2º Trimestre/2022
Texto Base: Mateus 5.21-26
“Eu, porém, vos digo
que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo
(Mt.5:22).
Mateus 5:
21.Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que
matar será réu de juízo.
22.Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar
contra seu irmão será réu de juízo, e qualquer que chamar a seu irmão de raça
será réu do Sinédrio; e qualquer que lhe chamar de louco será réu do fogo do
inferno.
23.Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que
teu irmão tem alguma coisa contra ti,
24.deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro
com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta.
25.Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho
com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz
te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão.
26.Em verdade te digo que, de maneira nenhuma, sairás dali, enquanto não
pagares o último ceitil.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos do Tema: “Resguardando-se de sentimentos ruins”. Vários
são os sentimentos ruins que existem, dos quais devemos nos resguardar; dentre
eles, destacamos: raiva,
angústia, medo, rejeição, desprezo, constante insatisfação, ódio, vingança,
sensação de inferioridade, inveja, prazer com o sofrimento do outro. Todos
esses sentimentos ruins se colocam como obstáculos em qualquer situação em que
se busca a satisfação, seja ela na vida pessoal ou profissional. No servo de
Deus, em que habita o Espírito Santo, não devem permanecer tais sentimentos. No
Sermão do Monte, Jesus ensinou que na vida ética e moral do crente não deve
haver margem para que sentimentos hostis ao Evangelho façam parte da vida
interior do crente (Mt.5:21-26). Muitas pessoas praticam ações trágicas por
causa de atos precipitados e impensados; se houvesse uma pausa, ou se desviasse
o pensamento por alguns instantes, o mal não ocorreria. As consequências dos
sentimentos ruins estão por todos os lados, estampados em todas as mídias. O
cristão verdadeiro, com a ajuda do Espírito Santo, deve se esforçar a não ter
tais sentimentos hostis a fim de evitar consequências trágicas, e assim o nome
do Senhor ser glorificado na vida dele.
I. O EVANGELHO NÃO É ANTINOMISTA
1. O que é
Antinomismo?
A palavra antinomismo vem de duas palavras gregas, “anti”, que significa
contra, e “nomos”, que significa lei. Sendo assim, antinomismo é
a doutrina que se pauta no princípio de que para ser cristão basta ter fé,
rejeitando as normas de conduta estabelecidas pelos dez mandamentos, ou pela
lei mosaica; é contrário à lei; faz oposição aos preceitos, normas, regras; é
sinônimo de antinomianismo. Teologicamente, o antinomianismo é a crença de que
não há leis morais que Deus espera que os cristãos obedeçam. Essa doutrina leva
um ensinamento bíblico a uma conclusão antibíblica. O ensinamento bíblico é o
de que os cristãos não são obrigados a observarem a lei do Antigo Testamento
como um meio de salvação. Quando Jesus Cristo morreu na cruz, Ele cumpriu a Lei
do Antigo Testamento (Rm.10:4, Gl.3:23-25, Ef.2:15); isso é verdade. A
conclusão antibíblica é a de que não há nenhuma lei moral que Deus espera que
os cristãos obedeçam; isso não é verdade.
O antinomismo é contrário a tudo o que a Bíblia ensina. Deus espera que
vivamos uma vida de moralidade, amor e integridade. Jesus Cristo nos libertou
dos comandos pesados da Lei do Antigo Testamento, mas isso não é uma licença
para pecar e sim um pacto da graça. Devemos lutar para vencer o pecado e cultivar
a justiça, dependendo do Espírito Santo para nos ajudar. O fato de que somos
graciosamente livres das exigências da Lei do Antigo Testamento deve resultar
em nós um padrão de obediência à lei de Cristo. 1João 2:3-6 declara: "E
nisto sabemos que o conhecemos; se guardamos os seus mandamentos. Aquele que
diz: Eu o conheço, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não
está a verdade; mas qualquer que guarda a sua palavra, nele realmente se tem
aperfeiçoado o amor de Deus. E nisto sabemos que estamos nele; aquele que diz
estar nele, também deve andar como ele andou".
O apóstolo Paulo e o apóstolo João foram grandes combatentes contra o
antinomismo, pois esta crença diabólica é um desvio da Palavra de Deus. O
apóstolo Paulo tratou da questão do antinomianismo em Romanos 6:1,2,15-18 -
"Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça? De
modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda
nele?". “E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim
da graça? De modo nenhum! Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como
servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do
pecado para a morte ou da obediência para a justiça? Mas graças a Deus porque,
outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de
doutrina a que fostes entregues; e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos
servos da justiça”.
As pessoas podem se perguntar: "Se sou salvo pela graça e todos os
meus pecados foram perdoados, por que não pecar o quanto quiser?". Esse
pensamento não é o resultado de uma verdadeira conversão porque a verdadeira
conversão produz um maior, não menor, desejo de obedecer. O desejo de Deus, e o
nosso desejo quando somos regenerados por Seu Espírito, é que nos esforcemos a
não pecar. Como gratidão por Sua graça e perdão, queremos agradá-lo. Deus nos
deu o Seu dom infinitamente misericordioso através da salvação em Jesus (João
3:16; Rm.5:8). Nossa resposta é consagrar nossa vida a Ele como uma forma de amor,
adoração e gratidão pelo que Ele fez por nós (Rm.12:1-2). O antinomismo é
antibíblico por aplicar de forma errada o significado do favor gracioso de
Deus.
2. A Lei e o
Evangelho
Aprendemos na Aula anterior que Jesus não anulou a Lei, mas a cumpriu (Mt.5:17;
Rm.10:4). Agora, a pessoa que confia em Jesus não está mais sob a Lei, está sob
a graça (Rm.6:14); a pessoa agora está morta para Lei por intermédio da obra de
Cristo. Em seu fiel cumprimento da Lei, Jesus não a desprezou; Mateus 5:21
mostra claramente isso. Jesus se apresentava como o verdadeiro intérprete da
Lei, contrastando a hermenêutica tendenciosa dos escribas e fariseus com o
correto espírito da Lei. Ele não contrapôs ao que a Lei diz, mas opôs-se à
falsa interpretação dos doutores da Lei. O Senhor Jesus cumpriu a Lei e deu a
ela um novo significado, enfatizando o amor a Deus e ao próximo. Veja o que
Jesus disse aos discípulos com relação ao sexto mandamento do decálogo - “não
matarás” (Êx.20:13). Enquanto os escribas e fariseus interpretavam este
mandamento de maneira restrita ao ato literal de matar uma pessoa, nosso Senhor
o ampliou e aprofundou, demonstrando que o homicídio tem início no coração do
ser humano a partir da ira, do ódio, da cólera (cf. Mt.5:22). Portanto, diferentemente
dos escribas e fariseus, nosso Senhor deu ênfase à autoridade da Lei e revelou
a real intenção de Deus presente nela.
3. Legalismo x
Antinomismo
Esses são dois extremos que existiam no tempo de Jesus e que ainda plainam
sobre o orbe evangélico. O legalismo é uma tentativa de ser salvo e de se
santificar diante de Deus pela guarda compulsória de leis divina e humanas. O
antinomismo é uma postura muita antiga na Igreja, que Judas e Pedro chamam de
libertinos (2Pd.2:1,2; Judas 1:4), e que indicava aquelas pessoas que achavam
que Cristo nos libertou da Lei em todos os sentidos, e que o cristão está livre
da Lei, não tendo mais nenhum vínculo com ela. Segundo os seguidores desse segmento,
o cristão agora é guiado pelo amor e pela consciência a Deus, e é livre para
praticar todo tipo de atitudes, rejeitando todo tipo de normas morais, deixando
a pessoa livre para cometer atos pecaminosos. Só que isto é muito subjetivo,
porque se a pessoa disser que o amor é que vai guiar a sua vida, o apóstolo
Paulo explicou que quem ama não fala mal do próximo, não tira nada do próximo, não
cobiça a mulher do próximo, etc.; enfim, amar é guardar os mandamentos de Deus;
afirma ainda que o resumo da Lei é o amor. Então, os antinomianos ou libertinos
caem numa cilada muito subjetiva quando eles querem viver sem um padrão, o padrão
de santificação, e o padrão de santificação de fato é a lei de Deus expressa e
explicada no Novo Testamento, tendo como força motriz o sacrifício de Cristo na
cruz do calvário e nossa união com Ele.
Então, para o crente evitar cair na libertinagem ou no legalismo ele tem
que ser bíblico; ele tem que entender 1Tessalonicenses 5:10 que diz que a nossa
união com Cristo é a base da ética cristã. A ética cristã é baseada na nossa união
com o nosso Senhor Jesus e não no esforço da pessoa para guardar determinadas leis
ou um conjunto de regras que nos identificam como cristãos. Então, a nossa comunhão
e união com Cristo, e o estudo da Bíblia, vão nos manter equilibrados, fugindo
do legalismo, pregando a graça; e fugindo do antinomismo, pregando a união com Cristo
e a santificação. Portanto, o Evangelho não é antinomista, isto é, ele tem
normas, regras e limites claros, válidos em qualquer época e cultura. Também
não é legalista, isto é, não está preso a observâncias rigorosas de datas, dietas
e outras práticas religiosas, esperando algum favor divino.
William Hendriksen ilustra esse fato dizendo que “a vida cristã é
semelhante a atravessar uma pinguela que cruza sobre um lugar onde se encontram
dois rios contaminados: um é o legalismo e o outro é a libertinagem. O crente
não deve perder o equilíbrio para não cair dentro das faltas refinadas do legalismo
nem nos grosseiros vícios do paganismo”. Concordo com John Stott quando diz que
“o cristianismo não é escravidão, mas um chamamento da graça para a liberdade”.
A liberdade cristã, porém, não é liberdade para pecar, mas liberdade de
consciência, liberdade para obedecer. O cristão salvo pelo sangue de Cristo é livre
para viver em santidade -“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade.
Não useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos
outros pelo amor” (Gl.5:13).
II. A CÓLERA É O PRIMEIRO ATO PARA O HOMICÍDIO
1. Jesus e o sexto
mandamento
O sexto mandamento do decálogo é: “não matarás” (Êx.20:13; Dt.5:17). No
Sermão do Monte, Jesus tratou este mandamento da seguinte forma: “Ouvistes o
que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de
juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra
seu irmão será réu de juízo, e qualquer que chamar a seu irmão de raça será réu
do Sinédrio; e qualquer que lhe chamar de louco será réu do fogo do inferno”
(Mt.5:21,22).
Os rabinos acreditavam que o mandamento para não matar era cumprido
quando não se cometia assassinato em primeiro grau; mas, Jesus mostrou que este
mandamento é muito mais profundo do que o ato externo de homicídio. Assim, quando
Deus diz que não devemos matar, isto consequentemente significa que nós não devemos
fazer qualquer coisa que prejudique a vida do próximo. O homicídio começa com a
raiva e o ódio sem motivo, incluindo ofensas, calúnias e desavenças entre
pessoas. É por isso que Jesus disse que ninguém escapa do peso da Lei simplesmente
abstendo-se do assassinato em si.
Jesus amplia a abrangência do pecado do sexto mandamento, destacando que
a ira, o insulto e as palavras de desprezo implicam a quebra deste mandamento (Mt.5:22);
Jesus vai mais fundo, ao próprio âmago da questão. Ele encontra o princípio por
trás do preceito e o endossa. Os rabinos limitavam o sexto mandamento ao ato do
homicídio; Jesus, porém, deixa claro que o espírito da lei se liga não apenas
ao ato, mas também à motivação. Os rabinos reduziam o significado da proibição
divina apenas ao ato do homicídio; também atenuavam a penalidade da transgressão
dizendo que “quem matar está sujeito a julgamento”. Mas, Jesus amplia a abrangência
do pecado, destacando que a ira, o insulto e as palavras de desprezo implicam a
quebra do sexto mandamento (Mt.5:22). Com as palavras “Eu, porém, vos digo”,
Jesus institui uma emenda ao ensinamento do assassinato. Agora, ninguém podia
mais se orgulhar pelo fato de não ter cometido assassinato. Jesus agora diz: “no
meu reino, você nem pode ter pensamentos assassinos”. Embora os tribunais da terra
não tenham competência para jugar a ira e palavras insultuosas, o tribunal de
Deus julga o foro íntimo. Daremos contas a Deus não apenas de nossos atos, mas
também de nossas palavras e intenções (Mt.12:36).
2. A cólera no contexto
bíblico
Ainda com relação ao que Jesus ensinou aos seus discípulos com relação
ao sexto mandamento, foi ampliado a abrangência do pecado, destacando que a cólera,
o insulto e as palavras de desprezo implicam a quebra do sexto mandamento, pois
é um tipo de homicídio no coração (Mt.5:22). Jesus aqui assume um tom de superioridade
em relação aos regulamentos mosaicos e aos seus intérpretes. Ele vai mais
fundo, ao próprio âmago da questão; Ele encontra o princípio por trás do
preceito e o endossa. Segundo Warren Wiersbe, “Jesus não diz que a ira conduz
ao homicídio, mas que a ira é uma forma de homicídio”. Acerca disse o apóstolo
João argumenta: “Qualquer que aborrece a seu irmão é homicida. E vós sabeis que
nenhum homicida tem permanente nele a vida eterna” (1João 3:15).
Paulo exorta: “quando sentirdes raiva, não pequeis; e não conserveis a
vossa raiva até o pôr do sol” (Ef.4:26). Pr. Hernandes Dais Lopes afirma que há
dois tipos de raiva: a justa (Ef.4:26 e a injusta (Ef.4:31). Precisamos sentir
raiva justa - Moisés sentiu raiva contra a idolatria. Lutero sentiu raiva contra
as indulgencias. A raiva de Jesus no templo ao expulsar os cambistas é um
exemplo por excelência desse princípio bíblico. Se Deus odeia o pecado, seu
povo também deve odiá-lo. Se o mal desperta Sua ira, também deve despertar a nossa
(Sl.119:53). Ninguém deve ficar irado a não ser que esteja irado contra a
pessoa certa, no grau certo, na hora certa, pelo propósito certo e no caminho
certo.
Em Efésios 4:26, Paulo qualifica sua expressão permissiva “sentirdes
raiva” com três negativas: (a) “não pequeis” - Devemos nos assegurar de
que nossa raiva esteja livre de orgulho, malícia ou espírito de vingança; (b) “não
conserveis a vossa raiva até o pôr do sol” - Paulo não está permitindo a ficarmos
com raiva durante um dia, ele está exortando a não armazenar a raiva, pois pode
virar raiz de amargura; (c) “nem deis lugar ao Diabo” (Ef.4:27) - O
diabo gosta de ficar espreitando as pessoas zangadas para tirar proveito da
situação, como fez Caim.
Jay Adams, em seu livro “O conselheiro capaz”, fala sobre duas maneiras
erradas de lidar com a raiva: a primeira delas é a ventilação da raiva; há
pessoas que são explosivas, que atiram estilhaços para todos os lados, ferindo
as pessoas com seu destempero emocional. A segunda maneira errada de lidar com
a raiva é o congelamento dela – o indivíduo não a joga para fora, mas para
dentro; o resultado disso é a amargura. A solução para o congelamento da raiva
é o perdão; é espremer o pus da ferida até o fim, fazendo uma assepsia da alma,
uma faxina da mente, uma limpeza do coração.
O pr. Osiel Gomes expressa que, embora seja uma emoção humana, “a cólera
não pode nos controlar e devemos examinar se ela provém de um espírito reto, de
um coração puro, ou se é uma obra da carne, do tipo pecaminosa, orgulhosa,
odiosa e vingativa (Gl.5:20). O imperativo bíblico é que a ira não pode nos
dominar” (Ef.4:26; Hb.12:15). Caim não teve esse cuidado, por isso a sua ira
contra seu irmão o levou a cometer o primeiro homicídio contra o próprio irmão
(Gn.4:5,8).
3. O valor da
pessoa humana
Em Mateus 5:21,22 Jesus enfatizou o valor da pessoa humana. Ele
considerou como muito sério o pecado de proferir palavras insultuosas contra
uma pessoa. Nos dias de Jesus, o povo usava o termo ”raca”; esta palavra
tem origem aramaica e significa “cuspir” - “eu cuspo em você”. Barclay disse
que chamar alguém de “raca” era o mesmo que chamá-lo de estúpido,
idiota, imprestável. A pessoa que é escravo de sua ira, e se dirige ao próximo com
palavras de desprezo, destruindo seu bom nome, pode nunca ter assassinado alguém,
mas em seu coração é um assassino. Na Lei de Cristo, os que usavam essa alcunha
estavam sujeitos a comparecerem para julgamento perante o Sinédrio, o tribunal
mais elevado de Israel.
Outro termo insultuoso que Jesus condenou foi “tolo” (ARA) ou “louco” (ARC)
– “... e qualquer que lhe chamar de tolo será réu do fogo do inferno” (Mt.5:22-
ARA). Aqui, a palavra “tolo” significa mais que um simples estúpido; significa
um “tolo” moral que deveria ser morto, e expressa um desejo que realmente aconteceria.
Hoje é comum ouvirmos pessoas praguejarem com as palavras: “Deus te amaldiçoe!”.
Essas pessoas estão invocando Deus a condenar a vítima ao inferno. Jesus disse
que quem pronunciar tal maldição está “sujeito ao inferno de fogo”. Na época de
Jesus os corpos de criminosos executados eram frequentemente lançados num despejo
em chamas, fora dos muros de Jerusalém, conhecido como Vale de Hinom ou “Gehenna”;
essa era uma figura do fogo do inferno que nunca será apagado. Portanto, o
nosso Senhor advertiu os seus discípulos que que não só peca quem comete um
homicídio, mas igualmente os que nutrem a cólera, o ódio e o rancor no coração.
A vida humana tem um valor sagrado, por isso deve ser tratado com respeito e
sem acepção de pessoas.
III. A “OFERTA DO ALTAR” E A DESAVENÇA
1. A oferta do Altar
Jesus ilustra sua correta interpretação da Lei com dois exemplos: um da
vida religiosa e outro da vida comercial (Mt.5:23,24):
“Portanto, se
trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma
coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te
primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta”.
A oferta agradável a Deus precisa vir de alguém que tenha o coração
livre de ofensa e mágoa. Reconciliar-se com os desafetos deve preceder a oferta
no altar de adoração. Primeiro Deus aceita a vida do adorador e depois sua
oferta. Portanto, se uma pessoa ofende a outra, por ira ou por qualquer outra causa,
de nada adiante trazer uma oferta de adoração a Deus. O Senhor não terá prazer
nessa atitude. Quem ofende, precisa primeiro transformar o errado em correto; só
então a oferta será aceitável.
Mesmo que essas palavras tenham sido escritas num contexto judaico, isso
não quer dizer que não tem aplicação hoje. Paulo interpreta esse conceito em
relação à Ceia do Senhor (cf.1Corintios 11). Deus não recebe nenhuma adoração
de um cristão que não esteja em condições amigáveis de conversar com o próximo;
não há relacionamento correto com Deus sem relacionamento verdadeiro com o
irmão.
2. Evitando a
desavença
Na continuação do seu Sermão, Jesus exorta contra o espírito litigioso e
a relutância em admitir a culpa. Disse Ele: “Concilia-te depressa com o teu
adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o
adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem
na prisão. Em verdade te digo que, de maneira nenhuma, sairás dali, enquanto
não pagares o último ceitil” (Mt.5:25,26). Estas palavras de Jesus têm relação
com as exortações dos versículos 23 e 24, mas numa conotação diferente: os
versículos 23 e 24 dizem respeito à adoração; os 25 e 26 dizem respeito ao contencioso,
ao litígio.
Jesus mostra que uma demanda judicial por causa de uma dívida deve ser
resolvida antes que essa ação seja levada ao tribunal. Tanto o perdão quanto a
reparação precisam ser feitas com pressa, a fim de que tenhamos paz com Deus e
com o próximo. Warren Wiersbe diz que “a pessoa que se recusa a perdoar seu irmão
está destruindo a mesma ponte sobre a qual precisa andar”. Portanto, se a
pessoa estiver errada, deve ser rápida em admitir o erro e acertar prontamente.
Se a pessoa permanecer sem arrependimento, seu pecado seguramente a apanhará e ela
não só terá de fazer uma completa restituição, mas sofrerá as penalidades adicionais
também. A pessoa não deve ser apressada em ir ao juiz; se for, a lei a
descobrirá e ela terá de pagar até o último centavo (Mt.5:26).
Com relação a esta questão, o apóstolo Paulo exortou os crentes de Corinto
da seguinte maneira: “Aventura-se algum de vós, tendo questão contra outro, a
submetê-lo a juízo perante os injustos e não perante os santos? [...] Não há,
porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da
irmandade?” (1Co.6:1,4,5). Em Corinto a situação dos crentes era tão grave, que
além das contendas dentro da Igreja, eles estavam arrastando os próprios irmãos
para os tribunais seculares, para julgar suas causas internas e domésticas de
maneira secular. Essa foi a realidade que Paulo constatou na Igreja. Triste realidade,
porém um fato inegável porque os crentes não são perfeitos, eles formam uma
comunidade de pessoas que ainda não estão prontas e acabadas.
Alguém já disse que a igreja é uma fábrica de reciclagem de lixo, onde
Deus está trabalhando. Deus está transformando gente complicada, torta, e
doente existencialmente, em gente santa. Nós decepcionamos as pessoas e as
pessoas nos decepcionam; nós machucamos as pessoas e elas nos machucam. Mas, as
demandas interpessoais devem ser tratadas, prioritariamente, dentro da igreja.
Não é que Paulo esteja colocando em dúvida a idoneidade moral dos tribunais seculares
nem o caráter dos seus juízes, mas o fato da igreja levar seus assuntos domésticos
para fora dos seus portões para serem resolvidos no mundo é um péssimo testemunho
do evangelho. O lugar de tratar dos assuntos domésticos é em casa. Paulo
pergunta: “mas irá um irmão ao a juízo contra outro irmão, e isto perante os incrédulos?”
(1Co.6:6). Nosso Senhor, portanto, nos convida a sanar as desavenças entre nós
e, assim, preservamos o bom testemunho.
CONCLUSÃO
Não devemos permitir que sentimentos ruins acometam a nossa mente e
venham ferir o nosso próximo, nem deixemos que as contendas, os conflitos
internos tragam escândalos ao nome de nosso Senhor e denigrem o santo evangelho
de Jesus Cristo. Caso haja desavenças e desentendimentos, deve-se haver
reconciliação imediatamente, e seguir em paz com todos, pois esse é o desejo de
nosso Deus. Está escrito: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual
ninguém verá o Senhor” (Hb.12:14).
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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e
Grego. CPAD
William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo
e Novo Testamento).
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal.
CPAD.
Pr.
Hernandes Dias Lopes. Mateus – Jesus, o Rei dos reis.
Pr.
Hernandes Dias Lopes. 1Corintios – como resolver conflitos na Igreja.
Warren
Wiersbe. Comentário bíblico expositivo.
Desejo me congratular com toda equipe que produz esse excelente material de ensino bíblico, em especial ao irmão em Cristo Jesus, Luciano, pela dedicação em expandir o reino de Deus aqui na terra e acrescentar conhecimento à quem almeja ser mais útil na obra santa.
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