era um trabalhador
incansável e um grande restaurador das coisas de Deus. Ele trabalhou duramente
a favor da justiça, porem mantinha o coração terno diante do Senhor. Era um
homem honesto, íntegro, convicto e piedoso. Sem dúvida, ele foi um magnífico
exemplo de liderança.
CONCLUSÃO
O segredo da vitória de Neemias frente aos
desafios que enfrentara, foi a sua “integridade”. O verdadeiro líder do povo de
Deus deve ter como característica principal a integridade, ou seja, estar
inteiramente moldado pelo Senhor. É a sinceridade (“sem cera”, sem qualquer
trinco em seu caráter), que nos permitirá vencer o mal e alcançar a vida
eterna. Será que podemos repetir as palavras do apóstolo Paulo: “sede meus
imitadores, como eu sou de Cristo? “(1Co.11:1). Não nos esqueçamos de que nosso
Deus conhece o íntimo do homem (1Sm.16:7; João 2:23-25). Assim, não adianta
participarmos dos cultos e demais reuniões se não formos sinceros, íntegros e
tementes a Deus.
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Luciano de Paula Lourenço –
EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e
Grego. CPAD
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo
Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação
Pessoal. CPAD.
Hernandes Dias Lopes. Neemias – O líder que
restaurou uma nação.
Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Princípios para uma boa liderança - Pr.
Cleverson de Abreu Faria.
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