1º Trimestre/2018
Texto Base: Hebreus 9:1-5,14,15,22-28
"E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e
sem derramamento de sangue não há remissão" (Hb.9:22).
Dando continuidade ao estudo da Epístola aos
Hebreus, estudaremos nesta Aula o capítulo 9. Veremos o contraste entre a
adoração a Deus na Antiga Aliança e na Nova. Na Antiga Aliança, o desejo de
Deus era que o seu povo o adorasse e tivesse um relacionamento mais profundo
com Ele. Por isso, o Criador ordenou que Moisés construísse uma tenda móvel de
adoração, o Tabernáculo, que acompanharia o povo durante a longa travessia pelo
deserto. Este seria o único lugar onde o povo poderia encontrar-se com Ele e
adorá-lo. Cada detalhe, cada peça, o desenho, ou seja, tudo no Tabernáculo
tinha um significado, simbolizando uma realidade espiritual. Na Nova Aliança, a
adoração está fundamentada na obra de Cristo no Calvário. Na Epístola aos
Hebreus o autor detalha alguns principais utensílios do Tabernáculo afim de mostrar o sentido da
adoração e do serviço sagrado na Antiga Aliança, comparando com a obra de
Cristo no Tabernáculo eterno da Nova Aliança.
I. O CULTO E
SEUS ELEMENTOS NA ANTIGA ALIANÇA
1. O culto e seus utensílios. Na Antiga Aliança, a
função principal do Tabernáculo era a de servir como o lugar de encontro entre
Deus e o homem. Era nesse recinto, relativamente simples, que Deus
encontrava-se com seu povo: "...à
porta da tenda da congregação, perante o Senhor, onde vos encontrarei, para
falar contigo ali" (Êx.29:42). Este lugar era santo, consagrado ao
culto de Jeová, o Deus vivo e eterno. Em nossos dias a presença de Deus se
manifesta na igreja por meio do Espírito Santo que habita nos crentes (Ef.2:21,22).
O Tabernáculo era composto de três partes
principais: o Pátio; o lugar santo e; o Santo dos santos. O autor da Epístola
demonstra profundo conhecimento sobre o culto na Antiga Aliança quando fala do
tabernáculo e dos seus utensílios. Ele tem em mente estas principais divisões
do Tabernáculo (Hb.9:1-5).
a) O Pátio - “Farás também o pátio do tabernáculo” (Êx.27:9).
Esse Pátio tinha um formato retangular e media cerca de 45 metros de
comprimento por 22,5 metros de largura (Êx.27:18), levando em consideração o
valor do côvado de 0,45m.
O Tabernáculo era cercado por cortinas e havia
uma única entrada para ele. O Pátio cercado por cortinas simbolizava a
separação que deve haver para adoração a Deus. Mattew Henry diz que o “pátio
era um tipo da igreja, fechada e separada do resto do mundo, encerrada por
colunas, indicando a estabilidade da igreja, fechada com o linho limpo, que
está escrito que é a justiça dos santos (Ap.19:8). Esse eram os átrios pelos
quais ansiava Davi e onde ele anelava residir (Sl.84:2,10), e onde o povo de
Deus entrava com louvor e agradecimentos” (Sl.100:4).
O Pátio ficava na parte mais exterior do
Tabernáculo e era descoberto. Isso significa que quem está ali (e a maioria dos
crentes ainda estão no pátio) está exposto às intempéries do tempo - sol,
chuva, ventos, etc., além de tipificar a primeira experiência que todo homem
deve ter para com Deus. Esta fase nos fala que o Pátio é somente uma parte do
caminho a ser percorrido, ou seja, ainda é necessário percorrer até o Lugar
Santo e, depois, até o Santo dos santos onde está a presença de Deus.
b) O Lugar Santo. Este lugar é uma fase
mais interior do Tabernáculo. É ali que adentramos na presença do Eterno, pois
todos os mobiliários do lugar santo são de ouro, e o ouro nos fala da
divindade, nos fala da realeza e da eternidade. Nesse lugar ficavam o Castiçal
de ouro, a Mesa dos pães da proposição e o Altar do incenso. Estima-se que este
lugar media 9 metros de extensão.
c) O Santo dos Santos. Este é o lugar mais
interior do Tabernáculo. Ali havia somente a Arca do concerto, o objeto mais
sagrado de Israel. Neste lugar somente o sumo sacerdote poderia entrar, e
apenas uma vez no ano (Hb.9:7), para aspergir sobre o propiciatório (a tampa da
Arca) o sangue que havia sido derramado do sacrifício anual feito para expiação
dos pecados de todo o povo (Lv.16:14,15; 17:11). Hoje, tal expiação não é mais
necessária, porque Jesus, o nosso Sumo Sacerdote por excelência, já entrou na
presença do Pai oferecendo o seu próprio sangue como propiciação definitiva
pelos nossos pecados (Rm.3:24,25; Hb.9:11-15; 10:10,12), de maneira que todos
aqueles que o recebem como único e suficiente Salvador e Senhor, aceitando seu
sacrifício em nosso favor e entregando suas vidas totalmente a Ele, têm livre
acesso à presença de Deus (Hb.10:19-23).
2. O culto: seus oficiantes e liturgia. No Tabernáculo, havia
toda uma simbologia nos utensílios do antigo culto. Cada objeto e sua
localização tinham grande valor simbólico. O escritor da Epístola aos Hebreus
mostra o simbolismo do Tabernáculo e do sacerdócio da Antiga Aliança dizendo
que são “sombras das coisas celestiais” (Hb.8:5).
Ao tratar do estudo do simbolismo, devemos
perguntar-nos: que significam os objetos e ritos para os israelitas? A seguir, qual
é o verdadeiro significado do Tabernáculo para os cristãos de hoje? Não nos
convém ser dogmáticos ao interpretar os pormenores, mas devemos buscar na
medida do possível a interpretação neotestamentária.
a) OS MÓVEIS DO PÁTIO. Mostravam como o homem
pode aproximar-se de Deus e restaurar a comunhão com Ele.
- O Altar dos holocaustos. Este era o lugar de completa dedicação a Deus,
pois ali se ofereciam os sacrifícios de holocausto que simbolizavam inteira
consagração. Os que são perdoados e reconciliados devem seguir os passos
daquele que se ofereceu em completa submissão à vontade divina.
O Altar dos holocaustos é o primeiro passo
para o homem aproximar-se de Deus; é nele aonde acontece a expiação; sem
remissão de pecados não há comunhão com Deus. Sua mensagem é: "Sem
derramamento de sangue não há remissão" (Hb.9:22). Para o povo de Deus do
Novo Testamento a remissão foi efetuada no Calvário, onde Cristo se sacrificou
por nossos pecados. Assim como o homem perseguido podia agarrar-se aos chifres
do Altar para escapar do vingador ofendido, o pecador pode agarrar-se
simbolicamente à Cruz, e mediante a fé encontrar abrigo seguro para a sua alma.
As pessoas que depositam sua fé em Cristo têm um altar (Hb.13:10), e são
reconciliadas com Deus mediante a Cruz (2Co.5:18-21) tendo desse modo acesso ao
Pai (Rm.5:2).
- A Pia de cobre. O segundo passo para aproximar-se de Deus e preparar-se para ministrar
nas coisas sagradas é simbolicamente representado pela Pia de cobre. Ali
os sacerdotes se lavavam antes de oficiar nas coisas sagradas. Demonstra que é
necessário purificar-se para servir a Deus: "a santificação, sem a qual
ninguém verá o Senhor" (Hb.12:14). O crente se limpa "com a lavagem
da água, pela palavra" (Ef.5:26), e pela "regeneração" e
"renovação do Espírito Santo" (Tito 3:5).
b) OS MÓVEIS DO LUGAR SANTO. Indicavam como a nação
sacerdotal podia prestar culto a Deus e servi-lo de uma forma aceitável. Alguns
estudiosos da Bíblia pensam que na obra de Cristo encontra-se o simbolismo
destes móveis: o Altar do incenso, representa a Cristo, o nosso intercessor;
a Mesa dos pães, representa a Cristo, o pão da vida e; o Castiçal, representa
a Cristo, a luz do mundo. Apesar da bênção resultante destas interpretações
tradicionais, convém-nos buscar o simbolismo dos móveis considerando primeiro a
ideia que eles transmitiam aos israelitas e a seguir o que o Novo Testamento
indica no tocante a eles.
Tendo em vista que os que oficiavam no Lugar
Santo eram os sacerdotes comuns, simbolizando os crentes (1Pd.2:9; Ap.1:6), é
lógico considerar que o uso dos móveis desse lugar prefigurava o culto e o
serviço dos cristãos.
- Altar do incenso. Estava no centro do
Lugar Santo. Este móvel ensina-nos que uma vida de oração é imprescindível para
agradar a Deus, já que o incenso simbolizava a oração, o louvor e a intercessão
do povo de Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento (Sl.141:2; Lc.1:10; Ap.5:8;
8:3). Assim como o perfume do fumo que o incenso desprendia subia ao céu, os
louvores, as súplicas e as intercessões sobem ao Senhor como cheiro agradável.
Duas vezes por dia acendia-se o incenso sobre
o altar e provavelmente ardia durante o dia todo. Isto ensina que os filhos de
Deus devem ser constantes na oração.
Acendia-se o incenso com o fogo do altar dos
holocaustos, o que nos leva a notar que a oração aceitável ao Senhor se
relaciona com a expiação do pecado e a consagração do crente.
Também se destaca a importância do fogo para
consumir o incenso. Se o incenso não ardia, não havia cheiro agradável.
Igualmente, o crente necessita do fogo do Espírito Santo para que faça arder o
incenso da devoção (Ef.6:18). As orações frias não sobem ao trono da graça.
Finalmente, observamos que o sumo sacerdote
espargia sangue sobre os cantos do altar do incenso uma vez por ano,
demonstrando que, embora o culto humano seja imperfeito (Rm.8:26, 27), somos
"agradáveis a si no Amado" por seu sangue expiador e sua intercessão
perpétua (Ef.1:6, 7; Rm.8:34; Hb.9:25).
- Mesa dos pães da proposição. A frase "pães da
proposição" significa literalmente "pães do rosto”, e em algumas versões
da Bíblia se traduz "pão da presença", pois o pão era colocado
continuamente na presença de Deus. Os doze pães colocados na mesa representavam
uma oferta de gratidão a Deus da parte das doze tribos de Israel, pois o pão
era ao mesmo tempo uma dádiva de Deus e fruto dos esforços humanos. Por isso, o
povo reconhecia que havia recebido seu sustento de Deus e ao mesmo tempo
consagrava a ele os frutos de seu trabalho. Portanto, a mesa dos pães refere-se
também à mordomia dos bens materiais.
- O Castiçal de ouro. Simbolizava o povo de Deus, Israel. Ensinava
que Israel devia ser "luz dos gentios" (Is.49:6; 60:1-3; Rm.2:19),
dando testemunho ao mundo por meio de uma vida santa e da mensagem proclamada
do Senhor. O apóstolo João utiliza a figura do castiçal: representa as sete
igrejas da Ásia como sete castiçais (Ap.1:12-20); portanto, o castiçal
prefigura a Igreja de Jesus Cristo. Assim como o tronco do castiçal unia os
sete braços e suas lâmpadas, assim também Jesus Cristo está no meio de suas
igrejas e as une. Embora as igrejas locais sejam muitas, constituem uma só Igreja
em Cristo. Também Jesus disse aos seus seguidores: "Vós sois a luz do
mundo" (Mt.5:14).
Era necessário encher o castiçal com azeite
puro de oliveira a fim de que ardesse e iluminasse ao seu redor, continuamente.
O azeite é, pois, símbolo do Espírito Santo. Se o crente não tem a presença e o
poder do Espírito em sua vida, não será uma boa testemunha. Todos os dias um
sacerdote trazia azeite fresco para o castiçal, de modo que a luz ardesse desde
a tarde até ao amanhecer (Êx.27:20,21). Do mesmo modo o crente necessita
receber todos os dias o azeite do Espírito Santo (Salmo 92:10) para que sua luz
brilhe diante dos que andam na escuridão espiritual.
Diante do exposto, nota-se que os móveis do Lugar
Santo ensinam como os filhos de Deus podem prestar culto e serviço ao seu
Senhor. Todos os aspectos do culto representados por cada móvel são
importantes, mas o lugar central que o altar do incenso ocupava parece indicar
que a atividade relacionada com este é o mais importante. Como a mesa dos pães
e o castiçal ou candeeiro estavam relacionados com o altar do incenso, a
consagração e o testemunho do crente estão relacionados com a vida de oração.
Se o crente não tem comunhão com Deus, logo deixará de consagrar ao Senhor os
frutos de seu trabalho e sua luz deixará de alumiar os homens.
c) OS MÓVEIS DO SANTO DOS SANTOS. Este é o lugar mais
interior do Tabernáculo. Ali havia somente a Arca do concerto, o objeto mais
sagrado de Israel. Para os israelitas o lugar santíssimo e em especial o
propiciatório (tampa da Arca) representavam a imediata presença de Deus. Ali se
manifestava a Shekiná (hb. "habitar"), o fogo ou glória de Deus que
representava sua própria presença. No Propiciatório, o mais perfeito ato de expiação
era realizado uma vez por ano pelo sumo sacerdote. Hoje, tal expiação não é
mais necessária, porque Jesus, o nosso Sumo Sacerdote por excelência, já entrou
na presença do Pai oferecendo o seu próprio sangue como propiciação definitiva
pelos nossos pecados (Rm.3:24,25; Hb.9:11-15; 10:10,12).
- A Arca da Aliança. Era um cofre de 1,15m por 0,70m, construído de acácia e revestido de
ouro por dentro e por fora. Sobre a coberta da Arca ficavam dois querubins
(seres angelicais) diante um do outro, feitos de ouro, que com suas asas
cobriam o local conhecido como “propiciatório”(tampa da Arca). O Propiciatório
recebia este nome porque era o lugar da expiação, onde estava simbolizada a
misericórdia. Neste lugar Deus manifestava a sua glória. Para o crente de hoje
estas coisas servem de "alegoria para o tempo presente" (Hb.9:9),
onde Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, entrou de uma vez para sempre com seu
próprio sangue para fazer propiciação por nossos pecados e expiá-los. É
interessante notar a relação que existe entre o "propiciatório" e as
palavras do apóstolo Paulo quando disse, referindo-se a Cristo: "ao qual
Deus propôs para propiciação" (Rm.3:25). As figuras dos querubins,
com as asas estendidas para cima, e o rosto de cada um voltado para o rosto do
outro, representavam reverência e culto a Deus.
A Arca só podia ser carregada pelos levitas (Nm.9:15-17; 2Sm.6:1-15), que a
carregavam nos ombros, assim como faziam com todas as peças do santuário (Nm.7:9).
Dentro da Arca havia três objetos: as duas tábuas da Lei, um vaso com Maná, e
mais tarde se incluiu a Vara de Arão. Todos esses objetos lembravam a Israel o
concerto firmado no Sinai e o amor de Deus.
·
As tábuas da
lei. Simbolizavam a santidade
de Deus e a pecaminosidade do homem; também lembravam aos hebreus que não se
podia adorar a Deus sem se dispor a cumprir sua vontade revelada.
·
O Maná. Moisés, sob ordens
divinas, ordenou que fosse colocado diante do Senhor um vaso contendo um gômer
(3,7 litros) cheio de maná (Êx.16:32,33). Este recipiente seria guardado para
as gerações futuras. Simbolizava a constante provisão divina. O fornecimento do
maná era diário. A lição de Deus para Israel, como também para os cristãos, é
que os crentes têm de depender de Deus dia após dia - “O pão nosso de cada dia
dá-nos hoje” (Mt.6:11).
·
A Vara de Arão
que florescera. A Vara nos fala da autoridade conferida a alguém. A Bíblia diz que Deus
fez com que essa Vara miraculosamente florescesse para confirmar diante do povo
a chamada de Arão para ser o sumo sacerdote (Nm.17:7-11; Hb.9:4). Nossa
autoridade quando colocada diante de Deus brota, aparece para que todos vejam e
saibam que nosso ministério foi realmente dado a nós por Deus.
- O Véu. Separava o Lugar Santíssimo do Lugar Santo e excluía todos os homens com
exceção do sumo sacerdote; acentuava que Deus é inacessível ao homem pecador.
Somente por via do mediador nomeado por Deus e do sacrifício do inocente podia
o homem aproximar-se de Deus. Pela obra de Cristo no Calvário, "o véu do
templo se rasgou em dois, de alto a baixo" (Mt.27:51). Agora essa
separação está desfeita, rasgada, e os crentes têm acesso à presença de Deus
(Hb.10:19, 20; 4:14-16; Rm.5:1,2). Aleluia!
II. A EFICÁCIA
DO CULTO NA NOVA ALIANÇA
Na Antiga Aliança, os sacrifícios de animais
eram a única forma de se aplacar a ira divina contra o pecado e aproximar o
homem do seu Criador. Entretanto, tais sacrifícios demonstraram ser ineficazes
porque apenas aplacavam temporariamente a ira de Deus, mas não removiam o
pecado. Desta forma, havia a necessidade de um sacrifício único, eficaz e
perfeito, que propiciasse ao ser humano a certeza da reconciliação com Deus. O
autor da Epístola aos Hebreus não apenas apresenta Cristo como o perfeito Sumo
Sacerdote, mas como o sacrifício perfeito e plenamente eficaz diante de Deus; sacrifício
que tira definitivamente os pecados.
1. Uma redenção eterna. A diferença entre o
culto da Antiga e o da Nova Aliança pode ser vista no contraste entre ambas
alianças, quanto à eficácia do sacrifício efetuado, no contexto de cada uma. O
pecado é sumamente grave porque é contra Deus. Além do mais, Deus "é tão
puro de olhos que não pode ver o mal" (Hb.1:13). O homem que peca merece a
morte. Em seu lugar, na Antiga Aliança, morria um animal inocente e essa morte
cancelava ou retirava o pecado. Se não fosse pelo sacrifício substitutivo,
ficaria anulada toda a possibilidade do homem se aproximar de Deus, um Deus
santo. Por mais que o homem se esforçasse por cumprir a lei, fracassaria por
sua fraqueza moral. Por isso, enquanto a lei revelava as exigências da
santidade de Deus, a expiação por meio do sacrifício substitutivo manifestava a
graça divina que cumpria as exigências de Deus.
Todavia, o sistema sacrificial não tirava,
realmente, o pecado, "porque é impossível que o sangue dos touros e dos
bodes tire os pecados" (Hb.10:4). Somente o sangue do Filho de Deus nos
limpa de todo o mal. Não obstante, os sacrifícios tinham valor porque eram como
uma promessa escrita de que Deus mesmo proveria o meio eficaz para a retirada
permanente do pecado. Tinham valor simbólico até que Jesus oferecesse o
verdadeiro sacrifício. Ao depositar sua fé em Deus e em sua provisão,
simbolizada pelo sacrifício, o israelita era considerado justo (justificado
pela fé). Essa oferta sacrificial somente possibilitava uma purificação
temporária, mas o sacrifício de Cristo operou a redenção eterna. Esse
sacrifício perfeito, indelével e eficaz foi realizado na cruz. Assim como um
sacerdote entrava no Santuário terreno, Cristo levou o sangue ao Santuário
celestial. Porém, Ele não levou o sangue de bodes e bezerros, mas o seu próprio
sangue. Ele efetuou uma eterna redenção. Os crentes são perdoados com base no
derramamento do sangue de Jesus – Ele morreu como o sacrifico perfeito e final.
O sacrifício de Cristo foi tão perfeito e eficiente, que nunca precisará ser
repetido.
2. Uma consciência limpa. Os sacrifícios na Antiga
Aliança possuíam um aspecto meramente externo, isto é, cerimonial; eles não
conseguiam tratar com a parte interna do homem. Na verdade, esses sacrifícios
apenas "cobriam" os pecados em vez de removê-los. Por outro lado, o
sacrifício de Cristo trata com o problema do pecado em sua raiz. Ele não apenas
"cobre" a transgressão, mas a remove. Diz o autor sagrado: “Porque,
se o sangue dos touros e bodes e a cinza de uma novilha, esparzida sobre os
imundos, os santificam, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de
Cristo, que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus,
purificará a vossa consciência das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?” (Hb.9:13,14).
O sacrifício de Cristo fez mais do que
purificar cerimonialmente, que é tudo o que as “cinzas de uma bezerra ruiva”
podiam fazer (Nm.19:1-10; Hb.9:13); Ele purificou as consciências. Quando o
povo sacrificava animais, Deus levava em consideração a fé e a obediência das pessoas,
purificava-as do pecado, e as fazia “cerimonialmente” puras e aceitáveis, de
acordo com a lei do Antigo Testamento. Mas o sacrifício de Cristo transforma as
nossas vidas e as nossas consciências e nos torna puros interiormente. O seu
sacrifício é infinitamente mais eficiente do que os sacrifícios de animais no
sistema levítico.
Antes de seguirem a Cristo, as pessoas estão
cheias de pensamentos, atos e comportamentos pecaminosos; essas obras
contaminam as pessoas, fazendo com que precisem da expiação (veja Hb.6:1).
Provavelmente, podia ser que as pessoas destinatárias da Epístola tivessem
dificuldade em confiar no perdão de Cristo e sentissem a necessidade de fazer
alguma coisa por si mesmas. De modo similar, hoje, os cristãos frequentemente
tentam apaziguar suas consciências, realizando boas obras, doando dinheiro,
vivendo à altura das expectativas dos seus lideres, ou assumindo
responsabilidades extras. Para os destinatários da Epístola e para nós, a mensagem
é clara: as nossas consciências podem estar puras por causa do que Cristo fez
na cruz do Calvário. O Seu sangue purifica e limpa a nossa consciência
tornando-a apta para adoração a Deus.
3. Uma herança eterna. O efeito imediato da
purificação interior efetuada pelo sangue de Cristo é visto nas palavras do
autor, em Hebreus 9.15: “E, por isso, é Mediador de um novo testamento, para
que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do
primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna”
(Hb.9:15). Os versículos anteriores enfatizaram a superioridade do sangue da
Nova Aliança em relação ao sangue da Antiga Aliança. Isso conduz à conclusão de
Hb.9:15, que Cristo é o Mediador da Nova Aliança.
Como Cristo serve como nosso Mediador, todos
“os chamados recebem a promessa da herança eterna”. A expressão “os chamados”
refere-se a todos os que creem em Jesus Cristo e aceitam o seu sacrifício em
seu nome. O fato de que são “chamados” aponta para a iniciativa de Deus de dar
a salvação. A “herança eterna” é o objetivo final da Nova Aliança – os crentes,
um Dia, vivendo no Céu com Deus. Essa herança durará para sempre. Edificantes
são as palavras do apóstolo Pedro:
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para
uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para
uma herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada
nos céus para vós” (1Pd.1:3,4).
III. A
SINGULARIDADE DO CULTO DA NOVA ALIANÇA
1. O Santuário celeste. O culto na Antiga
Aliança, com seu santuário terrestre, era apenas uma sombra da qual o santuário
celeste é a realidade. Se a adoração no antigo santuário, apesar de suas
inúmeras limitações, teve seu valor, quanto mais a adoração que tem como ponto
de partida o santuário celeste. Na Antiga Aliança, o sacerdote entrava todos os
dias no santuário, isto é, no Lugar Santo, mas só conseguia a remissão parcial
e temporal do pecado. O sumo sacerdote entrava somente uma vez por ano no Santo
dos Santos e oferecia sacrifícios pelo povo e por si próprio, pois também era
pecador (cf. Hb.9:7). Porém, Cristo entrou “no mesmo céu, para agora
comparecer, por nós, perante a face de Deus”. Ele é nosso intercessor perfeito
(Rm.8:34), juntamente com o outro maravilhoso intercessor, que é o Espírito
Santo (Rm.8:27). Afirma o autor sagrado: “Porque Cristo não entrou num
santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora
comparecer, por nós, perante a face de Deus” (Hb.9:24).
2. Um Sacrifício superior. Nenhum outro sacrifício,
tanto o de animais no Antigo Testamento quanto o de seres humanos na história
das nações pagãs, com vistas a alcançar a salvação do homem, teve o êxito de
apagar os pecados do passado, do presente e do futuro; somente o sacrifício de
Cristo foi completo nesse sentido, a ponto de anular uma aliança antiga para
inaugurar um novo tempo de relacionamento com Deus, estabelecendo uma aliança
nova, superior e perfeita. O sacrifício do Cordeiro de Deus estabeleceu uma
Nova Aliança com a humanidade caída, uma aliança baseada não mais em ritos
sacrificais, mas na sua graça, amor e misericórdia. Temos, agora, o grande
privilégio de podermos nos achegar a Deus diretamente, sem um intermediário
terrestre, o sacerdote, e sem a necessidade de que um animal inocente seja
morto.
Ao contrário do sistema levítico, o sacrifício
de Cristo não necessita ser repetido (Hb.9:25). Se o sacrifício de Cristo
tivesse seguido o padrão da Antiga Aliança, Ele teria que padecer muitas vezes.
No entanto, o sacrifício de Cristo anulou uma aliança antiga e inaugurou um
novo tempo de relacionamento com Deus, estabelecendo uma Nova Aliança, superior
e perfeita (Hb.8:6,7,13). Como resultado, Ele uma vez se manifestou e, fazendo
isto, aniquilou o pecado para sempre (Hb.9:25). O pecado está mais do que simplesmente
expiado, ele está destruído, ele está perdoado e esquecido. Então, vivamos em
comunhão com o Pai de modo que seu nome seja glorificado!
3. Uma Promessa gloriosa. O sacrifício de Cristo
foi o momento decisivo na história da humanidade; ela trouxe esperança para os
desesperançados. Aqueles que seguem a Cristo têm uma viva e gloriosa esperança.
Os cristãos sabem que, da mesma maneira como a morte e o julgamento são certos
(Hb.9:27), também o é a sua esperança. Diz o autor aos Hebreus: ”assim também
Cristo, oferecendo-se uma vez, para tirar os pecados de muitos, aparecerá
segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para a salvação” (Hb.9:28). A frase
“os que o esperam” (Hb.9:28) transmite uma advertência, um lembrete para que os
leitores permaneçam fiéis a Cristo durante o seu período de provações e
perseguições na Terra.
Jesus subiu ao Céu e da mesma maneira
aparecerá segunda vez (João 14:1-3; Atos 1:11). Pelo fato de sua morte ter
resolvido a questão do pecado de forma completa e definitiva, Ele não precisará
cuidar de nossos pecados novamente; a Sua obra foi consumada na Cruz do
Calvário. Na verdade, em sua segunda vinda, Ele irá trazer a glorificação aos
que o esperam fervorosamente. Quando Jesus voltar, Ele irá proclamar os
benefícios plenos da salvação –“Guardemos
firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel” (Hb.10:23).
CONCLUSÃO
Com Cristo, a adoração a
Deus passou a ter uma glória maior do que na Antiga Aliança, pois Ele
substituiu os símbolos rituais pela realidade da verdadeira adoração, pois,
onde quer que estejamos, carregamos e manifestamos a glória do Senhor em nossa
vida; e para que isso se torne uma realidade perene é necessário que os seus
mandamentos estejam sempre gravados no fundo do nosso ser.
Adoração a Deus não é um ritual, não é uma
celebração externa, mas o resultado de uma obediência a Deus, de uma submissão
ao Senhor, de uma vida sincera de devoção e de prática da vontade de Deus.
Somente aqueles que estão separados do pecado e separados para Deus tem
condições de reconhecer a sua soberania e de servi-lo com coração inteiro.
Muitos têm se iludido achando que Deus se agrada se cumprirmos tão somente os
deveres litúrgicos, ou seja, se rendermos a Deus um culto formal em alguma
igreja. Deus quer de nós, fundamentalmente, sinceridade e obediência à Sua
Palavra, pois o obedecer é melhor do que o sacrificar (1Sm.15:22).
“Tendo, pois,
irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo
novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e
tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero
coração (…)” (Hb.10:19-22).
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Luciano
de Paula Lourenço
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências
Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) -
William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 73. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
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Dr. Caramuru Afonso Francisco. O Sacerdócio eterno
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G. Cox. O Livro de Êxodo - Comentário
Bíblico Beacon. CPAD.
Victor
P. Hamilton. Manual do Pentateuco. CPAD.
Silas
Daniel. Uma jornada de Fé (Moisés, o Êxodo e o Caminho à Terra Prometida). CPAD.
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