SUBSÍDIO PARA A LIÇÃO
06
Texto Base: Ester 1:1-9
“Porque, se de todo te calares neste tempo, socorro e
livramento doutra parte virá para os judeus, mas tu e a casa de teu pai
perecereis; e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?”
(Ester 4:14).
Ester 1:
1.E
sucedeu, nos dias de Assuero (este é aquele Assuero que reinou, desde
a Índia até à Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias);
2.naqueles
dias, assentando-se o rei Assuero sobre o trono do seu reino,
que está na fortaleza de Susã,
3.no
terceiro ano de seu reinado, fez um convite a todos os seus príncipes e seus
servos (o poder da Pérsia e Média e os maiores senhores das
províncias estavam perante ele),
4.para
mostrar as riquezas da glória do seu reino e o esplendor da sua excelente
grandeza, por muitos dias, a saber, cento e oitenta dias.
5.E,
acabados aqueles dias, fez o rei um convite a todo o povo que se
achou na fortaleza de Susã, desde o maior até ao menor, por sete dias, no pátio
do jardim do palácio real.
6.As
tapeçarias eram de pano branco, verde e azul celeste, pendentes de cordões
de linho fino e púrpura, e argolas de prata, e colunas de mármore; os leitos
eram de ouro e de prata, sobre um pavimento de pórfiro, e de mármore, e de
alabastro, e de pedras preciosas.
7.E
dava-se de beber em vasos de ouro, e os vasos eram diferentes uns dos outros; e
havia muito vinho real, segundo o estado do rei.
8.E
o beber era, por lei, feito sem que ninguém forçasse
a outro; porque assim o tinha ordenado o rei expressamente a todos os
grandes da sua casa que fizessem conforme a vontade de cada um.
9.Também
a rainha Vasti fez um banquete para as mulheres da casa real do rei Assuero.
INTRODDUÇÃO
Com
esta Lição iniciamos a segunda parte do estudo deste Trimestre letivo. Vamos
estudar agora o Livro de Ester. Este Livro é uma narrativa fascinante e única
no cânon bíblico. Apesar da ausência de menção explícita a Deus, sua história é
uma poderosa demonstração da providência e da soberania de Deus sobre as
circunstâncias da vida.
O
Livro de Ester oferece lições valiosas sobre a soberania de Deus, a importância
da coragem moral e a lealdade à fé e ao povo de Deus; ele nos ensina que, mesmo
quando Deus parece ausente, Ele está ativamente envolvido na proteção e
provisão para Seu povo. As histórias de intervenção divina, justiça e redenção
que permeiam o livro continuam a ressoar com poder e relevância na vida dos
crentes contemporâneos.
Ao
estudarmos o Livro de Ester, somos lembrados de que Deus está presente em todas
as circunstâncias da vida, trabalhando para o bem daqueles que O amam. A
história de Ester nos encoraja a confiar na providência divina, a defender o
que é justo e a permanecer firmes em nossa fé, sabendo que Deus é soberano
sobre todas as coisas.
I. A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO
1. A Categorização de Ester
O
Livro de Ester é um componente essencial das Escrituras, com uma categorização
única tanto na Bíblia Hebraica quanto na Bíblia Cristã.
Na
Bíblia Hebraica
O
Livro de Ester pertence aos Ketuvim, a terceira seção da Bíblia Hebraica. Esta
seção inclui onze livros variados em estilo e tema, abrangendo poesia,
sabedoria e narrativa histórica.
Dentro
dos Ketuvim, Ester é um dos cinco livros conhecidos como Megillot, ou
"Rolos". Estes livros são: Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes
e Ester. Cada um desses livros é lido publicamente durante uma das principais
festas judaicas:
- Cântico dos
Cânticos é lido na Páscoa.
- Rute é lido no
Pentecostes (Shavuot).
- Lamentações é
lido no Tisha B'Av.
- Eclesiastes é
lido no Sucot.
- Ester é lido no Purim.
Ester
é particularmente significativo durante o Purim, uma festa que celebra a
salvação dos judeus da destruição planejada por Hamã. Durante Purim, o Livro de
Ester é lido integralmente na sinagoga, lembrando os fiéis do heroísmo de Ester
e da providência divina.
Na
Bíblia Cristã
Na
Bíblia Cristã, Ester é categorizado entre os livros históricos, um agrupamento
que traça a história de Israel desde a entrada na Terra Prometida até o período
pós-exílico. Esta seção inclui livros como Josué, Juízes, Rute, Samuel, Reis,
Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.
Ester
é reconhecido pela sua canonicidade e aceito como parte da revelação divina
escrita. A canonicidade do livro é destacada por sua inclusão na lista dos
livros inspirados das Escrituras Sagradas, conforme mencionado em 2Timóteo 3:16,17,
que afirma que toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino,
repreensão, correção e instrução na justiça.
Importância
teológica e litúrgica
Embora
Deus não seja mencionado explicitamente no Livro de Ester, a narrativa é um
testemunho poderoso da providência divina. A ausência de menção direta a Deus
serve para enfatizar como Ele opera por trás das cenas, usando pessoas e
circunstâncias para cumprir Seus propósitos.
Ester
também destaca a importância da identidade e da fé judaica em um contexto de
dispersão. O livro mostra como a fidelidade ao povo de Deus pode levar à
proteção e preservação divina, mesmo em terras estrangeiras.
A
história de Ester e Mardoqueu oferece lições valiosas de coragem, liderança, e
a importância de se posicionar pelo que é justo e verdadeiro, mesmo diante de
grande perigo.
2. Características literárias
O
Livro de Ester, com sua narrativa vibrante e intricada, possui várias
características literárias que o distinguem e realçam seu valor teológico,
histórico e literário. A seguir, exploramos algumas dessas características:
Narrativa
e estrutura
ü Intriga e suspense. A narrativa de Ester
é rica em intriga e suspense. Desde a deposição da rainha Vasti até o
desmascaramento e queda de Hamã, a história mantém o leitor engajado com uma
série de reviravoltas dramáticas. A tensão é habilmente construída,
especialmente na cena em que Ester se aproxima do rei sem ser convocada, um ato
que poderia ter resultado na sua morte.
ü Estrutura Quiástica. A estrutura
quiástica (“construção de palavras e
ideias contrastantes que auxiliam na compreensão e no destaque da mensagem”)
é evidente no Livro de Ester, onde os eventos iniciais são espelhados nos
eventos finais. Exemplos: a elevação de Hamã e o decreto para exterminar os
judeus é contrastada com a humilhação de Hamã e o decreto que salva os judeus;
a ascensão de Ester e Mardoqueu é espelhada pela queda de Vasti e Hamã.
Personagens
e desenvolvimento
ü Caracterização. Os personagens são
bem delineados e desenvolvidos ao longo da narrativa. Ester evolui de uma jovem
judia anônima a uma rainha corajosa e decisiva. Mardoqueu é apresentado como um
homem íntegro e sábio, cujo papel de liderança é crucial para a sobrevivência
dos judeus. Hamã é caracterizado como o vilão arquetípico, cuja arrogância e
ódio levam à sua própria destruição.
ü Diálogo e monólogo. Os diálogos no livro
são vitais para o desenvolvimento da trama e para a revelação das motivações e
caráter dos personagens. Os monólogos, especialmente de Hamã, revelam seu
orgulho e intenções malignas, enquanto os diálogos entre Ester e o rei mostram
sua sagacidade e coragem.
Temas e motivos
ü Providência divina. Um dos temas
centrais é a providência divina. Embora Deus não seja mencionado explicitamente,
a narrativa sugere fortemente que os eventos são guiados por uma mão invisível.
A escolha de Ester como rainha, o descobrimento da conspiração contra o rei por
Mardoqueu, e a série de coincidências que levam à queda de Hamã são todos
vistos como atos da providência divina.
ü Reversão e ironia. A reversão de
destinos é um motivo recorrente. Hamã, que planejou a morte de Mardoqueu, acabou
sendo enforcado na forca que ele mesmo preparou. Mardoqueu, que estava
destinado à morte, foi exaltado. Esta ironia dramática sublinha a justiça
retributiva presente no livro.
ü Identidade e lealdade. A identidade judaica
e a lealdade à comunidade são temas centrais. Ester deve escolher entre sua
segurança pessoal e seu dever para com seu povo. Mardoqueu se recusa a se curvar
a Hamã, demonstrando sua lealdade a Deus e sua identidade judaica.
Estilo e
linguagem
ü Formalidade e protocolo. O livro usa uma
linguagem que reflete a formalidade e o protocolo da corte persa. O uso de
banquetes e decretos reais como dispositivos narrativos reforça o cenário
imperial.
ü Uso de festas e banquetes. Os banquetes
desempenham um papel crucial na trama, servindo como pontos de virada
importantes. O banquete de Vasti leva à sua deposição, e os banquetes
organizados por Ester são usados para revelar a conspiração de Hamã.
ü Simbolismo e metáfora. A narrativa emprega
simbolismo e metáforas para enriquecer a história. Por exemplo, a coroa que
Ester recebeu simboliza não apenas sua realeza, mas também sua responsabilidade
para com seu povo. A forca preparada por Hamã se tornou um símbolo de sua
própria destruição.
Estilo literário
ü Ausência de menção
explicita de Deus.
Uma característica notável é a ausência de qualquer menção explícita a Deus,
oração, ou leis judaicas, o que é incomum em textos bíblicos. Isso força os
leitores a reconhecerem a providência divina nas entrelinhas da narrativa.
ü Influência Persa. A influência da
cultura e política persa é evidente no estilo literário. A atenção aos detalhes
sobre a vida na corte persa e o uso de termos específicos da administração
persa enriquecem a autenticidade do contexto histórico.
Em
resumo, o Livro de Ester é uma obra-prima literária com uma narrativa
envolvente, personagens complexos e uma estrutura sofisticada. A ausência de
menção explícita a Deus e a presença de reviravoltas dramáticas servem para
destacar a providência divina e a justiça moral. Sua categorização tanto na
Bíblia Hebraica quanto na Cristã reflete sua importância teológica e literária.
Essas características fazem de Ester uma narrativa poderosa sobre identidade,
coragem, e a soberania de Deus nas circunstâncias da vida.
3. Autoria e data
3.1. Autoria
A
autoria do Livro de Ester é tradicionalmente anônima, e o texto em si não
atribui explicitamente a autoria a nenhum indivíduo. No entanto, diversas
teorias e tradições surgiram ao longo do tempo:
a)
Esdras ou Neemia
Alguns
estudiosos sugerem que Esdras ou Neemias poderiam ser os autores do livro,
devido ao estilo e à época em que viveram. Ambos tiveram papéis significativos
na restauração da comunidade judaica após o exílio babilônico.
b) Mardoqueu
Outra
tradição, particularmente presente no Talmude, sugere que Mardoqueu, uma das
figuras centrais da narrativa, pode ter sido o autor ou, ao menos, uma fonte de
informações essenciais para a composição do livro.
c) Autores
anônimos da corte Persa
Alguns
estudiosos acreditam que o autor poderia ter sido um judeu familiarizado com a
corte persa, o que explicaria o conhecimento detalhado sobre a cultura,
política e costumes persas presentes no texto.
3.2 Data
A
data da composição do Livro de Ester também é um assunto de debate entre
estudiosos. No entanto, há algumas pistas que nos ajudam a estimar um período
aproximado:
a) Período
do reinado de Xerxes I (Assuero)
O
rei Assuero mencionado no livro é geralmente identificado como Xerxes I, que
reinou sobre o Império Persa de 486 a 465 a.C. O contexto histórico e os
eventos descritos sugerem que a narrativa se desenrola durante este período.
b) Data pós-exílica
A
maioria dos estudiosos concorda que o livro foi escrito algum tempo após os
eventos que descreve, provavelmente no período pós-exílico, entre o final do
século V e o início do século IV a.C.; provavelmente, por volta do ano de 460 a.C.
Isso é apoiado pela menção de práticas e costumes que refletem uma comunidade
judaica já restabelecida.
c) Indícios
textuais
O
uso de termos persas, detalhes sobre a administração persa e o estilo literário
indicam que o autor estava bem informado sobre a vida e a estrutura do Império
Persa, sugerindo uma data próxima aos eventos descritos.
d) Tradições
judaicas
As
tradições judaicas que celebram o festival de Purim, instituído como resultado
dos eventos narrados no livro, também sugerem que a composição do livro ocorreu
enquanto essas tradições estavam sendo firmemente estabelecidas, o que
corrobora uma datação não muito distante dos acontecimentos originais.
II. O CONTEXTO HISTÓRICO
1. O povo Hebreu no exílio
Para
compreender plenamente o contexto histórico do Livro de Ester, é essencial
examinar os eventos que levaram ao período do exílio e como isso influenciou a
vida do povo hebreu.
a) Queda
do reino do Norte (Israel) - 722 a.C.
Em
722 a.C., o Reino do Norte (Israel) caiu sob o poder dos assírios, conforme
relatado em 2Reis 17:6. Este evento marcou o início de uma série de cativeiros
que afetariam significativamente o povo hebreu. Os assírios deportaram muitos
israelitas, dispersando-os por todo o seu império, o que resultou na famosa
"dispersão" ou diáspora.
b) Queda
do reino do Sul (Judá) e o cativeiro Babilônico - 605, 597, 586 a.C.
Pouco
mais de 100 anos depois, o Reino do Sul (Judá) também enfrentou um destino
semelhante. A Babilônia, sob o reinado de Nabucodonosor, levou Judá ao
cativeiro em três levas distintas:
- Primeira
deportação (605 a.C.). Esta primeira deportação ocorreu quando
Nabucodonosor derrotou o Egito e tomou controle do Território de Israel.
Durante esta leva, nobres e jovens promissores de Judá, incluindo Daniel e
seus amigos, foram levados para a Babilônia.
- Segunda
deportação (597 a.C.). Esta deportação seguiu uma revolta malsucedida
contra a Babilônia, liderada pelo rei Joaquim. Nabucodonosor sitiou
Jerusalém, capturou o rei Joaquim e levou mais cidadãos de Judá para o
exílio, incluindo o profeta Ezequiel.
- Terceira
deportação (586 a.C.). Após outra revolta, Jerusalém foi completamente
destruída. O templo foi queimado e a cidade arrasada. Este evento marcou a
destruição total de Judá como uma entidade política independente, e muitos
mais foram levados ao exílio babilônico.
c) Profecias
de Jeremias e o período de exílio
O
profeta Jeremias havia profetizado que o exílio na Babilônia duraria 70 anos
(Jeremias 25:11; 29:10-14). Este período foi visto como um tempo de disciplina
e purificação para o povo de Judá, particularmente no que diz respeito à idolatria
que havia contaminado a nação. Ezequiel, contemporâneo de Jeremias, também
abordou esse tema, enfatizando a necessidade de Israel abandonar seus ídolos e
voltar-se para o Deus verdadeiro (Ezequiel 36:16-25).
A
idolatria era uma das principais razões para a disciplina divina sobre Judá. Esta
disciplina visava extirpar a idolatria do coração do povo e restaurar sua
lealdade exclusiva ao Senhor. Deus abomina todo pensamento, sentimento e
comportamento idolátrico, como claramente exposto em Romanos 1:18-25. A
idolatria não é meramente a adoração de imagens, mas qualquer coisa que ocupa o
lugar de Deus em nossos corações (1João 2:15-17).
d) Retorno
e reconstrução
Após
o término dos 70 anos de exílio, conforme profetizado por Jeremias, Ciro, o rei
da Pérsia, permitiu que os judeus retornassem à sua terra natal para
reconstruir o templo e Jerusalém. Este retorno ocorreu em várias ondas, com
Zorobabel, Esdras e Neemias desempenhando papéis fundamentais na restauração da
nação judaica.
2. O fim do exílio
Durante
o exílio babilônico, Deus não apenas julgava Judá por sua idolatria, mas também
exercia Seu justo juízo sobre a própria Babilônia por sua iniquidade. O profeta
Jeremias havia predito que Babilônia seria punida após 70 anos de dominação
(Jeremias 25:12). Anteriormente, Deus já havia julgado a Assíria por meio do
profeta Naum, deixando claro que Ele não inocenta o culpado (Naum 1:2,3).
A queda
da Babilônia e a ascensão da Pérsia
Em
539 a.C., Ciro, o Grande, rei da Pérsia, derrotou Babilônia e anexou seu território
ao império persa. Esta mudança de poder foi significativa para o povo judeu.
Logo no primeiro ano de seu reinado, "despertou o Senhor o espírito de
Ciro, rei da Pérsia", levando-o a emitir um decreto que permitia o retorno
dos judeus a Jerusalém e a reconstrução do templo (Esdras 1:1-3). Esta decisão
foi em resposta à oração fervorosa de Daniel, que jejuou e orou intensamente
pela restauração de Jerusalém, confessando os pecados de Israel (Daniel
9:1-19).
Lições
sobre soberania e intervenção divina
O
ensino bíblico sobre nosso relacionamento com as estruturas de poder terreno
enfatiza a confiança na soberania de Deus e a busca humilde por Sua
intervenção. Conforme 2Crônicas 7:14, Deus promete ouvir e curar a terra se Seu
povo se humilhar, orar, buscar Sua face e se converter de seus maus caminhos.
Este princípio é reiterado no Novo Testamento, onde Paulo exorta a igreja a
orar por todos os homens, especialmente por aqueles em autoridade, para que
possamos viver vidas tranquilas e piedosas (1Timóteo 2:1-4). A oração e a
intercessão são ferramentas poderosas que contribuem para o cumprimento do
maior propósito de Deus: a salvação de todos os homens, inclusive daqueles que
não governam segundo os valores divinos.
3. O Pós-Exílio
O
Livro de Ester narra eventos que ocorreram na capital do império persa, Susã,
entre o primeiro e o segundo retorno dos judeus para Jerusalém. Após a queda da
Babilônia em 539 a.C., o rei Ciro da Pérsia emitiu um decreto permitindo que os
judeus retornassem à sua terra natal para reconstruir o Templo em Jerusalém
(Esdras 1:1-3). No entanto, apesar deste decreto, a maioria dos judeus optou
por permanecer nas cidades onde haviam se estabelecido na Babilônia, devido à
estabilidade e à prosperidade que ali encontraram.
O
Primeiro Retorno
Apenas
cerca de 50 mil judeus retornaram a Jerusalém sob a liderança de Zorobabel, no
segundo ano do reinado de Ciro, aproximadamente em 538 a.C. Este retorno é
detalhado nos capítulos 1 a 6 do Livro de Esdras. Aqueles que voltaram
enfrentaram enormes desafios, incluindo a reconstrução do Templo em meio à
oposição dos habitantes locais e a necessidade de restabelecer a vida religiosa
e social em Jerusalém.
Intervalo
Entre os Retornos
Entre
os capítulos 6 e 7 do Livro de Esdras, há um intervalo de cerca de 60 anos. É
nesse período que se situam os eventos descritos no Livro de Ester,
especificamente entre 483 e 473 a.C. Esse período é crucial para entender a
situação dos judeus que permaneceram na diáspora.
A
Situação dos Judeus na Diáspora
Estima-se
que mais de um milhão de judeus viviam na região da Babilônia durante esse
período. Embora tivessem a opção de retornar a Jerusalém, muitos preferiram
ficar devido à estabilidade econômica e social que encontraram na Babilônia e
nas cidades persas. Essa decisão criou uma comunidade judaica significativa e
influente na diáspora, que teve que navegar a vida sob o domínio persa,
preservando sua identidade e fé.
O
Livro de Ester se passa nesse contexto de dispersão judaica e narra a história
de Ester, uma jovem judia que se torna rainha da Pérsia, e seu primo Mardoqueu.
Eles enfrentaram a ameaça existencial representada por Hamã, um oficial persa
que planejou exterminar os judeus. Através da coragem e da astúcia de Ester e
Mardoqueu, o plano de Hamã foi frustrado, e os judeus foram salvos.
III. PROPÓSITO E MENSAGEM DO LIVRO DE ESTER
1. A providência divina
O
principal propósito do Livro de Ester é destacar o cuidado providencial de Deus
com Seu povo, mesmo quando eles fazem escolhas que parecem estar fora de Seu
propósito explícito. A decisão dos judeus de permanecer na Babilônia, sob o
domínio do Império Persa, foi motivada por uma busca de estabilidade não só
econômica, mas também cultural, social e religiosa. Os persas eram conhecidos
por sua política de benevolência e tolerância, especialmente em relação à
liberdade religiosa, o que tornou a vida na diáspora aparentemente mais
atraente.
Escolha
pela estabilidade
Os
judeus que decidiram não retornar a Jerusalém fizeram isso com base em uma
avaliação das condições que enfrentariam. Retornar à terra natal significava
enfrentar a dura realidade de reconstruir uma cidade destruída, um templo em
ruínas e uma sociedade desestruturada. Além disso, a viagem em si seria penosa
e cheia de dificuldades. Em contraste, permanecer na Babilônia oferecia uma
continuidade de vida relativamente estável e próspera.
A
escolha pela segurança e estabilidade na Babilônia é comparada em Provérbios
14:12, que diz: "Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele
são os caminhos da morte". Este versículo adverte sobre a confiança
excessiva nas próprias percepções e julgamentos, que podem parecer corretos à
primeira vista, mas levam a consequências negativas.
Ação providencial
de Deus
Apesar
das escolhas do povo judeu, o Livro de Ester revela que Deus continua a agir de
forma soberana e providencial para proteger e preservar Seu povo. A história
mostra que, mesmo na diáspora, Deus não abandonou os judeus. Ele usou Ester e
Mardoqueu para frustrar os planos de Hamã e garantir a sobrevivência do povo
judeu.
Lições espirituais
a) Fidelidade de Deus. A narrativa de Ester
demonstra que a fidelidade de Deus não está limitada pelas fronteiras
geográficas ou pelas decisões humanas. Mesmo quando os judeus escolheram
permanecer na Babilônia, Deus ainda cuidou deles e interveio em seu favor.
b) Aparências enganosas. A escolha
aparentemente lógica e segura de permanecer na Babilônia não foi isenta de
perigos. A história de Ester mostra que a verdadeira segurança está em confiar
na providência divina, não nas circunstâncias humanas.
c) Providência oculta. O nome de Deus não é
mencionado no Livro de Ester, mas Sua mão é claramente visível nos eventos que
ocorrem. Este aspecto do livro ensina que Deus pode estar operando de maneira
oculta e sutil para realizar Seus propósitos.
d) Coragem e ação humana. A providência divina
muitas vezes se manifesta através das ações corajosas de indivíduos fiéis.
Ester e Mardoqueu são exemplos de como a coragem, a sabedoria e a fé podem ser
instrumentos nas mãos de Deus para cumprir Seus planos.
2. Uma falsa estabilidade
O
Livro de Ester transmite uma mensagem clara sobre o perigo de confiar nas
falsas estabilidades que as estruturas do mundo oferecem, as quais podem
parecer mais vantajosas e seguras. Inicialmente, os judeus em Susã viviam com
uma sensação de estabilidade sob o domínio persa. O império persa era conhecido
por sua benevolência e tolerância, especialmente em relação à liberdade
religiosa, o que parecia proporcionar uma base sólida para uma vida estável e
próspera.
Tudo
parecia ir bem para os judeus em Susã até que surgiu a ordem de extermínio
total dos judeus, decretada por Hamã (Et.3:7-13). Este decreto revelou a
fragilidade da segurança que eles pensavam ter. A situação mudou drasticamente,
e a estabilidade que parecia inabalável foi substituída pelo medo e pela
incerteza. Este evento mostrou que a confiança nas estruturas humanas é sempre
precária e pode ser destruída por mudanças repentinas nas circunstâncias
políticas e sociais.
Dependência
da intervenção Divina
Com
a ameaça de aniquilação, o povo de Judá mais uma vez se viu completamente
dependente da intervenção divina para sua sobrevivência. O livro de Ester
mostra como Deus agiu de forma providencial para proteger Seu povo, movendo as
estruturas humanas e usando Ester e Mardoqueu como instrumentos para a salvação
dos judeus. Este relato ilustra que, mesmo em um império poderoso como o persa,
a verdadeira segurança e estabilidade só podem ser encontradas em Deus.
Ester
nos lembra que é melhor confiar no Senhor do que nos homens (Sl.118:9). A
confiança em Deus proporciona uma segurança verdadeira e duradoura, enquanto a
confiança nas estruturas humanas é sempre incerta e pode ser rapidamente
abalada.
3. A festa de Purim
O
Livro de Ester tem como propósito adicional registrar a instituição da Festa de
Purim, estabelecida por Mardoqueu após o grande livramento que os judeus
receberam (Ester 9:20-28). Purim, sendo o plural da palavra "Pur" que
significa "lançar sorte", remete ao método usado por Hamã para
determinar a data do extermínio dos judeus (Ester 3:7).
A
festa de Purim comemora a reversão da sorte, a transformação do decreto de
destruição dos judeus em um dia de alegria e celebração. Hamã, ao lançar sortes
para escolher o dia da destruição dos judeus, acabou inadvertidamente
escolhendo uma data que se tornaria um símbolo da intervenção divina e da
salvação dos judeus através das ações de Ester e Mardoqueu.
Celebração
de Purim
Purim
é celebrado anualmente no 14º e 15º dias do mês de Adar (geralmente fevereiro
ou março no calendário gregoriano), marcando a libertação dos judeus do perigo
iminente de extermínio. A festa é caracterizada por:
a) Leitura do Livro de
Ester (Meguilá).
Durante a festa, é tradicional ler o Livro de Ester em voz alta nas sinagogas.
Cada vez que o nome de Hamã é mencionado, os participantes fazem barulho com
matracas ou batem os pés para simbolicamente "apagar" seu nome.
b) Troca de presentes e alimentos. Os judeus trocam
presentes de comida e enviam porções a amigos e familiares. Este ato é
conhecido como "mishloach manot" e simboliza a alegria e a comunhão.
c) Doações aos pobres. Também é costume
fazer doações aos necessitados, conhecido como "matanot la'evyonim",
garantindo que todos possam participar da celebração.
d) Festas e refeições. Purim é uma ocasião
de festas e celebrações, incluindo uma refeição festiva especial conhecida como
"seudat Purim".
Significado
Espiritual
Purim
não é apenas uma celebração histórica, mas também possui profundo significado
espiritual:
a) Providência Divina. A festa lembra os
judeus da providência divina e da soberania de Deus. Apesar de Deus não ser
mencionado explicitamente no Livro de Ester, Sua presença e intervenção são
claramente percebidas.
b) Resiliência e Fé. Purim destaca a
resiliência do povo judeu e a importância da fé e confiança em Deus durante
tempos de adversidade.
c) Reversão de sorte. A história de Purim
é um poderoso exemplo de como Deus pode transformar situações de desespero e
destruição em momentos de salvação e alegria.
CONCLUSÃO
O
Livro de Ester é uma poderosa narrativa sobre a providência divina e a
soberania de Deus nas circunstâncias da vida. Situado no contexto histórico do
exílio e pós-exílio dos judeus, Ester destaca a importância da fé, coragem e
ação diante das adversidades.
Em
essência, o Livro de Ester nos ensina sobre a importância de confiar em Deus,
mesmo quando Ele parece ausente, e nos desafia a sermos corajosos e fiéis em
nossas próprias circunstâncias, sabendo que Deus trabalha em todas as coisas
para o bem daqueles que O amam.
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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD
William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo
Testamento).
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. CPAD.
Pr. Hernandes Dias Lopes. Rute – uma perfeita história de amor.
Pr. Elinaldo Renovato de Lima. O caráter do cristão. CPAD.
Comentário Bíblico Beacon. Volume 2.
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