3º Trimestre/2020
EDIÇÃO ESPECIAL
Texto Base: Esdras 9:1-4; Neemias 13:23-26; 9:38; 10:1,29,30
“Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que
sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as
trevas?” (2Co.6:14).
Esdras 9:
1.Acabadas, pois, essas coisas, chegaram-se a mim os príncipes, dizendo:
O povo de Israel, e os sacerdotes, e os levitas não se têm separado dos povos
destas terras, seguindo as abominações dos cananeus, dos heteus, dos ferezeus,
dos jebuseus, dos amonitas, dos moabitas, dos egípcios e dos amorreus,
2.porque tomaram das suas filhas para si e para seus filhos, e assim se
misturou a semente santa com os povos destas terras, e até a mão dos príncipes
e magistrados foi a primeira nesta transgressão.
3.E, ouvindo eu tal coisa, rasguei a minha veste e o meu manto, e
arranquei os cabelos da minha cabeça e da minha barba, e me assentei atônito.
4.Então, se ajuntaram a mim todos os que tremiam das palavras do Deus de
Israel, por causa da transgressão dos do cativeiro; porém eu me fiquei
assentado atônito até ao sacrifício da tarde.
Neemias 9:
38.E, com tudo isso, fizemos um firme concerto e o escrevemos; e
selaram-no os nossos príncipes, os nossos levitas e os nossos sacerdotes.
Neemias 10:
1.E os que selaram foram Neemias, o tirsata, filho de Hacalias, e
Zedequias,
29 - firmemente aderiram a seus irmãos, os mais nobres de entre eles, e
convieram num anátema e num juramento, de que andariam na Lei de Deus, que foi
dada pelo ministério de Moisés, servo de Deus; e de que guardariam e cumpririam
todos os mandamentos do SENHOR, nosso Senhor, e os seus juízos e os seus
estatutos;
30.e que não daríamos as nossas filhas aos povos da terra, nem tomaríamos
as filhas deles para os nossos filhos;
Neemias 13:
23.Vi também, naqueles dias, judeus que tinham casado com mulheres
asdoditas, amonitas e moabitas.
24.E seus filhos falavam meio asdodita e não podiam falar judaico, senão
segundo a língua de cada povo.
25.E contendi com eles, e os amaldiçoei, e espanquei alguns deles, e lhes
arranquei os cabelos, e os fiz jurar por Deus, dizendo: Não dareis mais vossas
filhas a seus filhos e não tomareis mais suas filhas, nem para vossos filhos
nem para vós mesmos.
26.Porventura, não pecou nisso Salomão, rei de Israel, não havendo entre
muitas nações rei semelhante a ele, e sendo amado de seu Deus, e pondo-o Deus
rei sobre todo o Israel? E, contudo, as mulheres estranhas o fizeram pecar.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos acerca do casamento misto. Veremos como o povo de
Deus deve encarar o casamento, e compreender que as uniões mistas prejudicam a
comunhão com Deus. Deus nunca aprovou a união dos israelitas com os outros
povos. Todas as vezes que Israel desobedeceu à ordenança do Senhor sobre o
casamento misto, sofreu duras consequências. Israel não poderia ser
reconstruído com o perigo de cair novamente na idolatria e violar sua
identidade como povo de Deus. Por isso, os líderes da reconstrução – Esdras e
Neemias - exortaram o povo a manter a
pureza de seus princípios espirituais outorgados pela Lei de Deus.
Não é da vontade de Deus o casamento entre o fiel e o infiel; a Bíblia
chama isso de jugo desigual. Como pode haver comunhão genuína entre o casal,
que não concorda entre si sobre questões espirituais? Diz a Bíblia: “Porventura
andarão dois juntos, se
não estiverem de acordo?”(Os.3:3). O apóstolo Paulo é contundente em sua
exortação: “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que
sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as
trevas?”(2Co.6:14).
I. ESDRAS E NEEMIAS COMBATEM O PERIGO DO CASAMENTO MISTO
Deus
havia proibido o casamento de um judeu com uma pagã (Dt.7:2-4; Êx.34:16;
Js.23:12,13), e a desobediência à essa ordem era um ato de rebelião contra Deus.
Por que Deus fez essa proibição? Porque Ele, na sua presciência, sabia e sabe
que o povo se contamina facilmente com a idolatria, que é adultério espiritual,
que é abominação aos Seus olhos, e Ele quer que seu povo seja santo e exclusivo
para Ele. Deus agiu dessa maneira puramente por amor ao seu povo. A história de
Israel registra vários exemplos das consequências nefastas do casamento misto.
Cito aqui dois exemplos emblemáticos de dois grandes reis de Israel:
Ø Salomão, filho de Davi, rei de Israel. Esse rei, que Deus apareceu a ele e o abençoou
sobremaneira, e que deu a ele o privilégio de construir o grande Templo em
Jerusalém, contaminou-se por causa dos casamentos com mulheres pagãs; elas
perverteram seu coração, e ele passou a seguir os seus deuses estranhos (cf.1Rs.11:1-9).
Como consequência do seu pecado, no reino de seu filho Roboão, as dez tribos do
Norte separaram-se e constituíram-se em um reino independente sob a liderança
de Jeroboão (1Rs.12:16-19), um dos piores reis idólatras da história de Israel.
O futuro dessas tribos foi devastador.
Ø Acabe, rei de Israel. Esse rei casou-se com uma princesa sidônia, por
nome Jezabel (cf.1Rs.16:31). Jezabel fortaleceu o culto a Baal em Israel, e
perseguiu de forma implacável os profetas de Deus (1Rs.18:4). Deus teve que
esconder seus profetas da insanidade de Acabe, o qual, por causa de sua
embriaguez na idolatria, tinha perdido o temor ao Senhor e queria apagar
definitivamente tudo o que se relacionava com o Deus de Israel.
1. A ira e a reação de Esdras (Ed.9:2,3)
2.porque tomaram das suas filhas para si e
para seus filhos, e assim se misturou a semente santa com os povos destas
terras, e até a mão dos príncipes e magistrados foi a primeira nesta
transgressão.
3.E, ouvindo eu tal coisa, rasguei a minha
veste e o meu manto, e arranquei os cabelos da minha cabeça e da minha barba, e
me assentei atônito.
O
povo de Israel recebeu advertências enérgicas de não se misturar com as nações
pagãs e idólatras que habitavam em Canaã (Dt.7:1-5). Deus tinha dado a seguinte
ordem: “Não faças concerto com os moradores da terra, nem tomeis das suas
filhas para os teus filhos (Êx.34:11-16; Dt,7:3,4). Por este motivo, o
sacerdote Esdras ficou perplexo, quando
tomou conhecimento de que o povo, depois de haver voltado do exílio, tomava
mulheres dos povos gentílicos em redor, misturando a semente santa. Esdras
chorou, rasgou os seus vestidos, sua capa, e arrancou os cabelos, tanto de sua
barba como de sua cabeça, e assentou-se pasmado na praça. Ele buscou com
profunda dor a ajuda de Deus, reconhecendo que o povo, com esta atitude, havia
deixado os mandamentos, violando-os (Ed.9:1-14). Na hora do sacrifício da
tarde, Esdras dobrou seus joelhos diante do povo, e orou a Deus (Ed.9:6-15). E
todo povo chorou com grande choro (Ed.10:1).
Deus
havia escolhido Israel para ser o Seu povo, separado para Ele (ler Dt.7:6-11);
não o escolheu por ser mais numeroso (era o menor de todos os povos), escolheu-o
simplesmente porque o amava e desejava que lhe obedecesse em todas as coisas,
inclusive não promovendo matrimônios com pessoas fora da sua linhagem.
Neemias,
também, ficou perplexo diante desta quebra de aliança. Ele usou como exemplo os
erros de Salomão para advertir o povo (Ne.13:26). Se um dos maiores reis de
Israel caiu por causa da influência dos incrédulos, outras pessoas também
poderiam cair. Sob a influência de suas mulheres estrangeiras, Salomão
construiu altares aos deuses estranhos, caindo assim no pecado da idolatria
(ler 1Rs.11:6-8). Uma propensão ao pecado deve ser rapidamente reconhecida e
tratada; caso contrário, ela pode nos dominar e derrubar. Portanto, devemos ter cuidado com as uniões
que vão de encontro aos princípios estabelecidos por Deus ao seu povo, exarados
na Bíblia Sagrada.
2. O efeito da atitude de Esdras foi imediato
A
atitude de Esdras – oração e confissão, fazendo do pecado do povo seu próprio
pecado – motivou o povo a lamentar com grande choro. Falando em nome do povo, Secanias confessou o pecado de Israel e
lembrou a Esdras que ainda havia esperança, caso o povo despedisse todos os
cônjuges e filhos estrangeiros. Em seguida, sugeriu que Esdras propusesse uma
aliança para despedirem todas as mulheres estrangeiras e seus filhos
(Ed.10:1-5).
“Agora, pois, façamos concerto com o nosso Deus, de
que despediremos todas as mulheres e tudo o que é nascido delas, conforme o
conselho do Senhor e dos que tremem no mandado do nosso Deus; e faça-se
conforme a Lei” (Ed.10:3).
Os
sacerdotes, os levitas e todo o Israel concordaram com a aliança nacional de
arrependimento e juraram (Ed.10:1-5).
“Levanta-te, pois, porque te pertence este negócio,
e nós seremos contigo; esforça-te” (Ed.10:4).
3. O arrependimento do povo
Todo o povo foi convocado a ajuntar-se
em Jerusalém para uma cerimônia pública de confissão (Ed.10:6-8). Aqueles que
se recusassem a comparecer dentro de três dias e não aceitassem a determinação
perderiam seus bens e seriam excomungados.
Com apenas três dias para atender ao
chamado, todos os homens de Judá e Benjamim correram a Jerusalém. Nem mesmo o
tempo ruim os impediu, pois a questão era gravíssimo e haveria resultados
muitos piores caso não fosse atendida. Depois que todo o povo se reuniu, Esdras
falou à congregação e apontou a transgressão (cf. Ed.10:9-11).
“Vós
tendes transgredido e casastes com mulheres estranhas [...] fazei confissão ao
SENHOR [...] apartai-vos [...] das mulheres estranhas”. “Assim seja; conforme
as tuas palavras, nos convém fazer” (Ed.10:10-12).
Então, toda a congregação reconheceu
prontamente que havia desobedecido à Lei de Deus. Contudo, por causas das
grandes chuvas e da quantidade de pessoas envolvidas, o povo sugeriu que os
casos fossem tratados individualmente, cidade por cidade. Juízes foram
designados para tratarem desses problemas, e, em menos de duas semanas, teve início
o inquérito. A investigação foi concluída em três meses (Ed.10:12-17).
A única maneira de restaurar a aliança
quebrada é uma volta à Palavra de Deus. A restauração recomeçou quando
o livro de Moisés foi aberto. Sem profecia o povo se corrompe. Sem a Palavra de
Deus, o povo perde o caminho. Não há restauração sem volta às Escrituras. Hoje
a maior necessidade da Igreja evangélica é uma volta profunda à Palavra. Carregamos
a Bíblia, estudamo-la, mas não a colocamos em prática.
4. A visão de Esdras, era a visão de Deus - a proteção da família
Esdras visava proteger a família de Deus. Ele tinha consciência de
que a mistura com os povos circunvizinhos e suas abominações era grave violação
aos mandamentos do Senhor e comprometia toda a missão deixada a Israel pelo
Senhor (Ed.9:11-15).
Se a família é o ambiente estabelecido por Deus para que venhamos
a cumprir os propósitos divinos para a humanidade, como podemos construir uma
família sem observar a vontade do Senhor? Como podemos constituir uma família
fora dos parâmetros estatuídos por Deus? Como poderemos criar um ambiente
propício à adoração ao Senhor, se não Lhe formos obedientes na própria
constituição da família?
A lei de Moisés era claríssima quanto aos parâmetros que deveriam
ser seguidos pelos judeus na constituição de famílias. Em Êx.23:32 e 34:15,16 o Senhor proibiu que os israelitas fizessem
concerto com os povos das terras, e, principalmente, que houvesse casamento
entre israelitas e gentios, visto que o casamento é um dos mais solenes
concertos e comprometimentos que pode haver entre duas pessoas.
A razão de ser desta proibição não tinha
qualquer base étnica; não se estava a defender uma “etnia pura” ou uma superioridade
da parte de Israel. O objetivo dessa
regra divina era estritamente espiritual:
“e tomes mulheres das suas filhas para os teus
filhos, e suas filhas, prostituindo-se após os seus deuses, façam que também
teus filhos se prostituam após os seus deuses” (Ex.34:16).
O Senhor mostrava a Israel que, a partir do momento que se
formassem famílias entre israelitas e gentios, a mistura faria com que os
israelitas deixassem de servir ao Senhor, porque, diante do compromisso
estabelecido no casamento, certamente se envolveriam com os deuses dos povos
das terras, deixando, pois, de servir a Deus e de ser “a nação sacerdotal e o
povo santo” que os israelitas haviam se comprometido em ser na aliança do Sinai
(Ex.19:5,6).
II. O CONCERTO NOVAMENTE FOI QUEBRADO
Muitas
vezes, o povo de Israel fez promessas solenes e as quebrou. No capítulo 10 de
Esdras, vemos um grande avivamento espiritual quando o povo fez uma aliança com
Deus, extinguindo toda mistura com o mundo que poderia levar a contaminação do
povo de Deus. Mas, 24 (vinte quatro) anos depois, o concerto foi quebrado. No
capítulo 13 de Neemias, vemos as promessas firmadas diante de Deus sendo
quebradas.
Com
a ausência de Neemias, sem sua firme liderança espiritual, o sacerdócio se
corrompeu e o povo quebrou a própria aliança que havia feito com Deus. Cyril
Barber fez o seguinte comentário sobre essa situação:
“Neemias permanece na Babilônia por doze anos.
Durante a sua ausência, o partido da oposição, composto do sumo sacerdote e sua
família, mais os cidadãos influentes da cidade, desprezaram a política
separatista de Neemias a favor de menos restrições, diálogo aberto com o
samaritanos, e a remoção de influências inibidoras” (BARBER, Cyril J. Neemias e
a dinâmica da liderança eficaz)..
1. A deplorável situação espiritual do povo de Israel
O capítulo 13 de Neemias
relata a deplorável situação que Neemias encontrou quando retornou a Jerusalém
para exercer seu segundo mandato de governador. Ao
chegar, Neemias havia encontrado Tobias morando numa câmara grande no Templo,
como também a profanação do sábado. Além disso, ele deu conta de um outro
abuso que se instalara durante a sua ausência: os casamentos mistos, que comprometiam a própria existência do
povo judeu.
“Vi também, naqueles dias, judeus
que tinham casado com mulheres asdoditas, amonitas e moabitas” (Ne.13:23)
Ele
viu que os judeus tinham se casado com mulheres asdoditas, amonitas e moabitas, cujos filhos falavam meio asdodita
e não podiam falar judaico, senão segundo a língua de cada povo (Ne.13:23). Este
problema não surgira somente agora,
quando Neemias retornava para seu segundo mandato de governador. Na verdade, 24
(vinte quatro) anos antes, conforme já comentamos anteriormente, foi
este um problema que havia sido detectado por Esdras quando fora mandado por Artaxerxes para ensinar a Lei do Senhor.
Com
efeito, quando lemos o capítulo 9 do livro de Esdras,
notamos que, assim que ele chegou a Jerusalém, doze anos antes da primeira
chegada de Neemias, os príncipes disseram a Esdras que o povo de Israel, os
sacerdotes e os levitas não se tinham separado dos povos daquelas terras, seguindo
a sua abominação, casando com os gentios, misturando a semente santa com os
povos das terras, tendo sido os príncipes e magistrados os primeiros transgressores
(Ed.9:1,2). Ao saber daquela situação, como já comentamos anteriormente, Esdras
desesperou-se, rasgou seus vestidos e arrancou os cabelos da sua cabeça e da
sua barba, ficando atônito, levando-o à oração intercessória ao Senhor e
convencendo o povo a abandonar esta prática, implicando num verdadeiro
avivamento em Judá (Ed.9:3-10:44).
No
entanto, pelo que se extrai do texto sagrado, alguns judeus, que moravam entre
os estrangeiros, não seguiram esta orientação; esses judeus eram os mesmos que
fizeram oposição à obra de Deus durante a construção dos muros e portas de
Jerusalém (Ne.4:12).
O
fato é que, ausentando-se Neemias de Jerusalém, esses judeus, que habitavam entre os
estrangeiros, certamente estimulados pelo péssimo exemplo dado pelo sumo
sacerdote Eliasibe, que se aparentou
com Tobias e até lhe entregou a câmara grande do Templo, vieram também
morar em Jerusalém, com suas famílias mistas, cujos filhos nem sequer falavam a língua aramaica, então utilizada
pelos judeus, falando meio asdodita, meio amonita e meio moabita, sendo um
verdadeiro “corpo estranho” que estava a comprometer toda a espiritualidade do
povo judeu.
2. A intenção do inimigo é a destruição da família segundo o modelo
estabelecido pelo Senhor
O inimigo se infiltrara de
forma sutil no meio do povo judeu após a ausência de Neemias.
-Primeiro, ocorreu o
casamento misto dentro da família sacerdotal (Ne.13:28). Este
tipo de procedimento foi um golpe que quase atingiu fatalmente o
coração da religião judia. Um dos filhos de Joiada, filho do sumo sacerdote
Eliasibe, casou-se com uma filha de Sambalá, o grande inimigo dos judeus (Ne.13:28).
Esse tipo de parentesco faria com que o serviço do Templo
fosse prejudicado e, desta maneira, toda a adoração a Deus ficaria prejudicada,
fazendo cessar o culto ao Senhor. Havia regulamentos
especiais que governavam o casamento dos sacerdotes (Lv.21:6-8,13,14;
Dt.23:8-11).
-Em seguida,
o inimigo conseguiu que a principal marca de identificação do povo de Judá como
povo de Deus, o sábado, fosse igualmente prejudicada, usando de estrangeiros
que vinham enriquecer-se neste dia, arrastando após si também os judeus.
-Por fim,
o inimigo fez com que os judeus que habitavam entre os estrangeiros e que
haviam se casado com os povos das terras, trouxessem de novo, para o meio de
Judá, essas famílias mistas, totalmente descomprometidas com Deus e com a Sua Lei,
tanto que os filhos nem sequer falavam a língua utilizada pelo povo judeu.
Com
todas estas artimanhas, o inimigo estava, mais uma vez, a perseguir o seu alvo,
que era tão somente a destruição do povo judeu, que, caminhando como estava, em
pouco tempo se misturaria com os povos das terras e perderia a sua identidade
de “propriedade peculiar de Deus entre os povos”.
Notamos,
assim, que uma das mais importantes armas do inimigo para a destruição do povo de
Deus é a destruição da família segundo o modelo estabelecido pelo Senhor. A família é uma instituição divina, criada
pelo próprio Deus, para ser o ambiente propício para que o homem tenha comunhão
com o seu Senhor (Gn.1:27,28; 2:18,21-24).
A família é a “célula
mater” da sociedade, ou seja, não há
sociedade, não há povo que se forme sem que seja por intermédio da família, que
foi especialmente criada por Deus para ser o cerne, a base da própria
humanidade, o ambiente pelo qual o homem pode cumprir o propósito estabelecido
pelo seu Criador.
Ora,
se a família for destruída, se não for constituída segundo os parâmetros
estatuídos pelo Senhor, não haverá como o homem cumprir os propósitos almejados
por Deus a ele e, deste modo, toda a missão da humanidade estará comprometida e
a perdição é certa. Não é por outro motivo que o inimigo do ser humano, o
diabo, tem se esforçado para lançar seus dardos inflamados contra a família,
pois, em um só golpe, atacará todo o projeto de Deus para o homem.
O casamento é
considerado um pacto entre duas pessoas e Deus (Pv.2:17; Ez.16:8; Ml.2:14).
Assim, o casamento misto corrói a própria base do casamento. O lar deve ser a
base da sociedade, a estrutura sobre a qual uma nação se constrói. Paulo, em
2Coríntios 6:14-17, fala da inconveniência da aliança entre crentes e
incrédulos. Antônio Neves de Mesquita acentua o fato dramático de que os
casamentos mistos são a ruína de muitos jovens em nossas igrejas.
III. NEEMIAS REMOVE O ABUSO DOS CASAMENTOS MISTOS
Vinte
e quatro anos haviam se passado desde que Esdras levara o povo a abandonar a prática
dos casamentos mistos. Mas, o fato é que, com a ausência de Neemias e o fato de
Eliasibe se aparentar com Tobias (Ne.13:4), muitas famílias foram constituídas
fora dos parâmetros previstos na Lei do Senhor, mediante casamentos mistos com asdoditas, amonitas e moabitas
(Ne.13:23).
“Vi também, naqueles dias, que judeus haviam casado
com mulheres asdoditas, amonitas e moabitas (Ne.13:23).
1. A mistura entre um santo e um ímpio jamais resulta em santidade, mas,
sim, em impiedade
O
quadro visto por Neemias era trágico. Os filhos desses casamentos
mistos não eram judeus, pois nem sequer falavam “judaico”, que era a língua aramaica, mas, sim,
falavam meio asdodita ou, ainda, a língua de cada povo com que os judeus haviam
se misturado. Isto nos mostra claramente que, na constituição de uma
família com uma pessoa que não serve a Deus, o salvo nunca imprimirá no “modus
vivendi” da família aquilo que é desejável pelo Senhor. Não nos iludamos: quando um salvo se casa com alguém perdido, a sua
família será perdida. A mistura entre um santo e um ímpio jamais resulta em
santidade, mas, sim, em impiedade. Alguém poderá dizer que tal assertiva não
teria amparo bíblico, visto que o apóstolo Paulo afirma que, num casal misto,
teríamos que “os filhos seriam santos, e não imundos” (1Co.7:14). Como explicar
isto?
-Em primeiro lugar, temos que o caso tratado pelo apóstolo Paulo não se
refere a casamentos mistos como os tratados na época de Neemias e Esdras. Aqui,
estamos a tratar de casamentos em que pessoas salvas, desobedecendo ao Senhor,
casam-se com ímpios. Paulo está a tratar de pessoas que, sendo ímpias,
casaram-se com ímpios, mas que, posteriormente, se converteram ao Senhor
(1Co.7:12,13). Era a situação vivida em Corinto. Paulo está a explicar que o
fato da conversão não significa, em absoluto, permissão para abandonar o
cônjuge.
-Em segundo lugar, o apóstolo Paulo está a ensinar que, diante da
conversão de um dos cônjuges, passa a ser ele elemento de santificação do lar,
inclusive dos filhos; ou seja, como “sal da terra” e “luz do mundo”, o cônjuge
que se converteu passa a ser um instrumento de Deus na família que já
constituíra antes, no tempo de sua incredulidade, motivo pelo qual não poderá
ele querer se ausentar da família só porque alcançou a salvação, mas deve agir
de forma a levar os demais integrantes da família para Deus.
A
situação da época de Neemias, porém, era totalmente diferente; era uma situação
em que a pessoa pertencia ao povo de Deus e que, deliberadamente, resolveu
contrair união com um ímpio, com um incrédulo. Esse casamento era um verdadeiro
“jugo desigual”, pois, alguém que está na luz vai formar o mais solene e sério
compromisso de vida sobre a face da Terra com alguém que vive nas trevas, o
que, certamente, além de não ser agradável a Deus, constituirá num
comprometimento que trará seríssimos prejuízos espirituais.
2. Os casamentos mistos
são um instrumento poderosíssimo na mão do inimigo para retirar a identidade do
povo de Deus, e assim impedir a sua continuidade
Uma
das funções primordiais do casamento é o de propiciar a perpetuação da espécie
humana, e a mistura entre salvos e ímpios no casamento é a garantia que tem o
adversário de nossas almas de que a próxima geração seja completamente
ignorante das coisas de Deus, esteja inevitavelmente comprometida e envolvida
com o pecado. Foi o que viu Neemias ao contemplar aquelas famílias. Os filhos
nem sequer sabiam falar judaico; eram verdadeiros gentios, não conhecendo a
Deus e não tendo nada que ver com os judeus.
Se
após a morte da geração da conquista da Terra Prometida, a simples negligência
no ensino da Lei do Senhor fez que com surgisse uma geração que desconhecia ao
Senhor, com graves consequências para o povo de Israel (Jz.2:10-13), que dirá
de famílias que já foram constituídas com pessoas estranhas ao concerto de
Israel e que nem sequer a língua do povo judeu ensinaram aos seus descendentes?
3. O casamento deveria ser realizado segundo os parâmetros estabelecidos
por Deus, o que envolveria a existência de comunhão entre os cônjuges e Deus
O
apóstolo Paulo, neste mesmo ensino aos coríntios a respeito do casamento,
reafirmou o que já fora determinado na lei de Moisés, ao mandar que os salvos
se casassem “no Senhor”
(1Co.7:39).
Assim,
ao contrário do caso tratado pelo apóstolo Paulo, que diz que a pessoa salva se
torna instrumento de santificação de seus filhos num lar que, outrora, era
composto apenas por ímpios, o salvo que se casa com um ímpio se torna um potencial
instrumento de geração de filhos perdidos. Podemos, como filhos de Deus, ser
geradores de filhos ímpios, instrumentos de satanás? Evidentemente que não!
Além
dos filhos nascidos destes casamentos mistos não serem salvos, mas perdidos,
também os próprios salvos que se uniram a pessoas ímpias acabaram sendo
igualmente levados à perdição, caso não tenham se convertido dos seus maus
caminhos.
Nos
exemplos trazidos da história sagrada, bem percebemos que os santos, entrando
em comunhão com os ímpios, tornam-se ímpios, como nos ensina Ag.2:13. Afinal de
contas, quando alguém se aproxima de uma pessoa doente, torna o doente são ou poderá
ficar doente como ele? Logicamente que poderá ficar doente. Ninguém transmite
saúde para outrem, apenas transmite doença.
Moisés,
para realizar a obra que Deus lhe dera, teve de ser apartado de sua mulher, sem
o que sucumbiria espiritualmente. Os israelitas que se envolveram com as
moabitas foram mortos. Malom e Quiliom morreram em Moabe. Salomão, como afirmou
o próprio Neemias (Ne.13:26), foi levado ao pecado por causa de suas mulheres
e, embora tenha alcançado a misericórdia do Senhor (2Sm.7:14,15), não impediu a
destruição do reino (1Rs.11:11) e a perdição de seu filho Roboão (1Rs.14:21-24).
4. Houve forte resistência em cumprir a ordem de Neemias
Neemias
contendeu com os judeus, a fim de que eles cessassem esses casamentos mistos,
voltando a servir ao Senhor.
“Contendi com eles, e os amaldiçoei, e espanquei
alguns deles, e lhes arranquei os cabelos, e os conjurei por Deus, dizendo: Não
dareis mais vossas filhas a seus filhos e não tomareis mais suas filhas, nem
para vossos filhos nem para vós mesmos” (Ne.13:25).
Quando
Neemias diz que contendeu com os
judeus, isto nos mostra que houve grande resistência para a mudança deste
“modus vivendi”. Não é fácil lidar com assuntos familiares no meio do povo de
Deus, pois, sendo a “célula mater” da sociedade e, por conseguinte, da própria
Igreja Local, o enfrentamento de problemas na família leva a uma remoção de
malfeitos nas próprias raízes do relacionamento. É por isso que o inimigo quer
se infiltrar nas famílias, pois, assim, torna-se muito mais difícil a obra de
restauração.
A
resistência não foi pequena. Neemias teve até de amaldiçoá-los, de espancar
alguns deles, arrancar-lhes os cabelos e os fazer jurar por Deus de que não
mais dariam seus filhos a gentios, nem tomariam gentios para seus filhos
(Ne.13:25). Quem olha para tais atitudes de Neemias chega a surpreender-se e
até a recriminar o gesto do líder do povo de Deus, que parece ter sido cruel e
desumano. No entanto, esta aparência é enganosa. Senão vejamos:
-Em primeiro lugar, vemos que Neemias podia simplesmente expulsar os
judeus recalcitrantes, mandá-los para as terras estrangeiras. Se o fizesse,
Neemias não seria um verdadeiro “pastor”, mas um “mercenário”, e, certamente,
estaria sob a reprovação divina.
-Em segundo lugar, vemos que Neemias podia simplesmente mandar matar
os judeus, tomando, inclusive, o exemplo do caso de Baal-Peor (Nm.25:1-5); mas,
assim agindo, também não estaria a cumprir a vontade de Deus, pois, embora
tivesse “jurisprudência” a seu favor, seu ministério não era o de destruir o
povo de Judá, mas, precisamente o contrário, era o de restaurá-lo para que ele
pudesse tornar a servir a Deus e aguardar a vinda do Messias.
-Em terceiro lugar, temos de entender que se estava no tempo da Lei e
de uma cultura totalmente diversa da nossa. O que para nós hoje significa uma
“violação dos direitos humanos”, uma “demonstração de crueldade”, nos dias de
Neemias era o estrito cumprimento da Lei então vigente, o regular exercício da
autoridade de que Neemias fora legitimamente investido não só pelo rei
Artaxerxes, mas pelo próprio Deus. Desta feita, o fato de Neemias ter espancado
alguns judeus recalcitrantes ou lhes ter arrancado os cabelos não era, à época,
exercício de uma violência injusta, mas a aplicação de castigos devidamente
previstos na Lei, tanto a lei persa quanto a Lei de Moisés, o devido castigo
que as autoridades não só podem, mas devem aplicar aos desobedientes e
perturbadores da ordem pública (Rm.13:1-4).
Observemos,
a propósito, que Neemias, como um verdadeiro e autêntico homem de Deus, aplicou
castigos corporais, mas não levou ninguém à morte, prova de que este tipo de
pena não é da vontade do Senhor, pois só Deus é o dono da vida e só Ele pode
aplicar tal pena, como, aliás, foi estabelecido pelo Senhor quando da aliança
firmada com Noé após o dilúvio (Gn.9:5).
-Em quarto lugar, a aplicação de castigo aos judeus recalcitrantes
não tinha outro objetivo senão a correção, era uma demonstração de amor de
Neemias aos desobedientes, uma forma de repreensão e de pressão para que
houvesse a retomada da vida correta e de acordo com a vontade do Senhor, o que
também Deus faz em relação a nós (Hb.12:5-11), tanto que, após serem espancados
ou terem seus cabelos arrancados, acabaram por jurar ao Senhor que não mais
permitiriam a realização de casamentos mistos, ou seja, arrependeram-se e
assumiram compromisso solene de servir a Deus (cf. Ne.10:29,30).
“firmemente aderiram a seus irmãos; seus nobres
convieram, numa imprecação e num juramento, de que andariam na Lei de Deus, que
foi dada por intermédio de Moisés, servo de Deus, de que guardariam e
cumpririam todos os mandamentos do Senhor, nosso Deus, e os seus juízos e os
seus estatutos; de que não dariam as suas filhas aos povos da terra, nem
tomariam as filhas deles para os seus filhos”.
IV. UMA PALAVRA FINAL SOBRE O CASAMENTO DOS CRENTES
No
entendimento do Pr. Caramuru Afonso Francisco(em seu comentário sobre “as
consequências do jugo desigual, no portal EBD de 2011), o casamento é uma ‘comunhão
divina e humana entre um homem e uma mulher’; trata-se, pois, de um compromisso
assumido entre um homem e uma mulher que ultrapassa o mero aspecto biológico ou
social, mas que atinge, também, o nível espiritual. É a forma que Deus
estabeleceu para a formação da família (Gn.2:24) e, por isso, exige que ambos
os cônjuges sejam comprometidos com o Senhor, para que se tenha o ambiente
propício para a adoração ao Senhor.
Os
israelitas jamais poderiam ser “nação sacerdotal e povo santo” se eles se
estruturassem em casamentos mistos, em casamentos com pessoas gentias, visto
que os gentios não serviam a Deus e, portanto, não podiam, de forma alguma,
criar um ambiente para que o povo de Israel servisse ao Senhor e se
constituísse em intermediários entre Deus e o restante da humanidade, e fosse
um povo separado para cultuar ao Senhor dentre as nações.
Caso
houvesse essa mistura, o próprio Deus denunciaria que o resultado, a
consequência seria que os filhos decorrentes destas uniões não serviriam a
Deus, mas, sim, seriam levados à infidelidade e à idolatria, porquanto a
mistura entre o santo e o imundo resulta em imundícia, jamais em santidade.
-Em nossos dias, não é diferente. A Igreja, que é o povo de Deus nesta
dispensação, não pode formar famílias com “os povos das terras”, pois, se o fizer, estará também abrindo uma
importante brecha para que o inimigo de nossas almas se infiltre e prejudique
grandemente a obra de Deus. O fato de a Igreja ser um povo espiritual em nada
altera este parâmetro divino estatuído para as famílias, até porque as razões
pelas quais se proíbem os casamentos mistos são razões de ordem espiritual e
não étnica.
A
exemplo de Israel, portanto, a Igreja também deve ser um povo santo e
sacerdotal (1Pd.2:9) e, portanto, não pode, também, permitir que suas famílias
sejam constituídas por pessoas que não estão comprometidas com o Senhor. Os
salvos devem casar-se apenas com outros salvos, criando, assim, o ambiente
propício para que o nome do Senhor venha a ser glorificado em suas vidas.
Afinal de contas, a Igreja, assim como em Israel, é formada por famílias (Rm.16:5;
1Co.16:19; Cl.4:15).
A história sagrada mostra
claramente como os casamentos mistos foram extremamente danosos para Israel. O próprio Moisés, que se casara com Zípora,
que era midianita, sofreu muitíssimo por causa deste casamento, a ponto de ter
tido uma temporária separação de sua mulher, sem o que não conseguiria realizar
a obra de libertação de Israel no Egito (Ex.4:20-26). Posteriormente, este
casamento foi a raiz da sedição de Arão e Miriã contra o próprio Moisés, uma
das mais graves crises enfrentadas por Moisés durante a sua liderança (Nm.12).
Muitos,
em nossos dias, têm comprometido seus ministérios por causa dos casamentos
feitos fora da direção e orientação do Senhor, casamentos feitos com pessoas
que, embora até pertencentes à comunidade social da Igreja Local, não são
verdadeiros salvos, não pertencem à Igreja, já que não se converteram ao Senhor
verdadeiramente. Tomemos, pois, cuidado com a formação de nossas famílias!
CONCLUSÃO
Os
casamentos mistos continuam a ser um “grande mal” e uma “prevaricação contra o
Senhor”. Deus não mudou, amados irmãos!
Conscientizemo-nos disto e ensinemos as pessoas solteiras da Igreja Local a
respeito desta verdade bíblica, para que não haja a formação de famílias que
gerem pessoas totalmente descomprometidas com Deus. Àqueles que querem formar
uma família, conscientizem-se de que uma escolha precipitada, olhando somente
para o que está diante de seus olhos, pode impedir que recebas aquele ou aquela
que Deus tem preparado para ti. Entregue, pois, a tua vida e o teu futuro a
Deus, pois somente Ele conhece a pessoa certa para você. Deus, que trouxe a
companheira para Adão (Gn.2:22), poderá fazer isto por ti. Espera pois no
Senhor!
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Luciano de Paula Lourenço –
EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e
Grego. CPAD
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo
Testamento) - William Macdonald.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação
Pessoal. CPAD.
Hernandes Dias Lopes. Neemias – O líder que
restaurou uma nação.
Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Comentário Bíblico NVI –
EDITORA VIDA.
Pr. Caramuru Afonso
Francisco. As Consequências do jugo desigual. PortalEBD.2011.
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